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PASTORAL EM NOVAS PERSPECTIVAS IV - Vida Pastoral

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12<br />

gravações em ossos de peixe, objetos de argila<br />

ou pedra, desenvolve-se a linguagem escrita.<br />

Grande avanço é possibilitado pela técnica da<br />

irrigação. Aos poucos, as pequenas cidades<br />

se organizam em torno de típica divisão de<br />

responsabilidades: de um lado, governantes e<br />

funcionários, engenheiros, sacerdotes, curandeiros,<br />

metalúrgicos, sábios etc. e, de outro,<br />

grande número de guerreiros e trabalhadores<br />

comuns, frequentemente controlados pelo<br />

mecanismo da escravidão.<br />

Limitando nosso enfoque, como dissemos<br />

no primeiro artigo, ao mundo ocidental,<br />

podemos dizer que, em todo esse tempo de<br />

evolução humana, a política é exercida de<br />

forma “teocrática”. Na lógica da cosmovisão<br />

teológica dessa época, forças divinas ou<br />

espirituais determinam a sorte e o destino de<br />

todas as pessoas. Ninguém tem autonomia<br />

pessoal para decidir o próprio futuro. Nem<br />

mesmo os xamãs têm poder político para<br />

isso. Quando, em muitas dessas sociedades<br />

antigas, em especial as mais avançadas, surge a<br />

figura do rei, este exerce o seu poder em nome<br />

dos deuses e, frequentemente, ele próprio é<br />

divinizado. O monoteísmo parece ter suas<br />

raízes mais longínquas no Egito. Em 1350<br />

a.C., aproximadamente, o faraó Amenófis<br />

<strong>IV</strong> introduz rigoroso culto monoteístico – ao<br />

deus-sol Aton – como religião do Estado, um<br />

culto extinto logo após sua morte. É nesse clima<br />

de um Deus Supremo que, de acordo com<br />

os relatos bíblicos, Abraão “sai de sua terra”<br />

(Gn 12,1) em busca de novo futuro. Com<br />

isso a perspectiva de futuro e a perspectiva<br />

política mudam radicalmente. A fé num Deus<br />

único, que comunica pessoalmente a sua Lei<br />

(4 mil anos antes de Cristo o rei Ur-Engur da<br />

Mesopotâmia já declara querer governar “em<br />

conformidade com as leis dos deuses”), não<br />

permite a existência de nenhum outro ídolo, e<br />

a obediência à sua Lei deve ser irrestrita. Com<br />

uma novidade de importância fundamental:<br />

pela primeira vez na história, Deus se compromete<br />

com o futuro dos mais fracos. A derrota<br />

do faraó é também a derrota dos seus deuses.<br />

O único Deus, Javé, fará aliança apenas com<br />

os hebreus, filhos da escravidão. Não muda a<br />

cosmovisão teológica, mas muda a perspectiva<br />

<strong>Vida</strong> <strong>Pastoral</strong> – janeiro-fevereiro 2012 – ano 53 – n. 282<br />

política. Ao menos para um pequeno povo, o<br />

hebreu, um Deus muito poderoso, mas também<br />

muito familiar, garante a “seu” povo um<br />

futuro promissor, uma “terra onde corre leite<br />

e mel” (Ex 3,17).<br />

O último milênio antes de Cristo é caracterizado<br />

por grande efervescência filosófica<br />

e religiosa, com destaque para a Grécia. Do<br />

multicolorido caldo de cultura da sociedade<br />

grega, algumas convicções sagradas vão percorrer<br />

o mundo: 1) o mundo espiritual, divino,<br />

é essencialmente diferente do mundo material,<br />

humano; 2) a razão humana é espiritual e,<br />

como tal, deve guiar a conduta humana; 3) boa<br />

política é aquela que preserva o bem comum.<br />

Na prática, a condução política grega oscila<br />

entre duas tendências, uma mais democrática,<br />

que expressa o legado aristotélico, e outra,<br />

mais aristocrática, que expressa o legado<br />

platônico.<br />

1.2. A política hierocrática<br />

Muitos historiadores fazem distinção, no<br />

longo período da cosmovisão teológica, entre<br />

governos teocráticos e governos hierocráticos.<br />

Quando Deus governa diretamente sobre o<br />

pensar e o agir humano, falam em governos<br />

teo cráticos. Quando líderes humanos se veem<br />

a si mesmos como governando em nome de<br />

Deus – ou dos deuses –, falam em governos<br />

hierocráticos. A distinção ajuda a compreender<br />

melhor como, até hoje, o mundo judaico-<br />

-cristão lida com as questões políticas. Moisés<br />

e os profetas concebem um governo mais<br />

teocrático, em que o Deus da aliança é sempre<br />

o elemento decisivo. Já, posteriormente, os<br />

reis judeus e os sacerdotes do Templo costumam<br />

ter uma concepção mais hierocrática,<br />

acompanhando o que já se tornou comum na<br />

cosmovisão da época. Jesus, ao proclamar a<br />

vinda iminente do reino de Deus, entrará de<br />

cheio na proposta teocrática, porém com uma<br />

ressalva: as autoridades deste mundo podem<br />

até governar, pois Deus lhes permite isso,<br />

mas seus governos somente serão legítimos se<br />

tiverem a marca de Javé e “servirem” antes de<br />

tudo para a superação de todas as formas de<br />

escravidão (cf. Mt 20,24-28). Para Jesus, o ser

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