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estabelecimentos a desordem é a desordem, a harmonia que preside a<br />
sociedade é aqui desconhecida, o que vê-se? Um grande numero de seres,<br />
cada apresenta esta ou aquella excentricidade, n’esta predomina tal ou tal<br />
syntoma, n’aquelle observa-se tal ou tal exquisitice. Um salta outro ri, este<br />
dansa, aquelle canta, aqui é um individuo que exprime de um modo<br />
admirável com a maior facilidade palavra idéias incoherentes, truncadas,<br />
disparatadas, falla horas inteiras sem interrupção, seus discursos versão<br />
sobre todos os assumptos passando insensivelmente do sério ao ridículo, do<br />
alegre ao triste, do sublime ao rasteiro ou misturando-se: parece que<br />
aquelle cérebro doente tudo encandeia e admite como verdade. (Sic) 15<br />
Como é essa sociedade vista pelo alienista? Como esse discurso médico<br />
alcança o cotidiano da cidade de Fortaleza? O objeto da ciência é impensável sem o discurso<br />
científico, que constrói um sistema de conceitos que pela qual se define e tem existência real.<br />
São justamente através do saber psiquiátrico que surgem às argumentações, os métodos, os<br />
conceitos que definem o louco, “a doença mental é impensável fora do espaço definido pelo<br />
discurso psiquiátrico, que estabelece por suas normas e racionalidades” 16 . O louco passou a<br />
ser classificado e definido como tal, a partir do discurso do alienista. Ações e sentimentos que<br />
antes pareciam normais passaram a ser inseridos dentro do universo da insanidade, como<br />
podemos perceber na sexta carta do Dr. Montezuma:<br />
A idéia de grandeza, superioridade, e o egoísmo, predominão na<br />
monomania ambiciosa – Uns julgam-se imperadores, reis, generaes...trazem<br />
coroas, fabricão vestuários como os d’aquelles personagens e com elles<br />
adorsão-se, condecorações, pende-lhes do peito andão pausada<br />
gravemente e com a fronte erguida. (...) As paixões deprimentes, as idéias<br />
melancólicas annunvião os dias do que sofre de lypemania; São abatidos,<br />
tristes, taciturmos, sombrios, indolentes, apathicos. (...) Imagine-se um<br />
indivíduo que acredita viver entre riso, prazer, amor, ventura, delícias,<br />
riqueza, poder (...) e tereis um doente de monomania alegre. Os indivíduos<br />
de um e de outro sexo sofredores da monomania vaidosa ou de vaidade<br />
timbrão em tornarem-se bonitos, agradáveis, interessantes, são a<br />
personificação da vaidade. Segundo o prisma por que encarão a belleza<br />
alterão seus modos ordinários: os velhos mudam pintam de preto dos<br />
cabellos grisallhos ou brancos para transformarem-s em moços tornarem-se<br />
janotas e inspirarem o amor. (...) As mulheres toucão-se, vestem-se cada<br />
quala seu gosto à porfia querem-se mostrar-se qual a mais elegante, qual a<br />
mais dengosa, tem sua reserva, não é qualquer que merece os suspiros de<br />
seu coração, o meigo olhar de seus olhos, algumas recusam tomar alimentos<br />
para conservar o corpinho, esbelto e delicado. (...) A monomania erotica é o<br />
15 GAZETA DO NORTE, 1882.<br />
16 BIRMAN, Joel. A psiquiatria como discurso da moralidade. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978,<br />
p.18.