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Olhares feministas - Portal do Professor - Ministério da Educação

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Da mesma forma, grupos culturais e étnicos de jovens também teriam um<br />

papel significativo nesse processo, ao valorizar formas de afirmação basea<strong>da</strong>s, entre<br />

outros valores, na capaci<strong>da</strong>de de transgredir e enfrentar as regras escolares. Estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

jovens negros de origem caribenha, em uma escola pública inglesa, Tony<br />

Sewell encontrou diversos tipos de masculini<strong>da</strong>de e de posturas frente à escola.<br />

Dentre elas, localiza um grupo de garotos “rebeldes”, que “substituíam os objetivos<br />

e méto<strong>do</strong>s <strong>da</strong> escola por sua própria agen<strong>da</strong>. Eram freqüentemente puni<strong>do</strong>s e<br />

sentiam-se confortáveis num machismo negro antiescolar”, <strong>do</strong> qual fazia parte o<br />

orgulho pela reputação cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente cultiva<strong>da</strong> de ser “mau aluno”. Nesse grupo,<br />

os meninos brancos eram vistos como efemina<strong>do</strong>s e com baixo desempenho em<br />

termos <strong>da</strong>queles valores liga<strong>do</strong>s à agressivi<strong>da</strong>de, à força física, ao enfrentamento<br />

<strong>da</strong>s regras e a conquistas heterossexuais. Esses alunos tinham consciência de ser até<br />

mesmo admira<strong>do</strong>s por garotos brancos, tanto por sua atitude antiescola quanto pelo<br />

grau de masculini<strong>da</strong>de que isso representava.<br />

Sewell também chama a atenção para a postura <strong>do</strong>s professores e professoras<br />

frente aos rapazes negros de origem caribenha, tratan<strong>do</strong>-os não como indivíduos<br />

com características particulares, mas de forma estereotipa<strong>da</strong>, pressupon<strong>do</strong> sua agressivi<strong>da</strong>de<br />

e mau comportamento. Isso, ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> pressão <strong>do</strong>s colegas, dificultava a<br />

adesão aos valores e exigências escolares, mesmo para aqueles meninos que buscavam<br />

posturas conformistas e afastavam-se <strong>do</strong>s grupos de colegas afro-caribenhos.<br />

Apesar desses garotos afirmarem partilhar o ethos <strong>do</strong>minante <strong>da</strong> escola, no<br />

qual as turmas de rapazes negros eram percebi<strong>da</strong>s como negativas, muitos eram<br />

ain<strong>da</strong> assim vistos como parte de uma “questão afro-caribenha” mais ampla. Eles<br />

não podiam nunca escapar efetivamente <strong>da</strong> marca de suas peles e gênero.<br />

Alguns de nossos alunos <strong>da</strong> quarta série talvez estivessem <strong>da</strong>n<strong>do</strong> os passos<br />

iniciais numa trajetória <strong>da</strong>quele tipo, de busca de outras fontes de poder e mesmo<br />

outras formas de masculini<strong>da</strong>de. Não apenas eles possivelmente traziam de casa<br />

e desenvolviam no grupo de colegas referenciais de masculini<strong>da</strong>de diferentes <strong>do</strong>s<br />

valoriza<strong>do</strong>s pelas professoras, um padrão mais assenta<strong>do</strong> no desempenho físico, na<br />

agressivi<strong>da</strong>de e na heterossexuali<strong>da</strong>de, com diferenças de gênero mais acentua<strong>da</strong>s.<br />

Além disso, a própria escola, ao empurrá-los para o fracasso acadêmico, ao identificá-los<br />

com um padrão negativo de “garoto negro”, poderia estar contribuin<strong>do</strong> para<br />

que eles assumissem essas formas de masculini<strong>da</strong>de como única via para controlar<br />

algum poder e autonomia, elementos indispensáveis na confirmação de identi<strong>da</strong>des<br />

44 SEWELL, T. Loose canons... Op. cit., p. 120<br />

45 SEWELL, T. Loose canons... Op. cit., p. 115.<br />

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