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USO DE CAL CITA PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES ... - Ufma

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<strong>USO</strong> <strong>DE</strong> <strong>CAL</strong> <strong>CITA</strong> <strong>PARA</strong> <strong>TRATAMENTO</strong> <strong>DE</strong> <strong>EFLUENTES</strong><br />

AQUOSOS <strong>DE</strong> CARACTERÍSTICAS ÁCIDAS GERADOS<br />

EM LABORATÓRIOS <strong>DE</strong> QUÍMICA<br />

RESUMO<br />

Ozelito Possidônio de Amarante Junior'<br />

Romer Pessôa Fernandes'<br />

Luís Roberto Takiyama'"<br />

Este trabalho propõe um sistema para o tratamento dos<br />

efluentes ácidos contendo elevadas concentrações de metais<br />

gerados em processos analíticos de laboratórios químicos. No<br />

intuito de eliminá-Ias, trataram-se os efluentes com calcário<br />

calcítico, precipitando-se, assim, os metais na forma de<br />

hidróxidos e carbonatos correspondentes. O efluente apresentou,<br />

inicialmente, características ácidas, com concentração<br />

média de ferro e manganês de 17,00 ± 0,05 mg/L e 14,00 ± 0,03<br />

rng/L, respectivamente. Além destes metais, foram determinados<br />

alumínio, crôrnio, Cobre, mercúrio, estanho, chumbo,<br />

molibdênio, bário e zinco. Colunas de polietileno foram recheadas<br />

com calcário, em forma granular, sendo avaliada a eficácia<br />

no tratamento de resíduos aquosos pela observação do pH<br />

final do efluente. Três granulometrias diferentes foram testadas.<br />

Os resíduos tratados apresentaram concentrações de metais<br />

tóxicos abaixo dos limites estabelecidos na legislação vigente.<br />

Palavras-chave: tratamento de efluentes; laboratório; caIcita.<br />

Estudante de doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental, Centro de Recursos Hídricos<br />

e Ecologia Aplicada, EESC, USP .<br />

•• Estudante de Mestrado em Química, CCET, Universidade Federal do Maranhão .<br />

••• Pesquisador III (Recursos Aquáticos), Instituto de Pesquisas Científic~ e Tecnológicas do<br />

Estado do Amapá.<br />

104 Cad. Pesq., São Luís. v. 14. n. I. p.104-117.jan./jun. 2003


ABSTRACT<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

This paper proposes a system for treatment of acid wastewater<br />

with-high concentration of metais produced from analytical processes<br />

of chemical laboratory. For their elimination, lime (calcite<br />

powder) was used for precipitation ofthe metais as their hydroxide<br />

and carbonate. The effluent presented acid characteristics, and<br />

concentrations of iron and manganese was 17,00 ± 0,05 mg!L and<br />

14,00 ± 0,03 mglL, respectively, Others metais were also analyzed,<br />

such as AI, Cr, Cu, Hg, Sn, Pb, Mo, Ba and Zn. The lime was used<br />

in the granular form placed in a column to treat the wastewater,<br />

Three different particle sizes ofthe lime were tested. The treated<br />

wastewater showed toxic metal concentrations lower than limits<br />

established in the legislation.<br />

Keywords: laboratory waste treatment; dolomite; precipitation.<br />

As atividades industriais,<br />

desde a produção até o controle<br />

de qualidade, podem gerar resíduos<br />

que, no Brasil, ainda são<br />

comumente descartados sem<br />

qualquer tratamento. Entretanto, a<br />

visão de que o gerador de um resíduo<br />

é o responsável por seu destino<br />

tem levado laboratórios de<br />

instituições de ensino, de fiscalização<br />

do governo, empresas de<br />

consultoria ou fábricas a tomar<br />

providências no sentido de tratar<br />

as águas residuárias que têm sido<br />

emitidas de modo descontrolado<br />

no ambiente (JARDIM, 1997,<br />

pA). Esta mudança de comportamento<br />

é reforçada pelas exigên-<br />

eras da legislação vigente<br />

(AMARANTE lr. et al., 2000,<br />

p.61)<br />

A produção de "resíduo<br />

zero" defendida por BUZZETTI<br />

(1997, p. 67) é wna possibilidade<br />

quando o resíduo gerado é originado<br />

em um processo de produção,<br />

onde se obtém grandes<br />

quantidades de um resíduo com<br />

características homogêneas. No<br />

entanto, para resíduos de laboratório,<br />

em que várias espécies podem<br />

estar presentes, desde metais<br />

pesados, ânions tóxicos, ou<br />

outros compostos nocivos à vida,<br />

esta proposta torna-se complicada,<br />

uma vez que tais resíduos estarão<br />

em baixas concentrações,<br />

Ca{L Pesq., São Luís, v. 14, n. 1, p.104-1J 7,jan.ljun. 2003 105


sendo difícil seu uso alternativo<br />

(AMARANTE Jr. et al., 2000,<br />

p.61).<br />

Muitos íons possuem certa<br />

toxicidade, não sendo tolerados<br />

pelo homem ou por outros organismos<br />

vivos a partir de determinadas<br />

faixas de concentração. A<br />

presença destas espécies no ambiente<br />

pode ter origem natural ou<br />

antropogênica. Como fontes naturais,<br />

pode-se citar a ação dos<br />

corpos d'água diretamente sobre<br />

rochas ou solos ou, ainda, o<br />

intemperismo, processo lento, favorecido<br />

pela acidez natural das<br />

águas de chuva. Entretanto, com<br />

a poluição do ar, a acidez da chuva<br />

tem aumentado, tomando mais<br />

rápido o intemperismo, aumentando<br />

a concentração dos metais<br />

pesados. Do mesmo modo, as<br />

precipitações secas e úmidas são<br />

fontes destes elementos<br />

(GRASSI, 1997,p. 3).<br />

Os metais comumente chamados<br />

"metais pesados" são altamente<br />

tóxicos, solúveisem água,<br />

sendo facilmente absorvidos por<br />

organismos, onde se combinam<br />

com enzimas vitais, inibindo suas<br />

funções. Causam problemas psicológicos<br />

e neurológicos graves,<br />

mesmo em pequenas quantidades.<br />

106<br />

Estes metais são usados em indústrias<br />

metalúrgicas, em chapas metálicas,<br />

baterias, eletrodomésticos<br />

e, por apresentarem cores brilhantes,<br />

são utilizados em tintas,<br />

vernizes e pigmentos. Desta forma,<br />

tais elementos são inseridos<br />

no ambiente em qualquer lugar<br />

onde estes produtos são manufaturados,<br />

utilizados e descartados<br />

(NEBEL; WRIGHT, 1996, p.<br />

158).<br />

Diferentes formas de remoção<br />

de metais têm sido estudadas,<br />

desde o uso de agentes<br />

precipitantes, como<br />

ditiocarbamatos (ANDRUS,<br />

2000, p. 20) e cal<br />

(CHARERNTANYARAK,<br />

1999, p. 135), extração com ácidos<br />

orgânicos (VEEKEN;<br />

HAMELERS, 1999,p. 129),até<br />

complexação com matéria orgânica<br />

modificada (GABALLAH;<br />

KILBERTUS, 1998, p. 241),<br />

com polímeros e taninos<br />

(CLARISSE et al., 2000, p. 162),<br />

com casca de caranguejo (AN et<br />

al., 2001, p. 3551) e trocaiônica<br />

com zeólitas naturais (OUKI;<br />

KAVANNAGH, 1999, p.115).<br />

Para o tratamento de efluentes,<br />

podem ser usadas reações como<br />

oxidação ou precipitação pela<br />

Cad. Pesq., São Luis, v. 14, n. 1, p.1 04-1 J 7,jan./jun. 2003


adição de permanganato de potássio,<br />

peróxido de hidrogênio,<br />

hipoclorito ou gás cloro<br />

(MULLIGAN et al., 2001, p.<br />

199). Reações de neutralização<br />

podem ser efetuadas, ou, ainda,<br />

reações de redução com dióxido<br />

de enxofre, sais de sulfeto e sulfato<br />

ferroso (MULLIGAN et al.,<br />

2001, p. 199).<br />

É importante ressaltar que,<br />

se em um resíduo determinado<br />

composto está em concentrações<br />

relativamente elevadas, a sua precipitação<br />

pode provocar a co-precipitação<br />

de outros compostos<br />

presentes (MOZETO et al, 1998,<br />

p. 5). Em estudo feito com resíduo<br />

de indústria têxtil contendo o<br />

corante índigo, além de pequenas<br />

quantidades de contaminantes<br />

como chumbo, cobre, níquel e<br />

cromo, ficou demonstrado que<br />

estes metais podiam ser satisfatoriamente<br />

removidos pela<br />

floculação com sulfato de alumínio.<br />

O precipitado foi utilizado<br />

como aditivode argilas,melhorando<br />

sua resistência (OLNEIRA et<br />

aI., 1998, p. 99). Foram também<br />

recuperados metais-traço em salmouras,<br />

pela co-precipitação com<br />

ferro (III) e Mg (lI) na forma de<br />

hidróxido, ajustando-se o pH para<br />

9,0 com NaOH. A elevação de<br />

pH diminuiu a eficiência de recuperação<br />

dos metais estudados<br />

(MARlANO; COSTA, 1993, p.<br />

125).<br />

Uma altemativa de baixo<br />

custo para a remoção de metais<br />

pesados de uma solução aquosa<br />

foi estudada recentemente pela<br />

precipitação como hidróxidos ou<br />

carbonatos, empregando-se uma<br />

coluna recheada de dolomita. No<br />

citado trabalho, a precipitação de<br />

metais foi realizada para os<br />

efluentes de laboratório de controle<br />

de qualidade de minérios de<br />

ferro e manganês. As análises feitas<br />

naquele laboratório incluíam<br />

titulações de oxi-redução ,<br />

gravimetria, colorimetria, absorção<br />

atômica de chama e<br />

espectroscopia de emissão atômica<br />

com plasma acoplado<br />

indutivamente (ICP-AES). Os resíduos<br />

apresentavam, inicialmente,<br />

características extremamente +<br />

ácidas (concentração de íons H<br />

superior a 1mol/L) e vários metais<br />

solúveis, tais como ferro,<br />

manganês, alumínio,estanho,mercúrio,<br />

cromo hexavalente, bário,<br />

cobre, cobalto, níquel, zinco,<br />

chumbo, entre outros. A maioria<br />

desses metais foi removida de for-<br />

Cad. Pesq., São Luís, v. 14, n. 1, p.104-117,jan./jun. 2003 107


ma satisfatória, mantendo-se abaixo<br />

dos níveis exigidos pela legis-<br />

lação, com exceção do mercúrio,<br />

que permaneceu em concentra-<br />

ções superiores àquelas<br />

estabelecidas para qualquer fonte<br />

poluidora(AMARANTEJr. etal.,<br />

2000, p. 61-71).<br />

No trabalho aqui apresentado,<br />

a dolomita é substituída pela<br />

calcita, na precipitação de metais<br />

em efluentes. A vantagem consiste<br />

no maior teor de carbonato de<br />

cálcio contido neste material, o<br />

que pode aumentar a eficiência do<br />

tratamento. A eficiência da calcita<br />

no tratamento foi avaliada pelo<br />

monitoramento do pH [mal, sen-<br />

do também testadas diferentes<br />

granulometrias do material.<br />

2 METODOLOGIA<br />

2.1 Amostras utilizadas<br />

Os resíduos utilizados<br />

para o estudo foram aqueles ge-<br />

rados durante as análises quími-<br />

cas de minério de ferro, proveniente<br />

da Serra dos Carajás<br />

(Pará). Estas análises consistiam<br />

na determinação da concentração<br />

de ferro total (titulação<br />

dicromatométrica) e na determi-<br />

nação de elementos minoritários<br />

(por ICP-AES) geraram os re-<br />

.síduos estudados no presente<br />

trabalho. Estes rejeitos foram<br />

analisados antes e após o trata-<br />

mento proposto por ICP-AES.<br />

2.2 Procedimentos de análise<br />

Os efluentes foram analisa-<br />

dos em ICP-AES, modelo<br />

Spectrojlame, da Spectro<br />

Analytical Instruments para a determinação<br />

da concentração de fer-<br />

ro' manganês, alumínio, fósforo, estanho,<br />

cromo, cobalto, cobre, níquel,<br />

zinco, chumbo, cádmio, bário<br />

e mercúrio. Procedeu-se conforme<br />

os procedimentos recomendados<br />

pelo fabricante do equipamento, es-<br />

colhendo-se as linhas padrões de<br />

emissão com menor interferência<br />

Todas as análises foram realizadas<br />

no modo de varredura, com a fina-<br />

lidade de observar possíveis interferentes<br />

ou desvios na absorvância<br />

máxima, bem como a inexistência<br />

de efeito de matriz.<br />

Realizou-se a leitura do<br />

branco (neste estudo, usou-se água<br />

deionizada) e dos padrões, construindo-se<br />

curvas com relacionam<br />

a concentração dos elementos de<br />

interesse versus a intensidade de<br />

radiação emitida, seguidos das<br />

amostras.<br />

108 Cad. Pesq., São Luís, v. J 4, n. J, p. J 04- 11 7,jan./jun. 2003


2.3 Seleção do pH de precipitação<br />

Uma amostra contendo mistura<br />

de resíduos de diversos procedimentos<br />

do laboratório foi titulada<br />

com solução de hidróxido de sódio<br />

a 8 mol/L, dividida em oito<br />

replicatas, observando-se a precipitação<br />

dos metais em função do pH<br />

final.As replicatas foram analisadas<br />

antes e após adição de NaOH em<br />

ICP-AES, desconsiderando-se<br />

qualquer efeito de diluição, visto que<br />

a solução adicionada apresentava<br />

concentração elevada em relação à<br />

base. Desta forma, foi possível escolher<br />

a melhor faixa de pH para<br />

a precipitação dos elementos em<br />

estudo.<br />

2.4 Tratamento em coluna<br />

Uma coluna contendo<br />

calcário calcítico foi montada de<br />

modo que o efluente, por ação da<br />

gravidade, percorresse a coluna<br />

(sistema apresentado na Figura 1).<br />

O sistema foi formado por<br />

um reservatório plástico<br />

conectado por mangueira a uma<br />

coluna (volume<br />

3<br />

de 2,85 dm ), na<br />

qual era colocada calcita. O<br />

calcário calcítico obtido comercialmente<br />

em Fortaleza-CE foi triturado<br />

em britador de mandíbula,<br />

com abertura de 22 rnrn, de for-<br />

ma a obter granulometria homo-<br />

gênea e maior área superficial.<br />

Desta forma, o volume de calcário<br />

calcítico dentro da coluna foi esti-<br />

3<br />

madoem2,43 dm. O volume de<br />

líquido no reci~iente foi, portan-<br />

to, de 0,42 dm . Como a reação<br />

entre ácidos e carbonato libera<br />

grande quantidade de gás<br />

carbônico, foi necessário deixar<br />

um espaço na parte superior do<br />

reator para a eliminação do gás<br />

gerado durante o tratamento.<br />

Reservatório<br />

Coluna<br />

de<br />

calcita<br />

Sistema em coluna para o tratamento<br />

dos etluentes em estudo.<br />

Após O preparo da coluna<br />

contendo calcita, iniciaram-se os<br />

experimentos, observando-se a<br />

variação de pH em função da<br />

vazão utilizada neste processo.<br />

Cad. Pesq., São Luís, v. 14, n. 1, p. 104-ll 7,jan./jun. 2003 109


2.5 Efeito da granulometria<br />

do precipitante<br />

Depois de escolhida a vazão<br />

ideal, variou-sea granulometria do<br />

calcário calcítico,observando-se a<br />

variação de pH em função do tempo<br />

de tratamento. Utilizaram-se<br />

três faixas de dimensão: a primeira,<br />

com grânulos de diâmetros<br />

maiores que 4,00 e menores que<br />

6,50 mm; a segunda, com diâmetros<br />

entre 6,50 e 8,00 mm; e a terceira<br />

com diâmetros entre 8,00 e<br />

12,00 mm. Fez-se passar por este<br />

sistema uma amostra de cada um<br />

dos efluentesgeradosna análisede<br />

minério de ferro, sempre em oito<br />

replicatas, tanto provenientes da<br />

análise dicromatométrica para determinação<br />

da concentração de<br />

ferro total em minérios de ferro,<br />

quanto da análise de minério de<br />

ferro em ICP-AES, sendo ambas<br />

as amostras ricas em metais como<br />

Fe, Mn, Al, Sn, Cu, Co, Zn, Ni,<br />

Pb, Hg e Ba, possuindo, ainda valores<br />

de pH inferiores a zero.<br />

3 RESULTADOS E<br />

DISCUSSÕES<br />

3.1 Seleção do pH para precipitação<br />

A variação da concentração<br />

relativa dos metais dissolvidos na<br />

fase aquosa, para várias faixas de<br />

pH, após a adição de NaOH<br />

(grau analítico), é apresentada na<br />

Figura 2. Os resultados obtidos<br />

mostraram que, entre pH 6,0 e<br />

8,0, obtém-se a menor concentração<br />

de metais solúveis. Assim,<br />

escolheu-se uma faixa de pH de<br />

trabalho mais estreita, com o intuito<br />

de garantir que a precipitação<br />

ocorresse em quantidade<br />

satisfatória, optando-se por va-<br />

.,2<br />


solúveis.<br />

3.2 Tratamento em coluna<br />

Para otirnizar o uso do sistema,<br />

utilizou-se resíduo da análise<br />

do minério de ferro em ICP-AES,<br />

medindo-se o pH, em função da<br />

vazão. O melhor fluxo para o tratamento<br />

do efluente foi de 0,01<br />

dmzmin, conforme mostra a Figura<br />

3, possivelmente devido ao<br />

maior tempo de contato entre o<br />

calcário e o efluente, proporcio-<br />

8 ..-----------~<br />

6j-------I\irl<br />

~4j----<br />

0.05 0,03 0,02 0,015 0,01<br />

dnT/rrin<br />

nado pela menor vazão.<br />

Fig. 3: Variação de pH em função da<br />

vazão.<br />

3.3 Tratamento do efluente<br />

Os valores de concentração<br />

relativa dos metais (C/Co) nos<br />

efluentes das análises de minério<br />

de ferro em ICP-AES e por<br />

titulação dicromatométrica são<br />

apresentados na Figura 4. O tratamento<br />

foi eficiente, para ambos<br />

os efluentes, visto que todos os<br />

elementos apresentaram, depois<br />

do tratamento, concentrações<br />

abaixo dos limites estabelecidos<br />

pela legislaçãoem vigor(BRASIL,<br />

1986, p. 11356-11361). O mercúrio<br />

foi a única exceção, apresentando,<br />

ainda, concentração final<br />

de 2,0 mg/L, o que é 200 vezes<br />

superior ao limite estabelecido<br />

pelo Conselho Nacional do<br />

Meio Ambiente (CONAMA)<br />

(BRASIL, 1986, p. 113 56-<br />

11361). O ferro e o alumínio foram<br />

reduzidos a concentrações<br />

inferiores ao limite de detecção do<br />

método utilizado.<br />

3.4 Teste de eficiência do<br />

reator<br />

Utilizou-se o sistema repetidas<br />

vezes até que se observasse<br />

um pH final menor que a faixa de<br />

trabalho estabelecida (entre 6,5 e<br />

7,5). O pH das amostras<br />

coletadas na saída da coluna diminuiu<br />

com o uso prolongado,<br />

obtendo-se, após a passagem de<br />

55 volumes de reator, pH igual a<br />

6,4 (valor ainda dentro dos limites<br />

exigidos pela legislação para<br />

pH). Este valor foi considerado<br />

indesejável, uma vez que é inferior<br />

ao limite de descarte estipulado<br />

por este estudo, abaixo do qual<br />

Cad. Pesq., São Luís, v. 14, n. 1, p. J04-117,jan./jun. 2003 111


não se pode garantir a remoção<br />

satisfatória dos elementos estudados.<br />

Portanto, a passagem de 50<br />

volumes de reator seria uma boa<br />

referência para se trabalhar com<br />

os efluentes testados. O sistema<br />

pode ser recuperado, efetuandose<br />

uma remoção de sólidos na<br />

parte inferior da coluna, por passagem<br />

de água em fluxo inverso<br />

lep<br />

40<br />

~ 35 ~<br />

Õ. 30 .Fe<br />

É.<br />

E1AI<br />

o 25 .. u- 20<br />

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~1500 oCr<br />

u-<br />

~1000 oSn<br />

".. .Zn<br />

o 500<br />

c<br />

o O<br />

1 2<br />

Cmicial C rinal<br />

DAI<br />

oSa<br />

oMn<br />

~<br />

ao utilizado no tratamento.<br />

Fig.4: Remoção de elementos<br />

impaetantes para efluentes de<br />

minério de ferro. FeT: efluente<br />

da análise dieromatométrica para<br />

a determinação de ferro total.<br />

ICP: efluente da análise realizada<br />

em ICP-AES para determina-<br />

ção de elementos ninoritários.<br />

3.5 Eficiência do reator em<br />

função da granulometria<br />

A eficiênciado tratamentofoi<br />

maior para calcário de menor<br />

granulometria,obtendo-se valores<br />

de pH final acima de 7,10 para o<br />

tamanho entre 4,00 e 6,50 mm.<br />

Para granulometria intermediária,<br />

os valores de pH variaram entre<br />

6,20 e 6,70, enquanto que para<br />

maior granulometria, o pH final<br />

variou entre 5,30 e 6,50 (tempo<br />

de uso de 180 min). O comportamento<br />

da variação de pH do<br />

efluente gerado em análise de minério<br />

de ferro por ICP-AES, em<br />

função do tempo, pode ser visto<br />

na Figura 5. A maior eficiência<br />

apresentada pelo sistema com<br />

menores partículas é explicado<br />

pela maior superfície de contato<br />

deste material.<br />

Considerando-se o tempo<br />

de tratamento entre 1 e 180 min,<br />

utilizando as três granulometrias<br />

testadas para os efluentes de análise<br />

em ICP-AES e para determinação<br />

da concentração de ferro<br />

total por dicromatometria, têm-se<br />

a variação de pH apresentada na<br />

Figura 6. Estes resultados indicam<br />

112 Cad. Pesq., São Luís, v. /4, n. 1,p./04-117,jan./jun. 2003


que as partículas com menor dimensão<br />

favorecem o tratamento,<br />

uma vez que apresentam maior<br />

superfície de contato com o<br />

efluente em tratamento.<br />

A análise de custos realizada<br />

no comércio de São Luís<br />

(MA) mostra que o uso de<br />

calcário fica aproximadamente<br />

doze vezes mais barato que o uso<br />

de soda cáustica. Entretanto, o<br />

uso de calcário produz uma massa<br />

de resíduo sólido 1,5 vezes<br />

maior que o uso de soda cáustica.<br />

O sólido produzido pode ser<br />

comparação é apresentada na Tabela 1.<br />

removido periodicamente da coluna<br />

de calcita, devendo ser enviado<br />

para aterro ou ter sua aplicação<br />

estudada.<br />

3.6 Comparação entre os resultados<br />

obtidos para o<br />

sistema utilizando calcita<br />

edolomita.<br />

Os dados obtidos na literatura<br />

(AMARANTE JR. et al.,<br />

2000 p. 67-70), em trabalho utilizando<br />

dolomita foram comparados<br />

com aqueles obtidos com o<br />

mesmo sistema, substituindo-se<br />

este calcário pelo calcítico. Esta<br />

Tabela 1-<br />

Parâmetro Calcário<br />

Calcítico<br />

L'.pH em 180 min de uso do sistema para a<br />

menor granulornetria e resíduo ICP 0,25 0,40<br />

L'.pH em 180 min de uso do sistema para a<br />

menor granulornetria e resíduo FeT 0,17 0,45<br />

pH final após tratamento do resíduo de lCP<br />

para menor granulornetria 6,50 7,3<br />

pH final após tratamento do resíduo de FeT<br />

para menor granulometria 6,52 7,1<br />

Volumes de reator que podem ser usados<br />

antes da recuperação (limpeza) 40 50<br />

Comparação entre os resultados obtidos para o sistema em-<br />

Cad. Pesq., São Luís, v. 14, n. 1, p.J04-117,jan./jun. 2003 113


7,8 ~-----~;<br />

4,0


o calcário calcítico precipita<br />

satisfatoriamente os elementos<br />

de interesse e sua eficiência na<br />

correção do pH e na remoção de<br />

metais é superior àquelaapresentada<br />

pelo ca1cário dolomítico. Para<br />

mercúrio, a concentração torna-<br />

se bastante reduzida mas, como<br />

no caso do tratamento com<br />

calcário dolomítico, não foi pos-<br />

sível reduzi-Ia para o limite esta-<br />

. belecido pelo CONAMA. Sugere-se<br />

que o procedimento analítico<br />

no qual o metal é utilizado (eta-<br />

pa de redução do ferro) seja substituído<br />

por métodos alternativos<br />

que utilizem titânio ou zinco. Es-<br />

tes metais são menos tóxicos que<br />

o mercúrio e apresentam maior<br />

facilidade de remoção da solução.<br />

O sistema utilizado apresen-<br />

tou eficiência até o uso de 50 vo-<br />

lumes de reator, sendo necessário,<br />

após isto, efetuar sua recupe-<br />

ração deste, facilmente realizada<br />

com água em contra corrente.<br />

O manuseio do calcário na<br />

forma de cal cita é mais fácil , se<br />

comparado à soda cáustica. A<br />

vantagem é que o calcário perma-<br />

nece fixo, fazendo-se passar o<br />

rejeito por ele. O procedimento é<br />

bastante simples e econômico, utilizando-se<br />

um reservatório e uma<br />

coluna contendo o calcário. O rejeito<br />

é conduzido por uma mangueira<br />

do reservatório até a coluna,<br />

por ação da gravidade, sendo<br />

desnecessário o uso de<br />

bombeamento, portanto sem<br />

qualquer consumo de energia.<br />

Para a obtenção da máxima<br />

eficiência do sistema, deve-se utilizar<br />

grânulos de tamanho entre<br />

4,0 e 6,5 mm, o que garante valores<br />

desejados de pH para a precipitação<br />

quantitativa dos metais<br />

presentes na fase aquosa.<br />

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