15.07.2013 Views

Em quatrocentos golpes um retrato da juventude em Truffaut - jandre

Em quatrocentos golpes um retrato da juventude em Truffaut - jandre

Em quatrocentos golpes um retrato da juventude em Truffaut - jandre

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Quando o juiz decide colocar o menino <strong>em</strong> <strong>um</strong> centro para reabilitação a mãe<br />

entusiasticamente pergunta se não poderia ser n<strong>um</strong> lugar junto ao mar ao que o juiz<br />

contesta explicando que tal lugar não seria <strong>um</strong>a colônia de férias.<br />

Antoine d<strong>em</strong>onstra <strong>um</strong>a lógica que transcende fronteiras do juvenil <strong>em</strong> vários<br />

momentos do filme Se o presente dos adultos que o cercam t<strong>em</strong> algo a ver com seu<br />

futuro ele deixa claro que o recusa, não quer ser amanhã o que são hoje seus pais e<br />

professores.<br />

Enviado ao “Centro de Observação para Menores Delinqüentes”, já na chega<strong>da</strong><br />

leva <strong>um</strong>a bofeta<strong>da</strong> por ter comido <strong>um</strong> pe<strong>da</strong>ço de pão antes que fosse <strong>da</strong><strong>da</strong> ord<strong>em</strong> para<br />

que o fizesse, mas lhe é <strong>da</strong><strong>da</strong> chance de escolha sobre se quer apanhar com a mão<br />

esquer<strong>da</strong> ou com a direita.<br />

É submetido a ver<strong>da</strong>deiro interrogatório por <strong>um</strong>a psicóloga e é seu olhar que fala<br />

por ele mais <strong>um</strong>a vez. N<strong>um</strong>a estratégia magistral o personag<strong>em</strong> <strong>da</strong> psicóloga não é<br />

mostrado <strong>em</strong> cena apenas a escutamos de modo que tudo se possa concentrar <strong>em</strong><br />

primeiro plano no olhar de Antoine. Aí sua percepção se revela mais <strong>um</strong>a vez, n<strong>um</strong>a<br />

mistura de sentimentos infantis e n<strong>um</strong>a desespera<strong>da</strong> tentativa de ser <strong>um</strong> adulto <strong>em</strong> meio<br />

às exigências que lhe faz o mundo <strong>em</strong> que vive.<br />

Quando responde à pergunta sobre porque roubou dinheiro <strong>da</strong> avó o faz com<br />

<strong>um</strong>a pureza infantil alegando que a avó já estava velha, comia pouco, iria morrer <strong>em</strong><br />

breve por ser velha e portanto, não precisava de muito dinheiro. A avó n<strong>em</strong> percebera e<br />

até lhe dera <strong>um</strong> belo livro de presente, mas tanto livro quanto dinheiro foram<br />

confiscados pela mãe, que vendeu o livro e se apropriou do dinheiro. Antoine<br />

simplesmente narra o episódio como se a mãe tivesse o direito de fazer o que fez,<br />

revelando <strong>um</strong> tom de lamento apenas pela per<strong>da</strong> do livro.<br />

In<strong>da</strong>gado sobre se possuía experiência sexual, seu olhar mu<strong>da</strong> rapi<strong>da</strong>mente, de<br />

ingênuo para malicioso, mas explica que não fora além de <strong>um</strong>a grande curiosi<strong>da</strong>de<br />

sobre o assunto e quando fora à <strong>um</strong>a rua de prostituição, as moças brigaram com ele e o<br />

man<strong>da</strong>ram <strong>em</strong>bora por ser ain<strong>da</strong> muito jov<strong>em</strong>.<br />

Quando a psicóloga comenta a afirmação de seus pais de que ele mente s<strong>em</strong>pre<br />

sua resposta é interessante: _ “Eu poderia dizer a ver<strong>da</strong>de , mas não acreditariam, então<br />

prefiro mentir”.<br />

Esta certeza de que dizer a ver<strong>da</strong>de de na<strong>da</strong> adianta explica <strong>um</strong> pouco as atitudes<br />

de Antoine, mas diz muito mais do mundo <strong>em</strong> que ele vive, <strong>um</strong> mundo <strong>em</strong> que ver<strong>da</strong>de<br />

e mentira se misturam e não se diferenciam, <strong>um</strong>a escola que faz de conta que educa,<br />

pais que faz<strong>em</strong> de conta que são felizes e que se omit<strong>em</strong> <strong>da</strong> educação do filho<br />

transferindo-a a qu<strong>em</strong> consideram, tenha o ver<strong>da</strong>deiro poder, a policia e a justiça.<br />

O terço final do filme aponta para esta tensão entre ver<strong>da</strong>de e mentira. Ao<br />

receber a visita <strong>da</strong> mãe, ela está chorosa e reclama acerca de <strong>um</strong>a carta que Antoine<br />

escrevera ao pai e que conseguira abalar seu casamento. Provavelmente o menino<br />

mencionara na carta o mesmo que contara a psicóloga, isto é, que a mãe n<strong>em</strong> queria que<br />

nascesse, que engravi<strong>da</strong>ra muito jov<strong>em</strong> e iria fazer <strong>um</strong> aborto mas fora impedi<strong>da</strong> pela<br />

avó.<br />

A mãe ressalta que é graças ao pai que o menino t<strong>em</strong> <strong>um</strong> nome e que até iriam<br />

levá-lo para casa mas que isto não seria mais possível porque ele se queixara para o<br />

bairro todo, deixando os pais n<strong>um</strong>a situação vergonhosa. A situação do ponto de vista<br />

<strong>da</strong> mãe só era vergonhosa agora, porque se tornara de domínio público.<br />

Dizendo-se vitima de <strong>um</strong> complô a mãe se despede e lhe dá <strong>um</strong> recado do pai<br />

que pediu que dissesse que não mais se importava com ele, e que portanto não adiantava<br />

mais se fazer de vitima.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!