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Olhares feministas - Portal do Professor - Ministério da Educação

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A invenção <strong>do</strong> brau como uma ‘personali<strong>da</strong>de-personagem’ autônoma <strong>da</strong> reafricanização<br />

testemunha uma reconversão de significa<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s ao negro e<br />

ao corpo negro, instância historicamente re-posta como o lugar de instalação <strong>da</strong><br />

negritude irredutível. O brau que não apenas desafia a norma estética, mas também<br />

o cânone <strong>da</strong> cultura negra tradicional, põe em cena novas contradições de raça e<br />

gênero incorpora<strong>da</strong>s no desconforto que sua presença significa para a norma hegemônica<br />

sustenta<strong>da</strong> pelas classes médias brancas. A reafricanização, nesse senti<strong>do</strong>,<br />

desterritorializa a ci<strong>da</strong>de e o corpo negro, reterritorializa<strong>do</strong>s na incorporação <strong>do</strong><br />

brau como uma figura de raça e gênero. A performance brau parece ser, desse mo<strong>do</strong>,<br />

uma materialização transitória encarna<strong>da</strong> nesse processo.<br />

Representan<strong>do</strong> o brau<br />

A personagem (ou a performance), meio ficcional, meio sociológica, <strong>do</strong> brau<br />

é bem conheci<strong>da</strong> em Salva<strong>do</strong>r: um homem jovem, quase sempre negro, vesti<strong>do</strong> de<br />

forma ‘aberrante’, com mo<strong>do</strong>s e gestos agressivos e de difícil classificação no padrão<br />

tradicional <strong>da</strong>s etiquetas raciais na Bahia. Essa formação identitária ambígua tem<br />

habita<strong>do</strong> as formas cotidianas de representação sobre o gênero e as raças de mo<strong>do</strong><br />

pouco refleti<strong>do</strong>.<br />

Podemos identificar, entretanto, outra história sobre o brau que, pouco a pouco,<br />

está sen<strong>do</strong> desenterra<strong>da</strong>, uma história <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong>de sobre a invenção<br />

de uma personagem social que acumula senti<strong>do</strong>s contraditórios e que se enraíza na<br />

articulação global-local. Essa história é também a história <strong>da</strong> representação marginal<br />

e ligeira <strong>do</strong> brau em escritos etnográficos dedica<strong>do</strong>s a temas paralelos, mas que<br />

deixam entrever sua aparição. Formas de inscrição etnográfica <strong>do</strong> brau têm si<strong>do</strong><br />

até aqui tão periféricas e precariza<strong>da</strong>s como sua própria existência social, apesar ou<br />

a despeito <strong>da</strong> enorme prevalência que os fatores que condicionaram sua aparição<br />

tiveram em meio à juventude negra e pobre em Salva<strong>do</strong>r.<br />

Procurarei nesta seção, dessa forma, discutir um pouco <strong>da</strong> representação fugaz<br />

<strong>do</strong> brau nesses escritos etnográficos, salientan<strong>do</strong> que seria importante e desejável<br />

uma investigação empírica detalha<strong>da</strong> e foca<strong>da</strong> nessa personagem, escassamente<br />

considera<strong>da</strong> em termos socioantropológicos, mas que, pelo que é possível vislum-<br />

15 Não apenas existiria “o brau”, mas “performances brau”, de mo<strong>do</strong> que uma pessoa qualquer pode ser<br />

acusa<strong>da</strong> de vestir-se ou comportar-se como brau.<br />

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