22.08.2013 Views

muhuraida - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG ...

muhuraida - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG ...

muhuraida - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

época. Pois os Mura sempre lutariam pela posse <strong>de</strong> suas terras e pela permanência <strong>de</strong><br />

seus traços culturais.<br />

É possível, então, pensar numa afini<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva entre Wilkens e Ferreira,<br />

quando se trata <strong>da</strong> opinião <strong>de</strong> ambos sobre os Mura. O autor <strong>de</strong> Muhurai<strong>da</strong> escreve no<br />

“Prólogo” ao poema amazônico:<br />

A Divina Providência [quis] eleger por instrumento <strong>da</strong> reconciliação, conversão e<br />

estabelecimento – tantas vezes intenta<strong>da</strong>, <strong>de</strong>seja<strong>da</strong> e nunca consegui<strong>da</strong> – a um homem<br />

rústico e ordinário, por nome Mathias Fernan<strong>de</strong>s [...]. Teve este [João Batista Martel] o<br />

particular gosto e a espiritual consolação <strong>de</strong> ver que [...] os ditos principais muras [...]<br />

por sua livre, espontânea vonta<strong>de</strong> e moto próprio [...] ofereceram vinte inocentes muras,<br />

filhos dos ditos, pedindo o santo batismo. 239<br />

Já o autor <strong>de</strong> Viagem filosófica – em carta <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1784, dirigi<strong>da</strong> ao<br />

governador Martinho <strong>de</strong> Souza <strong>de</strong> Albuquerque – anota:<br />

Des<strong>de</strong> o princípio se cometeram as pazes ao gentio [Mura], mas ele nunca as aceitou.<br />

[...] Or<strong>de</strong>nou [Sua Majesta<strong>de</strong>] que pelos meios <strong>da</strong> brandura se empreen<strong>de</strong>ssem para<br />

diante os <strong>de</strong>scimentos; e tudo isso para que fim? Para que <strong>de</strong> seu moto próprio, e <strong>de</strong> sua<br />

livre vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scesse o gentio do sertão a incorporar-se com os índios al<strong>de</strong>ados. 240<br />

Diante disso, Marta Rosa Amoroso torna clara a posição anti-Mura <strong>de</strong> Alexandre<br />

Rodrigues Ferreira, ao observar que tais índios “constituem durante todo o período<br />

pombalino (1750-1777) o que se convencionou chamar <strong>de</strong> ‘casos <strong>de</strong> exceção <strong>de</strong><br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong>’” 241 , nas palavras do famoso naturalista. Para justificar sua posição,<br />

Alexandre Rodrigues Ferreira, segundo Amoroso, teria usado o prece<strong>de</strong>nte histórico <strong>da</strong>s<br />

guerras contra os gentios Gueguê, Timbira e Açoruá, todos do Piauí, aplicados pelo<br />

governador João Pereira Cal<strong>da</strong>s, em 1761, o mesmo que Wilkens toma como “herói”<br />

oficial <strong>de</strong> Muhurai<strong>da</strong>.<br />

Dessa forma, po<strong>de</strong>-se tomar a idéia <strong>de</strong> Homi Bhabha – que trata do aspecto<br />

i<strong>de</strong>ológico <strong>da</strong> representação como estratégia colonialista <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma imagem<br />

239 WILKENS, 1993, p. 93-5 (“Prólogo”).<br />

240 Cf. AMOROSO, 1991, p. 105.<br />

241 AMOROSO, 1991, p. 121.<br />

228

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!