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A comissão nomeada pela mesa da Santa Casa de Misericórdia para escolher o local apropriado para edificação do asilo de allienados, constanos que deu seu parecer pronuciando-se pelo terreno oferecido Sr. Manoel Francisco da Silva Albano, em Arronches. Efetivamente o local preferido oferece todas as condições exigidas para um estabelecimento dessa ordem. Fica a margem da via – férrea de Baturité e próxima a lagoa da Porongaba e esses estabelecimentos são sempre construídos distantes dos grandes centros de movimento. (Sic) 18 O fato de a obra ter sido realizada perto da linha férrea de Baturité coincide com outra problemática enfrentada por Fortaleza durante a construção do asilo, que foi a grande seca de 1877-1879, Em termos de intensidade, duração, extensão ou mortalidade, no entanto, a seca de 1877 não se diferencia tanto de outros períodos de escassez, nem mesmo em termos de prejuízos econômicos. Mas, ao contrário destas épocas, a seca adentrou o mundo do poder constituído, avançou sobre o centro imaginário deste poder, sem respeitar-lhe os “canais competentes”, e atingiu o cerne da aventura civilizatória que a elite local imaginava experimentar neste momento. 19 Segundo Neves (2000), a seca de 1877 atinge o “mundo do proprietário” que vivia um momento de crescimento econômico e de “aformoseamento” da capital. As novas concepções de espaço urbano implicavam na imposição de estratégias de disciplinarização. Com a entrada dos retirantes em Fortaleza, vindos da fome, miséria, suicídio e antropofagia, provocam na população urbana e nas autoridades uma reação, a angústia. De ver a cidade planejada ser invadida pela “fome” e principalmente pela destruição do “sonho burguês” de progresso e civilidade. Logo, depois de todo esse susto, os andrajosos deveriam ser utilizados em algum proveito para a elite da cidade, logo o ócio passou a ser substituído por trabalho, e diversas obras foram realizadas através da exploração dos retirantes. Inclusive o Asilo de Alienados e Mendicidade São Vicente de Paula, Imigrantes em Arronches – Segundo uma relação que nos forneceu o Sr. Sólon da Costa e Silva membro da comissão de socorro do Arronches, 18 CEARENSE, 27-08-1877. 19 NEVES, Frederico de Castro. A multidão e a história: saques e outras ações de massas no Ceará. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Fortaleza, CE: Secretária de Cultura e Desporto, 2000, P.25.
existem ali abarrocadas 363 famílias com 2.070 pessoas. Os homens validos acham-se da lagoa de Porongaba, abertura de roçado e etc. 20 Das 2070 pessoas, algumas trabalhavam em obras no Arronche e outras na construção do Asilo de Alienados. Terminada a obra, as famílias que trabalharam na construção do São Vicente de Paula, passaram a morar no mesmo local, pois não tinham outro lugar para ir. A inauguração do Asilo foi assunto para os jornais e o Relatório de Província do Ceará em 1886. No dia 1° de março ás 17h é inaugurado o Asilo de Alienados e Mendicidade São Vicente de Paula, segundo consta no relatório de Miguel Galmon Du Pin Almeida: “Fiz remover para o edifício de Arronches nove presos indigentes que se achavam recolhidos na cadeia publica da capital, dando a mesma ordem em relação aos que estivessem pelas cadeias do interior da província” 21 . Através desta citação, fica claro que os primeiros a serem recebidos no Asilo foram os presos indigentes e não os loucos. Essas e outras informações estão nos relatórios assim como, os nomes dos primeiros dirigentes do Asilo, o diretor Dr. Sr. José Theophilo Rabello, o diretor-facultativo Dr. Meton da França Alencar e para capelão o padre José Albano Sobrinho, que se ofereceu para trabalhar no local gratuitamente. Nascia na capital, mas um espaço de exclusão. Bibliografia ASSIS, Machado. O alienista. São Paulo. Editora Martin Claret, 2007. BIRMAN, Joel. A psiquiatria como Discurso da Moralidade. Rio de Janeiro, Graal, 1978. BARBOSA, José Policarpo de Araújo. História da saúde pública do Ceará: da colônia a Vargas. Fortaleza: Edições UFC, 1994. BAUMAN, Zygmunt. Modernidad Líquida. Fundo de Cultura Econômico Argentino, 2000. CAPANEMA, Guilherme Schurch de. Estudos sobre a seca./Guilherme Schurch de Capanema e Giacomo Raja Gabaglia. Fortaleza: Secretária de Cultura do Estado do Ceará, Museu do Ceará, 2006. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994. 20 CEARENSE, de 1877 21 Relatório apresentado a Assembléia Legislativa provincial do Ceará pelo Exm. Miguel Galmon Du Pin Almeida. Ceará: Typographia do “Cearense”, 1886. Fala sobre a inauguração do Asilo de Alienados e Mendicidade São Vicente de Paula no Arronches.
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