Tamar
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<strong>Tamar</strong><br />
O plano concebido por <strong>Tamar</strong> tem que funcionar com a precisão de um relógio<br />
atômico. Ela correrá contra o relógio, contra as probabilidades e contra o<br />
absurdo risco que assumirá no maior ato de loucura de toda sua vida. Seu<br />
plano envolvia a quebra do voto de viuvez, o rompimento do compromisso do<br />
levirato (obrigação do irmão mais velho assumir a viúva do irmão que morreu),<br />
um disfarce perfeito; uma notável noção de distancias e de tempos; um<br />
argumento jurídico infalível; tornar-se prostituta e resgatar a honra. Poderia<br />
uma prostituta, após prostituir-se, voltar a ser como era antes, anulando sua<br />
prostituição?<br />
O plano envolvia tornar-se culpada. Envolvia ser condenada a morte. Envolvia<br />
rebelar-se contra sua cultura e contra sua posição social. Necessitaria<br />
inocentar-se a si mesma, após a sua condenação à morte, levando em seu<br />
corpo a prova cabal de sua acusação, para ganhar um causa impossível...<br />
diante do mesmo juiz... que a haveria de condenar.
Os pastores de ovelhas chegaram há alguns anos em sua região, nas<br />
fronteiras do Líbano. Falavam a língua dos cananeus e habitavam em tendas<br />
como os arameus. O patriarca do grupo se chamava Judá. Possuía três filhos<br />
adolescentes e uma filha primogênita de nome impronunciável. <strong>Tamar</strong> se<br />
interessou pelo filho mais velho e seus pais logo perceberam que poderiam<br />
usar esse interesse da mais irrequieta e impulsiva de suas filhas para<br />
conseguir um casamento arranjado. Ao menos, parcialmente arranjado. Após<br />
anos de frustradas tentativas de conseguir noivos que se interessassem por<br />
<strong>Tamar</strong>, apesar de sua grande beleza. Sua teimosia e gênio forte destoavam<br />
das premissas culturais desejáveis para desposar uma mulher naquela época.<br />
Mas os visitantes não haviam vivido naquelas bandas e certamente não tinham<br />
conhecimento ainda de todas as situações constrangedoras nas quais <strong>Tamar</strong><br />
havia se envolvido desde sua meninice.<br />
Vale de Ellah<br />
Apesar de Judá possuir uma filha mais velha, seu filho era considerado o<br />
primogênito. E é por ele que <strong>Tamar</strong> se interessou. Os pais convidam a Judá<br />
para conhecer a família e oferecem <strong>Tamar</strong> como noiva para seu filho,<br />
oferecendo o maior dote que suas condições lhe permitiam. Judá concorda. O<br />
casamento é feito conforme os ritos da região. A caravana de Judá parte em
direção ao vale de Elah, próximo a cidade de Adulão, onde moraria pelos anos<br />
posteriores.<br />
Algumas semanas após o casamento uma tragédia acontece. Após trágico<br />
acidente o filho de Judá morreu, sem ter tido tempo de gerar filhos.<br />
Conforme as leis e costumes da época o irmão de idade mais próxima ao do<br />
filho morto deveria assumir a viúva para que o nome de seu irmão tivesse<br />
continuidade sobre a terra. As mulheres não possuíam tal privilégio. Somente<br />
os homens davam nome as suas descendências e somente um filho poderia<br />
dar continuidade a linhagem de um determinado clã. Os bens e posses do filho<br />
de Judá não poderiam ser herdados se <strong>Tamar</strong> não tivesse filhos. Onan, o<br />
segundo filho de Judá, não ficou satisfeito com aquela situação. Não tinha<br />
interesse em assumir uma responsabilidade com aquela e não queria ter filhos<br />
que não fossem para cuidar de seus futuros direitos.<br />
Menos um irmão – pensava - maior seria a parcela das posses, dos rebanhos e<br />
escravos que herdaria de seus pais.<br />
Caso <strong>Tamar</strong> engravidasse os filhos que ela tivesse seriam como filhos do irmão<br />
que morrera. Receberia o nome do irmão como sobrenome e não o dele. Mas<br />
<strong>Tamar</strong>... era... linda. Não necessitava negar-lhe as obrigações de marido... Ele<br />
poderia aproveitar-se da situação, desde que tivesse o devido cuidado de não<br />
gerar filhos. Na antiguidade o único método contraceptivo conhecido era se o<br />
homem ao fazer sexo interrompesse o ato e despejasse o semem no solo.<br />
Porque não confiavam que a roupa contaminada pudesse impedir que uma<br />
mulher engravidasse. E ele o fazia conscientemente.<br />
<strong>Tamar</strong> não entendia porque ele agia assim. Era jovem e não tivera filhos<br />
ainda, não participava do circulo de mulheres que já entendiam porque um<br />
homem agiria assim. E culpava-se a si mesmo, dia após dia, por não ser fértil o<br />
suficiente para conceber em nome de seu esposo falecido.<br />
Porém Onan pagou um alto preço por sua vilania. Acometido de subida<br />
enfermidade, ele morre. E ainda receberia uma infame homenagem póstuma,<br />
nos séculos posteriores. A masturbação seria apelidada de “onanismo” numa<br />
referencia inadequada ao que ele fazia.<br />
Judá havia perdido num curto período dois filhos que amava muito. Sem<br />
entender porque tal coisa acontecera imaginava que aquela moça era<br />
amaldiçoada. Essa deveria ser a única explicação que sua consciência culpada<br />
conseguia elaborar. Embora seus próprios atos não justificassem tal<br />
preocupação. Há mais de 10 anos vivia sob o peso de grande injustiça<br />
cometida contra seu irmão chamado José, a quem vendera a uma caravana de<br />
mercadores de escravos que seguiam em direção ao Egito. A lei do Levirato<br />
não impunha limitações ao numero de irmãos que poderiam desposar a mulher<br />
de um irmão falecido. Judá possuía ainda um filho pré-adolescente. Mas não<br />
quer arriscar a vida dele com aquela nora azarada. Conforme o costume local<br />
a moça é vestida de branco, com um véu que cobre sua nuca. Ela é conduzida
a sua antiga residência, a casa de seus pais. Podemos imaginar a chegada de<br />
<strong>Tamar</strong> à casa de seus pais, envolta em vestes de viuvez. Uma mulher casada<br />
pertencia, desde a antiguidade, à família dos parentes do esposo. Ela saíra<br />
como uma filha, mas voltava como uma estranha. <strong>Tamar</strong> estava entre dois<br />
mundos. Rejeitada pelos familiares do esposo, no caso, seu sogro, não<br />
possuía espaço em seu antigo lar. Judá diz que ela deverá se guardar como<br />
viúva até a época em que seu filho menor, Selá, estiver na idade de casar.<br />
Os anos passam e o rapaz prometido a <strong>Tamar</strong> cresce e atinge a maturidade.<br />
Mas nada mais acontece. Poucos falam a respeito de sua viuvez. Poucos<br />
falam com ela sobre o futuro. Seus pais a receberam numa situação dolorosa.<br />
<strong>Tamar</strong> sente vergonha. Sentia-se e era tratada como se fosse um fardo a ser<br />
carregado por ambas as famílias. A sua e a de Judá. Não havia tido filhos e<br />
nem trouxera através disso, honra aos seus pais.<br />
Na sua época a mulher que não tinha filhos era considerada como<br />
desafortunada. <strong>Tamar</strong> era desprezada duplamente. Vivia praticamente<br />
sozinha e abandonada na casa de seus pais. Um duro golpe ainda lhe restava.<br />
Uma das poucas pessoas que lhe dava atenção, e que a acudira nas horas de<br />
solidão, era também uma figura quase que esquecida. A filha de Judá se<br />
tornara sua grande amiga. Sempre que podiam cantavam juntas, brincavam e<br />
foi com ela que se tornou fluente na língua dos cananeus. Até que a jovem<br />
hebréia adoeceu e morreu. A noticia de sua morte chega dias após sua<br />
incineração aos ouvidos de <strong>Tamar</strong>. (O texto que narra a história dos patriarcas
de Israel deixa claro a posição da mulher na esfera cultural de sua época. A<br />
filha de Judá não é nomeada e não é festejado seu nascimento. E só viemos a<br />
saber de sua existência porque foi grafado que ela morreu.)<br />
Judá a queima numa pira funerária, inconsolável. Perdera dois rapazes e uma<br />
filha nos poucos anos em que estivera naquelas terras longínquas. Procurando<br />
não pensar em todos os acontecimentos trágicos dos últimos anos decide fazer<br />
uma viagem de trabalho para realizar a tosquia e a venda de lã de suas<br />
ovelhas.<br />
Avisam a <strong>Tamar</strong> que Judá está a caminho do vale de Timna.<br />
<strong>Tamar</strong> irá colocar o seu louco plano em prática.<br />
Seus pais moram em Quezite. Aczibe dos mapas atuais. Fronteira com o<br />
Líbano. A casa de seu sogro dista 300 km, situada no vale de Elah. Se tudo<br />
correr segundo o plano... Um dia ela retornará ao fabuloso vale. O famoso vale<br />
das sombras, como era chamado. O local onde Judá irá tosquiar as ovelhas<br />
fica ao sul do país cerca de 600 km de distancia. Informada das intenções de<br />
seu sogro por serviçais fiéis ela precisa vencer uma distancia que é o dobro<br />
daquela que ele percorrerá... na metade do tempo!<br />
Terá que ir por caminhos distintos, seguindo a costa de Canaã, passando pelo<br />
território de pelo menos sete nações estrangeiras, muitas delas hostis à<br />
estrangeiros. Terá que enfrentar os perigos dos salteadores das regiões mais<br />
ermas de sua terra. E conseguir essa façanha - duas vezes seguida. Ida e na<br />
volta. Timna é uma cidade estrangeira habitada por um povo que um dia<br />
odiará os descendentes de Israel. A cidade de mulheres belíssimas, local onde,<br />
centenas de anos após os eventos narrados, Sansão escolhera sua futura<br />
esposa.<br />
<strong>Tamar</strong> corre contra o tempo passando por milhares de ovelhas que são<br />
levadas a Tinma de diversos lugares de Canaã antes que chegue o verão. A<br />
cidade é cercada de diversas palmeiras. E por um dia terá uma palmeira a<br />
mais. O nome <strong>Tamar</strong> significava “palmeira”. Um tipo especial de palmeira. A<br />
<strong>Tamar</strong>eira. <strong>Tamar</strong> saíra da casa de seus pais ainda vestida como viúva.<br />
Porém, assim que iniciou sua aventura vestiu-se como uma mulher comum.<br />
Informada da chegada das ovelhas de seu sogro ao vale dos tosquiadores ela<br />
mudará suas vestes mais uma vez. <strong>Tamar</strong> pintará seus olhos e a boca com os<br />
cosméticos de sua época. Perfuma-se com mirra e coloca vários adornos,<br />
braceletes e roupas que caracterizavam um tipo especial de conduta de sua<br />
época.
A prostituição.<br />
<strong>Tamar</strong> se adorna, vestindo-se como uma prostituta, indo para o local onde<br />
sabe que Judá terá que passar ao se dirigir para a cidade. A escolha do lugar é<br />
essencial, ela não pode ser vista por outros pastores, ou tentarão forçá-la a se<br />
prostituir. Para o que ela intenta fazer Judá deverá manter determinada<br />
distancia do rebanho, suficiente para ela fugir antes que entenda o que lhe<br />
aconteceu. <strong>Tamar</strong> terá uma única chance olhar e seduzir ao sogro. Um único<br />
olhar. E não poderá ser reconhecida por ele. Ela estará usando véu. Ela<br />
percebe sua chegada, se levanta e caminha sensualmente em sua direção.
Judá a reconhece como prostituta e é seduzido por ela. Pergunta qual é o<br />
valor de seus serviços. O que <strong>Tamar</strong> pede é parte de sua estratégia. Não<br />
poderá pedir nada que Judá tenha á mão. Não poderá ser dinheiro. Ela pede<br />
algo que sabe que ele gastará tempo para lhe trazer. Ela pede uma ovelha,<br />
sabendo que todas as suas ovelhas estão no processo de tosquia. Ele<br />
concorda, mas revela que não poderá enviar-lhe se não ao entardecer. Ela age<br />
exatamente como se esperaria que uma mulher de sua classe agisse.<br />
Desconfia da proposta. E pede-lhe uma garantia. Ele pergunta o que ela<br />
gostaria que ele lhe desse como garantia. Esse é o segredo do plano de<br />
<strong>Tamar</strong> e aquilo que ela vai escolher significa sua vida ou a sua morte. Ela<br />
escolhe bens pessoais intransferíveis. O anel de Judá possui uma marca<br />
única, que ele usa para autenticar documentos. O cajado é de difícil fabricação<br />
e facilmente identificável pelo dono. Ele possuía a assinatura de seu possuidor.<br />
E um cordão. Presente da esposa, da mãe ou de sua filha. Judá concorda,<br />
logo reaveria seus bens, deixando em seu poder os bens que ela solicita e<br />
consuma o ato com <strong>Tamar</strong>.<br />
Assim que sai dali e chega ao rebanho separa uma ovelha dele e o envia por<br />
mãos de serviçais. <strong>Tamar</strong> já fugiu. Ela tem pouco tempo, 600 km a separam<br />
de sua residência. Judá vai pessoalmente ao local onde a encontrou e<br />
questiona os moradores locais obre a “prostituta” que ficava naquele lugar. Os<br />
moradores afirmam que ali jamais habitou ou trabalhou qualquer prostituta. Se<br />
ele encontrou alguma, ela era um fantasma.<br />
Após algumas horas de busca Judá, irritado reclama a perda de seus bens,<br />
dizendo: - Ela que fique com eles! e logo após segue seu caminho.<br />
<strong>Tamar</strong> vestiu suas vestes de viuvez chegando à casa de sua parentela,<br />
escondendo os pertences pessoais que adquirira. Ninguém pode descobrir tais<br />
bens. Se o que ela pretendeu não desse certo ela os queimaria. Se ela os<br />
perdesse e o que planejou ocorresse... ela seria queimada viva... <strong>Tamar</strong> ora<br />
intensamente aos deuses de seus antepassados para que tivesse sucesso.<br />
Sabendo, no entanto, que se eles respondessem, sua vida estaria por um fio.<br />
Os meses se passam e seu plano deu resultado.<br />
<strong>Tamar</strong> engravidou.<br />
O fato choca a todos os que ali estão. Os pais tentam esconder a <strong>Tamar</strong> e<br />
convencê-la a ir embora dali. Ela se recusa terminantemente. Os parentes a<br />
acusam de suicida. Contudo ela afirma que sabe o que está fazendo.
Judá é informado que <strong>Tamar</strong> está grávida. Porém cumpria um voto de viuvez e<br />
outro de Levirato. Estava ligada a seu filho mais novo, embora ele não tivesse<br />
autorizado ainda sua união.<br />
Segundo os costumes vigentes naquela região tinha o poder de julgar tais<br />
situações familiares. Isento de nenhum tipo de sentimento que não fosse a<br />
raiva, manda executá-la de modo terrível.<br />
Ordena que seja queimada viva, a condenação prevista para o crime de<br />
adultério daqueles povos.<br />
Os anciãos de Adulão apoiaram a sua decisão. Estava previsto em lei. O que<br />
<strong>Tamar</strong> fizera a condenava em todas as culturas vigentes. <strong>Tamar</strong> bem sabia o<br />
que lhe aconteceria. Na noite anterior foi até os bens enterrados, os escavou e<br />
desenrolou.<br />
Judá vai pessoalmente até a casa dos pais de <strong>Tamar</strong>. E ordena que a lancem<br />
para fora de casa, para que seja queimada, enquanto a multidão de curiosos<br />
que se aglomera a frente da casa de seus pais...<br />
Os homens a carregam para fora. <strong>Tamar</strong> olha diretamente na face de seu<br />
acusador. Diante de todos levanta o cajado, o cordão e o anel, mostrando-os<br />
aos pais, aos anciãos e a todos.<br />
Grita diante de todos, caminhando em direção a Judá:<br />
- Do homem de quem são estas coisas eu concebi! Conhece, peço-te, de<br />
quem é este selo, e este cordão, e este cajado.
Quando Jacó os segura em suas mãos e recebe de volta o que era seu algo<br />
mais acontece.
<strong>Tamar</strong> não recebera e nem aceitará o valor por sua prostituição. Ao devolver os<br />
bens, ela já não podia ser considerada como tal. Deixava de ser uma prostituta,<br />
porque não se prostituira.<br />
Judá e só Judá fora o culpado de toda aquela situação.<br />
O juiz então reverte a sentença. Judá cai em si e ordena que não toquem nela.<br />
<strong>Tamar</strong> venceu. No mesmo vale onde um dia cairá em terra a cabeça de um<br />
guerreiro filisteu de nome Golias pelas mãos de um jovem chamado Davi. No<br />
mesmo lugar onde um dia Salomão passeará de mãos dadas com a rainha do<br />
reino de Sabáh.<br />
Retomou sua honra, a inocência, a liberdade, e a vida. A moça rejeitada agora<br />
era mãe. Retirou definitivamente suas vestes de viuvez. E próximo a Adulão,<br />
no antigo vale de Elah, teve gêmeos. De seu primogênito Farés nasceria a<br />
dinastia de Davi.<br />
E de Davi descenderia Cristo.
E aconteceu no mesmo tempo que Judá desceu de entre seus irmãos e entrou<br />
na casa de um homem de Adulão, cujo nome era Hira,<br />
E viu Judá ali a filha de um homem cananeu, cujo nome era Sua; e tomou-a por<br />
mulher, e a possuiu.<br />
E ela concebeu e deu à luz um filho, e chamou-lhe Er.<br />
E tornou a conceber e deu à luz um filho, e chamou-lhe Onã.<br />
E continuou ainda e deu à luz um filho, e chamou-lhe Selá; e Judá estava em<br />
Quezibe, quando ela o deu à luz.<br />
Judá, pois, tomou uma mulher para Er, o seu primogênito, e o seu nome era<br />
<strong>Tamar</strong>.<br />
Er, porém, o primogênito de Judá, era mau aos olhos do Senhor, por isso o<br />
Senhor o matou.<br />
Então disse Judá a Onã: Toma a mulher do teu irmão, e casa-te com ela, e<br />
suscita descendência a teu irmão.<br />
Onã, porém, soube que esta descendência não havia de ser para ele; e<br />
aconteceu que, quando possuía a mulher de seu irmão, derramava o sêmen na<br />
terra, para não dar descendência a seu irmão.<br />
E o que fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou.<br />
Então disse Judá a <strong>Tamar</strong> sua nora: Fica-te viúva na casa de teu pai, até que<br />
Selá, meu filho, seja grande. Porquanto disse: Para que porventura não morra<br />
também este, como seus irmãos. Assim se foi <strong>Tamar</strong> e ficou na casa de seu<br />
pai.<br />
Passando-se pois muitos dias, morreu a filha de Sua, mulher de Judá; e depois<br />
de consolado Judá subiu aos tosquiadores das suas ovelhas em Timna, ele e<br />
Hira, seu amigo, o adulamita.<br />
E deram aviso a <strong>Tamar</strong>, dizendo: Eis que o teu sogro sobe a Timna, a tosquiar<br />
as suas ovelhas.<br />
Então ela tirou de sobre si os vestidos da sua viuvez e cobriu-se com o véu, e<br />
envolveu-se, e assentou-se à entrada das duas fontes que estão no caminho<br />
de Timna, porque via que Selá já era grande, e ela não lhe fora dada por<br />
mulher.<br />
E vendo-a Judá, teve-a por uma prostituta, porque ela tinha coberto o seu<br />
rosto.<br />
E dirigiu-se a ela no caminho, e disse: Vem, peço-te, deixa-me possuir-te.<br />
Porquanto não sabia que era sua nora. E ela disse: Que darás, para que<br />
possuas a mim?<br />
E ele disse: Eu te enviarei um cabrito do rebanho. E ela disse: Dar-me-ás<br />
penhor até que o envies?<br />
Então ele disse: Que penhor é que te darei? E ela disse: O teu selo, e o teu<br />
cordão, e o cajado que está em tua mão. O que ele lhe deu, e possuiu-a, e ela<br />
concebeu dele.<br />
E ela se levantou, e se foi e tirou de sobre si o seu véu, e vestiu os vestidos da<br />
sua viuvez.<br />
E Judá enviou o cabrito por mão do seu amigo, o adulamita, para tomar o<br />
penhor da mão da mulher; porém não a achou.<br />
E perguntou aos homens daquele lugar dizendo: Onde está a prostituta que
estava no caminho junto às duas fontes? E disseram: Aqui não esteve<br />
prostituta alguma.<br />
E tornou-se a Judá e disse: Não a achei; e também disseram os homens<br />
daquele lugar: Aqui não esteve prostituta.<br />
Então disse Judá: Deixa-a ficar com o penhor, para que porventura não<br />
caiamos em desprezo; eis que tenho enviado este cabrito; mas tu não a<br />
achaste.<br />
E aconteceu que, quase três meses depois, deram aviso a Judá, dizendo:<br />
<strong>Tamar</strong>, tua nora, adulterou, e eis que está grávida do adultério. Então disse<br />
Judá: Tirai-a fora para que seja queimada.<br />
E tirando-a fora, ela mandou dizer a seu sogro: Do homem de quem são estas<br />
coisas eu concebi. E ela disse mais: Conhece, peço-te, de quem é este selo, e<br />
este cordão, e este cajado.<br />
E conheceu-os Judá e disse: Mais justa é ela do que eu, porquanto não a tenho<br />
dado a Selá meu filho. E nunca mais a conheceu.<br />
E aconteceu ao tempo de dar à luz que havia gêmeos em seu ventre;<br />
E sucedeu que, dando ela à luz, que um pôs fora a mão, e a parteira tomou-a,<br />
e atou em sua mão um fio encarnado, dizendo: Este saiu primeiro.<br />
Mas aconteceu que, tornando ele a recolher a sua mão, eis que saiu o seu<br />
irmão, e ela disse: Como tu tens rompido, sobre ti é a rotura. E chamaram-lhe<br />
Farés.<br />
E depois saiu o seu irmão, em cuja mão estava o fio encarnado; e chamaramlhe<br />
Zerá.<br />
Gênesis 38:1-30<br />
Welington José Ferreira