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Sociologia

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<strong>Sociologia</strong><br />

seja, uma área não se caracteriza mais por<br />

uma quantidade restrita de alimentos<br />

cultivados localmente; segundo, a transformação<br />

da cozinha tradicional (pratos<br />

típicos) para uma outra, industrializada,<br />

cujos alicerces estão na produção em alta<br />

escala. Isso não significa que pratos reconhecidos<br />

tradicionalmente deixem de<br />

existir; porém, assumem uma nova conotação.<br />

A sofisticação que requer uma verdadeira<br />

pizza italiana torna-se inadequada<br />

à valorização do tempo pelos vorazes<br />

consumidores que freqüentam Shopping<br />

Center. Na verdade, os alimentos perdem<br />

sua territorialidade e são deslocalizados<br />

em proporções globais. A esse respeito, é<br />

sugestivo a caso da empresa McDonald’s.<br />

(SILVIA, 2004, p. 594).<br />

A globalização pode, então, ser vista como<br />

o esvaziamento de culturas locais em benefício<br />

de culturas globais. Em outras palavras, comunidades<br />

locais, até então fechadas em suas próprias<br />

idiossincrasias, passam a receber influências de<br />

outras culturas, que vão dos hábitos alimentares,<br />

passando pelo uso da língua, para, finalmente,<br />

atingir e modificar as tradições e costumes das<br />

comunidades com menos poder de influência e<br />

comunicação. Nesse cenário, tornar-se “igual” ou<br />

“semelhante” à cultura hegemônica é uma meta a<br />

ser alcançada pelas culturas regionais.<br />

A cultura regional vai, assim, neste mundo<br />

globalizado, paulatinamente diminuindo a influência<br />

e a participação na vida dos indivíduos.<br />

Em outras palavras, as culturas com menos poder<br />

de participação e influência na vida das pessoas<br />

e no mercado mundial se descaracterizando e<br />

cedendo espaço para uma cultura cada vez mais<br />

estranha à realidade local, mas, apesar disso, vendável<br />

e lucrativa. É, por isso, exatamente por isso,<br />

que a história ou o mito do saci pererê, da mula<br />

sem cabeça e do currupira tem menos impacto<br />

na vida dos jovens do que o pastiche do halloween.<br />

Assim, em meio à mundialização 6 cultural,<br />

passa a existir uma ativação das relações sociais<br />

num circuito aberto, no qual as diferentes localidades<br />

aproximam-se e assemelham-se, moldadas<br />

por transformações sociais que ultrapassam as<br />

fronteiras de convivência regional.<br />

Conforme você pode observar, um exemplo<br />

emblemático dessa situação é a presença<br />

das multinacionais no mundo. Na visão do norte-<br />

-americano Behrman 7 (1984), as multinacionais<br />

são divididas em três tipos: as que buscam recursos<br />

em outros países, ou seja, companhias que<br />

buscam recursos naturais ou humanos em países<br />

hospedeiros; as que buscam mercados, isto é,<br />

companhias que investem no exterior, para servir<br />

ao mercado do país hospedeiro; e as que buscam<br />

eficiência, ou seja, dirigem investimentos externos<br />

a fim de criar a rede de produção mais eficiente<br />

para servir a múltiplos mercados padronizados<br />

mundialmente.<br />

Todos esses aspectos, além da presença das<br />

multinacionais nos países subdesenvolvidos, contribuíram<br />

para reordenar o modo de ser e viver do<br />

indivíduo nessas localidades. Portanto, no centro<br />

da vida cotidiana, que exige dos indivíduos novas<br />

e constantes identidades sociais, o encontro com<br />

a uniformização cultural é uma saída cômoda, já<br />

que permite ao indivíduo despir-se de sua cultura<br />

(considerada inferior) para associar-se a uma<br />

cultura (considerada superior), a de “todos”. O cultivo<br />

da língua inglesa em escala planetária é um<br />

exemplo que salta aos olhos, pois essa língua, e<br />

somente ela, é capaz de lhe conectar aos símbolos<br />

globalizados. A emergência da indústria cultural<br />

nos países do capitalismo central e popularização<br />

dos novos meios de comunicação e informação<br />

contribuíram decisivamente para a consolidação<br />

desse fenômeno, como defende Silva (2004).<br />

O modo de produção industrial retrabalhado<br />

no campo da cultura tem a capacidade<br />

de desenvolvê-la em escala<br />

6<br />

Mundialização é outra maneira que os franceses encontraram para definir a integração dos mercados econômicos. Assim, o<br />

que os ingleses chamam de globalização os franceses chamam de mundialização.<br />

7<br />

Behrman – Professor Emérito da Cátedra Luther Hodges, da Escola de Pós-Graduação de Administração de Empresas da<br />

Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos.<br />

Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />

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