Artigo Brasil Contra a Impunidade - Luiz Gonzaga Martins Coelho ...
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<strong>Brasil</strong> contra a impunidade<br />
* <strong>Luiz</strong> <strong>Gonzaga</strong> <strong>Martins</strong> <strong>Coelho</strong><br />
Poucos assuntos têm merecido tanta atenção nos últimos<br />
tempos como a PEC 37, que visa acrescentar o § 10.º ao art. 144 da<br />
Constituição Federal, com a seguinte redação: “A apuração nas<br />
infrações penais de que tratam os §§ 1.º e 4.º deste artigo, incumbem<br />
PRIVATIVAMENTE às polícias federal e civis dos Estados e do Distrito<br />
Federal, respectivamente (destaque nosso).<br />
Caso aprovada essa famigerada PEC 37, significa dizer que<br />
as investigações criminais no <strong>Brasil</strong> passarão a ser conduzidas, em<br />
caráter exclusivo, pelas polícias federal e civis que, a partir de então,<br />
deterão o seu monopólio, enfraquecendo sobremaneira o combate à<br />
criminalidade e à corrupção em nosso país.<br />
Esse tema tem despertado grande interesse e polêmica,<br />
fazendo que o Ministério Público brasileiro lançasse uma campanha<br />
institucional intitulada “<strong>Brasil</strong> contra a impunidade”, com o objetivo de<br />
chamar a atenção da sociedade para a gravidade da aprovação dessa<br />
Proposta de Emenda Constitucional, que visa retirar o poder<br />
investigatório do Ministério Público e outros órgãos como Receita<br />
Federal, Tribunal de Contas, COAF, CGU, dentre outros.<br />
Para conscientizar a população maranhense dos malefícios<br />
dessa Proposta, a Procuradoria Geral de Justiça e a Associação do<br />
Ministério Público do Maranhão realizaram nos dias 18 e 25 de<br />
fevereiro um encontro com a imprensa e membros da sociedade civil<br />
organizada, tendo ainda realizado no dia 9 de abril atos públicos contra<br />
a PEC em mais de 40 municípios do Estado e uma audiência pública no<br />
auditório da OAB/MA, culminando de sucesso a campanha com a<br />
realização do 1º Simpósio <strong>Brasil</strong> contra a <strong>Impunidade</strong>, ocorrido no
auditório do Ministério Público do Distrito Federal, onde, na<br />
oportunidade, usaram da palavra o Ministro aposentado do STF, Carlos<br />
Ayres de Brito, os Senadores Randolfe Rodrigues e Pedro Taques, o<br />
Deputado Federal Alessandro Marlon, o Professor Lênio Streck, o<br />
Presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais, Oswaldo do<br />
Valle, a Presidente em exercício da CONAMP, Norma Cavalcanti, a<br />
CNBB, o Presidente da AMB, Nelson Calandra, o Presidente do<br />
Sindicato dos Policiais Civis e Federal, o Presidente da ANPR, além de<br />
várias outras personalidades e entidades, todas expressando sua<br />
insatisfação com a estapafúrdia proposta de monopólio do poder<br />
investigatório pelos policiais, uma vez que tal iniciativa representa um<br />
retrocesso e vai de encontro aos interesses maiores da sociedade, que<br />
deseja um combate mais efetivo à corrupção. Vale citar trecho das<br />
sábias palavras do Ministro Ayres Brito, “Reconhecer o poder<br />
investigatório do MP é servir a cidadania, um dos conteúdos mais<br />
eminentes desse continente que é a democracia” e acrescentou: “a<br />
cultura do biombo acabou, vivemos um novo Estado, o Estado da<br />
transparência e do controle; quanto mais se dilatam as instâncias de<br />
investigação, melhor”.<br />
Em nota expedida pela Confederação Nacional dos Bispos<br />
<strong>Brasil</strong>eiros e lida por representante daquela entidade durante o evento,<br />
disse: “no momento em que os valores e as convicções democráticas da<br />
sociedade brasileira passam por uma preocupante crise, custa-nos<br />
entender a razão de tal vedação, pois o poder absoluto corrompe<br />
absolutamente”.<br />
Como escreveu a jornalista Rosane de Oliveira, respeitada<br />
colunista de política do Jornal Zero Hora: “em um país em que a polícia<br />
carece de recursos para investigar homicídio, tráfico de drogas, roubos
de carros e outros crimes de maior complexidade, não se compreende a<br />
briga pela exclusividade nas investigações”.<br />
É de crucial importância colocar que o MP em nenhum<br />
momento pretende substituir, competir ou enfraquecer o trabalho<br />
desenvolvido pelas polícias judiciárias, pelo contrário, deseja o<br />
fortalecimento das ações coordenadas e harmônicas no combate ao<br />
crime e à impunidade, garantindo à sociedade brasileira respostas<br />
céleres e eficazes quanto à proteção de elevados valores sociais e<br />
jurídicos, como o patrimônio público e a probidade administrativa.<br />
O Ministério Público tem um relevante papel constitucional,<br />
dentre eles a atividade investigatória e o controle externo da atividade<br />
policial. A aprovação da PEC 37, já denominada como PEC da<br />
impunidade ou PEC da insensatez, representará, sem dúvida, um<br />
desmantelo da ordem jurídica, indo contra o espírito do constituinte de<br />
88, que desejou o fortalecimento do Ministério Público, da democracia<br />
e da cidadania.<br />
Felizmente, na última terça-feira (30/04), na tentativa de<br />
resolver os impasses pró e contra a PEC, o Presidente da Câmara dos<br />
Deputados, Henrique Eduardo Alves e o Ministro da Justiça, José<br />
Eduardo Cardoso, reuniram-se com representantes do Ministério<br />
Público e das Polícias, oportunidade em que foi criada uma comissão<br />
mista de trabalho para elaboração de um novo texto constitucional<br />
visando o aperfeiçoamento da matéria.<br />
O momento é de alerta, preocupação e mobilização.<br />
Apelamos ao bom senso dos Senhores Congressistas e aos integrantes<br />
da nova comissão para que, imbuídos dos melhores propósitos e<br />
levando em conta o interesse público, possam chegar a um texto<br />
alternativo que atenda ao clamor da sociedade, que é o eficaz combate<br />
à corrupção e à impunidade.
* Promotor de Justiça da Infância e Juventude da Comarca de São Luís<br />
e Diretor Geral da Procuradoria-Geral de Justiça.