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muhuraida - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG ...

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A ausência na apresentação <strong>da</strong>s partes componentes do poema épico constitui a<br />

base dos argumentos <strong>de</strong> José A<strong>de</strong>raldo Castello 107 e Alfredo Bosi 108 para se<br />

<strong>de</strong>squalificar a produção épica brasileira do século XVIII. Da mesma forma, para Mário<br />

Faustino, a ausência dos elementos que <strong>de</strong>finem o poema épico (“verso”, “motivo” e<br />

“herói”) impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratar como epopéia “a nossa poesia narrativa <strong>de</strong> certo fôlego [...]: o<br />

‘Caramuru’ <strong>de</strong> Santa Rita Durão e o ‘Uraguai’ <strong>de</strong> Basílio <strong>da</strong> Gama.” 109<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se her<strong>de</strong>iro incontestável dos relatos escritos sobre o Novo<br />

Mundo, sua gente e sua “estranha” forma <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, o colono europeu/brasileiro <strong>de</strong><br />

meados do século XVIII institui o homem branco como “vencedor” nos poemas épicos<br />

que ele mesmo cria. Ou seja, na tradição épica brasileira, por meio <strong>da</strong>s narrativas<br />

<strong>da</strong>quele período, o vencedor já está pré-<strong>de</strong>terminado, qual na épica homérica em que<br />

seu herói sabe <strong>de</strong> antemão que vai subjugar seus inimigos e cantar/contar a vitória.<br />

Por outro lado, há a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se (re)ler os poemas épicos brasileiros do<br />

século XVIII sob outro ponto <strong>de</strong> vista, consi<strong>de</strong>rando, por exemplo, o jogo constante<br />

entre as forças que se <strong>de</strong>claram vitoriosas. No contato entre índio e europeu, nem<br />

sempre o pleno vencedor – nesse contexto complexo que foi o período <strong>da</strong> conquista<br />

européia <strong>da</strong> América – foi o estrangeiro. Nesses termos, como diz Tzvetan Todorov,<br />

ganhando <strong>de</strong> um lado, o europeu perdia <strong>de</strong> outro; impondo-se em to<strong>da</strong> a Terra pelo que<br />

era sua superiori<strong>da</strong><strong>de</strong>, arrasava em si mesmo a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> integração do mundo.<br />

Durante os séculos seguintes, sonhará com o bom selvagem; mas o selvagem já estava<br />

morto, ou assimilado, e o sonho estava con<strong>de</strong>nado à esterili<strong>da</strong><strong>de</strong>. A vitória já trazia em<br />

si o germe <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rrota. 110<br />

107 CASTELLO, 1972, p. 168.<br />

108 BOSI, 1993, p. 72.<br />

109 FAUSTINO, 1993, p. 153.<br />

110 TODOROV, 1988, p. 94. Em seu livro Cultura e imperialismo, Edward Said (1995, p. 12) consi<strong>de</strong>ra<br />

que o “contato imperial nunca constituiu na relação entre um ativo intruso oci<strong>de</strong>ntal contra um nativo não<br />

oci<strong>de</strong>ntal inerte ou passivo; sempre houve algum tipo <strong>de</strong> resistência ativa e, na maioria esmagadora dos<br />

casos, essa resistência acabou prepon<strong>de</strong>rando.” No contexto amazônico, o texto <strong>de</strong> Caio Prado Jr, já <strong>da</strong><br />

segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século XIX, ain<strong>da</strong> fala <strong>da</strong> resistência mura à colonização: “Organiza<strong>da</strong> a expedição<br />

[por autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s especificamente <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>s para proce<strong>de</strong>r à repartição <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho indígena], ela<br />

segue fortemente guarneci<strong>da</strong>, porque é sempre <strong>de</strong> temer a hostili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tribos selvagens; os Mura, entre<br />

outros, se <strong>de</strong>stacam neste terreno, e boa parte <strong>de</strong>les, <strong>de</strong> armas na mão, ain<strong>da</strong> resistia à colonização no<br />

momento que nos ocupa” (cf. SANTIAGO [coord.], 2002, p. 1311).<br />

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