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VIDAS SECAS EA RECEPÇÃO JUNTO AO PÚBLICO LEITOR - Cielli

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Universidade Estadual de Maringá – UEM<br />

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350<br />

_________________________________________________________________________________________________________<br />

indireto livre) o que permite a humanização dos personagens na obra, através da<br />

possibilidade de que o outro se mostre em seu próprio discurso junto ao discurso do<br />

narrador, mas para isso, para que o outro se manifeste, é necessário que haja o<br />

reconhecimento da distância entre o narrador e o outro, o personagem.<br />

Vidas Secas deve ser visto como uma tentativa de solucionar a difícil<br />

equação da figuração do outro (...) para preservar o outro e ao mesmo<br />

tempo evitar a falsa simpatia, é preciso representá-lo como outro<br />

mesmo, distante como todo outro é (...). O desafio seria construir um<br />

discurso em que as duas vozes ecoassem independentemente. E o<br />

caráter absolutamente único de Vidas Secas vem exatamente daí: em<br />

todos os seus níveis de organização, as duas vozes convivem,<br />

construindo uma substância única. Mas na qual se pode identificar os<br />

dois elementos que a formam. (BUENO, 2006, p. 659)<br />

A convivência das duas vozes, a do narrador e a do personagem, sem que uma se<br />

sobreponha à outra, é, para Bueno, um efeito que surge da mistura das modalidades<br />

discursivas que ocorre em Vidas Secas, tal como exemplificado a partir de um trecho do<br />

capítulo ―O soldado amarelo‖, no qual fica explicitada essa mistura de discursos e<br />

como, a partir dela, se turva a origem do discurso, evitando-se, assim, uma sobreposição<br />

hierarquizante entre eles.<br />

1.3. O Problema da Linguagem<br />

Com a afirmação de que Vidas Secas seria um ―romance mudo como um filme de<br />

Carlitos‖ (PEREIRA, 2005, p.151), Lúcia Miguel Pereira, mais uma vez, evidencia uma<br />

característica deste romance, que seria a presença de uma problemática relacionada à<br />

ausência de linguagem. Para a autora, os personagens do romance são criaturas que não<br />

sabem se comunicar ou expressar seus sentimentos porque a narrativa apresenta esses<br />

seres como secos, como o sofrimento os fez, mas se a eles for dada uma oportunidade,<br />

se tornarão capazes de dar voz as suas vontades: ―As Vidas Secas do livro de Graciliano<br />

Ramos são secas só por fora, porque a estorricou a miséria. Um pouco de alegria, um<br />

pouco de bem estar, elas reverdecerão e desabrocharão‖ (PEREIRA, 2005, p. 150).<br />

Lúcia Miguel ainda vê nisso, na escolha do autor por essas criaturas, a demonstração<br />

da qualidade de sua técnica, que conseguiu um grande feito ao desvendar almas<br />

obscurecidas pela ausência da linguagem.

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