16.06.2013 Views

a europa nas obras de jacques le goff - Biblioteca Infoeuropa

a europa nas obras de jacques le goff - Biblioteca Infoeuropa

a europa nas obras de jacques le goff - Biblioteca Infoeuropa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

• Setembro <strong>de</strong> 2004<br />

• Por Teresa Vasconcelos da Fonseca<br />

Clara Mendonça<br />

1


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

RESUMO<br />

O presente ensaio académico conta a história <strong>de</strong> um homem que nos últimos anos da sua vida tem<br />

lutado por uma causa: ensinar aos Europeus o que é a Europa. O estudo vai <strong>de</strong>senvolver-se à volta <strong>de</strong>sta<br />

figura do pensamento actual francês, Jacques Le Goff, em duas vertentes. Em primeiro aborda-se a sua<br />

biografia, início do seu percurso profissional e esclarece-se a sua filiação historiográfica. Em segundo<br />

<strong>de</strong>scobre-se a temática da Europa <strong>nas</strong> suas <strong>obras</strong> mais recentes. A finalida<strong>de</strong> está em perceber que, tanto a<br />

sua vida mais pessoal como os seus escritos mais ou menos académicos, têm sempre subjacente um<br />

profundo sentido civilizador europeísta.<br />

E, finalmente, num estudo pluridisciplinar em que a Europa actual se cruza com heranças da Ida<strong>de</strong><br />

Média, surgem alguns confrontos inevitáveis e que ajudam a torná-lo mais interessante. Falamos dos<br />

saudáveis confrontos: gran<strong>de</strong> historiador versus <strong>de</strong>sconhecido profissional da história; visão francesa da<br />

Europa versus visão da Europa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Portugal; a i<strong>de</strong>ia europeia para um octogenário versus a i<strong>de</strong>ia da<br />

Europa para alguém mais novo.<br />

Clara Mendonça<br />

2


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

ÍNDICE<br />

RESUMO..........................................................................................................................................................2<br />

ÍNDICE……………………………………………………………………………………………………………………3<br />

AGRADECIMENTOS…………………………………………………………………………………………………...6<br />

NOTA……………………………………………………………………………………………………………………..7<br />

APRESENTAÇÃO: O Relatório final <strong>de</strong> História do Medievalismo…………………………………………...8<br />

Porquê Le Goff como objecto <strong>de</strong> estudo?<br />

Apresentação sumária <strong>de</strong> Jacques Le Goff<br />

Porquê estudar Jacques Le Goff e a Europa?<br />

PARTE I – JACQUES LE GOFF : PERCURSO BIOGRÁFICO E A CONSTRUÇÃO DA SUA<br />

HISTORIOGRAFIA<br />

1. Biografia: 1924 – 1948: do <strong>nas</strong>cimento ao primeiro artigo publicado………………………13<br />

1.1. A Família e o Tempo…………………………………………………………………………....13<br />

1.2. A política e a guerra…...………………………………………………………………………..14<br />

1.3. Da escolarida<strong>de</strong> primária ao ensino superior: Toulon, Marselha, Paris, Roma e Praga..18<br />

2. A Nova História……………………………...……………………………………………………21<br />

2.1. Antes <strong>de</strong> Le Goff: “Anna<strong>le</strong>s”: do anonimato ao sucesso…………………………………....21<br />

2.2. Depois <strong>de</strong> Le Goff: A <strong>le</strong>gitimação do movimento da Nova História à família dos<br />

“Anna<strong>le</strong>s” ................................................................................................................................23<br />

2.3. A inovação <strong>de</strong> Le Goff à linha dos “Anna<strong>le</strong>s”: ..……………………………………………..28<br />

A Antropologia Histórica: GAHOM e Seminários<br />

O género biográfico (“São Luís” e a Memória)<br />

3. As influências do espaços europeus na sua historiografia……………..………………32<br />

4. Autor <strong>de</strong> síntese e <strong>de</strong> divulgação…………………………………………………………….37<br />

Clara Mendonça<br />

3


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

5. Conclusão da Parte I........................................................................................................41<br />

PARTE II – JACQUES LE GOFF E A EUROPA<br />

PARTE III – ANEXOS<br />

1. As fontes………………………………………………………………………………………….35<br />

1.1. Os títulos………………………………………………………………………………………...35<br />

1.2. As co<strong>le</strong>cções e as editoras…………………………………………………………………….45<br />

1.3. A bibliografia e as citações…………………………………………………………………….46<br />

1.4. As <strong>de</strong>dicatórias………………………………………………………………………………….47<br />

2. A actualida<strong>de</strong> da temática da Europa ……………………………………………………….48<br />

2.1. O contributo <strong>de</strong> Le Goff para este tema……………………………………………………...51<br />

3. Alguns motivos para Le Goff pensar a Europa…………………………………………….53<br />

3.1. A necessida<strong>de</strong> da política e a origem da família e dos amigos……………………………53<br />

3.2. A Cultura: erros e união………………………………………………………………………...55<br />

4. A I<strong>de</strong>ia Europeia <strong>de</strong> Jacques Le Goff………………………………………………………...45<br />

4.1. Introdução: I<strong>de</strong>ias base ……………………………………………………………………….57<br />

4.2. Do século IV ao VIII: Cristianismo e aculturação “bárbara” ……………………….………59<br />

4.3. Do século VIII ao Ano Mil: As políticas <strong>de</strong> Carlos Magno e <strong>de</strong> Otão III…………………..61<br />

4.4. Do século XI ao XII: O Feudalismo consolida a Europa…………………………………...63<br />

4.5. O século XIII: A “bela” Europa das universida<strong>de</strong>s, das cida<strong>de</strong>s, dos mercadores e dos<br />

mendicantes……………………………..……………………………………………………...67<br />

4.6. Os séculos XIV e XV: O Outono da Ida<strong>de</strong> Média ……………..………………………...…70<br />

5. Conclusão da Parte II…………………………………………………………………………...72<br />

1. Bibliografia temática <strong>de</strong> Jacques Le Goff …………………………………………………………….75<br />

2. Os seus principais colaboradores : o exemplo do "Dictionnaire raisonné <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt<br />

médiéval ".........................................................................................................................................90<br />

Clara Mendonça<br />

4


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

3. Cronologia comparada : o percurso biográfico, a sua produção escrita e a construção da<br />

Comunida<strong>de</strong> Europeia …………….................................................................................................92<br />

BIBLIOGRAFIA E INTERNET ……………………………………………………………………………………97<br />

Clara Mendonça<br />

5


AGRADECIMENTOS<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Ao Miguel, aos meus Pais e irmãos, agra<strong>de</strong>ço toda a ajuda que me <strong>de</strong>ram ao<br />

longo <strong>de</strong>ste ano tão difícil.<br />

Aos tios Zé e Gracinha um beijinho especial pela confiança <strong>de</strong>positada em mim.<br />

Agra<strong>de</strong>ço aos meus professores e queridos co<strong>le</strong>gas pelas críticas feitas na<br />

apresentação do esboço <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Clara Mendonça<br />

6


NOTA<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Ao longo do trabalho não se fizeram quaisquer traduções <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> livros e <strong>de</strong><br />

expressões <strong>de</strong> autores que estivessem em língua estrangeira, sob pena <strong>de</strong> incorrer em<br />

erro. Contudo foram utilizadas <strong>obras</strong> estrangeiras traduzidas para português, das quais<br />

se preferiu citar e transcrever em relação às primeiras, sem que qualquer incorrecção na<br />

sua tradução possa ser imputada à autora <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Clara Mendonça<br />

7


APRESENTAÇÃO<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

• O Relatório final <strong>de</strong> História do Medievalismo<br />

Este trabalho é o relatório final do seminário anual “História do Medievalismo”, da<br />

Pós-Graduação em História Medieval e do Re<strong>nas</strong>cimento, <strong>le</strong>ccionado na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Letras da Universida<strong>de</strong> do Porto, ano <strong>le</strong>ctivo 2003/2004.<br />

No âmbito programático <strong>de</strong>sse seminário sugeriu-se que o relatório final fosse o<br />

estudo da historiografia <strong>de</strong> um medievalista. O objectivo geral era <strong>de</strong>scobrir a forma<br />

como o autor construía a “sua” Ida<strong>de</strong> Média. Para este efeito, Jacques Le Goff foi o<br />

autor escolhido.<br />

• Porquê Le Goff como objecto <strong>de</strong> estudo?<br />

Na altura <strong>de</strong> escolher o medievalista a analisar, não se tinha qualquer pista <strong>de</strong><br />

investigação. Ape<strong>nas</strong> havia três certezas, ligadas a uma realização pessoal, que<br />

facilmente seriam conciliáveis com a execução <strong>de</strong>ste trabalho. A primeira era a vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> basear este estudo em bibliografia escrita, maioritariamente, em língua estrangeira<br />

(ing<strong>le</strong>sa, francesa, espanhola ou até italiana). A segunda era a impreterível necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se aprofundar os conhecimentos em história medieval europeia. Por último havia um<br />

<strong>de</strong>sejo que se pren<strong>de</strong> com a actualida<strong>de</strong> nacional, o esclarecimento nos assuntos<br />

europeus, comunitários e extra-comunitários.<br />

Na apresentação <strong>de</strong>stes três pressupostos, o docente responsável pelo<br />

seminário sugeriu que se estudasse Jacques Le Goff.<br />

Clara Mendonça<br />

8


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

• Apresentação sumária <strong>de</strong> Jacques Le Goff<br />

Jacques Le Goff, medievalista da segunda meta<strong>de</strong> do século XX e inícios do<br />

século XXI, é, tanto pelo seu percurso biográfico como historiográfico, um homem<br />

comp<strong>le</strong>tíssimo, <strong>de</strong>nso e socialmente activo.<br />

As suas <strong>obras</strong> centram-se sobretudo na gran<strong>de</strong> temática das Mentalida<strong>de</strong>s e<br />

Cultura medievais. No início da sua vida <strong>de</strong> historiador, começou por escrever temas<br />

próximos da história económica e social, mas tinha sempre a Cultura como vertente<br />

subjacente. 1<br />

A sua obra quantificada é impressionante. Vejam-se os seguintes números: até o<br />

início <strong>de</strong> 2004, Le Goff escreveu 147 artigos, 23 livros, 45 apresentações e prefácios,<br />

dirigiu 19 <strong>obras</strong> co<strong>le</strong>ctivas, e ainda tem 3 livros no prelo para o presente ano. 2<br />

europeu.<br />

• Porquê estudar Jacques Le Goff e a Europa?<br />

De todos os assuntos versados pelo autor, escolheu-se aprofundar o assunto<br />

À medida que se ia recolhendo e <strong>le</strong>ndo a obra do historiador, notava-se a<br />

preocupação constante que e<strong>le</strong> tinha em escrever, não somente sobre a história<br />

francesa medieval, mas sobre toda a Europa, tanto a Oci<strong>de</strong>ntal, como a Central e a <strong>de</strong><br />

Leste. O espaço europeu, aquém e além da “cortina <strong>de</strong> ferro”, era-lhe um tema caro. A<br />

partir <strong>de</strong> meados dos anos 80 do século XX, Jacques Le Goff começou a preocupar-se<br />

1 LE GOFF, Jacques – « Marchands et banquiers du Moyen Âg e ». Paris : PUF, (col. « Que sais-je? », n° 699),<br />

1956. Este foi o seu primeiro livro, escrito quando tinha 32 anos. Se à partida, pelo título parece um estudo <strong>de</strong><br />

índo<strong>le</strong> exclusivamente económica, quando se proce<strong>de</strong> à sua <strong>le</strong>itura percebe-se que o assunto é diferente; trata das<br />

mentalida<strong>de</strong>s dos mercadores medievais e da nova concepção mental do trabalho no século XIII.<br />

2 Veja-se a sua bibliografia organizada tipologicamente (ex.: por livros, por artigos, etc.) em<br />

http://www.ehess.fr/gahom/LeGoffbiblio.htm . E veja-se nos anexos <strong>de</strong>ste trabalho – Parte IV – a bibliografia<br />

organizada por temas.<br />

Clara Mendonça<br />

9


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

com a “crise existencial” que afectava a Europa e os Europeus. 3 Anos <strong>de</strong>pois, em 1993,<br />

começou a escrever sobre a “i<strong>de</strong>ia europeia” e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da Europa. 4 O autor estava<br />

<strong>de</strong>cidido a encontrar “uma memória comum entre os europeus para que ela (…)”<br />

pu<strong>de</strong>sse “<strong>de</strong>sembocar numa integração que (…)” ultrapassasse “a Europa das nações<br />

actuais”. 5 Essa memória comum do espaço europeu consolidou-se, segundo o autor, na<br />

época medieval. A resposta e o remédio à “crise existencial” europeia encontrava-se na<br />

busca das raízes medievais da Europa actual. As raízes medievais e os seus frutos<br />

actuais, teorizados por Le Goff, são o âmbito <strong>de</strong>ste estudo.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, na <strong>de</strong>corrência da observação acima mencionada, <strong>de</strong>cidiu-se<br />

aprofundar este trabalho, <strong>de</strong>dicando uma parte exclusivamente ao tema europeu; três<br />

factores contribuíram para isso:<br />

1. Neste ano <strong>de</strong> 2004, a Europa Económica (U.E.) estará alargada à sua máxima<br />

extensão <strong>de</strong> sempre, com 25 estados-membros. O mapa da U.E. estará mais próximo<br />

do que nunca Europa geográfica. Assim é fundamental conhecer os antece<strong>de</strong>ntes dos<br />

países recém chegados do <strong>le</strong>ste europeu.<br />

2. No dia da apresentação informal <strong>de</strong>ste trabalho ao docente responsável pelo<br />

seminário e aos co<strong>le</strong>gas, faltarão ape<strong>nas</strong> 3 dias para as e<strong>le</strong>ições no Parlamento<br />

Europeu (P.E.), facto que terá re<strong>le</strong>vância na finalização do texto constitucional europeu<br />

que se encontra em elaboração. Esta é uma época em que as temáticas europeias<br />

estão na or<strong>de</strong>m do dia, pelo que se torna necessário saber como foi a construção da<br />

Europa (Antiga, Medieval e Mo<strong>de</strong>rna) para se seguir mais esclarecido rumo ao futuro.<br />

3<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da história». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

219.<br />

4<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – « L’Europe à l’éco<strong>le</strong> ». In «Le Débat», n° 77, novembre-décembre 1993, p. 176-181.<br />

5<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da história». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

219.<br />

Clara Mendonça<br />

10


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

3. No conjunto dos 5 títulos escritos por outros autores sobre Le Goff 6 , nenhum focou o<br />

interesse do historiador pelo tema da i<strong>de</strong>ia, da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da unida<strong>de</strong> europeias. Desta<br />

forma parece haver lugar para este estudo que, à partida, é inovador. 7<br />

6 Veja-se nos anexos <strong>de</strong>ste trabalho – Parte IV – a bibliografia organizada sobre o tema: Os outros sobre Le Goff.<br />

Clara Mendonça<br />

11


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

PARTE I – JACQUES LE GOFF : O PERCURSO BIOGRÁFICO E<br />

A CONSTRUÇÃO DA SUA HISTORIOGRAFIA 8<br />

7 Na linguagem da prática empresarial, chamar-se-ia um “cluster <strong>de</strong> mercado historiográfico”; i.e., parece ser um<br />

nicho <strong>de</strong> mercado em que, até à data, ninguém estudou.<br />

8 Veja-se também o esquema com as principais relações entre os dados da vida pessoal e profissional do<br />

historiador, a sua produção historiográfica e os principais acontecimentos da construção da Comunida<strong>de</strong><br />

Europeia, na Parte IV <strong>de</strong>ste trabalho, no capítulo com o título: “Cronologia comparada: a vida pessoal e<br />

profissional <strong>de</strong> Le Goff, a sua produção escrita e as principais datas da construção da Comunida<strong>de</strong> Europeia”.<br />

Clara Mendonça<br />

12


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

1. Biografia: 1924 – 1948: do <strong>nas</strong>cimento ao primeiro artigo publicado<br />

1.1. A Família e o Tempo<br />

No dia 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1924, <strong>nas</strong>ceu Jacques Le Goff na cida<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong><br />

França, chamada Toulon. Era filho <strong>de</strong> um professor <strong>de</strong> inglês <strong>de</strong>scrito, pelas palavras do<br />

filho, como “honesto e justo”. E <strong>de</strong> com uma dona <strong>de</strong> casa caracterizada, através das<br />

palavras do mesmo, como uma “católica fervorosa, <strong>de</strong> esquerda e socialista”. Deste<br />

primeiro parágrafo totalmente biográfico ressaltam três aspectos que foram<br />

<strong>de</strong>terminantes para a vida do autor: o tempo em que <strong>nas</strong>ceu (dia / mês) e as heranças<br />

das personalida<strong>de</strong>s fortes do seu pai e da sua mãe. 9<br />

A sua data <strong>de</strong> <strong>nas</strong>cimento marcou-o profundamente. A importância da dimensão<br />

temporal <strong>de</strong>ve-se aos diferentes significados do tempo para as diferentes pessoas. O<br />

exemplo do seu dia <strong>de</strong> <strong>nas</strong>cimento, e consequentemente <strong>de</strong> aniversário, é<br />

paradigmático. O dia 1 <strong>de</strong> Janeiro, para as pessoas do “mundo oci<strong>de</strong>ntal”, é o início do<br />

novo ano civil, significado que teve na sua origem a tomada <strong>de</strong> posse dos senadores<br />

romanos; é uma data que, para os “oci<strong>de</strong>ntais”, marca o fim <strong>de</strong> um ciclo e outro tem<br />

início. Para Le Goff, que vive nesse mundo, o dia representava ape<strong>nas</strong> o seu<br />

aniversário. Todavia noutras civilizações on<strong>de</strong> a contagem do tempo não é medida <strong>de</strong><br />

igual forma, este dia, este tempo (o início do ano “oci<strong>de</strong>ntal”) é uma época relativamente<br />

banal. São exemplos as culturas chinesa e muçulmana. A importância dos diferentes<br />

níveis <strong>de</strong> tempo para cada civilização é uma preocupação que transparece <strong>nas</strong><br />

9<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp.<br />

171-172.<br />

Clara Mendonça<br />

13


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

cronologias comparadas que compõem, com e<strong>le</strong>vada frequência, a parte final dos livros<br />

<strong>de</strong> Le Goff. 10<br />

Nas palavras <strong>de</strong> Le Goff, o seu pai era “pouco cristão”, “sisudo”, íntegro e “um<br />

típico bretão”. Com e<strong>le</strong> apren<strong>de</strong>u o “verda<strong>de</strong>iro sentido” da sua educação, o sentido da<br />

to<strong>le</strong>rância. Pelo contrário, a sua mãe era “uma típica provençal”, “cristã do Credo,<br />

sobretudo dos Mistérios Dolorosos”, com a qual apren<strong>de</strong>u a bonda<strong>de</strong> como vertente<br />

mais visível da Carida<strong>de</strong> cristã. 11<br />

A junção das qualida<strong>de</strong>s da to<strong>le</strong>rância sem base religiosa com a Carida<strong>de</strong> e o<br />

gosto pela política <strong>de</strong> esquerda, ocasionou um “cristão vermelho”, tido pelos amigos<br />

como um homem <strong>de</strong> uma “bonda<strong>de</strong>” imensa. 12<br />

1.2. A política e a guerra<br />

Antes <strong>de</strong> se falar do percurso escolar do futuro medievalista, falar-se-á da política<br />

e da guerra, dois marcos que parecem ter condicionado a formação do carácter <strong>de</strong> Le<br />

Goff.<br />

O seu discurso no ensaio <strong>de</strong> ego-história é intercalado com sucessivas<br />

referências às duas gran<strong>de</strong>s guerras mundiais que minaram a Europa do século XX. A Iª<br />

10<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003.<br />

Nesta obra, o autor coloca as principais datas da construção europeia e, em para<strong>le</strong>lo como contraponto,<br />

acontecimentos passados noutras civilizações, <strong>nas</strong> mesmas datas. O mesmo acontece em <strong>obras</strong> mais antigas<br />

como: LE GOFF, Jacques – «A civilização do Oci<strong>de</strong>nte medieval». Lisboa: Editorial Estampa, 1994, vol. II, pp.<br />

154-246. Vejam-se as consi<strong>de</strong>rações pessoais do autor sobre a importância da temporalida<strong>de</strong> em: LE GOFF,<br />

Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 171-172. Vejamse<br />

as consi<strong>de</strong>rações teóricas, do mesmo, sobre o Tempo, <strong>nas</strong> várias entradas que escreveu para a «Enciclopédia<br />

Einaudi», sobretudo as que cabem no volume 1 da edição portuguesa: LE GOFF, Jacques - «Memória»,<br />

«Ca<strong>le</strong>ndário», «História», «Passado/Presente», «Antigo/Mo<strong>de</strong>rno». In «Enciclopédia Einaudi», Ruggiero<br />

Romano (dir.) Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984, vol.1.<br />

11<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp.<br />

178-179.<br />

12<br />

Vd. NORA, Pierre – «Côte à côte». In «L’Ogre historien : autour <strong>de</strong> Jacques <strong>le</strong> Goff», Éd. De Jean-Clau<strong>de</strong><br />

Schmitt et Jacques Revel. Paris : Gallimard, 1998, p. 60.<br />

Clara Mendonça<br />

14


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Guerra Mundial, ainda que Le Goff não a tenha vivido (pois <strong>nas</strong>ceu 6 anos <strong>de</strong>pois do<br />

seu <strong>de</strong>sfecho), marcou em profundida<strong>de</strong> a sua vida, pelo facto do seu pai ter sido<br />

intérprete <strong>nas</strong> trincheiras dos ing<strong>le</strong>ses. Le Goff diz que, apesar do seu pai não ter<br />

pegado em armas, a guerra carregou o seu semblante. Esses 4 anos <strong>de</strong> guerra (1914-<br />

1918), condicionaram o carácter “sisudo” do seu pai, mas tornaram-no, aos olhos do seu<br />

filho, um verda<strong>de</strong>iro “herói da integrida<strong>de</strong>”. 13<br />

A IIª Guerra Mundial teve um impacto directo sobre o historiador. Começou<br />

quando Le Goff tinha 15 anos e terminou quando e<strong>le</strong> já tinha 20. Numa fase <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento psicológico tão fundamental e <strong>de</strong>licado como é a ado<strong>le</strong>scência, Le Goff<br />

passou-a em clima <strong>de</strong> guerra, chegando a passar fome e a ter <strong>de</strong> mudar <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. Os<br />

movimentos <strong>de</strong> esquerda ganhavam força no combate à guerra e ao regime vigente <strong>de</strong><br />

incidência racista e xenófoba. O gosto <strong>de</strong> Le Goff pelas políticas <strong>de</strong>spo<strong>le</strong>tou na altura<br />

em que a França vivia em estado <strong>de</strong> sítio, numa tentativa <strong>de</strong> fazer face às políticas <strong>de</strong><br />

extrema-direita dos regimes fascistas e nazis. 14<br />

A política é para Jacques Le Goff uma “necessida<strong>de</strong>”, que com o passar dos<br />

anos se tem tornado progressivamente “constrangida”. 15<br />

Des<strong>de</strong> cedo, quando Le Goff tinha ape<strong>nas</strong> 12 anos, entrou para a Frente<br />

Popular 16 , a fim <strong>de</strong> combater o racismo <strong>de</strong> que pa<strong>de</strong>cia a sua cida<strong>de</strong> natal, Toulon. 17<br />

13 Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história», Lisboa: Edições 70, 1989, pp.<br />

178-179.<br />

14 Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História.» In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, pp.<br />

201-203.<br />

15 Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História.» In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989,<br />

p.218.<br />

16 A Frente Popular é “a expressão que <strong>de</strong>signa a coligação dos partidos esquerdistas para conquistar o po<strong>de</strong>r.<br />

Em 1936, comunistas, socialistas e radicais franceses uniram-se sobre o <strong>le</strong>ma « Pão, Paz e Liberda<strong>de</strong> »,<br />

alcançando o po<strong>de</strong>r. Formou-se então um governo presidido por Léon Blum sem a participação dos comunistas,<br />

que ape<strong>nas</strong> conce<strong>de</strong>ram o seu apoio. De formação heterogénea, teve pouco tempo <strong>de</strong> existência, pois viu-se a<br />

braços com gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s financeiras e económicas. Por outro lado o governo contava com as severas<br />

críticas dos comunistas, que propunham a intervenção em Espanha contra Franco (…).” Vd. «Frente Popular».<br />

In «A Enciclopédia», Fernando Gue<strong>de</strong>s (dir.). Lisboa: Editorial Verbo, vol. 9, p. 3879. ISBN: 972-22-2311-9.<br />

Clara Mendonça<br />

15


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Nos anos posteriores, Le Goff aliou-se a movimentos e a partidos políticos em<br />

resposta às políticas encetadas pelo governo do seu país que era li<strong>de</strong>rado pelo<br />

Marechal Pétain. No final do liceu, como era <strong>de</strong> costume, os finalistas <strong>de</strong>sfilavam em<br />

frente ao chefe do governo francês. Le Goff não foi excepção e em 1 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1941,<br />

fê-lo em frente a Pétain. Cerca <strong>de</strong> um ano antes <strong>de</strong>ste encontro, em Junho <strong>de</strong> 1940,<br />

Pétain assinara o Armistício com a A<strong>le</strong>manha nazi. Muitos franceses, e entre e<strong>le</strong>s estava<br />

Le Goff, não regozijaram com esta medida. Pelo contrário. Le Goff apelidou <strong>de</strong><br />

“vergonhoso” ter visto as tropas a<strong>le</strong>mãs passearem-se pelo seu país que julgava ser tão<br />

to<strong>le</strong>rante e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e que jamais se vergaria a uma potência racista e xenófoba. A<br />

propósito do <strong>de</strong>sfi<strong>le</strong> que teve <strong>de</strong> integrar, confrontado com a presença <strong>de</strong> Pétain, Le Goff<br />

afirma, recordando: “Foi graças a Deus, a única vez que vi o Marechal Pétain.” E,<br />

posteriormente, acrescenta: “Pétain é a mancha maior da História <strong>de</strong> França.” Foi na<br />

sequência <strong>de</strong>ste encontro que, nesse mesmo Verão <strong>de</strong> finalista, entrou para a<br />

resistência Anti-Vichy e anti-a<strong>le</strong>mã, a chamada SFIO. 18<br />

Le Goff tirou algumas “lições <strong>de</strong> história” das duas gran<strong>de</strong>s guerras do século XX,<br />

nomeadamente da segunda. Numa visão prática do papel da história na vida dos<br />

homens, Le Goff diz que: “Aprendi com e<strong>le</strong> [Pétain], como muitos franceses, o que é ser-<br />

se pisado no seu país. É preciso que as gerações que não o conhecem possam saber e<br />

compreen<strong>de</strong>r que infâmia foi o regime <strong>de</strong> Vichy”. 19<br />

17<br />

Antes <strong>de</strong> entrar para este movimento, o jovem Le Goff pediu o conselho e até mesmo a anuência ao arcipreste<br />

da catedral <strong>de</strong> Toulon, que por sua vez o incentivou vivamente a integrar a Frente Popular. Vd. LE GOFF,<br />

Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História.» In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 199.<br />

18<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História.» In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989,<br />

p.201-202. A S.F.I.O. - Séction Française <strong>de</strong> l’Internationa<strong>le</strong> Ouvrière - era uma pseudo-resistência francesa ao<br />

regime germânico que recolhia e distribuía alimentos fornecidos pelos aliados ing<strong>le</strong>ses. Na resistência o<br />

historiador diz que nunca foi nem <strong>de</strong> direita, nem comunista; era um socialista com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> passar umas<br />

férias <strong>de</strong> Verão diferentes. Esta vonta<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser facilmente compreendida se se consi<strong>de</strong>rar que Le Goff nessa<br />

altura tinha ape<strong>nas</strong> 17 anos.<br />

19<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

202.<br />

Clara Mendonça<br />

16


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista teórico, a “lição” retirada pren<strong>de</strong>-se com a noção do tempo<br />

longo. No senso comum, a guerra é a criadora do antes e do <strong>de</strong>pois, é um marco<br />

estrutural que influi em todos os sectores <strong>de</strong> uma civilização (material, cultural, político,<br />

etc.). Mas para o historiador as guerras mundiais não são um gran<strong>de</strong> motor da história.<br />

O contacto com a experiência que o seu pai teve na Iª Guerra Mundial e a experiência<br />

que o próprio Le Goff teve na IIª, é o suficiente para afirmá-lo. O historiador disse que<br />

atravessou a IIª Guerra Mundial “muito superficialmente”. O facto <strong>de</strong> essa<br />

superficialida<strong>de</strong> o ter <strong>de</strong>ixado “sem marcas profundas”, preparou-o para distinguir uma<br />

história dos gran<strong>de</strong>s acontecimentos, da história da longa duração. E conclui dizendo<br />

que os gran<strong>de</strong>s acontecimentos como as guerras mundiais não mudam estruturalmente<br />

uma socieda<strong>de</strong>, ape<strong>nas</strong> só po<strong>de</strong>m ace<strong>le</strong>rar ou atrasar as verda<strong>de</strong>iras evoluções. 20<br />

Em 1945, terminada a guerra, a gran<strong>de</strong> tendência i<strong>de</strong>ológica francesa era o<br />

“cristianismo vermelho”, ao qual Le Goff a<strong>de</strong>riu. Do ponto <strong>de</strong> vista partidário, Le Goff<br />

aproximou-se dos comunistas, partido que “suscitava o entusiasmo dos jovens<br />

inte<strong>le</strong>ctuais”. Nessa altura, já não integrava a SFIO, movimento que tinha seguido um<br />

rumo “<strong>de</strong>sinteressante” para o historiador. Anos <strong>de</strong>pois, em 1956, abandonou o<br />

secretariado do SNE (Syndicat National <strong>de</strong> l’Edition). A política continuou, <strong>de</strong>sta forma, a<br />

estar presente na sua vida até ao ano em que casou, 1962. Foi precisamente neste ano<br />

que abandonou a militância do último movimento político a que esteve ligado, o PSU<br />

(Partido Socialista Unificado francês).<br />

20 Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

174 e 203. Não parece que a guerra tenha tido um impacto tão mo<strong>de</strong>sto na sua vida, como Le Goff faz crer. Caso<br />

assim fosse, o historiador não estaria constantemente, ao longo da obra atrás citada, a explicar tantos pormenores<br />

da sua vida que se relacionavam com as guerras mundiais, sobretudo com a IIª.<br />

Clara Mendonça<br />

17


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

1.3. Da escolarida<strong>de</strong> primária ao ensino superior: Toulon, Marselha, Paris,<br />

Roma e Praga<br />

A escolarida<strong>de</strong> inicial <strong>de</strong> Jacques Le Goff foi passada em Toulon. No 7º ano, teve<br />

um professor <strong>de</strong> história que viria a ser um eminente historiador: Henri Michel. Foi<br />

graças a este “gran<strong>de</strong> mestre”, segundo Le Goff, que o jovem estudante apren<strong>de</strong>u a<br />

utilizar o documento e a perceber que a história mais do que contar <strong>de</strong>ve explicar. O<br />

gosto por um período em particular da história, o medieval, <strong>de</strong>senvolveu-se também<br />

neste primeiros anos <strong>de</strong> estudo. As aulas <strong>de</strong> Henri Michel, as <strong>le</strong>ituras <strong>de</strong> <strong>obras</strong> <strong>de</strong> Sir<br />

Walter Scott, nomeadamente com “Ivahoe”, contribuíram em muito para isso. 21<br />

A aproximação aos temas da cultura e do imaginário ocorreram um pouco mais<br />

tar<strong>de</strong> com a <strong>le</strong>itura <strong>de</strong> duas revistas para jovens sobre contos e <strong>le</strong>ndas que, os seus pais<br />

lhe ofereciam <strong>de</strong> uma forma acertada e “judiciosamente” , <strong>nas</strong> palavras <strong>de</strong> Le Goff. 22<br />

Des<strong>de</strong> os primeiros anos <strong>de</strong> vida escolar, Le Goff <strong>de</strong>finiu por gosto e acaso e não<br />

por estratégia ou obrigação, o seu campo <strong>de</strong> estudo futuro. A história, a ida<strong>de</strong> média, a<br />

cultura e o imaginário foram as pedras <strong>de</strong> um caminho, traçado pelo gosto <strong>de</strong> um jovem<br />

estudante, que estava ainda a passos largos da entrada na universida<strong>de</strong>.<br />

A IIª Guerra Mundial chegou a França quando Le Goff estava a aproximar-se da<br />

conclusão do liceu. A partir <strong>de</strong> 1941, teve <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> Toulon e ir para Marselha. Esta<br />

mudança não lhe causou tristeza nem sauda<strong>de</strong>, muito pelo contrário. Foi a partir <strong>de</strong>sse<br />

momento que viu quão “racista e xenófoba” Toulon era; por contraponto, Marselha era,<br />

21<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp.<br />

195-196.<br />

22<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp.<br />

196-197. Pena é que o historiador já não se recor<strong>de</strong> do título <strong>de</strong>stas publicações, pelo que nenhum foi avançado.<br />

Clara Mendonça<br />

18


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

<strong>nas</strong> suas palavras, uma cida<strong>de</strong> “mestiça”, com um activo porto <strong>de</strong> mar on<strong>de</strong> aportavam<br />

barcos com pessoas <strong>de</strong> todas as culturas e civilizações. 23<br />

Em 1942, com 18 anos, entrou para a universida<strong>de</strong> na Escola Normal Superior,<br />

em Paris, a fim <strong>de</strong> obter a licenciatura em Letras. Com sucesso, concluiu as discipli<strong>nas</strong><br />

referentes ao Grego, ao Latim e ao Francês, mas faltava-lhe uma disciplina para ser<br />

licenciado, a Filologia.<br />

Em 1944, teve <strong>de</strong> ir para a Sorbonne (<strong>de</strong>signação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris I,<br />

Panteão) frequentar o curso <strong>de</strong> Filologia para obter o grau <strong>de</strong>sejado. Contudo só<br />

conseguiu lá ficar cerca <strong>de</strong> 15 dias. Detestou <strong>de</strong> tal forma aquela instituição académica,<br />

facto que é corroborado pelas suas palavras: “estou muito reconhecido a essa<br />

instituição e a essa disciplina, pois pareceram-me tão repe<strong>le</strong>ntes que <strong>de</strong>cidi não<br />

continuar”. 24<br />

A Filologia ficou pelo caminho, mas a Sorbonne continuou na sua vida. Para se<br />

tornar historiador teve <strong>de</strong> lá voltar para frequentar algumas ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> História. Nas<br />

suas palavras, estas <strong>de</strong>ixaram-lhe “a mesma insatisfação que as <strong>de</strong> filologia”. Durante<br />

este período, Jacques Le Goff não foi um aluno assíduo às aulas. Passava os dias no<br />

cinema, a jogar bridge e a assistir a concertos. As noites eram passadas em casa a<br />

estudar (aliás, como hoje em dia). Desta forma pouco comum, concluiu a Licenciatura<br />

em Letras e em História. 25<br />

Entre 1946-1950, voltou à Escola Normal on<strong>de</strong>, segundo o próprio, passou os<br />

melhores 4 anos <strong>de</strong> estudo e <strong>de</strong> ref<strong>le</strong>xão da sua vida. Foram anos <strong>de</strong> viagens e <strong>de</strong><br />

23<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp.<br />

200-201.<br />

24<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

204.<br />

25<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989,<br />

p.204. A noite é para o autor o “temps privilégié <strong>de</strong> la réf<strong>le</strong>xion et <strong>de</strong> l’écritu<strong>de</strong> solitaire”, segundo nos conta o<br />

Clara Mendonça<br />

19


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

intercâmbio em outras instituições <strong>de</strong> ensino europeias; a saber, na Escola Francesa <strong>de</strong><br />

Roma e na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Praga. Foi ao longo <strong>de</strong>ste tempo que adquiriu o “prazer das<br />

bibliotecas”.<br />

A propósito da sua estadia em Roma, entre 1946-1947, disse que teve a “sorte<br />

que não se esquece, a <strong>de</strong> ter tido à mão, aos vinte anos, uma gran<strong>de</strong> biblioteca, rica não<br />

só em livros, mas também numa pesada história inte<strong>le</strong>ctual”. Le Goff tinha os livros “à<br />

mão” pois, durante essa estadia em Roma, dormia num quarto situado <strong>de</strong>ntro da<br />

biblioteca daquela instituição. 26<br />

Entre 1947 e 1948, foi <strong>de</strong>stacado como bolseiro para Praga. Aí redigiu o seu<br />

primeiro artigo publicado: “Un étudiant tchèque à l’Université <strong>de</strong> Paris au XIVe sièc<strong>le</strong>” 27 .<br />

Após <strong>de</strong>ixar a Escola Normal Superior - último período da sua escolarida<strong>de</strong> até<br />

se tornar historiador - Le Goff contactou em 1950 com Fernand Brau<strong>de</strong>l e com os<br />

restantes colaboradores da revista dos “Anna<strong>le</strong>s”. A partir daí, iniciou-se uma nova<br />

etapa na sua vida que constituirá o próximo capítulo.<br />

seu discípulo Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt em: Vd. SCHMITT, Jean-Clau<strong>de</strong> – «Le Séminaire». In «L´Ogre historien :<br />

autour <strong>de</strong> Jacques <strong>le</strong> Goff», Éd. De Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt et Jacques Revel.Paris : Gallimard, 1998, p. 21.<br />

26<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

207.<br />

Clara Mendonça<br />

20


2. A Nova História 28<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

2.1. Antes <strong>de</strong> Le Goff: “Anna<strong>le</strong>s”: do anonimato ao sucesso<br />

Em 1929, Marc Bloch 29 e Lucien Febvre 30 fundaram a revista “Anna<strong>le</strong>s d’histoire<br />

économique et socia<strong>le</strong>”. Estudando o Homem <strong>de</strong> uma forma total, visto na longa<br />

duração, <strong>de</strong>sprezando o acontecimento, estes historiadores preten<strong>de</strong>ram fazer face à<br />

historiografia político-militar e “metódica” praticada na generalida<strong>de</strong>, chamando a<br />

atenção para “a activida<strong>de</strong> económica, a organização social e a psicologia co<strong>le</strong>ctiva”. 31<br />

Esta publicação ganhou maior dinamismo <strong>de</strong>pois da IIª Guerra Mundial, cerca <strong>de</strong><br />

16 anos <strong>de</strong>pois da sua criação, e sobretudo sob o novo comando <strong>de</strong> Fernand Brau<strong>de</strong>l 32 .<br />

A IIª Guerra Mundial <strong>de</strong>ixou marcas profundas por toda a Europa e a França não foi<br />

excepção. Com o final da guerra, a socieda<strong>de</strong> francesa auspiciava mudanças e<br />

<strong>de</strong>sejava esquecer, per<strong>de</strong>r a memória do passado recente. Como tal, o que fosse<br />

antónimo ou somente a variante do passado, era abraçado com esperança no futuro.<br />

27<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «Un étudiant tchèque à l’Université <strong>de</strong> Paris au XIVe sièc<strong>le</strong>». In «Revue <strong>de</strong>s étu<strong>de</strong>s<br />

slaves», t. 24, 1948, p. 143-170.<br />

28<br />

Vd. a “Cronologia comparada : o percurso biográfico e o académico, a sua produção escrita, e a construção da<br />

comunida<strong>de</strong> europeia”, do anexo que está na Parte IV <strong>de</strong>ste trabalho, para visualizar esquematicamente as<br />

principais informações do capítulo que se segue.<br />

29<br />

Marc Bloch <strong>nas</strong>ceu em Lyon, em 1886, e fa<strong>le</strong>ceu fuzilado pelas tropas a<strong>le</strong>mãs, perto <strong>de</strong> Trévoux, em 1944.<br />

Historiador e académico francês, <strong>de</strong> origem judaica, foi um dos autores da profunda renovação contemporânea<br />

dos estudos históricos. Foi aluno do historiador Ferdinand Lot e <strong>de</strong> Carlos Pfister. Escreveu <strong>obras</strong> intemporais<br />

como, por exemplo, «A Socieda<strong>de</strong> Feudal», «Os reis traumaturgos» e «Introdução à História».<br />

30<br />

Lucien Febvre <strong>nas</strong>ceu em 1878 e fa<strong>le</strong>ceu em 1956. Historiador francês, figura central do pensamento histórico<br />

contemporâneo, foi professor na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Estrasburgo e no Colégio <strong>de</strong> França. Entre os vários livros<br />

publicados <strong>de</strong>stacam-se: «Um <strong>de</strong>stino: Martinho Lutero», «O prob<strong>le</strong>ma da <strong>de</strong>scrença no século XVI: a religião<br />

<strong>de</strong> Rabelais», «História do Franco Condado».<br />

31<br />

Vd. BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé - «As Escolas Históricas». Lisboa: Publicações Europa-América,<br />

1983, p. 119. E Vd. também BREISACH, Ernest – «Historiography: Ancient, Medieval and Mo<strong>de</strong>rn. » Chicago<br />

& London: The University of Chicago Press, 1999, p. 959.<br />

32<br />

Fernand Brau<strong>de</strong>l <strong>nas</strong>ceu em 1902. A sua gran<strong>de</strong> obra foi «O Mediterrâneo na época <strong>de</strong> Filipe II», tese <strong>de</strong><br />

doutoramento <strong>de</strong> estado <strong>de</strong>fendida quando tinha 42 anos, em 1946. Teve um carreira excepcional: dirigiu a<br />

revista «Anna<strong>le</strong>s»; presidiu à VIª Secção da Escola Prática dos Altos Estudos; ocupa a cátedra no Colégio <strong>de</strong><br />

França.<br />

Clara Mendonça<br />

21


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Apesar <strong>de</strong> a revista “Anna<strong>le</strong>s” ser <strong>de</strong> fundação anterior à IIª Guerra Mundial, era ainda<br />

inovadora e foi consi<strong>de</strong>rada uma lufada <strong>de</strong> ar fresco pelo tipo <strong>de</strong> história que vinculava;<br />

Era uma “nova” História. É neste pós-guerra imediato que o título é mudado para<br />

“Anna<strong>le</strong>s: Economies, Sociétés, Civilisations“.<br />

A inovação dos homens dos “Anna<strong>le</strong>s” tinha 3 níveis: a inovação no objecto, no<br />

método e <strong>nas</strong> fontes. A fim <strong>de</strong> estudar o Homem, objecto fulcral <strong>de</strong>sta historiografia,<br />

encontram vários objectos secundários; por exemplo, a alimentação, o clima, ou as<br />

mentalida<strong>de</strong>s. Neste sentido serviram-se <strong>de</strong> várias ciências auxiliares da História, como<br />

a História da Arte, a Arqueologia, a Antropologia, a Demografia, entre muitas outras.<br />

Criou-se uma interdisciplinarieda<strong>de</strong> à volta dos “Anna<strong>le</strong>s”.<br />

Aumentado o <strong>le</strong>que das ciências auxiliares, aumentaram na mesma proporção os<br />

instrumentos <strong>de</strong> trabalho disponíveis para a investigação histórica; exemplos são: a<br />

linguística, a memória artificial dos computadores, a matemática, a meteorologia, etc.<br />

A fonte mudou <strong>de</strong> estatuto. Anteriormente eram as fontes, sobretudo os diplomas<br />

oficiais, políticos e militares que suscitavam os prob<strong>le</strong>mas. Doravante é o prob<strong>le</strong>ma que<br />

suscita as fontes. O historiador vai procurar outros tipos <strong>de</strong> fontes para além das<br />

“oficiais” anteriormente privi<strong>le</strong>giadas; por exemplo: o sítio arqueológico, a iconografia,<br />

etc. Nas palavras <strong>de</strong> um historiador da historiografia, Char<strong>le</strong>s-Olivier Carbonnel, houve<br />

com os “Anna<strong>le</strong>s” uma tendência <strong>de</strong> “inflação documental” porque as fontes tornaram-se<br />

praticamente inesgotáveis, que foi continuada com os historiadores da “Nova História”. E<br />

a história como ciência total cresceu tanto que Le Goff, em 1974, escreveu: “Le domaine<br />

historique paraît aujourd’hui sans limites”. 33<br />

33 Vd. CARBONELL, Char<strong>le</strong>s-Olivier - «Historiografia». Lisboa: Teorema, 1987, p. Vd. LE GOFF, Jacques -<br />

«Présentation». In «Faire <strong>de</strong> l’histoire : nouveaux problèmes.»Pierre Nora et Jacques Le Goff (dir.). Paris :<br />

Gallimard, 1974, vol. 1, p. IX. E a propósito dos novos objectos, das novas abordagens e dos novos prob<strong>le</strong>mas<br />

<strong>de</strong>sta “Nova História”, veja-se a obra: «Faire <strong>de</strong> l’histoire». Pierre Nora et Jacques Le Goff (dir.). Paris :<br />

Gallimard, 1974, 3 vols.<br />

Clara Mendonça<br />

22


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

A validação académica a nova historiografia aconteceu com o contro<strong>le</strong>, iniciado<br />

por Fernand Brau<strong>de</strong>l, sobre a VIª Secção da Escola Prática <strong>de</strong> Altos Estudos e a Maison<br />

<strong>de</strong>s Sciences <strong>de</strong> l’Homme. 34<br />

Esquema: a teia do sucesso annaliste no Pós – II Guerra Mundial<br />

Novos objectos e novos métodos<br />

Novo título Meio académico<br />

2.2. Depois <strong>de</strong> Le Goff: A <strong>le</strong>gitimação do movimento da Nova História à família dos<br />

“Anna<strong>le</strong>s”<br />

Em 1950, Jacques Le Goff contactou pela primeira vez com os homens dos<br />

“Anna<strong>le</strong>s”, Fernand Brau<strong>de</strong>l, o seu coor<strong>de</strong>nador, e Maurice Lombard, um dos vários<br />

colaboradores da revista. Ambos faziam parte do júri das provas <strong>de</strong> agregação ao<br />

sistema do ensino liceal francês 35 . Nessa altura, Le Goff tinha 26 anos e, durante toda a<br />

licenciatura que terminara, nunca ouvira sequer falar <strong>de</strong>stes dois homens e das suas<br />

<strong>obras</strong>. Dos homens dos “Anna<strong>le</strong>s” ape<strong>nas</strong> conhecia a magna obra do então fa<strong>le</strong>cido<br />

Marc Bloch, “A Socieda<strong>de</strong> Feudal”. 36<br />

34<br />

Vd. BREISACH, Ernest – «Historiography: Ancient, Medieval a nd Mo<strong>de</strong>rn. » Chicago & London: The<br />

University of Chicago Press, 1999, p. 370.<br />

35<br />

Em França, para que um licenciado possa ter acesso à carreira <strong>de</strong> docente do ensino secundário, tem <strong>de</strong> fazer<br />

provas <strong>de</strong> agregação. Estas primam pela dificulda<strong>de</strong> dos conteúdos e pela exigência da avaliação. A preparação<br />

para este exame <strong>de</strong>mora cerca <strong>de</strong> 1 ano <strong>le</strong>ctivo.<br />

36<br />

Em conversa com Marc Heurgon (1998), Le Goff consi<strong>de</strong>rou esta obra « une synthèse qui transfigurait<br />

l’histoire <strong>de</strong>s instituitions par une conception globa<strong>le</strong> <strong>de</strong> la société, intégrant l´histoire économique, l´histoire<br />

socia<strong>le</strong> et l’histoire <strong>de</strong>s mentalités. » Vd. LE GOFF, Jacques -« Une vie pour l’histoire.» (Entretiens avec Marc<br />

Heurgon). Paris : La Découverte, 1996, p. 103.<br />

Clara Mendonça<br />

23


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

A preparação para a agregação fez-se sobretudo à base <strong>de</strong> <strong>le</strong>ituras da<br />

bibliografia da autoria dos membros do júri. As <strong>le</strong>ituras efectuadas nesse ano <strong>de</strong> 1950<br />

marcaram o historiador em profundida<strong>de</strong>. Le Goff assegura mesmo que toda a sua<br />

historiografia dos anos posteriores seria marcada pelo trabalho árduo feito naque<strong>le</strong> ano.<br />

As suas palavras são o melhor exemplo <strong>de</strong>sse bom momento <strong>de</strong> preparação que viveu<br />

com “entusiasmo”: “De repente a poeira da Sorbonne vai-se, voa. É o gran<strong>de</strong> vento do<br />

mar alto. Com Fernand Brau<strong>de</strong>l partimos para o Mediterrâneo mas também para o<br />

Atlântico; com Maurice Lombard seguimos as gran<strong>de</strong>s vias das carava<strong>nas</strong> (…)”. 37<br />

Aprovado com distinção, Le Goff parte em 1951 para <strong>le</strong>ccionar num liceu no<br />

Norte <strong>de</strong> França, em Amiens. Aí permaneceu durante um ano <strong>le</strong>ctivo, <strong>le</strong>vando, <strong>nas</strong> suas<br />

palavras, uma “vida banal”, como professor <strong>de</strong> história do ensino secundário. 38<br />

Apesar <strong>de</strong> ter gostado da experiência <strong>de</strong> ensinar a um nível não universitário,<br />

“sentia que tinha uma vocação para investigar”. 39 Foi na procura <strong>de</strong>ssa vocação que<br />

conseguiu uma bolsa para ir estudar para o Lincoln Col<strong>le</strong>ge, na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford,<br />

no ano imediato.<br />

Em 1954, aceitou o convite <strong>de</strong> Michel Mollat para ser seu assistente na<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lil<strong>le</strong>. Mas, cerca <strong>de</strong> 4 anos <strong>de</strong>pois, Michel Mollat era convidado para<br />

ocupar uma vaga <strong>de</strong> professor na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris I- Sorbonne. Jacques Le Goff,<br />

não obstante ser seu assistente há algum tempo, não podia assegurar a regência da<br />

ca<strong>de</strong>ira ministrada por Mollat pois ainda não tinha o grau <strong>de</strong> doutor. Com ape<strong>nas</strong> 34<br />

anos e na tentativa <strong>de</strong> permanecer a <strong>le</strong>ccionar em Lil<strong>le</strong>, melhorou e aperfeiçoou duas<br />

37<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp.<br />

207-208.<br />

38<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

208.<br />

39<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

208.<br />

Clara Mendonça<br />

24


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

<strong>obras</strong> da sua autoria que estavam no prelo: “Mercadores e banqueiros na Ida<strong>de</strong> Média” 40<br />

e “Os Inte<strong>le</strong>ctuais na Ida<strong>de</strong> Média” 41 . A preparação para a redacção <strong>de</strong>stes livros<br />

marcou em muito a historiografia que Le Goff fez nos anos seguintes. Leu várias <strong>obras</strong>,<br />

sobretudo acerca dos séculos XII e XIII europeus, cronologia e espaço da sua<br />

predi<strong>le</strong>cção na historiografia posterior.<br />

Nem mesmo a autoria <strong>de</strong>ste par <strong>de</strong> livros lhe garantiu a entrada para a docência<br />

na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lil<strong>le</strong>, on<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong> doutor era condição primária para consegui-lo.<br />

Voltou a Paris e tentou a sua sorte junto <strong>de</strong> Maurice Lombard, que por sua vez, o<br />

(re)apresentou a Fernand Brau<strong>de</strong>l. Inevitavelmente mostrou-lhes as suas únicas <strong>obras</strong>,<br />

às quais F. Brau<strong>de</strong>l reagiu da seguinte forma: “Não lhe posso oferecer um lugar <strong>de</strong><br />

chefe <strong>de</strong> trabalhos 42 neste momento, mas vão-se criar lugares <strong>de</strong> professores<br />

assistentes e você terá uma direcção <strong>de</strong> estudos logo que seja possível.” 43 Foi <strong>de</strong>sta<br />

forma que, em 1958, Le Goff entrou para a instituição académica annaliste chefiada por<br />

F. Brau<strong>de</strong>l. Ao contrário do ambiente vivido em Lil<strong>le</strong>, na VIª Secção da Escola Prática <strong>de</strong><br />

Altos Estudos, Le Goff sentiu que havia “liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e trocas inte<strong>le</strong>ctuais”. 44<br />

Em 1960, Brau<strong>de</strong>l foi e<strong>le</strong>ito Presi<strong>de</strong>nte da Associação <strong>de</strong> História Económica e<br />

nomeou Le Goff para seu secretário. Nesse contexto, tinham uma reunião semanal.<br />

Para Le Goff, foram momentos <strong>de</strong> imenso interesse, tanto pelo contacto com<br />

40<br />

Vd. a referência da obra original : LE GOFF, Jacques - «Marchands et banquiers du Moyen Âge». Paris : PUF,<br />

(col. « Que sais-je? », n° 699), 1956 ; 8ª ed. corrigida, 1993. Este livro é o estudo da religião, da cultura e das<br />

mentalida<strong>de</strong>s dos mercadores medievais, e não um estudo <strong>de</strong> história económica pura.<br />

41<br />

Vd. a referência da obra original :LE GOFF, Jacques - «Les intel<strong>le</strong>ctuels au Moyen Âge». Paris : Seuil, (col.<br />

« Le Temps qui court » n° 3), 1957 ; reed.[col. « Point Histoire » n° 78], 1985. Obra encomendada por Michel<br />

Chodkiewicz, director da co<strong>le</strong>cção « Le Temps qui court ». Nela Le Goff relaciona o fenómeno urbano , o<br />

mundo das universida<strong>de</strong>s e as alterações na representação mental do trabalho inte<strong>le</strong>ctual, sobretudo ao longo do<br />

século XIII. Para Le Goff, apesar <strong>de</strong>ste ter sido o seu 2º livro, consi<strong>de</strong>ra-o a sua «primeira obra». Vd. LE GOFF,<br />

Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 212.<br />

42<br />

Tradução da expressão francesa «maître assistant» que consta na referência abaixo mencionada.<br />

43<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

212.<br />

44<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

213.<br />

Clara Mendonça<br />

25


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

historiadores estrangeiros, como pela aprendizagem constante com Brau<strong>de</strong>l, sobretudo<br />

na área da história económica e social. 45<br />

A comprovar esta aprendizagem, estiveram dois artigos <strong>de</strong> Le Goff, publicados<br />

na revista dos “Anna<strong>le</strong>s”, intitulados: “Temps <strong>de</strong> l’Eglise et temps du marchand ” (1960)<br />

e “Un enquête sur <strong>le</strong> sel dans l’histoire” (1961).<br />

O início dos anos 1960s ficaram marcados na sua vida pelo abandono <strong>de</strong>finitivo<br />

da tese <strong>de</strong> doutoramento <strong>de</strong> estado. A tese era para Le Goff uma “obra marcada pela<br />

inutilida<strong>de</strong> da erudição e do rodapé das pági<strong>nas</strong>”. E acrescenta que “foi para escrever<br />

melhores livros que abandonei a tese”. 46<br />

Le Goff, em consi<strong>de</strong>rações pessoais, ao justificar este abandono, chamou a si os<br />

exemplos dos gran<strong>de</strong>s annalistes. Para e<strong>le</strong>, F. Brau<strong>de</strong>l, apesar <strong>de</strong> ter feito uma gran<strong>de</strong><br />

tese, fugiu à tradicional tese <strong>de</strong> doutoramento <strong>de</strong> estado da universida<strong>de</strong> francesa. M.<br />

Bloch não escreveu a sua tese por estar envolvido na IIª Guerra Mundial. E L. Febvre<br />

fez uma “tese utilitária” mas não é o seu melhor livro. 47<br />

Nos anos 70 do século XX, Le Goff continuou a trabalhar perto <strong>de</strong> F. Brau<strong>de</strong>l.<br />

Foram os anos mais annalistes <strong>de</strong> Le Goff, visíveis em 3 vertentes. Primeiro, em 1972,<br />

suce<strong>de</strong> a F. Brau<strong>de</strong>l na presidência da VIª Secção da Escola Prática <strong>de</strong> Altos Estudos,<br />

órgão académico institucional mais próximo dos “Anna<strong>le</strong>s”. Segundo, é a década em<br />

que escreve o maior número <strong>de</strong> artigos integrados naquela publicação. Terceiro, porque<br />

dirige duas <strong>obras</strong> co<strong>le</strong>ctivas que são o suporte teórico do movimento da “Nova História”,<br />

45<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

213.<br />

46<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

215. Nesta altura, a sua tese <strong>de</strong> doutoramento ainda não tinha um corpo <strong>de</strong>nso, era um conjunto <strong>de</strong> escritos<br />

soltos, entre os quais a sua «primeira obra» «Os Inte<strong>le</strong>ctuais na Ida<strong>de</strong> Média». O tema estava relacionado com a<br />

alteração da noção <strong>de</strong> trabalho na ida<strong>de</strong> média que passou da <strong>de</strong>svalorização do ócio feudal para a valorização da<br />

cultura e do saber, mudança também pautada pelo <strong>de</strong>senvolvimento urbano, do comércio e das or<strong>de</strong>ns<br />

mendicantes. O seu orientador era Char<strong>le</strong>s Edmond Perrin.<br />

Clara Mendonça<br />

26


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

tendência inspirada nos “Anna<strong>le</strong>s “ <strong>de</strong> M. Bloch, L. Febvre e F. Brau<strong>de</strong>l. A primeira obra<br />

é dirigida em colaboração com Pierre Nora e intitula-se “Faire <strong>de</strong> l’Histoire”; é uma obra<br />

composta por 3 partes, cada uma respon<strong>de</strong> aos principais aspectos dos novos<br />

prob<strong>le</strong>mas, das novas abordagens e dos novos objectos <strong>de</strong>sta “Nova História”. 48 Le Goff<br />

para além <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar a obra em geral, escreveu a apresentação, dirigiu <strong>de</strong> perto o<br />

terceiro volume da “Faire <strong>de</strong> l’Histoire” e redigiu o último capítulo <strong>de</strong>ste póstumo volume,<br />

com o título “Les Mentalités: une histoire ambigüe”. A segunda obra é o dicionário da<br />

“Nova História”, dirigido numa colaboração estreita com Roger Chartier e Jacques<br />

Revel; ne<strong>le</strong> tratam as principais temáticas <strong>de</strong>ssa tendência historiográfica, sob a forma<br />

<strong>de</strong> entradas em dicionário. 49<br />

A etiqueta que rotula Le Goff <strong>de</strong> annaliste é cómoda mas não serve p<strong>le</strong>namente.<br />

É necessário colocar-se matizes. Os “Anna<strong>le</strong>s” da primeira geração, os fundadores da<br />

revista, foram Marc Bloch e Lucien Febvre. Os da segunda geração são compostos por<br />

Fernand Brau<strong>de</strong>l e discípulos, na qual Le Goff não encaixa. Le Goff pertence à terceira<br />

geração dos “Anna<strong>le</strong>s”, juntamente com Pierre Chaunu, Pierre Nora, Michel Perrot, entre<br />

muitos outros. Contudo, este último grupo é muito heterogéneo em si mesmo. 50<br />

Apesar <strong>de</strong> serem diferentes entre si e diferentes dos seus antecessores, Jacques<br />

Le Goff e o restante da terceira geração dos “Anna<strong>le</strong>s”, mantiveram as matrizes iniciais<br />

do programa encetado pelos “avós” M. Bloch e L. Febvre e pelo “pai” F. Brau<strong>de</strong>l.<br />

47<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

215.<br />

48<br />

Já se mencionou esta obra no sub capítulo anterior, mas volta-se aqui a repetir a sua referência: «Faire <strong>de</strong><br />

l’histoire». Pierre Nora et Jacques Le Goff (dir.). Paris : Gallimard, 1974, 3 vols.<br />

49<br />

Vd. «La Nouvel<strong>le</strong> Histoire», Jacques Le Goff, Roger Chartier e Jacques Revel (dir.). Paris : Retz CEPL, 1978.<br />

50<br />

A obra lançada por Pierre Nora, «Ensaios <strong>de</strong> Ego-História», mostra a irredutível singularida<strong>de</strong> do itinerário <strong>de</strong><br />

cada um dos que nela escrevem, e entre e<strong>le</strong>s estão muitos «membros» <strong>de</strong>ste terceira geração annaliste. Nos<br />

«Ensaios (…)» todos dão a sua versão pessoal <strong>de</strong>sta aventura que é participar/pertencer aos «Anna<strong>le</strong>s». Esta obra<br />

co<strong>le</strong>ctiva é a «construction i<strong>de</strong>ntitaire » da terceira geração dos «Anna<strong>le</strong>s» que em si mesma é muito comp<strong>le</strong>xa.<br />

Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme <strong>de</strong>s Anna<strong>le</strong>s?» In «L’Ogre Historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff. Paris:<br />

Clara Mendonça<br />

27


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Continuam a fazer história com base no que está por <strong>de</strong>trás do acontecimento, na longa<br />

duração, com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque para a cultura e as mentalida<strong>de</strong>s do Homem. 51<br />

2.3. A inovação <strong>de</strong> Le Goff à linha dos “Anna<strong>le</strong>s”<br />

Se Le Goff pertence ao projecto dos “Anna<strong>le</strong>s”, mas é diferente dos seus<br />

antecessores e contemporâneos, on<strong>de</strong> está a sua novida<strong>de</strong>? Em que é que Le Goff<br />

inovou? Quais foram os seus contributos para este movimento historiográfico?<br />

Por um lado Le Goff inovou ao envolver-se numa visão interdisciplinar da história,<br />

conhecida como antropologia histórica. Por outro lado, fez re<strong>nas</strong>cer o género<br />

historiográfico da biografia, muito característico da escola metódica à qual os “Anna<strong>le</strong>s”<br />

se opunham.<br />

• A Antropologia Histórica: GAHOM e seminários<br />

A partir da década <strong>de</strong> 1970, e sobretudo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a publicação <strong>de</strong> “Montaillou, un<br />

village occitan <strong>de</strong> 1294 à 1324” 52 , o gosto pela etnologia ou antropologia histórica<br />

tornou-se crescente. Este livro <strong>de</strong> E. Le Roy Ladurie ven<strong>de</strong>u, entre Novembro <strong>de</strong> 1975 e<br />

Abril <strong>de</strong> 1978, 130 mil exemplares. 53 É um número notável <strong>de</strong> vendas, tanto mais que,<br />

apesar <strong>de</strong> ser um livro muito bem escrito, trata-se <strong>de</strong> uma obra académica, pesada por<br />

inerência <strong>nas</strong> notas <strong>de</strong> erudição.<br />

Em 1975, no mesmo ano da publicação <strong>de</strong> “Montaillou(…)”, Le Goff fundou o<br />

Grupo <strong>de</strong> Antropologia Histórica do Oci<strong>de</strong>nte Medieval (GAHOM), na Escola Superior <strong>de</strong><br />

Gallimard, 1998, pp. 33-34. E veja-se a obra em causa : «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história», Pierre Nora (dir.). Lisboa:<br />

Edições 70, 1989.<br />

51<br />

Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme <strong>de</strong>s Anna<strong>le</strong>s?» In «L’Ogre Historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris:<br />

Gallimard, 1998, p. 53.<br />

52<br />

Vd. LE ROY LADURIE, Emmanuel - «Montaillou, un village occitan <strong>de</strong> 1294 à 1324». Paris : Gallimard,<br />

1975.<br />

Clara Mendonça<br />

28


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS, siglas do mesmo nome em francês). O<br />

objectivo <strong>de</strong>ste grupo <strong>de</strong> trabalho era a coor<strong>de</strong>nar as conquistas e os ensinamentos<br />

co<strong>le</strong>ctivos da investigação em história medieval, por um domínio específico e<br />

sociocultural. De<strong>le</strong> faziam parte historiadores e outros cientistas das ciências sociais e<br />

huma<strong>nas</strong> como Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt, Michel Pastoureaux, Jean-Clau<strong>de</strong> Bonne, Jacques<br />

Berlioz, etc.<br />

A investigação histórica partia dos seminários criados no âmbito do GAHOM. Os<br />

seminários ministrados por Le Goff funcionaram ininterruptamente, não obstante das<br />

alterações do título que sofreram, durante 30 anos. Havia sempre alunos dispostos a<br />

participarem <strong>nas</strong> sessões que se realizaram com a mesma cadência, impreterivelmente<br />

à 3ª feira, das 18 às 20 horas da noite. 54<br />

Muito <strong>de</strong>vido ao GAHOM e aos seus seminários, a antropologia histórica<br />

influenciou muitos historiadores, entre e<strong>le</strong>s os já mencionados que integraram o grupo e<br />

com particular <strong>de</strong>staque para o seu presi<strong>de</strong>nte, a partir <strong>de</strong> 1992, Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt.<br />

• O género biográfico :“Saint Louis” e a Memória 55<br />

Em 1996, foi publicada a gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> tipo biográfico feita por Jacques Le Goff,<br />

“Saint Louis”. 56 Nesse ano o autor tinha 72 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> que não o impediram <strong>de</strong><br />

lançar o “pesado” volume <strong>de</strong> 1000 pági<strong>nas</strong>. 57<br />

53<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «Presentation». In «La Nouvel<strong>le</strong> Histoire», Jacques Le Goff, Roger Chartier e<br />

Jacques Revel (dir.). Paris : Retz CEPL, 1978, p. 12.<br />

54<br />

Vd. SCHMITT, Jean-Clau<strong>de</strong> –« Le seminaire». In «L’ Ogre historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris:<br />

Gallimard, 1998, p. 21.<br />

55<br />

Não se mencionará neste sub capítulo outras biografias que o autor tenha escrito, pois parece que falar <strong>de</strong><br />

«Saint Louis» será paradigmático. No entanto <strong>de</strong>ixa-se em nota outros títulos <strong>de</strong> livros <strong>de</strong>sse género<br />

historiográfico. A saber: «Saint François d’Assise». Paris : Le Grand livre du mois,1999, 220 pp. ;« Cinq<br />

personnages d’hier pour aujourd’hui. Bouddha, Abélard, saint François, Miche<strong>le</strong>t, Bloch». Paris : La Fabrique<br />

éditions, 2001, 104 pp.<br />

56<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «Saint Louis». Paris : Gallimard, (col. « Bibliothèque <strong>de</strong>s Histoires »), 1996.<br />

Clara Mendonça<br />

29


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Quando a comunida<strong>de</strong> histórica científica francesa tomou conhecimento do<br />

lançamento <strong>de</strong>sta obra, formaram-se blocos <strong>de</strong> opinião favoráveis e <strong>de</strong>sfavoráveis à<br />

i<strong>de</strong>ia. O mais céptico, veiculava a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que Le Goff voltava às histórias <strong>de</strong> reis e do<br />

género biográfico e metódico. Os mais optimistas, entre os quais se encontrava Jacques<br />

Revel, tinham a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que podia ser uma forma diferente <strong>de</strong> Le Goff escrever a<br />

história. 58<br />

Le Goff invocou duas razões para o escrever, que atestam o carácter inovador e<br />

o contributo que trouxe ao círculo annaliste. A primeira, prendia-se com a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir os vários “São Luíses” que pareciam coexistir na documentação que <strong>le</strong>ra;<br />

havia o São Luís rei, o São Luís rei e santo, o São Luís somente santo, e o São Luís<br />

pessoal. Era urgente estudar não a figura do São Luís, mas as várias representações<br />

que a mesma socieda<strong>de</strong> fazia <strong>de</strong><strong>le</strong>. A segunda razão estava ligada à importância do<br />

século XIII e <strong>de</strong> que forma o São Luís ilustrava esse tempo. 59<br />

Ao contrário do que os mais cépticos achavam, Le Goff não tinha <strong>de</strong>caído num<br />

género fora do âmbito dos “Anna<strong>le</strong>s”. Ape<strong>nas</strong> inovou a historiografia, recuperando com<br />

outros olhos um género literário menosprezado nos últimos anos. Le Goff conseguiu,<br />

através <strong>de</strong> uma biografia, articular o tempo individual com o tempo da história. Foi na<br />

dimensão da memória que se conjugaram as diferentes imagens mentais do monarca<br />

francês enunciadas em linhas anteriores. São Luís não interessou a Jacques Le Goff em<br />

si mesmo; interessou como espelho <strong>de</strong> século XIII e como o mesmo objecto<br />

57<br />

Esta obra é imponente pelo número <strong>de</strong> pági<strong>nas</strong> que a compõe, mas <strong>de</strong>ve aten<strong>de</strong>r-se ao facto <strong>de</strong> vários capítulos<br />

serem a refundição <strong>de</strong> artigos preparados pelo autor nos anos anteriores. Veja-se, a este propósito na Parte IV<br />

<strong>de</strong>ste trabalho na «Bibliografia Temática», a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artigos sobre São Luís e a monarquia francesa,<br />

publicados antes do livro.<br />

58<br />

Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme <strong>de</strong>s Anna<strong>le</strong>s?» In «L’Ogre Historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris:<br />

Gallimard, 1998, pp. 50 - 53.<br />

59<br />

Veja-se a explicação <strong>de</strong>stas razões na entrevista que Le Goff <strong>de</strong>u à revista «Label France» no site: http://<br />

www.francediplomatie.fr/label_france/ENGLISH/IDEES/LE_GOFF/<strong>le</strong>_<strong>goff</strong>.html. Este en<strong>de</strong>reço e<strong>le</strong>ctrónico foi<br />

visitado pela última vez em 2003-11-20.<br />

Clara Mendonça<br />

30


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

representado em memórias diferentes. A memória é, <strong>de</strong>sta forma, o tema transversal da<br />

obra que era, à partida, biográfica. 60<br />

Em suma é indubitável que Le Goff tem muito <strong>de</strong> annaliste e da “Nova História”.<br />

Mas tem características que são só suas. Entre muitas que po<strong>de</strong>riam ser salientadas,<br />

sobrevalorizaram-se neste capítulo o seu carácter inovador, ao qual os “Anna<strong>le</strong>s” muito<br />

<strong>de</strong>vem. As inovações mais marcantes foram a adopção da Antropologia Histórica como<br />

meio <strong>de</strong> fazer história e da biografia como forma <strong>de</strong> a escrever. 61<br />

60 Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme <strong>de</strong>s Anna<strong>le</strong>s?» In «L’Ogre Historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris:<br />

Gallimard, 1998, pp. 50 - 53. E vd. NORA, Pierre - «Côte à côte». In «L’Ogre Historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le<br />

Goff». Paris: Gallimard, 1998, pp. 67-68.<br />

61 Da mesma opinião parecem ser Jacques Revel e Bronislaw Geremek. Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme <strong>de</strong>s<br />

Anna<strong>le</strong>s?» In «L’Ogre Historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, p. 54. E GEREMEK,<br />

Bronislaw - «La <strong>de</strong>tte <strong>de</strong>s médiévalistes». In «L’Ogre Historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris: Gallimard,<br />

1998, pp. 107-115.<br />

Clara Mendonça<br />

31


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

3. As influências dos espaços europeus na sua historiografia<br />

Jacques Le Goff é um cidadão francês e é um historiador europeu. Ao longo da<br />

sua formação escolar básica, secundária e universitária, percorreu vários pontos <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> França e ainda muitos outros pela Europa a fora. No mapa a seguir <strong>de</strong>senhado estão<br />

marcadas as cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> viveu até 1962. 62<br />

62 O critério cronológico para se registar ape<strong>nas</strong> os locais on<strong>de</strong> o historiador viveu até 1962, <strong>de</strong>ve-se ao<br />

<strong>de</strong>sconhecimento que se tem das moradas posteriores a esta data, pois Jacques Le Goff não o menciona no seu<br />

artigo autobiográfico, «O <strong>de</strong>sejo pela história». Depois <strong>de</strong>sta cronologia, crê-se que Le Goff se tenha mantido a<br />

viver em Paris, on<strong>de</strong> se sabe que resi<strong>de</strong> nos dias <strong>de</strong> hoje.<br />

Clara Mendonça<br />

32


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Le Goff é, conforme se po<strong>de</strong> ver pelo mapa, um homem urbano. O seu gosto<br />

pelas cida<strong>de</strong>s pren<strong>de</strong>-se com o bulício cultural e étnico que nelas se vive. Ao contrário,<br />

Le Goff <strong>de</strong>sgosta do mundo rural. O <strong>de</strong>sprezo pelo campo advém em gran<strong>de</strong> parte do<br />

tempo da IIª Guerra Mundial. Quando a sua família, em 1941, teve <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> Toulon e<br />

exilar-se em Marselha, passou uma temporada <strong>nas</strong> montanhas que as separam, e aí<br />

testemunharam o aumento dos preços dos víveres provocado pela especulação<br />

inflacionista que, segundo o historiador, era protagonizada pelo “egoísmo camponês”.<br />

Muito <strong>de</strong>vido ao gosto que nutre pela vida urbana é que, segundo o próprio, tem<br />

“tendência para privi<strong>le</strong>giar o fenómeno urbano na história”. 63<br />

Des<strong>de</strong> os seus 17 anos percorreu as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> França. Numa primeira fase,<br />

eram <strong>de</strong>slocações causadas pelo clima <strong>de</strong> guerra, como já se viu. Numa fase posterior,<br />

prendiam-se com necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conhecimento científico: terminar a licenciatura e<br />

fazer investigação científica em História.<br />

Des<strong>de</strong> 1942, ano em que foi para a Escola Normal Superior, Paris ficou a ser a<br />

sua cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> residência em que permaneceu mais tempo. Fizesse a viagem que<br />

fizesse, Paris era sempre o seu porto <strong>de</strong> abrigo, o ponto <strong>de</strong> chegada.<br />

A partir do momento em que foi para Roma, 1946, Le Goff abriu as portas ao<br />

percurso europeu, mesmo que disso não tivesse consciência. No ano seguinte foi para<br />

Praga.<br />

É curioso que o segundo país estrangeiro para on<strong>de</strong> vai investigar parte da<br />

Europa Central. O seu gosto pela faixa central e oriental da Europa é uma constante no<br />

seu discurso. Nos anos 60 foi para a Polónia, <strong>le</strong>vado pela influência <strong>de</strong> F. Brau<strong>de</strong>l. É<br />

Clara Mendonça<br />

33


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

nessa altura e nesse espaço <strong>de</strong> Leste que conhece três pessoas fundamentais na sua<br />

vida: a sua futura mulher, Hanka, uma médica polaca; Bronislaw Geremek, um futuro<br />

eminente político e historiador; e Witold Kula, outro gran<strong>de</strong> historiador polaco.<br />

A Europa <strong>de</strong> Leste era, tal como a Península Ibérica e os Países Baixos, a<br />

“periferia da Europa”, segundo o historiador. O “coração da Europa” 64 era a Itália,<br />

curiosamente o primeiro país fora <strong>de</strong> França on<strong>de</strong> viveu e on<strong>de</strong> adorou estar. A sua<br />

ligação a Itália é ainda hoje muito visível. Várias são as suas <strong>obras</strong> publicadas naque<strong>le</strong><br />

país, e vários são os originais editados primeiramente em italiano. 65<br />

Le Goff tem uma fluência notável em mais <strong>de</strong> cinco línguas europeias. Fala e<br />

escreve em francês, italiano, a<strong>le</strong>mão, checo e grego mo<strong>de</strong>rno. Acrescem ainda as<br />

línguas <strong>de</strong> estudo das fontes: latim e grego antigo. Por ser <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> tamanho<br />

curriculum linguístico, Maurice Lombard chamava-lhe o “jovem medievista que sabe<br />

todas as línguas”. O conhecimento <strong>de</strong> várias línguas europeias e do mundo fez com que<br />

Le Goff , nos seminários da EHESS, fornecesse a bibliografia em várias línguas e a<br />

documentação, na maioria dos casos, era em latim. 66<br />

A única língua europeia que Le Goff apren<strong>de</strong>u e usa com dificulda<strong>de</strong> é,<br />

curiosamente, o inglês. A língua ing<strong>le</strong>sa, à semelhança do país <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provém, e<br />

sobretudo à semelhança da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford on<strong>de</strong> esteve a estudar, não são da<br />

sua predi<strong>le</strong>cção. Entre 1952-1953, Le Goff esteve como bolseiro do CNRS no Lincoln<br />

63<br />

Em relação ao seu gosto pelo mundo urbano <strong>le</strong>ia-se: LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios<br />

<strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 192. A propósito do «egoísmo camponês» veja-se o mesmo<br />

artigo, na p. 202.<br />

64<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997, p. 29.<br />

65<br />

Le Goff esteve a viver em Roma, durante uma fase inicial da sua vida <strong>de</strong> historiador por duas ocasiões<br />

distintas. A primeira vez foi entre os anos 1946 e 1947. A segunda foi entre 1953 e 1954. Foram curtas estadias<br />

mas intensas o suficiente para fazer crescer o seu apreço por Itália on<strong>de</strong> publicou, em primeira mão algumas<br />

<strong>obras</strong>; entre muitas outras <strong>de</strong>stacam-se: LE GOFF, Jacques - «Il Medioevo: al<strong>le</strong> origini <strong>de</strong>ll’i<strong>de</strong>ntità europea».<br />

Roma-Bari: Laterza, 1996. E LE GOFF, Jacques - «Intervista sulla storia ». Bari: Laterza, 1982.<br />

66<br />

Vd. SCHMITT, Jean-Clau<strong>de</strong> –« Le seminaire». In «L’ Ogre historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris:<br />

Gallimard, 1998, p. 18.<br />

Clara Mendonça<br />

34


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Col<strong>le</strong>ge da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford. Para o historiador o para<strong>le</strong>lo francês daquela<br />

instituição britânica é a Sorbonne. Detestou estudar e investigar em ambas. A propósito<br />

da experiência britânica, <strong>le</strong>iam-se as suas palavras: “Tive, <strong>de</strong> facto, uma espécie <strong>de</strong><br />

reacção <strong>de</strong> rejeição relativamente ao mundo oxoniano. Encontrei lá um universo muito<br />

próximo daque<strong>le</strong> que não gostara na Sorbonne.(…) Em Oxford, não me reconheci nem<br />

no tipo <strong>de</strong> história em vigor nem na organização do colégio on<strong>de</strong> me encontrava.(…)<br />

Admiro os ing<strong>le</strong>ses, são os mais estranhos que encontrei nos quatro continentes on<strong>de</strong><br />

fui.” 67 A Inglaterra é estranha, para o historiador e é, curiosamente, uma nação<br />

totalmente à parte das outras nações europeias. Numa obra em que conta a história da<br />

Europa ao público mais jovem, dá vários exemplos <strong>de</strong>ssa estranheza <strong>de</strong> povo e das<br />

suas diferenças em relação aos continentais. 68<br />

A vivência do historiador pela França, na fase inicial da sua vida e <strong>de</strong>pois um<br />

pouco por toda a Europa, influiu na sua escrita da história, na sua historiografia. Aos 38<br />

anos, em 1962, Le Goff já tinha vivido em importantes nações europeias. Nelas<br />

manteve-se por questões académicas, preten<strong>de</strong>ndo fazer investigação científica.<br />

Estudou sobretudo a Ida<strong>de</strong> Média <strong>de</strong>sses países, sem esquecer a realida<strong>de</strong> francesa.<br />

Em 1964, dois anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter voltado <strong>de</strong> Varsóvia, foi-lhe encomendada a sua<br />

gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> síntese. Uma obra que trata da Ida<strong>de</strong> Média no Oci<strong>de</strong>nte europeu;<br />

intitulava-se “A Civilização do Oci<strong>de</strong>nte Medieval”. Da <strong>le</strong>itura <strong>de</strong>sta obra ressalta o<br />

conhecimento da história europeia que o historiador tinha adquirido. Esse conhecimento<br />

67<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.<br />

208.<br />

68<br />

Vejam-se alguns <strong>de</strong>sses exemplos <strong>de</strong> diferenciação. Os ing<strong>le</strong>ses têm um pequeno-almoço diferente dos<br />

habitantes do continente; o dos primeiros é mais substancial, com bacon e ovos, o dos segundos é menos<br />

abundante e por oposição chama-se “continental”. No continente europeu os automobilistas circulam pela direita,<br />

mas na Grã-Bretanha fazem-no pelo lado esquerdo da via. A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida das gran<strong>de</strong>s distâncias do<br />

continente é o quilómetro, a dos ing<strong>le</strong>ses é a milha. A religião praticada pela maioria dos ing<strong>le</strong>ses é uma variante<br />

da religião protestante, o Anglicanismo, que é a única religião praticada no espaço europeu on<strong>de</strong> o chefe <strong>de</strong><br />

Clara Mendonça<br />

35


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

foi enriquecido com certeza por estes anos <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong>ntro e fora das fronteiras<br />

francesas.<br />

O enaltecer do fenómeno urbano na história, a importância que a Itália tem na<br />

história da Europa, o <strong>de</strong>sprezo pelo mundo anglo-saxónico e a sobrevalorização do<br />

papel da França na formação cultural europeia são alguns dos pontos em que a<br />

historiografia <strong>de</strong> Jacques Le Goff parece reagir à sua experiência pessoal e profissional.<br />

A escrita da história do autor é nos pontos acima mencionados fruto da influência que os<br />

diferentes espaços tiveram na sua vida.<br />

estado é cumulativamente o chefe da igreja. Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa:<br />

Gradiva, 1997, pp. 9-10.<br />

Clara Mendonça<br />

36


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

4. Autor <strong>de</strong> síntese e <strong>de</strong> divulgação<br />

• A síntese<br />

À entrada do século XXI, os recursos humanos universitários <strong>de</strong>param-se com a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> especialização. Este parece ser o panorama universitário por todo o<br />

mundo e em todas as ciências. Jacques Le Goff e a sua ciência histórica são excepção.<br />

Jacques Le Goff não tem uma especialização temática <strong>de</strong>ntro da cronologia da<br />

Ida<strong>de</strong> Média. Ao longo da sua carreira escreveu sobre vários temas 69 , mas apesar <strong>de</strong><br />

ter sido docente universitário, nunca o fez na perspectiva da exaustão científica e<br />

académica. Por exemplo, na sua magna obra “A Civilização do Oci<strong>de</strong>nte Medieval”, cita<br />

com rarida<strong>de</strong> as fontes e as referências a bibliografia, <strong>nas</strong> notas <strong>de</strong> rodapé. Mas o facto<br />

<strong>de</strong> não citar não significa que <strong>de</strong>sconheça os livros ou os documentos. Le Goff, segundo<br />

Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt, nos seminários que dirigiu até há poucos anos, lia imensa<br />

documentação, tanto em vernáculo como em latim. Desta forma fica-se a saber que,<br />

apesar <strong>de</strong> não mencionar especificamente on<strong>de</strong> em que documento baseou a sua<br />

historiografia, Le Goff domina algumas fontes históricas.<br />

Os seminários realizados no âmbito do GAHOM costumavam ter uma orientação<br />

temática durante alguns anos. No final <strong>de</strong> 3 a 4 anos <strong>de</strong> estudos sobre um <strong>de</strong>terminado<br />

tema, surgia uma publicação que fazia a sua síntese. O exemplo do livro “O Nascimento<br />

do Purgatório” é neste sentido paradigmático. Nos anos anteriores à edição do livro<br />

(1981), no seminário dirigido por Jacques Le Goff estudava-se precisamente os temas<br />

dos lugares do Além: o Paraíso, o Inferno e o Purgatório. Le Goff escreveu sobre o<br />

tema, antes <strong>de</strong> lançar o seu livro. Fê-lo em pequenos artigos e em prefácios que<br />

Clara Mendonça<br />

37


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

escrevia nos livros <strong>de</strong> alunos seus. No final <strong>de</strong> serem conhecidos artigos e livros <strong>de</strong><br />

visão microscópica sobre o tema, Le Goff lançou uma visão macroscópica, em estilo<br />

ensaístico, sem notas <strong>de</strong> erudição, sem remeter às fontes, sem citações bibliográficas;<br />

era “O Nascimento do Purgatório”. 70 Era um livro <strong>de</strong> síntese, voltado para um publico<br />

não académico, com uma redacção e<strong>le</strong>gante, numa linguagem apelativa, na tentativa <strong>de</strong><br />

chamar essas pessoas à história. 71<br />

Apesar <strong>de</strong> ser um autor <strong>de</strong> síntese e não dos case studies, Le Goff é por isso<br />

menos rigoroso? É Le Goff menos qualificado que um historiador <strong>de</strong> carreira académica<br />

na Sorbonne ou em Oxford?<br />

Crê-se que estas questões não só não se po<strong>de</strong>m respon<strong>de</strong>r como,<br />

principalmente, não po<strong>de</strong>m ser <strong>le</strong>vantadas. Explique-se. Não se po<strong>de</strong> colocar em pé <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> o que é diferente. Le Goff ,no início da década <strong>de</strong> 1960, conforme se notou<br />

em capítulos anteriores, <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong> seguir para doutoramento o que o impediu <strong>de</strong> ter<br />

uma carreira universitária igual aos seus co<strong>le</strong>gas <strong>de</strong> profissão da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris<br />

(Sorbonne). Le Goff tem objectivos diferentes dos historiadores <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> carreira<br />

universitária. Prefere a síntese <strong>de</strong> um tema à exaustão que os académicos lhe dariam.<br />

Preten<strong>de</strong> educar, esclarecer, divulgar conhecimento sob uma forma menos erudita, a da<br />

gran<strong>de</strong> divulgação.<br />

69 Vd. a «Bibliografia Temática» da Parte IV <strong>de</strong>ste relatório.<br />

70 Os escritos <strong>de</strong> Le Goff sobre o Purgatório e os espaços do Além, anteriores a 1981, data <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> LE<br />

GOFF, Jacques - «La naissance du Purgatoire». Paris: Gallimard, 1981, são : LE GOFF, Jacques - Préface à<br />

Jérôme Baschet,« Les justices <strong>de</strong> l’Au-<strong>de</strong>là : <strong>le</strong>s représentations <strong>de</strong> l’Enfer en France et en Italie, XIIe-XVe<br />

sièc<strong>le</strong>». Rome : Eco<strong>le</strong> française <strong>de</strong> Rome, 1993. LE GOFF, Jacques - Préface à Jacques Chiffo<strong>le</strong>au, «La<br />

comptabilité <strong>de</strong> l’Au-<strong>de</strong>là : <strong>le</strong>s hommes, la mort et la religion dans la région d’Avignon à la fin du Moyen Âge,<br />

vers 1320-1480». Rome : Eco<strong>le</strong> française <strong>de</strong> Rome, 1980. LE GOFF, Jacques - « La geografia <strong>de</strong>ll’aldilà ».In<br />

«Storia e Dossier», n°5, 1987, p. 14-21. « The Usurer and Purgatory ». In «The Dawn of Mo<strong>de</strong>rn Banking<br />

(Center for Medieval Renaissance Studies, University of California, Los Ange<strong>le</strong>s) ». New Haven et Londres:<br />

1979, p. 25-53. LE GOFF, Jacques - « Le Purgatoire entre l’Enfer et <strong>le</strong> Paradis ». In «La Maison-Dieu», nº144,<br />

1980, p. 103-138.<br />

Clara Mendonça<br />

38


• A divulgação<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

A tónica dos seus livros coloca-se no alvo a atingir, nos <strong>le</strong>itores. Para lhes<br />

agradar, Le Goff escreve livros <strong>de</strong> linguagem cuidada mas acessível, que primam pela<br />

síntese dando uma imagem <strong>de</strong> longa duração da Ida<strong>de</strong> Média.<br />

O seu objectivo, com tais <strong>obras</strong>, é educar as gerações futuras, é dar o<br />

conhecimento do que foi o Passado.<br />

A fim <strong>de</strong> chegar ao gran<strong>de</strong> público, os livros não bastaram. Com esse objectivo,<br />

foi consultor histórico do filme cinematográfico “O nome da Rosa”, li<strong>de</strong>rando uma equipa<br />

<strong>de</strong> ilustres cientistas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ressaltam os nomes Michel Pastoureaux e Jean-Clau<strong>de</strong><br />

Schmitt.<br />

Teve durante alguns anos um programa na rádio francesa “France Culture”,<br />

chamado “Lundis d’Histoire”. 72<br />

Não raras vezes pô<strong>de</strong>-se encontrar o historiador em programas na te<strong>le</strong>visão<br />

francesa, on<strong>de</strong> não tinha um programa exclusivo, mas prestava esclarecimentos quando<br />

solicitado. 73<br />

Na imprensa escrita é frequente encontrar-se artigos da sua autoria, sobretudo<br />

na revista francesa “L’Histoire”. 74<br />

A participação na redacção <strong>de</strong> manuais escolares é, em França, uma activida<strong>de</strong><br />

prestigiada. Conseguir comunicar com os mais jovens, e simplificar a mensagem o mais<br />

71<br />

72<br />

Na sequência <strong>de</strong> algumas lições radiofónicas, Le Goff <strong>de</strong>cidiu lançar os livros correspon<strong>de</strong>ntes. É o caso <strong>de</strong><br />

LE GOFF, Jacques - «Cinq personnages d’hier pour aujourd’hui. Bouddha, Abélard, saint François, Miche<strong>le</strong>t,<br />

Bloch». Paris : La Fabrique éditions, 2001.<br />

73<br />

Sobre a ligação <strong>de</strong> Le Goff à te<strong>le</strong>visão, veja-se: DUMAYET, Pierre - «Télévision». In «L’ Ogre historien:<br />

autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, pp. 55-58.<br />

74<br />

Veja-se na « Bibliografia Temática » da Parte IV <strong>de</strong>ste trabalho os artigos <strong>de</strong> Le Goff publicados na<br />

«L’Histoire».<br />

Clara Mendonça<br />

39


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

possível sem se tornar nula, foi uma acção que Le Goff não <strong>de</strong>sprezou. Escreveu dois<br />

manuais escolares, ambos publicados pela mesma editora, a Bordas. 75<br />

Só um meio <strong>de</strong> comunicação lhe escapou. Pelo percurso pessoal e profissional<br />

que teve, pela obra que <strong>de</strong>ixa à Humanida<strong>de</strong>, era merecido que já houvesse um site<br />

oficial do historiador na world wi<strong>de</strong> web. 76 .<br />

Jacques Le Goff tem uma relação próxima <strong>de</strong> quase todos os meios <strong>de</strong><br />

comunicação social. O seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> síntese aliado à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensinar e investigar<br />

resultaram em livros, artigos, programas <strong>de</strong> rádio e <strong>de</strong> te<strong>le</strong>visão, todos com interesse<br />

para o gran<strong>de</strong> público, e não somente para os eruditos da história. Po<strong>de</strong>-se mesmo<br />

dizer que talvez, mais do que historiador, Le Goff é um comunicador. Como veremos na<br />

IIª parte <strong>de</strong>ste relatório, o tema da Europa é paradigmático neste sentido duplo <strong>de</strong><br />

síntese e divulgação.<br />

75 Vd. LE GOFF, Jacques - «Le Moyen Âge». Paris: Bordas, 1962 ; há outra edição com o título «Le Moyen Âge :<br />

1060-1330». Paris: Bordas, (col. « L’Histoire universel<strong>le</strong> » n° 11), 1971. E «Histoire, géographie : 5, nouveau<br />

programme», por Jacques Le Goff, F . Beautier, J. Dupaquier, R. Froment, J. So<strong>le</strong>tchnik, Marc Vincent. Paris :<br />

Bordas, 1978.<br />

76 Há um site da autoria da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Parma, sobre um ciclo <strong>de</strong> conferências seguido <strong>de</strong> uma exposição<br />

comemorativa sobre Le Goff e a Ida<strong>de</strong> Média Europeia. Veja-se no seguinte en<strong>de</strong>reço:<br />

http://<strong>le</strong><strong>goff</strong>.provincia.parma.it/<br />

Clara Mendonça<br />

40


5. Conclusão da Parte I<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Ao longo dos 4 pontos anteriores, foram-se <strong>de</strong>senhando as relações entre os<br />

passos biográficos e os traços historiográficos <strong>de</strong> Jacques Le Goff. Em Janeiro <strong>de</strong> 2004<br />

este comunicador comp<strong>le</strong>tou 80 anos mas, apesar da avançada ida<strong>de</strong>, ainda prepara<br />

livros para os próximos anos. Dessa forma, não se po<strong>de</strong> fechar comp<strong>le</strong>tamente nem a<br />

sua biografia nem as consi<strong>de</strong>rações sobre a sua historiografia. Por isso, Jacques Le<br />

Goff, vida e obra, são uma narrativa aberta.<br />

Todos os homens têm uma singularida<strong>de</strong> em si mesmos. O historiador em causa<br />

não é excepção. Contudo e<strong>le</strong> parece que teve um carácter moldado por uma vida ainda<br />

mais singular e irrepetível que a maior parte das pessoas. Quantos inte<strong>le</strong>ctuais tiveram a<br />

sorte <strong>de</strong> viver, literalmente, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma biblioteca no início <strong>de</strong> carreira? Quantos<br />

escreveram uma obra <strong>de</strong> síntese aos 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>? Quantos se tiveram o privilégio<br />

<strong>de</strong> abandonar a tese <strong>de</strong> doutoramento para escreverem melhores livros, sem que isso<br />

lhes fechasse inúmeras portas profissionais? Muitas outras questões po<strong>de</strong>riam ser<br />

lançadas, na certeza <strong>de</strong> que as respostas ape<strong>nas</strong> diriam: “Um, Jacques Le Goff.”<br />

Jacques Le Goff, historiador especialista em Ida<strong>de</strong> Média, autor <strong>de</strong> síntese e <strong>de</strong><br />

divulgação, <strong>de</strong>dicado aos temas da Cultura e das Mentalida<strong>de</strong>s, é um dos gran<strong>de</strong>s<br />

comunicadores e educadores vivos na Europa da actualida<strong>de</strong>.<br />

Adverte-se para o facto <strong>de</strong> existir um site oficial <strong>de</strong> um Jacques Le Goff, docente universitário francês, mas na<br />

área do Direito. Logo não é o objecto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho. De qualquer modo <strong>de</strong>ixa-se o site:<br />

Clara Mendonça<br />

41


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

PARTE II – JACQUES LE GOFF E A EUROPA 77<br />

www.<strong>le</strong><strong>goff</strong><strong>jacques</strong>.com.<br />

77 Veja-se o esquema com as principais relações entre os dados da vida pessoal e profissional do historiador, a<br />

sua produção historiográfica e os principais acontecimentos da construção da Comunida<strong>de</strong> Europeia, na Parte IV<br />

<strong>de</strong>ste trabalho, no capítulo com o título: “Cronologia comparada: a vida pessoal e profissional <strong>de</strong> Le Goff, a sua<br />

produção escrita e as principais datas da construção da Comunida<strong>de</strong> Europeia”.<br />

Clara Mendonça<br />

42


1. As fontes<br />

1.1. Os títulos<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

A temática europeia é abordada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há 11 anos por Jacques Le Goff. É um<br />

tema recente na sua obra e com tal não conta com e<strong>le</strong>vado número <strong>de</strong> títulos. Ape<strong>nas</strong><br />

escreveu 7 títulos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993 até aos dias <strong>de</strong> hoje (2004). Por or<strong>de</strong>m cronológica<br />

crescente temos:<br />

A) “L’ Europe à l’ éco<strong>le</strong>” – 1993. 78<br />

B) Prefácio da co<strong>le</strong>cção “Faire l’ Europe” – 1993 até 2003. 79<br />

C) “A velha Europa e a nossa” – 1994. 80<br />

D) “A Europa contada as jovens” – 1996. 81<br />

E) “Il medioevo al<strong>le</strong> origini <strong>de</strong>ll’ i<strong>de</strong>ntitá europea” – 1996. 82<br />

F) “L’ Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Âge ?” – 2003. 83<br />

G) Entrevista entre Le Goff e Bronislaw Geremek 84 , por Nicolas Troung. – 2004. 85<br />

78<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - « L’Europe à l’éco<strong>le</strong> ». In «Le Débat», n° 77, novembre-décembre 1993, p. 176-181.<br />

79<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - Préface à Ulrich Im Hof, Les Lumières en Europe, trad. <strong>de</strong> l’al<strong>le</strong>mand par Jeanne<br />

Etoré et Bernard Lortholary, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. Préface à Michel Mollat du Jourdin,<br />

L’Europe et la mer, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. Préface à Char<strong>le</strong>s Tilly, Les révolutions<br />

européennes : 1492-1992, trad. <strong>de</strong> l’anglais par Paul Chemla, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. Préface<br />

à Umberto Eco, La Recherche <strong>de</strong> la langue parfaite dans la culture européenne, trad. <strong>de</strong> l’italien par Jean-Paul<br />

Manganaro, Paris, Seuil, (Faire l’Europe), 1994. Préface à Joseph Fontana, L’Europe en procès, Paris, Ed. du<br />

Seuil, (Faire l’Europe), 1995.<br />

80<br />

Vd. A versão original : LE GOFF, Jacques - «La vieil<strong>le</strong> Europe et la nôtre». Paris : Seuil, 1994. E a versão<br />

portuguesa : LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995.<br />

81<br />

Vd. A versão original : LE GOFF, Jacques - «L’Europe racontée aux jeunes». Paris : Seuil, 1996. E a versão<br />

portuguesa : LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997.<br />

82<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «ll Medioevo: al<strong>le</strong> origini <strong>de</strong>ll’i<strong>de</strong>ntità europea». Laterza: Roma-Bari, 1996.<br />

83<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003.<br />

84<br />

Historiador polaco voltado para os temas da pobreza e da mendicida<strong>de</strong>. Nascido em 1931, foi ministro dos<br />

Negócios Estrangeiros polaco e hoje tem um cargo cimeiro na União Europeia. Trabalhou junto <strong>de</strong> Jacques<br />

Delors e encaminhou a sua nação na transição para a comunida<strong>de</strong> Europeia. Publicou o livro: «The commons<br />

roots of Europe». Cambridge, Polity Press, 1991.<br />

85<br />

Vd. http://www.radiofrance.fr/chaines/franceculture2/emissions/toutarrive/fiche.php?diffusin_id= 19176. Site<br />

visitado em 11 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2004.<br />

Clara Mendonça<br />

43


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Destes 7 títulos ape<strong>nas</strong> se teve acesso a 5 (B, C, D, F e G). 86<br />

Descreva-se cada um dos se<strong>le</strong>ccionados. É certo que todos tratam do mesmo<br />

tema mas também é certo que são tipos <strong>de</strong> <strong>obras</strong> diferentes. Comece-se pelos livros<br />

que são indubitavelmente os mais importantes, quer pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação<br />

contida, quer pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas mesmas informações.<br />

“A velha Europa e a nossa” (1994) é um livro editado, pelo menos, em duas<br />

línguas, na francesa e na portuguesa. Foi o primeiro livro redigido pelo historiador a<br />

propósito da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Europa. É um ensaio, sem divisão por capítulos e sem uma<br />

estrutura formal rígida. Ao lê-lo fica a sensação <strong>de</strong> que Le Goff o começou a escrever e<br />

só parou no último ponto final. O discurso é muito fluído e muitas i<strong>de</strong>ias parecem ser<br />

“repescadas” <strong>de</strong> pági<strong>nas</strong> anteriores. O fio condutor <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias é a relação entre a Europa<br />

<strong>de</strong> hoje e a Europa antiga, sobretudo a da época medieval (séculos IV-XV). Esta obra<br />

parece ter um público-alvo alargado, tanto pela linguagem acessível que veicula, como<br />

pela fácil apreensão da sua mensagem.<br />

Dois anos <strong>de</strong>pois, Le Goff escreveu outro livro, <strong>de</strong>sta vez voltado para um público<br />

diferente, os mais jovens. Intitula-se “A Europa contada as jovens” (1996) e é a aliança<br />

<strong>de</strong> um texto <strong>de</strong> linguagem prática e <strong>de</strong> ilustrações extremamente elucidativas e muito<br />

didácticas. O seu objectivo é contar a história da Europa e começa, inevitavelmente,<br />

pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Europa enquanto espaço terrestre, passando a contar o mito da<br />

Europa <strong>de</strong>usa da Antiguida<strong>de</strong> grega e chega, sem quebras na cronologia, até ao século<br />

XX. Este livro tem capítulos muito pequenos o que o torna bastante esquemático e <strong>de</strong><br />

fácil <strong>le</strong>itura temática.<br />

86 Aos títulos correspon<strong>de</strong>ntes às <strong>le</strong>tras A e E não se conseguiram encontrar em Portugal, nem sequer<br />

encomendá-los <strong>de</strong> França ou <strong>de</strong> Itália, via Internet pois aí já estavam esgotados.<br />

Clara Mendonça<br />

44


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

O terceiro livro volta-se para outro tipo <strong>de</strong> público, diferente quer do primeiro,<br />

quer do segundo livros. Por ter uma mensagem mais comp<strong>le</strong>xa e por ser melhor<br />

documentado, chegou aos <strong>le</strong>itores mais esclarecidos. Trata-se <strong>de</strong> “L’ Europe est-el<strong>le</strong><br />

née au Moyen Âge ?” (2003). Pela actualida<strong>de</strong> da publicação e pela maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

dos conteúdos, foi a fonte primária <strong>de</strong>sta segunda parte do trabalho. Aí Le Goff<br />

corrobora a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a Europa <strong>nas</strong>ceu na Ida<strong>de</strong> Média e mostra-nos os passos<br />

<strong>de</strong>sse longo <strong>nas</strong>cimento <strong>de</strong> 10 séculos.<br />

Num segundo escalão, medido pelo grau <strong>de</strong> importância dos conteúdos<br />

transmitidos, tem-se um prefácio e um breve resumo <strong>de</strong> uma entrevista. O primeiro é o<br />

prefácio da co<strong>le</strong>cção lançada por Le Goff e pela editora Seuil, em 1993, intitulada “Faire<br />

l’ Europe”. O último livro publicado <strong>de</strong>ste co<strong>le</strong>cção é precisamente “L’ Europe est-el<strong>le</strong><br />

née au Moyen Âge ?” (2003) e tem o mesmo prefácio que os escritos no inicio da<br />

co<strong>le</strong>cção (1993). No prefácio Le Goff esboça, em página e meia, os valores que o <strong>le</strong>vam<br />

a agir: a educação dos cidadãos europeus para saberem como foi construída a Europa<br />

pré-comunitária.<br />

Para último <strong>de</strong>ixou-se o resumo da entrevista conduzida por Nicolas Troung a<br />

dois velhos amigos, Jacques Le Goff e Bronislaw Geremek. O tema era a Ida<strong>de</strong> Média<br />

mas cedo <strong>de</strong>sembocou numa busca das raízes europeias para i<strong>de</strong>ntificarem a Europa<br />

<strong>de</strong> hoje. E culminou numa amena conversa sobre a futura constituição europeia e o<br />

contentamento <strong>de</strong> Le Goff pela extensão da União Europeia ao Leste europeu, um<br />

processo <strong>le</strong>nto e muito trabalhado por Geremek.<br />

1.2. As co<strong>le</strong>cções e as editoras<br />

As edições francesas dos livros se<strong>le</strong>ccionados são todas da responsabilida<strong>de</strong> da<br />

editora Seuil. Dessas mesmas edições ape<strong>nas</strong> se sabe o nome da co<strong>le</strong>cção em que<br />

Clara Mendonça<br />

45


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

uma se integra. Conforme já se disse linhas atrás, o livro “L’ Europe est-el<strong>le</strong> née au<br />

Moyen Âge ?” (2003) é o único que pertence a uma co<strong>le</strong>cção, a “Faire l’ Europe”.<br />

As edições portuguesas não têm mais variantes. “A Europa contada as jovens”<br />

(1996) foi uma edição da Gradiva com o alto patrocínio do Mistério da Educação do<br />

governo português e do Jornal “Público”. Crê-se que não integra qualquer co<strong>le</strong>cção. “A<br />

velha Europa e a nossa” (1994) foi igualmente editada pela Gradiva e encontra-se<br />

inserida na co<strong>le</strong>cção “Trajectos”.<br />

1.3. A bibliografia e as citações<br />

As fontes se<strong>le</strong>ccionadas não têm um carácter académico. Não têm, por isso,<br />

notas <strong>de</strong> erudição como as notas <strong>de</strong> rodapé <strong>de</strong> página, remetendo para a bibliografia e<br />

para as fontes consultadas. Mas Le Goff utiliza um recurso <strong>de</strong> erudição muito<br />

característico dos académicos, a utilização <strong>de</strong> expressões em latim. 87<br />

Apesar <strong>de</strong> os seus livros serem redigidos sem notas <strong>de</strong> rodapé (<strong>de</strong> página, no<br />

final do capítulo ou no final do volume), têm sempre no final uma comp<strong>le</strong>tíssima<br />

bibliografia. A bibliografia é comp<strong>le</strong>ta pelo número <strong>de</strong> títulos que tem, pela diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> idiomas que abarca 88 , pela actualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas <strong>obras</strong> 89 e pela preocupação que Le<br />

87 As <strong>obras</strong> «A velha Europa e a nossa» e «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?» têm algumas expressões em<br />

latim. Quando o autor as utiliza tem sempre o cuidado <strong>de</strong> as traduzir para vernáculo. Veja-se esse cuidado do<br />

historiador na seguinte transcrição: «Cet empereur <strong>de</strong> 3 ans, qui mourut à 21 ans en 1002, dut ses dous et à son<br />

éclat d’être qualifié <strong>de</strong> « mirabilia mundi » (merveil<strong>le</strong>s du mon<strong>de</strong>)». Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong><br />

née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p. 62.<br />

88 Le Goff conhece quase todas as línguas europeias, mas o português não é uma <strong>de</strong>las. Por isso em «L'Europe<br />

est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?», fonte principal da temática europeia, ape<strong>nas</strong> menciona um título <strong>de</strong> um autor<br />

português cuja obra é redigida me francês. Trata-se <strong>de</strong> Vitorino Magalhães Godinho, que foi discípulo <strong>de</strong><br />

Fernand Brau<strong>de</strong>l, e da sua obra «Les Découvertes: XVe-XVIe sièc<strong>le</strong>. Une révolutions <strong>de</strong>s mentalités.» Paris:<br />

Autrement, 1990.<br />

89 Na obra mais recente do autor ligada ao tema da Europa, «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?», há <strong>obras</strong><br />

mencionadas na bibliografia que tinham sido editadas no seu ano <strong>de</strong> edição, 2003. É o exemplo <strong>de</strong> POLY, Jean-<br />

Pierre -«Le Chemin <strong>de</strong>s amours barbares. Genèse médiéval <strong>de</strong> la sexualité européenne.» Paris : Perrin, 2003.<br />

Porém note-se que Le Goff, ao mesmo tempo se mantém actualizado em termos bibliográficos, não esquece as<br />

<strong>obras</strong> mais antigas como, por exemplo, o livro <strong>de</strong> Direito com a seguinte referência: CALASSO, Francesco -<br />

«Medioevo <strong>de</strong>l diritto. I “Le Fonti”.» Milão: 1954.<br />

Clara Mendonça<br />

46


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Goff mostra em organizá-la sempre por temáticas. Actualizado e organizado, Le Goff<br />

utiliza a bibliografia <strong>de</strong> uma forma passiva, não recorrendo à constante citação.<br />

Apesar <strong>de</strong> Le Goff não citar directamente outros autores, será que alguém o cita?<br />

Quando se tratam <strong>de</strong> <strong>obras</strong> sobre a Europa, Le Goff é citado, sobretudo no âmbito do<br />

<strong>nas</strong>cimento da i<strong>de</strong>ia europeia. 90<br />

1.4. As <strong>de</strong>dicatórias<br />

Dos livros se<strong>le</strong>ccionados ape<strong>nas</strong> dois são <strong>de</strong>dicados a alguém. Le Goff <strong>de</strong>dicou a<br />

obra “L’Europe racontée aux jeunes” à sua filha Bárbara, e “L'Europe est-el<strong>le</strong> née au<br />

Moyen Age ?” é <strong>de</strong>dicada ao seu amigo Bronislaw Geremek.<br />

O estilo das <strong>de</strong>dicatórias utilizado pelo autor é simp<strong>le</strong>s e objectivo. Veja-se as<br />

expressões: “Para Bárbara” e “A Bronislaw Geremek”.<br />

Os livros sobre a Europa da sua autoria não são <strong>de</strong>dicados a nenhum mestre ou<br />

professor seu. São, conforme se viu, <strong>de</strong>dicatórias simp<strong>le</strong>s pessoais, para a família e<br />

para amigos.<br />

Clara Mendonça<br />

47


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

2. A actualida<strong>de</strong> da temática da Europa<br />

A Europa é um tema actualíssimo no ano em que se escreve este trabalho<br />

(2004). Várias razões po<strong>de</strong>m estar na sua origem, mas <strong>de</strong>stacam-se o maior<br />

alargamento <strong>de</strong> sempre da Europa económica (UE) <strong>de</strong> 15 para 25 países, o possível<br />

alargamento à Turquia e a construção <strong>de</strong> uma constituição a ratificar pelos 25 estados-<br />

membros.<br />

Um dos primeiros homens a <strong>de</strong>bruçarem-se sobre esta temática foi Marc Bloch e<br />

fê-lo antes do final da IIª Guerra Mundial. Segundo Jacques Le Goff, em 1928 e em<br />

1934, M. Bloch escrevia que a Europa tinha <strong>nas</strong>cido na Ida<strong>de</strong> Média e que, para<br />

corroborá-lo, era necessário estudar-se as socieda<strong>de</strong>s europeias numa metodologia<br />

comparada e não isoladamente. 91<br />

A actualida<strong>de</strong> do tema europeu <strong>de</strong>spo<strong>le</strong>tou grosso modo <strong>de</strong>pois do rescaldo da<br />

IIª Guerra Mundial. Muitos foram os autores que se <strong>de</strong>bruçaram sobre os temas afectos<br />

à Europa. Lucien Febvre, um dos fundadores da cé<strong>le</strong>bre revista dos “Anna<strong>le</strong>s”, entre<br />

1944 e 1945, no Collége <strong>de</strong> France, proferiu algumas lições sobre este tema. Em 1999,<br />

foram editadas essas mesmas lições pela editora Académique Librairie Perrin, baseados<br />

nos apontamentos recolhidos por algumas discípulas <strong>de</strong> L. Febvre. Os apontamentos<br />

formaram o livro intitulado “A Europa. Génese <strong>de</strong> uma civilização” 92 L. Febvre apontava<br />

para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se prosseguirem os estudos culturais sobre a Europa, pois a<br />

90 É o caso da obra co<strong>le</strong>ctiva : GAILLARD, Jean-Michel et ROWLEY, Anthony – «Histoire du continent<br />

Européen». Paris : Seuil, 1997, 570 pp. ISBN: 2-02-023281-2, on<strong>de</strong> a obra <strong>de</strong> Le Goff é continuadamente<br />

invocada, e na bibliografia temática aparece no capítulo da “I<strong>de</strong>ia Europeia”.<br />

91 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p.<br />

12. Aí Le Goff reporta-se a : BLOCH, Marc - «Histoire et historiens» textos reunidos por Etienne Bloch. Paris :<br />

Armand Colin: 1995, p. 126.<br />

Clara Mendonça<br />

48


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

unida<strong>de</strong> do continente, sobretudo <strong>de</strong>pois da IIª Guerra Mundial, não era somente<br />

geográfica, nem muito menos política, era na essência cultural. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a Europa<br />

<strong>nas</strong>ceu na Ida<strong>de</strong> Média não foi uma novida<strong>de</strong> dada por L. Febvre, mas este<br />

acrescentou-lhe contornos interessantes. Nas suas palavras, a Europa é “uma unida<strong>de</strong><br />

histórica, uma incontestável, inegável unida<strong>de</strong> histórica, uma unida<strong>de</strong> que se construiu<br />

em data fixa, uma unida<strong>de</strong> recente, uma unida<strong>de</strong> histórica que aparece na história,<br />

sabemos exactamente quando, uma vez que a Europa neste sentido (…) é uma criação<br />

medieval da Ida<strong>de</strong> Média; uma unida<strong>de</strong> histórica que, como todas as outras unida<strong>de</strong>s<br />

históricas, se fez <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> pedaços, <strong>de</strong> restos arrancados a unida<strong>de</strong>s<br />

históricas anteriores, por sua vez feitas <strong>de</strong> bocados, <strong>de</strong> restos, <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong><br />

unida<strong>de</strong>s anteriores.” 93<br />

Só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> os “pais” dos “Anna<strong>le</strong>s” terem a<strong>le</strong>rtado para a unida<strong>de</strong> histórica que<br />

era necessário estudar, nomeadamente do ponto <strong>de</strong> vista cultural, é que começaram a<br />

surgir outras publicações semelhantes. Dois estudiosos do século XVI, Denys Hay e<br />

Fe<strong>de</strong>rico Chabod escreveram sobre a “i<strong>de</strong>ia europeia”. As suas <strong>obras</strong> tinham os<br />

seguintes títulos: “Emergenmce of na I<strong>de</strong>a: Europe” (1957) e “Storia <strong>de</strong>ll’ i<strong>de</strong>a d’Europa”<br />

(1968), respectivamente. 94<br />

Depois dos anos 80 e 90 do século XX, a temática europeia inva<strong>de</strong> as<br />

universida<strong>de</strong>s e dá origem a ciclos <strong>de</strong> conferências variados com a participação <strong>de</strong><br />

académicos <strong>de</strong> toda a Europa. São disso exemplo o congresso organizado por Char<strong>le</strong>s-<br />

92 Vd. a versão portuguesa: FEBVRE, Lucien - «A Europa. Génese <strong>de</strong> uma civilização». [Lisboa]: Teorema,<br />

2001. os apontamentos foram reunidos por Thérèse Charmasson, Brigitte Mazon e Sarah Lu<strong>de</strong>mann.<br />

93 Vd. FEBVRE, Lucien - «A Europa. Génese <strong>de</strong> uma civilização». [Lisboa]: Teorema, 2001, pp. 25-26.<br />

94 Vd. HAY, Denys - « Emergenmce of na I<strong>de</strong>a: Europe». Edinburg University Press: 1957 e 1968. E vd.<br />

CHABOT, Fe<strong>de</strong>rico - «Storia <strong>de</strong>ll’i<strong>de</strong>a d’Europa». Bari: Laterza, 1961. Devem referir-se ainda duas <strong>obras</strong><br />

importantes sobre a i<strong>de</strong>ia europeia, editadas anos <strong>de</strong>pois das referenciadas : BRUGMANS, H. – «L’idée<br />

européenne (1918-1966)». Bruges: 1966. E DREYFUS, F.G. – «Histoire <strong>de</strong> l’idée d’Europe». Paris: 1979.<br />

Clara Mendonça<br />

49


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Olivier Charbonell com o nome: “I<strong>de</strong>ntités en Europe, I<strong>de</strong>ntité <strong>de</strong> l’Europe”. 95 Outro<br />

exemplo são as conferências organizadas pelo académico da Sorbonne Gérard-<br />

François Dumont, com o título “Les racines <strong>de</strong> l’I<strong>de</strong>ntité europeénne”. 96<br />

Ainda no campo da bibliografia europeia das décadas <strong>de</strong> 1980 e principalmente<br />

<strong>de</strong> 1990, em termos <strong>de</strong> livros, salientam-se a gran<strong>de</strong> obra dirigida por Jean-Michel<br />

Gaillard e Anthony Row<strong>le</strong>y a “Histoire du continent Européen” 97 , e outro livro do autor já<br />

mencionado, Gérard-François Dumont, “L’I<strong>de</strong>ntité <strong>de</strong> l’Europe”. 98<br />

A partir da assinatura do Tratado <strong>de</strong> Maastricht (1992-1993) a realida<strong>de</strong> europeia,<br />

sobretudo a comunitária, era uma evidência para a qual nenhum europeu podia voltar as<br />

costas; era um processo imparável, sem retorno. 99 Os académicos já estavam<br />

sensibilizados para esta fatalida<strong>de</strong> mas ainda publicavam <strong>obras</strong> para públicos<br />

<strong>de</strong>masiado restritos , com uma linguagem uma mensagem dificilmente cativante e<br />

apreendida pelo europeu comum. Foi no sentido <strong>de</strong> cativar esse público que a editora<br />

francesa Seuil, entre outras europeias, e o historiador Jacques Le Goff <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m lançar<br />

uma co<strong>le</strong>cção <strong>de</strong> difusão mundial intitulada “Faire l’Europe”. A pertinência em esclarecer<br />

o público europeu parecia ser urgente, tanto quanto a realida<strong>de</strong> que assolava a Europa<br />

da altura. Em 2 anos, entre 1993-1995, são editados 5 livros no âmbito <strong>de</strong>ssa co<strong>le</strong>cção.<br />

95<br />

Vd. CARBONELL, Char<strong>le</strong>s-Olivier (dir.) - De l’Europe. I<strong>de</strong>ntités et i<strong>de</strong>ntité. Memoires et mémoire. Actes du<br />

Congrés International Euro-Histoire 92. « I<strong>de</strong>ntités en Europe, I<strong>de</strong>ntité <strong>de</strong> l’ Europe, Monpellier du 21 au 23<br />

novembre 1992 ». Toulouse : Presses <strong>de</strong> l’Université <strong>de</strong>s Sciences Socia<strong>le</strong>s <strong>de</strong> Toulouse, 1996.<br />

96<br />

Vd. DUMONT, Gérard – François (dir.) – «Les racines <strong>de</strong> l’i<strong>de</strong>ntité europeéne.» Paris : Economica, 1999,<br />

396 pp. Estas conferências contaram com a participação do português João <strong>de</strong> Deus Pinheiro que escreveu um<br />

artigo intitulado : «L’i<strong>de</strong>ntité portugaise: d’une vision puré et dure, à une vision européenne et universaliste.»<br />

97<br />

Vd. GAILLARD, Jean-Michel et ROWLEY, Anthony – «Histoire du continent Européen». Paris : Seuil,<br />

1997, 570 pp. ISBN: 2-02-023281-2.<br />

98<br />

Vd. DUMONT, Gérard – François – «L’I<strong>de</strong>ntité <strong>de</strong> l’Europe.» Nice : Éditions C.R.D.P., 1997.<br />

99<br />

O Tratado <strong>de</strong> Maastricht foi negociado pelos 12 países quem compunham a CEE, em 1992, e acabou por só<br />

ser assinado em 1993, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser realizarem referendos internos em alguns países e <strong>de</strong> se amainarem algumas<br />

polémicas passadas sobretudo em Inglaterra e em França. Este tratado tinha como objectivos a criação até 1999<br />

da União Económica e Monetária, o estipular da Cidadania europeia, a criação do cargo do Provedor <strong>de</strong> Justiça e<br />

a colaboração no âmbito da segurança comum. O Tratado <strong>de</strong> Maastricht foi a pedra <strong>de</strong> toque que mudou a<br />

Europa tornando-a mais unida, mas também com mais po<strong>de</strong>r sobre as políticas nacionais e altamente<br />

burocratizada.<br />

Clara Mendonça<br />

50


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Todos pretendiam dar a conhecer os principais contributos que ajudaram a construir a<br />

Europa. Ulrich Im Hof escreveu sobre o período das Luzes, registando o carácter<br />

científico dos europeus; o seu livro intitulava-se “Les Lumières en Europe” (1993). 100<br />

Michel Mollat du Jourdin escreveu sobre o mar como e<strong>le</strong>mento i<strong>de</strong>ntificativo da Europa<br />

em “L’Europe et la mer” (1993). 101 Char<strong>le</strong>s Tilly tratou as principais revoluções e o<br />

carácter reformador e revolucionário da Europa em “Les révolutions européennes: 1492-<br />

1992” (1993). 102 O italiano Umberto Eco estudou as matrizes linguísticas europeias<br />

como e<strong>le</strong>mentos construtores <strong>de</strong> uma Europa em “La recherche <strong>de</strong> la langue parfaite<br />

dans la culture européenne” (1994). 103 E finalmente Jose Fontana redige um ensaio<br />

intitulado “L’Europe en procès” (1995). 104<br />

Sem mencionar os 7 títulos do historiador em análise, fica patente a pertinência e<br />

a importância dos estudos sobre a Europa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua i<strong>de</strong>ia inicial, passando à<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e consecutiva unida<strong>de</strong>.<br />

Veja-se em seguida o que <strong>le</strong>vou Le Goff a pronunciar-se sobre este tema que<br />

parecia já ter bastantes aficionados.<br />

2.1. O contributo <strong>de</strong> Le Goff para este tema<br />

Se o tema não apresenta novida<strong>de</strong>, o que é que Le Goff lhe acrescentou?<br />

Em primeiro, fez uma síntese sobre os principais fundamentos da Europa actual e<br />

localiza a sua origem na Ida<strong>de</strong> Média. Ou seja, dá-lhe memória e estuda-a <strong>de</strong> forma<br />

integrada ao longo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z séculos.<br />

100<br />

Vd. IM HOF, Ulrich - «Les Lumières en Europe», trad. <strong>de</strong> l’al<strong>le</strong>mand par Jeanne Etoré et Bernard Lortholary.<br />

Paris : Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993.<br />

101<br />

Vd. JOURDIN, Michel Mollat du - «L’Europe et la mer». Paris : Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993.<br />

102<br />

Vd. TILLY, Char<strong>le</strong>s - «Les révolutions européennes : 1492-1992», trad. <strong>de</strong> l’anglais par Paul Chemla. Paris:<br />

Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993.<br />

103<br />

Vd. ECO, Umberto - «La Recherche <strong>de</strong> la langue parfaite dans la culture européenne», trad. <strong>de</strong> l’italien par<br />

Jean-Paul Manganaro, Paris, Seuil, (Faire l’Europe), 1994.<br />

Clara Mendonça<br />

51


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Em segundo, <strong>de</strong>senvolve temas que domina como, por exemplo, o século XIII – o<br />

seu século predi<strong>le</strong>cto – como período áureo <strong>de</strong> maturação europeia. Desta forma liga os<br />

seus temas ao da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> europeia, construindo um fio condutor irrepreensível. Ou<br />

seja, explica, <strong>de</strong> uma forma narrativa, os fundamentos da Europa.<br />

Em terceiro, ao a<strong>le</strong>rtar para as fases menos felizes da construção europeia (por<br />

ex.: inquisição, cruzadas, etc.) tem a gran<strong>de</strong> preocupação social <strong>de</strong> educar os cidadãos<br />

<strong>de</strong> forma que essas “doenças” <strong>de</strong>ssas não se repitam. 105<br />

104 Vd. FONTANA, Joseph - «L’Europe en procès». Paris: Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1995.<br />

Clara Mendonça<br />

52


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

3. Alguns motivos para Le Goff pensar a Europa<br />

No registo autobiográfico <strong>de</strong> Le Goff, escrito em 1986 e publicado um ano <strong>de</strong>pois,<br />

nota-se a sua <strong>de</strong>silusão com a política militante que fazia, e eis que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> voltar-se<br />

para as duas coisas em que ainda acreditava: a “Europa como unida<strong>de</strong> cultural que<br />

parecia pa<strong>de</strong>cer e uma crise existencial e os Direitos do Homem”. 106<br />

Alguns dos motivos que o parecem ter <strong>le</strong>vado a pensar sobre a Europa<br />

pren<strong>de</strong>ram-se com a sua apetência para as questões <strong>de</strong> política (não militante), com<br />

assuntos familiares e com a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar a conhecer o primado unificador da Europa<br />

que é a cultura. 107<br />

3.1. A necessida<strong>de</strong> da política e a origem da família e dos amigos<br />

A intervenção na vida política e social é uma “necessida<strong>de</strong>” para Jacques Le<br />

Goff, apesar <strong>de</strong> com o passar do tempo se ter tornado progressivamente mais<br />

“constrangida”. 108<br />

As passagens pela Resistência à aliança do regime <strong>de</strong> Vichy com A<strong>le</strong>manha nazi,<br />

a SFIO, pelo PSU, pelo SNE, foram momentos <strong>de</strong> participação em partidos e<br />

movimentos partidários <strong>de</strong> carácter social da vida <strong>de</strong> Jacques Le Goff. O gosto por estas<br />

activida<strong>de</strong>s foi impulsionado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo pela sua mãe, o que lhe permitiu apren<strong>de</strong>r a<br />

enaltecer os valores socialistas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>. 109<br />

Le Goff nunca foi nem <strong>de</strong> direita nem comunista; era, tal como a sua mãe, um<br />

105 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995. As “doenças” europeias do<br />

mundo mo<strong>de</strong>rno são para o autor os novos nacionalismos e o ressurgimento do racismo e das exclusões.<br />

106 Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219.<br />

107 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p.13.<br />

108 Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219.<br />

109 Vd. Capítulo 1.2. da I Parte <strong>de</strong>ste relatório.<br />

Clara Mendonça<br />

53


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

socialista mo<strong>de</strong>rado. 110 Da política <strong>de</strong> direita e <strong>de</strong>mocrata-cristã, guarda na memória a<br />

"Europa confessional ou Vaticana dos anos 50". 111 Da Esquerda comunista está<br />

"vacinado" <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que assistiu em directo e in loco ao Golpe <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Praga<br />

protagonizado por Gottwald. 112 A partir <strong>de</strong> 1960, ano em que foi viver temporariamente<br />

para a Polónia a sua vida mudou, quer do ponto <strong>de</strong> vista pessoal quer do ponto <strong>de</strong> vista<br />

político. Chegado a Varsóvia, foi-lhe atribuído um estudante guia local que o ajudou na<br />

adaptação à vida estudantil durante a sua estadia. Era Bronislaw Geremek, na altura,<br />

um jovem estudante comunista. Meses <strong>de</strong>pois, por intercessão <strong>de</strong> Geremek, conheceu<br />

Witold Kula. Partidas do conhecimento formal, estas relações <strong>de</strong>sembocaram em<br />

profunda amiza<strong>de</strong>. Essa amiza<strong>de</strong> foi tão profícua que, quando Le Goff <strong>de</strong>cidiu casar-se<br />

com a médica polaca Hanka que entretanto conhecera, pediu-lhes para serem suas<br />

testemunhas <strong>de</strong> casamento. O casamento <strong>de</strong> Le Goff e Hanka aconteceu em Varsóvia<br />

no ano <strong>de</strong> 1962.<br />

A partir <strong>de</strong>ssa data, voltou a Paris e os compromissos políticos <strong>de</strong>cresceram. A<br />

avançar da ida<strong>de</strong>, a responsabilida<strong>de</strong> familiar 113 e os crescentes compromissos<br />

profissionais 114 trouxeram-lhe alguma mo<strong>de</strong>ração na militância política que nesse<br />

momento se constrangeu. 115<br />

Apesar <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>ixado a política activa, começa a preocupar-se com as questões<br />

da Europa que, muito <strong>de</strong>vido às atitu<strong>de</strong>s extremas dos homens (por exemplo, os<br />

regimes totalitários como o que vigorava na Polónia), se encontrava a viver uma "crise<br />

110<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.206.<br />

111<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219.<br />

112<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.206.<br />

113<br />

Hanka e Le Goff tiveram entretanto dois filhos, dos quais ape<strong>nas</strong> sabemos o nome da rapariga, chama-se<br />

Bárbara.<br />

114<br />

Em 1960, Le Goff tinha sido nomeado secretário <strong>de</strong> Brau<strong>de</strong>l que ocupava a presidência da Associação <strong>de</strong><br />

História Económica. Nesse mesmo ano foi-lhe encomendada a sua gran<strong>de</strong> obra, «A Civilização do Oci<strong>de</strong>nte<br />

Medieval», que seria publicada 4 anos <strong>de</strong>pois, em 1964.<br />

115<br />

Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219.<br />

Clara Mendonça<br />

54


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

existencial". A Europa tinha "perdido" a memória. 116<br />

3.2. A Cultura: erros e união<br />

Para o historiador, a Europa tem uma unida<strong>de</strong> cultural que é o seu factor <strong>de</strong><br />

coesão. As fronteiras alteram-se com a mesma rapi<strong>de</strong>z que os regimes caiem ou<br />

ascen<strong>de</strong>m. O que <strong>de</strong>fine a Europa é ter os mesmos valores culturais comuns. Jacques<br />

Le Goff começou a notá-lo quando, a partir dos anos 70's e 80's viu o incremento das<br />

trocas inte<strong>le</strong>ctuais entre um e outro lado da "cortina <strong>de</strong> ferro". Apesar <strong>de</strong> o regime<br />

político ser totalmente diferente <strong>de</strong> um lado para o outro, o historiador notou que havia<br />

uma memória comum merecedora <strong>de</strong> atenção <strong>de</strong> outros historiadores. 117<br />

O final da década <strong>de</strong> 80 e inícios <strong>de</strong> 90 do século XX, foi <strong>de</strong>cisivo no processo <strong>de</strong><br />

construção europeia. Em 1989, o muro <strong>de</strong> Berlim caiu tal como começaram a cair os<br />

regimes comunistas da Europa. Em 1992, abrem-se as negociações para o Tratado <strong>de</strong><br />

Maastricht, documento que permitiu que as nações europeias comunitárias ficassem<br />

mais unidas. 118 À partida, estes dois acontecimentos mostram o bom caminho da<br />

Europa no início <strong>de</strong> uma nova década. Mas esse aparente equilíbrio é estalado em 1991<br />

quando estalou a guerra nos Balcãs, que viria a <strong>de</strong>sfragmentar a ex-Jugoslávia.<br />

No rescaldo <strong>de</strong>stes três acontecimentos, Le Goff pronuncia-se dizendo, por um<br />

lado que ainda há nações europeias a cometerem erros; tratavam-se das províncias da<br />

Sérvia, Croácia e Montenegro, pois a sua guerra tinha motivações racistas e pretendiam<br />

proce<strong>de</strong>r a limpezas étnicas. Por outro lado, a<strong>le</strong>rta para a fragilida<strong>de</strong> dos sistemas<br />

<strong>de</strong>mocráticos europeus, sobretudo na Europa que saíra há pouco do regime<br />

116 Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219.<br />

117 Vd. LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.218.<br />

118 Vd. nota <strong>de</strong> rodapé <strong>de</strong>ste trabalho número 99.<br />

Clara Mendonça<br />

55


comunista. 119<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Na certeza <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria ter um papel importante na evitação <strong>de</strong> erros<br />

semelhantes, Le Goff preten<strong>de</strong> re<strong>le</strong>mbrar a memória da Europa antiga como trunfo para<br />

se construir uma Europa actual mais justa e unida na diversida<strong>de</strong> que a compõe. 120<br />

Não obstante já não ser um político militante, Le Goff teceu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final dos<br />

anos 80 algumas consi<strong>de</strong>rações sobre a Europa que tiveram o seu clímax no ano<br />

passado <strong>de</strong> 2003 com a publicação <strong>de</strong> "L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Âge?".<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar aos europeus uma imagem o mais real possível do<br />

passado do "velho continente" para que catástrofes, como as guerras motivadas pelo<br />

racismo ou imposição <strong>de</strong> regimes totalitários como o comunismo, não tornarem a<br />

acontecer foi uma das muitas razões que o motivaram a escrever sobre este tema. A<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma Europa composta só <strong>de</strong> momentos bons não existe. Le Goff preten<strong>de</strong>u dar<br />

uma "memória justa" para que os presentes vejam as consequências que atitu<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>srespeitadoras das liberda<strong>de</strong>s individuais do Homem tiveram no Passado. É <strong>de</strong>sta<br />

forma que o comunicador Le Goff preten<strong>de</strong> educar os europeus do início do Milénio. 121<br />

119 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995, pp. 64-65.<br />

120 Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens.» Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 76-79.<br />

121 Leia-se a seguinte passagem da sua autoria: “Nada <strong>de</strong> bom se faz sem memória, e o que a história tem para<br />

oferecer é uma memória justa, que através do passado, iluminará o presente e o futuro”. Vd. LE GOFF, Jacques<br />

- «A Europa contada aos jovens.» Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 76-79.<br />

Clara Mendonça<br />

56


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

4. A I<strong>de</strong>ia Europeia <strong>de</strong> Jacques Le Goff<br />

4.1. Introdução: I<strong>de</strong>ias base 122<br />

A i<strong>de</strong>ia europeia <strong>de</strong> Jacques Le Goff é a representação mental, a concepção, a<br />

teoria que o historiador faz sobre a Europa. Ela tem o antece<strong>de</strong>nte na Europa-Mito do<br />

século VIII a. C., mas só se consubstancia na Europa-Realida<strong>de</strong> a partir do século IV<br />

d.C. até aos dias <strong>de</strong> hoje.<br />

A construção da Europa começou <strong>de</strong> forma insuficiente com o aparecimento da<br />

Deusa que lhe <strong>de</strong>u nome, a <strong>de</strong>usa Europa, e com a localização geográfica que lhe<br />

sugeriu o espaço, o oci<strong>de</strong>nte do continente indo-europeu. Europa, <strong>de</strong>usa grega, filha <strong>de</strong><br />

Agénor rei da Fenícia (actual Líbano), fez Zeus pa<strong>de</strong>cer <strong>de</strong> amor. Zeus, metamorfizado<br />

<strong>de</strong> touro, e Europa tiveram um filho, <strong>de</strong>nominado Minos, que seria um rei profundamente<br />

civilizador e <strong>le</strong>gislador da zona oci<strong>de</strong>ntal do continente asiático. Os seus súbditos eram<br />

chamados “europeus”. Mas, esta Europa era ainda um mito. 123<br />

O caminho para a realida<strong>de</strong> europeia <strong>de</strong>u passos <strong>de</strong>cisivos <strong>de</strong>pois da queda do<br />

Império Romano e <strong>de</strong>vido a dois factores consequentes, a cristianização dos povos que<br />

habitavam o continente europeu e a sua aculturação com os povos vindos do Leste, os<br />

“bárbaros”. Em todas as <strong>obras</strong>, o autor consi<strong>de</strong>ra que a Europa <strong>nas</strong>ceu nesta fase <strong>de</strong><br />

crescimento da diversida<strong>de</strong> cultural. No século XV estava consolidado com processo <strong>de</strong><br />

crescimento da Europa. Esse foi o século das expansões ultramari<strong>nas</strong> pelo Atlântico que<br />

permitiram aos europeus a imposição da sua cultura aos povos colonizados. Dez<br />

122 Vejam-se algumas i<strong>de</strong>ias base do autor que é necessário ter em conta para se enten<strong>de</strong>r melhor a sua i<strong>de</strong>ia<br />

europeia. Muitas não serão seguidas <strong>de</strong> nota reportando a i<strong>de</strong>ia a uma <strong>de</strong>terminada página <strong>de</strong> uma qualquer obra<br />

do autor porque são repetições refundidas <strong>de</strong> observações que já se fez anteriormente, quer na Iª quer na IIª parte<br />

<strong>de</strong>ste trabalho.<br />

123 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p.19.<br />

Clara Mendonça<br />

57


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

séculos <strong>de</strong>pois do início da Cristianização e da aculturação “bárbara”, a Europa era um<br />

continente maduro, com história, era uma realida<strong>de</strong>. 124<br />

Os <strong>de</strong>z séculos <strong>de</strong> consolidação da realida<strong>de</strong> europeia são analisados por Le<br />

Goff ao longo <strong>de</strong> 5 fases distintas. Essas fases são os momentos <strong>de</strong> construção da<br />

Europa e as principais heranças <strong>de</strong>ixadas à Europa actual pelos séculos medievais. As<br />

heranças medievais são, numa visão dualista, divididas pelos bons resultados e pelos<br />

erros que provocaram. Juntas correspon<strong>de</strong>m à memória da Europa. Uma memória que<br />

é preciso <strong>le</strong>mbrar para que erros semelhantes não se repitam. 125<br />

Os erros históricos no processo <strong>de</strong> construção da i<strong>de</strong>ia europeia radicam<br />

sobretudo no cerceamento das liberda<strong>de</strong>s individuais do Homem e têm sobretudo uma<br />

matriz i<strong>de</strong>ológica sólida, apoiada por um forte corpo político e militar. Estes erros<br />

<strong>le</strong>varam a momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sunião europeia. Exemplos dados pelo historiador são as<br />

Cruzadas, o <strong>nas</strong>cimento dos nacionalismos que ocasionou as colonizações, as<br />

perseguições <strong>de</strong> hereges pelo tribunal da Inquisição, a política expansionista e<br />

colonizadora <strong>de</strong> Napo<strong>le</strong>ão e a política racial nazi durante a IIª Guerra Mundial, etc. 126<br />

Pelo contrário, a Europa uniu-se e frutificou nos momentos em que os homens<br />

respeitaram a diversida<strong>de</strong> do seu semelhante. A Ida<strong>de</strong> Média representa, para a Europa<br />

actual, uma etapa <strong>de</strong> imbricação <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> potencial com uma diversida<strong>de</strong><br />

fundamental, <strong>de</strong> mestiçagem das populações, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ressalta o primado unificador da<br />

cultura. Exemplos <strong>de</strong> união europeia são os movimentos artísticos e culturais como a<br />

cristianização (século IV), a aculturação dos povos “bárbaros” (séculos IV-VIII), o<br />

re<strong>nas</strong>cimento cultural do Império Carolíngio (século VIII-IX), o “re<strong>nas</strong>cimento” do século<br />

124 Vd. o capítulo on<strong>de</strong> Le Goff explana este tema em : LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen<br />

Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, capítulo I, pp. 27-45.<br />

125 LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995, pp. 64-65.<br />

126 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa.» Lisboa: Gradiva, 1995, pp.56 e ss.<br />

Clara Mendonça<br />

58


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

XII, o <strong>de</strong>senvolvimento urbano e universitário do século XIII, o Humanismo e o<br />

Re<strong>nas</strong>cimento (séculos XV e XVI), as Luzes (séculos XVII e XVIII) e o Romantismo<br />

(século XIX), etc. A Ida<strong>de</strong> Média, por ter sido a etapa histórica que respon<strong>de</strong>u a tantos<br />

momentos positivos da construção da Europa, é o berço da Europa actual, para Jacques<br />

Le Goff.<br />

Nos sub capítulos seguintes serão resumidas as 5 fases <strong>de</strong> <strong>nas</strong>cimento da<br />

Europa, salientando as principais heranças <strong>de</strong> cada uma para a Europa actual.<br />

4.2. Do século IV ao VIII: Cristianismo e aculturação “bárbara”<br />

A passagem do Império Romano à Ida<strong>de</strong> Média foi, para Jacques Le Goff, o<br />

resultado <strong>de</strong> uma longa evolução positiva entrecortada por episódios vio<strong>le</strong>ntos, e não<br />

por um acontecimento cataclísmico. Esse período caracteriza-se por dois fenómenos: <strong>de</strong><br />

uma parte, a elaboração <strong>de</strong> uma doutrina cristã, sob a influência da notável obra <strong>de</strong><br />

Santo Agostinho (354-430; nomeadamente com a “Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus”); e da outra parte, a<br />

mestiçagem cultural entre os bárbaros e os latino-europeus, entre uma e outra parte do<br />

antigo “limes”, a fronteira do Império Romano (século IV até ao IX). 127<br />

A cristianização do continente europeu <strong>de</strong>veu-se à obra <strong>de</strong> vários clérigos entre<br />

e<strong>le</strong>s Bento <strong>de</strong> Núrsia, Béda (673-736; anglo-saxão), Boécio (484-520), Cassiodoro (490-<br />

580, da Itália do Sul), Isidoro <strong>de</strong> Sevilha (570-638, hispânico), Gregório Magno (540-<br />

604), e o já mencionado Santo Agostinho. As suas <strong>obras</strong> foram <strong>de</strong> tal forma<br />

fundamentais na criação <strong>de</strong> uma maior Cristanda<strong>de</strong>, unida pelos menos valores, que Le<br />

Goff não hesita em apelidá-los <strong>de</strong> “fundadores culturais da Europa”. 128<br />

127 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

pp.34-37. E Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa.» Lisboa: Gradiva, 1995, p. 12. E LE GOFF,<br />

Jacques - «A Europa contada aos jovens.» Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 28-29.<br />

128 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

pp.28-32. Santo Agostinho está na base daquilo que muitos chamam o “agostianismo político” que é o esforço<br />

Clara Mendonça<br />

59


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

As invasões “bárbaras” começaram no final do século III. No início do século V, a<br />

invasão geral dos Germânicos na península itálica, na Gália, na península ibérica, e a<br />

tomada <strong>de</strong> Roma por Alarico em 410, marcaram o início da gran<strong>de</strong> instalação <strong>de</strong>stes<br />

“bárbaros” no Império Romano. No século V e VI entraram os Visigodos e os<br />

Ostrogodos, <strong>de</strong>pois do dilúvio dos Suevos, Vândalos e Alanos, seguindo a gran<strong>de</strong><br />

investida no Oeste e no Sul da Gália pelos Búrgundios, os Francos e os Alamanos. Os<br />

Bretões da Grã-Bretanha refluíram para Oeste da Gália a seguir à travessia do Mar do<br />

Norte pelos Jutos, os Anglos e os Saxões. A última vaga germânica foi a dos Lombardos<br />

que se instalaram em Itália na segunda meta<strong>de</strong> do século VI. A Este do Reno<br />

instalaram-se os Saxões, os Frísios, os Turíngios e os Bávaros. No século VII iniciou-se<br />

a progressão pelo Báltico, Elba, Boémia e Norte dos Balcãs. 129<br />

Nesta altura <strong>de</strong>finiu-se o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> cultural e política europeu que<br />

correspondia ao Oci<strong>de</strong>nte. Por exemplo, Gregório Magno foi viver para Cantuária<br />

(Inglaterra) e Clóvis fez <strong>de</strong> Paris (França) a sua capital.<br />

Para Le Goff este é o momento em que se <strong>de</strong>senha o primeiro esboço da Europa<br />

sobre um duplo fundamento: o da cristanda<strong>de</strong>, ou seja o espaço do Oci<strong>de</strong>nte Europeu, e<br />

a componente social plural e pluralista dos vários povos que o compõem, dos latino-<br />

europeus aos vulgarmente chamados “Bárbaros”. 130 Para e<strong>le</strong> “é a prefiguração da<br />

Europa das nações, pois a Europa mostra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as suas origens que a unida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

ser feita da diversida<strong>de</strong> das nações”. E assim sendo, acrescenta: “nações e unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fazer va<strong>le</strong>r os valores morais e religiosos para que os governos separem Deus <strong>de</strong> César. São Bento <strong>de</strong>u uma<br />

nova medida ao Tempo, pela sua regra monástica; passa a haver marcação no tempo do trabalho, no tempo da<br />

oração, no tempo do <strong>de</strong>scanso.<br />

129<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

pp.34-37 e pp. 64-67.<br />

130<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

pp.34-37.<br />

Clara Mendonça<br />

60


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

europeia estão ligadas”. 131 Esta i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a unida<strong>de</strong> da Europa só po<strong>de</strong>rá radicar<br />

enquanto ela se mantiver aberta à diversida<strong>de</strong> é uma constante em Le Goff. 132 Unida<strong>de</strong><br />

e diversida<strong>de</strong> funcionam como uma dialéctica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esta Cristanda<strong>de</strong> até aos dias <strong>de</strong><br />

hoje.<br />

4.3. Do século VIII ao Ano Mil: As políticas <strong>de</strong> Carlos Magno e <strong>de</strong> Otão III<br />

É entre os séculos VIII e X que a concepção europeia criada à volta da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

Cristanda<strong>de</strong>, moldada pela religião e pela criação <strong>de</strong> impérios que a Europa vai ganhar<br />

mais forma. Num primeiro momento, como vimos a Europa esboçou-se culturalmente do<br />

ponto <strong>de</strong> vista religioso, nesta época vai tomar um corpo político. Há duas tentativas <strong>de</strong><br />

unir toda a Europa Oci<strong>de</strong>ntal, com Carlos Magno e com Otão I. Fa<strong>le</strong>mos sobre a Europa<br />

carolíngia.<br />

Essa época, do século VIII ao século X, compreen<strong>de</strong> o império <strong>de</strong> Carlos Magno<br />

que certos historiadores consi<strong>de</strong>ram o primeiro verda<strong>de</strong>iro esboço da Europa. Para<br />

Jacques Le Goff, a supor que essa visão é exacta, trata-se <strong>de</strong> uma Europa pervertida,<br />

<strong>de</strong> uma anti-<strong>europa</strong> como aquela <strong>de</strong> Napo<strong>le</strong>ão ou <strong>de</strong> Hit<strong>le</strong>r, por ser um imenso espaço<br />

dominado por um só povo. Para o historiador, o império fundado por Carlos Magno era<br />

uma construção baseada sob o espírito patriótico on<strong>de</strong> a diversida<strong>de</strong> cultural não tinha<br />

lugar. O império carolíngio, comprometido pelas perpétuas campanhas <strong>de</strong> conquista,<br />

não englobou jamais os britânicos, a Península Ibérica, a Itália do Sul, a Sicília, a<br />

Escandinávia. Assim, foi um espaço que ficou aquém das fronteiras actuais da Europa<br />

cultural, mas teve algum mérito no processo <strong>de</strong> <strong>nas</strong>cimento da Europa: unificou os<br />

131 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa» Lisboa: Gradiva, 1995, p. 12. E LE GOFF, Jacques -<br />

«A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 28-29.<br />

132 É por ser <strong>de</strong>masiado colonialista que o autor criticava a sua cida<strong>de</strong> berço <strong>de</strong> Toulon, o marechal Pétain e a<br />

A<strong>le</strong>manha anti-semita. Vd. o capítulo 1 da I Parte <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Clara Mendonça<br />

61


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

territórios mais europeus da Cristanda<strong>de</strong>, os “europeíssimos”: a actual França, parte da<br />

actual A<strong>le</strong>manha e principalmente a Itália. 133<br />

Otão I, em meados do século X, revive o sonho imperial <strong>de</strong> Carlos Magno e<br />

resolve unir a actual A<strong>le</strong>manha à Itália, criando o Sacro Império Romano Germânico. É<br />

uma espinha dorsal que liga o mar do Norte ao Mediterrâneo e que tem nos Alpes como<br />

o centro <strong>de</strong> passagem, que inevitavelmente se tornaram o seu coração, o coração da<br />

Cristanda<strong>de</strong> europeia. 134<br />

Mais glorioso que o sonho político <strong>de</strong> Otão I, é o <strong>de</strong> Otão III em plano conjunto<br />

com o papa Silvestre II. Após a gran<strong>de</strong> vaga <strong>de</strong> cristianização da Alta Ida<strong>de</strong> Média, o<br />

projecto otoniano é <strong>de</strong> cristianizar eslavos e húngaros.<br />

Mais uma vez é impossível <strong>de</strong>ixar passar esta relação com o presente <strong>de</strong> Le<br />

Goff. A obra “L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?”, datada <strong>de</strong> 2003, é a única fonte<br />

se<strong>le</strong>ccionada que faz esta menção ao sonho <strong>de</strong> expansão a Leste <strong>de</strong> Otão III. E isso<br />

não parece que seja em vão. A prob<strong>le</strong>mática da Europa <strong>de</strong> Leste, como se viu<br />

preocupava o autor sobremaneira, tanto pelas ligações familiares como pelas<br />

académicas que mantinha nessa zona da Europa. Contudo com o alargamento a Leste<br />

da Comunida<strong>de</strong> Europeia concretizado há poucos meses, Le Goff terá sentido a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar alguma memória a tal passo: não tinha sido a primeira vez que se<br />

sonhava e concretizava o alargamento ao Leste Europeu; era uma i<strong>de</strong>ia medieval<br />

revitalizada cerca <strong>de</strong> mil anos <strong>de</strong>pois. 135<br />

Para Le Goff este sonho do Ano Mil <strong>de</strong> criar uma Europa aberta ao Leste é um<br />

dos aspectos gerais da socieda<strong>de</strong> medieval que marcam a Europa com um cunho<br />

133<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

pp.58-59.<br />

134<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

pp.61-62.<br />

Clara Mendonça<br />

62


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

positivo. A Cristianização dos eslavos e <strong>de</strong>pois dos escandinavos foi feita através <strong>de</strong><br />

“aculturações harmoniosas ou <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> cultura mais ou menos agudos”, mas on<strong>de</strong><br />

se afirmou “a originalida<strong>de</strong> e a importância das nações europeias periféricas”. 136<br />

Numa Europa cristianizada quase por inteiro, proce<strong>de</strong>u-se aos baptismos das<br />

terras, à alteração da toponímia; no final do século XI o topónimo mais comum <strong>de</strong><br />

Espanha à Polónia era Martinho (Martin). Era o corolário <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> cultural, era<br />

uma “Europa <strong>de</strong> sonho”. 137<br />

Se no início da época medieval, o termo Europa era ape<strong>nas</strong> i<strong>de</strong>ntificativo <strong>de</strong> uma<br />

realida<strong>de</strong> geográfica anterior à cristianização, a partir do século XI “Europa” e “europeu”<br />

significarão um sentimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com uma comunida<strong>de</strong>, a cristanda<strong>de</strong>. É a<br />

afirmação da Europa.<br />

4.4. Do século XI ao XII: O Feudalismo consolida a Europa<br />

O período feudal (séculos XI e XII) correspon<strong>de</strong> à fase <strong>de</strong> afirmação da<br />

cristanda<strong>de</strong> e está mais próximo daquilo que será a Europa actual. Contudo é uma<br />

época <strong>de</strong> contrastes, com progressos e retrocessos. Comecemos pelos avanços e<br />

repare-se na conservação das heranças que <strong>de</strong>ixaram até aos dias da actualida<strong>de</strong>.<br />

Houve progressos na economia e na organização da terra, nomeadamente com<br />

algumas inovações técnicas <strong>nas</strong> explorações agrícolas. Na organização do espaço<br />

<strong>de</strong>stacaram-se as medidas <strong>de</strong> emparcelamento das terras agrícolas e a construção das<br />

135<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p.<br />

63.<br />

136<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa» Lisboa: Gradiva, 1995, pp. 24-25. É curioso ver a<br />

supremacia francesa na voz <strong>de</strong> Le Goff. A França para e<strong>le</strong> sempre foi europeíssima e fraterna, por isso precisa da<br />

periferia, para que a sua cultura possa ser expandida. Um caso característico da aculturação francesa na Europa<br />

Central e <strong>de</strong> Leste é a Polónia, visível na repercussão dos Anna<strong>le</strong>s e a interacção ainda vigente entre académicos<br />

franceses e polacos.<br />

137<br />

Vd. LE GOFF, Jacques -«L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,p. 67.<br />

Le Goff intitulou o capítulo sobre a época <strong>de</strong> Otão III, na obra atrás mencionada, “L’Europe rêvée”.<br />

Clara Mendonça<br />

63


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

al<strong>de</strong>ias e vilas em torno <strong>de</strong> dois e<strong>le</strong>mentos fundamentais, o cemitério e a igreja,<br />

<strong>de</strong>ixando a periferia para as habitações e para a agricultura. Ainda hoje as povoações<br />

europeias mantêm esta matriz medieval <strong>de</strong> chamarem a si os mortos, e <strong>de</strong> crescerem à<br />

volta do adro da igreja. 138<br />

Ao nível social, começa-se a distinguir um grupo, a nobreza e no seu seio <strong>de</strong>sta<br />

florescem os princípios <strong>de</strong> vassalagem e os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> cavalaria. As relações sociais <strong>de</strong><br />

toda a Ida<strong>de</strong> Média seriam marcadas pela fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a um senhor em troca <strong>de</strong><br />

protecção, em que se baseavam as relações <strong>de</strong> vassalagem. 139 Aliada à fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> vem<br />

o i<strong>de</strong>al da cortesia. Toda a Europa viveu sob este mo<strong>de</strong>lo cívico. Doravante não<br />

interessava somente ser um bom guerreiro, era necessário comportar-se <strong>de</strong> uma forma<br />

e<strong>le</strong>gante. 140<br />

Ainda no aspecto social, a vida à volta das principais universida<strong>de</strong>s, como a <strong>de</strong><br />

Paris, ganhou um novo dinamismo social, e nela surgiram personagens ímpares na<br />

história que foram marcantes para a posterida<strong>de</strong>. Le Goff chamou-lhes o par <strong>de</strong><br />

“inte<strong>le</strong>ctuais e amantes mo<strong>de</strong>rnos”; eram obviamente Heloísa e Abelardo. 141<br />

No que concerne às comunicações também houve avanços visíveis,<br />

nomeadamente na economia monetária, na cultura escrita e <strong>nas</strong> peregrinações a<br />

lugares santos. As moedas começam a ser utilizadas com maior frequência em<br />

<strong>de</strong>trimento das tocas em géneros. A moeda, para além <strong>de</strong> ser um produto que circulava<br />

138<br />

Ao contrário dos romanos, que colocavam os cemitérios mais longe possível das cida<strong>de</strong>s, construindo-os <strong>nas</strong><br />

principais vias <strong>de</strong> acesso, os Cristãos mantinham com os mortos uma relação mais estreita. Le Goff aponta este à<br />

vonta<strong>de</strong> entre vivos e mortos como um dos factores que estiveram na origem da criação do terceiro espaço do<br />

Além, o Purgatório. Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire<br />

l'Europe ", 2003, pp.73-77.<br />

139<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

pp.78-79.<br />

140<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa» Lisboa: Gradiva, 1995, p.35. Le Goff aponta o estudo<br />

<strong>de</strong> Norbert Elias on<strong>de</strong> este <strong>de</strong>monstrou que a cortesia medieval foi uma etapa essencial no processo <strong>de</strong><br />

civilização que distinguiu a Europa <strong>de</strong> todo o mundo.<br />

Clara Mendonça<br />

64


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

pela Europa <strong>de</strong> mão em mão, carregava o cunho com a figura e o nome do seu emissor.<br />

Eram tidas como objecto <strong>de</strong> trocas e <strong>de</strong> comunicação entre diferentes espaços políticos<br />

europeus. As cartas são outro instrumento <strong>de</strong> comunicação cada vez mais difundido.<br />

Esses documentos circulavam livremente por toda a Europa, <strong>de</strong> chancelaria em<br />

chancelaria e eram um valor imenso para quem os tinha, representando a memória dos<br />

reinos e dos homens 142 . As peregrinações eram momentos <strong>de</strong> longas trocas culturais e<br />

realizavam-se – apesar <strong>de</strong> todos os condicionalismos climatéricos, bélicos, entre outros<br />

– com maior frequência do que se pensa. Os caminhos percorridos <strong>de</strong>senhavam-se a<br />

longo das principais re<strong>de</strong>s viárias e não era raro encontrar um homo viator em direcção<br />

à Cida<strong>de</strong> Santa ou a Santiago <strong>de</strong> Compostela. 143<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista político houve uma <strong>de</strong>finição da circunscrição do po<strong>de</strong>r. O papa<br />

Gregório VII encetou uma reforma que permitiu separar os po<strong>de</strong>res da esfera da Igreja e<br />

do Estado. Este foi um dos gran<strong>de</strong>s passos para a afirmação das monarquias nacionais<br />

e para a concepção do Vaticano como reino acima <strong>de</strong> todos os outros. Clérigos e laicos<br />

são pessoas distintas à imagem das suas esferas do po<strong>de</strong>r que abarcam. A intervenção<br />

só podia ser feita num sentido: o papa podia ter interferência sobre os reinos dos<br />

homens, pois era o sucessor <strong>de</strong> Pedro, encarregado por Cristo <strong>de</strong> erguer a Sua Igreja. A<br />

reforma gregoriana acabou por afastar ainda mais a Europa Oci<strong>de</strong>ntal do resto do<br />

mundo, nomeadamente do Islão e <strong>de</strong> Bizâncio; o Islão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua matriz original teve<br />

uma imbricação dos dois po<strong>de</strong>res; Bizâncio vivia sob um cesaro-papismo, on<strong>de</strong> o chefe<br />

religioso era o próprio imperador. A partir <strong>de</strong> então a Europa apresentou-se como<br />

141<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

84-85.<br />

142<br />

Note-se o pânico que Filipe Augusto teve quando o rei <strong>de</strong> Inglaterra, na batalha <strong>de</strong> Fréteval, roubou o seu baú<br />

que continha as cartas da monarquia francesa. Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?».<br />

Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p. 91.<br />

143<br />

Vd. LE GOFF, Jacques -«L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

92-95.<br />

Clara Mendonça<br />

65


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

diversida<strong>de</strong> ao nível político. Havia as monarquias centralizadas: França, Inglaterra,<br />

Portugal e Espanha; e as <strong>de</strong>scentralizadas, como a A<strong>le</strong>manha e a Itália actuais.<br />

Totalmente à parte, construído em pressupostos diferentes estava o Vaticano, Reino <strong>de</strong><br />

Deus erguido na terra pelos homens. 144<br />

Ao nível da Arte, o período em causa foi <strong>de</strong>nominado o “re<strong>nas</strong>cimento do século<br />

XII” Sob o estilo românico e o gótico, ergueram-se as gran<strong>de</strong>s construções medievais,<br />

muitas visíveis até aos dias <strong>de</strong> hoje. Segundo Le Goff, os movimentos artísticos têm<br />

essa faceta aglutinadora das nações; as influências passam <strong>de</strong> país para país e tornam<br />

os povos mais próximos, com um <strong>de</strong>nominador cultural comum. 145<br />

Do ponto e vista das mentalida<strong>de</strong>s esta época foi também marcante pelo<br />

regresso aos Clássicos. Nasceu um humanismo cristão <strong>de</strong> carácter positivo, em busca<br />

dos valores da razão e do natural: o homem afirmava-se à imagem <strong>de</strong> Deus e não era<br />

somente visto como um pecador. 146<br />

A Europa não foi só her<strong>de</strong>ira dos bons <strong>le</strong>gados, aos olhos do historiador. Teve<br />

momentos que foram <strong>de</strong>terminantes para o seu caminho mas que, segundo o autor, não<br />

primaram nem pelos i<strong>de</strong>ais da to<strong>le</strong>rância, nem pelos da liberda<strong>de</strong> dos homens.<br />

Iniciaram-se nesta altura as várias perseguições aos heréticos e aos ju<strong>de</strong>us, ao<br />

abandono e encarceramento dos <strong>le</strong>prosos, e as primeiras tentativas <strong>de</strong> colonização<br />

militante da Europa: as Cruzadas. 147 O Diabo, inimigo do género humano, habitava no<br />

mundo do pecado, nos sodomitas, nos ju<strong>de</strong>us, nos muçulmanos, nos moribundos. Era<br />

necessário combatê-lo com os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> perfeição cristã: a Virgem Maria e Jesus<br />

144<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

86-87 e pp.95-105.<br />

145<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

105-106.<br />

146<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

105-106.<br />

Clara Mendonça<br />

66


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Cristo. O culto à Virgem é iniciado em gran<strong>de</strong> escala nesta altura assim como aumenta<br />

o culto à dor <strong>de</strong> Cristo. 148<br />

Os traços comuns do período feudal <strong>le</strong>gados à Europa foram, segundo o autor,<br />

os que a mais consolidaram. Essa consolidação <strong>de</strong>u-se a vários níveis, económico e<br />

tecnológico, político, artístico, cultural e mental. Depois <strong>de</strong>ste período que permitiu<br />

algumas inovações, veremos uma Europa cheia <strong>de</strong> vida, urbana, universitária, solidária.<br />

É a Europa do século XIII, a “bela” Europa.<br />

4.5. O século XIII: A “bela” Europa das universida<strong>de</strong>s, das cida<strong>de</strong>s, dos<br />

mercadores e dos mendicantes<br />

O século XIII é uma cronologia e e<strong>le</strong>ição <strong>nas</strong> <strong>obras</strong> <strong>de</strong> Jacques Le Goff. A nova<br />

noção do trabalho ligada ao papel <strong>de</strong>terminante dos inte<strong>le</strong>ctuais, dos franciscanos e dos<br />

dominicanos, da cida<strong>de</strong> como agente <strong>de</strong> civilização, dos mercadores como agentes<br />

culturais e comerciais, a figura do santo e do rei personificados por São Luís, são temas<br />

recorrentes na sua Obra e que ajudam a caracterizar este tempo. 149<br />

Segundo Le Goff, é neste século que se “afirma a personalida<strong>de</strong> e a nova força<br />

da Cristanda<strong>de</strong> realizada ao longo dos séculos prece<strong>de</strong>ntes”. A personalida<strong>de</strong> e a nova<br />

força da Europa é consubstanciada no mo<strong>de</strong>lo que o autor chama <strong>de</strong> “europeu”. Este<br />

mo<strong>de</strong>lo tem prob<strong>le</strong>mas mas tem sobretudo êxito, sucesso. Jacques Le Goff <strong>de</strong>senvolve<br />

147<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

p.86.<br />

148<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

106-112.<br />

149<br />

Cremos que não é em vão que a mais bela Europa, conforme e<strong>le</strong> a adjectiva, abarque tantas temáticas do seu<br />

interesse. Veja-se a “bibliografia temática” organizada nos anexos <strong>de</strong>ste trabalho, Parte IV.<br />

Clara Mendonça<br />

67


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

o tema das heranças da Europa do século XIII, dividindo-as em quatro eixos<br />

dominantes. 150<br />

O primeiro é o <strong>de</strong>senvolvimento urbano. Enquanto na Alta Ida<strong>de</strong> Média havia<br />

uma Europa voltada para o meio rural, no século XIII encontra-se uma Europa instalada<br />

essencialmente <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s. É lá que terão lugar os principais aglomerados<br />

populacionais, que se afirmarão as instituições, que aparecerão os pontos <strong>de</strong> encontro<br />

económicos e inte<strong>le</strong>ctuais. 151<br />

O segundo é a progressão da activida<strong>de</strong> comercial e da ascensão do mercador,<br />

com toda a prob<strong>le</strong>mática que envolve a difusão e utilização do dinheiro na economia e<br />

na socieda<strong>de</strong>. O mercador europeu era um mercador itinerante. Vista a comp<strong>le</strong>xida<strong>de</strong><br />

das <strong>de</strong>slocações terrestres, a sua activida<strong>de</strong> tornava-se difícil pela insegurança e pelos<br />

inumeráveis pagamentos instituídos <strong>nas</strong> passagens das cida<strong>de</strong>s, senhorios, pontes,<br />

etc.. Assim, foi a via da navegação aquática, <strong>nas</strong> duas valências, marítima e fluvial, o<br />

que possibilitou o <strong>de</strong>senvolvimento do comércio. 152<br />

O terceiro é o <strong>de</strong>senvolvimento do saber. Este <strong>de</strong>senvolvimento tocou a um<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> cristãos pela criação das escolas urba<strong>nas</strong>. Naque<strong>le</strong> tempo, em<br />

Reims, por exemplo, a educação escolar estava estendida às raparigas. Contudo o<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no ensino é o nível superior, as universida<strong>de</strong>s. Foi aí que numerosos<br />

estudantes e alguns mestres ilustres, elaboraram um novo saber, terminando as<br />

pesquisas do século XII, a escolástica. 153<br />

150 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p.<br />

135.<br />

151 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

136-151.<br />

152 Vd. LE GOFF, Jacques -«L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,<br />

pp.151-162.<br />

153 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp-<br />

162-184.<br />

Clara Mendonça<br />

68


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

O quarto e último gran<strong>de</strong> êxito <strong>de</strong>sta Europa <strong>de</strong> Duzentos foi a criação e<br />

principalmente a extraordinária difusão em cerca <strong>de</strong> 30 anos dos novos religiosos<br />

resi<strong>de</strong>ntes <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, os irmãos das or<strong>de</strong>ns mendicantes. Franciscanos e<br />

dominicanos para além <strong>de</strong> viverem <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s, trabalhavam <strong>nas</strong> cida<strong>de</strong>s e<br />

contactavam com estudantes, com mestres, com mercadores. A serem o contraponto<br />

das outras or<strong>de</strong>ns religiosas, nomeadamente a beneditina, estes minoritas formaram a<br />

nova socieda<strong>de</strong> e remo<strong>de</strong>laram profundamente o cristianismo que ela professava.<br />

Conseguiram dar à Europa um carácter caridoso que é para Le Goff o antepassado da<br />

Europa social da actualida<strong>de</strong>. 154<br />

No seio <strong>de</strong>sta Europa em profundo <strong>de</strong>senvolvimento, formou-se, segundo o<br />

autor, “a mais bela nação europeia medieval”, a Suiça. Em 1291, os povos montanheses<br />

dos três cantões criam uma união vigente até aos dias <strong>de</strong> hoje, baseada na igualda<strong>de</strong> e<br />

na in<strong>de</strong>pendência. Curiosamente, a Suiça é formada pelos 3 países que Le Goff<br />

consi<strong>de</strong>ra os europeíssimos: Itália, França e A<strong>le</strong>manha. É, portanto, segundo o autor, o<br />

centro da Europa, a fronteira natural entre o Norte e o Sul o Este e o Oeste europeus. 155<br />

O <strong>le</strong>gado do século XIII <strong>de</strong>ixou uma matriz mercantil, monetária, urbana e<br />

universitária é ainda hoje bem visível na Europa. O século XIII correspon<strong>de</strong>u, para<br />

Jacques Le Goff, ao período áureo da Europa sobretudo pelos valores da <strong>de</strong>mocracia<br />

suíça e da solidarieda<strong>de</strong> franciscana e dominicana. Como todos os períodos maiores <strong>de</strong><br />

uma história, este também pressupõe que tenha havido um antes e um <strong>de</strong>pois do século<br />

XIII. Para o autor o antes foi sempre <strong>de</strong> crescimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> europeia, conforme<br />

vimos, e que culmina na centúria <strong>de</strong> Duzentos. O <strong>de</strong>pois será quase exclusivamente pior<br />

154<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

184-203.<br />

155<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens.» Lisboa: Gradiva, 1997.<br />

Clara Mendonça<br />

69


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

e <strong>de</strong>crescente no sentido que o seu <strong>le</strong>gado foi pouco positivo para uma Europa em<br />

construção.<br />

4.6. Os séculos XIV e XV: O “Outono” da Ida<strong>de</strong> Média<br />

Os séculos XIV e XV viram catástrofes suce<strong>de</strong>rem-se: guerras, fomes, epi<strong>de</strong>mias<br />

que apesar <strong>de</strong> terem surgido anteriormente, manifestaram-se nesta altura com maior. A<br />

fome foi causada por uma <strong>de</strong>terioração do clima. As epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> peste negra<br />

provocaram milhares <strong>de</strong> mortes e alimentaram as novas formas religiosas como a dança<br />

macabra que fez dançar toda a humanida<strong>de</strong> e todas as categorias sociais e políticas.<br />

No “Outono da Ida<strong>de</strong> Média” é Europa já era uma realida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte. Era<br />

comp<strong>le</strong>tamente distinta da Ásia do Extremo Oriente, do Próximo Oriente, e do Norte <strong>de</strong><br />

África islamizado. A Europa a partir <strong>de</strong> século XV cresceu para os mares, colonizando<br />

os territórios do “Novo Mundo”. Esta expansão veio na sequência dos Descobrimentos<br />

<strong>de</strong> novas rotas, instrumentos e saberes marítimos conseguidos por portugueses e<br />

castelhanos.<br />

A Europa era uma realida<strong>de</strong>, acabada <strong>de</strong> <strong>nas</strong>cer, já tinha a sua matriz cultural<br />

própria. Foi <strong>de</strong>sta forma que impôs o seu mo<strong>de</strong>lo civilizacional e cultural às colónias das<br />

Américas e <strong>de</strong> África.<br />

A Europa havia <strong>nas</strong>cido da aculturação <strong>de</strong> diferentes povos, da sua miscigenação<br />

cultural e étnica. A partir da centúria <strong>de</strong> Quatrocentos, a Europa proce<strong>de</strong>u na razão<br />

inversa da sua matriz inicial. Segundo o historiador, a Europa, colonizando e<br />

impondo a sua cultura, não preten<strong>de</strong>u manter a diversida<strong>de</strong> cultural <strong>nas</strong> suas<br />

Clara Mendonça<br />

70


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

colónias. Preten<strong>de</strong>u somente alargar as suas fronteiras mar a<strong>de</strong>ntro, impondo o<br />

mo<strong>de</strong>lo europeu a todo o mundo. 156<br />

156<br />

Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.<br />

206-253.<br />

Clara Mendonça<br />

71


5. Conclusão da Parte II<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Jacques Le Goff cumpriu a tarefa <strong>de</strong> comunicador, autor <strong>de</strong> síntese e <strong>de</strong><br />

divulgação em relação à temática da Europa. Preten<strong>de</strong>u ter uma tarefa pedagógica,<br />

ensinar a vários tipos <strong>de</strong> europeus (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as crianças ao público mais erudito) a história<br />

do seu continente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> do seu <strong>nas</strong>cimento até hoje, e conseguiu. Le Goff tentou<br />

chamar os cidadãos europeus através da história, utilizando uma linguagem muito<br />

agradável e com uma redacção muito interessante. Só não apren<strong>de</strong>u a lição <strong>de</strong> história<br />

quem não quis.<br />

O alheamento dos cidadãos e, no caso particular, dos cidadãos portugueses face<br />

aos temas europeus tem sido alvo <strong>de</strong> críticas pelo governo português. 157 É difícil<br />

perceber como é possível haver ainda em 2004 um distanciamento consentido e<br />

unilateral (?) tão gran<strong>de</strong> entre os assuntos nacionais e os assuntos europeus (por<br />

exemplo: a constituição europeia, a entrada da Turquia, o processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da<br />

Bulgária e da Roménia, etc.).<br />

Jacques Le Goff após ter redigido 6 títulos sobre a Europa ainda não esgotou o<br />

tema da i<strong>de</strong>ia que tem do “velho continente”, pelo que esta conclusão (pouco<br />

conclusiva) se mantém em aberto. Em Janeiro <strong>de</strong> 2004, dias após ter comp<strong>le</strong>tado 80<br />

anos, Le Goff pronunciou-se em relação à futura Constituição dos 25, numa entrevista<br />

radiofónica. A propósito do texto da Constituição Europeia, dizia a um jornalista: “On ne<br />

comprend pas si on ne sait pas d'où venons-nous". E comp<strong>le</strong>tava: "On peut dire que <strong>le</strong><br />

christianisme est la base essentiel<strong>le</strong> <strong>de</strong> la pensée européenne. C'est plus net que la<br />

formu<strong>le</strong> alambiquée qu'on a trouvée dans la Constitution européenne! Mais je <strong>de</strong>man<strong>de</strong><br />

157 Vd. O discurso <strong>de</strong> Sua Excelência o Presi<strong>de</strong>nte da Republica, Dr. Jorge Sampaio na entrega do Prémio Carlos<br />

V em : http://www.presi<strong>de</strong>nciarepublica.pt/pt/main.html.<br />

Clara Mendonça<br />

72


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

éga<strong>le</strong>ment qu'il soit dit implicitement que l'Europe est laïque, c'est-à-dire une neutralité<br />

qui n'a rien d'agressif". E no final da entrevista concordava com o outro convidado,<br />

Bronislaw Geremek, dizendo que a Constituição era um meio “d’éviter <strong>le</strong>s plaies <strong>de</strong><br />

l'histoire <strong>de</strong> l'Europe, <strong>le</strong>s guerres <strong>de</strong> religion". A Europa só fruirá se for um espaço <strong>de</strong><br />

Paz, <strong>de</strong> pluriculturalismo, consentido e apreciado por todos os europeus. Caso contrário,<br />

o risco <strong>de</strong> se incorrer em erros, que a história tem como missão <strong>le</strong>mbrar, é muito<br />

maior. 158<br />

158<br />

IN http://www.radiofrance.fr/chaines/franceculture2/emissions/toutarrive/fiche.php?diffusin_id= 19176. Site<br />

visitado em 11 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2004.<br />

Clara Mendonça<br />

73


PARTE III – ANEXOS<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

Clara Mendonça<br />

74


1. Bibliografia temática<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

TEMA TIPO Nº TÍTULO<br />

A longa Ida<strong>de</strong> média<br />

Autoobiográfico<br />

Biografias<br />

Cida<strong>de</strong>s e História<br />

urbana<br />

Artigo 1<br />

Artigo 3<br />

Artigo 4<br />

Livro 5<br />

Livro 6<br />

Livro 7<br />

Livro 8<br />

Artigo 9<br />

Artigo 10<br />

Artigo 11<br />

Artigo 12<br />

« Dix-sept sièc<strong>le</strong>s <strong>de</strong> Moyen Âge », Le Journal du CNRS,<br />

décembre 1991, p. 27-30.<br />

« L’appétit <strong>de</strong> l’Histoire », Essais d’Ego-histoire, édité par Pierre<br />

Nora, Paris, Gallimard, (Bibliothèque <strong>de</strong>s Histoires), 1987, p.<br />

173-239.<br />

«História – Uma paixão», in A Nova História, Emmanuel Le Roy<br />

Ladurie, Georges Duby, Jacques Le Goff et al., Lisboa, Ed. 70,<br />

1989.<br />

(Entretiens avec Marc Heurgon) Une vie pour l’histoire., Paris, La<br />

Découverte, 1996.<br />

Saint Louis, Paris, Gallimard, (col. « Bibliothèque <strong>de</strong>s<br />

Histoires »), 1996.<br />

Saint François d’Assise, Paris, Le Grand livre du mois,1999, 220<br />

pp.<br />

Cinq personnages d’hier pour aujourd’hui. Bouddha,<br />

Abélard,saint François, Miche<strong>le</strong>t, Bloch, Paris, La Fabrique<br />

éditions, 2001.<br />

« Francesco d’Assisi » in I protagonisti <strong>de</strong>lla storia universa<strong>le</strong>, n°<br />

91, 1967, p. 29-56.<br />

« Le vocabulaire <strong>de</strong>s catégories socia<strong>le</strong>s chez saint François<br />

d’Assise et ses biographes au XIIIe sièc<strong>le</strong> », Ordres et classes.<br />

Colloque d’histoire socia<strong>le</strong>, Saint-Cloud, 1967, Paris e La Haye,<br />

1973, p. 93-123.<br />

« The Whys and Ways of Writing a Biography : the Case of saint<br />

Louis », Exemplaria, a Journal of Theory in Medieval and<br />

Renaissance Studies, 1, mars 1989, p. 207-225.<br />

« Comment écrire une biographie historique aujourd’hui ? », Le<br />

Débat, n° 54 , mars-avril 1989, p. 48-53.<br />

prefácio 13<br />

Préface à Michel-Marie Dufeil, Saint Thomas et l’histoire, Aix-en-<br />

Provence, CUERMA, 1991.<br />

« Pico <strong>de</strong>lla Mirandola, intel<strong>le</strong>ctuel historique », dans Giovanni<br />

Pico <strong>de</strong>lla Mirandola, Convegno internaziona<strong>le</strong> di studi nel<br />

Artigo 14 cinquecentesimo aniversario <strong>de</strong>lla morte (1494-1994)<br />

(Mirandola, 4-8 octobre 1994), Gian Carlo Garsagni (éd.),<br />

Florence, 1997.<br />

prefácio 15<br />

Préface à Etienne Bloch, Marc Bloch (1886-1944) : une<br />

biographie impossib<strong>le</strong>, Limoges, Culture et patrimoine, 1997.<br />

Artigo 16 « Pierre Gréco », Archives <strong>de</strong> psychologie, 58, 1990, p. 81-83.<br />

Livro 17<br />

(Entretiens avec Jean Lebrun) Pour l’amour <strong>de</strong>s vil<strong>le</strong>s, Paris,<br />

Textuel, 1997.<br />

Livro 18 A la recherche du Moyen Age, Paris, Louis Audibert, 2003<br />

Artigo 19<br />

Artigo 20<br />

« The Town as an Agent of Civilisation c.1200-c. 1500 », in C.<br />

Cipolla (ed. ), The Fontana Economic Histoy of Europe, The<br />

Midd<strong>le</strong> Age, vol. 1, cap. 2, Londres e Glasgow, 1972, p. 71-106.<br />

« Jérusa<strong>le</strong>m ou Babylone ? L’image <strong>de</strong> la vil<strong>le</strong> dans la littérature<br />

fraçaise médiéva<strong>le</strong> », dans Hommage à Pierre Charpentrat,<br />

Critique, juin-juil<strong>le</strong>t 1978.<br />

Clara Mendonça<br />

75


Corpo e doenças<br />

Cristianismo<br />

medieval<br />

Entradas em<br />

dicionários<br />

Europa<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

direcção 21<br />

direcção 22<br />

Artigo 23<br />

direcção 24<br />

Artigo 25<br />

prefácio 26<br />

Artigo 27<br />

Artigo 28<br />

Artigo 29<br />

direcção 30<br />

Artigo 31<br />

Artigo 32<br />

Artigo 33<br />

Artigo 34<br />

Com André Che<strong>de</strong>vil<strong>le</strong> et Jacques Rossiaud, La vil<strong>le</strong> en France<br />

au Moyen Âge : <strong>de</strong>s Carolingiens à la Renaissance, vol. II <strong>de</strong><br />

l’Histoire <strong>de</strong> la France urbaine, (dir. Georges Duby), Paris, Seuil,<br />

(col « L’Univers historique »), 1980 ; nova ed. revista et<br />

comp<strong>le</strong>ta, 1998.<br />

Com Louis Guieysse, Crise <strong>de</strong> l’urbain, futur <strong>de</strong> la vil<strong>le</strong> (Colloque<br />

<strong>de</strong> Royaumont, 1984, R.A.T.P.-Université-recherche), Paris,<br />

Economica, 1985.<br />

« Lezione introduttiva », Daniela Romagnoli, Storia e storie <strong>de</strong>lla<br />

città, Parme, Patriche editrice, 1988, p. 17-34.<br />

Com Cesare De Seta, La citta e <strong>le</strong> mura, Rome et Bari, Laterza,<br />

1989.<br />

« La vil<strong>le</strong> médiéva<strong>le</strong> et <strong>le</strong> temps », Mélanges Bernard Chevalier,<br />

1990.<br />

« Saggio introduttivo », dans Daniela Romagnoli (éd.), La città e<br />

la corte : buone e cattiva maniere tra Medioevo ed Età mo<strong>de</strong>rna,<br />

Milan, Guerini, 1991; version française dans La Vil<strong>le</strong> et la cour :<br />

<strong>de</strong>s bonnes et <strong>de</strong>s mauvaises manières (sous la direction <strong>de</strong><br />

Daniela Romagnoli), Paris, Fayard, 1995.<br />

« La peste dans <strong>le</strong> haut Moyen Âge » (em colaboração com Dr.<br />

J.-N. Biraben), Anna<strong>le</strong>s. E.S.C., XXIV, 1969, p. 1484-1510.<br />

Les maladies ont une histoire présenté par Jacques Le Goff et<br />

Jean-Char<strong>le</strong>s Sournia, L'Histoire, Paris, Seuil, 1985.<br />

« The medieval West and the Body : Practices and I<strong>de</strong>ologie (a<br />

Tentative Approach) », Utkal Historical Research Journal, vol. IV,<br />

1993, Utkal University, p. 1-25.<br />

Com Nicolas TRUONG, Une histoire du corps au Moyen Âge,<br />

Ed. Liana Levi, 2003, 197 pp.<br />

« Le christianisme médiéval du conci<strong>le</strong> <strong>de</strong> Nicée à la réforme »,<br />

in Histoire <strong>de</strong>s religions, ed. Henri-Char<strong>le</strong>s Pueh, Paris,<br />

Gallimard, col. «Encyclopédie <strong>de</strong> la Pléia<strong>de</strong>», vol. II, 1972, p.<br />

749-868.<br />

Enclopédia Einaudi:<br />

« Documento/Monumento », « Escatologia »,« Età mitiche »,<br />

Encyclopedia, t. V, Turin, Einaudi, 1978, p. 38-48, 712-746, 886-<br />

914 ; « Memoria », Encyclopedia, t. VIII, Turin, Einaudi, 1979, p.<br />

1068-561-581.« Progresso/Reazione », Encyclopedia, vol. XI,<br />

Turin, Einaudi, 1980, p.198-230; « Storia », Enciclopedia, t. XIII<br />

Turin, Einaudi, 1981, p. 566-670.<br />

« Antico/mo<strong>de</strong>rno », Enciclopedia, I, Turin, Einaudi, 1977, p.<br />

678-700.<br />

Artic<strong>le</strong> « Deca<strong>de</strong>nza », Enciclopedia, IV, Turin, Einaudi, 1978, p.<br />

391-420.<br />

Artigo 35<br />

Artic<strong>le</strong> « Arbeit », dans Theologische Rea<strong>le</strong>ncyclopädie, Berlin,<br />

De Gruyter, 1978.<br />

Artigo 36 Artic<strong>le</strong> « I<strong>de</strong>e », dans L’Encyclopedia Italiana, 1993, p. 584-594.<br />

Artigo 37<br />

Artic<strong>le</strong>s « Sacro/Profano », « Sistematica », Encyclopedia, t. XV,<br />

Turin, Einaudi, 1982, p. 552-564, 626-634.<br />

Artigo 38<br />

« L’Europe à l’éco<strong>le</strong> », Le Débat, n° 77, novembre-décembre<br />

1993, p. 176-181.<br />

Clara Mendonça<br />

76


Família e crianças<br />

Feudalismo<br />

Fontes. Os exempla<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

prefácio 39<br />

prefácio 40<br />

Préface à Ulrich Im Hof, Les Lumières en Europe, trad. <strong>de</strong><br />

l’al<strong>le</strong>mand par Jeanne Etoré et Bernard Lortholary, Paris, Ed. du<br />

Seuil, (Faire l’Europe), 1993.<br />

Préface à Michel Mollat du Jourdin, L’Europe et la mer, Paris,<br />

Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993.<br />

prefácio 41<br />

Préface à Char<strong>le</strong>s Tilly, Les révolutions européennes : 1492-<br />

1992, trad. <strong>de</strong> l’anglais par Paul Chemla, Paris, Ed. du Seuil,<br />

(Faire l’Europe), 1993.<br />

Livro 42 La vieil<strong>le</strong> Europe et la nôtre, Paris, Seuil, 1994.<br />

prefácio 43<br />

prefácio 44<br />

Préface à Umberto Eco, La Recherche <strong>de</strong> la langue parfaite<br />

dans la culture européenne, trad. <strong>de</strong> l’italien par Jean-Paul<br />

Manganaro, Paris, Seuil, (Faire l’Europe), 1994.<br />

Préface à Joseph Fontana, L’Europe en procès, Paris, Ed. du<br />

Seuil, (Faire l’Europe), 1995.<br />

livro 45<br />

Il Medioevo: al<strong>le</strong> origini <strong>de</strong>ll’i<strong>de</strong>ntità europea, Laterza, Roma-<br />

Bari, 1996.<br />

livro 46 L’Europe racontée aux jeunes, Paris, Seuil, 1996.<br />

livro 47<br />

L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?, Paris, Seuil, " Faire<br />

l'Europe ", 2003, 341pp<br />

apresentação<br />

e prefácio<br />

48<br />

direcção 49<br />

artigo 50<br />

51<br />

artigo 52<br />

artigo 53<br />

prefácio 54<br />

artigo 55<br />

prefácio 56<br />

artigo 57<br />

artigo 58<br />

Présentation <strong>de</strong> Famil<strong>le</strong> et parenté dans l’Occi<strong>de</strong>nt médiéval :<br />

actes du colloque <strong>de</strong> Paris, 6-8 juin 1974, organisé par l’Eco<strong>le</strong><br />

pratique <strong>de</strong>s hautes étu<strong>de</strong>s, VIe section... <strong>le</strong> Collège <strong>de</strong> France<br />

et l’Eco<strong>le</strong> française <strong>de</strong> Rome, présentés par Georges Duby et<br />

Jacques Le Goff, Paris, Eco<strong>le</strong> francaise <strong>de</strong> Rome, 1977<br />

(Col<strong>le</strong>ction <strong>de</strong> l’Eco<strong>le</strong> française <strong>de</strong> Rome, n° 30).<br />

Com Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt, Le Charivari, Paris, Ed. <strong>de</strong><br />

l’E.H .E.S.S., col. «Civilisations et sociétés» nº 67, 1981.<br />

« Image <strong>de</strong> l’enfant léguée par <strong>le</strong> Moyen Âge », Les cahiers<br />

franco-polonais, 1979, p. 139-155<br />

« Le roi enfant dans l’idéologie monarchique <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt<br />

médiéval », dans Historicité <strong>de</strong> l’enfance et <strong>de</strong> la jeunesse (Actes<br />

du colloque international d’Athènes, 1985), Athènes, 1986, p.<br />

231-250.<br />

« L’enfant au Moyen Âge », (colloque CUERMA), Senefiance, n°<br />

9, Aix-en-Provence, 1986.<br />

Préface à Myriam Greilsammer, L’envers du tab<strong>le</strong>au : mariage et<br />

maternité en Flandre médiéva<strong>le</strong>, Paris, A. Colin, 1990.<br />

« Féodalité et seigneurie », dans Dix sièc<strong>le</strong>s d’histoire francobritannique.<br />

De Guillaume <strong>le</strong> Conquérant au Marché commun,<br />

Paris, 1979, p. 41-68.<br />

Préface à Alain Guerreau, Le féodalisme, un horizon théorique,<br />

Paris, Le Sycomore, 1980.<br />

« Les trois fonctions indo-européennes, l’historien et l’Europe<br />

féoda<strong>le</strong> », Anna<strong>le</strong>s. E.S.C., n°6, novembre-décembre 1979, p.<br />

1187-1215.<br />

« Le juif dans <strong>le</strong>s exempla médiévaux : <strong>le</strong> cas <strong>de</strong> l’Alphabetum<br />

narrationum », dans Le Racisme. Mythes et sciences. Mélanges<br />

Léon Poliakov, sous la direction <strong>de</strong> Maurice O<strong>le</strong>n<strong>de</strong>r, Bruxel<strong>le</strong>s,<br />

Ed. Comp<strong>le</strong>xe, 1980, p. 209-220.<br />

Clara Mendonça<br />

77


Heresias. Cultura<br />

clérical e cultura<br />

foclórica.O riso<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

artigo 59<br />

direcção 60<br />

artigo 61<br />

artigo 62<br />

artigo 63<br />

prefácio 64<br />

direcção 65<br />

prefácio 66<br />

artigo 67<br />

artigo 68<br />

artigo 69<br />

artigo 70<br />

artigo 71<br />

artigo 72<br />

« Le vocabulaire <strong>de</strong>s exempla d’après l’Alphabetum narrationum<br />

(début XIVe sièc<strong>le</strong>) », La <strong>le</strong>xicographie du latin médiéval et ses<br />

rapports avec <strong>le</strong>s recherches actuel<strong>le</strong>s sur la civilisation du<br />

Moyen Âge (colloque international du CNRS n°589, Paris, 18-21<br />

octobre 1978), Paris, Ed du CNRS, 1981, p. 321-332.<br />

Com Clau<strong>de</strong> Brémond et Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt, L’ Exemplum ,<br />

Turnhout, Brépols, (col. «Typologie <strong>de</strong>s Sources du Moyen Âge<br />

occi<strong>de</strong>ntal», 40), 1982.<br />

« Philippe Auguste dans <strong>le</strong>s exempla », dans La France <strong>de</strong><br />

Philippe Auguste. Le temps <strong>de</strong>s mutations (actes du colloque<br />

international organisé par <strong>le</strong> CNRS, 29 septembre-4 octobre<br />

1980), Paris, Ed. du CNRS, 1982, p. 147-155.<br />

« Le temps <strong>de</strong> l’exemplum (XIIIe sièc<strong>le</strong>) », dans Le Temps<br />

chrétien <strong>de</strong> la fin <strong>de</strong> l’Antiquité au Moyen Âge, IIIe-XIIIe sièc<strong>le</strong>s<br />

(Actes du colloque international du CNRS n° 604, 9-12 mars<br />

1981), Paris, Ed. du CNRS, 1984, p. 553-556.<br />

« L’exemplum et la rhétorique <strong>de</strong> la prédication aux XIIIe et XIVe<br />

sièc<strong>le</strong>s », dans Retorica e Poetica tra i Secoli XII-XIVe (Actes du<br />

IIe colloque international <strong>de</strong> l’AMUL, Trento et Roverto, 3-5<br />

octobre 1985), Regione <strong>de</strong>ll’Umbria, La Nuova Italia éd., 1989, p.<br />

Clara Mendonça<br />

3-29.<br />

Préface à J. Berlioz et Marie Anne Polo <strong>de</strong> Beaulieu, Les<br />

exempla médiévaux. Nouvel<strong>le</strong>s perspectives, Paris, Honoré<br />

Champion, 1998, « Nouvel<strong>le</strong> Bibliothèque du Moyen Age , 47 »,<br />

464 p.<br />

Hérésies et sociétés dans l’Europe pré-industriel<strong>le</strong>, XIe-XVIIIe<br />

sièc<strong>le</strong>. Communications et débats du colloque <strong>de</strong> Royaumont,<br />

Paris, Mouton, (col. « Civilisations et sociétés » n° 10), 1968.<br />

Préface à Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt, Mort d’une hérésie. L’Eglise et<br />

<strong>le</strong>s c<strong>le</strong>rcs face aux béguines et aux béghards du Rhin supérieur<br />

du XIVe au XVe sièc<strong>le</strong>, Paris, Mouton, Eco<strong>le</strong> <strong>de</strong>s Hautes Etu<strong>de</strong>s<br />

en Sciences socia<strong>le</strong>s, 1978.<br />

« Rire au Moyen Âge », Cahiers du centre <strong>de</strong> recherches<br />

historiques, n° 3, avril, 1989, p. 1-14.<br />

« Ri<strong>de</strong>re o non ri<strong>de</strong>re », Storia e Dossier, anno IV, n° 35,<br />

décembre 1989, p. 18-23.<br />

« Culture savante et culture folklorique dans l’Occi<strong>de</strong>nt<br />

médiéval : une esquisse », Tradition et histoire dans la culture<br />

populaire, Documents d’ethnologie régiona<strong>le</strong>, n° 11, Grenob<strong>le</strong>,<br />

CARE, 1990, p. 299-306.<br />

« Le rire dans <strong>le</strong>s règ<strong>le</strong>s mo<strong>nas</strong>tiques du haut Moyen Âge »,<br />

Mélanges Pierre Riché. Haut Moyen Âge. Culture, éducation et<br />

société, Nanterre, Publidix, La Garenne-Colombes, Ed. Erasme,<br />

1990, p. 93-103.<br />

« Le rire entre la cour et la place publique », dans Pauvres et<br />

riches, société et culture du Moyen Âge aux Temps mo<strong>de</strong>rnes.<br />

Mélanges offerts à Bronislaw Geremek à l’occasion <strong>de</strong> son<br />

soixantième anniversaire, Varsovie, Wydawnictwo Naukowe<br />

PWN, 1991, p. 307-312.<br />

« Une enquête sur <strong>le</strong> rire », Anna<strong>le</strong>s. Histoire, sciences socia<strong>le</strong>s,<br />

n° 3, mai-juin 1997, p. 449-455.<br />

78


História das I<strong>de</strong>ias<br />

História <strong>de</strong>mográfica<br />

História económica e<br />

comercial<br />

Historiografia<br />

contemporânea<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

artigo 73<br />

artigo 74<br />

livro 75<br />

artigo 76<br />

artigo 77<br />

artigo 78<br />

artigo 79<br />

artigo 80<br />

artigo 81<br />

livro 82<br />

artigo 83<br />

artigo 84<br />

artigo 85<br />

artigo 86<br />

artigo 87<br />

Historiografia e<br />

metodologia direcção 88<br />

« Peut-on encore par<strong>le</strong>r d’une histoire <strong>de</strong>s idées aujourd’hui »<br />

dans Storia <strong>de</strong>l<strong>le</strong> i<strong>de</strong>e : prob<strong>le</strong>mi e prospettive, seminario<br />

internaziona<strong>le</strong>, Roma, 29-31 ottobre 1987 a cura di Massimo L.<br />

Bianchi, Rome, Ed. <strong>de</strong>ll’ Ateneo, 1989 (Lessico intel<strong>le</strong>tua<strong>le</strong><br />

europeo, 49) p. 69-85.<br />

Com Ruggiero Romano, « Paysages et peup<strong>le</strong>ment rural en<br />

Europe après <strong>le</strong> XIe sièc<strong>le</strong> », XIIe Congrès international <strong>de</strong>s<br />

sciences historiques, Vienne, 1965, Etu<strong>de</strong>s rura<strong>le</strong>s, 1966, p. 94-<br />

100.<br />

Marchands et banquiers du Moyen Âge, Paris, PUF, (col. « Que<br />

sais-je? », n° 699), 1956 ; 8ª ed. corrigida, 1993.<br />

« Questionnaire pour une enquête sur <strong>le</strong> sel dans l’histoire du<br />

XIVe au XVIe sièc<strong>le</strong> (em colaboração com P. Jeannin) », Revue<br />

du Nord, XXXVIII, Université <strong>de</strong> Lil<strong>le</strong>, 1956, p. 225-233.<br />

«Les archives <strong>de</strong>s monts-<strong>de</strong> piété et <strong>de</strong>s banques publiques<br />

d’Italie», Revue <strong>de</strong> la banque, I, 1957, p. 21-46.<br />

« Orientation <strong>de</strong> recherches sur la production et <strong>le</strong> commerce du<br />

sel en Méditerranée au Moyen Âge », Bul<strong>le</strong>tin philologique et<br />

historique (jusqu’en 1610) du comité <strong>de</strong>s travaux historiques et<br />

scientifiques, Paris, Ministére <strong>de</strong> l'Education nationa<strong>le</strong>, 1960, vol.<br />

I, p. 303-314.<br />

« Une enquête sur <strong>le</strong> sel dans l’histoire », Anna<strong>le</strong>s, E.S.C., XVI,<br />

1961, p. 959-961<br />

« Le sel dans <strong>le</strong>s relations internationa<strong>le</strong>s au Moyen Âge et à<br />

l’époque mo<strong>de</strong>rne » in Le rô<strong>le</strong> du sel dans l’histoire, Paris, PUF,<br />

1968, (Públications <strong>de</strong> la Faculté <strong>de</strong>s Lettres et Sciences<br />

humaines <strong>de</strong> Paris-Sorbonne, 37), p. 235-245.<br />

« Il tessitore nella società medieva<strong>le</strong> », Produzione, commercio e<br />

consumo <strong>de</strong>i panni di lana, atti <strong>de</strong>lla seconda settimana si studi<br />

(10-16 apri<strong>le</strong> 1970), Florence, Olschki, 1976, p. 7-18.<br />

La bourse et la vie. Economie et religion au Moyen Âge, Paris,<br />

Hachette, 1986 ; nova edição, 1997, (col. « Pluriel » n° 847).<br />

« Les retours dans l’historiographie contemporaine », Revista<br />

cultural <strong>de</strong>l IFAL, Mexico, 1995, p. 71-78.<br />

Le Moyen Âge aujourd’hui : trois regards contemporains sur <strong>le</strong><br />

Moyen Âge : histoire, théologie, cinéma : actes <strong>de</strong> la rencontre<br />

<strong>de</strong> Cerisy-la-Sal<strong>le</strong>, juil<strong>le</strong>t 1991 sous la direction <strong>de</strong> Jacques Le<br />

Goff et Guy Lobrichon, Paris, Le Léopard d’or, (Cahiers du<br />

Léopard d’or, 7), 1997.<br />

« Les retours dans l’historiographie française actuel<strong>le</strong> », Cahiers<br />

du Centre <strong>de</strong> Recherches historiques, 22, avril 1999, p. 9-19,<br />

« Réf<strong>le</strong>xions historiographiques ».<br />

« Le Moyen Âge entre <strong>le</strong> futur et l’avenir », XXe Sièc<strong>le</strong>, n° 1,<br />

1984, p. 15-22.<br />

« Les Anna<strong>le</strong>s et l’histoire <strong>de</strong> l’Italie médiéva<strong>le</strong> », Mélanges <strong>de</strong><br />

l’Eco<strong>le</strong> française <strong>de</strong> Rome, t. 93, 1981, 1, p. 349-360.<br />

Com Pierre Nora, Faire <strong>de</strong> l’histoire, 3 vols., Paris, Gallimard,<br />

1974 ; reed. 1986, col. « Folio Histoire » n.º 16-18<br />

Clara Mendonça<br />

79


Homenagens<br />

Imagem<br />

Interdisciplinarieda<strong>de</strong><br />

científica<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

artigo 89<br />

Dicionário e<br />

direcção<br />

90<br />

Com Pierre Toubert, « Une histoire tota<strong>le</strong> du Moyen Âge est-el<strong>le</strong><br />

possib<strong>le</strong> ? », Actes du 100e Congrès national <strong>de</strong>s sociétés<br />

savantes, Paris, 1975, section <strong>de</strong> philologie et d’histoire jusqu’à<br />

1610, tendance, perspectives et métho<strong>de</strong>s <strong>de</strong> l’histoire<br />

médiéva<strong>le</strong>, Paris, Bibliothèque nationa<strong>le</strong>, 1977, p. 31-44.<br />

Com Roger Chartier et Jacques Revel, La Nouvel<strong>le</strong> Histoire,<br />

Paris, Retz CEPL, 1978.<br />

livro 91 Intervista sulla storia, Bari, Laterza, 1982.<br />

artigo 92<br />

« After Anna<strong>le</strong>s : the Life as History », The Times Literary<br />

Supp<strong>le</strong>ment, n° 4, 489, 14-20 avril 1989.<br />

prefácio 93<br />

artigo 94<br />

artigo 95<br />

96<br />

artigo 97<br />

prefácio 98<br />

artigo 99<br />

artigo 100<br />

Préface à Marc Bloch, Apologie pour l’histoire ou <strong>le</strong> métier<br />

d’historien, Paris, A. Colin, 1993, (nouvel<strong>le</strong> éd.) 1997.<br />

Com Fernand Brau<strong>de</strong>l « Hommage à Ferdinant Lot » , Anna<strong>le</strong>s.<br />

E.S.C., septembre-octobre 1966, p. 1177-1186.<br />

«L’historien et l’homme quotidien» in Mélanges en l’honneur <strong>de</strong><br />

Fernand Brau<strong>de</strong>l. Méthodologie <strong>de</strong> l’histoire et <strong>de</strong>s sciences<br />

humaines : vol. 2, Toulouse, Privat, 1973, p. 227-243.<br />

« Ruggiero Romano au pays <strong>de</strong> l’histoire et <strong>de</strong>s sciences<br />

humaines ou <strong>le</strong> voyage au centre par tout l’intérieur », Revue<br />

européenne <strong>de</strong>s sciences socia<strong>le</strong>s (cahiers Vilfredo Pareto), t.<br />

XXI, n° 64, Genève, Droz, 1983, p. 191-199.<br />

« Witold Kula, historien <strong>de</strong>s mesures », Actes du colloque à la<br />

mémoire <strong>de</strong> Witold Kula, 1990, p. 171-178.<br />

Préface à Chiara Frugoni, François d’Assise : la vie d’un homme,<br />

Paris, Ed. Noesis, 1997.<br />

« The Moyen Age of Georges Duby (1919-1996) », The Medieval<br />

History Journal, 1, 1998, p. 3-24.<br />

« Il Medioevo di Georges Duby, Medioevo e oltre. Georges Duby<br />

e la storiografia <strong>de</strong>l nostro tempo », Bologna, CLUEB, (Itinerari<br />

medievali, 2), 1999, p. 11-31.<br />

prefácio 101<br />

Préface à Clau<strong>de</strong> Rivals, L’art et l’abeil<strong>le</strong>. Ruches décorées en<br />

Slovénie : essai d’iconologie, Varzy, Les Provincia<strong>de</strong>s, 1980.<br />

livro 102 Un Moyen Âge en Images, Paris, Hazan, 2000.<br />

prefácio 103<br />

artigo 104<br />

prefácio 105<br />

artigo 106<br />

artigo 107<br />

Préface à François <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, L'Occi<strong>de</strong>nt et l'Afrique, XIIIe-<br />

XVe sièc<strong>le</strong> : images et représentations. Paris, Karthala, Centre<br />

<strong>de</strong> recherches africaines, 1985.<br />

« Le roi, la Vierge et <strong>le</strong>s images : <strong>le</strong> manuscrit <strong>de</strong>s Cantigas <strong>de</strong><br />

Santa Maria d’Alphonse X <strong>de</strong> Castil<strong>le</strong> », dans Rituels. Mélanges<br />

offerts au Père Gy, sous la direction <strong>de</strong> Paul <strong>de</strong> C<strong>le</strong>rck et d’Eric<br />

Palazzo, Paris, Ed. du Cerf, 1990, p. 385-392.<br />

Préface à Françoise Clier-Colombani, Mélusine au Moyen Âge :<br />

Images, mythes et symbo<strong>le</strong>s, Paris, Le Léopard d’or, 1990.<br />

En collaboration avec J. Berlioz et Anita Guerreau-Jalabert,<br />

« Anthropologie et histoire », dans L'Histoire médiéva<strong>le</strong> en<br />

France. Bilan et perspectives, Paris, Seuil, 1991, spéc. p. 269-<br />

304.<br />

« Histoire médiéva<strong>le</strong> et histoire du droit : un dialogue diffici<strong>le</strong> » et<br />

« Repliche », dans Storia socia<strong>le</strong> e dimensione giuridica.<br />

Strumenti d’indagine e ipostese di lavoro, Milan, Dott. A. Giuffrré<br />

éd., 1986, p. 23-63, p. 449-453.<br />

Clara Mendonça<br />

80


Literatura<br />

Ludwig IX<br />

Manuais escolares<br />

Memória<br />

Mentalida<strong>de</strong>s<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

artigo 108<br />

artigo 109<br />

prefácio 110<br />

prefácio 111<br />

prefácio 112<br />

artigo 113<br />

artigo 114<br />

livro 115<br />

direcção 116<br />

livro 117<br />

artigo 118<br />

livro 119<br />

livro 120<br />

« Problèmes et ref<strong>le</strong>xions d’un médiéviste face à la théologie »,<br />

Revue <strong>de</strong> l’Institut catholique <strong>de</strong> Paris, octobre-décembre 1987,<br />

p. 69-78.<br />

« Introduction historique », Anne Berthelot et François Cornilliat,<br />

Littérature, Moyen Âge, XVIe sièc<strong>le</strong> : textes et documents, Paris,<br />

Nathan, 1988.<br />

Préface à Pierre-Marie Gy, La Liturgie dans l’histoire, Paris, Ed.<br />

Saint-Paul- Cerf, 1990.<br />

Préface à Philippe Buc, L’ambiguïté du livre : prince, pouvoir et<br />

peup<strong>le</strong> dans <strong>le</strong>s commentaires <strong>de</strong> la Bib<strong>le</strong> au Moyen Âge, Paris,<br />

Beauchesne, 1994.<br />

Préface à Alain Boureau, La Légen<strong>de</strong> dorée. Le système narratif<br />

<strong>de</strong> Jacques <strong>de</strong> Voragine (1298), Paris, Ed. du Cerf, 1984.<br />

« Ludwig IX und <strong>de</strong>r Ursprung <strong>de</strong>r feuda<strong>le</strong>n Monarchie in<br />

Frankreich », dans Jarhbuch für Geschichte <strong>de</strong>s Feudalismus,<br />

Berlin, Aka<strong>de</strong>mie Verlag, 1990, p. 107-114.<br />

« Ludwig IX, <strong>de</strong>r Heilige (1214-1270) », dans Theologische<br />

Rea<strong>le</strong>nzyklopädie, t. 21, 1991, p. 487-490.<br />

Le Moyen Âge, Paris, Bordas, 1962 ; há outra edição com o<br />

título Le Moyen Âge : 1060-1330, Paris, Bordas, (col. « L’Histoire<br />

universel<strong>le</strong> » n° 11), 1971.<br />

Com F . Beautier, J. Dupaquier, R. Froment, J. So<strong>le</strong>tchnik, Marc<br />

Vincent, Histoire, géographie : 5, nouveau programme, Paris,<br />

Bordas, 1978.<br />

Histoire et mémoire, Paris, Gallimard, col. « Folio Histoire » n°<br />

20, 1998, recolha <strong>de</strong> textos proce<strong>de</strong>ntes da obra original Storia e<br />

memoria.<br />

« Il peso <strong>de</strong>l passato nella coscienza col<strong>le</strong>ctiva <strong>de</strong>gli Itialini », in<br />

F. L. Cavazza et S. R. Graudbard (ed. ), Il aso italiano, Italia<br />

anni’70, Colloque international <strong>de</strong> Turin, 1973, Milan, Garzanti,<br />

1974, p. 534-552.<br />

Histoire et mémoire, Paris, Gallimard, col. « Folio Histoire » n°<br />

20, 1988, [recolha <strong>de</strong> textos proce<strong>de</strong>ntes da obra original Storia<br />

e memoria]<br />

(Entretiens avec Jean-Clau<strong>de</strong> POUTHIER) Le Dieu du Moyen<br />

Âge, Bayard, 2003.<br />

Clara Mendonça<br />

81


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

livro 121<br />

L’imaginaire médiéval. Essais, Paris, Gallimard, (col. «<br />

Bibliothèque <strong>de</strong>s Histoires »), 1985 ; nova edição, 1991.<br />

«Les mentalités : une histoire ambigue», in Faire <strong>de</strong> l’histoire :<br />

livro 122 nouveaux objets, Jacques Le Goff e Pierre Nora (dir.) vol.3,<br />

Paris, Gallimard, 1974, p.xx-xx<br />

Préface à Jacques Chiffo<strong>le</strong>au, La comptabilité <strong>de</strong> l’Au-<strong>de</strong>là : <strong>le</strong>s<br />

prefácio 123<br />

hommes, la mort et la religion dans la région d’Avignon à la fin<br />

du Moyen Âge, vers 1320-1480, Rome, Eco<strong>le</strong> française <strong>de</strong><br />

Rome, 1980.<br />

Com Belà Kopeczi, Objet et métho<strong>de</strong>s <strong>de</strong> l’histoire <strong>de</strong> la culture.<br />

Colloque franco- hongrois <strong>de</strong> Tihani, 10-14 octobre 1977,<br />

direcção 124 organisé par l’Eco<strong>le</strong> <strong>de</strong>s hautes étu<strong>de</strong>s en sciences socia<strong>le</strong>s et<br />

l’Académie <strong>de</strong>s sciences <strong>de</strong> Hongrie, Paris, CNRS, e Budapest,<br />

Aka<strong>de</strong>miai Kiado, 1982.<br />

artigo 125<br />

« Histoire <strong>de</strong>s sciences et histoire <strong>de</strong>s mentalités », Revue <strong>de</strong><br />

synthèse, n° 111-112, juil<strong>le</strong>t-décembre 1983, p. 407-415.<br />

« L’immaginario urbano nell’Italia medieva<strong>le</strong> (secoli V-XV) »,<br />

artigo 126 dans Storia d’Italia, Annali, 5, il paesaggio, Turin, Einaudi, 1982,<br />

p. 5-43.<br />

livro 127<br />

L’imaginaire médiéval. Essais, Paris, Gallimard, (col. «<br />

Bibliothèque <strong>de</strong>s Histoires »), 1985 ; nova edição, 1991.<br />

artigo 128<br />

« Les Limbes », Nouvel<strong>le</strong> Revue <strong>de</strong> psychanalyse, XXXIV,<br />

« L’Attente », automne 1986, p. 151-174.<br />

artigo 129 « La geografia <strong>de</strong>ll’aldilà », Storia e Dossier, n°5, 1987, p. 14-21.<br />

« Le merveil<strong>le</strong>ux scientifique au Moyen Âge », dans Zwischen<br />

artigo 130<br />

Wahn, Glaube und Wissenschaft. Magie, Astrologie, Alchemie<br />

und Wissenschaftsgeschichte, éd. J.-F. Bergier, Zurich, Verlag<br />

<strong>de</strong>r Fachvereine, 1988, p. 87-113.<br />

« L’immaginario in Wiligelmo », dans Wiligelmo e Lanfranco<br />

artigo 131 nell’Europa romanica (Actes du congrès <strong>de</strong> Modène, octobre<br />

1985), Modène, Panini, 1989, p.13-22.<br />

artigo 132<br />

« Un imaginaire religieux médiéval », dans Margit Gari, Le<br />

vinaigre et <strong>le</strong> fiel, nouv. éd., Paris, Plon, 1989, p. 469-482.<br />

« Ref<strong>le</strong>xions sur <strong>le</strong> merveil<strong>le</strong>ux en guise d’ouverture », dans<br />

artigo 133<br />

Démons et Merveil<strong>le</strong>s au Moyen Âge (Actes du IVe colloque<br />

international <strong>de</strong> Nice, mars 1987), Université <strong>de</strong> Nice, Sophia<br />

Antipolis, 1990, p. 7-21.<br />

« Le merveil<strong>le</strong>ux nordique médiéval », Pour Jean Malaurie, Cent<br />

artigo 134 <strong>de</strong>ux témoignages en hommage à quarante ans d’étu<strong>de</strong>s<br />

arctiques, Paris, Plon, 1990, p. 21-28.<br />

« Du ciel sur la terre : la mutation <strong>de</strong>s va<strong>le</strong>urs du XIIe au XIIIe<br />

artigo 135<br />

sièc<strong>le</strong> dans l’Occi<strong>de</strong>nt médiéval », dans Odysseus. Man in<br />

History, Anthropology history Today, Moscou, 1990, p. 25-47 (en<br />

russe).<br />

prefácio 136<br />

Préface à Carla Casagran<strong>de</strong> et Silvana Vecchio, Les Péchés <strong>de</strong><br />

la langue, Paris, Ed. du Cerf, 1991.<br />

prefácio 137<br />

Préface à Muriel Laharie, La folie au Moyen Âge, XIe-XIIIe<br />

sièc<strong>le</strong>s, Paris, Le Léopard d’or, 1991.<br />

artigo 138<br />

« Dio e Mammona », Etruria Oggi, anno X, n° 30, avril 1992, p.<br />

46-52.<br />

Préface à Jérôme Baschet, Les justices <strong>de</strong> l’Au-<strong>de</strong>là : <strong>le</strong>s<br />

prefácio 139 représentations <strong>de</strong> l’Enfer en France et en Italie, XIIe-XVe sièc<strong>le</strong>,<br />

Rome, Eco<strong>le</strong> française <strong>de</strong> Rome, 1993.<br />

prefácio 140<br />

Préface à Clau<strong>de</strong> Lecouteux, Mélusine et <strong>le</strong> Chevalier au cygne,<br />

Paris, Imago, 1997.<br />

Clara Mendonça<br />

82


Mentalida<strong>de</strong>s e<br />

imaginário. O<br />

purgatório<br />

Obras gerais<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

livro 141<br />

artigo 142<br />

livro 143<br />

livro 144<br />

livro 145<br />

artigo 146<br />

artigo 147<br />

artigo 148<br />

artigo 149<br />

artigo 150<br />

artigo 151<br />

apresentação 152<br />

apresentação 153<br />

artigo 154<br />

direcção 155<br />

direcção 156<br />

direcção 157<br />

Un autre Moyen Âge [Compilação <strong>de</strong> partes <strong>de</strong> : Pour un autre<br />

Moyen Âge, L’Occi<strong>de</strong>nt médiéval et <strong>le</strong> temps, L’imaginaire<br />

médiéval, La naissance du Purgatoire, Les limbes, La bourse et<br />

la vie, Le rire dans la société médiéva<strong>le</strong>], Paris,<br />

Gallimard,1999,1372 pp.<br />

« A propos du paradis terrestre dans la Divina Comédia », dans<br />

Ludovico Gatto e Paola Supino Martini (éd.), Studi sul<strong>le</strong> società e<br />

<strong>le</strong> culture <strong>de</strong>l Medioevo per Girolamo Arnaldi, Roma, Università<br />

<strong>de</strong>gli Studi di Roma « La Sapienza », 2002, t. I, p. 301-306.<br />

(Entretiens avec Jean-Clau<strong>de</strong> POUTHIER) Le Dieu du Moyen<br />

Âge, Bayard, 2003, 102 pp.<br />

Héros du Moyen Âge, Le Saint et <strong>le</strong> Roy. Paris: Gallimard,<br />

"Quarto", 1 344 pp,<br />

La naissance du Purgatoire, Paris, Gallimard(col. « Bibliothèque<br />

<strong>de</strong>s Histoires »), 1981 ; reed. (col. « Folio » n° 31), 1991 .<br />

« The Usurer and Purgatory », dans The Dawn of Mo<strong>de</strong>rn<br />

Banking (Center for Medieval Renaissance Studies, University of<br />

California, Los Ange<strong>le</strong>s), New Haven et Londres, 1979, p. 25-53.<br />

« Le Purgatoire entre l’Enfer et <strong>le</strong> Paradis », La Maison-Dieu,<br />

144, 1980, p. 103-138.<br />

« Discorso di chiusura » dans Settimane di studio <strong>de</strong>l Centro<br />

italiano di studi sull'alto medioevo, XXIX, Popoli e paesi nella<br />

cultura altomedieva<strong>le</strong>, Spo<strong>le</strong>to, 23-29 apri<strong>le</strong> 1981, Spolète, 1983,<br />

p. 807-838.<br />

« Deux Au-<strong>de</strong>là : Paradis et Enfer » dans <strong>le</strong> catalogue <strong>de</strong><br />

l’exposition « Art et Sciences », Il disegno <strong>de</strong>l mondo, Turin,<br />

1983.<br />

« Le temps du Purgatoire (IIIe-XIIIe sièc<strong>le</strong>) », dans Le Temps<br />

chrétien <strong>de</strong> la fin <strong>de</strong> l’Antiquité au Moyen Âge, IIIe-XIIIe sièc<strong>le</strong><br />

(Actes du colloque international du CNRS, n° 604, 9-12 mars<br />

1981), Paris, Ed. du CNRS, 1984, p. 517-530.<br />

Interview avec Henri-Pierre Jeudy, « Le Purgatoire comme<br />

espace négocié. Entretien avec Jacques Le Goff : négocier avec<br />

sa conscience, négocier avec Dieu », Autrement, série<br />

Mutations. Tout négocier : masques et vertiges <strong>de</strong>s compromis,<br />

1989, p. 124-135.<br />

Présentation <strong>de</strong> Eric J. Hobsbawn, Les primitifs <strong>de</strong> la révolte<br />

dans l’Europe mo<strong>de</strong>rne, Paris, Fayard, 1963 (L’Histoire sans<br />

frontières).<br />

Présentation (sauf préface) <strong>de</strong> Char<strong>le</strong>s-Victor Langlois, La vie en<br />

France au Moyen Âge <strong>de</strong> la fin du XIIe au milieu du XIVe sièc<strong>le</strong>,<br />

Paris, Genève, Slatkine, 1981, Reproduction en fac-sim. <strong>de</strong> l’éd.<br />

Paris, Hachette, 1926-1928.<br />

Avec Michel Lawers, « La civilisation occi<strong>de</strong>nta<strong>le</strong> », dans Histoire<br />

<strong>de</strong>s mœurs, t. III, Paris, Gallimard, Encyclopédie <strong>de</strong> la Pléia<strong>de</strong>,<br />

1991, p. 1123-1211.<br />

Com René Rémond, Histoire <strong>de</strong> la France religieuse, 4 vols.,<br />

vol.I, Des origines au XIVe sièc<strong>le</strong>, Paris, Seuil, (col. « L’Univers<br />

historique »), 1988.<br />

L’Etat et <strong>le</strong>s pouvoirs, vol. II <strong>de</strong> L’Histoire <strong>de</strong> la France, Paris,<br />

Seuil, 1989.<br />

Com Franco Cardini, Enrico Castelnuovo, Giovanni Cherubini,<br />

L’homme médiéval, Paris, Seuil, (col « l’Univers historique »),<br />

1989 (reed. [col. « Point Histoire » n°183], 1994).<br />

Clara Mendonça<br />

83


Or<strong>de</strong>ns mendicantes.<br />

Franciscanos e São<br />

Francisco <strong>de</strong> Assis<br />

São Luís e a<br />

Monarquia francesa<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

direcção 158<br />

direcção 159<br />

livro 160<br />

livro 161<br />

prefácio 162<br />

prefácio 163<br />

prefácio 164<br />

Com Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt, Dictionnaire raisonné <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt<br />

médiéval, Paris, Fayard, 1999, 1236 pp.<br />

Viva o Ano 1000! A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> da Ida<strong>de</strong> Média, Lisboa,<br />

Teorema, 2000.<br />

La civilisation <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt médiéval, Paris, Arthaud, (col. « Les<br />

gran<strong>de</strong>s civilisations » n° 3), 1964 ; nova edição, 1984.<br />

L’apogée <strong>de</strong> la Chrétienté : v. 1180-v. 1330, Paris, Bordas, col.<br />

« Voir l’histoire », 1982 ; nova edição, Le XIIIe sièc<strong>le</strong> : L’apogée<br />

<strong>de</strong> la Chrétienté, v 1180-v. 1330, 1994.<br />

Préface à Christopher Dawson, Le Moyen Âge et <strong>le</strong>s origines <strong>de</strong><br />

l’Europe <strong>de</strong>s invasions àl’an 1000, Paris, Arthaud, 1960<br />

Préface à Ju<strong>le</strong>s Miche<strong>le</strong>t, Œuvres complètes... 4, Histoire <strong>de</strong><br />

France, 1, Livres I-IV, Paris, Flammarion, 1974.<br />

Préface à Dominique Boutet et Arnaud Strubel, Littérature,<br />

politique et société dans la France du Moyen Âge, Paris,<br />

Presses universitaires <strong>de</strong> France, 1979.<br />

livro 166 Das Hochmittelalter, Franquefurt, 1965.<br />

artigo 165<br />

artigo 166<br />

artigo 167<br />

artigo 168<br />

artigo 169<br />

« Ordres mendiants et urbanisation dans la France Médiéva<strong>le</strong>.<br />

Etat <strong>de</strong> l’enquête », Anna<strong>le</strong>s. E.S.C., XXV, 1970, p. 924-946.<br />

« Les ordres Mendiants au Moyen Âge », L’Histoire, n° 22, avril<br />

1980, p. 44-51.<br />

« Franciscanisme et modè<strong>le</strong>s culturels du XIIIe sièc<strong>le</strong> », dans<br />

Francescanesmo e vita religiosa <strong>de</strong>i laici nel’200, atti <strong>de</strong>ll’VIII<br />

convegno <strong>de</strong>lla Sociétà internationa<strong>le</strong> di studi francescani,<br />

Assisi, 16-18 octobre 1980, 1981, p. 85-128.<br />

« Francisco <strong>de</strong> Asis entre la renovacion y el lastre <strong>de</strong>l mundo<br />

feudal », Concilium, n°169, novembre 1981, p. 303-315.<br />

« L’intel<strong>le</strong>ctualité dominicaine au Moyen Âge et sa relation au<br />

mon<strong>de</strong> <strong>de</strong> la vil<strong>le</strong> et <strong>de</strong> l’Université », dans Marie-Dominique<br />

Chenu : Moyen Âge et mo<strong>de</strong>rnité (colloque organisé par <strong>le</strong><br />

Département <strong>de</strong> la recherche <strong>de</strong> l’Institut catholique <strong>de</strong> Paris et<br />

<strong>le</strong> Centre d’étu<strong>de</strong> du Saulchoir à Paris, <strong>le</strong>s 28-29 octobre 1995),<br />

Paris, Centre d’étu<strong>de</strong> du Saulchoir, 1997, p. 57-66.<br />

artigo 170 « Saint-Louis a-t-il existé ? », L’Histoire, n°40, décembre 1981.<br />

artigo 171<br />

artigo 172<br />

artigo 173<br />

prefácio 174<br />

« Philippe Auguste dans <strong>le</strong>s exempla », dans La France <strong>de</strong><br />

Philippe Auguste. Le temps <strong>de</strong>s mutations (actes du colloque<br />

international organisé par <strong>le</strong> CNRS, 29 septembre-4 octobre<br />

1980), Paris, Ed. du CNRS, 1982, p. 147-155.<br />

« Saint Louis et <strong>le</strong>s corps royaux », Le Temps <strong>de</strong> la réf<strong>le</strong>xion, III,<br />

1982, p. 255-284.<br />

« Les gestes <strong>de</strong> saint Louis, approche d’un modè<strong>le</strong> et d’une<br />

personnalité », Clio et son temps. Mélanges Jacques Stiennon,<br />

Liège, 1982, p. 445-459.<br />

Préface à Marc Bloch, Les Rois thaumaturges, nouvel<strong>le</strong> éd.,<br />

Paris, Gallimard, 1983<br />

Clara Mendonça<br />

84


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

artigo 175<br />

artigo 176<br />

artigo 177<br />

prefácio 178<br />

artigo 179<br />

artigo 180<br />

artigo 181<br />

artigo 182<br />

artigo 183<br />

artigo 184<br />

artigo 185<br />

artigo 186<br />

artigo 187<br />

artigo 188<br />

artigo 189<br />

artigo 190<br />

artigo 191<br />

artigo 192<br />

prefácio 193<br />

« Saint <strong>de</strong> l’Eglise et saint du peup<strong>le</strong> : <strong>le</strong>s mirac<strong>le</strong>s officiels <strong>de</strong><br />

saint Louis entre sa mort et sa canonisation (1270-1297) »,<br />

Histoire socia<strong>le</strong>, sensibilités col<strong>le</strong>ctives et mentalités. Mélanges<br />

Robert Mandrou, Paris, Picard, 1985, p. 157-167.<br />

« Royauté biblique et idéal monarchique médiéval : saint Louis et<br />

Josias » dans Les Juifs au regard <strong>de</strong> l’histoire. Mélanges<br />

Bernhard Blumenkranz, Paris, Picard, 1985, p. 157-167.<br />

« Portrait du roi idéal », L’Histoire, n° 81, septembre 1985, p. 70-<br />

76.<br />

Préface à Françoise Gasparri, La principauté d’Orange au<br />

Moyen Âge : fin XIIIe-XVe sièc<strong>le</strong>s, Paris, Le Léopard d’or, 1985.<br />

« Saint Louis, croisé idéal ? », Notre histoire, n°20, février 1986,<br />

numéro spécial, « Les Croisa<strong>de</strong>s », p. 42-47.<br />

« Le mirac<strong>le</strong> royal », dans Actes du colloque <strong>de</strong> Paris pour <strong>le</strong><br />

centenaire <strong>de</strong> la naissance <strong>de</strong> Marc Bloch, Paris, 1986.<br />

« Reims, la mémoire du sacre », L’Histoire, n° 96, janvier 1987,<br />

p. 106-111.<br />

« Reims, vil<strong>le</strong> du sacre », dans Pierre Nora (éd.), Les lieux <strong>de</strong><br />

mémoire, t. II, La nation, vol.1, Paris, (Bibliothèque <strong>de</strong>s<br />

Histoires), 1986, p. 89-184.<br />

« Le dossier <strong>de</strong> sainteté <strong>de</strong> Philippe Auguste », L’Histoire, n°<br />

100, mai 1987, p. 22-29.<br />

« Saint Louis et la prière », dans Horizons marins, itinéraires<br />

spirituels (Ve-XVIIIe s.), vol. 1, Mentalités et Sociétés, Mélanges<br />

Michel Mollat (Etu<strong>de</strong>s réunies par Henri Dubois, Jean-Clau<strong>de</strong><br />

Hocquet, André Vauchez), Paris, Publications <strong>de</strong> la Sorbonne,<br />

1987, p. 85-94.<br />

« Un roi-souffrant : saint Louis », La souffrance au Moyen Âge<br />

(France XIIe-XVe s.), Les Cahiers <strong>de</strong> Varsovie, Ed. <strong>de</strong><br />

l’Université <strong>de</strong> Varsovie, 1988, p. 51-72.<br />

« Le mal royal au Moyen Âge : du roi mala<strong>de</strong> au roi guérisseur »,<br />

Médiaevistik, 1, Salzbourg, 1988, p.101-109.<br />

« Saint Louis et la paro<strong>le</strong> roya<strong>le</strong> », dans Le Nombre du temps.<br />

En hommage à Paul Zumthor, Paris, Champion, 1988, p. 127-<br />

136.<br />

« Head or Heart ? The Political Use of Body Metaphors in the<br />

Midd<strong>le</strong> Ages », dans Michel Fecher (éd.), Fragments for a<br />

History of the Human Body, 3e partie, vol. 5, New York, Zone,<br />

1989, p. 12-27.<br />

« The Whys and Ways of Writing a Biography : the Case of saint<br />

Louis », Exemplaria, a Journal of Theory in Medieval and<br />

Renaissance Studies, 1, mars 1989, p. 207-225.<br />

« Saint Louis and the Mediterranean », Mediterranean Historical<br />

Review, vol. 5, n°1, juin 1990, Londres, Frank Cass, p. 21-43.<br />

« A Coronation Program for the Age of saint Louis », dans Janos<br />

M. Back (éd.), Coronations. Medieval and Early Mo<strong>de</strong>rn<br />

Monarchic Rituel (Actes du congrès <strong>de</strong> Toronto), University of<br />

California Press, 1990.<br />

« La sainteté <strong>de</strong> saint Louis. Sa place dans la typologie et<br />

l’évolution chronologique <strong>de</strong>s rois saints », dans Les fonctions<br />

<strong>de</strong>s saints dans <strong>le</strong> mon<strong>de</strong> occi<strong>de</strong>ntal (IIIe-XIIIe sièc<strong>le</strong>) (Actes du<br />

colloque <strong>de</strong> l’Eco<strong>le</strong> française <strong>de</strong> Rome, Rome, 27-29 octobre<br />

1988), Rome, Eco<strong>le</strong> Française <strong>de</strong> Rome, 1991, p. 285-293.<br />

Préface à John Baldwin, Philippe Auguste et son gouvernement,<br />

Paris, Fayard, 1991.<br />

Clara Mendonça<br />

85


Trabalho e<br />

Universida<strong>de</strong>s<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

artigo 194<br />

artigo 195<br />

artigo 196<br />

artigo 197<br />

livro 198<br />

artigo 199<br />

artigo 200<br />

livro 201<br />

livro 202<br />

artigo 203<br />

artigo 204<br />

artigo 205<br />

artigo 206<br />

artigo 207<br />

artigo 208<br />

artigo 209<br />

artigo 210<br />

« Saint Louis à tab<strong>le</strong> : entre commensalité roya<strong>le</strong> et humilité<br />

alimentaire », dans La Sociabilité à tab<strong>le</strong>. Commensalité et<br />

convivialité à travers <strong>le</strong>s âges (Actes du colloque <strong>de</strong><br />

Rouen,1990), Rouen, 1992, p. 132-144.<br />

« Aspects religieux et sacrés <strong>de</strong> la monarchie française du Xe au<br />

XIIIe sièc<strong>le</strong> », dans Alain Boureau et Clau<strong>de</strong> S. Ingerflom (éd.),<br />

La Royauté sacrée dans <strong>le</strong> mon<strong>de</strong> chrétien, Paris, Ed, <strong>de</strong><br />

l’EHESS, 1992, p. 19-28.<br />

« Saint Louis et la mer », dans L’uomo et il mare nella civiltà<br />

occi<strong>de</strong>nta<strong>le</strong> : da Ulisse a Cristoforo Colombo (Actes du colloque<br />

<strong>de</strong> Gênes, 1er- 4 juin 1992), Gênes, 1992, p. 13-24.<br />

« Saint Louis et la pratique sacramentel<strong>le</strong> », La Maison-Dieu,<br />

197, 1994, p. 99-124.<br />

Saint Louis, Paris, Gallimard, (col. « Bibliothèque <strong>de</strong>s<br />

Histoires »), 1996.<br />

« Saint Louis », Revue <strong>de</strong>s sciences religieuses, n° 3, juil<strong>le</strong>t<br />

1997, p. 338-344.<br />

« Saint Louis et <strong>le</strong>s juifs », Le brû<strong>le</strong>ment du Talmud à Paris,<br />

1242-1244, Paris, Cerf, 1999, p. 39-46.<br />

Les intel<strong>le</strong>ctuels au Moyen Âge, Paris, Seuil, (col. « Le Temps<br />

qui court » n° 3), 1957 ; reed.[col. « Point Histoire » n° 78], 1985.<br />

Pour un autre Moyen Âge. Temps, travail et culture en Occi<strong>de</strong>nt,<br />

Paris, Gallimard, (col. « Bibliothèque <strong>de</strong>s Histoires »), 1977;<br />

reed. (col. « Tel » n° 181), 1991.<br />

« La conception française <strong>de</strong> l’Université à l’époque <strong>de</strong> la<br />

Renaissance », Les Universités européennes du XIVe au XVIIIe<br />

sièc<strong>le</strong>. Aspect et problèmes. Actes du colloque international <strong>de</strong><br />

Cracovie, 1964, Genève, 1967, p. 94-100.<br />

« Un étudiant tchèque à l’Université <strong>de</strong> Paris au XIVe sièc<strong>le</strong> »,<br />

Revue <strong>de</strong>s étu<strong>de</strong>s slaves, t. 24, 1948, p. 143-170.<br />

« Les universités du Languedoc dans <strong>le</strong> mouvement universitaire<br />

européen au XIIIe sièc<strong>le</strong> », Cahiers <strong>de</strong> Fanjeaux, V, 1970, p.<br />

316-328.<br />

« Travail, techniques et artisans dans <strong>le</strong>s systèmes <strong>de</strong> va<strong>le</strong>urs<br />

du haut Moyen Âge (Ve-Xe sièc<strong>le</strong>) », in Artigiano e tecnica nella<br />

Società <strong>de</strong>ll’alto Medioevo occi<strong>de</strong>nta<strong>le</strong>, Settimane di studio <strong>de</strong>l<br />

centro itliano di studi sull’alto Medioevo, XVIII, Spolète, 1970, p.<br />

Clara Mendonça<br />

239-266.<br />

« Les métiers et l’organisation du travail dans la France<br />

médiéva<strong>le</strong> », in La France et <strong>le</strong>s Français, ed. Michel François,<br />

Paris, Gallimard, col. «Encyclopédie <strong>de</strong> la Pléia<strong>de</strong>», 1972, p.<br />

296-347.<br />

« Universités et courants humanistes : rapport introductif » dans<br />

Genèse et débuts du Grand Schisme d’Occi<strong>de</strong>nt (1362-1394),<br />

Avignon, 25-28 septembre 1978, colloques internationaux du<br />

CNRS n° 586, Paris, Ed. du CNRS, 1980, p. 163-174.<br />

« Contacts et non-contacts dans l’Occi<strong>de</strong>nt médiéval », dans<br />

Culture et travail intel<strong>le</strong>ctuel dans l’Occi<strong>de</strong>nt médiéval : bilan <strong>de</strong>s<br />

« colloques d’humanisme médiéval » (1960-1980) fondés par <strong>le</strong><br />

R. P. Hubert, publié par Geneviève Hasenohr et Jean Longère,<br />

Paris, Ed. du CNRS, 1981, p. 61-79.<br />

« Al<strong>le</strong> origini <strong>de</strong>l lavoro intel<strong>le</strong>ctua<strong>le</strong> in Italia », dans Litteratura<br />

Italiana, Einaudi, vol. II, Letterato e <strong>le</strong> istituzioni, Turin, 1982, p.<br />

649-679.<br />

86


Vária<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

direcção 211<br />

artigo 212<br />

artigo 213<br />

artigo 214<br />

artigo 215<br />

artigo 216<br />

artigo 217<br />

artigo 218<br />

artigo 219<br />

prefácio 220<br />

prefácio 221<br />

artigo 222<br />

prefácio 223<br />

prefácio 224<br />

artigo 225<br />

artigo 226<br />

artigo 227<br />

prefácio 228<br />

prefácio 229<br />

Com Belà Kopeczi, Intel<strong>le</strong>ctuels français, intel<strong>le</strong>ctuels hongrois :<br />

XIIe-XXe sièc<strong>le</strong> : actes du colloque franco-hongrois d’histoire<br />

socia<strong>le</strong> à Matrafured, 1980, Paris, Ed. du CNRS, Budapest,<br />

Aka<strong>de</strong>miai Kiado, 1985.<br />

« Le Travail au Moyen Âge », Cahiers <strong>de</strong> l’Eco<strong>le</strong> <strong>de</strong>s sciences<br />

philosophiques et religieuses, 6, Bruxel<strong>le</strong>s, 1989, p. 99-128.<br />

« Le travail dans <strong>le</strong>s systèmes <strong>de</strong> va<strong>le</strong>urs <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt<br />

médiéval », dans Le Travail au Moyen Âge. Une approche<br />

interdisciplinaire. Actes du colloque international <strong>de</strong> Louvain-la-<br />

Neuve, 21-23 mai 1987, Louvain-la-Neuve, Institut d’étu<strong>de</strong>s<br />

médiéva<strong>le</strong>s <strong>de</strong> l’Université catholique <strong>de</strong> Louvain, 1990, p. 7-21,<br />

et « Discours <strong>de</strong> clôture », p. 413-424.<br />

« Introduzione » in Le università <strong>de</strong>ll’Europa : la <strong>nas</strong>cita <strong>de</strong>l<strong>le</strong><br />

università a cura di Gian Paolo Brizzi, Jacques Verger, Cinisello<br />

Balsamo, Silvana, 1990, p. 5-7.<br />

« Pourquoi <strong>le</strong> XIIIe sièc<strong>le</strong> a-t-il été plus particulièrement un sièc<strong>le</strong><br />

d’encyclopédisme ? » , dans L’enciclopedismo medieva<strong>le</strong>,<br />

Ravenne, A. Longo editore, 1994, p. 23-40.<br />

« Vita et pre-exemplum dans <strong>le</strong> <strong>de</strong>uxième livre <strong>de</strong>s Dialogues <strong>de</strong><br />

Grégoire Le Grand », Hagiographie. Culture et sociétés, IVe-XIIe<br />

sièc<strong>le</strong>, Paris, Ed. Augustiniennes, 1981, p. 105-120.<br />

« Temps et société chrétienne au Moyen Âge », Temps libre, 3,<br />

automne 1981, p. 111-116.<br />

« Pourquoi au XXe sièc<strong>le</strong> ne construisons-nous plus <strong>de</strong><br />

cathédra<strong>le</strong>s ? », Le temps stratégique, n° 6, automne 1983,<br />

Genève, p. 105-111.<br />

« Two Retrospective Surveys marking our Hundreath Issue, II<br />

Later Histoire », Past and Present, n° 100, 1983, p. 14-28.<br />

Préface à Perrine Mane, Ca<strong>le</strong>ndriers et techniques agrico<strong>le</strong>s<br />

(France-Italie, XIIe-XIIIe s.), Paris, Ed. du Sycomore, 1983.<br />

Préface à Roberto Zapperi, L’Homme enceint, Paris, P.U.F.,<br />

1983.<br />

« Ist <strong>de</strong>r historiche Roman im 12. Jahrhun<strong>de</strong>rt entstan<strong>de</strong>n ? »,<br />

dans Der altfranzösische Höfische Roman, Darmstat,<br />

Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1978, p. 39-49.<br />

Préface à Geneviève Bollème, Le peup<strong>le</strong> par écrit, Paris, Ed. du<br />

Seuil, 1986.<br />

Préface à Aelius Aristi<strong>de</strong>, Paris, Discours sacrés : rêve, religion,<br />

mé<strong>de</strong>cine au IIe sièc<strong>le</strong> après Jésus-Christ Macula, 1986<br />

(Propylées).<br />

« Time : the splintered continuum », Seminar on New History,<br />

Indiana Intenational Center Quaterly, février 1988, p. 1-14.<br />

« Frantisek Graus et la crise du XIVe sièc<strong>le</strong> : <strong>le</strong>s structures et <strong>le</strong><br />

hasard », Mélanges Frantisek Graus, Son<strong>de</strong>rdruck aus Band 90<br />

<strong>de</strong>r « Bas<strong>le</strong>r Zeitscrift für Geschichte und Altertumskun<strong>de</strong> »,<br />

1990, p. 22-33.<br />

En collaboration avec M. Hadas-Lebel, « A propos <strong>de</strong> Flavius<br />

Josèphe », Commentaire, 50, été 1990, p. 383-390.<br />

Préface à Max Weber, L’éthique protestante et l’esprit du<br />

capitalisme,Paris, France Loisirs, (La bibliothèque du XXe<br />

sièc<strong>le</strong>), 1990.<br />

Préface à A l’Est, la mémoire retrouvée, Paris, La Découverte,<br />

1990.<br />

Clara Mendonça<br />

87


Outros sobre Le Goff<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

prefácio 230<br />

prefácio 231<br />

artigo 232<br />

prefácio 233<br />

artigo 234<br />

artigo 235<br />

direcção 236<br />

artigo 237<br />

artigo 1<br />

livro 2<br />

livro 3<br />

artigo 4<br />

livro 5<br />

Préface à Art FMR sous la direction <strong>de</strong> Franco Maria Ricci, 03,<br />

VIe-Xe sièc<strong>le</strong>s, 01, t.1, Milan, FM Ricci, 1991.<br />

Préface à Roland Bechmann, Villard <strong>de</strong> Honnecourt : la pensée<br />

technique au XIIIe sièc<strong>le</strong> et sa communication, Paris, Picard,<br />

1991, nouv. éd. revue et augmentée, 1993 (Les monuments <strong>de</strong><br />

la France gothique).<br />

« Europa vroeger, nu en straks. Een wereld<strong>de</strong>el tussen<br />

mid<strong>de</strong><strong>le</strong>uwen en orgen », Rijkdom in verschei<strong>de</strong>nheid, 1892-<br />

1992, Pelckmans, 1992, p. 9-38.<br />

Préface <strong>de</strong> « Un manuel d’histoire sous la Restauration », dans<br />

De Russie et d’ail<strong>le</strong>urs : feux croisés sur l’histoire. Pour Marc<br />

Ferro, textes recueillis et édités par Martine Go<strong>de</strong>t, Paris, Institut<br />

d’étu<strong>de</strong>s slaves, 1995, p. 551-563.<br />

Avec Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt, « L’histoire médiéva<strong>le</strong> », Cahiers <strong>de</strong><br />

civilisation médiéva<strong>le</strong>, Xe-XIIe sièc<strong>le</strong> : la recherche sur <strong>le</strong> Moyen<br />

Âge à l’aube du XXIe sièc<strong>le</strong>, 39, Poitiers, Centre d’étu<strong>de</strong>s<br />

supérieures <strong>de</strong> civilisation médiéva<strong>le</strong>, janvier-juin 1996, p. 9-25,<br />

et « Mise au point. Réponse <strong>de</strong> Jacques <strong>le</strong> Goff et <strong>de</strong> Jean-<br />

Clau<strong>de</strong> Schmitt aux "Inquiétu<strong>de</strong>s" <strong>de</strong> Dominique Barthé<strong>le</strong>my »,<br />

Cahiers <strong>de</strong> civilisation médiéva<strong>le</strong>, 39, octobre-décembre 1996, p.<br />

361-363.<br />

Préface à Bartolome Clavero Salvador, La grâce du don :<br />

anthropologie catholique <strong>de</strong> l’économie mo<strong>de</strong>rne, Paris, A.<br />

Michel, (L’évolution <strong>de</strong> l’Humanité), 1996.<br />

Com Dominique Simmonet, La plus bel<strong>le</strong> histoire <strong>de</strong> l'amour,<br />

Paris, Seuil, 2003.<br />

Avec Jean–Clau<strong>de</strong> Schmitt, « Au XIIIe sièc<strong>le</strong> : une paro<strong>le</strong><br />

nouvel<strong>le</strong> », dans Jean Delumeau (éd.), Histoire vécue du peup<strong>le</strong><br />

chrétien, Toulouse, Privat, t. I, 1979, p. 257-279.<br />

CARBONELL, Char<strong>le</strong>s-Olivier - «Le Goff: "L'historien et l'homme<br />

quotidien" (1972)». In Les Sciences historiques: <strong>de</strong> l'antiquité à<br />

nos jours, Char<strong>le</strong>s Olivier Carbonell (dir.). S/L: Larousse, 1994,<br />

pp. 287-295.<br />

The Work of Jacques Le Goff and the Chal<strong>le</strong>nges of Medieval<br />

History , Ed. by Miri Rubin, Woodbridge, Boy<strong>de</strong>ll Press, 1997,<br />

272 pp.<br />

L´Ogre historien : autour <strong>de</strong> Jacques <strong>le</strong> Goff, Éd. De Jean-<br />

Clau<strong>de</strong> Schmitt et Jacques Revel,Paris, Gallimard, 1998, 353 pp.<br />

«Jacques Le Goff», in Les historiens, Veronique Sa<strong>le</strong>s (dir.),<br />

Paris, Armand Colin, col. « Sociologie et Antropologie », 2003,<br />

pp. 251-266.<br />

ROMAGNOLI, Daniela – Il medioevo europeu di Jacques Le<br />

Goff. Milão: Silvana Editoria<strong>le</strong>, 2003.<br />

Clara Mendonça<br />

88


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

NOTA: Há <strong>obras</strong> que se repetem em dois temas. Por exemplo: Saint Louis. Paris: Gallimard, (col. « Bibliothèque <strong>de</strong>s<br />

Histoires »), 1996, é um título que aparece no tema "São Luís e a monarquia francesa" e também no das<br />

"Biografias". Como tal o número que prece<strong>de</strong> o tipo <strong>de</strong> publicação é um mero indicativo. O total real dos títulos do<br />

autor publicados é o seguinte:<br />

Artigos = 147<br />

Livros = 23<br />

Apresentações e prefácios = 45<br />

Direcção = 19<br />

TOTAL = 234 (+ 3 no prelo)<br />

FONTE:http://www.ehess.fr/gahom/LeGoffbiblio.htm<br />

Clara Mendonça<br />

89


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

2. Os seus principais colaboradores : o exemplo do "Dictionnaire raisonné <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt<br />

médiéval “<br />

n.º Nome Instituição Título do artigo<br />

1 Aaron GOUREVITCH CNRS Individu<br />

2<br />

Agostino PARAVICINI<br />

BAGLIANI<br />

CNRS Âges <strong>de</strong> la vie<br />

3 Alain GUERREAU CNRS Chasse; féodalité<br />

4 A<strong>le</strong>xan<strong>de</strong>r MURRAY CNRS Raison<br />

5 André VAUCHEZ CNRS Mirac<strong>le</strong><br />

6<br />

Anita GUERREAU-<br />

JALABERT<br />

CNRS Parenté<br />

7 Bernard GUENÉE CNRS Cour; Histoire<br />

8 Bernhard TOPFER CNRS Eschatologie et millénarisme<br />

9<br />

Christiane KLAPICH-<br />

ZUBER<br />

CNRS Masculin/féminin<br />

10 Clau<strong>de</strong> GAUVARD CNRS Justice et paix; vio<strong>le</strong>nce<br />

11<br />

Daniel<strong>le</strong> RÉGNIER<br />

BOHLER<br />

CNRS Amour courtois<br />

12 Dominique IOGNA-PRAT CNRS Ordre(s)<br />

13 Guy LOBRICHON CNRS Bib<strong>le</strong><br />

14 Hanna ZAREMSKA CNRS Marginaux<br />

15 Hélène MILLET CNRS Assemblées<br />

16 Jacques BERLIOZ CNRS Fléaux<br />

17 Jacques ROSSIAUD CNRS Sexualité<br />

18 Jacques VERGER CNRS Université<br />

19 Jean FLORI CNRS<br />

Cheva<strong>le</strong>rie; Jérusa<strong>le</strong>m et <strong>le</strong>s<br />

croisa<strong>de</strong>s<br />

20 Jean -Michel MEHL CNRS Jeu<br />

21 Jean-Clau<strong>de</strong> SCHMITT CNRS<br />

C<strong>le</strong>rcs et laics; corps et âme; Dieu;<br />

images; rites; sorcel<strong>le</strong>rie<br />

22 Jean-Marie PESEZ CNRS Château<br />

23 Jean-Philippe GENET CNRS État<br />

24 John NORTH CNRS Univers<br />

25 Léopold GÉNICOT CNRS Nob<strong>le</strong>sse<br />

26 Lester LITTLE CNRS Moines et religieux<br />

27<br />

Marie- Christine<br />

POUCHELLE<br />

CNRS Mé<strong>de</strong>cine<br />

28<br />

Marie-Anne POLO DE<br />

BEAULIEU<br />

CNRS Prédication<br />

29 Mario SANFILIPPO CNRS Rome<br />

30 Massimo MONTANARI CNRS Alimentation<br />

31 Maurice KRIEGEL CNRS Juifs<br />

32 Michel PARISSE CNRS Empire<br />

33 Michel PASTOUREAU CNRS Symbo<strong>le</strong><br />

34 Michel SOT CNRS Pè<strong>le</strong>rinage<br />

35 Michel ZINK CNRS Littérature(s)<br />

36 MichelLAUWERS CNRS Mort(s)<br />

37 Monique ZERNER CNRS Hérésie<br />

38 Otto Gerhard OEXLE CNRS Guil<strong>de</strong><br />

39 Patrick GEARY CNRS Mémoire<br />

40 Pierre GUICHARD CNRS Islam<br />

41 Pierre MONNET CNRS Marchands<br />

42 PIPONNIER CNRS Quotidien<br />

43 Robert FOSSIER CNRS Terre<br />

44 Silvana VECCHIO CNRS Péché<br />

45 Tullio GREGORY CNRS Nature<br />

46<br />

Alain ERLANDE-<br />

BRANDENBURG<br />

É Chartes Cathédra<strong>le</strong><br />

Clara Mendonça<br />

Contagens e<br />

percentagens<br />

90<br />

CNRS = 45 = 67,2%<br />

Éco<strong>le</strong> <strong>de</strong>s Chartes =<br />

1 = 1,5%


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

47 Alain BOURREAU Ehess Foi<br />

48 Guy BEAUJOUAN Ehess Nombres<br />

49 Jêrome BASCHET Ehess Diab<strong>le</strong><br />

50 Philippe BRAUNSTEIN Ehess Artisans<br />

51 Jacques CHIFFOLEAU U Avinhão Droit(s)<br />

52 Jean BATANY U Avinhão Écrit/oral<br />

53 Franco CARDINI U Florença Guerre et croisa<strong>de</strong><br />

Clara Mendonça<br />

Ehess = 4 = 5,9%<br />

91<br />

U Avinhão = 2 = 3%<br />

U Florença = 1 =<br />

1,5%<br />

54 Thomas N BISSON U Harvard Monnaie U Harvard= 1 = 1,5%<br />

55 Christian AMALVI U Monpellier III Moyen Âge<br />

U Monpellier III= 1 =<br />

1,5%<br />

56 Philippe FAURE U Orléans Anges U Or<strong>le</strong>ans = 1 = 1,5%<br />

57 Alistair CROMBIE<br />

U Oxford, Trinity<br />

col<strong>le</strong>ge<br />

58 Michel BALARD U Paris I<br />

Univers U Oxford = 1 = 1,5%<br />

Byzance et l'Occi<strong>de</strong>nt; Byzance vue<br />

<strong>de</strong> l'Occi<strong>de</strong>nt<br />

59 Robert DELORT U Paris VIII Animaux<br />

U Paris I = 1 = 1,5%<br />

U Paris VIII = 1 =<br />

1,5%<br />

60 Henri BRESC U Paris X Mer U Paris X = 1 = 1,5%<br />

61<br />

Dominique<br />

BARTHÉLEMY<br />

U Paris XII Seigneurie<br />

U Paris XII = 1 =<br />

1,5%<br />

62<br />

63<br />

Clara CASAGRANDE<br />

Franco ALESSIO<br />

U Pavia<br />

U Pavia<br />

Péché<br />

Scolastique<br />

U Pavia = 2 = 3%<br />

64 Girolamo ARNALDI<br />

65 Sofia BOESCH GAJANO<br />

U Roma<br />

U Roma<br />

Église et papauté<br />

Sainteté<br />

U Roma = 2 = 3%<br />

66 Alain DUCELLIER U Toulouse II Byzance vue <strong>de</strong> l'Occi<strong>de</strong>nt U Toulouse II = 2 =<br />

67 Pierre BONNASSIE U Toulouse II Liberté et servitu<strong>de</strong><br />

3%<br />

França = 68,7% = 11<br />

Itália = 18,8% = 3<br />

Eua = 6, 3 % = 1<br />

Inglaterra = 6, 3 % = 1


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

3. Cronologia comparada: a vida pessoal e profissional <strong>de</strong> Le Goff 159 , a sua<br />

produção escrita 160 e as principais datas da construção da Comunida<strong>de</strong><br />

Europeia 161 .<br />

O objectivo <strong>de</strong>sta cronologia comparada é ver <strong>de</strong> que forma se relacionaram, em<br />

estímulo <strong>de</strong> acontecimento – resposta historiográfica, os domínios da vida pessoal <strong>de</strong> Le<br />

Goff e das principais datas da construção da Comunida<strong>de</strong> Europeia.<br />

Será que os feitos comunitários e europeus lato sensu interferem na escrita da História <strong>de</strong><br />

Le Goff? A sua produção escrita encontra espelho em relação à sua vida familiar e<br />

académica?<br />

Como já se explicou em capítulos anteriores, por certo que, houve ligações <strong>de</strong><br />

acontecimentos que tiveram uma(s) resposta(s), sob a forma <strong>de</strong> livro ou <strong>de</strong> artigo, pela parte<br />

do autor. A vantagem <strong>de</strong>ste friso cronológico é ver-se <strong>de</strong> forma esquemática e prática o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa interacção.<br />

159<br />

A recolha <strong>de</strong>stes e<strong>le</strong>mentos fez-se sobretudo nos artigos: LE GOFF, Jacques - « L’appétit <strong>de</strong> l’Histoire ». In<br />

«Essais d’Ego-histoire», édité par Pierre Nora. Paris : Gallimard, (Bibliothèque <strong>de</strong>s Histoires), 1987, p. 173-239.<br />

LE GOFF, Jacques - «História – Uma paixão». In «A Nova História», Emmanuel Le Roy Ladurie, Georges<br />

Duby, Jacques Le Goff et al. Lisboa: Ed. 70, 1989. «Jacques Le Goff». In «Les historiens», Veronique Sa<strong>le</strong>s<br />

(dir.). Paris : Armand Colin, col. « Sociologie et Antropologie », 2003, pp. 251-266. E no livro: «L´Ogre<br />

historien : autour <strong>de</strong> Jacques <strong>le</strong> Goff», Éd. De Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt et Jacques Revel. Paris : Gallimard : 1998.<br />

160<br />

A bibliografia enunciada não cobre a totalida<strong>de</strong> das <strong>obras</strong> do autor. Para isso veja-se o capítulo “Bibliografia<br />

temática”.<br />

161<br />

Estas datas foram recolhidas no site da Comissão Europeia: www. <strong>europa</strong>. eu.int/comm/publications, em 24<br />

<strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2004.<br />

Clara Mendonça<br />

92


Anos <strong>de</strong><br />

publicação<br />

Produção escrita (não comp<strong>le</strong>ta; para ver todos os títulos<br />

Vida pessoal e profissional<br />

Construção da comunida<strong>de</strong> europeia<br />

do autor, vd. a «Bibliografia Temática» na IV Parte <strong>de</strong>ste trabalho)<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

1948 1956 1957 1960 1961 1962<br />

LE GOFF, Jacques - "Un<br />

étudiant tchèque à<br />

l’Université <strong>de</strong> Paris au XIVe<br />

sièc<strong>le</strong>". In Revue <strong>de</strong>s étu<strong>de</strong>s<br />

slaves , t. 24, 1948, p. 143-<br />

170.<br />

Aos 24 anos foi incentivado por<br />

Char<strong>le</strong>s Edmond Perrin, seu<br />

orientador <strong>de</strong> tese <strong>de</strong> doutoramento,<br />

a estudar as origens da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carlos <strong>de</strong> Praga,<br />

em meados do século XIV.<br />

Apren<strong>de</strong>u checo e foi para Praga,<br />

como bolseiro, entre 1947-48.<br />

Assistiu ao viv<br />

Congresso <strong>de</strong> Haia: mais <strong>de</strong> 1000<br />

<strong>de</strong><strong>le</strong>gados <strong>de</strong> uma vintena <strong>de</strong> países<br />

europeus <strong>de</strong>batem novas formas <strong>de</strong><br />

cooperação na Europa. Pronunciamse<br />

a favor da criação <strong>de</strong> uma<br />

"Assemb<strong>le</strong>ia Europeia". É o<br />

primeiro acto <strong>de</strong>sta construção<br />

que coinci<strong>de</strong> com a primeira publica<br />

LE GOFF, Jacques<br />

- Marchands et<br />

banquiers du<br />

Moyen Âge. Paris:<br />

PUF, (col. « Que<br />

sais-je? », n° 699),<br />

1956 ; 8ª ed.<br />

corrigida, 1993.<br />

Era, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1954,<br />

assistente <strong>de</strong> Michel<br />

Mollat na Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Lil<strong>le</strong>. Escreveu o<br />

livro "Mercadores (...)"<br />

com a influência das<br />

<strong>le</strong>ituras que fez em<br />

1950, altura em que<br />

teve <strong>de</strong> <strong>le</strong>r a bibliografia<br />

do júri da agregação ao<br />

ensino liceal; isto é,<br />

<strong>obras</strong> <strong>de</strong> F. B<br />

LE GOFF, Jacques -<br />

Les intel<strong>le</strong>ctuels au<br />

Moyen Âge. Paris: Seuil,<br />

(col. « Le Temps qui<br />

court » n° 3), 1957 ; reed.<br />

[col. « Point Histoire » n°<br />

78], 1985.<br />

Ainda é assistente <strong>de</strong> Mollat<br />

na U. Lil<strong>le</strong>. "Os Inte<strong>le</strong>ctuais<br />

(...)" foram, segundo o autor, a<br />

sua "primeira obra" . Escreveua<br />

por encomenda <strong>de</strong> Michel<br />

Chodkiewicz (coor<strong>de</strong>nador da<br />

co<strong>le</strong>cção "Petite planète" da Le<br />

Seuil). Nesta obra estudou as<br />

relações entre o<br />

Assinatura em Roma dos<br />

Tratados que instituem a<br />

Comunida<strong>de</strong> Económica<br />

Europeia (CEE) e a<br />

Comunida<strong>de</strong> Europeia da<br />

Energia Atómica (Euratom).<br />

Clara Mendonça<br />

LE GOFF, Jacques - Préface à<br />

Christopher Dawson, Le Moyen<br />

Âge et <strong>le</strong>s origines <strong>de</strong> l’Europe<br />

<strong>de</strong>s invasions à l’an 1000. Paris:<br />

Arthaud, 1960.<br />

Des<strong>de</strong> 1958, ano em que Le Goff ficou<br />

orfão <strong>de</strong> pai e teve <strong>de</strong> abandonar Lil<strong>le</strong> por<br />

falta <strong>de</strong> qualificações, entrou em contacto<br />

com os Anna<strong>le</strong>s que já o julgaram uma vez<br />

(agregação ao ensino liceal) e <strong>de</strong>u-lhes a<br />

conhecer o seu trabalho, nomeadamente<br />

"Os Inte<strong>le</strong>c<br />

LE GOFF, Jacques -<br />

"Une enquête sur<br />

<strong>le</strong> sel dans<br />

l’histoire". In<br />

Anna<strong>le</strong>s E.S.C .,<br />

XVI, 1961, pp. 959-<br />

961.<br />

Continua a trabalhar <strong>de</strong><br />

perto com Brau<strong>de</strong>l e,<br />

por via <strong>de</strong> um acordo<br />

entre a VI Secção da<br />

Escola <strong>de</strong> Altos Estudo<br />

e o Instituto <strong>de</strong> História<br />

da Aca<strong>de</strong>mia Polaca,<br />

estreita as relações com<br />

a Polónia. Na Polónia<br />

conhece três pessoas<br />

fundamentais na sua<br />

vida: a sua<br />

93<br />

LE GOFF, Jacques - Le<br />

Moyen Âge. Paris:<br />

Bordas, 1962 ; há outra<br />

edição com o título Le<br />

Moyen Âge : 1060-1330.<br />

Paris: Bordas (col.<br />

« L’Histoire universel<strong>le</strong> »<br />

n° 11), 1971.<br />

Abandona a militância no PSU<br />

(Partido Socialista Unificado)<br />

por 2 motivos: precisa <strong>de</strong> mais<br />

tempo para <strong>de</strong>dicar à mulher,<br />

com quem casou em Varsóvia;<br />

e, porque ficou <strong>de</strong>siludido com<br />

as lutas intesti<strong>nas</strong> <strong>de</strong> partido,<br />

numa altura em que era<br />

necessário conjugar e<br />

Entra em vigor a Política<br />

Agrícola Comum (PAC)


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

1964 1968 1972 1975 1977 1978 1981<br />

LE GOFF, Jacques - La<br />

civilisation <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt<br />

médiéval. Paris: Arthaud, (col.<br />

« Les gran<strong>de</strong>s civilisations » n° 3),<br />

1964 ; nova edição, 1984.<br />

Quatro anos <strong>de</strong>pois da encomendada e<br />

<strong>de</strong>finitivamente abandonada a tese <strong>de</strong><br />

estado, Le Goff escreve a sua obra-prima.<br />

Tinha 40 anos quando resolveu aclarar as<br />

i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> vários anos <strong>de</strong> investigação,<br />

propondo uma aproximação global do<br />

Oci<strong>de</strong>nte medieval . E<strong>le</strong> pr<br />

Hérésies et sociétés<br />

dans l’Europe préindustriel<strong>le</strong>,<br />

XIe-XVIIIe<br />

sièc<strong>le</strong>. Communications<br />

et débats du colloque<br />

<strong>de</strong> Royaumont , Jacques<br />

LE GOFF (dir.). Paris:<br />

Mouton, (col.<br />

« Civilisations et<br />

sociétés » n° 10), 1968.<br />

Começam as emissões<br />

"Lundis <strong>de</strong> l’histoire", que se<br />

mantiveram pelo menos até<br />

1987, na radio France-Culture,<br />

com a duração <strong>de</strong> 2 horas por<br />

emissão. O colóquio agora<br />

passado a actas neste ano foi<br />

muito importante, pois ligou as<br />

heresias <strong>de</strong> toda a Europa ao<br />

Entra em vigor a pauta<br />

aduaneira comum.<br />

Jacques Le Goff e<br />

Pierre Nora (coord.)<br />

- Faire <strong>de</strong><br />

l’histoire. Paris:<br />

Gallimard, 1974, e<br />

vols. ; reed. 1986,<br />

col. « Folio<br />

Histoire » n.º 16-18.<br />

Sai a obra “Fazer a<br />

História” que já estava a<br />

ser feita <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há 3<br />

anos. Fase <strong>de</strong><br />

maturida<strong>de</strong> e<br />

consolidação teórica da<br />

Nova História trazida<br />

pelos Anna<strong>le</strong>s . Le Goff<br />

escreve vários<br />

prefácios. Muda o nome<br />

do seu 1º seminário<br />

para “Antropologia<br />

histórica do Oc<br />

São assinados em<br />

Bruxelas os tratados <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>são da Dinamarca,<br />

da Irlanda, da Noruega<br />

e do Reino Unido às<br />

Comunida<strong>de</strong>s<br />

Europeias. Nove anos<br />

antes (1963) o General<br />

<strong>de</strong> Gaul<strong>le</strong> tinha-se<br />

oposto à entrada do R.U.<br />

Clara Mendonça<br />

LE GOFF, Jacques -<br />

Entretien avec<br />

Clau<strong>de</strong> Mettra. In<br />

J. Huizinga -<br />

L’Automne du<br />

Moyen Âge. Paris:<br />

Payot, 1975.<br />

Cria o GAHOM, grupo<br />

<strong>de</strong> Antropologia<br />

histórica do Oci<strong>de</strong>nte<br />

Medieval da EHESS,<br />

que dirige até 1992.<br />

LE GOFF, Jacques - Pour un<br />

autre Moyen Âge. Temps,<br />

travail et culture en<br />

Occi<strong>de</strong>nt. Paris: Gallimard,<br />

(col. « Bibliothèque <strong>de</strong>s<br />

Histoires »), 1977; reed. (col.<br />

« Tel » n° 181), 1991. E o<br />

artigo: « La naissance du<br />

Purgatoire (XIIe-XIIIe s.) ». In<br />

La Mort au<br />

Deixa a presidência da EHESS<br />

que passa a ser ocupada por<br />

François Furet.<br />

Jacques Le Goff,<br />

Roger Chartier et<br />

Jacques Revel - La<br />

Nouvel<strong>le</strong> Histoire.<br />

Paris: Retz CEPL,<br />

1978.<br />

94<br />

LE GOFF,<br />

Jacques - La<br />

naissance du<br />

Purgatoire.<br />

Paris: Gallimard,<br />

(col.<br />

« Bibliothèque<br />

<strong>de</strong>s Histoires »),<br />

1981 ; reed. (col.<br />

« Folio » n° 31),<br />

1991 .<br />

Entrada da Grécia<br />

na Comunida<strong>de</strong><br />

Europeia que passa<br />

a ter 10 membros.


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

1985 1987 1992 1993 1994 1996 1998<br />

LE GOFF,<br />

Jacques -<br />

L’imaginaire<br />

médiéval.<br />

Essais. Paris:<br />

Gallimard, (col.<br />

« Bibliothèque<br />

<strong>de</strong>s<br />

Histoires »),<br />

1985 ; nova<br />

edição, 1991.<br />

Em 1986, redigiu<br />

o seu ensaio <strong>de</strong><br />

ego-história,<br />

intitulado "O<br />

<strong>de</strong>sejo pela<br />

História",<br />

publicado no ano<br />

seguinte.<br />

Jacques Delors<br />

assume a<br />

presidência da<br />

Comissão<br />

Europeia até<br />

1995.<br />

LE GOFF,<br />

Jacques -<br />

"L’appétit <strong>de</strong><br />

l’Histoire",<br />

Essais d’Egohistoire,<br />

édité<br />

par Pierre<br />

Nora. Paris:<br />

Gallimard,<br />

(Bibliothèque<br />

<strong>de</strong>s Histoires),<br />

1987, p. 173-<br />

239.<br />

Portugal e<br />

Espanha a<strong>de</strong>riram<br />

no ano anterior<br />

(1986) às<br />

Comunida<strong>de</strong>s<br />

Europeias. Tem<br />

início o programa<br />

"Erasmus".<br />

[escreve<br />

pequenos<br />

artigos sem<br />

gran<strong>de</strong><br />

re<strong>le</strong>vância]<br />

Reforma-se do<br />

GAHOM e passa<br />

a sua presidência<br />

para Jean-Clau<strong>de</strong><br />

Schmitt.<br />

Assinado em<br />

Maastricht o<br />

Tratado da União<br />

Europeia, que<br />

entrará em vigor<br />

em 1 <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong><br />

1993.<br />

LE GOFF, Jacques -<br />

"L’Europe à l’éco<strong>le</strong> ", Le<br />

Débat, n° 77, novembredécembre<br />

1993, p. 176-<br />

181. E prefacia toda a<br />

co<strong>le</strong>cção que dirige, "Faire<br />

l'Europe": Préface à Ulrich<br />

Im Hof, Les Lumières en<br />

Europe, trad. <strong>de</strong> l’al<strong>le</strong>mand<br />

par Jeanne Etoré et<br />

Bernard Lortholary, Paris,<br />

Ed. du Seuil, (Faire<br />

l’Europe), 1993. Préface à<br />

Michel Mollat du Jourdin,<br />

L’Europe et la mer, Paris,<br />

Ed. du Seuil, (Faire<br />

l’Europe), 1993. Préface à<br />

Char<strong>le</strong>s Tilly, Les<br />

révolutions européennes :<br />

1492-1992, trad. <strong>de</strong><br />

l’anglais par Paul Chemla,<br />

Paris, Ed. du Seuil, (Faire<br />

l’Europe), 1993.<br />

Começa-se a interessar pela<br />

i<strong>de</strong>ia da Europa e pelo seu<br />

ensino na escola. Lança, sempre<br />

numa aliança com a Le Seuil, a<br />

co<strong>le</strong>cção “Faire L’Europe”. Esta<br />

co<strong>le</strong>cção, para além da temática,<br />

tem um âmbito <strong>de</strong> edição e<br />

distribuição europeu e mundial<br />

(editada em simultâneo em<br />

vários países europeus e não<br />

só:França, Itália, A<strong>le</strong>manha,<br />

Holanda, Turquia, Polónia,<br />

Hungria, Grécia, Japão,<br />

Portugal, Coreia do Sul,<br />

Eslovénia, Bulgária e Lituânia).<br />

É criado o mercado interno.<br />

Clara Mendonça<br />

LE GOFF,<br />

Jacques - La<br />

vieil<strong>le</strong> Europe<br />

et la nôtre.<br />

Paris: Seuil,<br />

1994. Préface<br />

à Umberto<br />

Eco, La<br />

Recherche <strong>de</strong><br />

la langue<br />

parfaite dans<br />

la culture<br />

européenne,<br />

trad. <strong>de</strong> l’italien<br />

par Jean-Paul<br />

Manganaro.<br />

Paris: Seuil,<br />

(Faire<br />

l’Europe),<br />

1994.<br />

Reforma-se da<br />

EHESS. Continua<br />

a escrever sobre<br />

o tema da<br />

Europa. Morre<br />

George Duby. É<br />

editado o primeiro<br />

livro sobre Le<br />

Goff, em<br />

Inglaterra:"The<br />

Work of Jacques<br />

Le Goff and the<br />

Chal<strong>le</strong>nges of<br />

Medieval History",<br />

Ed. by Miri Rubin,<br />

Woodbridge,<br />

Boy<strong>de</strong>ll Press,<br />

1997, 272 pp.<br />

Assinados os<br />

tratados <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>são da<br />

Austria, da<br />

Finlândia, da<br />

Noruega e da<br />

Suécia.<br />

LE GOFF, Jacques<br />

-Saint Louis.<br />

Paris: Gallimard,<br />

(col. « Bibliothèque<br />

<strong>de</strong>s Histoires »),<br />

1996. LE GOFF,<br />

Jacques - Il<br />

Medioevo: al<strong>le</strong><br />

origini<br />

<strong>de</strong>ll’i<strong>de</strong>ntità<br />

europea. Roma-<br />

Bari: Laterza,<br />

1996. LE GOFF,<br />

Jacques -L’Europe<br />

racontée aux<br />

jeunes. Paris:<br />

Seuil, 1996.<br />

Lança-se na "tarefa<br />

bolímica <strong>de</strong> ogre" <strong>de</strong><br />

compilar e reescrever<br />

as <strong>de</strong>ze<strong>nas</strong> <strong>de</strong> artigos<br />

sobre o seu "S. Luís",<br />

num volume com<br />

quase 1000 pági<strong>nas</strong>,<br />

que <strong>de</strong>dicou à sua<br />

mulher. Ao todo<br />

<strong>de</strong>morou 15 anos a<br />

escrevê-lo (cfr. na<br />

“Avant propos” <strong>de</strong>sse<br />

livro). Ganha, com esta<br />

obra, o Prémio Gobert<br />

da Aca<strong>de</strong>mia francesa.<br />

L´Ogre<br />

historien :<br />

autour <strong>de</strong><br />

Jacques <strong>le</strong><br />

Goff, Éd. De<br />

Jean-Clau<strong>de</strong><br />

Schmitt et<br />

Jacques<br />

Revel. Paris:<br />

Gallimard,<br />

1998, 353 pp.<br />

É editada a obra<br />

mais comp<strong>le</strong>ta<br />

sobre o autor,<br />

organizada pelo<br />

seu seguidor na<br />

Ehess, Jean-<br />

Clau<strong>de</strong> Schmitt.<br />

Tem início o<br />

processo <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>são dos<br />

novos candidatos<br />

: Chipre, Malta e<br />

10 países da<br />

Europa Central e<br />

Oriental.<br />

95


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

1999 2003 2004<br />

LE GOFF, Jacques -Saint François d’Assise, Paris, Le Grand livre<br />

du mois,1999, 220 pp.<br />

Duby dissera que gostaria <strong>de</strong> escrever uma biografia <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Assis.<br />

Le Goff é quem a escreve 5 anos <strong>de</strong>pois da morte daque<strong>le</strong>. Dirige com Jean-Clau<strong>de</strong><br />

SCHMITT, "Dictionnaire raisonné <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt médiéval", Paris, Fayard, 1999.<br />

Exce<strong>le</strong>nte dicionário que conta com a participação <strong>de</strong> <strong>de</strong>ze<strong>nas</strong> <strong>de</strong> historadores que<br />

são o paradigma do seu meio <strong>de</strong> <strong>le</strong>ituras,<strong>de</strong> referências e <strong>de</strong> influências. Vd. a<br />

tabela das pági<strong>nas</strong> seguintes acerca <strong>de</strong>ste dicionário.<br />

Circulação do Euro, a moeda única.<br />

Clara Mendonça<br />

LE GOFF, Jacques - L'Europe<br />

est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?.<br />

Paris: Seuil, " Faire l'Europe ",<br />

2003, 341pp.<br />

Assinados s tratados <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são do<br />

Chipre, Malta, Républica Checa,<br />

Estónia, Letónia, Lituãnia, Hungria,<br />

Polónia, Eslováquia e Eslovénia. A<br />

Roménia e a Bulgária só entrarão em<br />

2007.<br />

LE GOFF, Jacques - Héros du<br />

Moyen Âge, Le Saint et <strong>le</strong> Roy.<br />

Paris: Gallimard, "Quarto", 1 344<br />

pp.<br />

Tem 80 anos e ainda escreve livros<br />

como este e tem mais 2 no prelo.<br />

96


BIBLIOGRAFIA E INTERNET<br />

1. Bibliografia<br />

Obras <strong>de</strong> Jacques Le Goff<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

• Obras <strong>de</strong> referência (dicionários)<br />

«La Nouvel<strong>le</strong> Histoire», dir. Jacques <strong>le</strong> Goff, Roger Chartier et Jacques Revel. Paris : Retz CEPL,<br />

1978.<br />

• Europa<br />

LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995.<br />

LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997.<br />

LE GOFF, Jacques - « L'Europe est-el<strong>le</strong> née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ",<br />

2003.<br />

• Outros temas<br />

LE GOFF, Jacques - «La civilisation <strong>de</strong> l’Occi<strong>de</strong>nt médiéval». Paris : Arthaud, (col. « Les gran<strong>de</strong>s<br />

civilisations » n° 3), 1964.<br />

• E a versão portuguesa : LE GOFF, Jacques – «A Civilização do Oci<strong>de</strong>nte Medieval».<br />

Lisboa: Editorial Estampa, 1994, 2 vols.<br />

LE GOFF, Jacques - «Marchands et banquiers du Moyen Âge». Paris : PUF, (col. « Que sais-<br />

je? », n° 699), 1956<br />

Clara Mendonça<br />

97


• Direcção <strong>de</strong> <strong>obras</strong><br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

«Faire <strong>de</strong> l’histoire», dir. Pierre Nora et Jacques Le Goff. Paris : Gallimard, 1974.<br />

• Artigos<br />

LE GOFF, Jacques – «O <strong>de</strong>sejo da História». In «Ensaios <strong>de</strong> Ego-História.» Lisboa: Edições 70,<br />

pp.171-235.<br />

LE GOFF, Jacques - «Memória», «Ca<strong>le</strong>ndário», «História», «Passado/Presente»,<br />

«Antigo/Mo<strong>de</strong>rno». In «Enciclopédia Einaudi», Ruggiero Romano (dir.) Lisboa: Imprensa Nacional<br />

– Casa da Moeda, 1984, vol.1.<br />

Obras <strong>de</strong> Outros autores<br />

• Historiografia geral<br />

BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé - «As Escolas Históricas». Lisboa: Publicações Europa-<br />

América, 1983.<br />

BREISACH, Ernest – «Historiography: Ancient, Medieval and Mo<strong>de</strong>rn». Chicago & London: The<br />

University of Chicago Press, 1999.<br />

BURKE, Peter (dir.) - «History and historians in the Twentieth Century». Oxford: Oxford University<br />

Press, 2002. ISBN: 0-19-726268-6.<br />

• Artigos sobre Le Goff<br />

Clara Mendonça<br />

98


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

CARBONELL, Char<strong>le</strong>s-Olivier - «Le Goff: "L'historien et l'homme quotidien" (1972)». In «Les<br />

Sciences historiques: <strong>de</strong> l'antiquité à nos jours», Char<strong>le</strong>s Olivier Carbonell (dir.). S/L: Larousse,<br />

1994, pp. 287-295.<br />

DUMAYET, Pierre - «Télévision». In «L’ Ogre historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff». Paris:<br />

Gallimard, 1998, pp. 55-58.<br />

GEREMEK, Bronislaw – «La <strong>de</strong>tte <strong>de</strong>s médiévalistes». In «L’Ogre Historien : autour <strong>de</strong> Jacques<br />

Le Goff». Paris : Gallimard, 1998, pp. 107-115.<br />

NORA, Pierre – «Côte à côte». In «L’Ogre historien : autour <strong>de</strong> Jacques <strong>le</strong> Goff», Éd. De Jean-<br />

Clau<strong>de</strong> Schmitt et Jacques Revel. Paris : Gallimard, 1998, pp.57-69.<br />

REVEL, Jacques – «L’ Homme <strong>de</strong>s Anna<strong>le</strong>s?» In «L’ Ogre historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff».<br />

Paris: Gallimard, 1998, pp. 33-54.<br />

SCHMITT, Jean-Clau<strong>de</strong> - «Le Seminaire». In «L’Ogre Historien : autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff».<br />

Paris : Gallimard, 1998, pp. 17-31.<br />

TOUBERT, Pierre – «Tout est document». In «L’ Ogre Historien: autour <strong>de</strong> Jacques Le Goff».<br />

Paris: Gallimard, 1998, pp. 85-105.<br />

• Europa<br />

CARBONELL, Char<strong>le</strong>s-Olivier (dir.) – «De L’Europe. I<strong>de</strong>ntités et I<strong>de</strong>ntité. Mémoires et mémoire.<br />

Actes du Congrés International Euro-Histoire 92, “I<strong>de</strong>ntités en Europe, I<strong>de</strong>ntité <strong>de</strong> l’Europe,<br />

Monpellier du 21 au 23 novembre 1992». Toulouse : Presses <strong>de</strong> l’Université <strong>de</strong>s sciences<br />

socia<strong>le</strong>s <strong>de</strong> Toulouse, 1996.<br />

Clara Mendonça<br />

99


A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

CHABOD, Fe<strong>de</strong>rico - «Storia <strong>de</strong>ll’i<strong>de</strong>a d’Europa». Bari: Laterza, 1961<br />

DUMONT, Gérard-François – «L’I<strong>de</strong>ntité <strong>de</strong> l’Europe». Nice : Éditions C.R.D.P., 1997.<br />

DUMONT, Gérard-François (dir.) – «Les racines <strong>de</strong> l’i<strong>de</strong>ntité europeéne». Paris : Economica,<br />

1999, 396pp.<br />

DEUS PINHEIRO, João - «L’i<strong>de</strong>ntité portugaise: d’une vision puré et dure, à une vision<br />

européenne et universaliste». In «Les racines <strong>de</strong> l’i<strong>de</strong>ntité europeéne». Gérard-François Dumont<br />

(dir.) Paris : Economica, 1999, pp. 210-216.<br />

FEBVRE, Lucien – «L’Europe .La genèse d’une civilisation». Paris : Perrin, 1999<br />

• E a versão portuguesa. FEBVRE, Lucien - «A Europa. Génese <strong>de</strong> uma<br />

civilização». [Lisboa]: Teorema, 2001.<br />

GAILLARD, Jean-Michel et ROWLEY, Anthony – «Histoire du continent Européen». Paris : Seuil,<br />

1997, 570 pp. ISBN: 2-02-023281-2<br />

HAY, Denys - «Emergenmce of na I<strong>de</strong>a: Europe». Edinburgh University Press, 1957 e 1968.<br />

2. Internet<br />

• Bibliografia <strong>de</strong> Jacques Le Goff<br />

http://www.ehess.fr/gahom/LeGoffbiblio.htm<br />

• Críticas a Jacques Le Goff<br />

http://www.h-net.msu.edu/reviews/showrev.cgi?path=9830894055268<br />

http://livres.<strong>le</strong>xpress.fr/critique.asp/idC=7713/idTC=3/idR=12/idG=8<br />

Clara Mendonça<br />

100


• Entrevistas a Jacques Le Goff<br />

A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF<br />

http://www.eurozine.com/pdf/2003-09-05-<strong>goff</strong>-en.pdf<br />

http://www.radiofrance.fr/chaines/franceculture2/emissions/toutarrive/fiche.php?diffusin_id= 19176<br />

http:// www.francediplomatie.fr/label_france/ENGLISH/IDEES/LE_GOFF/<strong>le</strong>_<strong>goff</strong>.html.<br />

• Homenagens a Jacques Le Goff<br />

http://www.<strong>le</strong>mon<strong>de</strong>.fr/web/artic<strong>le</strong>/0,1-0@2-3260,36-348438,0.html<br />

http://<strong>le</strong><strong>goff</strong>.provincia.parma.it/<br />

• Historiografia geral<br />

http://www.cisi.unito.it/stor/home.htm<br />

http://www.00h00.com/ livre/in<strong>de</strong>x.cfm? GCOI=2745410 0632310 &fa=preview<br />

• Outros temas<br />

http://www.presi<strong>de</strong>nciarepublica.pt/pt/main.html.<br />

Clara Mendonça<br />

101

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!