INTRODUÇÃO
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Fungos Anemófilos em ambientes hospitalares<br />
Kátia Pereira Lopes<br />
Bióloga/ Pós graduada em microbiologia<br />
Resumo: Os fungos estão presentes na natureza nos mais variados<br />
ambiente, os fungos dispersos pelo ar atmosférico são fungos<br />
anemófilos, estes compreendem a diversos gêneros e espécies e<br />
quase todos são contaminantes ambientais, podendo ser isolados<br />
facilmente do ar. As infecções fúngicas oportunistas têm emergido<br />
como importantes causas de morbidade e mortalidade em pacientes<br />
com graves doenças e com sistema imunológico comprometido.<br />
Estudos realizados em ambientes hospitalares identificaram a<br />
presença de gêneros como causadores infecções oportunistas sendo<br />
causa morbidade e mortalidade de pacientes imunocomprometidos,<br />
corroborando para a necessidade de um monitoramento mais eficiente,<br />
e medidas profiláticas mais eficazes, minimizando a exposição destes<br />
pacientes imunodeficientes a fontes de infecções que podem ser letais.<br />
Palavras- Chave: Fungos anemófilos, infecções oportunistas,<br />
imunodeprimidos<br />
<strong>INTRODUÇÃO</strong><br />
Os fungos são<br />
microrganismos ubíquos, presentes<br />
na natureza nos mais variados<br />
ambiente e sua dispersão é feita por<br />
várias maneiras ou vias: animais,<br />
homem, insetos, água e,<br />
principalmente no ar atmosférico,<br />
através dos ventos. Os<br />
fungos dispersos pelo ar<br />
atmosférico são chamados de<br />
fungos anemófilos, e os propágulos<br />
fúngicos comumente isolados no ar<br />
são denominados de conídios ou<br />
esporos. Geralmente, são<br />
alergênicos e quando inalados<br />
podem ser responsáveis por<br />
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manifestações respiratórias, como<br />
asma e rinite. Após a inalação dos<br />
propágulos fúngicos, algumas<br />
espécies tornam se patogênicas<br />
devido à quebra no mecanismo<br />
natural de defesa do hospedeiro,<br />
surgindo variados quadros clínicos,<br />
os quais podem ser de leves a<br />
severos<br />
A microbiota fúngica<br />
anemófila pode variar em diferentes<br />
regiões, dependendo principalmente<br />
de condições ambientais como<br />
temperaturas e umidade.<br />
Os fungos anemófilos<br />
compreendem a diversos gêneros e<br />
espécies e quase todos são<br />
contaminantes ambientais, podendo<br />
ser isolados facilmente do ar,<br />
utilizando-se meios de cultivo<br />
adequados. Qualquer infecção de<br />
origem fúngica é chamada de<br />
micose e dependendo da evolução<br />
pode ser aguda ou crônica, as<br />
micoses são clinicamente divididas<br />
em: superficial, cutânea,<br />
subcutânea ou sistêmica.<br />
A penetração dos fungos no<br />
organismo pode ocorrer por<br />
diferentes vias como, pela pele,<br />
mucosa digestiva e mucosa<br />
respiratória, sendo que os fungos<br />
podem ou não se desenvolver<br />
causando uma micose,<br />
dependendo do sistema<br />
imunológico do indivíduo. Em<br />
decorrência do uso de<br />
corticosteróides, terapia antibiótica<br />
prolongada, tratamento com<br />
antibióticos de amplo espectro, com<br />
sistema imune suprimido por drogas<br />
ou por distúrbios imunes,<br />
tabagismo, alcoolismo e doenças de<br />
base, destacando-se as neoplasias<br />
e tratamentos instituídos como<br />
radioterapia e quimioterapia.<br />
Quando não diagnosticadas<br />
precocemente e tratadas de<br />
maneira agressiva, as infecções<br />
podem tornar-se fatais.<br />
As micoses oportunistas são<br />
aquelas em que um patógeno<br />
geralmente inofensivo em seu<br />
hábitat normal torna-se patogênico<br />
em um hospedeiro que se encontra<br />
debilitado ou traumatizado. As<br />
infecções fúngicas oportunistas têm<br />
emergido como importante causas<br />
de morbidade e mortalidade em<br />
pacientes com graves doenças e<br />
com sistema imunológico<br />
comprometido. Considerando entre<br />
os gêneros de fungos oportunistas<br />
mais importantes estão: AspergilIus<br />
spp. e Candida spp.<br />
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A infecção hospitalar é o<br />
agravo de causa infecciosa<br />
adquirido pelo paciente após sua<br />
admissão em hospital ou unidade<br />
de saúde geralmente é secundária à<br />
condição de saúde original do<br />
paciente. Pode se manifestar<br />
durante a internação ou após a alta,<br />
desde que relacionada à internação<br />
ou a procedimentos hospitalares.<br />
Os pacientes em ambiente de<br />
terapia intensiva tornam-se mais<br />
susceptíveis à aquisição de<br />
infecções, pois sua resposta<br />
imunológica frente ao processo<br />
infeccioso é deficiente. Os seus<br />
mecanismos de defesa estão<br />
comprometidos tanto pela doença<br />
motivadora da hospitalização<br />
quanto pelas intervenções<br />
necessárias para o diagnóstico e<br />
tratamento. Na UTI concentram-se<br />
pacientes clínicos ou cirúrgicos mais<br />
graves, necessitando de<br />
monitorização e suporte contínuos<br />
de suas funções vitais. Estes<br />
pacientes apresentam doenças ou<br />
condições clínicas predisponentes a<br />
infecções.<br />
Estudo de micoses<br />
oportunistas em ambientes<br />
hospitalares<br />
As infecções por fungos têm-<br />
se destacado nos últimos dez anos,<br />
observando se um aumento de 15<br />
vezes no número de infecções em<br />
pacientes menores de 15 anos,<br />
sendo 8% em menores de cinco<br />
anos.<br />
LOPES et al (2004) observou que a<br />
aspergilose pulmonar em pacientes<br />
imunodeprimidos tem aumentado de<br />
incidência nas últimas décadas.<br />
Diversas razões são observadas<br />
dentre elas o uso de corticóides e<br />
imunossupressores em maior<br />
escala, tratamento da infecção pelo<br />
HIV e os pós-transplantados<br />
Oren, et al (2001), afirma que<br />
infecções por Aspergillus em<br />
pacientes imunocompetentes são<br />
incomuns, porém representam o<br />
segundo tipo de infecção fúngica<br />
mais comum em pacientes<br />
imunocomprometidos, e a<br />
ocorrência de aspergilose é maior<br />
em pacientes transplantados de<br />
medula óssea e em pacientes<br />
portadores de neoplasias<br />
hematológicas submetidos a<br />
quimioterapia e neutropenia<br />
prolongada, nestes pacientes, a<br />
aspergilose pulmonar invasiva<br />
caracteriza-se por invasão de hifas<br />
e destruição de tecido pulmonar,<br />
3
sendo estas as mais freqüentes<br />
manifestações de uma infecção por<br />
Aspergillus, embora infecções locais<br />
também ocorram nos seios<br />
paranasais, pele, ou locais de<br />
inserção de cateter intravenosos.<br />
PAULA, et al (2007), realizou estudo<br />
em 5 hospitais da rede publica do<br />
estado de São Paulo, e confirmaram<br />
casos invasivos e fatais de<br />
aspergiloses por Aspergillus<br />
fumigatus, e casos de fusariose por<br />
Fusarium solani.<br />
Estudo no Hospital das Clinicas<br />
Samuel Libânio, na cidade de<br />
Pouso Alegre (MG), onde<br />
encontraram propágulos fúngicos<br />
como Penicillium spp, Cladosporium<br />
spp, Chrysosporium spp,<br />
Exserohilum spp, , Curvularia spp,<br />
Alternaria spp, Scopulariopsis spp,<br />
Rhizopus spp e Bipolaris spp.<br />
DINIZ et al. (2005) também realizou<br />
estudo onde cerca de 30 diferentes<br />
gêneros foram isolados de ambiente<br />
hospitalar, predominando<br />
Cladophialophora spp., Fusarium<br />
spp., Penicillium spp.,<br />
Chrysosporium spp., Aspergillus<br />
spp. E Aureobasidium spp.<br />
Estudo realizados no Hospital<br />
das Clínicas da Universidade<br />
Federal de Minas Gerais e<br />
identificaram, principalmente<br />
Mycelia sterilia, Cladosporium,<br />
Aspergillus, Fusarium, Penicillium,<br />
Aureobasidium , Curvularia , e<br />
Nigrospora.<br />
Analise 10 de hospitais em<br />
Teresina-PI e obtiveram como<br />
resultado a prevalência de<br />
Aspergillus flavus, Aspergillus<br />
fumigatus, Aspergillus Níger,<br />
Aspergillus tamari e Trichoderma.<br />
Além dos casos de alergia,<br />
muitos fungos oportunistas como<br />
dos gêneros: Penicillium,<br />
Aspergillus, Cladosporium, e<br />
Fusarium, são responsáveis por<br />
doenças desde otites,<br />
micotoxicoses, infecções urinárias,<br />
onicomicoses, infecções oculares<br />
até fungemias.<br />
Descrição dos Gêneros mais<br />
comumente isolados em<br />
ambientes hospitalares<br />
Fusarium spp. Descrito<br />
causando, fungemia, infecções<br />
nasais invasivas, pneumonias e<br />
infecções cutâneas especialmente<br />
nos pacientes queimados já foi<br />
encontrado causando ceratite,<br />
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endofitalmite, endocardite e<br />
oculomicose, infecções sistêmicas<br />
em pacientes neutropenicos<br />
submetidos a transplante de medula<br />
óssea, casos de onicomisose já foi<br />
apresentado. (LACAZ, 1991;<br />
FISCHER et al, 2001)<br />
Monascus spp como agente raro<br />
de peritonite. (LACAZ, 1991).<br />
Paecilomyces spp. Causador de<br />
lesões oculares e cutâneas,<br />
endocardite, infecções do saco<br />
lacrimal em pacientes<br />
imunocompetentes, endoftalmite,<br />
lesões sistêmicas, otites, lesões da<br />
córnea após transplante e sinusite<br />
(LACAZ, 1991).<br />
Phoma spp. Encontrado em<br />
abscesso cístico em transplantado<br />
renal. . (LACAZ, 1991).<br />
Rhodotorula spp. Encontrada em<br />
infecções letais de pulmões, rins e<br />
SNC, periorinite, endocardite e<br />
meningite em pacientes com<br />
leucemia<br />
Aureobasidium spp. Como<br />
causador de infecções<br />
generalizadas ou sistêmicas,<br />
abscessos viscerais, feo –<br />
hifomicose, onicomicose, ceratite e<br />
peritonite, alveolite alérgica.<br />
(LACAZ, 1991).<br />
Aspergillus spp. Várias espécies<br />
podem provocar "colonização" em<br />
cavidades pré-existentes causando<br />
aspergiloma intracavitário,<br />
processos alérgicos e intoxicação<br />
por micotoxinas. As formas clínicas<br />
mais comumente observadas são<br />
acometimento pulmonar e lesões<br />
cutâneas. São relatados como<br />
agentes etiológicos de osteomielite<br />
fúngica vertebral em pacientes<br />
submetidos a procedimentos<br />
invasivos. Também já observado<br />
casos de Ceratites, lesões nasais e<br />
do SNC. (LACAZ, 1991).<br />
Cladosporium spp, isolado em<br />
todos os locais, é agente de lesões<br />
cerebrais acompanhados ou não de<br />
meningite e cutâneas, já foi<br />
diagnosticado em casos de feo -<br />
hifomicose, causando massas<br />
granulomatosas da mama. (LACAZ,<br />
1991).<br />
Penicillium spp, o gênero mais<br />
freqüente, geralmente não é<br />
patogênico para o homem, mas são<br />
grandes produtores de micotoxinas.<br />
(LACAZ, 1991).<br />
Trichoderma spp. As infecções<br />
por Trichoderma têm caráter<br />
5
oportunista e desenvolvem-se em<br />
pacientes imunocomprometidos tais<br />
como neutropênicos,<br />
transplantados, pacientes renais<br />
crônicos e pacientes com doenças<br />
crônicas pulmonares. (GROLL &<br />
WALSH, 2002; WARRIS et al,<br />
2001).<br />
Dentre os agentes causadores<br />
de infecções fúngicas, as espécies<br />
de Candida são esponsáveis pela<br />
maioria das fungemias, sendo a<br />
aspergilose a segunda infecção<br />
fúngica mais comum. Estes agentes<br />
também são responsáveis pela<br />
ocorrência de pneumonia<br />
nosocomial, aspergilose pulmonar<br />
invasiva e sinusite por Aspergillus.<br />
Outros fungos que podem causar<br />
infecções nesta população são as<br />
espécies de Candida, Mucor,<br />
Fusarium spp. E Trichosporon spp,<br />
ressalta-se que os pulmões são o<br />
sítio primário de infecção por<br />
Aspergillus, podendo levar a<br />
pneumonia grave com invasão<br />
vascular, necrose e hemorragia,<br />
pacientes suscetíveis têm um<br />
grande risco de desenvolver<br />
infecções fúngicas sistêmicas<br />
especialmente quando fatores<br />
ambientais aumentam a presença<br />
de fungos e esporos de fungos no<br />
ar (GARBIN, 2010).<br />
CONSIDERAÇÔES FINAIS<br />
Com os estudos<br />
mencionados neste trabalho pode-<br />
se confirmar que embora esforços<br />
sejam feitos para impedir o<br />
crescimento de microorganismos<br />
em hospitais, esse tipo de ambiente<br />
é um importante reservatório para<br />
uma ampla variedade de patógenos,<br />
e ainda há necessidade de um<br />
monitoramento mais eficaz, e<br />
medidas profiláticas eficientes,<br />
fazendo com que minimize a<br />
exposição destes pacientes<br />
imunodeficientes á fontes de<br />
infecções, já que estes pacientes<br />
têm grandes probabilidades de<br />
desenvolver importantes fungemias,<br />
podendo ser letal.<br />
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