Apresentação do PowerPoint - Cocminas.com.br

QUINHENTISMO no BRASIL<br />
LITERATURA DE INFORMAÇÃO<br />
http://www.youtube.com/watch?v=15jjLaMzMt8

A Carta de Pêro Vaz de Caminha, é o<br />
documento no qual Pero Vaz de<br />
Caminha registrou as suas impressões sobre a<br />
terra que posteriormente viria a ser chamada<br />
de Brasil. É o primeiro documento escrito<br />
da história do Brasil sendo, portanto,<br />
considerado o marco inicial da obra literária<br />
no país.<br />
http://www.youtube.com/watch?v=EFdSbOSGhBU<br />
http://www.youtube.com/watch?v=MuPUW2D_d1g&playne<br />
xt=1&list=PLBB228259EDE221B9&feature=results_main

LITERATURA DE CATEQUESE<br />
Cordeirinha linda,<br />
Como folga o povo,<br />
Porque vossa vinda<br />
Lhe dá lume novo.<br />
Cordeirinha santa,<br />
De Jesus querida,<br />
Vossa santa vida<br />
O Diabo espanta.

Por isso vos canta<br />
Com prazer o povo,<br />
Porque vossa vinda<br />
Lhe dá lume novo.<br />
Nossa culpa escura<br />
Fugirá depressa,<br />
Pois vossa cabeça<br />
Vem com luz tão pura.<br />
Vossa formosura<br />
Honra é do povo,<br />
Porque vossa vinda<br />
Lhe dá lume novo...(José de Anchieta)

BARROCO, alma do Brasil<br />
El Brasil tiene alma barroca. Alma culturalmente forjada a partir de la<br />
Ratio studiorum de los jesuítas, cuando, em las primeiras décadas de<br />
las classes de teologia e latim, el método pregonado por el Concilio de<br />
Trento, para reaccionar a los excesos del humanismo renascentista.

Por idealizar la fusion del carácter divino de la creación com el<br />
proyecto humano de ocupación del universo.Por superar, y dar<br />
continuidade por la renovación, al humanismorenascentista que<br />
promovió el descubrimento de um mundo nuevo, com uma visión<br />
centrada em el hombre, em la geografia de la tierra nueva y, al mismo<br />
tempo, em Dios, el creador de maravilhas.

Barrueco o título é um vocábulo espanhol que<br />
designa pérola irregular, defeituosa.<br />
•

Segundo outras opiniões, porém, o termo tem<br />
origem na fórmula mnemotécnica BAROCO,<br />
usada pelos escolásticos para designar um dos<br />
modos do silogismo, o que daria ao termo um<br />
sentido pejorativo de raciocínio estranho,<br />
tortuoso, que confunde o falso com o<br />
verdadeiro.

O SILOGISMO: Dedução formal tal que, postas<br />
duas proposições, chamadas premissas, delas<br />
se tira uma terceira, nelas logicamente<br />
implicada, chamada conclusão. Assim, temos<br />
como exemplo: Todo homem é mortal<br />
(premissa maior); ora, eu sou homem<br />
(premissa menor); logo, eu sou mortal<br />
(conclusão).<br />
Observe a construção dos tercetos finais de um<br />
soneto sacro de Gregório de Matos que,<br />
referindo-se ao amor de Cristo diz:

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,<br />
de vossa alta clemência me despido;<br />
porque quanto mais tenho delinqüido,<br />
vos tenho a perdoar mais empenhado.<br />
Se basta a vos irar tanto um pecado,<br />
a abrandar-vos sobeja um só gemido:<br />
que a mesma culpa, que vos há ofendido,<br />
vos tem para o perdão lisonjeado.<br />
Se uma orelha perdida e já cobrada,<br />
glória tal e prazer tão repentino<br />
vos deu, como afirmais na sacra história,<br />
eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,<br />
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,<br />
perder na vossa ovelha a vossa glória.

Estes versos encobrem a formulação silogística,<br />
como segue:<br />
Premissa maior: Toda ovelha arrependida é<br />
salva.<br />
Premissa menor: Eu sou uma ovelha<br />
arrependida.<br />
Conclusão: Logo, eu espero salvar-me.

O SOFISMA: É o argumento que parte de<br />
premissas verdadeiras e que chega a uma<br />
conclusão inadmissível, que não pode enganar<br />
ninguém, mas que se apresenta como<br />
resultante de regras formais do raciocínio, não<br />
podendo ser refutado. É um raciocínio falso,<br />
elaborado com a função de enganar.<br />
Ex.:<br />
Todo comunista lê Marx.<br />
Davi lê Marx.<br />
Logo, Davi é comunista.

Cultismo e Conceptismo são dois aspectos do<br />
Barroco que não se separam; antes,<br />
superpõem-se como as duas faces de uma<br />
mesma moeda. Às vezes, o autor trabalha ao<br />
nível de palavra, da imagem; busca mais<br />
argumento, o conceito. Nada impede que o<br />
mesmo texto tenha, simultaneamente,<br />
aspectos Cultistas e Conceptistas. Com os<br />
riscos inerentes às generalizações abusivas,<br />
diz-se, didaticamente, que o Cultismo é<br />
predominante na poesia e o Conceptismo,<br />
predominante na prosa.

BARROCO: a arte da indisciplina<br />
O Barroco- a arte do séc. XVII- registra um<br />
momento de crise espiritual na cultura<br />
ocidental. O homem desse período divide-se<br />
entre duas mentalidades, entre duas formas<br />
de ver o mundo: de um lado o paganismo e o<br />
sensualismo do Renascimento, em declínio;<br />
de outro, a forte onda de religiosidade que<br />
faz lembrar o teocentrismo medieval.

1517: a reforma divide a igreja<br />
entre católicos e protestantes;<br />
1540: é fundada a companhia<br />
de Jesus, ordem religiosa que<br />
envia missionários a vários<br />
continentes;<br />
1563: a igreja dá início ao<br />
movimento da Contra-<br />
Reforma, tentando impedir a<br />
expansão protestante.

Assim, a arte barroca, que vigora durante<br />
todo o século XVII e chega às primeiras<br />
décadas do séc. XVIII, registra o espírito<br />
CONTRADITÓRIO<br />
de uma época que se divide entre as<br />
influências do Renascimento - o materialismo,<br />
o paganismo e o sensualismo- e da onda de<br />
religiosidade trazida sobretudo pela CONTRA-<br />
REFORMA.<br />
BARROCO= expressão das contradições e do<br />
conflito espiritual da época.

Em Portugal, o Barroco ou Seiscentismo tem seu início em<br />
1580 com a unificação da Península Ibérica, o que acarretará<br />
um forte domínio espanhol em todas as atividades, daí o<br />
nome Escola Espanhola, também dado ao Barroco lusitano. O<br />
Seiscentismo se estenderá até 1756, com a fundação da<br />
Arcádia Lusitana.No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em<br />
1601 com a publicação do poema épico Prosopopéia, a<br />
primeira obra, propriamente literária, escrita entre nós, da<br />
autoria do português, radicado no Brasil, Bento Teixeira. O<br />
final do Barroco brasileiro só concretizou em 1768, com a<br />
publicação das Obras poéticas de Cláudio Manuel da Costa .<br />
No entanto, como o Barroco no Brasil só foi mesmo<br />
reconhecido e praticado em seu final (entre 1720 e 1750),<br />
quando foram fundadas várias academias literárias,<br />
desenvolveu-se uma espécie de Barroco tardio nas artes<br />
plásticas, o que resultou na construção de igrejas de estilo<br />
barroco durante o século XVIII.

O Barroco no Brasil foi um estilo literário que durou do século XVII ao começo do<br />
século XVIII, marcado pelo uso de antíteses e paradoxos que expressavam a<br />
visão do mudo barroco numa época de transição entre o teocentrismo e o<br />
antropocentrismo

Lisboa era considerada a capital mundial da<br />
pimenta, a agricultura lusa era abandonada.<br />
Com a decadência do comércio das especiarias<br />
orientais observa-se o declínio da economia<br />
portuguesa. Paralelamente, Portugal vive uma<br />
crise dinástica: em 1578 D. Sebastião<br />
desaparece em Alcácer-Quibir, na África; dois<br />
anos depois, Felipe II da Espanha consolida a<br />
unificação da Península Ibérica.

A perda da autonomia e o desaparecimento de D.<br />
Sebastião originam em Portugal o mito de Sebastianismo<br />
(crença segundo qual D. Sebastião voltaria e transformaria<br />
Portugal no Quinto Império). O mais ilustre sebastianista<br />
foi sem dúvida o Pe. Antônio Vieira, que aproveitou a<br />
crença surgida nas "trovas" de um sapateiro chamado<br />
Gonçalo Anes Bandarra. A unificação da Península veio<br />
favorecer a luta conduzida pela Companhia de Jesus em<br />
nome da Contra-Reforma: o ensino passa a ser quase um<br />
monopólio no campo científico-cultural. Enquanto a<br />
Europa conhecia um período de efervescência no campo<br />
científico, com as pesquisas e descobertas de Francis<br />
Bacon, Galileu, Kepler e Newton.

Com o Concílio de Trento (1545-1563), o Cristianismo se<br />
divide. De um lado os estados protestantes (seguidores de<br />
Lutero – introdutor da Reforma) que propagavam o<br />
"espírito científico", o racionalismo clássico, a liberdade<br />
de expressão e pensamento. De outro, os redutos<br />
católicos (a Contra-Reforma) que seguiam uma<br />
mentalidade mais estreita, marcada pela Inquisição (na<br />
verdade uma espécie de censura) e pelo teocentrismo<br />
medieval.<br />
O quadro brasileiro se completa, no século XVII, com a<br />
presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as<br />
transformações ocorridas no Nordeste em consequência<br />
das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a<br />
decadência da cana-de-açúcar.

Características<br />
O culto da forma manifesta-se tanto na literatura quanto nas<br />
artes plásticas do Barroco. Neste detalhe de um grupo de<br />
esculturas de Aleijadinho que representa a Última Ceia, não<br />
há lugar para a expressão serena das imagens religiosas; os<br />
apóstolos revelam intensa agitação, traduzida nos gestos e<br />
olhares que trocam a respeito do que acabaram de ouvir de<br />
Cristo.

Algumas características da linguagem barroca merecem<br />
especial atenção pela sua peculiaridade e pelo uso que<br />
sendo feito de algumas delas em escolas posteriores.<br />
Arte da Contra-Reforma: a ideologia do Barroco é<br />
fornecida pela Contra-Reforma. A arte deve ter como<br />
objetivo a fé católica.

Conflito espiritual: O homem barroco sente-se<br />
dilacerado e angustiado diante da alteração dos<br />
valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o<br />
mundo material. As figuras que melhor expressam esse<br />
estado de alma são a antítese e o paradoxo.

LÍRICA FILOSÓFICA<br />
À instabilidade das cousas no mundo.

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,<br />
Depois da luz se segue a noite escura,<br />
Em tristes sombras morre a formosura,<br />
Em contínuas tristezas a alegria.<br />
Porém se acaba o Sol, por que nascia?<br />
Se formosa a luz é, por que não dura?<br />
Como a beleza assim se transfigura?<br />
Como o gosto da pena assim se fia?<br />
Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,<br />
Na formosura não se crê constância,<br />
E na alegria sinta-se tristeza.<br />
Começa o mundo enfim pela ignorância,<br />
E tem qualquer dos bens por natureza<br />
A firmeza somente na inconstância.<br />
Gregório de Mattos

O tema da fugacidade do tempo, da incerteza da vida, é<br />
desenvolvido por meio de um jogo de imagens e ideias<br />
que se contrapõem, num sistema de oposições: nasce x<br />
não dura; luz x noite escura; tristes sombras x formosura;<br />
acaba x nascia.<br />
O espírito Barroco é cabalmente expresso no célebre<br />
dilema do 3º ato de Hamlet, de Shakespeare: "To be or<br />
not to be, that is the question". ("Ser ou não ser, eis a<br />
questão...")

Temas contraditórios: Há o gosto pela confrontação<br />
violenta de temas opostos.

Efemeridade do tempo e carpe diem: O homem barroco tem<br />
consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e por isso, é<br />
preciso pensar na salvação espiritual. Mas já que a vida é passageira,<br />
sente, ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que<br />
resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica<br />
pecar, e se há pecado, não há salvação.<br />
http://www.youtube.com/watch?v=mozu_zZANAI<br />
http://www.youtube.com/watch?v=K5nDbjtmcNQ

Discreta e formosíssima Maria,<br />
Enquanto estamos vendo claramente,<br />
Na vossa ardente vista o sol ardente,<br />
E na rosada face a aurora fria:<br />
Enquanto pois produz, enquanto cria<br />
Essa esfera gentil, mina excelente<br />
No cabelo o metal mais reluzente,<br />
E na boca a mais fina pedraria:<br />
Gozai, gozai da flor da formosura,<br />
Antes que o frio da madura idade<br />
Tronco deixe despido, o que é verdura.<br />
Que passado o zênith da mocidade,<br />
Sem a noite encontrar da sepultura,<br />
É cada dia ocaso da beldade. (Gregório de Mattos)

Cultismo: é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela<br />
valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do<br />
poeta espanhol Luís de Gôngora; daí o estilo ser também conhecido como<br />
Gongorismo.<br />
O aspecto exterior imediatamente visível no Cultismo ou Gongorismo é o abuso no<br />
emprego de figuras de linguagem como as metáforas, antítese, hipérboles,<br />
hipérbatos, anáforas, paronomásias, etc...<br />
"O todo sem a parte não é o todo;<br />
A parte sem o todo não é parte;<br />
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,<br />
Não se diga que é parte, sendo o todo.<br />
Em todo o Sacramento está Deus todo,<br />
E todo assiste inteiro em qualquer parte,<br />
E feito em partes todo em toda a parte,<br />
Em qualquer parte sempre fica todo..."<br />
(Gregório de Matos)

Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de<br />
conceitos, seguindo um raciocínio lógico,<br />
racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada.<br />
Um dos principais cultores do conceptismo foi o<br />
espanhol Quevedo, de onde deriva o termo<br />
Quevedismo. Os Conceptistas pesquisavam a<br />
essência íntima dos objetos, buscando saber o<br />
que são, visando à apreensão da face oculta,<br />
apenas acessível ao pensamento, ou seja, ao<br />
conceitos; assim a inteligência, a lógica e o<br />
raciocínio ocupam o lugar dos sentidos, impondo<br />
a concisão e a ordem, onde reinavam a<br />
exuberância e o exagero. Assim, é usual a<br />
presença de elementos da lógica formal.

Barroco – As Origens da Cultura Brasileira<br />
O nosso primeiro e decisivo estilo artístico e literário foi o<br />
Barroco. É contemporâneo dos alicerces mais antigos da<br />
sociedade e da cultura brasileira, ou seja, da formação da<br />
família patriarcal nos engenhos de cana de Pernambuco e<br />
da Bahia, da economia apoiada no tríptico monoculturalatifúndio-trabalho<br />
escravo, bem como dos primórdios da<br />
educação brasileira, nos colégios jesuíticos. Daí sua<br />
importância, e daí, também, as projeções que esse período<br />
subsequentes, até os nossos dias.<br />
O Barroco é originário da Itália e da Espanha e sua expansão<br />
para o Brasil deu-se a partir da Espanha, centro irradiador<br />
desse estilo, para a Península Ibérica e América Latina.

Para isso contribuíram, decisivamente, os seguintes fatos:<br />
• A Espanha foi potência hegemônica no séc. XVII, transformando-se no centro da<br />
Contra-Reforma e na sede da Companhia de Jesus, a ordem religiosa mais atuante<br />
no período;<br />
• Em 1580, ocorre a união das coroas ibéricas, e Portugal, incluindo as suas colônias<br />
ultramarinas, fica até 1640 sob domínio espanhol (domínio filipino);<br />
• Com isso, a mentalidade católica espanhola, revigorada pelo Concílio de Trento<br />
(1545 a 1563), atuou fundamentalmente em Portugal, especialmente pelo<br />
fortalecimento da Santa Inquisição, já estabelecida definitivamente desde 1540;<br />
• Paralelamente, houve o extraordinário fortalecimento da Compainha de Jesus ou<br />
Jesuítas, mentores intelectuais e guardiões do espírito contra-reformista. Foram<br />
exatamente esses padres, os primeiros educadores que tivemos, que<br />
transplantaram para o Brasil a formação Ibérico-jesuítica e o gosto artístico vigente<br />
na Europa;<br />
• O ensino ministrado em Portugal e nos colégios jesuíticos brasileiros era<br />
profundamente verbal. Um de seus principais objetivos era o de adestrar os<br />
estudantes no desempenho lingüístico, de tal modo que tivessem facilidade verbal<br />
de defender ou "provar" as verdades dogmáticas da Igreja. Não havia estímulo ao<br />
espírito crítico, nem a nenhum tipo de investigação intelectual pessoal. Nasceu daí<br />
o gosto, ainda vigente entre nossa elite, pelo estilo pomposo, retórico, pelo jogo<br />
de palavras, tão comum entre nossos tribunos e políticos, perpetuando na<br />
opulência verbal de Rui Barbosa, Coelho Neto e Euclides da Cunha, para ficarmos<br />
em apenas três desdobramentos mais recentes do estilo Barroco.

Os limites cronológicos do Barroco no Brasil são:<br />
• INÍCIO: 1601 – com PROSOPOPÉIA, poema<br />
épico de autoria do português, radicado no<br />
Brasil, Bento Teixeira Pinto. É a primeira obra,<br />
propriamente literária, escrita entre nós.<br />
• TÉRMINO: 1768 – com a publicação das<br />
OBRAS POÉTICAS de CLAÚDIO MANUEL DA<br />
COSTA, obra inicial do Arcadismo no Brasil.

Representantes<br />
Padre Antônio Vieira<br />
• Vieira nasceu em Lisboa, em 1608. Com sete anos vem para<br />
a Bahia; em 1623 entra para a Companhia de Jesus.<br />
Quando Portugal se liberta da Espanha (1640), retorna à<br />
terra natal, saudando o rei D. João IV, de quem se tornaria<br />
confessor. Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena<br />
burguesia cristã, por defender o capitalismo judaico e os<br />
cristãos-novos; os pequenos comerciantes, por defender<br />
um monopólio comercial; os administradores e colonos,<br />
por defender os índios. Essas posições, principalmente a<br />
defesa dos cristãos-novos, custam a Vieira uma condenação<br />
pela Inquisição: fica preso de 1665 a 1667. Falece em 1697,<br />
no Colégio da Bahia.

Podemos dividir sua obra em:<br />
• Profecias – constam de três obras: História do futuro, Esperanças de<br />
Portugal e Clavis prophetarum, em que se notam Sebastianismo e<br />
as esperanças de Portugal se tornar o Quinto Império do Mundo,<br />
pois tal fato estaria escrito na Bíblia.<br />
• Cartas – são cerca de 500 cartas, que versam sobre o<br />
relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os<br />
cristãos-novos.<br />
• Sermões – são quase 200 sermões. De estilo barroco conceptista o<br />
pregador português joga com asa idéias e os conceitos, segundo os<br />
ensinamentos da retórica dos jesuítas. Um de seus principais<br />
sermões é o Sermão da sexagésima (ou A palavra de Deus), pregado<br />
na Capela Real de Lisboa em 1655.

"... Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas,<br />
como os pregdores fazem o sermão em xadrez<br />
de palavras. Se de uma parte está branco, da<br />
outra há de estar negro; se de um parte dizem<br />
luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma<br />
parte dizem desceu, da outra hão de dizer<br />
subiu. Basta, que não havemos de ver num<br />
sermão duas palavras em paz? Todas hão de<br />
estar sempre em fronteira com o seu<br />
contrário? ..."<br />
(Fragmento do Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira

• Dentre sua obras mais conhecidas, destacamse<br />
ainda: Sermão pelo bom sucesso das armas<br />
de Portugal contra as de Holanda e o Sermão<br />
de Santo Antônio.<br />
Antigo interior da igreja de Nossa Senhora da<br />
Ajuda (Salvador, Bahia), onde vieira proferiu<br />
seu Sermão pelo bom sucesso das armas de<br />
Portugal contra as Holandas

O escritor Gregório de Matos Guerra, nascido na<br />
Bahia, provavelmente a 20 de dezembro de 1633,<br />
firma-se como o primeiro poeta brasileiro. Após<br />
os primeiros estudos no Colégio de Jesuítas, vai<br />
para Coimbra, onde se gradua em Direito.<br />
Formado, vive alguns anos em Lisboa exercendo a<br />
profissão; por suas sátiras, é obrigado a retornar<br />
à Bahia. Em sua terra natal, é convidado a<br />
trabalhar com o jesuítas no cargo de tesoureiromor<br />
da Companhia de Jesus. Ainda por sua<br />
sátiras, abandona os padres e é degredado para<br />
Angola; já bastante doente volta ao Brasil, mas<br />
sob duas condições: estava proibido de pisar em<br />
terras baianas e de apresentar sua sátiras.<br />
Morreu em Recife, no ano de 1696.

• Apesar de ser conhecido como poeta satírico – daí o<br />
apelido "Boca do Inferno" –, Gregório também<br />
praticou, e com esmero, a poesia religiosa e a lírica.<br />
Cultivou tanto o estilo cultista como o conceptista,<br />
apresentando jogo de palavras ao lado de raciocínios<br />
sutis, sempre como o uso abusivo de linguagem.<br />
• Sua obra permaneceu inédita até o século XX, quando<br />
a Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933,<br />
publicou seis volumes, assim distribuídos: I. Poesia<br />
sacra; II. Poesia lírica; III. Poesia graciosa; IV e V. Poesia<br />
satírica; e VI. Últimas.

Poeta religioso: Gregório coloca-se diante de Deus, como um pecador,<br />
pedindo perdão por seus erros e confiante na misericórdia divina.<br />
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,<br />
É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,<br />
Delinqüido vos tenho, e ofendido,<br />
Ofendido vos tem minha maldade.<br />
Maldade, que encaminha à vaidade,<br />
Vaidade, que todo me há vencido;<br />
Vencido quero ver-me, e arrependido,<br />
Arrependido a tanta enormidade.<br />
Arrependido estou de coração,<br />
De coração vos busco, dai-me os braços,<br />
Abraços, que me rendem vossa luz.<br />
Luz, que claro me mostra a salvação,<br />
A salvação pertendo em tais abraços,<br />
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.

ÉS TERRA<br />
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,<br />
Te lembra hoje Deus por sua Igreja;<br />
De pó te faz espelho, em que se veja<br />
A vil matéria, de que quis formar-te.<br />
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te<br />
E como o teu baixel sempre fraqueja<br />
Nos mares da vaidade, onde peleja,<br />
Te põe à vista a terra, onde salvar-te.<br />
Alerta, alerta, pois, que o vento berra.<br />
Se assopra a vaidade e incha o pano,<br />
Na proa a terra tens, amaina e ferra.<br />
Todo o lenho mortal, baixel humano,<br />
Se busca a salvação, tome hoje terra,<br />
Que a terra de hoje é porto soberano

Poeta satírico: criticava os letrados, os políticos, a corrupção, o<br />
relaxamento dos costumes, a cidade da Bahia.<br />
A cada canto um grande conselheiro,<br />
Que nos quer governar a cabana, e vinha,<br />
Não sabem governar sua cozinha,<br />
E podem governar o mundo inteiro.<br />
Em cada porta um freqüentado olheiro,<br />
Que a vida do vizinho, e da vizinha<br />
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,<br />
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.<br />
Muitos Mulatos desavergonhados,<br />
Trazidos pelos pés os homens nobres,<br />
Posta nas palmas toda a picardia.<br />
Estupendas usuras nos mercados,<br />
Todos, os que não furtam, muito pobres,<br />
E eis aqui a cidade da Bahia.

EPILOGO<br />
Que falta nesta cidade?................Verdade<br />
Que mais por sua desonra?...........Honra<br />
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.<br />
O demo a viver se exponha,<br />
Por mais que a fama a exalta,<br />
numa cidade, onde falta<br />
Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio<br />
Quem causa tal perdição?.............Ambição<br />
E o maior desta loucura?...............Usura.<br />
Notável desventura<br />
de um povo néscio, e sandeu,<br />
que não sabe, que o perdeu<br />
Negócio, Ambição, Usura.

Quais são os seus doces objetos?....Pretos<br />
Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços<br />
Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos.<br />
Dou ao demo os insensatos,<br />
dou ao demo a gente asnal,<br />
que estima por cabedal<br />
Pretos, Mestiços, Mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos<br />
Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas<br />
Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos.<br />
Os círios lá vêm aos centos,<br />
e a terra fica esfaimando,<br />
porque os vão atravessando<br />
Meirinhos, Guardas, Sargentos.

E que justiça a resguarda?.............Bastarda<br />
É grátis distribuída?......................Vendida<br />
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.<br />
Valha-nos Deus, o que custa,<br />
o que El-Rei nos dá de graça,<br />
que anda a justiça na praça<br />
Bastarda, Vendida, Injusta.

Que vai pela clerezia?..................Simonia<br />
E pelos membros da Igreja?..........Inveja<br />
Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha.<br />
Sazonada caramunha!<br />
enfim que na Santa Sé<br />
o que se pratica,<br />
é Simonia, Inveja, Unha.

E nos frades há manqueiras?.........Freiras<br />
Em que ocupam os serões?............Sermões<br />
Não se ocupam em disputas?.........Putas.<br />
Com palavras dissolutas<br />
me concluís na verdade,<br />
que as lidas todas de um Frade<br />
são Freiras, Sermões, e Putas.

O açúcar já se acabou?..................Baixou<br />
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu<br />
Logo já convalesceu?.....................Morreu.<br />
À Bahia aconteceu<br />
o que a um doente acontece,<br />
cai na cama, o mal lhe cresce,<br />
Baixou, Subiu, e Morreu.

A Câmara não acode?...................Não pode<br />
Pois não tem todo o poder?...........Não quer<br />
É que o governo a convence?........Não vence.<br />
Que haverá que tal pense,<br />
que uma Câmara tão nobre<br />
por ver-se mísera, e pobre<br />
Não pode, não quer, não vence.

SÁTIRA PORNOGRÁFICA<br />
A MESMA MARIA VIEGAS SACODE AGORA O<br />
POETA ESTRAVAGANTEMENTE PORQUE SE<br />
ESPEYDORRAVA MUITO

Dizem, que o vosso cu, Cota,<br />
assopra sem zombaria,<br />
que parece artilharia,<br />
quando vem chegando a frota:<br />
parece, que está de aposta<br />
este cu a peidos dar,<br />
porque jamais sem parar<br />
este grão-cu de enche-mão<br />
sem pederneira, ou murrão<br />
está sempre a disparar.

De Cota o seu arcabuz<br />
apontado sempre está,<br />
que entre noite, e dia dá<br />
mais de quinhentos truz-truz::<br />
não achareis muitos cus<br />
tão prontos em peidos dar,<br />
porque jamais sem parar<br />
faz tão grande bateria,<br />
que de noite, nem de dia<br />
pode tal cu descansar.

Cota, esse vosso arcabuz<br />
parece ser encantado,<br />
pois sempre está carregado<br />
disparando tantos truz:<br />
arrenego de tais cus,<br />
porque este foi o primeiro<br />
cu de Moça fulieiro,<br />
que tivesse tal saída<br />
para tocar toda a vida<br />
por fole de algum ferreiro.

VENDO-SE FINALMENTE EM HUMA OCCASIÃO<br />
TAM PERSEGUIDA ESTA DAMA DO<br />
POETA, ASSENTIO NO PREMIO DE SUAS FINEZAS;<br />
COM CONDIÇÃO POREM, QUE<br />
SE QUERIA PRIMEYRO LAVAR; AO QUE ELLE<br />
RESPONDEO COM A SUA<br />
COSTUMADA JOCOSERIA A BARBORA

O lavar depois importa,<br />
porque antes em água fria<br />
estarei eu noite, e dia<br />
batendo-vos sempre à porta:<br />
depois que um homem aporta,<br />
faz bem força por entrar,<br />
e se hei de o postigo achar<br />
fechado com frialdade,<br />
antes quero a sujidade,<br />
porque enfim me hei de atochar.

Não serve o falar de fora,<br />
Babu, vós bem o sabeis,<br />
dai-me em modo, que atocheis,<br />
e esteja ele sujo embora:<br />
e se achais, minha Senhora,<br />
que estes são os meus senãos,<br />
não fiquem meus gostos vãos,<br />
nem vós por isso amuada,<br />
que ou lavada, ou não lavada<br />
cousa é, de que levo as mãos.

Lavai-vos, minha Babu,<br />
cada vez que vós quiseres,<br />
já que aqui são as mulheres<br />
lavandeiras do seu cu:<br />
juro-vos por Berzabu,<br />
que me dava algum pesar<br />
vosso contínuo lavar,<br />
e agora estou nisso lhano,<br />
pois nunca se lava o pano,<br />
senão para se esfregar.

A que se esfrega amiúdo<br />
se há de amiúdo lavar,<br />
porque lavar, e esfregar<br />
quase a um tempo se faz tudo:<br />
se vós por modo sisudo<br />
o quereis sempre lavado,<br />
passe: e se tendes cuidado<br />
de lavar o vosso cujo<br />
por meu esfregão ser sujo,<br />
já me dou por agravado.

Lavar a carne é desgraça<br />
em toda a parte do Norte,<br />
porque diz, que dessa sorte<br />
perde a carne o sal, e graça:<br />
e se vós por esta traça<br />
lhe tirais ao passarete<br />
o sal, a graça, e o cheirete,<br />
em pouco a dúvida topa,<br />
se me quereis dar a sopa,<br />
dai-ma com todo o sainete.

Se reparais na limpeza,<br />
ides enganada em suma,<br />
porque em tirando-se a escuma,<br />
fica a carne uma pureza:<br />
fiai da minha destreza,<br />
que nesse apertado caso<br />
vos hei de escumar o vaso<br />
com tal acerto, e escolha,<br />
que há de recender a olha<br />
desde o Nascente ao Ocaso.

As Damas, que mais lavadas<br />
costumam trazer as peças,<br />
e disso se prezam, essas<br />
são Damas mais deslavadas:<br />
porque vivendo aplicadas<br />
a lavar-se, e mais lavar-se<br />
deviam desenganar-se,<br />
de que se não lavam bem,<br />
porque mal se lava, quem<br />
se lava para sujar-se.

• Poeta lírico: seu lirismo amoroso se define<br />
pelo erotismo, revelando uma sensualidade<br />
ora grosseira, ora de rara fineza. Gregório de<br />
Matos foi o primeiro poeta que admirou e<br />
glorificou a mulata.

Não vi em minha vida a formosura,<br />
Ouvia falar nela cada dia,<br />
E ouvida me incitava, e me movia<br />
A querer ver tão bela arquitetura.<br />
Ontem a vi por minha desventura<br />
Na cara, no bom ar, na galhardia<br />
De uma Mulher, que em Anjo se mentia,<br />
De um Sol, que se trajava em criatura.<br />
Me matem (disse então vendo abrasar-me)<br />
Se esta a cousa não é, que encarecer-me.<br />
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me.<br />
Olhos meus (disse então por defender-me)<br />
Se a beleza hei de ver para matar-me,<br />
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.

Minha rica mulatinha,<br />
desvelo e cuidado meu,<br />
eu já fora todo teu,<br />
e tu foras toda minha;<br />
Juro-te, minha vidinha,<br />
se acaso minha qués ser,<br />
que todo me hei de acender<br />
em ser teu amante fino pois<br />
por ti já perco o tino,<br />
e ando para morrer.

A D. ÂNGELA<br />
Anjo no nome, Angélica na cara!<br />
Isso é ser flor e Anjo juntamente:<br />
Ser Angélica flor e Anjo florente,<br />
Em quem, senão em vós, se uniformara?<br />
Quem vira uma tal flor que a não cortara<br />
De verde pé, da rama florescente;<br />
E quem um Anjo vira tão luzente<br />
Que por seu Deus o não idolatrara?<br />
Se pois como Anjo sois dos meus altares,<br />
Fôreis o meu Custódio e a minha guarda,<br />
Livrara eu de diabólicos azares.<br />
Mas vejo, que por bela, e por galharda,<br />
Posto que os Anjos nunca dão pesares,<br />
Sois Anjo que me tenta, e não me guarda.

O Amor é finalmente<br />
um embaraço de pernas,<br />
uma união de barrigas,<br />
um breve tremor de artérias.<br />
Uma confusão de bocas,<br />
uma batalha de veias,<br />
um rebuliço de ancas;<br />
quem diz outra coisa, é besta.<br />
Ardor em firme coração nascido;<br />
Pranto por belos olhos derramado;<br />
Incêndio em mares de água disfarçado;<br />
Rio de neve em fogo convertido:<br />
Tu, que em um peito abrasas escondido;<br />
Tu, que em um rosto corres desatado;<br />
Quando fogo, em cristais aprisionado;<br />
Quando cristal, em chamas derretido.

Ardor em firme coração nascido;<br />
pranto por belos olhos derramado;<br />
incêndio em mares de água disfarçado;<br />
rio de neve em fogo convertido:<br />
tu, que em um peito abrasas escondido;<br />
tu, que em um rosto corres desatado;<br />
quando fogo, em cristais aprisionado;<br />
quando crista, em chamas derretido.<br />
Se és fogo, como passas brandamente,<br />
se és fogo, como queimas com porfia?<br />
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!<br />
Pois para temperar a tirania,<br />
como quis que aqui fosse a neve ardente,<br />
permitiu parecesse a chama fria.

Bento Teixeira Pinto (1565 – 1600)<br />
É autor de Prosopopéia, poema épico em<br />
decassílabos, dispostos em oitava rima, publicado<br />
em 1601. Apesar da deficiência, o texto é visto<br />
por alguns críticos como iniciador do Barroco no<br />
Brasil. Durante muito tempo pensou-se que<br />
fosse natural de Recife, cidade descrita no<br />
poema, que narra um naufrágio sofrido por Jorge<br />
Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de<br />
Pernambuco. Hoje se admite que teria nascido<br />
em Portugal, embora tivesse morado a maior<br />
parte da vida no Recife.