Revisão e formatação: Graco - CloudMe

tinha escolhido aquelas que eu achava que valiam a pena salvar, a maioria,
protegendo-as da Igreja. Niccolò não poderia saber disso, apesar de tudo.
Eu não o vi por quase três semanas, até que nos esbarramos na grande
queima de Savonarola. A História viria a conhecer esse evento como a Fogueira das
Vaidades. Foi uma grande pirâmide recheada com combustível e pecado. Os
intolerantes lançavam itens e mais itens fazendo com que ela brilhasse, parecendo
existir uma fonte inesgotável. Eu vi uma pintura de Botticelli ser jogada dentro dela.
A saudação de Niccolò curta. "Bianca".
"Olá, Niccolò". Eu mantive minha voz fria e encrespada. Indiferente.
Ele estava na minha frente, olhos cinza escuro na luz bruxuleante. Seu
rosto parecia ter envelhecido desde a nossa na última reunião. Nós dois nos viramos e
observamos em silêncio o fogo novamente, vendo como cada vez mais as melhores
coisas do homem eram sacrificadas.
"Vocês mataram o progresso" - Niccolò disse finalmente. "Você me traiu".
"Tenho atrasado o progresso. E eu não tinha obrigações para com você.
Exceto por isso". Abri as dobras do meu vestido e lhe entreguei uma bolsa pesada
com florins. Foi a última parte do meu plano. Ele a pegou, piscando em o seu peso.
"Isso é mais do que você me deve. E eu não vou terminar afresco".
"Eu sei. Está tudo bem. Fique com isso. Vá para outro lugar, em algum
lugar fora daqui. Pinte. Escreva. Criar algo bonito. O que for preciso para te fazer
feliz. Eu realmente não me importo".
Ele me olhou, e eu temia que ele devolvesse o dinheiro. "Eu ainda não
entendo. Como você pode não se preocupar com nada disso? Como você pode ser tão
cruel? Por que você fez isso?"
Estudei o fogo novamente. Os seres humanos, eu percebi quieta, gostavam
de queimar coisas. Objetos. Cada um dos outros. "Porque os homens não podem
superar os deuses. Pelo menos por enquanto".
"Prometheus nunca destinou seu dom para ser usado desta forma".
155