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PROPRIEDADES SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS COMO ... - GELNE

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para a realização de uma dada função gramatical. Se tal estratégia<br />

passar a ser repetidamente utilizada por vários indivíduos na indicação<br />

dessa função, pode acabar se tornando parte da gramática da língua.<br />

O uso do verbo IR sob enfoque é um fato característico da oralidade informal.<br />

Quando aparece na escrita, o faz em gêneros textuais que retratam diretamente a fala<br />

cotidiana, como as tirinhas, por exemplo, e naqueles marcados pelo estilo informal, que<br />

se distanciam da norma-padrão. Isso faz com que esse uso do verbo IR não seja<br />

abordado na maioria dos livros didáticos e das gramáticas, assim como dificilmente é<br />

estudado nos níveis básicos de ensino, já que se privilegiam, na escola, as construções<br />

previstas pela gramática normativa. Assim, a perífrase em questão é usada<br />

corriqueiramente, mas pouco se tem consciência do que ela realmente significa.<br />

No entanto, esse fenômeno tem despertado a atenção de muitos estudiosos da<br />

língua, e variadas são as propostas de interpretação a respeito dele. Por exemplo,<br />

Bechara (2004), apoiando-se no que diz Coseriu (1977), defende que a função exercida<br />

por verbos como IR na construção [V1 (E) V2] na posição de V1 é a de aspectualizador<br />

global, ou seja, serve para indicar que o evento expresso por V2 não é processual, mas<br />

indivisível e pontual. Sobre o verbo nessa função, o autor diz o seguinte: “para acentuar<br />

a globalidade, acompanha-se de todas as significações ‘enfáticas’ do modo de falar,<br />

como ‘de fato’, ‘com efeito’, ‘rápido’, ‘inesperado’, ‘surpreendente’, ‘terminantemente’,<br />

pois pode ocorrer a determinação expressa como ‘não-cursiva’ ou ainda como ‘nãoparcializante’,<br />

como ‘redundante’” (BECHARA, 2004, p. 217).<br />

Dutra (2003), diferentemente, aponta que PEGAR, em [PEGAR (E) V2], tratase<br />

de uma forma “desverbalizada” com a função discursiva de realçar eventos na<br />

sequência narrativa. Segundo ela, em casos como “o menino pegou e pegou três peras<br />

na cestinha”, o primeiro verbo “traduz um movimento de um fato para outro,<br />

salientando o evento a seguir como decorrente de outro(s) no desenrolar da narrativa”<br />

(op. cit., p. 98).<br />

Rodrigues (2005) atribui a verbos como IR, PEGAR e CHEGAR, na perífrase<br />

em estudo, chamada por ela de CFF (construção do tipo foi fez), a função discursivopragmática<br />

de dramatizar ou enfatizar a ação expressa pelo segundo verbo, dando<br />

destaque, portanto, ao trecho do texto em que a construção se apresenta. A autora opõese<br />

a ideia de que esses verbos, na posição de V1, sejam auxiliares, visto que fogem do<br />

padrão de auxiliarização do português brasileiro. Ela diz ainda que “as CFFs não<br />

possuem uma função gramatical explicita como as construções com verbos auxiliares”.<br />

Tavares (2005), a exemplo de Bechara (2004), admite que o verbo IR na<br />

construção [IR (E) V2] funciona como um verbo auxiliar aspectualizador global, e que,<br />

por isso, exprime nuanças de sentidos referentes à pontualidade e/ou à repentinidade<br />

e/ou à surpresa. Dessa forma, pode trazer também a ideia de ênfase e de realce para a<br />

ação denotada por V2, como defendem Dutra (2003) e Rodrigues (2005). Além do<br />

mais, reconhece a possibilidade de tal verbo indicar avaliações de frustração, lamento,<br />

espanto, irritação ou crítica, bem como, em alguns contextos, aportar para uma tomada<br />

de iniciativa, geralmente súbita, por parte do sujeito agente da perífrase em relação ao<br />

evento expresso por V2.<br />

Com base nos resultados por nós obtidos, descrevemos, na seção 1,<br />

propriedades semântico-pragmáticas da construção [IR (E) V2], o que nos permite<br />

analisar com mais profundidade, na seção 2, a validade das propostas elencadas acima,<br />

visto que os grupos de fatores que organizamos para aplicar aos dados testam traços<br />

semântico-pragmáticos que vem sendo apresentados, na literatura da área, como típicos<br />

da construção em tela.

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