aves migratórias no estuário da baía da babitonga e litoral de são ...

XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR
Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011
AVES MIGRATÓRIAS NO ESTUÁRIO DA BAÍA DA BABITONGA E LITORAL
DE SÃO FRANCISCO DO SUL, LITORAL SUL DO BRASIL
Grose, A. V. 1,2 ; Hillebrandt, C. C. 2 ; Cercal, E. J. 2 ; Age, E. C. 2; Costa, G. A²;
Chiste-Silva, L. C. F.²; Cremer, M. J. 2
1
Pós-graduação em Zoologia, Universidade Federal do Paraná (UFPR). Av Cel Francisco H dos Santos, s/n, Curitiba,
PR. ale.grose@hotmail.com.
2
Laboratório de Ecologia de Ecossistemas Costeiros, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade da Região
de Joinville - UNIVILLE, Caixa Postal 110, CEP 89240-000, São Francisco do Sul, SC. marta.cremer@univille.br
RESUMO
Durante os anos de 2006 a 2010 foram realizados inventários com o objetivo de caracterizar as
aves migratórias no estuário da baía da Babitonga e litoral de São Francisco do sul, em Santa
Catarina. Foram utlizadas transectos e pontos fixos de observação. Foram registradas 18
espécies de aves migratórias, sendo 15 oriundas do hemisfério norte e 3 oriundas do
hemisfério sul. A riqueza foi considerada superior se comparado outros trabalhos no estado. A
sazonalidade da permanência das espécies não sofreu grande variação. A espécie com os
maiores grupos foi Charadrius semipalmatus seguida de Calidris fuscicollis. Apenas C.
semipalmatus e Tringa flavipes foram registradas durante todo o ano. Algumas espécies
registradas são consideradas raras, pouco conhecidas ou inéditas para o estado.
Palavras chave: Migração, Tryngites subruficollis, Tringa semipalmata
INTRODUÇÃO
Todos os anos, centenas e até milhares de aves chegam ao Brasil à procura de
alimento e para o descanso, vindas de países como EUA, Canadá e Argentina. Este
deslocamento, necessário para sua sobrevivência, pode ultrapassar 20.000 km e esta visita
pode durar vários meses (SICK, 1997). Segundo o CEMAVE (2005), 172 espécies de aves
migratórias são registradas no Brasil, sendo que 102 (59%) espécies são oriundas do
hemisfério norte e 70 (41%) são espécies oriundas do sul do continente. Este número
representa aproximadamente 9,4% da diversidade total de espécies para o Brasil (CBRO,
2011). O litoral brasileiro é uma das rotas utilizadas por estas espécies que dependem da
qualidade destes ambientes (SICK, 1997). A zona entre marés nas praias e manguezais ao
longo da costa são um importante local de alimentação para estas espécies (OLMOS E SILVA-
SILVA, 2003). O objetivo deste trabalho foi registrar a ocorrência de aves migratórias no
estuário da Baía da Babitonga, litoral norte de Santa Catarina, registrando informações
relativas à riqueza, sazonalidade e abundância.
MATERIAIS E MÉTODOS
O estuário da Baía da Babitonga localiza-se na costa norte de Santa Catarina, entre as
coordenadas 26°02'/26°28'S e 48°28’/48°50’W. A lâmina d’água apresenta uma superfície de
160 km², com aproximadamente 6.200 ha de bosques de manguezal e a presença de extensas
planícies de maré (IBAMA, 1998). A coleta de dados foi realizada entre os anos de 2006 a
2010 através de transecções e pontos fixos de observação. As transecções tiveram duração de
dois anos (2007 e 2009), com a divisão do estuário em três regiões: Linguado (LG) (9,9 km), a
região Palmital (PM) (15,3 km) e praias (PR) (12,9 km). Mensalmente foram percorridos com
embarcação a motor e registrado todos os indivíduos que ocupavam as margens e em vôo.
Também foram realizadas transecções a pé na Coroa do Capri (CP) e na praia do Forte (FT).
Além de observações de ponto fixo em tres áreas: Praia do Lixo (PL) - planície de maré
formada pela foz do rio Olaria, Vila da Glória (VL) - planície de maré formada pela foz do rio
Alvarenga e Monte de Trigo (MT) - planície de maré formada pela foz do rio Monte de Trigo.
Para as amostragens de ponto fixo foi feita a contagem do número de indivíduos por espécie
em intervalos regulares de 10 minutos, para as transecções a pé foi feita a contagem contínua.
Cada área amostrada por ponto fixo e transecções a pé tiveram a duração de um ano. Foram
utilizados binoculares 7x50 em todas as amostragens.
Associação Latino-Americana de Investigadores em Ciências do Mar - ALICMAR
AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia

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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram registradas pelo menos 18 espécies de aves migratórias pertencentes a quatro
famílias, sendo 15 oriundas do hemisfério norte e 3 oriundas do sul do continente (Tab 1).
Tabela 1: Relação das espécies registradas durante o período de 2006 a 2010. ST= Status
de ocorrência no Brasil (CBRO, 2011): VS= Visitante sazonal oriundo do sul do hemisfério
sul, VN= Visitante sazonal oriundo do hemisfério norte. Mi/Ma= número mínimo/número
máximo de indivíduos registrados. Meses= os números representam os meses em que as
espécies foram registradas. 1= janeiro, 2= fevereiro, 3= março, 4= abril, 5= maio, 6= junho,
7= julho, 8= agosto, 9= setembro, 10= outubro, 11= novembro, 12=dezembro. Local = locais
de amostragem: PR= praias da foz do estuário, LG= Linguado, PM= rio Palmital, FT= praia
do Forte, MT= rio Monte de Trigo, CP = coroa do Capri, VL= Vila da Glória, PL = praia do
Lixo.
Nome do Táxon ST Mi/Ma Meses Local
Sphenisciformes
Spheniscidae
Spheniscus magellanicus VS 1/2 5,6 PR,FT
Falconiformes
Pandionidae
Pandion haliaetus VN 1/1 1,3,10,11 PM
Charadriiformes
Charadriidae
Pluvialis dominica VN 1/3 4,5,6,10,11 LG,PR, FT,CP
Pluvialis squatarola VN 1/7 9,10,11,12 PR,FT,CP,
Charadrius falklandicus VS 1/1 5 CP
Charadrius semipalmatus VN 1/487 1 a 12 LG,PR,PM,MT,FT,CP,VL,PL
Charadrius modestus VS 1/3 5,6 CP
Scolopacidae
Numenius phaeopus VN 1/2 1,2,3,8,9,11 MT,FT, CP
Actitis macularius VN 1/8 1,2,3,9,10,11,12 LG,PR,PM,
Tringa melanoleuca VN 1/14 2,3,4,5,7,8,9,11 LG, PM, MT,FT,CP
Tringa semipalmata VN 1/2 3,5,10,11,12 FT,CP
Tringa flavipes VN 1/44 1 a 12 LG,PR,PM,MT,FT,CP
Arenaria interpres VN 1/2 11 CP
Calidris canutus VN 1/14 3,8,9,11,12 MT,CP
Calidris alba VN 1/6 3,4,5,9,10,11,12 LG,PR, FT,CP
Calidris fuscicollis VN 1/55 1,2,3,4,5,9,10,11,12 LG,CP,
Tryngites subruficollis VN 1/1 10 LG
Limosa haemastica VN 1/2 3,10,11 FT,CP
Stercorariidae
Stercorarius sp. VN 1/2 2,12 LG,PR
A riqueza de espécies migratórias na região foi superior ao registrada por NAKA &
RODRIGUES (2000) na ilha de Santa Catarina, com total de 10 espécies, sendo nove também
registradas neste estudo. No estuário do Saco da Fazenda, em Itajaí (SC), BRANCO (2007)
registrou 12 espécies, sendo dez também registradas neste estudo. As espécies oriundas do
sul do continente foram registradas somente durante os meses de maio e junho, e as espécies
oriundas no hemisfério norte iniciaram sua chegada em agosto, permanecendo até maio. Esta
sazonalidade já é conhecida para o Brasil (SICK, 1997), não havendo neste caso variação
significativa. A batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus) foi a mais abundante, com o
registro de grupos com mais de 400 indivíduos. Apesar de migratórias, C. semipalmatus e
Tringa flavipes foram registradas ao longo de todo ano no estuário, como já relatado para
outros estuários do Brasil (OLMOS & SILVA-SILVA, 2003). Espécies como C. semipalmatus, T.
flavipes, Actitis macularius e S. magellanicus são visitantes regulares e apresentam vários
registros em Santa Catarina (ROSARIO, 1996; NAKA & RODRIGUEZ, 2000; BRANCO, 2007).
Espécies como Pandion haliaetus, Arenaria interpres¸ Limosa haemastica¸ Calidris canutus,
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AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia

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Numenius phaeopus e Charadrius modestus não são comuns, sendo consideradas raras em
Santa Catarina (ROSÁRIO, 1996; NAKA & RODRIGUEZ, 2000). Algumas espécies registradas
neste estudo só foram documentadas para o estado de Santa Catarina recentemente, como
Charadrius falklandicus (BRANCO, 2007) e Tryngites subruficollis (KOHLER et al., 2010),
tratadas aqui como segundo registro para o estado. Já o maçarico-de-asa-branca (Tringa
semipalmata) é apresentado aqui como registro inédito para Santa Catarina.
CONCLUSÕES
O estuário recebe anualmente a visita de espécies migratórias vindas principalmente
do hemisfério norte, mas também do sul do continente, de países como a Argetina. A presença
de espécies raras ou recentemente descobertas para o estado comprova que a região ainda
apresenta locais com reduzido impacto antrópico, oferecendo condições de sobrevivência para
estas espécies durante sua migração anual.
REFERÊNCIAS
BRANCO, J. O. 2007. Avifauna aquática do Saco da Fazenda (Itajaí, Santa Catarina, Brasil):
uma década de monitoramento. Revista Brasileira de Zoologia, 24 (4): 873-882.
CBRO - Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos 2011. Listas das aves do Brasil. Versão
25/01/2011. Disponível em . Acesso em: 20.05.2011.
CEMAVE 2005 – Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres
lista das espécies de aves migratórias ocorrentes no brasil. Cabedelo/PB.
CREMER, M. J & GROSE, A. V. 2010. Aves do Estuário da Babitonga e Litoral de Sâo
Francisco do Sul. Joinville: UNIVILLE.
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 1998.
Proteção e controle de ecossistemas costeiros: manguezal da Baía de Babitonga. Brasília:
IBAMA.
KOHLER, G. U; CORRÊA, L.; BELMONTE-LOPES, R.; BORNSCHEIN, M. R. E REINERT. B.
L. 2010. First record of the Buff-breasted Sandpiper Tryngites subruficollis (Aves: Scolopacidae)
in Santa Catarina state and an additional record for Paraná state, southern Brazil. Biotemas
23(2):223-225.
NAKA, L. N. E RODRIGUES, M. 2000. As aves da Ilha de Santa Catarina. Florianópolis:
Editora da UFSC.
OLMOS, F. E SILVA-E-SILVA, R. 2003. Guará: ambiente, flora e fauna dos manguezais de
Santos-Cubatão. São Paulo: Empresa das Artes
ROSARIO, L. A. 1996. As aves em Santa Catarina: distribuição geográfica e meio ambiente.
Florianópolis, FATMA.
SICK, H. 1997. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
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AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia