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muhuraida - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG ...

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Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que esse conflito constitui uma marca <strong>da</strong> geração <strong>de</strong><br />

escritores que se <strong>de</strong>dicaram à formulação épica no Brasil <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século<br />

XVIII, pois ela é perceptível não apenas em Wilkens, como também em Basílio <strong>da</strong><br />

Gama e Santa Rita Durão. No caso <strong>de</strong> Basílio, temos o interesse e a simpatia <strong>de</strong>ste pela<br />

figura do índio, representa<strong>da</strong> heroicamente por atos e discursos eloqüentes <strong>de</strong> gentios<br />

como Cacambo e Cepé, por meio <strong>da</strong> linguagem libertária <strong>de</strong>ste último, própria do<br />

racionalismo setecentista. Ao lado disso, surge a tensão com a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> fato e <strong>de</strong> direito<br />

<strong>da</strong> política ibérica <strong>de</strong> repressão às missões jesuíticas e seus índios.<br />

Quanto a Santa Rita Durão, a legitimação do império português, como mostra<br />

David Treece, “se vê reforça<strong>da</strong> por um conservadorismo mais amplo, representado<br />

mitologicamente através <strong>da</strong> missão duplamente colonizadora e evangélica <strong>de</strong> Diogo<br />

Álvares Caramuru.” 165 Assim, tais autores <strong>de</strong>vem ser entendidos como escritores<br />

colonizadores, agindo em nome <strong>da</strong> política lusitana <strong>de</strong> colonização do além-mar, o que<br />

revela a crise no interior do sistema colonial a que fazem eco as obras Muhurai<strong>da</strong>, O<br />

Uraguay e Caramuru.<br />

Se, para Homi Bhabha, o discurso colonial procura legitimar-se por meio <strong>da</strong><br />

produção do saber estereotipado do colonizador e do colonizado 166 , é porque a<br />

linguagem teórica utiliza<strong>da</strong> para tal constitui-se como estratégia “<strong>da</strong> elite oci<strong>de</strong>ntal<br />

culturalmente privilegia<strong>da</strong> para produzir um discurso do Outro que reforça sua própria<br />

[<strong>da</strong> elite] equação conhecimento-po<strong>de</strong>r.” 167 Nesse caso, tal como se po<strong>de</strong> ver em<br />

Muhurai<strong>da</strong>, seus eventos possuem instâncias contraditórias e antagônicas, mesmo<br />

querendo ser auto-suficientes e portadores <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tal “ver<strong>da</strong><strong>de</strong>”, conforme aponta<br />

Bhabha, passa a ser marca<strong>da</strong> pela “ambivalência do próprio processo <strong>de</strong> emergência,<br />

pela produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos que constrói contra-saberes in media res, no ato mesmo<br />

165 Cf. WILKENS, 1993, p. 14.<br />

166 BHABHA, 2003, p. 111.<br />

167 I<strong>de</strong>m, p. 45.<br />

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