Teoria de Perturbações Invariantes de Calibre em ... - CBPFIndex
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Tese <strong>de</strong> Doutorado<br />
<strong>Teoria</strong> <strong>de</strong> <strong>Perturbações</strong> <strong>Invariantes</strong> <strong>de</strong> <strong>Calibre</strong> <strong>em</strong><br />
Cenários <strong>de</strong> Cosmologia Quântica e sua Confrontação com<br />
as Observações<br />
EMANUEL JOSÉ CAPECHI DE PINHO<br />
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS FÍSICAS<br />
RUA DR. XAVIER SIGAUD 150, RIODE JANEIRO - RJ<br />
DEZEMBRODE 2006<br />
ORIENTADOR: NELSON PINTO NETO
“The result, therefore, of this physical enquiry, is that we find no<br />
vestige of a beginning, no prospect of an end.”<br />
James Hutton, consi<strong>de</strong>rado o fundador da geologia mo<strong>de</strong>rna, <strong>em</strong><br />
1788.<br />
ii
Conteúdo<br />
Agra<strong>de</strong>cimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />
Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />
v<br />
vii<br />
viii<br />
1 Introdução 1<br />
2 Aspectos Conceituais 5<br />
2.1 Quantização <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as Vinculados . . . . . . . . . . . . . . . . 5<br />
2.1.1 Aspectos Dinâmicos <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as Vinculados . . . . . . . 6<br />
2.1.2 Vínculos <strong>de</strong> Primeira Classe - Transformações <strong>de</strong> <strong>Calibre</strong> . 8<br />
2.1.3 Vínculos <strong>de</strong> Segunda Classe - Parênteses <strong>de</strong> Dirac . . . . 9<br />
2.1.4 Quantização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10<br />
2.2 O Probl<strong>em</strong>a da Interpretação da Mecânica<br />
Quântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13<br />
2.2.1 Postulados da Interpretação Padrão da Mecânica<br />
Quântica (Copenhagen) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13<br />
2.2.2 O Processo <strong>de</strong> Medida na Interpretação <strong>de</strong> Copenhagen . . 14<br />
2.2.3 Interpretação <strong>de</strong> Bohm da Mecânica Quântica . . . . . . . 17<br />
2.2.4 Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Muitos Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . 20<br />
2.2.5 O Processo <strong>de</strong> Medida na Interpretação <strong>de</strong> Bohm . . . . . 21<br />
2.3 Formalismo <strong>de</strong> Ostrogradski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23<br />
3 <strong>Teoria</strong> <strong>de</strong> <strong>Perturbações</strong> Cosmológicas 26<br />
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26<br />
3.2 <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> relativida<strong>de</strong> geral . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />
3.2.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />
3.2.2 Quantida<strong>de</strong>s Cin<strong>em</strong>áticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />
3.2.3 Dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />
3.3 <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW - Cin<strong>em</strong>ática . . . . . . . . 29<br />
3.3.1 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Fundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29<br />
3.3.2 Cin<strong>em</strong>ática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31<br />
3.3.3 Modos escalares, vetoriais e tensoriais . . . . . . . . . . . 31<br />
3.3.4 O Probl<strong>em</strong>a da Invariância <strong>de</strong> <strong>Calibre</strong> . . . . . . . . . . . 34<br />
3.4 O conteúdo material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35<br />
iii
3.4.1 Campo Escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35<br />
3.4.2 Matéria Hidrodinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37<br />
3.5 <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW - Dinâmica . . . . . . . . . 41<br />
3.5.1 Matéria Hidrodinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42<br />
3.5.2 Universos dominados por um campo escalar . . . . . . . . 48<br />
4 Cosmologia Quântica 52<br />
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52<br />
4.2 Método <strong>de</strong> Mini-Superespaço para Universos Dominados por um<br />
Fluido Perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54<br />
4.3 Quantização - A Função <strong>de</strong> Onda do Universo . . . . . . . . . . . 57<br />
4.4 Trajetórias Bohmianas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59<br />
5 <strong>Teoria</strong> <strong>de</strong> <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> Cosmologia Quântica 63<br />
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63<br />
5.2 <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> Universos Dominados por um Fluido Perfeito . . 65<br />
5.3 Quantização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82<br />
5.4 Uso da interpretação <strong>de</strong> Bohm . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84<br />
5.5 Universos Dominados por Campo Escalar . . . . . . . . . . . . . 86<br />
6 Comparação com as Observações 99<br />
6.1 Método Utilizando Condições <strong>de</strong> Junção . . . . . . . . . . . . . . 99<br />
6.2 Soluções Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106<br />
7 Conclusões e Perspectivas Futuras 110<br />
A<br />
B<br />
Determinação da Ação do Setor Gravitacional até a Segunda Or<strong>de</strong>m<br />
nas <strong>Perturbações</strong> 113<br />
Obtenção da Ação <strong>de</strong> um Fluido Expandida até a Segunda Or<strong>de</strong>m nas<br />
<strong>Perturbações</strong> 116<br />
Bibliografia 118<br />
iv
Agra<strong>de</strong>cimentos<br />
Nenhum trabalho <strong>de</strong>ssa natureza se completa pelo esforço ou talento <strong>de</strong> uma<br />
única pessoa. Ao longo do t<strong>em</strong>po que <strong>de</strong>dicamos à sua realização, diversas pessoas<br />
e entida<strong>de</strong>s vão <strong>em</strong> maior ou menor grau contribuindo para que tal realização<br />
possa se dar da melhor forma possível. Abaixo, <strong>de</strong>ixo um agra<strong>de</strong>cimento sincero<br />
a algumas <strong>de</strong>ssas pessoas <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> me l<strong>em</strong>bro agora. Se porventura <strong>de</strong>ixei alguém<br />
<strong>de</strong> fora <strong>de</strong>sta lista, peço <strong>de</strong>sculpas, na certeza <strong>de</strong> que tal falha <strong>em</strong> nada diminui a<br />
importância <strong>de</strong> sua ajuda.<br />
Aos meus pais, por s<strong>em</strong>pre se esforçar<strong>em</strong> <strong>em</strong> me dar o melhor <strong>em</strong> estudo e por<br />
s<strong>em</strong>pre valorizar<strong>em</strong> o estudo e o trabalho <strong>em</strong> minha educação. Essa tese é s<strong>em</strong><br />
dúvida o resultado <strong>de</strong> todos esses esforços. Também à minha irmã, que <strong>em</strong> vários<br />
momentos serviu <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo e <strong>de</strong> conselheira.<br />
À minha namorada, Aline, que soube enten<strong>de</strong>r e aceitar pacient<strong>em</strong>ente minhas<br />
“ausências” quando o t<strong>em</strong>po para finalizar este trabalho parecia que não ia ser<br />
suficiente. Também pelo apoio dado nos momentos <strong>em</strong> que as forças para continuar<br />
pareciam que iam acabar.<br />
Ao Prof. Nelson Pinto Neto, um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> caráter, e que tão paciente e<br />
competent<strong>em</strong>ente me orientou neste trajeto, que ora termina.<br />
Agra<strong>de</strong>ço igualmente a todos os professores, da PUC-RIO e do CBPF, <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />
durante todos esses anos tive o prazer <strong>de</strong> absorver um pouco, por menor que seja,<br />
dos seus conhecimentos numa ciência tão bela quanto a física.<br />
Em particular ao ICRA-BR, <strong>em</strong> especial ao Prof. Mário Novello, que s<strong>em</strong>pre<br />
acolheu e estimulou os alunos do grupo a se tornar<strong>em</strong> cientistas verda<strong>de</strong>iramente<br />
questionadores, que apren<strong>de</strong>m a olhar adiante das teorias <strong>em</strong> voga <strong>de</strong> forma séria e<br />
competente. Espero ter atingido um mínimo que seja <strong>de</strong>sse objetivo.<br />
Aos amigos e também alunos do CBPF pela companhia e pelas intermináveis<br />
discussões on<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre aprendia um pouco mais.<br />
Não po<strong>de</strong>ria também <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> citar o Prof. Patrick Peter e toda a equipe do<br />
Institut d’Astrophysique <strong>de</strong> Paris (IAP), on<strong>de</strong> esse trabalho foi parcialmente elaborado,<br />
por sua hospitalida<strong>de</strong> e esclarecedoras discussões. Um agra<strong>de</strong>cimento especial<br />
também à Mme. Nabila Hamdaoui, por sua presteza e boa vonta<strong>de</strong> <strong>em</strong> me<br />
ajudar na inevitável burocracia.<br />
Agra<strong>de</strong>cimentos também à Maison du Brésil, <strong>em</strong> Paris, e aos amigos que lá fiz<br />
pelo ótimo ambiente e convivência propiciados. Não posso aqui <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer<br />
também ao amigo Albano, que impediu que eu me tornasse mais um “SDF à<br />
v
Paris” me acolhendo gentilmente <strong>em</strong> sua casa nos últimos dias <strong>de</strong> minha estadia na<br />
França.<br />
Por fim agra<strong>de</strong>ço ao CNPQ pelas bolsas <strong>de</strong> doutorado e doutorado sanduíche<br />
recebidas durante os primeiros 3 anos e meio <strong>de</strong>sse trabalho.<br />
vi
Resumo<br />
Apresentamos um formalismo através do qual as equações das perturbações<br />
sobre Universos <strong>de</strong> Friedman-L<strong>em</strong>aître-Robertson-Walker com seções espaciais<br />
planas são <strong>de</strong>scritas por hamiltonianas simplificadas e invariantes <strong>de</strong> calibre. O<br />
formalismo apresentado é totalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da valida<strong>de</strong> das equações clássicas<br />
<strong>de</strong> Friedman, sendo aplicável a mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Universo advindos da cosmologia<br />
quântica. As equações obtidas são formalmente equivalentes às obtidas na<br />
abordag<strong>em</strong> tradicional, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das equações clássicas [34]. Como ex<strong>em</strong>plo<br />
<strong>de</strong> aplicação do formalismo, essas equações são então resolvidas <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />
quântico simples e os espectros <strong>de</strong> perturbações escalares e <strong>de</strong> ondas gravitacionais<br />
são calculados e comparados com os dados observacionais.<br />
vii
Abstract<br />
We present a formalism by which the perturbations on spatially flat Friedman-<br />
L<strong>em</strong>aître-Robertson-Walker universes are <strong>de</strong>scribed by simplified gauge invariant<br />
hamiltonians. The present formalism is not <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt on the hypothesis of validity<br />
of the classical Friedman equations, being able to be applied to Universe mo<strong>de</strong>ls<br />
arising from quantum cosmology. The obtained equations are equivalent to the<br />
ones obtained by the traditional approach, based on the classical equations [34]. As<br />
an example, these equations are solved in a simple quantum mo<strong>de</strong>l, and the scalar<br />
perturbations and gravitational waves spectra are then calculated and compared to<br />
the observations.<br />
viii
Capítulo 1<br />
Introdução<br />
O mo<strong>de</strong>lo cosmológico que se baseia na idéia <strong>de</strong> um começo para o Universo<br />
<strong>em</strong> um t<strong>em</strong>po finito no passado, o chamado Big Bang, seguido <strong>de</strong> uma fase inflacionária<br />
[1, 2, 3] t<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> sucesso <strong>em</strong> explicar diversos aspectos observacionais<br />
como a formação dos primeiros núcleos atômicos leves, dos primeiros átomos, das<br />
estrelas e galáxias. Explica também a orig<strong>em</strong> da chamada Radiação Cósmica <strong>de</strong><br />
Fundo (Cosmic Microwave Background - CMB).<br />
A orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo r<strong>em</strong>onta à observação do afastamento das galáxias,<br />
com velocida<strong>de</strong> proporcional à sua distância (Lei <strong>de</strong> Hubble), ou seja, a expansão<br />
do Universo. Se hoje ele está <strong>em</strong> expansão, no passado a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> média<br />
<strong>de</strong>ve ter sido maior, e a t<strong>em</strong>peratura média também <strong>de</strong>ve ter sido igualmente maior.<br />
As equações que mo<strong>de</strong>lam esse Universo, conhecidas como equações <strong>de</strong> Friedmann<br />
[4], indicam que <strong>em</strong> algum t<strong>em</strong>po finito no passado essa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />
ter divergido, assim como a t<strong>em</strong>peratura. Estamos lidando na realida<strong>de</strong> com uma<br />
singularida<strong>de</strong> na teoria.<br />
A existência na teoria <strong>de</strong> uma singularida<strong>de</strong> <strong>em</strong> um t<strong>em</strong>po finito no passado<br />
foi consi<strong>de</strong>rada durante muito t<strong>em</strong>po uma situação in<strong>de</strong>sejável, indicadora <strong>de</strong> que<br />
a teoria po<strong>de</strong>ria estar incompleta.<br />
Na década <strong>de</strong> 60 Hawking e Penrose <strong>de</strong>senvolveram um teor<strong>em</strong>a, conhecido<br />
como teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> [5], no qual eles <strong>de</strong>monstravam que se a distribuição<br />
<strong>de</strong> matéria no espaço-t<strong>em</strong>po obe<strong>de</strong>cesse a certas condições (conhecidas como condições<br />
<strong>de</strong> energia) além <strong>de</strong> outras como a ausência <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong> e a existência <strong>de</strong><br />
uma geometria dinâmica, a presença <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> soluções da <strong>Teoria</strong> da<br />
Relativida<strong>de</strong> Geral (TRG) seria inevitável. Isso <strong>de</strong>u gran<strong>de</strong> força ao mo<strong>de</strong>lo do Big<br />
Bang, que até hoje é consi<strong>de</strong>rado o mo<strong>de</strong>lo padrão da cosmologia. Contribuíram<br />
também os diversos sucessos obtidos por esse mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> explicar vários aspectos<br />
observacionais do Universo. Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> comentar aqui o papel<br />
importante que o <strong>de</strong>senvolvimento do paradigma inflacionário, no início dos anos<br />
80, teve nesse sucesso. É por meio da inflação que se explicam aspectos como<br />
planeza, ausência <strong>de</strong> monopólos magnéticos, formação <strong>de</strong> estruturas e ausência <strong>de</strong><br />
horizontes <strong>em</strong> nosso Universo observável.<br />
1
Acontece que a extrapolação para t<strong>em</strong>pos muito r<strong>em</strong>otos da física que <strong>de</strong>screve<br />
o Universo atualmente po<strong>de</strong> ser um passo um tanto quanto <strong>de</strong>licado. Em t<strong>em</strong>pos<br />
suficient<strong>em</strong>ente antigos as energias envolvidas seriam tão altas que a física como<br />
nós conhec<strong>em</strong>os po<strong>de</strong>ria simplesmente não ser válida. Em particular a gravitação<br />
po<strong>de</strong>ria assumir comportamentos que se afastariam daqueles previstos pela TRG.<br />
Nesse contexto o teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> per<strong>de</strong>ria sua valida<strong>de</strong> não sendo mais<br />
assegurada a inevitabilida<strong>de</strong> da singularida<strong>de</strong>.<br />
Essa situação é similar ao que já ocorreu <strong>em</strong> outros momentos na física, quando<br />
teorias que continham singularida<strong>de</strong>s as apresentavam por estar<strong>em</strong> sendo extrapoladas<br />
para regimes nos quais as mesmas não seriam válidas. Assim, a divergência<br />
no espectro <strong>de</strong> <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> um corpo negro foi eliminada pela introdução da<br />
mecânica quântica e a singularida<strong>de</strong> no campo elétrico <strong>de</strong> uma carga puntiforme é<br />
resolvida pela quantização do campo eletromagnético.<br />
Também os sucessos <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo não são prova irrefutável <strong>de</strong> que o mesmo<br />
seja o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>finitivo para a <strong>de</strong>scrição da evolução do Universo. Há <strong>de</strong> se l<strong>em</strong>brar<br />
que as observações comprovam este mo<strong>de</strong>lo até algumas frações <strong>de</strong> segundo<br />
após a suposta singularida<strong>de</strong>. Toda e qualquer afirmação feita sobre eventos ocorridos<br />
antes <strong>de</strong>sse instante é mera especulação.<br />
Isso não significa, é claro, que a tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los para<br />
o Universo nessa escala <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po não possa ser feita. Tal mo<strong>de</strong>lo será tão melhor<br />
quanto mais previsões <strong>de</strong> caráter observacional ele for capaz <strong>de</strong> fazer. A palavra<br />
final sobre qual mo<strong>de</strong>lo é mais a<strong>de</strong>quado será dada pela confrontação <strong>de</strong>ssas previsões<br />
com as observações, atuais ou futuras. Nesse sentido, o mo<strong>de</strong>lo do Big Bang<br />
apresenta o mérito <strong>de</strong> ter sido uma das primeiras abordagens b<strong>em</strong>-sucedidas nesse<br />
campo e ter motivado gerações <strong>de</strong> físicos a se <strong>de</strong>bruçar<strong>em</strong> sobre essa questão.<br />
No entanto o fato <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo apresentar a referida singularida<strong>de</strong> continua<br />
sendo, para muitos físicos, uma questão fundamental que impe<strong>de</strong> a aceitação do<br />
mesmo como paradigma da cosmologia. Isso t<strong>em</strong> levado a diversas pesquisas [6,<br />
7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14] on<strong>de</strong> algumas condições para a valida<strong>de</strong> do teor<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> são violadas e as consequências <strong>de</strong>ssas violações estudadas. Fora<br />
a questão <strong>de</strong> se esses mo<strong>de</strong>los representam a verda<strong>de</strong>ira evolução do Universo ou<br />
não, há <strong>de</strong> se reconhecer a importância que essas tentativas têm ao levar<strong>em</strong> a teoria<br />
a se confrontar <strong>de</strong> alguma forma com seus limites.<br />
Muitos <strong>de</strong>sses mo<strong>de</strong>los são baseados <strong>em</strong> fluidos que violam algumas das condições<br />
<strong>de</strong> energia [15]. Por questões <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong> e concisão não discutir<strong>em</strong>os<br />
esses mo<strong>de</strong>los.<br />
Uma outra categoria <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los que buscam a eliminação da singularida<strong>de</strong><br />
é a baseada <strong>em</strong> mudanças no comportamento da gravitação <strong>em</strong> relação ao que é<br />
predito pela TRG. Nesse aspecto a maior aposta é na <strong>de</strong> que <strong>em</strong> algum limite a<br />
<strong>de</strong>scrição clássica do campo gravitacional tenha que ser substituída por uma abordag<strong>em</strong><br />
quântica.<br />
Várias propostas <strong>de</strong> quantização da gravitação têm sido apresentadas [16, 17,<br />
18, 8]. Também não vamos abordar todas elas nesse trabalho. Analisar<strong>em</strong>os apenas<br />
a chamada quantização canônica [8, 19, 20, 21], que leva à equação <strong>de</strong> Wheeler-<strong>de</strong><br />
2
Witt,via formalismo ADM. [22].<br />
A quantização dos mo<strong>de</strong>los cosmológicos, conhecida como cosmologia quântica,<br />
apresenta uma dificulda<strong>de</strong> extra: a interpretação da mecânica quântica [23].<br />
A interpretação usualmente aceita, conhecida como interpretação <strong>de</strong> Copenhagen,<br />
é totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um observador clássico externo ao sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> estudo,<br />
além <strong>de</strong> possuir um enfoque exclusivamente probabilístico e epist<strong>em</strong>ológico. Todas<br />
essas características inviabilizam por completo a sua utilização para interpretar<br />
os resultados obtidos <strong>em</strong> cosmologia quântica. Assim, nesse ramo da física, a<br />
questão <strong>de</strong> qual a interpretação mais a<strong>de</strong>quada da mecânica quântica, muitas vezes<br />
tratada como <strong>de</strong> relevância apenas filosófica, assume o status <strong>de</strong> questão fundamental,<br />
que s<strong>em</strong> uma resposta a<strong>de</strong>quada, torna completamente s<strong>em</strong> significado<br />
qualquer resultado obtido.<br />
Alternativas à interpretação <strong>de</strong> Copenhagen há muitas [23, 24, 25, 26, 27, 28,<br />
29, 30, 31, 32], que pelas razões já discutidas não serão abordadas aqui. Nesse<br />
trabalho adotar<strong>em</strong>os a interpretação <strong>de</strong> Bohm-<strong>de</strong> Broglie [31, 32, 33, 26].<br />
Nos últimos anos a cosmologia ganhou um po<strong>de</strong>roso “laboratório” para testar<br />
seus mo<strong>de</strong>los: as anisotropias da CMB. O mo<strong>de</strong>lo padrão consegue reproduzir<br />
muito b<strong>em</strong> essas anisotropias. É fundamental então que um mo<strong>de</strong>lo cosmológico<br />
não-singular seja capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a orig<strong>em</strong> e evolução <strong>de</strong>ssas anisotropias <strong>em</strong><br />
acordo com os dados experimentais, sob pena <strong>de</strong> ser abandonado se não o fizer.<br />
Acontece que o estudo <strong>de</strong>ssas anisotropias presssupõe o uso da teoria <strong>de</strong> perturbações<br />
aplicada aos mo<strong>de</strong>los cosmológicos. Infelizmente quando isso é feito, o<br />
que se obtém são equações complexas, e que ainda apresentam dificulda<strong>de</strong>s no que<br />
tange à quantização das mesmas e também à interpretação física dos resultados.<br />
O mo<strong>de</strong>lo padrão consegue contornar essas dificulda<strong>de</strong>s pelo uso das equações<br />
<strong>de</strong> movimento clássicas na ação das perturbações, além da introdução <strong>de</strong> variáveis<br />
invariantes <strong>de</strong> calibre [34]. Assim o trabalho <strong>de</strong> cálculo dos espectros <strong>de</strong> perturbação<br />
é gran<strong>de</strong>mente simplificado. Em tese, tal simplificação não po<strong>de</strong>ria ser feita<br />
<strong>em</strong> cosmologia quântica já que na mesma, por princípio, as equações clássicas não<br />
são válidas. Seríamos então obrigados a tratar o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> toda a sua dificulda<strong>de</strong>.<br />
Tal abordag<strong>em</strong> foi efetivamente tentada por Hawking et al. [35, 36] <strong>em</strong> 1985.<br />
Eles estudaram o espectro <strong>de</strong> perturbações gerado por Universos mantidos por um<br />
campo escalar, com curvatura espacial positiva. As dificulda<strong>de</strong>s encontradas foram<br />
tais que o probl<strong>em</strong>a só pô<strong>de</strong> ser resolvido lançando-se mão <strong>de</strong> uma aproximação<br />
s<strong>em</strong>i-clássica. Dessa forma, o probl<strong>em</strong>a totalmente quântico nunca foi efetivamente<br />
resolvido.<br />
É nesse contexto que o atual trabalho se insere. Nós preten<strong>de</strong>mos mostrar uma<br />
<strong>de</strong>dução alternativa das equações simplificadas da teoria <strong>de</strong> perturbações cosmológicas<br />
na qual nenhuma menção é feita às equações <strong>de</strong> movimento do fundo. Com<br />
isso, tais equações simplificadas po<strong>de</strong>m ser usadas mesmo no caso <strong>em</strong> que a gravitação<br />
se afasta <strong>de</strong> seu comportamento clássico. Vamos então aplicá-las para a<br />
<strong>de</strong>terminação do espectro <strong>de</strong> perturbações <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cosmologia quântica,<br />
comparando posteriormente com as observações.<br />
3
É a<strong>de</strong>quado insistir na relevância <strong>de</strong> tal estudo, uma vez que se as previsões<br />
diferir<strong>em</strong> daquelas feitas pelo mo<strong>de</strong>lo padrão, ter<strong>em</strong>os um critério observacional<br />
para excluir um ou outro mo<strong>de</strong>lo cosmológico. Se por outro lado as previsões<br />
coincidir<strong>em</strong>, será legítimo dizer que esses mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> cosmologia quântica estão<br />
colocados <strong>em</strong> bases tão sólidas quanto o mo<strong>de</strong>lo padrão. Vale l<strong>em</strong>brar que esses<br />
mo<strong>de</strong>los po<strong>de</strong>m potencialmente resolver todas as questões levantadas pelo mo<strong>de</strong>lo<br />
padrão s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrermos a uma fase inflacionária. Mesmo que<br />
tal não fosse verda<strong>de</strong>, a inflação não é incompatível com a maioria dos mo<strong>de</strong>los<br />
cosmológico-quânticos.<br />
Dessa forma o trabalho <strong>de</strong>senvolvido permite que os mo<strong>de</strong>los da cosmologia<br />
quântica sejam retirados do terreno da mera especulação e elevados ao status <strong>de</strong><br />
teoria científica.<br />
A tese está organizada como segue: no capítulo 2 alguns tópicos consi<strong>de</strong>rados<br />
relevantes são discutidos. A abordag<strong>em</strong> será altamente instrumental, s<strong>em</strong> preocupações<br />
excessivas com rigor mat<strong>em</strong>ático ou <strong>de</strong>monstrações formais <strong>de</strong> resultados.<br />
No capítulo 3 discutir<strong>em</strong>os a teoria <strong>de</strong> perturbações no mo<strong>de</strong>lo padrão. No capítulo<br />
4 apresentar<strong>em</strong>os as idéias básicas que dão suporte à cosmologia quântica apresentando<br />
um mo<strong>de</strong>lo simples que servirá como nosso “laboratório” nos capítulos 5 e<br />
6. No primeiro <strong>de</strong>stes capítulos, que se constitu<strong>em</strong> no trabalho original da tese,<br />
vamos mostrar como as complicadas equações da teoria <strong>de</strong> perturbações cosmológicas<br />
po<strong>de</strong>m ser simplificadas s<strong>em</strong> nunca fazer menção às equações da or<strong>de</strong>m zero.<br />
No capítulo 6 o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cosmologia quântica <strong>de</strong>senvolvido anteriormente será<br />
usado para a <strong>de</strong>terminação do espectro <strong>de</strong> perturbações, o qual po<strong>de</strong>rá então ser<br />
comparado com as previsões do mo<strong>de</strong>lo padrão e com as observações.<br />
O capítulo 7 encerra esse trabalho com algumas conclusões e comentários finais<br />
além <strong>de</strong> perspectivas futuras da pesquisa aqui <strong>de</strong>senvolvida.<br />
Por fim comentamos que, exceto on<strong>de</strong> explicitamente dito o contrário, todos os<br />
resultados aqui apresentados serão aplicáveis a Universos espacialmente planos.<br />
4
Capítulo 2<br />
Aspectos Conceituais<br />
2.1 Quantização <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as Vinculados<br />
Ao se estudar a dinâmica quântica <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a físico parte-se <strong>de</strong> uma lagrangiana<br />
construída a partir <strong>de</strong> critérios cin<strong>em</strong>áticos ou <strong>de</strong> forma a gerar equações<br />
<strong>de</strong> movimento já conhecidas na teoria clássica. Uma vez conhecida tal lagrangiana,<br />
po<strong>de</strong>-se quantizar diretamente a teoria (Quantização Funcional) [37, 38] ou construir,<br />
ainda no âmbito da mecânica clássica, um espaço <strong>de</strong> fase on<strong>de</strong>, a partir da<br />
lagrangiana, construímos uma hamiltoniana. A partir <strong>de</strong>ste espaço po<strong>de</strong>mos proce<strong>de</strong>r<br />
à Quantização Canônica da teoria [39]. Os <strong>de</strong>talhes da passag<strong>em</strong> lagrangiana<br />
- hamiltoniana, b<strong>em</strong> como da construção do espaço <strong>de</strong> fase e <strong>de</strong> sua estrutura simplética<br />
(Parênteses <strong>de</strong> Poisson) não serão aqui abordados por fugir<strong>em</strong> ao escopo da<br />
presente tese. Tampouco será abordada aqui a questão da quantização funcional,<br />
por ser o trabalho por ora <strong>de</strong>senvolvido baseado na abordag<strong>em</strong> canônica do processo<br />
<strong>de</strong> quantização.<br />
No entanto, <strong>em</strong> alguns sist<strong>em</strong>as físicos, a passag<strong>em</strong> da lagrangiana para a<br />
hamiltoniana e a construção do espaço <strong>de</strong> fase da teoria po<strong>de</strong>m apresentar algumas<br />
complicações. É nosso objetivo neste capítulo abordar o tratamento <strong>de</strong>stes<br />
casos, por se tratar <strong>de</strong> material consi<strong>de</strong>rado fundamental para o entendimento do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da tese. Para maiores <strong>de</strong>talhes veja [40, 41].<br />
Suponhamos que se tenha uma lagrangiana L(q i , ˙q i , t) 1 , on<strong>de</strong> q i representa<br />
um dos N graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> da teoria. Se ocorrer <strong>de</strong> o jacobiano <strong>de</strong>∂ 2 L/∂˙q i ∂˙q j se<br />
anular, então nós dir<strong>em</strong>os que o sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão é vinculado (as razões para este<br />
nome ficarão claras no que segue). Como o momentum canonicamente conjugado<br />
à variável q i é <strong>de</strong>finido por∂L/∂˙q i então a condição anterior para que o sist<strong>em</strong>a seja<br />
vinculado é traduzida por‖∂p i /∂˙q j ‖. O fato <strong>de</strong> tal <strong>de</strong>terminante se anular significa<br />
que existe pelo menos um momentum p i (ou pelo menos uma combinação linear<br />
<strong>de</strong> p i ’s) que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nenhum ˙q. Ou seja, não se po<strong>de</strong> inverter alguns dos<br />
1 Vamos, por simplicida<strong>de</strong>, trabalhar com graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> discretos. A generalização para<br />
graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> contínuos, e com proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação escalares, vetoriais ou tensoriais<br />
é imediata<br />
5
p i ‘s para se obter q˙<br />
j (p i ). A existência <strong>de</strong> um p i , ou <strong>de</strong> uma combinação <strong>de</strong> p i ’s,<br />
que não é função <strong>de</strong> nenhum ˙q significa a existência <strong>de</strong> uma funçãoφ i (q j , p j )=0.<br />
O significado da existência <strong>de</strong> tal função não é, <strong>em</strong> geral, o <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
entre as variáveis q i e p i , posto que tais variáveis são consi<strong>de</strong>radas, na construção<br />
do espaço <strong>de</strong> fase, como in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes 2 . Tais funções, que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> hipersuperfíciesφ=constante<br />
no espaço <strong>de</strong> fase, representam na realida<strong>de</strong> restrições sobre<br />
quais regiões <strong>de</strong>sse espaço são acessíveis ao sist<strong>em</strong>a físico. Assim, o sist<strong>em</strong>a só<br />
po<strong>de</strong> seguir trajetórias (q i (t), p i (t)) que estejam inteiramente contidas nas regiões<br />
do espaço <strong>de</strong> fase que satisfaçam simultaneamente a todas as condiçõesφ i = 0.<br />
Claro está que tais condições reduz<strong>em</strong> o número <strong>de</strong> graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> efetivos do<br />
sist<strong>em</strong>a, já que num sist<strong>em</strong>a com N variáveis, a existência <strong>de</strong> n condiçõesφ=0<br />
implica que o conhecimento <strong>de</strong> apenas N− n variáveis <strong>de</strong>termina univocamente o<br />
ponto do espaço <strong>de</strong> fase on<strong>de</strong> se encontra o sist<strong>em</strong>a. As outras n variáveis estão<br />
então fixadas pelas n condiçõesφ=0 e pelas N− n variáveis conhecidas. Dizse<br />
então que cadaφrepresenta um vínculo entre as variáveis do probl<strong>em</strong>a, o que<br />
justifica a terminologia <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a vinculado adotada.<br />
Comentário sobre notação: visando a reforçar o fato <strong>de</strong> que a condiçãoφ=<br />
0 não representa uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre as variáveis, mas uma restrição sobre as<br />
regiões do espaço <strong>de</strong> fase acessíveis ao sist<strong>em</strong>a, usa-se a notaçãoφ≈0, que se lê<br />
“fracamente zero”, no lugar <strong>de</strong>φ=0.<br />
Uma outra situação que po<strong>de</strong> acontecer 3 é a <strong>de</strong> não se po<strong>de</strong>r obter todos os<br />
˙q i como função <strong>de</strong> p j e q j , no espaço <strong>de</strong> fase. Se isso ocorrer então a evolução<br />
dinâmica <strong>de</strong> tal q i não é fixada pela teoria, se tornando arbitrária. Esta variável está,<br />
portanto, “disponível”, po<strong>de</strong>ndo ser escolhido como melhor convir à <strong>de</strong>scrição do<br />
sist<strong>em</strong>a. T<strong>em</strong>os então uma liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> calibre na teoria.<br />
2.1.1 Aspectos Dinâmicos <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as Vinculados<br />
Sab<strong>em</strong>os que as equações clássicas são obtidas pela extr<strong>em</strong>ização da ação<br />
∫ [<br />
dt<br />
]<br />
p i ˙q i (q j , p j , t)− H(q j , p j , t) . (2.1)<br />
Sab<strong>em</strong>os também do estudo do cálculo que para proce<strong>de</strong>r à extr<strong>em</strong>ização <strong>de</strong> uma<br />
função sujeita a vínculos <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os proce<strong>de</strong>r somando a ela os vínculos, através dos<br />
multiplicadores <strong>de</strong> Lagrange. Ou seja, <strong>em</strong> (2.1) a hamiltoniana passará a ser dada<br />
por ∑<br />
˜H=H+ λ i φ i<br />
on<strong>de</strong> osλ i ’s são funções no espaço <strong>de</strong> fase ainda in<strong>de</strong>terminadas, que faz<strong>em</strong> o papel<br />
<strong>de</strong> multiplicadores <strong>de</strong> Lagrange.<br />
2 No entanto, como ver<strong>em</strong>os, <strong>em</strong> algumas situações particulares po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar algumas<br />
<strong>de</strong>ssas funções como verda<strong>de</strong>iras i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />
3 Como ver<strong>em</strong>os mais a frente, tal situação ocorre quando a teoria possui os chamados vínculos<br />
<strong>de</strong> primeira classe.<br />
i<br />
6
Dizer que as trajetórias <strong>de</strong>scritas pelo sist<strong>em</strong>a físico têm que estar restritas às<br />
regiões do espaço <strong>de</strong> fase on<strong>de</strong> todas as condiçõesφ i ≈ 0 são satisfeitas equivale<br />
a dizer que estas condições <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser preservadas pela evolução dinâmica do sist<strong>em</strong>a.<br />
Então, essa exigência equivale a<br />
{ }<br />
φ i , ˜H ≈ 0 (2.2)<br />
para cadaφ i .<br />
Note que exigimos que a expressão acima seja fracamente zero. De fato não é<br />
necessário que{φ i , ˜H} seja i<strong>de</strong>nticamente nulo, basta que ele se anule nas regiões<br />
do espaço <strong>de</strong> fase efetivamente atravessadas pelas trajetórias do sist<strong>em</strong>a físico.<br />
A condição (2.2) s<strong>em</strong>pre leva a uma das 4 possibilida<strong>de</strong>s abaixo:<br />
1. A equação{φ i , ˜H}≈0 não t<strong>em</strong> solução. Nesse caso não há nenhuma região<br />
no espaço <strong>de</strong> fase que a satisfaça, e o sist<strong>em</strong>a não po<strong>de</strong> ser realizado fisicamente.<br />
2. A equação{φ i , ˜H}≈0 é i<strong>de</strong>nticamente satisfeita. Nesse caso a conservação<br />
<strong>de</strong>sse particularφ i não acrescenta nenhuma informação nova à <strong>de</strong>scrição do<br />
sist<strong>em</strong>a.<br />
3. A condição{φ i , ˜H}≈0 gera uma equação que envolve um ou maisλ i . Nesse<br />
caso o conjunto <strong>de</strong> todas essas expressões <strong>de</strong>termina os multiplicadores <strong>de</strong><br />
Lagrange envolvidos.<br />
4. A condição{φ i , ˜H}≈0 gera uma nova restrição para as regiões do espaço<br />
<strong>de</strong> fase acessíveis ao sist<strong>em</strong>a. T<strong>em</strong>os então um novo vínculo. Nesse caso<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os repetir a condição (2.2) para este vínculo. O processo então se<br />
repete até que nenhum novo vínculo seja obtido.<br />
É conveniente, nesse ponto introduzir uma nomenclatura. Chama-se vínculos<br />
primários aqueles obtidos diretamente da lagrangiana. Àqueles obtidos a partir<br />
da conservação <strong>de</strong> outros vínculos (situação 4 acima) dá-se o nome <strong>de</strong> vínculos<br />
secundários.<br />
Os vínculos <strong>de</strong> uma teoria po<strong>de</strong>m ainda ser classificados <strong>em</strong> vínculos <strong>de</strong> primeira<br />
ou <strong>de</strong> segunda classes [40, 41]. O critério utilizado <strong>em</strong> tal classificação é o parêntese<br />
<strong>de</strong> Poisson do vínculo com todos os outros vínculos.<br />
Por vínculo <strong>de</strong> primeira classe enten<strong>de</strong>-se aquele cujo parêntese <strong>de</strong> Poisson<br />
com todos os outros vínculos é fracamente zero, ou seja<br />
{φ i ,φ j }=C k i j φ k≈ 0.<br />
Se houver pelo menos um vínculoφ j tal que{φ i ,φ j } não seja fracamente zero,<br />
entãoφ i (e reciprocamenteφ j ) será <strong>de</strong> segunda classe.<br />
7
2.1.2 Vínculos <strong>de</strong> Primeira Classe - Transformações <strong>de</strong> <strong>Calibre</strong><br />
Sejaφ i um vínculo primário <strong>de</strong> primeira classe. Tom<strong>em</strong>os um segundo vínculo<br />
φ j . Sendoφ i um vínculo primário, haverá na hamiltoniana um termoλ i φ i (s<strong>em</strong><br />
soma <strong>em</strong> i). Comoφ i é um vínculo <strong>de</strong> primeira classe, então{φ i ,φ j }≈0 para qualquer<br />
j. Logo, nenhuma das expressões obtidas a partir da conservação dos outros<br />
vínculos po<strong>de</strong>rá envolver o multiplicadorλ i . Isso siginifica que este multiplicador<br />
não é <strong>de</strong>terminado pela teoria.<br />
Pelo exposto acima, a teoria não impõe nenhuma restrição sobreλ i . Qualquer<br />
que seja o seu valor, a dinâmica da teoria permanecerá inalterada. T<strong>em</strong>os, portanto,<br />
uma liberda<strong>de</strong> na escolha do particularλ i utilizado. Diz<strong>em</strong>os que há uma liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> calibre na teoria. Para fixarmos esse multilplicador <strong>de</strong> Lagrange <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os impor<br />
uma nova condição na teoria,γ i , arbitrária a menos da exigência <strong>de</strong> que{γ i ,φ i } não<br />
seja fracamente zero. A conservação <strong>de</strong>γ i <strong>de</strong>terminará assim o multiplicadorλ i . A<br />
condiçãoγ i é chamada condição <strong>de</strong> calibre.<br />
Pelo que acabamos <strong>de</strong> ver, está claro que vínculos primários <strong>de</strong> primeira classe<br />
estão associados a liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> calibre na teoria. Já a questão dos vínculos secundários<br />
<strong>de</strong> primeira classe não é clara, pela discussão feita acima. Como tais<br />
vínculos possu<strong>em</strong>, por <strong>de</strong>finição, parênteses <strong>de</strong> Poisson fracamente zero com todos<br />
os outros vínculos, po<strong>de</strong>mos somá-los à hamiltoniana através <strong>de</strong> novos multiplicadores<br />
<strong>de</strong> Lagrange, s<strong>em</strong> que isso altere a conservação dos outros vínculos. Dessa<br />
forma, teríamos novos multiplicadores <strong>de</strong> Lagrange não fixados e, portanto, novas<br />
liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> calibre. De fato, po<strong>de</strong>-se mostrar [40] que também os vínculos<br />
secundários <strong>de</strong> primeira classe são geradores <strong>de</strong> transformações <strong>de</strong> calibre.<br />
Voltando à questão da escolha da condição <strong>de</strong> calibreγ i , <strong>de</strong>ve estar claro<br />
que, sendo ela uma condição arbitrária, po<strong>de</strong>ríamos mudá-la, escolhendo uma<br />
nova condição ¯γ i . Tal mudança é chamada tranformação <strong>de</strong> calibre. De forma<br />
geral, uma transformação <strong>de</strong> calibre modificará a trajetória do sist<strong>em</strong>a no espaço<br />
<strong>de</strong> fase, modificando as funções q i (t) e p i (t). A nova função ¯q i (t) ( ¯p i (t)) será<br />
dada por ¯q i (t) = q i (t)+δq i (t) ( ¯p i (t) = p i (t)+δp i (t)) on<strong>de</strong>δq i = ∑ j{q i ,φ j }ǫ j<br />
(δp i = ∑ j{p i ,φ j }ǫ j ) sendoφ j vínculos <strong>de</strong> primeira classe eǫ j parâmetros da tranformação<br />
<strong>em</strong> questão.<br />
Obviamente, espera-se que as previsões <strong>de</strong> caráter observacional <strong>de</strong> uma teoria<br />
não sejam sensíveis a particulares escolhas arbitrárias <strong>de</strong> calibre. As quantida<strong>de</strong>s<br />
observáveis <strong>de</strong> uma teoria <strong>de</strong>v<strong>em</strong>, portanto ser invariantes <strong>de</strong> calibre, ou seja, <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
ter parênteses <strong>de</strong> Poisson fracamente zero com todos os vínculos <strong>de</strong> primeira<br />
classe.<br />
Por fim, como vimos, cada liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> calibre da teoria permite a escolha <strong>de</strong><br />
uma condição <strong>de</strong> calibre, ou seja, uma nova restrição sobre o sist<strong>em</strong>a. Deve estar<br />
claro que cada restrição implica na redução <strong>de</strong> uma variável canônica na teoria.<br />
Dessa forma um vínculo <strong>de</strong> primeira classe correspon<strong>de</strong>, na prática, à redução <strong>de</strong><br />
duas variáveis canônicas: uma do próprio vínculo e outra da condição <strong>de</strong> calibre.<br />
Po<strong>de</strong>mos então resumir o que foi dito <strong>em</strong> relação aos vínculos <strong>de</strong> primeira<br />
classe <strong>em</strong><br />
8
Definição Sejamφ i eφ j dois <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> n vínculos <strong>de</strong> uma teoria.φ i<br />
é dito <strong>de</strong> primeira classe se<br />
{φ i ,φ j }≈0<br />
para todo j<br />
Corolários<br />
• Todo vínculo <strong>de</strong> primeria classe gera uma liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> calibre na teoria,<br />
• Cada vínculo <strong>de</strong> primeira classe implica na redução <strong>de</strong> duas variáveis canônicas<br />
na teoria<br />
• Um observável A da teoria <strong>de</strong>ve satisfazer a{A,φ i }≈0 para todoφ i <strong>de</strong><br />
primeira classe.<br />
2.1.3 Vínculos <strong>de</strong> Segunda Classe - Parênteses <strong>de</strong> Dirac<br />
Se o vínculoφ i tiver um parêntese <strong>de</strong> Poisson não fracamente zero com outro<br />
vínculoφ j ele (e tambémφ j ) será dito <strong>de</strong> segunda classe. Nesse caso a conservação<br />
<strong>de</strong>φ j fixará o multiplicador <strong>de</strong> Lagrangeλ i . Ou seja, não há in<strong>de</strong>terminação<br />
nenhuma associada ao vínculoφ i . Dessa forma, vínculos <strong>de</strong> segunda classe não<br />
geram liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> calibre.<br />
Calculando a <strong>de</strong>rivada no t<strong>em</strong>po do vínculo <strong>de</strong> segunda classeφ i obt<strong>em</strong>os<br />
∑ ∑<br />
˙φ i ={φ i , H+ λ j φ j }={φ i , H}+ λ j C i j .<br />
j<br />
Na expressão acima C i j é um el<strong>em</strong>ento genérico da matriz formada pelos parênteses<br />
<strong>de</strong> Poisson entre os vínculos <strong>de</strong> segunda classe in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
j<br />
C i j =:{φ i ,φ j }. (2.3)<br />
Exigindo que tal <strong>de</strong>rivada t<strong>em</strong>poral se anule, para garantir a conservação <strong>de</strong>φ i ,<br />
então ter<strong>em</strong>os que o multiplicador <strong>de</strong> lagrangeλ k será dado por<br />
∑<br />
λ k =− Cki −1 {φ i, H},<br />
k<br />
on<strong>de</strong> estamos admitindo que a matriz C i j possui uma inversa, o que será confirmado<br />
logo abaixo. Da expressão acima v<strong>em</strong> que a <strong>de</strong>rivada t<strong>em</strong>poral total <strong>de</strong> uma<br />
quantida<strong>de</strong> qualquer A será dada por<br />
∑ ∑<br />
Ȧ={A, H+ λ i φ i }={A, H}−<br />
i<br />
i, j<br />
{A,φ i }C −1<br />
i j {φ j, H}=:{A, H} D<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>finimos a quantida<strong>de</strong><br />
∑<br />
{A, B} D =:{A, B}− {A,φ i }Ci −1<br />
j {φ j, B}, (2.4)<br />
9<br />
i, j
conhecida como Parêntese <strong>de</strong> Dirac.<br />
Uma consequência fundamental da <strong>de</strong>finição do parênteses <strong>de</strong> Dirac, é que<br />
po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar os vínculos <strong>de</strong> segunda classe na expressão da hamiltoniana,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que troqu<strong>em</strong>os, <strong>em</strong> todas as equações <strong>de</strong> movimento, os parênteses <strong>de</strong><br />
Poisson pelos <strong>de</strong> Dirac. Isso é fácil <strong>de</strong> ver se calcularmos a <strong>de</strong>rivada t<strong>em</strong>poral total<br />
<strong>de</strong> um vínculo <strong>de</strong> segunda classe <strong>em</strong> uma teoria que só possua tais vínculos.<br />
Uma outra consequência importante da <strong>de</strong>finição acima é a <strong>de</strong> que o parêntese<br />
<strong>de</strong> Dirac entre uma quantida<strong>de</strong> qualquer A e um vínculo <strong>de</strong> segunda classeφ k é<br />
nulo<br />
∑ ∑<br />
{A,φ k } D ={A,φ k }− {A,φ i }Ci −1<br />
j {φ j,φ k }={A,φ k }− {A,φ i }Ci −1<br />
j C jk= 0.<br />
i, j<br />
Aproveitamos aqui para comentar sobre uma sutileza associada aos vínculos<br />
<strong>de</strong> segunda classe. Para isso, imagin<strong>em</strong>os que tenhamos um sist<strong>em</strong>a físico com<br />
número ímpar <strong>de</strong> vínculos <strong>de</strong> segunda classe. Se levarmos <strong>em</strong> conta que o espaço<br />
<strong>de</strong> fase t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre um número par <strong>de</strong> variáveis, e que cada vínculo <strong>de</strong> segunda<br />
classe diminui uma variável da teoria, concluir<strong>em</strong>os que um número ímpar <strong>de</strong> vínculos<br />
<strong>de</strong> segunda classe leva a um espaço <strong>de</strong> fase com um número ímpar <strong>de</strong> variáveis<br />
canônicas efetivas, o que é um contra-senso. Isso sugere que não po<strong>de</strong> haver<br />
um número ímpar <strong>de</strong> vínculos <strong>de</strong> segunda classe <strong>em</strong> nenhuma teoria.<br />
Vamos olhar mais cuidadosamente o que acontece <strong>em</strong> tal situação. Sendo ímpar<br />
o número <strong>de</strong> vínculos <strong>de</strong> segunda classe, então a matriz C i j (equação (2.3) será<br />
uma matriz anti-simétrica <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ímpar. Po<strong>de</strong>-se mostrar s<strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong> que<br />
tais matrizes possu<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminante nulo, não sendo portanto inversíveis. Nesse<br />
caso a expressão (2.4) não po<strong>de</strong> ser utilizada. Porém, tendo a matriz C i j <strong>de</strong>terminante<br />
nulo, haverá alguma tranformação linear que, atuando no espaço dos vínculos<br />
<strong>de</strong> segunda classe irá levá-la a uma forma on<strong>de</strong> toda uma linha se anula. Isso leva à<br />
conclusão imediata <strong>de</strong> que haverá uma combinação linear <strong>de</strong> vínculos <strong>de</strong> segunda<br />
classe que possuirá parênteses <strong>de</strong> Poisson nulos com todos os outros vínculos, representando<br />
essa combinação linear, na realida<strong>de</strong>, um outro vínculo <strong>de</strong> primeira<br />
classe. Assim o número <strong>de</strong> vínculos <strong>de</strong> segunda classe foi, <strong>de</strong> fato reduzido <strong>de</strong><br />
um, resultando <strong>em</strong> um número par <strong>de</strong> tais vínculos e resolvendo as dificulda<strong>de</strong>s<br />
acima discutidas. Isso mostra também que <strong>em</strong> qualquer sist<strong>em</strong>a físico, a matriz C i j<br />
s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>verá ter <strong>de</strong>terminante não nulo, sendo então s<strong>em</strong>pre inversível.<br />
Na prática, o que os resultados acima <strong>de</strong>montram é que s<strong>em</strong>pre que tivermos<br />
vínculos <strong>de</strong> segunda classe <strong>em</strong> uma teoria, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os tratá-los como verda<strong>de</strong>iras<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s entre as variáveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que construamos a álgebra <strong>de</strong> nosso espaço <strong>de</strong><br />
fase a partir <strong>de</strong> uma álgebra <strong>de</strong> parênteses <strong>de</strong> Dirac, e não a partir dos parênteses<br />
<strong>de</strong> Poisson.<br />
2.1.4 Quantização<br />
Vamos terminar esta seção discutindo como proce<strong>de</strong>r à quantização <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />
vinculados. O método <strong>de</strong> quantização utilizado será o canônico.<br />
i, j<br />
10
Embora não seja esse o nosso objetivo, vamos rever sucintamente o processo<br />
<strong>de</strong> quantização canônica, para então vermos o que muda quando acrescentamos<br />
vínculos à teoria. O processo <strong>de</strong> quantização canônica consiste <strong>em</strong><br />
1. Construir um espaço <strong>de</strong> HilbertH. Os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>sse espaço, <strong>de</strong>notados<br />
por|ψ>, representarão possíveis estados para o sist<strong>em</strong>a físico <strong>em</strong> estudo.<br />
Sobre este espaço <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>finir um produto interno (|φ>,|ψ>)=(|ψ><br />
,|φ>) ∗ satisfazendo 0≤(|ψ>,|ψ>) é<br />
invariante e os operadores  evolu<strong>em</strong> no t<strong>em</strong>po como<br />
dÂ<br />
dt<br />
= ∂Â<br />
∂t<br />
−ı[Â, Ĥ]<br />
ou segundo a visão <strong>de</strong> Schroedinger, na qual os operadores são invariantes e<br />
o estado evolui como<br />
ı ∂|ψ> = Ĥ|ψ>.<br />
∂t<br />
Se, no entanto, houver vínculos na teoria <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os tratá-los a<strong>de</strong>quadamente<br />
no esqu<strong>em</strong>a acima. No que se refere aos vínculos <strong>de</strong> primeira classe, a primeira<br />
tentativa seria <strong>de</strong> transformá-los <strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s operatoriais através da imposição<br />
<strong>de</strong><br />
ˆφ i = 0. (2.5)<br />
Se tal igualda<strong>de</strong> valesse, o comutador entre um <strong>de</strong> tais vínculos e uma função operatorial<br />
qualquer no espaço <strong>de</strong> Hilbert <strong>de</strong>veria também se anular, o que contradiria<br />
a expressão obtida a partir da transformação dos parênteses <strong>de</strong> Poisson <strong>em</strong> comutadores<br />
[Â, ˆφ i ]↔ı{A,φ i }.<br />
já que <strong>em</strong> geral{A,φ i } não se anula. Claramente a proposta (2.5) não funciona. A<br />
opção correta nesses casos é <strong>de</strong> exigir que o vínculo <strong>de</strong> primeira classe aniquile o<br />
estado do sist<strong>em</strong>a<br />
ˆφ i |ψ>= 0.<br />
11
Nesse caso, o comutador entre dois vínculos <strong>de</strong> primeira classe quânticos obe<strong>de</strong>ceria<br />
a<br />
[ ˆφ i , φˆ<br />
j ]|ψ>=ıCi k ˆφ j k |ψ>≈ 0,<br />
<strong>em</strong> acordo com o fato <strong>de</strong> o parêntese <strong>de</strong> Poisson entre eles se anular fracamente.<br />
Note que os vínculos <strong>de</strong> primeira classe representavam classicamente restrições<br />
sobre os estados acessíveis ao sist<strong>em</strong>a físico e que quanticamente tais vínculos<br />
representam restrições sobre os estados quânticos que po<strong>de</strong>m ser ocupados pelo<br />
sist<strong>em</strong>a.<br />
No caso <strong>de</strong> haver vínculos <strong>de</strong> segunda classe, o processo <strong>de</strong> quantização se<br />
torna mais sutil. Se escolhêss<strong>em</strong>os a álgebra <strong>de</strong> comutadores a partir da álgebra<br />
dos parênteses <strong>de</strong> Poisson, e impuséss<strong>em</strong>os que o sist<strong>em</strong>a físico <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scrito<br />
por um estado sujeito a<br />
ˆφ i |ψ>= 0, (2.6)<br />
como fiz<strong>em</strong>os com os vínculos <strong>de</strong> primeira classe, teríamos uma inconsistência na<br />
teoria. Para ver isso, suponhamos que haja dois vínculos <strong>de</strong> segunda classe,φ i e<br />
φ j , tais que o parêntese <strong>de</strong> Poisson entre eles seja dado por<br />
O comutador entre tais operadores seria então<br />
{φ i ,φ j }=C i j . (2.7)<br />
[ ˆφ i , ˆφ j ]=ıĈ i j . (2.8)<br />
Impondo a condição (2.6), teríamos, no entanto, que o comutador entre tais vínculos<br />
<strong>de</strong>veria se anular<br />
[ ˆφ i , ˆφ j ]|ψ>= 0<br />
o que só po<strong>de</strong>ria ser satisfeito se Ĉ i j |ψ >= 0, o que <strong>em</strong> geral não é verda<strong>de</strong>.<br />
Se alternativamente impuséss<strong>em</strong>os a condição (2.5) para os vínculos <strong>de</strong> segunda<br />
classe, novamente cairíamos na inconsistência apontada para o caso dos vínculos<br />
<strong>de</strong> primeira classe, ou seja, <strong>de</strong> que os seus comutadores com qualquer função <strong>de</strong><br />
ˆQ e ˆP <strong>de</strong>veriam se anular, contrariando a expressão obtida a partir dos parênteses<br />
<strong>de</strong> Poisson. Para contornar tais dificulda<strong>de</strong>s, quantizamos a teoria criando a álgebra<br />
dos comutadores a partir dos parênteses <strong>de</strong> Dirac e aí sim impomos a condição<br />
(2.5). Como tais parênteses entre vínculos <strong>de</strong> segunda classe e qualquer quantida<strong>de</strong><br />
do espaço <strong>de</strong> fase se anulam, também o comutador equivalente se anulará, consistent<strong>em</strong>ente<br />
com (2.5). Isso significa que po<strong>de</strong>mos encarar os vínculos <strong>de</strong> segunda<br />
classe <strong>de</strong> uma teoria quântica como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s entre os operadores e não como<br />
restrições sobre os estados físicos. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos que também na teoria clássica,<br />
ao utilizarmos os parênteses <strong>de</strong> Dirac, pu<strong>de</strong>mos pensar nos vínculos <strong>de</strong> segunda<br />
classe como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e não como simples restrições sobre as regiões do espaço<br />
<strong>de</strong> fase acessíveis ao sist<strong>em</strong>a.<br />
12
2.2 O Probl<strong>em</strong>a da Interpretação da Mecânica<br />
Quântica<br />
2.2.1 Postulados da Interpretação Padrão da Mecânica<br />
Quântica (Copenhagen)<br />
Vamos apresentar um resumo da interpretação <strong>de</strong> Copenhagen [42, 43, 44, 45]<br />
da mecânica quântica, utilizada pela maioria dos físicos. Nossa análise não entrará<br />
a fundo <strong>em</strong> questões excessivamente técnicas pois as mesmas nos <strong>de</strong>sviariam <strong>de</strong><br />
nosso objetivo principal nesta seção, que é o <strong>de</strong> mostrar que tal interpretação possui<br />
contradições internas que, <strong>em</strong>bora não prejudiqu<strong>em</strong> a sua aplicação como um<br />
algoritmo eficiente na predição <strong>de</strong> resultados experimentais <strong>em</strong> praticamente todas<br />
as áreas da física, inviabilizam por completo a sua utilização <strong>de</strong> forma consistente<br />
na cosmologia quântica. Pressupõe-se durante toda esta seção que o leitor esteja<br />
familiarizado com o formalismo matricial da mecânica quântica.<br />
Os postulados da interpretação <strong>de</strong> Copenhagen são, portanto:<br />
1. O estado <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a físico é completamente <strong>de</strong>scrito por um vetor no<br />
espaço <strong>de</strong> Hilbert, que <strong>de</strong>notar<strong>em</strong>os por|ψ>.<br />
2. Observáveis são <strong>de</strong>scritos por operadores auto-adjuntos nesse espaço <strong>de</strong> Hilbert.<br />
3. A dinâmica do sist<strong>em</strong>a é <strong>de</strong>scrita pela equação <strong>de</strong> Schroedinger<br />
ı d |ψ>= H|ψ><br />
dt<br />
on<strong>de</strong> H é o operador hamiltoniano, construído a partir da hamiltoniana clássica<br />
(Visão <strong>de</strong> Schroedinger da mecânica quântica).<br />
4. Os possíveis resultados <strong>de</strong> uma medida do observávelAsão os auto-valores<br />
do operador  associado.<br />
5. A probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, <strong>em</strong> uma medida do observávelA, obtermos um particular<br />
valor a i será|| 2 on<strong>de</strong>|a i > é o auto-vetor <strong>de</strong> Â associado ao<br />
auto-valor a i 4 .<br />
6. Após a medida <strong>de</strong>A, o sist<strong>em</strong>a é <strong>de</strong>ixado no auto-estado|a i > associado<br />
ao auto-valor a i obtido na medida, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> qual era o estado<br />
anterior do sist<strong>em</strong>a.<br />
Note que os três últimos postulados dão um <strong>de</strong>staque especial ao processo <strong>de</strong> medida.<br />
Em função <strong>de</strong>ste aspecto, vamos analisar com mais <strong>de</strong>talhes o que ocorre na<br />
medida <strong>de</strong> um observável.<br />
4 por simplicida<strong>de</strong> estamos consi<strong>de</strong>rando nesta seção um observável com espectro discreto e não<br />
<strong>de</strong>generado.<br />
13
2.2.2 O Processo <strong>de</strong> Medida na Interpretação <strong>de</strong> Copenhagen<br />
Suponhamos inicialmente que tenhamos um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>scrito por um estado<br />
|ψ i >, que é um auto-vetor do observávelAque se <strong>de</strong>seja medir [46, 47]. Se<br />
admitimos que o aparato experimental, sendo composto também por átomos, está<br />
sujeito às mesmas leis físicas que o sist<strong>em</strong>a sob medição então po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os atribuirlhe<br />
um estado físico <strong>em</strong> um correspon<strong>de</strong>nte espaço <strong>de</strong> Hilbert, que <strong>de</strong>signar<strong>em</strong>os<br />
por|φ 0 >. Dessa forma o estado total do sist<strong>em</strong>a mais aparato 5 será<br />
|Ψ i >=|ψ i >|φ 0 >. (2.9)<br />
Para que o aparato possa medir o valor do observávelAno sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão é<br />
preciso que os dois sejam, <strong>de</strong> alguma forma, postos <strong>em</strong> interação mútua. A forma<br />
particular que a hamiltoniana <strong>de</strong> interação terá não é relevante para nossa discussão.<br />
O que nos interessa é que após um t<strong>em</strong>po finito a interação cesse (a medida esteja<br />
terminada) e o estado do sist<strong>em</strong>a completo seja, pelo menos aproximadamente,<br />
dado por<br />
|Ψ f >=|ψ i >|φ i >, (2.10)<br />
s<strong>em</strong> soma <strong>em</strong> i. Ou seja, o efeito <strong>de</strong> tal interação foi manter o sist<strong>em</strong>a inalterado,<br />
enquanto o aparato foi levado a um estado que <strong>de</strong>notamos por|φ i > que é <strong>de</strong> alguma<br />
forma correlacionado ao auto-valor a i do observávelAdo qual|ψ i > é auto-estado.<br />
Sendo os estados|φ 0 > e|φ i > associados a diferentes valores <strong>de</strong> algum parâmetro<br />
macroscópico do aparato (a posição <strong>de</strong> um ponteiro, por ex<strong>em</strong>plo) e não havendo<br />
superposição apreciável entre as diferentes funções <strong>de</strong> onda|φ i >, ter<strong>em</strong>os uma<br />
leitura direta no aparato <strong>de</strong> uma informação da qual se po<strong>de</strong>rá inferir o valor <strong>de</strong> a i .<br />
O leitor <strong>de</strong>ve se convencer que, <strong>em</strong>bora extr<strong>em</strong>amente simplificada e i<strong>de</strong>alizada, a<br />
análise acima já contém <strong>em</strong> si os el<strong>em</strong>entos essenciais do que se po<strong>de</strong> chamar “a<br />
medida do observávelA” .<br />
Mas o que acontece se o estado inicial do sist<strong>em</strong>a não for um auto-estado do<br />
observávelAaser medido? Suponhamos que tal estado inicial seja:<br />
∑ ∑<br />
|ψ 0 >= c i |ψ i > |c i | 2 = 1<br />
i<br />
e|ψ i > sejam os auto-estados <strong>de</strong> Â. O estado do sist<strong>em</strong>a completo será então<br />
∑<br />
|Ψ i >= c i |ψ i >|φ 0 >.<br />
i<br />
Após a interação entre o sist<strong>em</strong>a e o aparato, e levando <strong>em</strong> conta que a passag<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> (2.9) para (2.10) é linear, o sist<strong>em</strong>a completo estará no estado<br />
∑<br />
|Ψ f >= c i |ψ i >|φ i >. (2.11)<br />
5 Ao sist<strong>em</strong>a formado pelo aparato mais o sist<strong>em</strong>a sob medição dar<strong>em</strong>os o nome <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a completo<br />
i<br />
i<br />
14
V<strong>em</strong>os agora que o aparato não está mais <strong>em</strong> um único estado|φ i > a partir do<br />
qual possamos ler um valor <strong>de</strong> a i . Ele está na realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> uma superposição<br />
<strong>de</strong> estados associados a diferentes valores <strong>de</strong>sse observável. Numa tal situação<br />
teríamos algo como uma interferência entre “ponteiros” no aparelho <strong>de</strong> medida, o<br />
que obviamente não ocorre. Rigorosamente, não há n<strong>em</strong> mesmo um único a i a ser<br />
lido, visto que o próprio sist<strong>em</strong>a não está <strong>em</strong> um auto-estado associado a um único<br />
a i . Tampouco po<strong>de</strong>mos agora pensar no aparato como “<strong>de</strong>sconectado” do sist<strong>em</strong>a<br />
sob medida, já que o estado que <strong>de</strong>screve o sist<strong>em</strong>a completo não é um produto<br />
tensorial <strong>de</strong> estados associados a cada uma <strong>de</strong> suas partes separadamente.<br />
O ponto <strong>de</strong> vista adotado pela interpretação <strong>de</strong> Copenhagen é <strong>de</strong> que, <strong>em</strong> princípio,<br />
o aparato não <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>scrito pela mecânica quântica. O aparato experimental,<br />
mesmo sendo um sist<strong>em</strong>a físico composto por átomos, <strong>de</strong>ve s<strong>em</strong>pre ser<br />
analisado pelas leis da mecânica clássica. Isso, <strong>em</strong> princípio, resolve o probl<strong>em</strong>a<br />
da superposição <strong>de</strong> estados na equação, b<strong>em</strong> como a questão da in<strong>de</strong>pendência entre<br />
o aparato e o sist<strong>em</strong>a. A pergunta sobre qual o valor <strong>de</strong> a i a ser indicado pelo<br />
aparato clássico se resolve então através do postulado 6. No processo <strong>de</strong> medida,<br />
segundo esse postulado, o sist<strong>em</strong>a colapsa para um particular estado|ψ i > associado<br />
a um particular auto-valor|a i >, sendo esse o valor encontrado na medida <strong>de</strong><br />
A.<br />
A razão <strong>de</strong> tal colapso e o momento exato <strong>em</strong> que ele ocorre são questões não<br />
respondidas nessa abordag<strong>em</strong> da mecânica quântica. Nota-se, <strong>em</strong> particular, que<br />
esse colapso não é <strong>de</strong>scrito pela lei dinâmica básica postulada pela teoria, a equação<br />
<strong>de</strong> Schroedinger, não sendo então unitário. Nota-se também que, se repetirmos a<br />
medida <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a i<strong>de</strong>nticamente preparado, nada nos garante que o resultado<br />
da medida será novamente o valor a i . Tudo o que a teoria t<strong>em</strong> a nos dizer é que <strong>em</strong><br />
um número suficient<strong>em</strong>ente gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong>A, a frequência <strong>de</strong> a i será dada<br />
por|| 2 . No entanto, a razão pela qual é obtido um particular valor a i e<br />
não outro <strong>em</strong> cada medida são questões não respondidas, n<strong>em</strong> mesmo num nível<br />
conceitual, nesta abordag<strong>em</strong> da mecânica quântica.<br />
Toda essa situação é extr<strong>em</strong>amente insatisfatória do ponto <strong>de</strong> vista conceitual.<br />
Em primeiro lugar, não é confortável pensar que uma teoria que pretenda ser a<br />
teoria fundamental na <strong>de</strong>scrição do comportamento <strong>de</strong> átomos e moléculas precise<br />
pressupor uma classe <strong>de</strong> objetos que, apesar <strong>de</strong> formados por esses mesmos<br />
átomos e moléculas, não são por ela <strong>de</strong>scritos. Essa situação se torna ainda mais<br />
insustentável se pensarmos que po<strong>de</strong>mos utilizar um segundo aparato experimental<br />
para efetuar medidas sobre o primeiro, que passaria então a ser a<strong>de</strong>quadamente<br />
<strong>de</strong>scrito pela mecânica quântica apenas pela mudança <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong> medida<br />
para objeto medido, uma mudança que não existe <strong>de</strong> fato, já que <strong>em</strong> qualquer das<br />
situações <strong>de</strong>scritas o objeto <strong>em</strong> questão está <strong>em</strong> interação com outro sist<strong>em</strong>a físico,<br />
a distinção entre “medido” e “medidor” não tendo nada além <strong>de</strong> um caráter subjetivo.<br />
Altamente insatisfatória é também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se postular um colapso da<br />
função <strong>de</strong> onda para po<strong>de</strong>r dar sentido ao resultado do processo <strong>de</strong> medida. Tal<br />
colapso, como já comentamos acima, não é <strong>de</strong>scrito pela equação <strong>de</strong> Schroedinger<br />
15
e, <strong>de</strong> fato, a interpretação silencia sobre o que concretamente leva ao colapso da<br />
função <strong>de</strong> onda durante o processo <strong>de</strong> interação entre dois sit<strong>em</strong>as físicos, dos<br />
quais, subjetivamente, convencionamos chamar um <strong>de</strong> “instrumento <strong>de</strong> medida”. A<br />
interação do sist<strong>em</strong>a observado com o ambiente macroscópico que o cerca durante<br />
a medida po<strong>de</strong> levar à chamada “<strong>de</strong>scoerência” [48, 49, 50, 51, 52], on<strong>de</strong> os termos<br />
fora da diagonal da matriz <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> reduzida que <strong>de</strong>screve o sist<strong>em</strong>a se anulam,<br />
representando a eliminação da interferência entre diferentes auto-estados <strong>de</strong> um<br />
observável. Isso po<strong>de</strong>, <strong>em</strong> princípio, ser uma resposta à questão <strong>de</strong> porque após<br />
uma medida o aparato se comporta classicamente, s<strong>em</strong> fenômenos <strong>de</strong> interferência.<br />
Mas não respon<strong>de</strong> porque um <strong>de</strong>terminado auto-estado especificamente foi obtido.<br />
Por fim, a interpretação <strong>de</strong> Copenhagen é insatisfatória por dar um enfoque<br />
muito gran<strong>de</strong> ao processo <strong>de</strong> medida na formulação <strong>de</strong> seus postulados. S<strong>em</strong><br />
dúvida os processos que levam à obtenção <strong>de</strong> dados experimentais são da mais alta<br />
importância para uma teoria física, tanto no julgamento <strong>de</strong> se a mesma po<strong>de</strong> ser<br />
aceita como boa <strong>de</strong>scrição da natureza, como também como guias na formulação<br />
<strong>de</strong> novas teorias. No entanto, não é razoável admitir que o processo <strong>de</strong> medida faça<br />
parte explicitamente da formulação dos postulados <strong>de</strong> uma teoria, como ocorre<br />
com a interpretação <strong>de</strong> Copenhagen.<br />
Não obstante os probl<strong>em</strong>as apresentados, a interpretação <strong>de</strong> Copenhagen v<strong>em</strong><br />
sendo utilizada como interpretação padrão da mecânica quântica nos últimos 50<br />
anos. De fato, para fins <strong>de</strong> previsão <strong>de</strong> resultados experimentais não se po<strong>de</strong> negar<br />
o sucesso <strong>de</strong> tal formulação. Entretanto, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um observador externo<br />
ao sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> estudo para dar sentido à teoria inviabiliza o seu uso quando o objeto<br />
<strong>em</strong> estudo se constitui no próprio Universo, entendido como “tudo o que existe”.<br />
Também, a argumentação probabilística carece <strong>de</strong> sentido neste caso, pois não se<br />
po<strong>de</strong> falar <strong>em</strong> um “ens<strong>em</strong>ble <strong>de</strong> Universos”. E essa é justamente a situação encontrada<br />
na cosmologia quântica.<br />
Claro, po<strong>de</strong>r-se-ia argumentar que, a partir do momento <strong>em</strong> que todas as previsões<br />
da teoria se confirmam experimentalmente, não teríamos razões para questionar<br />
a sua valida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>r-se-ia argumentar que todos os probl<strong>em</strong>as anteriormente<br />
apontados não passariam <strong>de</strong> concepções errôneas sobre a natureza <strong>de</strong> uma<br />
teoria física. Em particular, a inconsistência da mesma com a cosmologia quântica<br />
seria uma indicação da inviabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta última. No entanto, o papel da<br />
comunida<strong>de</strong> científica é o <strong>de</strong> analisar todas as possibilida<strong>de</strong>s e selecionar <strong>de</strong>ntre<br />
elas a que melhor se a<strong>de</strong>qua aos fatos. Neste sentido, se for possível encontrar<br />
uma interpretação da mecânica quântica que reproduza igualmente todos os dados<br />
experimentais e não apresente as inconsistências e inconvenientes teóricos aqui<br />
apontados, será legítimo consi<strong>de</strong>rá-la como <strong>de</strong>scrição da natureza mais a<strong>de</strong>quada<br />
aos fatos e, portanto, preferível à interpretação <strong>de</strong> Copenhagen.<br />
Vamos então estudar uma interpretação alternativa da mecânica quântica, a interpretação<br />
<strong>de</strong> Bohm-<strong>de</strong> Broglie [31, 32, 33], ou interpretação causal, que <strong>de</strong> fato<br />
atinge tal objetivo. Outras interpretações exist<strong>em</strong>, tais como a interpretação <strong>de</strong><br />
vários mundos [24, 25], a mecânica quântica não linear [30] e a das histórias consistentes<br />
[23, 27, 28, 29], que também alegam atingir os objetivos acima <strong>de</strong>scritos.<br />
16
No entanto, não as abordar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> nosso trabalho, por ser o mesmo baseado apenas<br />
na interpretação <strong>de</strong> Bohm.<br />
2.2.3 Interpretação <strong>de</strong> Bohm da Mecânica Quântica<br />
Ao contrário da interpretação <strong>de</strong> Copenhagen, a interpretação <strong>de</strong> Bohm é uma<br />
interpretação ontológica, ou seja, nessa interpretação os processos físicos ocorr<strong>em</strong><br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> qualquer observador ou processo externo ao sist<strong>em</strong>a<br />
<strong>em</strong> estudo. Por isso já po<strong>de</strong>mos perceber que a interpretação <strong>de</strong> Bohm não apresenta<br />
a inconsistência com a cosmologia quântica apresentada pela interpretação<br />
<strong>de</strong> Copenhagen: para Bohm, po<strong>de</strong>mos dizer que o Universo existe por si só, s<strong>em</strong><br />
precisarmos supor qualquer tipo <strong>de</strong> processo físico ou observador externo a ele.<br />
Vamos então apresentar os postulados básicos <strong>de</strong>ssa interpretação:<br />
1. O sist<strong>em</strong>a físico é composto por uma função <strong>de</strong> ondaψ(⃗x, t) e por uma<br />
partícula que segue uma trajetória b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida⃗x(t).<br />
2. A dinâmica da função <strong>de</strong> onda é dada pela equação <strong>de</strong> Schroedinger<br />
3. A probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, no instante t, a partícula estar <strong>em</strong> uma região d 3 x <strong>em</strong><br />
torno do ponto⃗x será<br />
|ψ(⃗x, t)| 2 d 3 x.<br />
Observe que pelo postulado 1 <strong>de</strong> Bohm, a função <strong>de</strong> onda existe como ente<br />
constituinte da realida<strong>de</strong> objetiva inerente aos processos físicos. Também a partícula<br />
existe e segue uma trajetória b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida.<br />
Tudo isso é contrário à interpretação <strong>de</strong> Copenhagen, que afirmava que tudo<br />
que se po<strong>de</strong> conhecer sobre o sist<strong>em</strong>a é o vetor|ψ> (<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se obtém a função <strong>de</strong><br />
onda pela projeçãoψ(x, t)=< x|ψ(t)> nos “auto-estados” do operador <strong>de</strong> posição<br />
ˆX). Naquela interpretação a função <strong>de</strong> onda não tinha uma existência objetiva,<br />
servindo apenas como uma ferramenta <strong>de</strong> cálculo abstrata <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se obtinha a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>|ψ(x, t)| 2 . Tampouco tinha existência objetiva a partícula,<br />
sobre a qual qualquer afirmação só faria sentido no contexto <strong>de</strong> uma medida. Em<br />
particular, isso inviabilizava a existência <strong>de</strong> uma trajetória x(t).<br />
Para aplicarmos a interpretação <strong>de</strong> Bohm, vamos escrever a função <strong>de</strong> onda<br />
comoψ(x, t)=R(x, t)e ıS (x,t) on<strong>de</strong> R e S são funções reais. Imediatamente obt<strong>em</strong>os<br />
que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> será R(x, t) 2 . Substituindo na equação <strong>de</strong><br />
Schroedinger para uma partícula não-relativística 6 :<br />
ı d 1<br />
ψ(x, t)=−<br />
dt 2m<br />
∂ 2<br />
∂x2ψ(x, t)+V(x, t)ψ(x, t)<br />
e separando as partes real e imaginária <strong>de</strong>ssa equação v<strong>em</strong>, após algumas manipulações<br />
algébricas,<br />
6 Por simplicida<strong>de</strong> vamos trabalhar com partículas não relativísticas <strong>em</strong> uma dimensão. A generalização<br />
para três dimensões ou para teoria <strong>de</strong> campos é trivial [53].<br />
17
• Parte real<br />
on<strong>de</strong><br />
1<br />
2m<br />
[ ∂S (x, t)<br />
∂x<br />
] 2+ ∂S (x, t)<br />
V(x, t)+ Q(x, t)=− , (2.12)<br />
∂t<br />
1<br />
Q(x, t)=−<br />
2mR(x, t)<br />
∂ 2 R(x, t)<br />
∂x 2 (2.13)<br />
é chamado <strong>de</strong> potencial quântico, por razões que ficarão claras no que segue.<br />
• Parte Imaginária<br />
∂P(x, t)<br />
∂t<br />
+<br />
∂J(x, t)<br />
∂x<br />
= 0.<br />
A primeira <strong>de</strong>ssas equações po<strong>de</strong> ser reconhecida como a equação <strong>de</strong> Hamilton-<br />
Jacobi, diferindo da versão clássica <strong>de</strong>ssa equação pela presença do termo extra <strong>de</strong><br />
potencial Q (daí o nome <strong>de</strong> potencial quântico dado a esse termo). A segunda<br />
equação correspon<strong>de</strong> à equação <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o fluxo <strong>de</strong><br />
probabilida<strong>de</strong> é dado por<br />
J(x, t)=<br />
e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> por<br />
P(x, t) ∂S (x, t)<br />
m ∂x<br />
P(x, t)=R 2 (x, t),<br />
<strong>em</strong> acordo com o postulado 3 da interpretação. Essa última equação, <strong>em</strong> conjunto<br />
com a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, nos permite i<strong>de</strong>ntificar a velocida<strong>de</strong> da<br />
partícula como<br />
e o momentum como<br />
v(x, t)=: dx(t)<br />
dt<br />
= 1 ∂S (x, t)<br />
m ∂x<br />
∂S (x, t)<br />
p(x, t)=<br />
∂x<br />
Note que esta última equação <strong>de</strong>fine, rigorosamente falando, um campo p(x, t).<br />
O momentum da partícula <strong>de</strong> fato será dado pelo cálculo <strong>de</strong> p(x, t) ao longo da<br />
trajetória da partícula.<br />
O método da interpretação se resume, portanto a<br />
1. resolver a equação <strong>de</strong> Schroedinger, obtendoψ(x, t).<br />
2. Escreverψ=Re ıS .<br />
3. Calcular as trajetórias a partir <strong>de</strong> v(x, t)= 1 m∂x . Observe que uma vez que<br />
se conheceψas trajetórias são univocamente <strong>de</strong>terminadas pelas condições<br />
iniciais, através <strong>de</strong> uma equação <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m.<br />
4. Calcular R 2 e, se necessário, Q. Este último po<strong>de</strong> muitas vezes ser usado<br />
como uma ferramenta po<strong>de</strong>rosa na interpretação dos resultados da interpretação<br />
e para obter o limite clássico.<br />
∂S<br />
18
Po<strong>de</strong>-se mostrar que tal algoritmo reproduz os resultados experimentais, tanto<br />
quanto a interpretação <strong>de</strong> Copenhagen. A discussão <strong>de</strong>sse ponto nos levaria muito<br />
longe <strong>de</strong> nosso objetivo. Ao leitor interessado recomendamos o livro <strong>de</strong> Peter Holland<br />
[33].<br />
Um ponto muito importante na interpretação <strong>de</strong> Bohm é a existência dos chamados<br />
nós, que são <strong>de</strong>finidos como as regiões on<strong>de</strong> R=0. Comoψse anula nestes<br />
pontos, S fica aí in<strong>de</strong>finido. Como consequência, as trajetórias não po<strong>de</strong>m passar<br />
por estas regiões. Na prática, isso significa que uma partícula que inicialmente se<br />
encontre entre tais regiões ficará aí confinada, a menos é claro que a subsequente<br />
evolução t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong>ψleve tais nós a <strong>de</strong>ixar<strong>em</strong> <strong>de</strong> existir.<br />
Um outro aspecto que merece ser comentado aqui é a existência das chamadas<br />
ondas vazias, que são funções <strong>de</strong> onda que não estão associadas a nenhuma partícula.<br />
Tais ondas surg<strong>em</strong> quando a função <strong>de</strong> onda é composta pela superposição <strong>de</strong><br />
vários pacotes, <strong>de</strong> tamanho finito e que não possu<strong>em</strong> superposição apreciável espacialmente.<br />
Nesse caso, surg<strong>em</strong> vários nós, entre os diferentes pacotes, e, uma<br />
partícula que esteja <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stes pacotes ficará lá confinada. Dessa forma<br />
todos os outros pacotes estarão literalmente vazios, ou seja, s<strong>em</strong> nenhuma partícula.<br />
A relevância <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> situação é <strong>de</strong> que como no ponto on<strong>de</strong> se encontra a<br />
partícula os outros pacotes que compõ<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> onda são <strong>de</strong>sprezíveis, a<br />
função <strong>de</strong> onda efetivamente atuante sobre a partícula será o próprio pacote que a<br />
contém. Dessa forma, a dinâmica da partícula será <strong>de</strong>terminada apenas por esse<br />
pacote, ou seja, tudo se passa como se as ondas vazias tivess<strong>em</strong> sido efetivamente<br />
<strong>de</strong>sligadas, po<strong>de</strong>ndo ser completamente ignoradas, no que se refere à dinâmica da<br />
partícula, pelo menos enquanto durar o confinamento <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>ntro do pacote atual.<br />
Uma outra característica nova trazida por essa interpretação é a chamada <strong>de</strong>pendência<br />
<strong>de</strong> contexto. Classicamente, esperaríamos que, uma vez fixadas as<br />
condições iniciais e o potencial a que estão submetidas as partículas, as trajetórias<br />
<strong>de</strong>stas estariam univocamente <strong>de</strong>terminadas. Quanticamente, porém, 2 sist<strong>em</strong>as<br />
que possuam as mesmas condições iniciais para as partículas e o mesmo potencial<br />
po<strong>de</strong>m ainda diferir nas suas funções <strong>de</strong> onda. Como consequência, o potencial<br />
quântico será diferente e as trajetórias seguidas por essas partículas po<strong>de</strong>rão ser<br />
muito diferentes, apesar das mesmas condições iniciais e do mesmo potencial clássico.<br />
Por fim, comentamos sobre dois aspectos importantes do potencial quântico.<br />
Primeiramente, notamos <strong>de</strong> (2.13) que Q não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ψ, mas<br />
apenas <strong>de</strong> sua forma funcional. As consequências <strong>de</strong>sse fato serão <strong>de</strong> fundamental<br />
importância na análise <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> muitos corpos. Um outro aspecto importante<br />
se refere ao limite clássico da teoria: a partícula vai seguir uma trajetória clássica<br />
s<strong>em</strong>pre que Q pu<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong>sprezado na equação (2.12). Dessa forma, t<strong>em</strong>os um<br />
critério único e claro sobre o limite clássico na interpretação <strong>de</strong> Bohm, contrariamente<br />
ao que ocorre na interpretação <strong>de</strong> Copenhagen.<br />
19
2.2.4 Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Muitos Corpos<br />
Suponhamos que o sist<strong>em</strong>a físico <strong>em</strong> estudo seja composto por duas partículas<br />
<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas x 1 e x 2 7 .<br />
Se, <strong>em</strong> um primeiro momento, admitirmos que a função <strong>de</strong> onda total possa ser<br />
escrita como<br />
Ψ(x 1 , x 2 , t)=ψ 1 (x 1 , t)ψ 2 (x 2 , t), (2.14)<br />
então será trivial verificar que<br />
R(x 1 , x 2 , t)=R 1 (x 1 , t)R 2 (x 2 , t)<br />
S (x 1 , x 2 , t)=S 1 (x 1 , t)+S 2 (x 2 , t). (2.15)<br />
Desta segunda equação po<strong>de</strong>mos obter, aplicando a interpretação <strong>de</strong> Bohm,<br />
que as velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada partícula serão dadas por<br />
v 1 (x, t)= 1 m 1<br />
∂S 1 (x 1 , t)<br />
∂x 1<br />
v 2 (x, t)= 1 m 2<br />
∂S 2 (x 2 , t)<br />
∂x 2<br />
, (2.16)<br />
exatamente as expressões obtidas para o caso <strong>de</strong> uma partícula, apenas replicada<br />
para cada uma das partículas constituintes do sist<strong>em</strong>a. Ou seja, para uma função <strong>de</strong><br />
onda da forma (2.14), concretamente um produto tensorial, obt<strong>em</strong>os que a quantização<br />
da teoria não introduz nenhuma inter<strong>de</strong>pendência extra entre as partículas,<br />
além daquela que já existiria no caso clássico 8 . Diz<strong>em</strong>os que as partículas não<br />
estão correlacionadas.<br />
A in<strong>de</strong>pendência entre as partículas po<strong>de</strong> ser vista também nos efeitos do potencial<br />
quântico. Calculando-o para a função <strong>de</strong> onda (2.14) obt<strong>em</strong>os<br />
on<strong>de</strong><br />
Q(x 1 , x 2 .t)=Q 1 (x 1 , t)+ Q 2 (x 2 , t), (2.17)<br />
Q i (x i , t)=− 1 ∂ 2<br />
2m i ∂xi<br />
2 R i (x i , t).<br />
V<strong>em</strong>os assim que para a função <strong>de</strong> onda (2.14) o potencial quântico se <strong>de</strong>compõe<br />
<strong>em</strong> duas componentes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, um para cada partícula. Novamente as duas<br />
partículas são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> suas dinâmicas quânticas.<br />
No entanto a situação será completamente diferente se a função <strong>de</strong> onda do<br />
sist<strong>em</strong>a não for um produto tensorial, mas uma combinação linear <strong>de</strong> tais produtos,<br />
como <strong>em</strong> ∑<br />
Ψ(x 1 , x 2 , t)= ψ (i)<br />
1 (x 1, t)ψ ( j)<br />
2 (x 2, t)a i j . (2.18)<br />
i, j<br />
7 A generalização para o caso <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duas partículas é trivial.<br />
8 Obviamente po<strong>de</strong> haver um potencial clássico que implique uma interação entre as partículas.<br />
Mas tal situação já existiria classicamente. A quantização não introduz nenhuma correlação nova na<br />
teoria. Este é o ponto principal <strong>de</strong>ste argumento.<br />
20
on<strong>de</strong> os conjuntos <strong>de</strong> funçõesψ (i)<br />
1 (x 1, t) eψ ( j)<br />
2 (x 2, t) formam bases nos seus respectivos<br />
espaços <strong>de</strong> Hilbert.<br />
Nesse caso, as quantida<strong>de</strong>s R e S não se <strong>de</strong>comporão <strong>em</strong> expressões tão simples<br />
como <strong>em</strong> (2.15). Por consequência, as velocida<strong>de</strong>s não serão mais dadas por (2.16)<br />
e n<strong>em</strong> o potencial quântico se <strong>de</strong>comporá como (2.17).<br />
Se agora calcularmos<br />
v 1 (x 1 , x 2 , t)= 1<br />
2m 1<br />
∂S (x 1 , x 2 , t)<br />
∂x 1<br />
,<br />
obter<strong>em</strong>os uma função v 1 que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá não apenas das coor<strong>de</strong>nadas da partícula<br />
1, mas também das coor<strong>de</strong>nadas da partícula 2. Igualmente, para o potencial quântico<br />
Q(x 1 , x 2 , t)=− 1 ∂ 2<br />
2m 1 ∂x1<br />
2 R(x 1 , x 2 , t)− 1 ∂ 2<br />
2m 2 ∂x2<br />
2 R(x 1 , x 2 , t) (2.19)<br />
<strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os especificar não apenas as coor<strong>de</strong>nadas da partícula 1 mas também as da<br />
partícula 2 para po<strong>de</strong>rmos obter o potencial quântico a que está sujeita a primeira.<br />
T<strong>em</strong>os, como consequência <strong>de</strong> tal situação, que as duas partículas estão correlacionadas.<br />
Note que tal situação ocorrerá mesmo se classicamente não houver<br />
interação entre elas. Esse tipo <strong>de</strong> correlação quântica, aqui vista sob o ponto <strong>de</strong><br />
vista da interpretação <strong>de</strong> Bohm, é conhecido na literatura como <strong>em</strong>aranhamento,<br />
estando presente mesmo na interpretação <strong>de</strong> Copenhagen (o ex<strong>em</strong>plo mais conhecido<br />
<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> correlação é o chamado experimento EPR). Note também que,<br />
como o potencial quântico não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da intensida<strong>de</strong> da função <strong>de</strong> onda mas <strong>de</strong><br />
sua forma funcional, o requerimento <strong>de</strong> queψ(x 1 , x 2 , t) seja pequeno, mas finito,<br />
para x 2 muito diferente <strong>de</strong> x 1 não t<strong>em</strong> nenhum efeito para eliminar a influência<br />
<strong>de</strong> uma partícula sobre a outra através do potencial quântico. A conclusão a que<br />
chegamos é que para uma função <strong>de</strong> onda do tipo (2.18) as partículas estão sujeitas<br />
a uma correlação não local.<br />
2.2.5 O Processo <strong>de</strong> Medida na Interpretação <strong>de</strong> Bohm<br />
Suponha que um sist<strong>em</strong>a no qual se <strong>de</strong>seja medir um observávelAseja <strong>de</strong>scrito<br />
pela função <strong>de</strong> ondaψ(x, t)<br />
∑<br />
ψ(x, t)= c i (t)ψ i (x), (2.20)<br />
i<br />
on<strong>de</strong>ψ i (x) são as auto-funções do operador  associado ao observávelA, e que<br />
o aparato experimental seja <strong>de</strong>scrito pela função <strong>de</strong> ondaφ 0 (y, t). A partir <strong>de</strong>sses<br />
dados, e assumindo que antes do processo <strong>de</strong> medida os dois sist<strong>em</strong>as não estejam<br />
correlacionados, a função <strong>de</strong> onda total será<br />
∑<br />
Ψ(x, y, t)= c i (t)ψ i (x)φ 0 (y, t).<br />
i<br />
21
Pela discussão anterior sobre o processo <strong>de</strong> medida na interpretação <strong>de</strong> Copenhagen,<br />
sab<strong>em</strong>os que, após esse processo, o estado do sist<strong>em</strong>a será dado por (2.11)<br />
Se não houver superposição espacial entre as funções <strong>de</strong> ondaφ i (y, t), obtidas a<br />
partir <strong>de</strong>|φ i >, a função <strong>de</strong> onda total se dividirá <strong>em</strong> pacotes que não se sobrepõ<strong>em</strong><br />
(mesmo que haja superposição entre as funçõesψ i (x, t)), cada um associado a um<br />
diferente valor <strong>de</strong> a i . Como o aparato <strong>de</strong> medida vai seguir uma única particular<br />
trajetória y(t), o sist<strong>em</strong>a como um todo terá sua dinâmica regida pela particular<br />
função <strong>de</strong> onda c i φ i (y, t)ψ i (x, t) que contém y(t). Ou seja, após o processo <strong>de</strong> medida,<br />
a variável y do aparato estará correlacionada a um valor <strong>de</strong> a i do sist<strong>em</strong>a<br />
sobre o qual a medida foi realizada, <strong>de</strong> tal forma que o conhecimento <strong>de</strong> y permite<br />
o conhecimento <strong>de</strong> a i . Toda a dinâmica subsequente ao processo <strong>de</strong> medida<br />
será <strong>de</strong>terminada unicamente pela função <strong>de</strong> onda c i φ i (y, t)ψ i (x, t), que evoluirá dinamicamente<br />
pela hamiltoniana livre, ou seja, s<strong>em</strong> o termo <strong>de</strong> interação. Dessa<br />
forma, todas as outras funções <strong>de</strong> onda terão se tornado dinamicamente inativas,<br />
irrelevantes para a <strong>de</strong>scrição do sist<strong>em</strong>a (ondas vazias). A partícula que constitui<br />
o sist<strong>em</strong>a sob observação também seguirá uma única trajetória, obtida a partir da<br />
função <strong>de</strong> ondaψ i (x, t). A particular trajetória escolhida e, portanto, o particular<br />
valor <strong>de</strong> a i obtido na medida são então <strong>de</strong>terminados <strong>em</strong> última análise pelas<br />
condições iniciais do sist<strong>em</strong>a. É a partícula, <strong>em</strong> função <strong>de</strong>ssas condições, qu<strong>em</strong><br />
escolhe essa trajetória entre todas as possibilida<strong>de</strong>s. Este resultado reproduz o colapso<br />
da função <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> forma totalmente consistente e s<strong>em</strong> nenhum postulado<br />
adicional. A redução da superposição <strong>de</strong> ondas inicial a uma auto-função do observável<br />
sob medida <strong>de</strong>corre, na interpretação <strong>de</strong> Bohm, das próprias leis dinâmicas<br />
da mecânica quântica.<br />
Também, pela discussão anterior, fica evi<strong>de</strong>nte que os únicos valores que po<strong>de</strong>m<br />
ser obtidos na medida do observávelAsão seus auto-valores a i , resultado esse<br />
que também concorda com os dados experimentais, s<strong>em</strong> no entanto, representar um<br />
postulado adicional da teoria.<br />
Po<strong>de</strong>-se mostrar também [33] que num ens<strong>em</strong>ble <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as i<strong>de</strong>nticamente<br />
preparados no estado (2.20), a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtermos o auto-valor a i na medida<br />
do observávelAédada por|c i | 2 . A <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>sse ponto envolve conceitos<br />
que não foram aqui discutidos por questões <strong>de</strong> concisão.<br />
Um ponto que, <strong>em</strong>bora importante, sobre ele apenas apresentar<strong>em</strong>os um comentário,<br />
já que a discussão <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes nos afastaria <strong>de</strong> nossos objetivos, é a<br />
questão <strong>de</strong> se a subsequente evolução dinâmica do sist<strong>em</strong>a não po<strong>de</strong>ria levar as<br />
funções <strong>de</strong> onda vazias a se sobrepor<strong>em</strong> à função <strong>de</strong> onda que contém a trajetória do<br />
sist<strong>em</strong>a. Se tal fato ocorresse, então não po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar as outras funções<br />
<strong>de</strong> onda <strong>em</strong> (2.11) como fisicamente irrelevantes. No entanto, po<strong>de</strong>-se argumentar<br />
no sentido <strong>de</strong> que tal processo é altamente improvável [31, 32, 33], através da idéia<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoerência.<br />
Por fim notamos que como, após a medida, o sist<strong>em</strong>a total é efetivamente <strong>de</strong>scrito<br />
pela função <strong>de</strong> onda c i φ i (y, t)ψ i (x, t), um produto tensorial <strong>de</strong> funções associadas<br />
respectivamente ao aparato e ao sist<strong>em</strong>a, então estes não estarão mais<br />
correlacionados.<br />
22
Em resumo, mostramos nesta seção, <strong>de</strong> forma instrumental e s<strong>em</strong> preocupações<br />
extr<strong>em</strong>as com rigor mat<strong>em</strong>ático, que a interpretação <strong>de</strong> Bohm, por ser uma interpretação<br />
<strong>de</strong> natureza ontológica, não apresenta as inconsistências da interpretação<br />
<strong>de</strong> Copenhagen para <strong>de</strong>screver o processo <strong>de</strong> medida. Isso significa que nessa<br />
interpretação a equação <strong>de</strong> Schroedinger vale s<strong>em</strong>pre e não é necessário supor a<br />
dicotomia entre observador e observado, ambos são tratados <strong>de</strong> forma unificada.<br />
Assim, ela po<strong>de</strong> ser aplicada à cosmologia quântica consistent<strong>em</strong>ente. Também é<br />
capaz <strong>de</strong> reproduzir os resultados dos processos <strong>de</strong> medida s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
postulados extras sobre a natureza <strong>de</strong>stes processos, que passam então a ser encarados,<br />
<strong>de</strong> forma muito mais natural, como uma classe particular <strong>de</strong> interações entre<br />
sist<strong>em</strong>as físicos.<br />
2.3 Formalismo <strong>de</strong> Ostrogradski<br />
Tipicamente as teorias físicas têm sua dinâmica dada por lagrangianas que envolv<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong>, no máximo, primeira or<strong>de</strong>m das variáveis dinâmicas.<br />
No entanto, há teorias on<strong>de</strong> aparec<strong>em</strong>, na lagrangiana, <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m superior<br />
à primeira. Em geral, a obtenção das equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange para<br />
tais sist<strong>em</strong>as não apresenta maiores dificulda<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo ser obtidas por uma<br />
generalização trivial do procedimento utilizado no caso <strong>de</strong> teorias com <strong>de</strong>rivadas<br />
primeiras apenas. Tal trivialida<strong>de</strong> é perdida quando se trata da construção <strong>de</strong> um<br />
espaço <strong>de</strong> fase para a teoria.<br />
Suponha então que se tenha uma lagrangiana L(¨q, ˙q, q, t) 9 . As equações <strong>de</strong><br />
Euler-Lagrange serão<br />
d 2 ∂L<br />
dt 2 ∂¨q − d ∂L<br />
dt∂˙q +∂L ∂q = 0.<br />
O formalismo <strong>de</strong> Ostrogradski [54] consiste <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar as variáveis q e ˙q como<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e a partir <strong>de</strong>ssa in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>finir duas novas variáveis<br />
q 1 =: q<br />
q 2 =: ˙q.<br />
A essas novas variáveis estão associados os momenta p 1 e p 2 dados por<br />
p 2 =: ∂L<br />
∂˙q 2<br />
p 1 = ∂L<br />
∂q 2<br />
− d dt p 2. (2.21)<br />
Dessa forma, já t<strong>em</strong>os as variáveis com as quais construir o espaço <strong>de</strong> fase.<br />
O passo seguinte é construir a Hamiltoniana da teoria sobre esse espaço. Para<br />
9 Por simplicida<strong>de</strong> analisar<strong>em</strong>os o caso <strong>de</strong> teorias cuja or<strong>de</strong>m mais alta <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação é a segunda.<br />
Esse caso contém <strong>em</strong> si todos os el<strong>em</strong>entos que precisamos para discutir o formalismo e correspon<strong>de</strong><br />
ao caso com o qual vamos efetivamente lidar no trabalho <strong>em</strong> questão. A generalização para or<strong>de</strong>ns<br />
mais altas é trivial. Para <strong>de</strong>talhes indicamos o artigo <strong>de</strong> <strong>de</strong> Urries [54].<br />
23
tanto precisamos apenas efetuar a transformação <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong> L(q 1 , q 2 , ˙q 2 , t)<br />
para H(q 1 , p 1 , q 2 , p 2 , t)<br />
H(q 1 , q 2 , p 1 , p 2 , t)= p 1 ˙q 1 + p 2 ˙q 2 − L(q 1 , q 2 , ˙q 2 , t)= p 1 q 2 + p 2 ˙q 2 − L(q 1 , q 2 , ˙q 2 , t),<br />
on<strong>de</strong> ˙q 1 e ˙q 2 são encarados como funções <strong>de</strong> q 1 , p 1 , q 2 , p 2 e t.<br />
Se agora calcularmos as quantida<strong>de</strong>s∂H/∂q i ,∂H/∂p i , obter<strong>em</strong>os, usando (2.21)<br />
∂H ∂˙q 2<br />
= p 2 − ∂L ∂˙q 2<br />
− ∂L =− ∂L =− d ∂q 1 ∂q 1 ∂˙q 2 ∂q 1 ∂q 1 ∂q 1 dt p 1<br />
∂H ∂˙q 2<br />
= p 1 + p 2 − ∂L ∂˙q 2<br />
− ∂L =− d ∂<br />
=− d ∂q 2 ∂q 2 ∂˙q 2 ∂q 2 ∂q 2 dt∂q˙<br />
2 dt p 2<br />
∂H ∂˙q 2<br />
= q 2 + p 2 − ∂L ∂˙q 2<br />
= q 2 = ˙q 1<br />
∂p 1 ∂p 1 ∂˙q 2 ∂p 1<br />
∂H ∂˙q 2<br />
= ˙q 2 + p 2 − ∂L ∂˙q 2<br />
= ˙q 2<br />
∂p 2 ∂p 2 ∂˙q 2 ∂p 2<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se vê que a hamiltoniana obtida pelo procedimento acima efetivamente<br />
gera as equações clássicas <strong>de</strong> movimento para o conjunto <strong>de</strong> variáveis q 1 , q 2 , p 1 e<br />
p 2 .<br />
Vejamos um ex<strong>em</strong>plo concreto <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong>sse formalismo. Tom<strong>em</strong>os como<br />
lagrangiana<br />
on<strong>de</strong> a e b são constantes.<br />
A equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange será<br />
L= 1 2 ¨q2 + 1 2 a2 ˙q 2 + 1 2 b2 q 2 (2.22)<br />
q (4) − a 2 ¨q+b 2 q=0 (2.23)<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>notamos por q (i) as <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m i <strong>de</strong> q (i>2).<br />
Aplicando o formalismo <strong>de</strong> Ostrogradski<br />
q 1 =: q<br />
vamos re-escrever a lagrangiana (2.22) como<br />
A partir <strong>de</strong> (2.21) v<strong>em</strong><br />
A Hamiltoniana será<br />
q 2 =: ˙q, (2.24)<br />
L= 1 2 ˙q2 2 + 1 2 a2 q 2 2 + 1 2 b2 q 2 1 .<br />
p 2 = ˙q 2<br />
p 1 = a 2 q 2 − ṗ 2 . (2.25)<br />
H=p 1 q 2 + 1 2 p2 2 − 1 2 a2 q 2 2 − 1 2 b2 q 2 1 .<br />
24
Note que no cálculo da hamiltoniana não fiz<strong>em</strong>os uso explícito da expressão para<br />
p 1 .<br />
Verifiqu<strong>em</strong>os que essa hamiltoniana gera as equações corretas <strong>de</strong> movimento.<br />
Calculando ˙q i ={q i , H} e ṗ i ={p i , H} v<strong>em</strong><br />
˙q 1 = q 2<br />
˙q 2 = p 2<br />
ṗ 2 =−p 1 + a 2 q 2<br />
ṗ 1 = b 2 q 1 . (2.26)<br />
Observe que as três primeiras equações correspon<strong>de</strong>m às <strong>de</strong> número (2.24) e (2.25),<br />
po<strong>de</strong>ndo ser encaradas como nada além <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> q 2 , p 2 e p 1 . Assim, esperamos<br />
que a equação dinâmica da teoria seja a última das equações (2.26). De fato,<br />
usando-se as três equações anteriores po<strong>de</strong>-se mostrar que essa equação é igual a<br />
a 2 ¨q 1 − q (4)<br />
1<br />
− b 2 q 1 = 0<br />
que correspon<strong>de</strong> à equação (2.23), se l<strong>em</strong>brarmos que q 1 = q.<br />
25
Capítulo 3<br />
<strong>Teoria</strong> <strong>de</strong> <strong>Perturbações</strong><br />
Cosmológicas<br />
3.1 Introdução<br />
Como é sabido, a solução <strong>de</strong> Friedmann <strong>de</strong>screve a evolução <strong>de</strong> um Universo<br />
que é, <strong>em</strong> todo t<strong>em</strong>po, homogêneo e isotrópico. Claramente, tal cenário não comporta<br />
por si só a distribuição atual <strong>de</strong> matéria, on<strong>de</strong> regiões <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> mais alta<br />
(aglomerados <strong>de</strong> galáxias, galáxias, estrelas, etc) estão cercadas por regiões vazias<br />
<strong>de</strong> matéria.<br />
A orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> tais estruturas po<strong>de</strong> ser estudada, no contexto do mo<strong>de</strong>lo padrão,<br />
utilizando-nos do conceito <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jeans [55]. Em linhas gerais tal<br />
instabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong> a gravitação ser uma interação estritamente atrativa.<br />
Dessa forma, se <strong>em</strong> um ponto ocorre um aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, o campo<br />
gravitacional <strong>em</strong> torno <strong>de</strong>sse ponto sofrerá também um aumento, levando à atração<br />
<strong>de</strong> mais matéria, com um consequente novo aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> aí. O processo<br />
prossegue, <strong>de</strong> forma que ao final <strong>de</strong> algum t<strong>em</strong>po forma-se uma região <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
cercada por regiões <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> mais baixa. Tal processso, tendo ocorrido<br />
ao longo <strong>de</strong> toda a evolução do Universo po<strong>de</strong>, <strong>em</strong> princípio, explicar a orig<strong>em</strong> das<br />
estruturas hoje observadas. A orig<strong>em</strong> das flutuações primordiais, que <strong>de</strong>ram início<br />
a esse mecanismo, po<strong>de</strong> ser atribuída a flutuações quânticas do campo gravitacional<br />
e do conteúdo material.<br />
Sendoρ 0 (t) a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> média do Universo eρ(⃗x, t) a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>em</strong> um ponto<br />
particular, <strong>de</strong>finimos a quantida<strong>de</strong>δρ(⃗x, t) como<br />
δρ(⃗x, t)=:ρ(⃗x, t)−ρ 0 (t).<br />
Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>comporδρ(⃗x, t) <strong>em</strong> modos normais<br />
∑<br />
δρ(⃗x, t)= δρ ⃗ k (t) f ⃗k (⃗x)<br />
⃗k<br />
on<strong>de</strong> f ⃗ (⃗x) é uma base <strong>de</strong> funções. Os modos associados a k pequeno (gran<strong>de</strong>s<br />
k<br />
comprimentos <strong>de</strong> onda) representam então estruturas <strong>em</strong> larga escala.<br />
26
A dinâmica das quantida<strong>de</strong>sδρ ⃗ (t) é, no entanto, extr<strong>em</strong>amente complicada<br />
k<br />
<strong>de</strong> ser estudada <strong>de</strong>vido à não linearida<strong>de</strong> inerente à teoria da relativida<strong>de</strong> geral.<br />
Entretanto, enquantoδρ ⃗ (t) for suficient<strong>em</strong>ente pequeno, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os lançar mão<br />
k<br />
<strong>de</strong> aproximações lineares para estudar sua evolução t<strong>em</strong>poral. A esta teoria dá-se<br />
o nome <strong>de</strong> teoria <strong>de</strong> perturbações cosmológicas. É nosso objetivo neste capítulo<br />
apresentar os principais resultados e métodos <strong>de</strong>ssa teoria.<br />
Para esse estudo, vamos, inicialmente, <strong>de</strong>screver a cin<strong>em</strong>ática das perturbações<br />
<strong>em</strong> relativida<strong>de</strong> geral. Em seguida estudar<strong>em</strong>os a dinâmica das mesmas tentando<br />
manter a generalida<strong>de</strong> dos resultados. O passo seguinte consiste <strong>em</strong> aplicar os resultados<br />
obtidos aos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Friedmann-L<strong>em</strong>aître-Robertson-Walker (FLRW),<br />
discutindo aí a questão da invariância <strong>de</strong> calibre. O conteúdo material é analisado<br />
<strong>em</strong> seguida. Mostrar<strong>em</strong>os por fim como o uso das equações <strong>de</strong> movimento<br />
do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo po<strong>de</strong> levar a simplificações das equações que reg<strong>em</strong> a<br />
dinâmica das perturbações.<br />
3.2 <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> relativida<strong>de</strong> geral<br />
3.2.1 Definição<br />
Seja g (0) o tensor métrico <strong>de</strong> um espaço-t<strong>em</strong>po. Seja ˜g um outro tensor métrico<br />
que po<strong>de</strong> ser construído sobre esse espaço-t<strong>em</strong>po. Se, para quaisquer vetores V e<br />
W sobre esta varieda<strong>de</strong>, a diferença<br />
h(V, W)=: ˜g(V, W)−g (0) (V, W)<br />
for infinitesimal, então dir<strong>em</strong>os que h é uma perturbação <strong>de</strong> g (0) , sendo esta última<br />
<strong>de</strong>nominada métrica <strong>de</strong> fundo.<br />
3.2.2 Quantida<strong>de</strong>s Cin<strong>em</strong>áticas<br />
Pela <strong>de</strong>finição acima está claro que, <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas qualquer<br />
h µν = ˜g µν − g (0)<br />
µν.<br />
Vamos, por enquanto, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado a questão da invariância <strong>de</strong> calibre.<br />
Sendo V µ a velocida<strong>de</strong> própria <strong>de</strong> um observador genérico na geometria <strong>de</strong><br />
fundo<br />
V µ V ν g (0)<br />
µν= 1<br />
então po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>compor o tensor h µν como<br />
2φ=h µν V µ V ν<br />
A α = h µν V µ P ν α<br />
ǫ αβ = h µν P µ αP ν β<br />
Nas expressões acima, P µν = g (0)<br />
µν−V µ V ν representa o projetor no espaço <strong>de</strong> repouso<br />
local do observador V µ e índices são elevados e abaixados através da métrica g (0)<br />
µν<br />
27
3.2.3 Dinâmica<br />
Estamos interessados, como dito, no estudo da dinâmica das perturbações <strong>em</strong><br />
seu regime linear. Para tanto, é necessária uma ação que seja quadrática nas quantida<strong>de</strong>s<br />
h µν . A ação da Relativida<strong>de</strong> Geral é dada por (setor gravitacional apenas)<br />
S gr =− 1 ∫<br />
6l 2 d 4 x √ −gR (3.1)<br />
on<strong>de</strong> a quantida<strong>de</strong> l, que coinci<strong>de</strong> com o comprimento <strong>de</strong> Planck <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s<br />
naturais (=1 e c=1), é <strong>de</strong>finida por<br />
l=<br />
√<br />
8πG<br />
3 .<br />
Dev<strong>em</strong>os então expandir <strong>em</strong> série <strong>de</strong> Taylor a expressão (3.1) <strong>em</strong> torno da métrica<br />
g (0)<br />
µν , guardando apenas os t<strong>em</strong>os até segunda or<strong>de</strong>m <strong>em</strong> h µν . Dessa forma a ação<br />
S gr será dada por<br />
S gr = S gr+δ (0)<br />
1 S gr +δ 2 S gr<br />
on<strong>de</strong>δ 1 S gr eδ 2 S gr representam correções <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 1 e 2 <strong>em</strong> h µν , respectivamente.<br />
Na equação acima S gr (0) representa a ação (3.1) calculada a partir da métrica <strong>de</strong><br />
fundo, e gera as equações <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong>ssa teoria 1 .<br />
Com relação aδ 1 S gr , a mesma po<strong>de</strong> ser feita i<strong>de</strong>nticamente nula pelo uso das<br />
equações <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero.<br />
Por fim,δ 2 S gr é a ação que gera as equações lineares da teoria. A sua expressão<br />
é<br />
δ 2 S gr =− 1 ∫ [<br />
6l 2 d 4 x<br />
√−g (0) −h σµ ;µh σν ;ν+ h σµ ;µh ;σ + 3 4 hσµ;ν h σµ;ν<br />
−h σµ h σ<br />
ν ;νµ + h σµ h ;σµ + h σµ h σµ<br />
;ν ν − 1 4 h ;µh ;µ + 1 2 hhµν ;µν<br />
− 1 2 hh;µ µ<br />
µ− h νρ h ν ;ρµ − 1 2 hνµ;ǫ h νǫ;µ + h ν α h αρ R (0)<br />
νρ− 1 2 hhµν R (0)<br />
µν<br />
+ 1 8 h2 R (0) − 1 4 hµν h µν R (0) ],<br />
com R (0)<br />
µν eR (0) sendo respectivamente o tensor <strong>de</strong> Ricci e o escalar <strong>de</strong> curvatura da<br />
geometria <strong>de</strong> fundo. As fórmulas utilizadas para a obtenção <strong>de</strong>sta equação estão<br />
dadas no apêndice A.<br />
Na ação acima po<strong>de</strong>mos, após algumas integrais por partes, eliminar os termos<br />
1 Logicamente as equações corretas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser obtidas a partir da ação total, ou seja a ação do<br />
setor gravitacional mais a matéria. Nós vamos analisar o conteúdo material mais adiante.<br />
28
<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada segunda, obtendo<br />
δ 2 S gr = 1 ∫ √ [ 1<br />
6l 2 d 4 x −g (0) 4 hµν;α h µν;α − 1 2 h µ ν ;νh µα ;α+ 1 2 h ;µh µν ;ν<br />
− 1 4 h ;µh ;µ − 1 2 hαµ h βν W (0)<br />
αβµν + 1 6 (hµν h µν − 1 ]<br />
4 h2 )R (0)<br />
− 1 ∫ [<br />
6l 2 d 4 x<br />
√−g (0) − 3 2 hσµ ν<br />
h σ ;ν + h σµ h ;σ + h σν h ;µ σν − 1 2 hνµ;σ h νσ<br />
+ 1 2 hhνµ ;ν− 1 ]<br />
2 hh;µ (3.2)<br />
;µ<br />
on<strong>de</strong> a última integral po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sprezada por ser igual, via Teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Gauss, a<br />
um termo <strong>de</strong> superfície, que não altera as equações <strong>de</strong> movimento da teoria. Nessa<br />
expressão W (0)<br />
αβµν<br />
representa o tensor <strong>de</strong> Weyl da or<strong>de</strong>m zero.<br />
3.3 <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW - Cin<strong>em</strong>ática<br />
Vamos agora particularizar nossa discussão, restringindo-a a perturbações sobre<br />
um espaço-t<strong>em</strong>po do tipo FLRW<br />
3.3.1 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Fundo<br />
Tom<strong>em</strong>os como espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo um que seja folheável por hipersuperfícies<br />
globais do tipo espaço e maximalmente simétricas. Po<strong>de</strong>-se mostrar que a<br />
métrica <strong>de</strong>sse espaço-t<strong>em</strong>po po<strong>de</strong> ser escrita como<br />
ds 2 = N 2 (t)dt 2 − a 2 (t)γ i j dx i dx j (3.3)<br />
on<strong>de</strong>γ i j é uma métrica positivo-<strong>de</strong>finida, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> t, homogênea e isotrópica,<br />
caracterizada por uma curvatura constante K [56]. Se K é não-nulo, po<strong>de</strong>-se s<strong>em</strong>pre<br />
escolher o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma a levá-la a assumir um dos valores±1,<br />
conforme o sinal <strong>de</strong> K.<br />
A função N(t) correspon<strong>de</strong> à função lapso do formalismo ADM [22] e não<br />
é <strong>de</strong>terminada pela teoria mostrando a arbitrarieda<strong>de</strong> na escolha da coor<strong>de</strong>nada<br />
t<strong>em</strong>poral <strong>em</strong> Relativida<strong>de</strong> Geral.<br />
As escolhas mais comuns para N(t) são N= a e N= 1. A coor<strong>de</strong>nada t<strong>em</strong>poral<br />
da primeira é conhecida como t<strong>em</strong>po conforme,η. No segundo caso, a coor<strong>de</strong>nada<br />
t<strong>em</strong>poral correspon<strong>de</strong> ao t<strong>em</strong>po próprio ao longo da linha <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong> um observador<br />
comóvel com as hipersuperfícies espaciais. Essa coor<strong>de</strong>nada recebe o nome<br />
<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po cósmico,τ.<br />
29
As conexões não-nulas da métrica (3.3) são<br />
Γ 0 00 = Ṅ<br />
N<br />
Γ i 0 j = ȧ<br />
a δi j<br />
Γ 0 jk = ȧa<br />
N 2γ i j<br />
Γ i jk =(3) Γ i jk<br />
(3.4)<br />
on<strong>de</strong>δ i j<br />
é a <strong>de</strong>lta <strong>de</strong> Kroenecker e (3) Γ i jk<br />
são as conexões calculadas a partir da<br />
métricaγ i j .<br />
O escalar <strong>de</strong> curvatura é dado por<br />
( Ṅȧ<br />
R=6<br />
N 3 a − ä<br />
N 2 a − ȧ2 K )<br />
N 2 a 2− a 2<br />
e as componentes não-nulas do tensor <strong>de</strong> Einstein val<strong>em</strong><br />
(ȧ2<br />
G 00 = 3<br />
K )<br />
a 2+ a 2<br />
(<br />
G i j = − 2äa<br />
N 2 + 2ȧṄa )<br />
N 3 − ȧ2<br />
N 2− K γ i j .<br />
O tensor <strong>de</strong> Weyl <strong>de</strong>sta geometria é i<strong>de</strong>nticamente nulo.<br />
Sendoρ = T µν V µ V ν e p = − 1 3 T µνP µν a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia e a pressão<br />
do fluido com tensor momento-energia T µν que dá orig<strong>em</strong> à geometria, v<strong>em</strong>, utilizando<br />
um observador comóvel com as hipersuperfícies espaciais,<br />
−2äa<br />
+ 2ȧṄa<br />
N 2<br />
ȧ 2<br />
a 2+N2 K<br />
a 2 = l 2 N 2 ρ (3.5)<br />
N 3<br />
− ȧ2<br />
N 2− K= 3l2 a 2 p (3.6)<br />
Estas equações são conhecidas como equações <strong>de</strong> Friedmann [4] e constitu<strong>em</strong>se<br />
nas equações <strong>de</strong> movimento do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo. A partir <strong>de</strong> uma combinação<br />
linear <strong>de</strong>stas equações po<strong>de</strong>mos ainda obter a seguinte relação<br />
ȧ 2 ȧṄ<br />
N 2 a2+ N 3 a − ä<br />
N 2 a + K 3l2<br />
a2= (ρ+ p). (3.7)<br />
2<br />
30
3.3.2 Cin<strong>em</strong>ática<br />
As quantida<strong>de</strong>sφ, A µ eǫ µν serão dadas por<br />
2φ=h µν V µ V ν = h 00<br />
N 2<br />
A 0 = h αβ V α P β 0= 0<br />
A i = h αβ V α P β i= h 0i<br />
N<br />
ǫ 0µ = h αβ P α 0P β µ= 0<br />
ǫ i j = h αβ P α iP β j= h i j .<br />
É conveniente re<strong>de</strong>finirmos A i eǫ i j como<br />
Assim, omitindo a barra, v<strong>em</strong><br />
A i =−Ā i a<br />
ǫ i j = ¯ǫ i j a 2 .<br />
h 00 = 2N 2 φ<br />
h 0i =−NaA i<br />
h i j = a 2 ǫ i j<br />
(3.8)<br />
A aplicação <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>composições à equação (3.2) (<strong>de</strong>sprezando o termo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>rivada total) e utilizando as conexões (3.4) para calcularmos as <strong>de</strong>rivadas covariantes<br />
<strong>de</strong> h µν dá, para a parte gravitacional da ação expandida até segunda or<strong>de</strong>m<br />
nas perturbações<br />
δ 2 S gr = 1 ∫ [<br />
6l 2 d 4 xNγ 2 1 a<br />
3 1 ˙<br />
4N 2 ǫ i j ǫ˙<br />
i j − 1<br />
4N 2 ˙ǫ2 + 1<br />
aN Ȧiǫ i j | j− 1<br />
aN ˙ǫAi |i<br />
+ ȧ<br />
a 2 N<br />
on<strong>de</strong>ǫ=ǫ i j γ i j .<br />
(<br />
−4φA i |i+ 2A i ǫ i j j<br />
)<br />
+ ȧ (<br />
aN 2 −ǫ ˙ǫ− 2˙ǫφ+2ǫ ˙ i j ǫ<br />
)+ i j 1 a 2 Ai| j A [i| j]<br />
+ ȧ2<br />
a 2 N 2 (<br />
−3ǫφ−9φ 2 + 3A i A i − 3 4 ǫ2 + 3 2 ǫi j ǫ i j<br />
)<br />
− 1<br />
4a 2ǫ i j|kǫ i j|k<br />
+ 1<br />
2a 2ǫi j | jǫ i<br />
k |k + 1 a 2φ |iǫ i j | j− 1<br />
2a 2ǫ |iǫ i j | j− 1 a 2φ |iǫ |i + 1<br />
4a 2ǫ |iǫ |i ]<br />
, (3.9)<br />
3.3.3 Modos escalares, vetoriais e tensoriais<br />
Vamos inicialmente apresentar dois resultados que nos serão muto úteis no que<br />
se segue.<br />
31
Seja (3) M uma varieda<strong>de</strong> tridimensional maximalmente simétrica e localmente<br />
euclidiana, <strong>de</strong> métricaγ. E seja A um campo vetorial sobre essa varieda<strong>de</strong>. Vamos<br />
escolher um campo escalarφeum segundo campo vetorial V tal que<br />
A i =φ |i + V i (3.10)<br />
com V i sujeito a<br />
V i |i= 0, (3.11)<br />
on<strong>de</strong> “|” representa a <strong>de</strong>rivada covariante <strong>em</strong> relação à métricaγ i j e os índices são<br />
levantados e abaixados com o uso <strong>de</strong>sta métrica. A questão é se a <strong>de</strong>composição<br />
(3.10) é s<strong>em</strong>pre possível, e caso o seja, se é unívoca.<br />
Se tomarmos a divergência <strong>de</strong> (3.10), usando (3.11), obt<strong>em</strong>os<br />
A i |i=φ |i |i. (3.12)<br />
Po<strong>de</strong>-se mostrar [57] que tal equação s<strong>em</strong>pre po<strong>de</strong> ser resolvida paraφ, a menos<br />
<strong>de</strong> uma constante. Dessa forma, dado um vetor qualquer A i , s<strong>em</strong>pre será possível<br />
encontrar-se um únicoφdado por (3.12) e assim, um único V i tal que a <strong>de</strong>composição<br />
(3.10) seja verificada.<br />
Um resultado s<strong>em</strong>elhante po<strong>de</strong> ser obtido para tensores simétricos s<strong>em</strong> traço,<br />
A i j . Propor<strong>em</strong>os a <strong>de</strong>composição [57]<br />
on<strong>de</strong> T i j está sujeito a<br />
A i j = D i j χ+ B i| j + B j|i + T i j (3.13)<br />
T i i= 0<br />
T i j | j= 0<br />
e D i j é um operador diferencial <strong>de</strong>finido por<br />
)<br />
D i j χ=:χ |i j −γ i j<br />
(χ |k k+ 2Kχ,<br />
sendo K a curvatura constante da varieda<strong>de</strong>. É trivial verificar que (D i j χ) | j = 0.<br />
Com isso, se tomarmos a divergência <strong>de</strong> (3.13) obter<strong>em</strong>os<br />
A i j | j= (B i| j + B j|i ) |i .<br />
Po<strong>de</strong>-se mostrar igualmente [57] que esta equação s<strong>em</strong>pre po<strong>de</strong> ser resolvida,<br />
obtendo-se assim B i , a menos <strong>de</strong> um vetor <strong>de</strong> Killing. Se agora calcularmos o<br />
traço <strong>de</strong> (3.13) ter<strong>em</strong>os<br />
χ |k k+ 3Kχ= B i |i<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se obtémχ, uma vez conhecido C i . Assim a <strong>de</strong>composição (3.13) s<strong>em</strong>pre<br />
po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> forma unívoca.<br />
32
No caso <strong>de</strong> um tensor com traço não nulo, C i j , po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir um A i j s<strong>em</strong><br />
traço por<br />
Usando (3.13) então v<strong>em</strong><br />
A i j = C i j − 1 3 Ck kγ i j .<br />
Através <strong>de</strong> (3.10) v<strong>em</strong><br />
C i j = D i j χ+ B i| j + B j|i + T i j + 1 3 γ i jC k k=<br />
( 1<br />
)<br />
χ |i j + B i| j + B j|i + T i j +γ i j<br />
3 Ck k−χ |k k− 2Kχ.<br />
( 1<br />
C i j =χ |i j +Ξ |i j + V i| j + V j|i + T i j +<br />
3 Ck k−χ |k k− 2Kχ)<br />
γ i j .<br />
E, finalmente, por uma re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> variáveis v<strong>em</strong><br />
C i j = 2ψγ i j − 2E |i j − F i| j − F j|i + w i j .<br />
De posse <strong>de</strong>sses resultados po<strong>de</strong>mos agora <strong>de</strong>compor as quantida<strong>de</strong>s perturbativas<br />
como<br />
com os vínculos<br />
A i = B |i + S i<br />
ǫ i j = 2ψγ i j − 2E |i j − F i| j − F j|i + w i j (3.14)<br />
S i |i= 0<br />
F i |i= 0<br />
w i j | j= 0<br />
w i i = 0.<br />
As quantida<strong>de</strong>sφ, B,ψeEsão conhecidas na literatura como perturbações<br />
escalares, as quantida<strong>de</strong>s S i e F i como perturbações vetoriais e w i j como tensoriais.<br />
Note que esse conjunto <strong>de</strong> variáveis apresenta o mesmo número <strong>de</strong> graus<br />
<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que o tensor h µν , ou seja, 10. De fato t<strong>em</strong>os quatro escalares, dois<br />
vetores tridimensionais sujeitos cada um ao vínculo <strong>de</strong> divergência nula (dois vínculos<br />
sobre 6 variáveis, o que resulta <strong>em</strong> quatro graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>) e um tri-tensor<br />
(6 componentes) sujeito a w i j | j=0 e w i i=0, representando 4 vínculos e, portanto,<br />
2 graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, que perfaz o total <strong>de</strong> 10 graus originais. Isso mostra<br />
que as quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>finidas formam uma representação totalmente equivalente do<br />
tensor h µν .<br />
33
3.3.4 O Probl<strong>em</strong>a da Invariância <strong>de</strong> <strong>Calibre</strong><br />
Como se sabe, a teoria da relativida<strong>de</strong> geral é construída <strong>de</strong> forma a apresentar<br />
covariância sob o grupo <strong>de</strong> mapas da varieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> si mesma [58]. Tal liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> escolha <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas representa, <strong>de</strong> fato, uma liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> calibre da teoria.<br />
Naturalmente as previsões <strong>de</strong> caráter físico, isto é, as quantida<strong>de</strong>s observáveis<br />
<strong>de</strong> uma teoria, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser invariantes por transformações <strong>de</strong> calibre [59]. Em particular,<br />
no caso <strong>de</strong> perturbações <strong>em</strong> relativida<strong>de</strong> geral, essas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r ser escritas<br />
<strong>em</strong> função <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s que sejam invariantes <strong>de</strong> calibre, caso contrário, as mesmas<br />
carecerão <strong>de</strong> um significado físico claro.<br />
Tom<strong>em</strong>os então uma geometria <strong>de</strong>scrita pelo tensor métrico<br />
˜g µν = g (0)<br />
µν+ h µν<br />
e efetu<strong>em</strong>os um arrastamento <strong>de</strong> Lie parametrizado pelo vetorΛ µ . A métrica no<br />
novo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas será<br />
ḡ µν = ˜g µν +Λ µ;ν +Λ ν;µ =: g (0)<br />
µν+ ¯h µν (3.15)<br />
on<strong>de</strong> o “;” representa a <strong>de</strong>rivada covariante <strong>em</strong> relação à métrica g µν e termos<br />
<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2 ou superior <strong>em</strong>Λ µ e/ou h µν foram <strong>de</strong>sprezados. Note que po<strong>de</strong>mos<br />
encarar a nova métrica ḡ µν como sendo a mesma métrica <strong>de</strong> fundo acrescida <strong>de</strong><br />
novas perturbações ¯h µν . Está claro portanto que o tensor h µν não é invariante <strong>de</strong><br />
calibre e as quantida<strong>de</strong>sφ, A i eǫ i j que estamos utilizando para caracterizá-lo não<br />
representam quantida<strong>de</strong>s observáveis.<br />
Como construir a partir <strong>de</strong> h µν quantida<strong>de</strong>s perturbativas observáveis no caso <strong>de</strong><br />
Universos <strong>de</strong> FLRW é o que vamos mostrar nesta sub-seção. Inicialmente vamos<br />
<strong>de</strong>compor o vetorΛ µ como<br />
Λ 0 =α<br />
Λ i =β i .<br />
Aplicando a transformação (3.15) e usando (3.8) v<strong>em</strong><br />
¯φ=φ+ ˙α+ Ṅ<br />
N α<br />
Ā i = A i − N a α |i+ a N ˙β i<br />
¯ǫ i j =ǫ i j − N a β i| j− N a β j|i− 2ȧ<br />
a γ i jα. (3.16)<br />
Decompondo o vetorβ i como<br />
β i =<br />
(<br />
λ |i +µ i<br />
) N<br />
a<br />
µ i |i= 0<br />
34
e usando as <strong>de</strong>composições (3.14) obt<strong>em</strong>os, para (3.16)<br />
¯φ=φ+ ˙α+ Ṅ<br />
N α<br />
¯B= B− N a α+ Ṅ<br />
N λ+ ˙λ− ȧ<br />
a λ<br />
¯ψ=ψ− ȧ<br />
a α<br />
Ē=E+ N a λ<br />
¯S i = S i + Ṅ<br />
N µ i+ ˙µ i − ȧ<br />
a µ i<br />
¯F i = F i + N a µ i<br />
¯w i j = w i j . (3.17)<br />
Po<strong>de</strong>mos agora <strong>de</strong>finir as seguintes quantida<strong>de</strong>s [34]<br />
Φ=φ+ ȧ (<br />
B− a )<br />
N N Ė + a N<br />
Ψ=ψ− ȧ (<br />
B− a )<br />
N N Ė<br />
(<br />
B− a N Ė<br />
V i = S i − a N Ḟi (3.18)<br />
e é fácil verificar, usando (3.17) que essas quantida<strong>de</strong>s, juntamente com w i j , são<br />
invariantes <strong>de</strong> calibre.<br />
Note também que as quantida<strong>de</strong>sΦ,Ψ, V i e w i j representam no total seis graus<br />
<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, como era esperado, já que o vetorξ µ (4 componentes) po<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre<br />
ser usado para levar 4 das 10 componentes <strong>de</strong> h µν a alguma forma pré-<strong>de</strong>terminada,<br />
restando apenas as outras 6 para ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas pela teoria. Portanto é esperado<br />
que qualquer teoria perturbativa <strong>em</strong> relativida<strong>de</strong> geral possa s<strong>em</strong>pre ser escrita<br />
<strong>em</strong> termo <strong>de</strong> 6 quantida<strong>de</strong>s invariantes <strong>de</strong> calibre.<br />
Por fim, comentamos que as quantida<strong>de</strong>sΦeΨsão conhecidas na literatura<br />
como Potenciais <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>en [60].<br />
3.4 O conteúdo material<br />
3.4.1 Campo Escalar<br />
Iniciamos nossa discussão do conteúdo material analisando o caso <strong>de</strong> um campo<br />
escalar minimamente acoplado, cuja lagrangiana é<br />
O tensor momento-energia <strong>de</strong>sse campo será<br />
£= 1 2 ϕ ;µϕ ;ν g µν − 1 V. (3.19)<br />
2<br />
T µν =ϕ ;µ ϕ ;ν − g µν £.<br />
)<br />
˙<br />
35
No caso <strong>de</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW, consistent<strong>em</strong>ente com a condição <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong><br />
e isotropia das seções espaciais, vamos impor que o campo <strong>de</strong> fundo,<br />
ϕ 0 , satisfaça a<br />
ϕ 0|i = 0.<br />
Dessa forma t<strong>em</strong>os<br />
T 00 = 1 2 ˙ϕ2 0 + 1 2 N2 V,<br />
T 0i = 0,<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> v<strong>em</strong>, para observadores comóveis,<br />
T i j = a 2 γ i j<br />
( ˙ϕ<br />
2<br />
0<br />
2N 2− 1 2 V )<br />
,<br />
(3.20)<br />
ρ= ˙ϕ2 0<br />
2N 2+ 1 2 V,<br />
p= ˙ϕ2 0<br />
2N 2− 1 2 V.<br />
As equações <strong>de</strong> Friedmann se tornam então<br />
ȧ 2<br />
N 2 l 2 a 2+ K<br />
l 2 a 2= ˙ϕ2 0<br />
2N 2+ 1 2 V (3.21)<br />
2ȧṄ<br />
3N 3 l 2 a − 2ä<br />
3N 2 l 2 a − ȧ 2 K ˙ϕ2<br />
3N 2 l 2 a 2− 3l 2 a 2= 0 1<br />
2N 2− 2 V (3.22)<br />
e a equação <strong>de</strong> Klein-Gordon é<br />
( 3ȧ<br />
¨ϕ 0 +<br />
a − Ṅ )<br />
˙ϕ 0 =− N2<br />
N 2 V ϕ (3.23)<br />
on<strong>de</strong>V ϕ =∂V/∂ϕ. Somando as equações (3.21) e (3.22) obt<strong>em</strong>os<br />
ȧ 2<br />
K<br />
a 2+N2 a 2 − ä<br />
a + ȧṄ<br />
Na = 3l2 ˙ϕ 2 0<br />
2 . (3.24)<br />
Adicionando perturbações, o campo <strong>de</strong> fundoϕ 0 será levado <strong>em</strong>ϕdado por<br />
ϕ=ϕ 0 +δϕ. (3.25)<br />
Calculando a ação (3.19) até a segunda or<strong>de</strong>m nas perturbações, obt<strong>em</strong>os que a<br />
lagrangiana do campo escalar perturbado será<br />
L m = ϕ˙<br />
0 2 a 3 ∫<br />
V<br />
2N<br />
− Na3 VV<br />
− a3 ϕ˙<br />
(<br />
0<br />
d 3 xγ 2<br />
1 φ+ 1 ) ∫<br />
2 N<br />
2 ǫ δϕ+a ˙ 2 ˙ϕ 0 d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i<br />
∫<br />
− Na3 V ϕ<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ− 1 1 )<br />
2<br />
2 ǫ δϕ+ ϕ˙<br />
0 2 a 3 ∫<br />
d 3 xγ 2<br />
(3φ 1 2 +ǫφ− A i A i − 1 4N<br />
2 ǫi j ǫ i j + 1 )<br />
4 ǫ2<br />
∫<br />
+ Na3 V<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ 1 2 +ǫφ− A i A i + 1 4<br />
2 ǫi j ǫ i j − 1 ∫ ( )+<br />
4 ǫ2 Na3 d 3 xγ 2<br />
1 δϕ ˙<br />
2 δϕ |i<br />
2<br />
N 2 −δϕ|i a 2<br />
− 1 2 V ϕϕδϕ 2 ). (3.26)<br />
36
Da mesma forma que ocorreu com os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> puramente gravitacionais,<br />
também aqui enfrentamos o probl<strong>em</strong>a da invariância <strong>de</strong> calibre. Sob um<br />
arrastamento <strong>de</strong> Lie parametrizado pelo vetorξ µ um campo escalarϕélevado <strong>em</strong><br />
¯ϕ dado por<br />
¯ϕ=ϕ+ϕ ,µ ξ µ<br />
<strong>de</strong> forma que as perturbaçõesδϕ po<strong>de</strong>m, por esse arrastamento, ser re<strong>de</strong>finidas<br />
como<br />
δϕ=δϕ+ ¯ ˙ϕ 0 ξ 0 (3.27)<br />
no caso <strong>de</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW.<br />
De posse das equações (3.27) e (3.17) é trivial verificar que a variávelδϕ (ic)<br />
<strong>de</strong>finida por<br />
δϕ (ic) =δϕ+ ˙ϕ 0<br />
(B− a )<br />
N Ė<br />
é invariante por transformações <strong>de</strong> calibre.<br />
3.4.2 Matéria Hidrodinâmica<br />
Suponhamos agora que o componente material que gera a geometria seja um<br />
fluido formado por partículas <strong>de</strong> mesma natureza, cada uma <strong>de</strong> massa m 0 . A esse<br />
fluido dar<strong>em</strong>os o nome <strong>de</strong> matéria hidrodinâmica. Esse fluido po<strong>de</strong> ser macroscopicamente<br />
caracterizado por sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia, sua pressão e pela relação<br />
funcional entre essas duas quantida<strong>de</strong>s. Precisamos <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> expressar<br />
essas quantida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> termos do fluxo das partículas que compõ<strong>em</strong> este fluido.<br />
Comec<strong>em</strong>os então supondo uma folheação do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> tri-superfícies<br />
globais do tipo espaço. Sobre cada superfície atribuímos 3 coor<strong>de</strong>nadas q i a<br />
cada ponto. Essas coor<strong>de</strong>nadas são construídas <strong>de</strong> forma a ser<strong>em</strong> comóveis com<br />
as partículas do fluido. Cada hipersuperfície é i<strong>de</strong>ntificada por um parâmetro <strong>de</strong><br />
t<strong>em</strong>poσao longo das linhas <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong> cada partícula. A esse conjunto <strong>de</strong><br />
coor<strong>de</strong>nadas damos o nome <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas lagrangianas. Construamos agora<br />
sobre esse espaço-t<strong>em</strong>po um novo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas, no qual as partículas<br />
do fluido não tenham necessariamente que estar <strong>em</strong> repouso. Denot<strong>em</strong>os estas<br />
coor<strong>de</strong>nadas por x µ . A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partículas n <strong>de</strong>ste fluido é dada por [34, 61]<br />
n=<br />
√<br />
F(q i )<br />
∂x<br />
g µ<br />
µν ∂σ<br />
∂x ν<br />
∂σ<br />
√ −gJ<br />
(3.28)<br />
on<strong>de</strong> J é o jacobiano da mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas J = ∂qi ,σ<br />
∂x µ e F é uma função<br />
das coor<strong>de</strong>nadas lagrangianas que <strong>de</strong>termina a distribuição espacial <strong>de</strong> partículas<br />
nessas coor<strong>de</strong>nadas. Precisamos agora <strong>de</strong> uma relação entre a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia<br />
e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partículas. Para tanto, <strong>de</strong>finamos as quantida<strong>de</strong>sρeπatravés <strong>de</strong><br />
37
[61]<br />
dρ dn<br />
=:<br />
ρ+ p n<br />
( )<br />
ρ=: n m 0 +π. (3.29)<br />
Nas expressões acima, p= p(ρ) representa a pressão do fluido. A primeira <strong>de</strong>stas<br />
equações implica <strong>em</strong> uma constante <strong>de</strong> integração que será fixada pelo requerimento<br />
<strong>de</strong> que nm 0 =ǫse p=0. Esta condição, substituída na segunda equação<br />
leva aπ=0 se p=0. Diferenciando esta segunda equação, e usando a primeira<br />
obt<strong>em</strong>os, após algumas manipulações algébricas simples,<br />
∫ n<br />
1 dp<br />
π(n)=<br />
n ′ dn ′ dn′ − p n .<br />
Fock [61] interpreta, <strong>em</strong> um contexto newtoniano, esteπcomo uma energia potencial<br />
por partícula. Mantendo essa interpretação, a equação (3.29) permite que<br />
interpret<strong>em</strong>os a quantida<strong>de</strong>ρ(n) como a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia do fluido.<br />
Por fim, se pu<strong>de</strong>rmos inverter a relaçãoρ(n) para escrevermos n(ρ), po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os<br />
obter p(ρ)<br />
dp= dp dn dp<br />
dρ=<br />
dn dρ dρ dρ.<br />
A quantida<strong>de</strong> dp/dρ correspon<strong>de</strong> ao quadrado da velocida<strong>de</strong> adiabática do som no<br />
fluido<br />
c 2 s= dp<br />
dρ .<br />
Um caso <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importância para nosso interesse é aquele no qual c 2 s é<br />
uma constante, a qual <strong>de</strong>signar<strong>em</strong>os porλ<br />
p=λǫ.<br />
Este fluido é conhecido como fluido perfeito.<br />
Terminamos assim a digressão que nos permitiu obter a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia e<br />
a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partículas <strong>em</strong> função das quantida<strong>de</strong>s que caracterizam o fluxo das<br />
partículas do fluido. Volt<strong>em</strong>os agora à análise dos aspectos cin<strong>em</strong>áticos e dinâmicos<br />
da matéria hidrodinâmica tomada como fonte da geometria do espaço-t<strong>em</strong>po.<br />
A ação é dada por ∫<br />
S=− d 4 x √ −gρ<br />
e, sabendo-se que para uma lagrangiana<br />
∫<br />
L= d 4 x √ −g£<br />
o tensor momento-energia é dado por<br />
T µν = 2 √ −g<br />
δ( √ −g£)<br />
δg µν ,<br />
38
po<strong>de</strong>mos usar (3.28) para obter<br />
δn n ) (g<br />
δg µν= µν − V µ V ν<br />
2<br />
e daí obter, através <strong>de</strong> (3.29), que o tensor momento-energia <strong>de</strong>sse fluido é dado<br />
por<br />
( )<br />
T µν = ρ+ p V µ V ν − pg µν ,<br />
exatamente o tensor momento-energia <strong>de</strong> um fluido perfeito, confirmando nossa<br />
interpretação inicial <strong>de</strong>ρcomo a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia do fluido.<br />
No caso <strong>de</strong> o espaço-t<strong>em</strong>po ser do tipo FLRW <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, consistent<strong>em</strong>ente<br />
com a hipótese <strong>de</strong> isotropia das seções espaciais, exigir que as partículas sejam<br />
comóveis com as hipersuperfícies que folheiam o espaço-t<strong>em</strong>po. Isso significa que<br />
o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas (x i , t) que t<strong>em</strong>os utilizado <strong>em</strong> nossas análises prévias<br />
das perturbações e do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo correspon<strong>de</strong> ao próprio sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />
coor<strong>de</strong>nadas lagrangiano anteriormente <strong>de</strong>finido, <strong>de</strong> forma que o jacobiano J na<br />
equação (3.28) é igual a 1. Ainda po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar o parâmetroσcom a coor<strong>de</strong>nada<br />
t, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> v<strong>em</strong><br />
√<br />
∂x<br />
g µ ∂x ν<br />
µν ∂σ ∂σ<br />
= N. Finalmente, <strong>de</strong> acordo com a hipótese<br />
<strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os exigir F(a i ) = constante. Assim, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
partículas será dada por<br />
n= F a 3<br />
exibindo o conhecido comportamento com o inverso do volume das seções espaciais.<br />
Note que n só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> t através <strong>de</strong> a, não apresentando nenhuma <strong>de</strong>pendência<br />
explícita do t<strong>em</strong>po.<br />
Estamos agora <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> adicionar perturbações ao fluido. As perturbações<br />
serão caracterizadas pelo <strong>de</strong>slocamento das partículas <strong>de</strong> suas posições <strong>em</strong><br />
um espaço homogêneo e isotrópico. Assim, uma partícula que originalmente possuía<br />
coor<strong>de</strong>nadas x µ 0 , passará a ter coor<strong>de</strong>nadas xµ = x µ 0 +ξµ , on<strong>de</strong>ξ µ é um campo<br />
vetorial infinitesimal.<br />
Se efetuarmos um arrastamento <strong>de</strong> Lie, parametrizado pelo vetorΛ µ o efeito<br />
será obviamente o mesmo da perturbaçãoξ µ <strong>de</strong>finida acima. Dessa forma t<strong>em</strong>os,<br />
também neste caso, que buscar uma variável invariante <strong>de</strong> calibre para caracterização<br />
das perturbações.<br />
Sob um arrastamento <strong>de</strong> Lie que <strong>de</strong>sloque as partículas ao longo <strong>de</strong>Λ µ , as<br />
coor<strong>de</strong>nadas perturbadas serão levadas <strong>em</strong><br />
x µ → x µ +Λ µ = x µ 0 +ξµ +Λ µ =: x µ 0 + ¯ξ µ<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> v<strong>em</strong>os que po<strong>de</strong>mos re<strong>de</strong>finir a variável perturbativa como sendo ¯ξ µ =<br />
ξ µ +Λ µ .<br />
39
Decompondo tantoξ µ comoΛ µ <strong>em</strong> 3+1 como<br />
ξ 0 =χ<br />
ξ i =χ i<br />
Λ 0 =α<br />
Λ i =β i<br />
e para as componentes espaciais aplicando a <strong>de</strong>composição (3.10) v<strong>em</strong> que sob um<br />
arrastamento <strong>de</strong> Lie as perturbações se transformam como<br />
¯χ=χ+α<br />
¯ξ=ξ− N a λ<br />
¯η i =η i − N a µi ,<br />
on<strong>de</strong>χ i =ξ |i +η i eβ i =− N a (λ|i +µ i ) eη i |i=µ i |i= 0 como usual. As quantida<strong>de</strong>s<br />
invariantes <strong>de</strong> calibre serão então<br />
χ (ic) =χ+ a (<br />
B− a )<br />
N N Ė<br />
ξ (ic) =ξ−E<br />
η i (ic) =η i − F i .<br />
Po<strong>de</strong>mos agora, <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> todos os resultados anteriores, calcular a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> partículas no fluido perturbado. A primeira coisa que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os levar <strong>em</strong><br />
consi<strong>de</strong>ração neste cálculo é que como as partículas sofr<strong>em</strong> <strong>de</strong>slocamentos a partir<br />
<strong>de</strong> suas posições “não perturbadas”, elas não são mais comóveis com as hipersuperfícies<br />
maximalmente simétricas. Como resultado, o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas<br />
comóvel com estas hipersuperfícies não é mais lagrangiano, e o jacobiano da transformação<br />
que relaciona os dois sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas será<br />
(<br />
J= ˜ ∂x<br />
µ ) ( ∂x<br />
µ )<br />
<strong>de</strong>t<br />
∂a i = <strong>de</strong>t<br />
,σ ∂x ν+∂ξµ ∂x ν = 1+ξ µ ,µ+ 1 2 ξµ ,µξ ν ,ν− 1 2 ξµ ,νξ ν ,µ.<br />
Em segundo lugar, como a perturbação leva o ponto x µ 0 no ponto xµ 0 +ξµ , <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />
expandir a métrica perturbada ˜g µν = g µν + h µν e seu <strong>de</strong>terminante<br />
˜g=g<br />
(1+h+ 1 2 h2 − 1 )<br />
2 hµν h µν<br />
<strong>em</strong> série <strong>de</strong> Taylor. Substituindo todas essas expressões <strong>em</strong> (3.28), v<strong>em</strong><br />
√<br />
˜ρ(x 0 +ξ)= F(qi )<br />
∂(x<br />
˜g µ 0 +ξµ )<br />
µν ∂σ<br />
√<br />
−˜g(x0 +ξ) J˜<br />
∂(x ν 0 +ξν )<br />
∂σ<br />
.<br />
40
Por fim, expandindo <strong>de</strong> volta para o ponto x 0 v<strong>em</strong> [34]<br />
ñ(x 0 )=ñ(x)− ∂n<br />
∂x µ ξ µ − ∂ [<br />
∂x ν δ 1 n(x 0 +ξ)− ∂n ]<br />
0<br />
0 0 ∂x µ ξ µ ξ ν − 1 ∂ 2 n 0<br />
2<br />
0<br />
∂x µ ξ µ ξ ν<br />
0 ∂xν 0<br />
O resultado <strong>de</strong> todos esses cálculos é<br />
[<br />
ñ(x 0 )=n 0 1+ 1 2 ǫ−χi |i+ ˙χ i |iχ+χ i | j|iχ i − a N A ˙χ i i − 1 a 2<br />
2 N 2γ ˙χ i j i χ ˙j<br />
− 1 2 A iA i<br />
+ 1 4 ǫ i jǫ i j + 1 8 ǫ2 +χ ˙χi |i + 1 2 χi |iχ j | j+ 1 2 χi | jχ j |i− 1 ]<br />
2 ǫχi |i.<br />
Para <strong>de</strong>talhes, ver apêndice B.<br />
De posse da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partículas, po<strong>de</strong>mos calcular a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia.<br />
A partir da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ρ, dada por (3.29), obt<strong>em</strong>os<br />
δρ= ρ 0+ p 0<br />
δn,<br />
n<br />
on<strong>de</strong> o subscrito 0 representa as quantida<strong>de</strong>s do fundo. Por fim, a ação do fluido<br />
perturbado será<br />
S m = S m<br />
(0) +δ 1 S m +δ 2 S m<br />
on<strong>de</strong><br />
δ 1 S m =−Na 3 ρ 0<br />
∫<br />
∫<br />
δ 2 S m =−<br />
d 4 xNa 3 γ 1 2<br />
∫<br />
S m (0) =− d 4 x √ −gρ 0<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ− 1 1 ) ∫<br />
2 ǫ − Na 3 (ρ 0 + p 0 )<br />
d 3 xγ 1 2( 1<br />
2 ǫ−χi |i<br />
( {ρ 0 − 1 2 φ2 + 1 ) ( 1<br />
2 Ai A i −φχ i |i + p 0<br />
2 ǫφ+ 1 4 ǫi j ǫ i j − 1 )<br />
8 ǫ2 −φχ i |i<br />
− 1 ( a<br />
2<br />
2 (ρ 0+ p 0 ) ˙χi N 2 ˙χ i + 2 a N A ˙χ<br />
)<br />
i i + A i A i + 1 1<br />
)}<br />
2 c2 s(ρ 0 + p 0 )(<br />
4 ε2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i<br />
3.5 <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW - Dinâmica<br />
Conforme discutimos na introdução <strong>de</strong>ste capítulo, estamos interessados <strong>em</strong><br />
estudar a dinâmica das perturbações <strong>em</strong> seu regime linear, tendo como orig<strong>em</strong> das<br />
perturbações flutuações quânticas do campo gravitacional e do conteúdo material.<br />
Faz-se necessário então estudar a quantização da teoria linear das perturbações.<br />
Rigorosamente, as perturbações são graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> do campo gravitacional<br />
e da matéria da mesma forma que os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero. No entanto,<br />
a técnica tradicionalmente adotada para o estudo <strong>de</strong>ssas perturbações consiste <strong>em</strong><br />
estabelecer uma dicotomia entre o fundo e estas perturbações - enquanto estas são<br />
estudadas no contexto <strong>de</strong> uma teoria quântica, o fundo é tratado como advindo do<br />
)<br />
(3.30)<br />
41
mo<strong>de</strong>lo padrão da cosmologia, o que pressupõe a valida<strong>de</strong> das equações <strong>de</strong> movimento<br />
clássicas para estes graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Essa é uma situação incompleta, e<br />
é esperado que uma abordag<strong>em</strong> totalmente quântica seja possível. O <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> tal abordag<strong>em</strong> é o t<strong>em</strong>a principal <strong>de</strong>ste trabalho, e voltar<strong>em</strong>os a ele mais<br />
adiante. Por enquanto, vamos apresentar um resumo da técnica padrão <strong>de</strong> estudo<br />
da teoria <strong>de</strong> perturbações cosmológicas aplicadas ao mo<strong>de</strong>lo padrão.<br />
O fato <strong>de</strong> a dinâmica do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo já ser conhecida a priori dispensa<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levarmos <strong>em</strong> conta os termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero na ação da<br />
teoria. Como as equações para a or<strong>de</strong>m zero são tomadas como válidas, po<strong>de</strong>mos<br />
utilizá-las para simplificar a ação das or<strong>de</strong>ns mais altas na expansão perturbativa<br />
da ação. Em particular, po<strong>de</strong>-se s<strong>em</strong>pre anular os termos <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m nessa<br />
ação pelo uso <strong>de</strong> tais equações. Assim, estamos interessados essencialmente nos<br />
termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2 da expansão,uma vez que termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mais alta dariam<br />
orig<strong>em</strong> a termos quadráticos ou <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m maior que 2 nas equações <strong>de</strong> movimento,<br />
retirando a teoria <strong>de</strong> seu regime linear. Vamos então estudar os casos<br />
<strong>de</strong> perturbações <strong>em</strong> Universos dominados por matéria hidrodinâmica ou por um<br />
campo escalar.<br />
3.5.1 Matéria Hidrodinâmica<br />
Somando os termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2 nas equações (3.30) e (3.9) obt<strong>em</strong>os que a<br />
lagrangiana total para as perturbações <strong>de</strong>ve ser escrita como (or<strong>de</strong>m 2 apenas)<br />
L= Na ∫ [<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j<br />
− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ] ∫ ∫<br />
4 ǫ |iǫ |i + a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j − a3<br />
N<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫ<br />
2<br />
N<br />
∫ ∫<br />
− a2<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i + aȧ2<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
(−9φ 1 2 − 3ǫφ− 3 N<br />
4 ǫ2 + 3A i A i + 3 )<br />
2 ǫi j ǫ i j<br />
− 2aȧ ∫ (<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 φA i |i− 1 ) ∫<br />
2 A iǫ i j | j + a2 ȧ<br />
(<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ i j ǫ˙<br />
i j − 1 )<br />
N<br />
2 ǫ ˙ǫ−φ˙ǫ ∫ (<br />
−Na 3 ρ 0 d 3 xγ 2<br />
1 − 1 2 φ2 + 1 ∫<br />
2 Ai A i −φχ i |i<br />
)− Na 3 p 0 d 3 xγ 2( 1 1<br />
2 ǫφ+ 1 4 ǫi j ǫ i j<br />
− 1 )<br />
8 ǫ2 −φχ i |i + 1 ∫ (<br />
2 Na3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2<br />
1 a<br />
2<br />
˙χi N 2 ˙χ i + 2 a N A ˙χ<br />
)<br />
i i + A i A i<br />
− 1 ∫<br />
2 c2 sNa 3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2( 1 1<br />
)<br />
4 ε2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i. (3.31)<br />
Esta é a forma mais geral da lagrangiana para perturbações <strong>em</strong> Universos dominados<br />
por matéria hidrodinâmica.<br />
No entanto, além da nítida complexida<strong>de</strong> envolvida <strong>em</strong> se tentar encontrar<br />
soluções analíticas para as equações <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong>ssa teoria, há também o<br />
inconveniente <strong>de</strong> a mesma estar escrita <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> variáveis que não são invariantes<br />
por transformações <strong>de</strong> calibre, o que torna a interpretação física dos re-<br />
42
sultados pouco clara. Acrescente-se a essas dificulda<strong>de</strong>s o fato <strong>de</strong> a ação acima<br />
representar a ação <strong>de</strong> campos sobre um espaço-t<strong>em</strong>po (FLRW) que não possui um<br />
vetor <strong>de</strong> Killing do tipo t<strong>em</strong>po, o que gera dificulda<strong>de</strong>s também no momento <strong>de</strong><br />
quantizar a teoria.<br />
Para contornarmos as dificulda<strong>de</strong>s comentadas, po<strong>de</strong>mos lançar mão da hipótese<br />
<strong>de</strong> que o fundo obe<strong>de</strong>ce às equações <strong>de</strong> movimento clássicas. Assim, se na lagrangiana<br />
acima integrarmos por partes os termos <strong>em</strong>ǫ i j ǫ˙<br />
i j eǫ ˙ǫ, e usarmos a<br />
equação (3.6) para expressarmos os termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada segunda do fator <strong>de</strong> escala<br />
<strong>em</strong> função da pressão e da <strong>de</strong>rivada primeira <strong>de</strong> a, obter<strong>em</strong>os que esta lagrangiana<br />
se torna<br />
L= Na ∫ [<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j<br />
− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ i ǫ |i + 1 ] ∫ ∫<br />
4 ǫ iǫ i + a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j − a3<br />
N<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫ<br />
2<br />
N<br />
∫ )<br />
+ aȧ2<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
(−9φ 1 2 − 3ǫφ+3A i A i − 2aȧ ∫ (<br />
N<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 φA i |i− 1 )<br />
2 A iǫ i j | j<br />
∫<br />
− a2 ȧ<br />
3l 2 d 3 xγ 1 a 2 ∫ ∫ (<br />
2 φ˙ǫ−<br />
N<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i − Na 3 ρ 0 d 3 xγ 2<br />
1 − 1 2 φ2 + 1 2 Ai A i<br />
∫<br />
−φχ i |i<br />
)− Na 3 p 0 d 3 xγ 2( 1 1<br />
)<br />
2 ǫφ−φχi |i + 1 ∫ (<br />
2 Na3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2<br />
1 a<br />
2<br />
˙χi N 2 ˙χ i<br />
+2 a N A ˙χ i i + A i A<br />
)− i 1 ∫<br />
2 c2 sNa 3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2( 1 1<br />
)<br />
4 ǫ2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i<br />
(3.32)<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezamos o seguinte termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total:<br />
[ ∫ a2ȧ<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
(ǫ 1 i j ǫ i j − 1 )]<br />
N<br />
2 ǫ2 ˙ (3.33)<br />
O uso da equação (3.5) permite uma segunda simplificação, levando a lagrangiana<br />
(3.32) a assumir a forma<br />
L= Na ∫ [<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j<br />
− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ] ∫ ∫<br />
4 ǫ |iǫ |i + a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j − a3<br />
N<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫ<br />
2<br />
N<br />
∫<br />
− aȧ2<br />
l 2 d 3 xγ 2 1 φ 2 − 2aȧ ∫ (<br />
N<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 φA i |i− 1 ) ∫<br />
2 A iǫ i j | j − a2 ȧ<br />
3l 2 d 3 xγ 2 1 φ˙ǫ<br />
N<br />
∫ ∫<br />
− a2<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i − Na 3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2( 1 1<br />
)<br />
2 ǫφ−φχi |i<br />
+ 1 ∫ (<br />
2 Na3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2<br />
1 a<br />
2<br />
˙χi N 2 ˙χ i + 2 a N A ˙χ<br />
)<br />
i i + A i A i<br />
− 1 ∫<br />
2 c2 sNa 3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2( 1 1<br />
)<br />
4 ε2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i.<br />
43<br />
(3.34)
Essa lagrangiana po<strong>de</strong> ser ainda mais simplificada se <strong>de</strong>compusermos as perturbações<br />
<strong>em</strong> modos tensoriais, vetoriais e escalares e pela restrição ao caso <strong>de</strong> um<br />
fluido perfeito como fonte da geometria <strong>de</strong> fundo.<br />
Em um primeiro momento, como estamos lidando com uma lagrangiana quadrática<br />
nas variáveis perturbativas, é esperado que, por conta da <strong>de</strong>composição a que<br />
acabamos <strong>de</strong> nos referir, apareçam na ação além <strong>de</strong> termos envolvendo produto <strong>de</strong><br />
modos tensor-tensor, vetor-vetor e escalar-escalar, outros envolvendo produtos do<br />
tipo tensor-vetor, tensor-escalar e vetor-escalar. Acontece que estes termos cruzados<br />
po<strong>de</strong>m s<strong>em</strong>pre ser convertidos <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivadas totais, que po<strong>de</strong>m ser<br />
<strong>de</strong>sprezadas por não afetar<strong>em</strong> as equações <strong>de</strong> movimento. Como ex<strong>em</strong>plo disso,<br />
citamos um termo do tipo w i j S i| j . Ele po<strong>de</strong>, por uma integral por partes, ser escrito<br />
como )<br />
w i j S i| j =<br />
(w i j S i − w i j | jS i .<br />
Como os modos tensoriais estão sujeitos a w i j | j=0 o último termo a direita se<br />
anula i<strong>de</strong>nticamente, restando apenas o termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total, que, como diss<strong>em</strong>os,<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sprezado. Análise similar a essa po<strong>de</strong> ser feita para todos os<br />
termos cruzados a que nos referimos, <strong>de</strong> forma que os mesmos não contribu<strong>em</strong><br />
para as equações <strong>de</strong> movimento. Assim, a lagrangiana (3.34) se <strong>de</strong>sacopla <strong>em</strong> três:<br />
uma puramente tensorial, uma vetorial e uma escalar.<br />
Tal <strong>de</strong>sacoplamento já era, na realida<strong>de</strong>, esperado, uma vez que estamos lidando<br />
com uma teoria linear, <strong>em</strong> que não po<strong>de</strong> haver interação mútua entre os<br />
diferentes setores.<br />
Dessa forma, no setor tensorial ter<strong>em</strong>os a seguinte lagrangiana<br />
∫<br />
L T = a3<br />
24l 2 N<br />
| j<br />
d 3 xγ 1 2 ẇi jẇ i j − Na<br />
24l 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2 w<br />
i j|k w i j|k .<br />
Essa expressão po<strong>de</strong> ser ainda mais simplificada se efetuarmos a seguinte mudança<br />
<strong>de</strong> variável √<br />
12l<br />
w i j =<br />
a<br />
µ i j<br />
levando a lagrangiana a assumir a forma 2<br />
∫<br />
a<br />
2N<br />
d 3 xγ 1 2 ˙µi j ˙µ i j − N 2a<br />
∫<br />
(<br />
d 3 xγ 2 1 ä<br />
µi j|k µ i j|k +<br />
2N − Ṅȧ )∫<br />
ȧ2<br />
2N2+ 2a 2<br />
d 3 xγ 1 2 µi j µ i j .<br />
Note que a lagrangiana acima, além <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>amente simples, está escrita <strong>em</strong> termos<br />
<strong>de</strong> variáveis que são invariantes <strong>de</strong> calibre e, ainda representa, se escolhermos<br />
N = a, a dinâmica <strong>de</strong> um campo sobre um espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Minkowski, o que<br />
torna a sua quantização muito mais simples. A única dificulda<strong>de</strong> que t<strong>em</strong>os que<br />
enfrentar neste caso é o potencial ä<br />
2a<br />
, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do t<strong>em</strong>po.<br />
2 Nesta passag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sprezamos o termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total (− ȧ<br />
2N µ i jµ i j )˙<br />
44
A equação <strong>de</strong> movimento clássica das perturbações tensoriais será (N= a)<br />
¨µ i j −µ i j<br />
|k k − ä<br />
a µ i j= 0.<br />
Se <strong>de</strong>compusermos essas perturbações <strong>em</strong> modos normais,<br />
∑<br />
µ i j = µ ( ⃗k) f ( ⃗k)<br />
i j<br />
⃗k<br />
on<strong>de</strong> f ( ⃗k)<br />
i j<br />
representam uma base ortogonal <strong>de</strong> funções tensoriais, obter<strong>em</strong>os, omitindo<br />
o índice⃗k por simplicida<strong>de</strong> notacional<br />
(<br />
¨µ+<br />
k 2 − ä<br />
a<br />
)<br />
µ=0.<br />
A equação acima, <strong>em</strong>bora clássica, po<strong>de</strong> ser usada para estudarmos a dinâmica<br />
quântica das perturbações tensoriais se encararmosµcomo um operador <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
do t<strong>em</strong>po (visão <strong>de</strong> Heisenberg).<br />
No setor vetorial a lagrangiana é dada por<br />
L (V) = Na<br />
6l 2 ∫<br />
+ 1 2 Na3 (λ+1)ε 0<br />
∫<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 S<br />
i| j S [i| j] − a2<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 S i| j F˙<br />
i| j + a3<br />
12l 2 N<br />
(<br />
d 3 xγ 2<br />
1 a<br />
)( a<br />
)<br />
N ˙ηi + S i N ˙η i+ S i .<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2<br />
˙<br />
˙<br />
F i| j F i| j<br />
Esta lagrangiana apresenta todas as dificulda<strong>de</strong>s já comentadas. No entanto, se a<br />
re-escrevermos utilizando as seguintes variáveis invariantes <strong>de</strong> calibre<br />
η i (ic) =η i + F i<br />
V i = S i − a N Ḟi<br />
ela será levada a assumir a seguinte forma<br />
L V = Na ∫<br />
12l 2 d 3 xγ 2 1 V<br />
i| j V i| j<br />
+ 1 ∫ (<br />
2 Na3 (λ+1)ε 0 d 3 xγ 2<br />
1 a<br />
)( a<br />
N ˙ηi (ic) + V i N ˙η(ic) i<br />
+ V i<br />
).<br />
(3.35)<br />
Se agora <strong>de</strong>finirmos a variável invariante <strong>de</strong> calibre<br />
ϕ i = a √ 3<br />
2 (λ+1)ε0<br />
( a<br />
)<br />
√ √<br />
6 λ N ˙ηi (ic) + V i<br />
a lagrangiana assume finalmente a forma<br />
L V = Na ∫ ∫<br />
12l 2 d 3 xγ 2 1 V<br />
i| j V i| j + 3Nl 2<br />
d 3 xγ 1 2 ϕ i ϕ i .<br />
45
Não é difícil verificar que as equações <strong>de</strong> movimento para as perturbações vetoriais<br />
serão<br />
a<br />
N ˙ηi + V i =<br />
a 2<br />
6l 2γ 1 2 V<br />
i| j j = C i<br />
C i<br />
a 4 ε 0 γ 1 2 (λ+1)<br />
on<strong>de</strong> C i é uma constante. Ou seja, as perturbações vetoriais V i não apresentam<br />
dinâmica, evoluindo cin<strong>em</strong>aticamente com 1/a 2 [62]<br />
A análise no setor escalar não é tão simples quanto as anteriores. Após algumas<br />
integrais por partes a lagrangiana escalar é colocada na forma<br />
L E = Na ∫ ∫ (<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
(ψ 1 i ψ i − 2φ i ψ i<br />
)− 2a2<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ȧ )<br />
˙ψ+<br />
a φ F i i<br />
∫<br />
− Na3 λ(λ+1)ε 0<br />
d 3 xγ 2<br />
(3ψ−ξ 1 (ic) i i+ 1 ) 2<br />
2 λ φ ∫ ∫<br />
+ Na3 (λ+1)ε<br />
(<br />
0<br />
d 3 γ 2 1 φ 2 − a3<br />
2λ<br />
Nl 2 d 3 xγ 2<br />
1 ˙ψ+ ȧ ) 2<br />
a φ<br />
+ 1 ∫ (<br />
2 Na3 (λ+1)ε 0 d 3 xγ 2<br />
1 a<br />
N ˙ξ<br />
)( a<br />
)<br />
(ic)i + F i (ic) ˙ξ<br />
N<br />
i<br />
+ F i<br />
on<strong>de</strong> F é <strong>de</strong>finido por<br />
F=B− a N Ė.<br />
As equações <strong>de</strong> movimento clássicas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong>ssa lagrangiana são<br />
ψ i i− ȧ<br />
N Fi i+ 3ȧa (<br />
˙ψ+ ȧ ) ( )<br />
N 2 a φ − 3l2<br />
2 a2 (λ+1)ε 0 3ψ−ξ (ic) i i = 0<br />
˙ψ+ ȧ (<br />
3l2<br />
a<br />
φ+<br />
N ˙ξ (ic) + F)<br />
= 0<br />
a 2 Na(λ+1)ε 0<br />
(<br />
¨ψ+ 3ȧ<br />
a − Ṅ ) (ȧ2<br />
2ȧṄ<br />
˙ψ+<br />
N a2− Na + 2ä a<br />
(<br />
− 3l2<br />
2 N2 λ(λ+1)ε 0 3ψ−ξ (ic) i i<br />
[ ( a<br />
a 4 (λ+1)ε 0<br />
N ˙ξ (ic) + F<br />
)<br />
φ+ ȧ N2 ˙φ+<br />
a<br />
)<br />
)<br />
+ N<br />
3a 3 (<br />
a 2 F i i<br />
( i<br />
φ−ψ)<br />
3a 2 i<br />
˙= 0<br />
)] (<br />
˙+ Na 3 λ(λ+1)ε 0 3ψ−ξ (ic)i i+ 1 )=0.<br />
λ φ<br />
(3.36)<br />
Derivando no t<strong>em</strong>po a segunda <strong>de</strong>stas equações e usando a terceira, novamente a<br />
segunda e (3.7) po<strong>de</strong>mos obter a seguinte relação<br />
( )<br />
φ−ψ + a ( )<br />
a 2 F ˙= 0<br />
N<br />
46
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos concluir, expressandoφeψ<strong>em</strong> função dos potenciais <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>en<br />
Φ eΨ(equações (3.18)),<br />
Φ=Ψ.<br />
Voltando à lagrangiana escalar, notamos que a mesma também apresenta todas<br />
as dificulda<strong>de</strong>s já comentadas. Para contornarmos essas dificulda<strong>de</strong>s vamos,<br />
inicialmente, <strong>de</strong>finir um potencial velocida<strong>de</strong>ϕ[34] através <strong>de</strong><br />
√<br />
6la<br />
2 √ (λ+1)ε<br />
(<br />
0 a<br />
ϕ= √<br />
λ N ˙ξ<br />
)<br />
(ic) + F<br />
Em termos <strong>de</strong>sta variável, a lagrangiana do setor escalar passa a ser expressa como<br />
L E = Na<br />
3l 2 ∫<br />
− a3<br />
Nl 2 ∫<br />
+2φ(3ψ−ξ i (ic)<br />
i<br />
∫ (<br />
d 3 xγ 2<br />
(ψ 1 i ψ i − 2φ i ψ i<br />
)− 2a2<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ˙ψ+ ȧ )<br />
a φ<br />
(<br />
d 3 xγ 2<br />
1 ˙ψ+ ȧ ) 2−<br />
a φ Na 3 ∫<br />
(λ+1)ε<br />
[ (<br />
0<br />
d 3 xγ 2<br />
1 λ<br />
2<br />
)]<br />
+ Nλ ∫<br />
12l 2 d 3 xγ 2 1 ϕ i ϕ i .<br />
a<br />
F i i<br />
3ψ−ξ i (ic)<br />
i<br />
) 2<br />
(3.37)<br />
Por fim, escolh<strong>em</strong>os N= a e <strong>de</strong>finimos a seguinte quantida<strong>de</strong> invariante <strong>de</strong> calibre<br />
[34]<br />
v= √ 1 ) (ϕ−2zψ<br />
6l<br />
√<br />
3<br />
2<br />
λ+1<br />
λ ε 0 la3<br />
ȧ<br />
on<strong>de</strong> z=<br />
. Usando-se a segunda das equações (3.36) e as equações<br />
clássicas do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo, po<strong>de</strong>mos levar a lagrangiana (3.37), após<br />
cálculos longos que não serão aqui <strong>de</strong>scritos <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes [34], à seguinte forma<br />
(escolhendo N= a)<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 1 ∫<br />
2 ˙v2 −<br />
d 3 xγ 2 1λ 2 vi v i + ¨z ∫<br />
2z<br />
d 3 xγ 1 2 v 2 .<br />
Esse resultado nos mostra que também no setor escalar po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>screver a dinâmica<br />
das perturbações através <strong>de</strong> uma lagrangiana simples, invariante <strong>de</strong> calibre e que<br />
representa a dinâmica <strong>de</strong> um campo sobre um espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Minkowski.<br />
A equação <strong>de</strong> movimento clássica para v será<br />
¨v−λv i i− ¨z z v=0.<br />
E <strong>de</strong>compondo v <strong>em</strong> modos normais, essa equação se torna<br />
(<br />
¨v+ λk 2 − ¨z )<br />
v=0.<br />
z<br />
47
Note que o uso das equações <strong>de</strong> movimento do fundo permite que escrevamos<br />
√<br />
3 λ+1<br />
z=<br />
2 λ a<br />
que leva a<br />
(<br />
¨v+ λk 2 − ä )<br />
v=0 (3.38)<br />
a<br />
exatamente a mesma equação obtida no caso tensorial, a menos do fatorλque<br />
multiplica k 2 , que po<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre ser absorvido por uma re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> k (estamos<br />
nos restringindo aλ>0).<br />
A partir das equações (3.36) e (3.7) po<strong>de</strong>mos também obter a seguinte expressão<br />
( 3<br />
Φ i 2 l<br />
i=−<br />
2)3 3 a 3 ( v<br />
˙ (3.39)<br />
ȧλ a)<br />
que nos permite, uma vez conhecido v, conhecer o potencial <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>enΦ.<br />
Por fim, da mesma forma que no caso tensorial e vetorial, as equações (3.39) e<br />
(3.38) val<strong>em</strong> quando as perturbações escalares são quantizadas na visão <strong>de</strong> Heisenberg.<br />
3.5.2 Universos dominados por um campo escalar<br />
Somando as lagrangianas (3.9) e (3.26) obt<strong>em</strong>os a forma mais geral para a<br />
lagrangiana das perturbações <strong>em</strong> um Universo <strong>de</strong> FLRW dominado por um campo<br />
escalar<br />
L= Na ∫ (<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k<br />
+φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ) ∫ ∫<br />
4 ǫ |iǫ |i + a3<br />
d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j − a3<br />
d 3 xγ 2 1 ˙ǫ<br />
2<br />
+ aȧ2<br />
6l 2 N<br />
+ a2 ȧ<br />
3l 2 N<br />
∫<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2<br />
+ 1 )<br />
2 ǫ δϕ+a ˙ 2 ˙<br />
+ ϕ˙<br />
0 2 a 3 ∫<br />
d 3 xγ 2<br />
1<br />
4N<br />
24l 2 N<br />
(−9φ 2 − 3ǫφ− 3 4 ǫ2 + 3A i A i + 3 )<br />
2 ǫi j ǫ i j − 2aȧ ∫<br />
3l 2<br />
(<br />
d 3 xγ 2<br />
1 ǫ i j ǫ˙<br />
i j − 1 ) ∫<br />
2 ǫ ˙ǫ−φ˙ǫ − a2<br />
6l 2<br />
∫ ∫<br />
ϕ 0 d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i − Na3 V ϕ<br />
d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i − a3 ϕ˙<br />
0<br />
N<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ− 1 1 )<br />
2<br />
2 ǫ δϕ<br />
(3φ 2 +ǫφ− A i A i − 1 2 ǫi j ǫ i j + 1 ) ∫<br />
4 ǫ2 + Na3 V<br />
4<br />
+ǫφ− A i A i + 1 2 ǫi j ǫ i j − 1 4 ǫ2 )<br />
+ Na3<br />
2<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2<br />
24l 2 N<br />
d 3 xγ 1 2<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2<br />
d 3 xγ 1 2<br />
(<br />
φA i |i− 1 )<br />
2 A iǫ i j | j<br />
(<br />
φ 2<br />
(<br />
δϕ ˙<br />
2 δϕ |i<br />
N 2 −δϕ|i a 2 − 1 )<br />
2 V ϕϕδϕ 2 .<br />
Esta ação sofre das mesmas dificulda<strong>de</strong>s que a ação (3.31). A forma <strong>de</strong> contornar<br />
estas dificulda<strong>de</strong>s segue, <strong>em</strong> linhas gerais, os mesmos passos utilizados no caso da<br />
(<br />
φ<br />
(3.40)<br />
48
matéria hidrodinâmica [34]. Assim, integrando por partes os termos <strong>em</strong>ǫ i j˙ǫ i j e <strong>em</strong><br />
ǫ ˙ǫ <strong>em</strong> (3.40) e utilizando as equações (3.22) e (3.23) para expressar as <strong>de</strong>rivadas<br />
segundas <strong>de</strong> a e <strong>de</strong>ϕ 0 v<strong>em</strong><br />
L= Na ∫ (<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k<br />
+φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ) ∫<br />
4 ǫ |iǫ |i + a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j<br />
N<br />
∫ ∫ )<br />
− a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫ 2 − aȧ2<br />
N<br />
2l 2 d 3 xγ 2<br />
(3φ 1 2 +ǫφ− A i A i<br />
N<br />
− 2aȧ ∫ (<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 φA i |i− 1 ) ∫<br />
2 A iǫ i j | j − a2 ȧ<br />
3l 2 d 3 xγ 1 a 2 ∫<br />
2 φ˙ǫ−<br />
N<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i<br />
∫<br />
+ a3 ϕ˙<br />
(<br />
0<br />
d 3 xγ 2<br />
1 ˙φ+ 1 ) ∫ ∫<br />
N<br />
2 ˙ǫ δϕ+a 2 ϕ˙<br />
0 d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i − Na 3 V ϕ d 3 xγ 2 1 φδϕ<br />
+ ϕ˙<br />
0 2 a 3 ∫ ∫<br />
d 3 xγ 2 1 (3φ 2 +ǫφ− A i A i )+ Na3 V<br />
)<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ 1 2 +ǫφ− A i A i<br />
4N<br />
4<br />
∫ (<br />
+ Na3 d 3 xγ 2<br />
1 δϕ ˙<br />
2 δϕ |i<br />
2<br />
N 2 −δϕ|i a 2 − 1 )<br />
2 V ϕϕδϕ 2<br />
on<strong>de</strong> omitimos o termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total<br />
[ ∫ a2ȧ<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 (ǫ<br />
i j ǫ i j − 1 ∫<br />
N<br />
2 ǫ2 )− a3 ϕ˙<br />
0<br />
N<br />
d 3 xγ 1 2 (φ+<br />
1<br />
2 ǫ)δϕ ]<br />
˙ (3.41)<br />
O uso da equação (3.21) permite levar essa lagrangiana à forma<br />
L= Na ∫ (<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k<br />
+φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ) ∫ ∫<br />
4 ǫ |iǫ |i − a3<br />
− 2aȧ<br />
3l 2 ∫<br />
ϕ 0<br />
+ a3 ˙<br />
N<br />
+ ϕ˙<br />
0 2 a 3<br />
2N<br />
d 3 xγ 2<br />
1<br />
∫<br />
d 3 xγ 2<br />
1<br />
∫<br />
(<br />
φA i |i− 1 )<br />
2 A iǫ i j | j − a2 ȧ<br />
3l 2 N<br />
(<br />
˙φ+ 1 ) ∫<br />
2 ˙ǫ δϕ+a 2 ϕ˙<br />
0<br />
d 3 xγ 1 2 φ 2 + Na3<br />
2<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 φ<br />
2<br />
N<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 a 2 ∫<br />
φ˙ǫ−<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i − Na 3 V ϕ d 3 xγ 2 1 φδϕ<br />
d 3 xγ 1 2 ˙ǫ 2 − aȧ2<br />
l 2 N<br />
(<br />
δϕ ˙<br />
2 δϕ |i<br />
N 2 −δϕ|i a 2 − 1 )<br />
2 V ϕϕδϕ 2 .<br />
Também aqui, vamos <strong>de</strong>compor as perturbações <strong>em</strong> modos escalares, vetoriais<br />
e tensoriais. Novamente os termos cruzados serão <strong>de</strong>sprezados, por ser<strong>em</strong> redutíveis<br />
a <strong>de</strong>rivadas totais, e a ação se <strong>de</strong>sacoplará <strong>em</strong> três setores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />
consistent<strong>em</strong>ente com a linearida<strong>de</strong> da teoria.<br />
No setor tensorial ter<strong>em</strong>os como lagrangiana<br />
L (T) =− Na<br />
24l 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2 w<br />
i j|k w i j|k + a3<br />
24l 2 N<br />
49<br />
∫<br />
d 3 xγ 2<br />
1 w˙<br />
i j w˙<br />
i j ,
exatamente a mesma obtida para o caso hidrodinâmico. Assim, todas as conclusões<br />
obtidas para essas perturbações naquele caso permanec<strong>em</strong> válidas.<br />
No setor vetorial t<strong>em</strong>os<br />
L (V) = Na<br />
6l 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2 S<br />
i| j S [i| j] − a2<br />
6l 2 ∫<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 S i| j F˙<br />
i| j + a3<br />
12l 2 N<br />
d 3 xγ 1 2<br />
˙<br />
˙<br />
F i| j F i| j<br />
que sofre das mesmas dificulda<strong>de</strong>s já comentadas no caso da matéria hidrodinâmica.<br />
Essas dificulda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser contornadas pela introdução da variável<br />
invariante <strong>de</strong> calibre V i<br />
V i = S i − a N Ḟi.<br />
Em termos <strong>de</strong>sta variável a lagrangiana do setor vetorial assume a forma<br />
∫<br />
Na<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 V<br />
[i| j] V [i| j]<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> obt<strong>em</strong>os que a equação <strong>de</strong> movimento para V i será<br />
que implica <strong>em</strong><br />
1<br />
2 Vi| j | j≈ 0<br />
V i = 0.<br />
Ou seja, <strong>em</strong> um Universo dominado por um campo escalar, as perturbações vetoriais<br />
são i<strong>de</strong>nticamente nulas.<br />
Por fim no setor escalar, após algumas integrais por partes, a lagrangiana assume<br />
a forma<br />
L (E) = Na ∫ ∫ ∫<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
(2ψ 1 i ψi−4φ i ψ<br />
)− i a3<br />
l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ψ 2 − ȧ2 a<br />
N<br />
l 2 d 3 xγ 2 1 φ<br />
2<br />
N<br />
∫ ∫<br />
− 2a2 ȧ<br />
l 2 d 3 xγ 2 1 φ ˙ψ+ a3 ϕ˙<br />
(<br />
0<br />
d 3 xγ 2<br />
1 ˙φ+3 ˙ψ ) ∫<br />
δϕ− Na 3 V ϕ d 3 xγ 2 1 φδϕ<br />
N<br />
N<br />
+ ϕ˙<br />
0 2 a 3 ∫ (<br />
d 3 xγ 2 1 φ 2 − 2a2 ˙ψ+ ȧ<br />
2N<br />
3l 2 a φ− 3l2 ϕ˙<br />
)(<br />
0<br />
2 δϕ B− a Ė) i<br />
i<br />
N<br />
+ Na3<br />
2<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2( 1<br />
N 2 ˙ δϕ 2 − 1 a 2δϕi δϕ i − 1 2 V ϕϕδϕ 2 ),<br />
que sofre <strong>de</strong> todas as dificulda<strong>de</strong>s já conhecidas.<br />
As equações <strong>de</strong> movimento serão<br />
ψ i i− 3ȧa<br />
N ˙ψ+<br />
( Ṅȧa<br />
2 N 3 − äa )<br />
2ȧ2<br />
N2− N 2 φ− ȧ<br />
N Fi i− 3l2 a 2<br />
4 V ϕδϕ− 3l2 a 2 ˙ϕ 0<br />
˙<br />
2N 2 δϕ=0<br />
¨ψ+ N ( a<br />
3)<br />
a 3 ˙˙ψ+ N ( a2ȧ )<br />
N a 3 ˙φ+ ȧ<br />
N a ˙φ+ 3N2 l 2 V<br />
( ϕ<br />
δϕ+ N2 i<br />
φ−ψ)<br />
4 3a 2 i<br />
+ N ( )<br />
3a 3 a 2 F i i ˙− 3l2 ˙ϕ 0<br />
δϕ=0 ˙<br />
2<br />
˙ψ+ ȧ<br />
a φ− 3l2 ˙ϕ 0<br />
2 δϕ=0. (3.42)<br />
50
Derivando no t<strong>em</strong>po a última <strong>de</strong>stas equações e utilizando a segunda e novamente<br />
a última, além <strong>de</strong> (3.24) po<strong>de</strong>mos, <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante ao caso do fluido perfeito,<br />
obter a igualda<strong>de</strong><br />
φ−ψ+ 1 ( )<br />
a 2 F i i ˙= 0,<br />
Na<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> obt<strong>em</strong>os<br />
Φ=Ψ.<br />
A escolha <strong>de</strong> N= a, a introdução da variável invariante <strong>de</strong> calibre v<br />
[<br />
v=aδϕ+ a ˙ϕ ]<br />
0<br />
ȧ ψ<br />
e o uso da última das equações (3.42) e (3.24) leva essa lagrangiana, após cálculos<br />
muito longos e que também não serão <strong>de</strong>talhados aqui, à seguinte forma<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2 ˙v2<br />
2 − ∫<br />
d 3 xγ 2 1 vi v i<br />
2 + ¨z ∫<br />
z<br />
d 3 xγ 1 2 v2<br />
2<br />
(3.43)<br />
on<strong>de</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total foram omitidos e z é dado por z=a 2 ˙ϕ 0 /ȧ. A equação<br />
<strong>de</strong> movimento clássica para os modos normais <strong>de</strong> v será<br />
(<br />
¨v+ k 2 − ¨z )<br />
v=0.<br />
z<br />
A partir da última e da penúltima equações <strong>de</strong> (3.42), e <strong>de</strong> (3.24) po<strong>de</strong>mos<br />
obter<br />
Φ i i= 3l2 a ˙ϕ 2 (<br />
0 v<br />
˙<br />
2ȧ z)<br />
e, também neste caso, o conhecimento <strong>de</strong> v p<strong>em</strong>ite o conhecimento do potencial <strong>de</strong><br />
Bar<strong>de</strong>enΦ.<br />
51
Capítulo 4<br />
Cosmologia Quântica<br />
4.1 Introdução<br />
Após o final da década <strong>de</strong> 60, com o <strong>de</strong>senvolvimento por Hawking e Penrose<br />
dos chamados Teor<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Singularida<strong>de</strong> [5] a idéia <strong>de</strong> um começo para o<br />
Universo <strong>em</strong> uma singularida<strong>de</strong> ganhou força entre os pesquisadores da área. No<br />
entanto, a existência <strong>de</strong> uma singularida<strong>de</strong> <strong>em</strong> um t<strong>em</strong>po finito no passado é por si<br />
só um probl<strong>em</strong>a. Tal singularida<strong>de</strong> representa um momento ao qual simplesmente<br />
não se po<strong>de</strong> aplicar nenhum método físico para <strong>de</strong>screvê-lo. A própria idéia <strong>de</strong> o<br />
Universo ser <strong>de</strong>scrito por um espaço t<strong>em</strong>po geo<strong>de</strong>sicamente incompleto, <strong>de</strong>veria<br />
ser encarada <strong>de</strong> forma mais razoável apenas como indicativo <strong>de</strong> um limite <strong>de</strong> valida<strong>de</strong><br />
para a teoria da Relativida<strong>de</strong> Geral e não como uma proprieda<strong>de</strong> intrínseca<br />
da evolução dinâmica <strong>de</strong>le.<br />
Acontece que os citados teor<strong>em</strong>as <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> têm sua valida<strong>de</strong> condicionada<br />
à valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certas hipóteses sobre o conteúdo material dominante do<br />
Universo, b<strong>em</strong> como sobre a dinâmica que rege o mesmo. Nominalmente, tais<br />
teor<strong>em</strong>as pressupõ<strong>em</strong> que<br />
1. A geometria é dinâmica.<br />
2. A <strong>Teoria</strong> da Relativida<strong>de</strong> Geral é válida durante toda a história do Universo.<br />
3. O conteúdo material dominante do Universo obe<strong>de</strong>ce, a todo instante, à<br />
condição<br />
ρ+3p≥0,<br />
conhecida como condição <strong>de</strong> energia forte. Essa condição é, <strong>de</strong> fato, obe<strong>de</strong>cida<br />
pela maioria dos fluidos atualmente conhecidos <strong>em</strong> laboratório.<br />
4. O espaço-t<strong>em</strong>po não possui vorticida<strong>de</strong>.<br />
Se preten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver um mo<strong>de</strong>lo cosmológico s<strong>em</strong> singularida<strong>de</strong>, t<strong>em</strong>os<br />
então que violar alguma <strong>de</strong>ssas condições. Vários mo<strong>de</strong>los que exploram a condição<br />
52
3 têm sido <strong>de</strong>senvolvidos nas últimas décadas, exibindo a <strong>de</strong>sejada ausência <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s<br />
[15]. Em nome da concisão e da objetivida<strong>de</strong>, não abordar<strong>em</strong>os tais<br />
mo<strong>de</strong>los neste trabalho.<br />
No que concerne à condição 2, também inúmeras possibilida<strong>de</strong>s vêm sendo<br />
estudadas [11, 12, 13, 14, 63], tais como correções <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2 ou mais da curvatura<br />
sendo adicionadas à ação,teorias com constantes fundamentais variando no t<strong>em</strong>po<br />
[64], acoplamento não-mínimo do conteúdo material com o campo gravitacional<br />
[10] ou ainda a quantização da relativida<strong>de</strong> geral.<br />
Neste trabalho seguir<strong>em</strong>os este último caminho. As possibilida<strong>de</strong>s nesse sentido<br />
também são variadas. Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gravitação quântica são a gravitação<br />
quântica com laços (Loop Quantum Gravity-LQG) [16, 17, 18, 65, 66], uma<br />
abordag<strong>em</strong> canônica do processo <strong>de</strong> quantização, e a teoria <strong>de</strong> cordas, esta última<br />
fort<strong>em</strong>ente motivada por teorias <strong>de</strong> campos e <strong>de</strong> partículas [67]. Mo<strong>de</strong>los advindos<br />
<strong>de</strong>sssas teorias têm sido amplamente discutidos na literatura [11, 68, 14, 13, 63].<br />
Nós vamos nos fixar à quantização canônica da teoria da Relativida<strong>de</strong> Geral<br />
via formalismo ADM [22] (que usa vari´veis diferentes das utilizadas pela LQG).<br />
As primeiras tentativas <strong>de</strong> quantizar canonicamente a teoria da Relativida<strong>de</strong><br />
Geral surgiram ainda na década <strong>de</strong> 60 após o <strong>de</strong>senvolvimento por Arnowitt, Deser<br />
e Misner <strong>de</strong> um formalismo hamiltoniano para espaços-t<strong>em</strong>po globalmente folheáveis<br />
por hiper-superfìcies do tipo espaço (formalismo ADM) [22]. A quantização<br />
<strong>de</strong> tal teoria levava no entanto a uma equação extr<strong>em</strong>amente complicada <strong>de</strong> ser resolvida<br />
(a equação <strong>de</strong> Wheeler-DeWitt) [8], para a qual até hoje nenhuma solução<br />
exata foi encontrada. Além disso a quantização da gravitação levantava questões<br />
conceituais, tais como a ausência <strong>de</strong> uma noção <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e como essa noção po<strong>de</strong>ria<br />
ser recuperada <strong>em</strong> uma aproximação s<strong>em</strong>i-clássica, questões essas que até hoje<br />
também não foram satisfatoriamente respondidas [69].<br />
Para contornar essas dificulda<strong>de</strong>s, na década <strong>de</strong> 70, DeWitt e Misner [6, 7, 8]<br />
propuseram um método aproximativo para a solução da equação <strong>de</strong> Wheeler-<strong>de</strong><br />
Witt, conhecido como método <strong>de</strong> mini-superespaço [19, 20, 21].<br />
Denomina-se superespaço, <strong>em</strong> gravitação quântica, o espaço formado por todas<br />
as possíveis geometrias do 3-espaço. Tipicamente, o funcional <strong>de</strong> onda do campo<br />
gravitacional po<strong>de</strong>ria assumir amplitu<strong>de</strong>s não nulas sobre todo o superespaço. No<br />
entanto, espera-se que para a maioria das soluções fisicamente relevantes a amplitu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>terminada por esse funcional seja significativa apenas <strong>em</strong><br />
uma certa região do superespaço, que contém todas as 3-geometrias <strong>de</strong> uma certa<br />
classe, cuja caracterização envolve a especificação das simetrias do espaço-t<strong>em</strong>po<br />
clássico. O método <strong>de</strong> quantização <strong>em</strong> mini-superespaço consiste <strong>em</strong> partir da ação<br />
mais geral para o campo gravitacional que ainda respeite tais simetrias e, a partir<br />
daí proce<strong>de</strong>r à quantização canônica normalmente. Tal processo representa uma<br />
significativa redução <strong>de</strong> graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma que para a maioria dos casos<br />
estudados é possível encontrar-se soluções para o funcional <strong>de</strong> onda do campo<br />
gravitacional.<br />
A aplicação da quantização <strong>em</strong> mini-superespaço na cosmologia, <strong>em</strong>bora tecnicamente<br />
simples [70, 71], apresenta um sério inconveniente conceitual: a inter-<br />
53
pretação do funcional <strong>de</strong> onda do Universo. Tradicionalmente, a interpretação dos<br />
funcionais <strong>de</strong> onda obtidos na quantização do campo gravitacional é feita através da<br />
interpretação padrão da mecânica quântica, a Intepretação <strong>de</strong> Copenhagen. Acontece<br />
que essa interpretação, por ter um caráter exclusivamente epist<strong>em</strong>ológico, só<br />
faz sentido quando aplicada a sist<strong>em</strong>as físicos, se pressupormos a existência <strong>de</strong> um<br />
observador externo ao sist<strong>em</strong>a e regido pelas leis da mecânica clássica. Tal dicotomia,<br />
por si só insatisfatória, se torna um impedimento quando o objeto <strong>de</strong> estudo<br />
é o Universo, entendido como o conjunto <strong>de</strong> tudo o que existe. Nesse caso não há<br />
como conciliar a idéia <strong>de</strong> um observador externo ao sist<strong>em</strong>a para dar sentido à interpretação<br />
<strong>de</strong> Copenhagen. Assim, enquanto <strong>em</strong> outras áreas da física o chamado<br />
probl<strong>em</strong>a da interpretação da mecânica quântica assume um caráter mais filosófico,<br />
na cosmologia ele se torna fundamental, pois s<strong>em</strong> uma interpretação a<strong>de</strong>quada<br />
toda a idéia <strong>de</strong> quantização do campo gravitacional carece <strong>de</strong> sentido.<br />
Propostas <strong>de</strong> interpretações alternativas da mecânica quântica têm sido feitas ao<br />
longo do século XX. Dentre essas po<strong>de</strong>mos citar a Interpretação <strong>de</strong> Vários Mundos<br />
[24, 25] e a Interpretação <strong>de</strong> Bohm-<strong>de</strong> Broglie [31, 32, 33]. Esta última é a que<br />
vamos adotar neste trabalho. Para um breve resumo dos probl<strong>em</strong>as relacionados à<br />
interpretação <strong>de</strong> Copenhagen e das idéias básicas da interpretação <strong>de</strong> Bohm ver a<br />
seção correspon<strong>de</strong>nte no capítulo 2.<br />
4.2 Método <strong>de</strong> Mini-Superespaço para Universos Dominados<br />
por um Fluido Perfeito<br />
Vamos agora <strong>de</strong>terminar a hamiltoniana para um fluido perfeito <strong>em</strong> Relativida<strong>de</strong><br />
Geral. Para tanto vamos utilizar o formalismo <strong>de</strong> Fock [61, 34]. Esse formalismo<br />
já foi introduzido no capítulo anterior, on<strong>de</strong> estabelec<strong>em</strong>os as relações<br />
∫<br />
S m =− d 4 x √ −gρ 0<br />
( )<br />
ρ 0 = n m 0 +π, (4.1)<br />
π=<br />
n= F √<br />
∫ n<br />
dp<br />
no ′,− p n<br />
∂x<br />
g µ 0 µν ∂σ<br />
∂x ν 0<br />
∂σ<br />
√ −gJ<br />
,<br />
(4.2)<br />
on<strong>de</strong>σéum parâmetro ao longo das linhas <strong>de</strong> mundo das partículas que compõ<strong>em</strong><br />
o fluido,ρéa<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia <strong>de</strong>sse fluido e x µ 0<br />
são as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> cada<br />
partícula. As outras quantida<strong>de</strong>s já tiveram seus significados discutidos no capítulo<br />
3 e os mesmos não serão necessários no que segue.<br />
De posse da ação S m , o próximo passo seria o cálculo dos momenta P µ associados<br />
às coor<strong>de</strong>nadas x µ 0<br />
e a partir daí calcularmos a hamiltoniana. No entanto,<br />
<strong>de</strong>ve-se tomar cuidado no cálculo <strong>de</strong>sses momenta.<br />
54
Tomando como lagrangiana<br />
∫ ∫<br />
S m = dtL→L=−<br />
d 3 x √ −gρ 0<br />
ter<strong>em</strong>os que P µ será dado por<br />
P µ = ∂L<br />
∂( dxµ<br />
dt<br />
).<br />
(4.3)<br />
Note que na expressão acima a velocida<strong>de</strong> é tomada como a <strong>de</strong>rivada <strong>em</strong> relação<br />
ao t<strong>em</strong>po t, que é o t<strong>em</strong>po que aparece na integral da lagrangiana para obtenção da<br />
ação. No entanto, na lagrangiana, as velocida<strong>de</strong>s que aparec<strong>em</strong> são tomadas como<br />
<strong>de</strong>rivadas <strong>em</strong> relação ao parâmetro <strong>de</strong> t<strong>em</strong>poσ, que, a priori, não possui nenhuma<br />
relação funcional com o t<strong>em</strong>po coor<strong>de</strong>nado t. A conclusão a que chegamos é a <strong>de</strong><br />
que a <strong>de</strong>rivada <strong>em</strong> (4.3) é i<strong>de</strong>nticamente nula, sendo então i<strong>de</strong>nticamente nulo o<br />
momentum P µ . Isso nos dá um vínculo primário para a teoria. O outro vínculo<br />
primário é<br />
P N ≈ 0.<br />
Calculando a hamiltoniana do fluido mais gravitação t<strong>em</strong>os<br />
H=− Nl2 P 2 a<br />
4aV<br />
+ ∫<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 Na 3 ρ 0 +<br />
d 3 xγ 1 2 λ µ P µ +λ N P N . (4.4)<br />
Nesta expressão, V representa o volume comóvel das seções espaciais, que estamos<br />
consi<strong>de</strong>rando topologicamente fechadas, por hipótese (topologia não trivial, já que<br />
a geometria é plana).<br />
A conservação do vínculo P µ leva a<br />
∫<br />
∂<br />
∂x µ d 3 xγ 2 1 ρ0 ≈ 0<br />
condição que é i<strong>de</strong>nticamente satisfeita 1 . Dessa forma a conservação <strong>de</strong> P µ é i<strong>de</strong>nticamente<br />
satisfeita. A conservação <strong>de</strong> P N leva a<br />
H 0 =:− l2 P 2 a<br />
4aV + ∫<br />
d 3 γ 1 2 a 3 ρ 0 ≈ 0,<br />
cuja conservação é i<strong>de</strong>nticamente satisfeita. Note que nenhum multiplicador <strong>de</strong> Lagrange<br />
foi <strong>de</strong>terminado. Os vínculos P N , P µ e H 0 são então vínculos <strong>de</strong> primeira<br />
classe e portanto geradores <strong>de</strong> transformações <strong>de</strong> calibre. O vínculo P N é responsável<br />
única e exclusivamente pelas transformações <strong>de</strong> calibre <strong>de</strong> N. As transformações<br />
<strong>de</strong> calibre geradas pelos P µ só atuam sobre as coor<strong>de</strong>nadas x µ , que se<br />
alteram como<br />
x µ 0 → xµ 0 +ǫµ<br />
1 A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energiaρ 0 não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> explicitamente do t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas do fator <strong>de</strong><br />
escala a, que é consi<strong>de</strong>rado uma variável dinâmica in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
55
on<strong>de</strong>ǫ µ é um parâmetro infinitesimal arbitrário da transformação <strong>de</strong> calibre. Assim,<br />
as transformações <strong>de</strong> calibre geradas pelos P µ representam transformações<br />
infinitesimais <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas das partículas do fluido. Sendo H 0 proporcional à<br />
hamiltoniana, t<strong>em</strong>os que o mesmo gera transformações <strong>de</strong> calibre associadas à<br />
uma reparametrização t<strong>em</strong>poral da teoria.<br />
Como N aparece na hamiltoniana multiplicando o vínculo <strong>de</strong> primeira classe<br />
H 0 , concluímos que ele <strong>de</strong>ve ser um multiplicador <strong>de</strong> Lagrange livre da teoria,<br />
quer dizer, po<strong>de</strong>mos atribuir-lhe qualquer valor, s<strong>em</strong> alterarmos o conteúdo físico<br />
da teoria. Uma outra forma <strong>de</strong> ver isso é notar que Ṅ=λ N e que esse multiplicador<br />
<strong>de</strong> Lagrange não foi <strong>de</strong>terminado.<br />
Essa liberda<strong>de</strong> na escolha <strong>de</strong> N está intimamente ligada à liberda<strong>de</strong> na escolha<br />
da variável t<strong>em</strong>poral t, gerada como vimos pelo vínculo H 0 . Isso fica claro se<br />
tomarmos um observador comóvel com as hipersuperfícies espaciais, para o qual a<br />
velocida<strong>de</strong> própria será<br />
( dt<br />
)<br />
V µ = δ µ<br />
dτ<br />
0<br />
sendo dτ o seu t<strong>em</strong>po próprio. A condição <strong>de</strong> normalização da velocida<strong>de</strong><br />
leva então a<br />
V µ V µ = 1<br />
dt= 1 N dτ<br />
e po<strong>de</strong>mos ver que diferentes escolhas <strong>de</strong> N levam a diferentes escolhas <strong>de</strong> t.<br />
Algumas escolhas comuns <strong>em</strong> cosmologia são N= 1, cuja variável associada,<br />
<strong>de</strong>nominada t<strong>em</strong>po cósmico, é o t<strong>em</strong>po próprioτ; e N= a, cuja variável associada<br />
<strong>de</strong>nomina-se t<strong>em</strong>po conforme, e é usualmente representada pela letraη.<br />
Das equações (4.2) e (4.1) e usando<br />
n= F a 3<br />
é fácil verificar que<br />
e portanto<br />
ρ˙<br />
0 = −3(λ+1)ȧ<br />
a<br />
(a 3(λ+1) ρ 0<br />
)<br />
˙= 0<br />
ρ 0<br />
ou seja<br />
a 3 ρ 0 V= constante<br />
a 3λ . (4.5)<br />
Usando o procedimento inverso <strong>de</strong> Routh, na hamiltoniana (4.4) po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar<br />
a constante na equação (4.5) como um momentum canonicamente conjugado<br />
a uma variável cíclica. Vamos <strong>de</strong>notar essa variável por T e o seu momentum por<br />
P T . Assim, a hamiltoniana (4.4) se torna<br />
∫<br />
H=NH 0 +λ N P N + d 3 xλ µ P µ<br />
56
com<br />
H 0 =− l2 P 2 a<br />
4aV + P T<br />
a 3λ P T = a 3(λ+1) ρ 0 .<br />
Dessa hamiltoniana tiramos<br />
Ṫ= N<br />
a 3λ<br />
e pela escolha N= a 3λ ter<strong>em</strong>os<br />
T= t+constante<br />
ou seja, a variável T introduzida pelo procedimento inverso <strong>de</strong> Routh correspon<strong>de</strong>rá<br />
ao próprio t<strong>em</strong>po coor<strong>de</strong>nado t.<br />
É trivial verificar que a hamiltoniana (4.4) gera as equações corretas para o<br />
fator <strong>de</strong> escala.<br />
É a<strong>de</strong>quado comentar aqui que a hamiltoniana acima po<strong>de</strong> ser obtida partindose<br />
do formalismo <strong>de</strong> Schutz [72, 73] que é o frequent<strong>em</strong>ente utilizado <strong>em</strong> trabalhos<br />
anteriores na área <strong>de</strong> cosmologia quântica [71, 74].<br />
4.3 Quantização - A Função <strong>de</strong> Onda do Universo<br />
Na seção anterior obtiv<strong>em</strong>os a expressão para a hamiltoniana como sendo<br />
H=NH 0 +λ N P N +λ µ P µ<br />
sendo H 0 , P N e P µ vínculos <strong>de</strong> primeira classe eλ N ,λ µ e N os respectivos multiplicadores<br />
<strong>de</strong> Lagrange.<br />
Como estamos lidando com um sist<strong>em</strong>a vinculado <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, na quantização<br />
pela prescrição <strong>de</strong> Dirac [39], exigir que a função <strong>de</strong> onda seja aniquilada pelos<br />
vínculos P N , P µ e H 0 . Dos dois primeiros concluimos que a função <strong>de</strong> onda não<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> N n<strong>em</strong> das coor<strong>de</strong>nadas x µ das partículas. A terceira condição leva à<br />
seguinte expressão<br />
a 3λ H 0 χ=0<br />
on<strong>de</strong> o fator a 3λ foi introduzido por conveniência.<br />
Na quantização a expressão acima apresentará o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong><br />
operadores no primeiro termo. Escolher<strong>em</strong>os como or<strong>de</strong>namento aquele que gera<br />
uma hamiltoniana covariante por mudanças das variáveis dinâmicas. Esse or<strong>de</strong>namento<br />
correspon<strong>de</strong> a<br />
l 2<br />
4V a 3λ−1<br />
2<br />
∂<br />
(<br />
a 3λ−1<br />
2<br />
∂a<br />
∂ψ<br />
)<br />
=ı ∂ψ<br />
∂a ∂T , (4.6)<br />
que correspon<strong>de</strong> a uma equação do tipo Schroedinger <strong>de</strong>screvendo a evolução da<br />
função <strong>de</strong> ondaψ(a, T) no t<strong>em</strong>po T. Como já discutido anteriormente, esse t<strong>em</strong>po<br />
correspon<strong>de</strong> ao t<strong>em</strong>po coor<strong>de</strong>nado se impusermos o calibre N= a 3λ . A particularização<br />
<strong>de</strong>sse t<strong>em</strong>po para a parametrização da evolução dinâmica do sist<strong>em</strong>a foi a<br />
razão pela qual multiplicamos o vínculo H 0 por a 3λ .<br />
57
O operador<br />
Ĥ= l2<br />
4V a 3λ−1<br />
2<br />
∂<br />
(<br />
a 3λ−1<br />
2<br />
∂a<br />
∂<br />
)<br />
∂a<br />
não é hermitiano sobre todo o espaço <strong>de</strong> Hilbert, ou seja, dadas duas funções <strong>de</strong><br />
ondaφeψ, a igualda<strong>de</strong><br />
= ∗ (4.7)<br />
po<strong>de</strong> não ser satisfeita [71]. Dado que<br />
=<br />
∫ a<br />
0<br />
daa − 3λ−1<br />
2 φ ∗ l2<br />
4V a 3λ−1<br />
2<br />
∂<br />
(<br />
a 3λ−1<br />
2<br />
∂a<br />
∂ψ<br />
)<br />
,<br />
∂a<br />
on<strong>de</strong> a − 3λ−1<br />
2 é a raíz quadrada do <strong>de</strong>terminante da métrica do espaço <strong>de</strong> Hilbert,<br />
então, para que a igualda<strong>de</strong> (4.7) seja válida, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os ter<br />
[<br />
a − 3λ−1<br />
2<br />
(<br />
φ ∗∂ψ )] ∞<br />
∂a −ψ∂φ∗ ∂a 0<br />
= 0.<br />
Sob a hipótese <strong>de</strong> que as funções <strong>de</strong> onda vão a zero suficient<strong>em</strong>ente rápido para<br />
a→∞, então ter<strong>em</strong>os que a expressão acima se reduzirá a<br />
φ ∗∂ψ<br />
∂a −ψ∂φ∗<br />
∂a∣ = 0.<br />
a=0<br />
Essa condição será satisfeita se todas as funções <strong>de</strong> onda do espaço <strong>de</strong> Hilbert<br />
satisfizer<strong>em</strong> à condição <strong>de</strong> contorno<br />
ψ<br />
∣ =α ∂ψ<br />
a=0 ∂a∣ (4.8)<br />
a=0<br />
com o mesmoαreal para todas as funções <strong>de</strong> onda. Dessa forma obt<strong>em</strong>os um<br />
espaço <strong>de</strong> Hilbert reduzido, caracterizado pelo particular valor <strong>de</strong>αescolhido. A<br />
função <strong>de</strong> onda do Universo <strong>de</strong>verá estar contida neste espaço, para que tenhamos<br />
conservação <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s.<br />
Vamos agora resolver a equação (4.6). Inicialmente <strong>de</strong>finimos a variável auxiliar<br />
x por<br />
x= 2√ V<br />
l<br />
Em termos <strong>de</strong>sta variável a equação (4.6) fica<br />
2<br />
3(1−λ) a 3(1−λ)<br />
2 .<br />
1∂ 2 ψ<br />
4∂x 2=ı∂ψ ∂T<br />
e impondo a condição inicial(ver [76], além <strong>de</strong> [75] e referências ali contidas.)<br />
( 8<br />
) 1<br />
4 −<br />
ψ(x, 0)= e<br />
T x2<br />
0<br />
T 0 π<br />
58
on<strong>de</strong> T 0 é uma constante, obt<strong>em</strong>os a solução para todo T [76]<br />
[<br />
[<br />
8T 0 V<br />
] 1<br />
4 − 4T 0 Va3(1−λ)<br />
ψ(a, T)=<br />
e<br />
9(1−λ) 2 (T 2 +T 2<br />
π(T 2 + T0 2 0 )l2 e −ı 4TVa 3(1−λ)<br />
)l2<br />
9(1−λ) 2 (T 2 +T<br />
0 2)l2+ 2 1 arctan( T 0<br />
T )− π 4<br />
]<br />
(4.9)<br />
e verifica-se trivialmente que<br />
∂ψ<br />
∂a∣ = 0<br />
a=0<br />
satisfazendo à condição <strong>de</strong> contorno (4.8) comα→∞.<br />
4.4 Trajetórias Bohmianas<br />
Na função <strong>de</strong> onda (4.9) po<strong>de</strong>mos ler diretamente as expressões <strong>de</strong> S (fase da<br />
função) e R (módulo da função)<br />
4TVa 3(1−λ)<br />
S=−<br />
1 (<br />
9(1−λ) 2 (T 2 + T0 2)l2− 2 arctan T0<br />
)<br />
+ π T 4<br />
[<br />
8T 0 V<br />
] 1<br />
4 − 4T 0 Va3(1−λ)<br />
R=<br />
e<br />
π(T 2 + T0 2)l2 Aplicando a interpretação <strong>de</strong> Bohm, obt<strong>em</strong>os<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> v<strong>em</strong><br />
cuja solução é<br />
9(1−λ) 2 (T 2 +T 2 0 )l2 .<br />
P a = ∂S<br />
∂a =− 4TVa 2−3λ<br />
3l 2 (1−λ)(T 2 + T 2 0 )<br />
ȧ=− a3λ−1 l 2 P a<br />
2V<br />
2Ta<br />
=<br />
3(1−λ)(T 2 + T0 2)<br />
(<br />
a(T)=a 0 1+ T 2 ) 1<br />
3(1−λ)<br />
. (4.10)<br />
Para sermos completos, vamos também apresentar a expressão do potencial<br />
quântico. Este po<strong>de</strong> ser calculado por<br />
Q(a, T)= l2<br />
4VR a 3λ−1<br />
2<br />
T 2 0<br />
∂<br />
(<br />
a 3λ−1<br />
2<br />
∂a<br />
cuja expressão para a função <strong>de</strong> onda apresentada será<br />
Q(a, T)=−<br />
T 0<br />
∂R<br />
)<br />
∂a<br />
2(T 2 + T 2 0 )+ 4T 2 0 Va3(1−λ)<br />
9(1−λ) 2 l 2 (T 2 + T 2 0 )2.<br />
59
Potencial Quântico<br />
0.45<br />
λ=0<br />
λ=1/3<br />
0.4<br />
0.35<br />
0.3<br />
0.25<br />
Q(T)<br />
0.2<br />
0.15<br />
0.1<br />
0.05<br />
0<br />
−0.05<br />
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5<br />
T/T 0<br />
Figura 4.1: Potencial Quântico dado pela equação (4.11) com a 0 = 1, T 0 = 1,<br />
V= 1 e l=1.<br />
Substituindo a(T), obt<strong>em</strong>os<br />
Q(T)= 1 [ 4Va 3(1−λ)<br />
0<br />
T 0 9(1−λ) 2 l 2 − 1 ]<br />
1<br />
. (4.11)<br />
T 0 2 1+ T 2<br />
T0<br />
2<br />
Nas figuras (4.1) e (4.2) apresentamos gráficos <strong>de</strong> a(T) e Q(T) e po<strong>de</strong>-se verificar<br />
que <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> T = 0 o potencial quântico é máximo <strong>em</strong> módulo, coincidindo<br />
com o mínimo <strong>de</strong> a.<br />
Vamos agora proce<strong>de</strong>r à análise <strong>de</strong> alguns aspecto relevantes da trajetória bohmiana<br />
(4.10). O primeiro fato que chama a atenção é a não existência <strong>de</strong> uma singularida<strong>de</strong>,<br />
ou seja, a(T) nunca é zero. Trata-se <strong>de</strong> fato <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Universo<br />
Eterno, <strong>em</strong> que não há um começo. Note que a fase T≤ 0, contrativa, não colapsa<br />
para uma singularida<strong>de</strong>, como seria esperado se a teoria da Relativida<strong>de</strong> Geral clássica<br />
valesse <strong>em</strong> todo t<strong>em</strong>po, pois <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> T= 0 o potencial quântico domina<br />
a evolução, afastando pois as trajetórias <strong>de</strong> seu comportamento clássico. O Universo<br />
entra então na fase expansiva atual, quando, para T suficient<strong>em</strong>ente gran<strong>de</strong>,<br />
a dinâmica volta a ser dominada pela Relativida<strong>de</strong> Geral clássica.<br />
Um outro aspecto importante <strong>de</strong>ssas soluções é a inexistência <strong>de</strong> horizontes <strong>de</strong><br />
partículas. Como se sabe a distância comóvel H p <strong>de</strong>sse horizonte é calculada por<br />
H p (τ)=<br />
∫ τ<br />
−∞<br />
dτ ′<br />
a<br />
60
Fator <strong>de</strong> Escala<br />
4.5<br />
4<br />
3.5<br />
3<br />
a(T)<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
λ=0<br />
λ=1/3<br />
0<br />
−10 −8 −6 −4 −2 0 2 4 6 8<br />
T/T 0<br />
Figura 4.2: Comportamento do fator <strong>de</strong> escala (4.10) para diversos valores <strong>de</strong>λ.<br />
Nos gráficos acima usamos a 0 = 1 e T 0 = 1.<br />
e usando dτ=a 3λ dT e (4.10) v<strong>em</strong><br />
H p (T)=<br />
∫ T<br />
−∞<br />
dT ′ (<br />
1+ T′ 2 )−λ<br />
1−λ<br />
T0<br />
2<br />
e é fácil verificar que essa integral diverge para Universos dominados por fluidos<br />
com 1>λ>− 1 3<br />
, indicando a ausência <strong>de</strong> horizontes. Essa ausência po<strong>de</strong> ser<br />
entendida como efeito da existência <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po infinito no passado, no qual os<br />
componentes materiais do Universo pu<strong>de</strong>ram se termalizar.<br />
Comentamos que outras escolhas <strong>de</strong> condições iniciais também levam a funções<br />
<strong>de</strong> onda da forma (4.10) [71].<br />
A análise <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo cosmológico quântico com poeira e radiação tornaria<br />
este capítulo <strong>de</strong>snecessariamente longo. Ao leitor interessado recomendamos a<br />
literatura no assunto(ver [74] e referências).<br />
Também exist<strong>em</strong> estudos <strong>em</strong> mini-superespaço para Universos dominados por<br />
um campo escalar mas, nesse caso, não há o aparecimento <strong>de</strong> um momentum<br />
<strong>de</strong> forma linear na hamiltoniana. Como consequência, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir uma<br />
noção <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po para <strong>de</strong>screver a evolução <strong>de</strong>sse Universo. Obtém-se, não obstante,<br />
soluções para o fator <strong>de</strong> escala sendo uma função implícita do campo escalar. Essas<br />
soluções são analíticas no caso <strong>em</strong> que o potencial do campo é i<strong>de</strong>nticamente<br />
nulo e numéricas caso contrário.<br />
Por fim, <strong>em</strong>bora nossa análise tenha se limitado a soluções com K= 0, são<br />
também conhecidas na literatura soluções para os casos K = 1 e K =−1 com<br />
fluido perfeito [71], obtendo-se para o primeiro Universos com fases <strong>de</strong> expansão<br />
61
e contração que se alternam <strong>de</strong> forma cíclica, s<strong>em</strong> nunca colapsar <strong>em</strong> uma singularida<strong>de</strong>.<br />
No caso K=−1 obtém-se também soluções que se contra<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
T →−∞ até um valor mínimo <strong>em</strong> T = 0, voltando a se expandir, por força do<br />
potencial quântico, e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bocando na solução clássica quando T for suficient<strong>em</strong>ente<br />
gran<strong>de</strong>. Essas soluções só são analíticas no caso <strong>de</strong> radiação.<br />
Uma proprieda<strong>de</strong> atraente das soluções com K=−1 é a <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r mostrar<br />
que para elas o parâmetro <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>Ωpo<strong>de</strong> se aproximar suficient<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> 1<br />
na fase contrativa, antes do domínio do potencial quântico, e por simetria da trajetória<br />
quântica,Ωcontinua igualmente próximo <strong>de</strong> 1 ao final do bounce. Teríamos<br />
então, uma solução que inicia o período clássico <strong>de</strong> expansão arbitrariamente próxima<br />
<strong>de</strong> 1. Isso indica que esses mo<strong>de</strong>los po<strong>de</strong>m apresentar uma solução natural<br />
para o probl<strong>em</strong>a da planeza, s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se apelar para fases inflacionárias.<br />
Concluímos com este capítulo portanto que a quantização <strong>em</strong> mini-superespaço<br />
da Relativida<strong>de</strong> Geral leva a mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Universo s<strong>em</strong> singularida<strong>de</strong> e s<strong>em</strong> horizontes,<br />
suficient<strong>em</strong>ente próximas da planeza (para K=−1) resolvendo assim os<br />
gran<strong>de</strong>s probl<strong>em</strong>as da cosmologia mo<strong>de</strong>rna 2 .<br />
Resta testar a robustez <strong>de</strong> tais mo<strong>de</strong>los com relação às perturbações cosmológicas<br />
e anisotropias da radiação <strong>de</strong> fundo. Esse é o t<strong>em</strong>a central e original <strong>de</strong>ssa<br />
tese e a ele nos <strong>de</strong>dicamos no próximo capítulo.<br />
2 Há mesmo alguns mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> brinquedo que apresentam uma fase <strong>de</strong> aceleração tardia, representando<br />
também uma potencial alternativa para o probl<strong>em</strong>a da energia escura [77].<br />
62
Capítulo 5<br />
<strong>Teoria</strong> <strong>de</strong> <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong><br />
Cosmologia Quântica<br />
5.1 Introdução<br />
Nos capítulos anteriores analisamos a teoria <strong>de</strong> perturbações aplicada a soluções<br />
das equações <strong>de</strong> Friedmann . Em tal análise foi mostrado que a hamiltoniana do<br />
setor das perturbações, escrita <strong>em</strong> segunda or<strong>de</strong>m nas mesmas (<strong>de</strong> forma a gerar<br />
equações <strong>de</strong> movimento lineares), além <strong>de</strong> apresentar uma gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m prática no que se refere à tarefa <strong>de</strong> encontrar soluções analíticas para si,<br />
apresentava ainda probl<strong>em</strong>as conceituais com relação à interpretação física das variáveis<br />
perturbativas, pois o fato das mesmas não ser<strong>em</strong> invariantes <strong>de</strong> calibre não<br />
<strong>de</strong>ixava claro se tratávamos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iras perturbações ou apenas <strong>de</strong> artefatos <strong>de</strong><br />
uma transformação infinitesimal <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas. Outra dificulda<strong>de</strong> que a hamiltoniana<br />
<strong>em</strong> questão apresentava era o fato <strong>de</strong> as variáveis perturbativas se comportar<strong>em</strong><br />
como campos sobre um espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo que não possuía um vetor<br />
<strong>de</strong> Killing do tipo t<strong>em</strong>po, o que tornava difícil a quantização da teoria. A solução<br />
conhecida na literatura para tais dificulda<strong>de</strong>s é baseada na utilização das equações<br />
<strong>de</strong> movimento do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo nos termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2 da lagrangiana<br />
perturbativa, o que, juntamente com a introdução <strong>de</strong> variáveis invariantes <strong>de</strong> calibre<br />
e com a <strong>de</strong>composição das perturbações <strong>em</strong> modos escalares, vetoriais e tensoriais,<br />
permitia <strong>de</strong>sacoplar a hamiltoniana perturbativa <strong>em</strong> 3 hamiltonianas mais simples,<br />
invariantes <strong>de</strong> calibre e que <strong>de</strong>screviam a dinâmica <strong>de</strong> campos sobre um espaçot<strong>em</strong>po<br />
<strong>de</strong> Minkovski (no caso K= 0). Os efeitos dinâmicos da <strong>de</strong>pendência t<strong>em</strong>poral<br />
do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo sobre as perturbações ficavam então representados<br />
<strong>em</strong> potenciais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do t<strong>em</strong>po que eram responsáveis pela criação <strong>de</strong> quanta<br />
<strong>de</strong> perturbação a partir <strong>de</strong> um estado inicial <strong>de</strong> vácuo.<br />
Tal metodologia, <strong>em</strong>bora quando aplicada às soluções <strong>de</strong> Friedmann produza<br />
resultados <strong>em</strong> bom acordo com os dados experimentais, t<strong>em</strong> aplicação limitada por<br />
lançar mão das equações clássicas <strong>de</strong> movimento do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo, pressupondo<br />
que os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m zero da teoria comport<strong>em</strong>-se como<br />
63
graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> clássicos, enquanto os perturbativos são quantizados. Naturalmente,<br />
o que dá valida<strong>de</strong> ao método é uma aproximação baseada na idéia <strong>de</strong> que o<br />
mesmo é aplicável apenas <strong>em</strong> instantes nos quais os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
zero estão sendo <strong>de</strong>scritos, <strong>em</strong> boa aproximação, pela mecânica clássica, per<strong>de</strong>ndo<br />
a valida<strong>de</strong> quando tal condição não é satisfeita. A situação é parecida com a quantização<br />
<strong>de</strong> um átomo <strong>de</strong> hidrogênio, para citar um caso concreto. Em uma primeira<br />
aproximação tratamos o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>terminando a função <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> um elétron<br />
<strong>em</strong> um campo elétrico clássico. Posteriormente, a introdução <strong>de</strong> um tratamento totalmente<br />
quântico, quantizando inclusive o campo elétrico produz refinamentos nas<br />
previsões da teoria. Mas então cabe a pergunta: Há alguma generalização possível<br />
do método <strong>em</strong> um tratamento totalmente quântico dos mo<strong>de</strong>los cosmológicos?<br />
Tal pergunta assume uma gran<strong>de</strong> relevância quando se consi<strong>de</strong>ra que o tratamento<br />
quântico da geometria <strong>de</strong> fundo dá orig<strong>em</strong> a mo<strong>de</strong>los cosmológicos não<br />
singulares que se apresentam como alternativas válidas, ou pelo menos como propostas<br />
compl<strong>em</strong>entares, ao paradigma inflacionário da cosmologia. A robustez <strong>de</strong><br />
tais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>ve ser testada com relação aos dados atuais fornecidos por observações<br />
das anisotropias da radiação cósmica <strong>de</strong> fundo, b<strong>em</strong> como <strong>em</strong> relação às<br />
futuras observações <strong>de</strong> ondas gravitacionais. Para elaborar-se previsões teóricas a<br />
partir <strong>de</strong> tais mo<strong>de</strong>los, o tratamento totalmente quântico das perturbações cosmológicas<br />
é fundamental.<br />
Como no caso totalmente quântico as equações clássicas da or<strong>de</strong>m zero não<br />
são mais válidas, elas não po<strong>de</strong>m ser utilizadas para resolver os probl<strong>em</strong>as citados<br />
nos parágrafos anteriores. V<strong>em</strong>o-nos obrigados a tratar o probl<strong>em</strong>a utilizando-nos<br />
da hamiltoniana associada à lagrangiana (3.31). De fato, como não po<strong>de</strong>mos utilizar<br />
as equações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero para eliminar os termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 1, também estes<br />
<strong>de</strong>verão ser levados <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração <strong>em</strong> um tratamento totalmente quântico, b<strong>em</strong><br />
como os próprios termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero. Este probl<strong>em</strong>a foi abordado nesta forma<br />
por Halliwell e Hawking [35], que analisaram o caso <strong>de</strong> um Universo gerado por<br />
um campo escalar e com seções espaciais <strong>de</strong> curvatura K=+1. As dificulda<strong>de</strong>s<br />
encontradas só permitiram que o probl<strong>em</strong>a fosse resolvido lançando mão da aproximação<br />
s<strong>em</strong>i-clássica (método WKB) para os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> do fundo. Não<br />
é exagero dizermos então que o probl<strong>em</strong>a totalmente quântico nunca foi efetivamente<br />
resolvido.<br />
Neste capítulo, que constitui o trabalho original <strong>de</strong>sta tese, vamos mostrar<br />
que uma série <strong>de</strong> transformações canônicas, além da <strong>de</strong>composição <strong>em</strong> modos<br />
escalares, vetoriais e tensoriais e da introdução <strong>de</strong> variáveis invariantes <strong>de</strong> calibre<br />
1 po<strong>de</strong>m levar a hamiltoniana das perturbações <strong>em</strong> um Universo <strong>de</strong> FLRW a se<br />
<strong>de</strong>sacoplar <strong>em</strong> 3 hamiltonianas mais simples e, através da hipótese da existência<br />
<strong>de</strong> trajetórias bohmianas para o fundo mostrar<strong>em</strong>os que essas hamiltonianas são<br />
unitariamente equivalentes às hamiltonianas obteníveis no método padrão [78].<br />
1 Pela discussão apresentada no capítulo 3 <strong>de</strong>ve ter ficado claro que tanto a <strong>de</strong>composição <strong>em</strong><br />
modos escalares, vetoriais e tensoriais quanto a <strong>de</strong>finção das variáveis invariantes <strong>de</strong> calibre são<br />
baseadas <strong>em</strong> aspectos meramente cin<strong>em</strong>áticos, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo portanto da valida<strong>de</strong> das equações<br />
clássicas do fundo e po<strong>de</strong>ndo ser utilizadas na presente abordag<strong>em</strong>.<br />
64
Uma vez obtidas tais hamiltonianas o espectro das perturbações será calculado<br />
no capítulo 6 para o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>senvolvido no capítulo 4 e os resultados comparados<br />
com dados observacionais.<br />
5.2 <strong>Perturbações</strong> <strong>em</strong> Universos Dominados por um Fluido<br />
Perfeito<br />
Sendo a ação dada por<br />
∫<br />
S=−<br />
as perturbações métricas caracterizadas por<br />
d 4 x √ ( R<br />
)<br />
−g<br />
6l 2+ρ ,<br />
h 00 = 2N 2 φ<br />
h 0i =−NaA i<br />
e as perturbações no fluido por<br />
h i j = a 2 ǫ i j<br />
ter<strong>em</strong>os que a ação acima será levada <strong>em</strong><br />
x µ 0 → xµ = x µ 0 +ξµ<br />
S= S (0) +δ 1 S+δ 2 S<br />
on<strong>de</strong> S (0) ,δ 1 S eδ 2 S são respectivamente termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero, um e dois nas<br />
perturbações. Suas expressões são<br />
∫ ∫<br />
S (0) =− d 4 xγ 2 1 ȧ2 a<br />
l 2 N − d 4 xγ 2 1 Na 3 ρ 0<br />
∫ {[<br />
δ 1 S= Na3<br />
6l 2 d 4 xγ 2<br />
1 6ȧ<br />
2 ] [ 2Ṅȧ<br />
N 2 a 2−6l2 ρ 0 φ+<br />
N 3 a − 2ä ] }<br />
ȧ2<br />
aN2−a 2 N 2−3l2 λρ 0 ǫ+6l 2 (λ+1)ρ 0 χ i |i<br />
∫<br />
δ 2 S= d 4 xγ 2 1 Na (<br />
6l 2 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j<br />
− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ∫<br />
4 ǫ |iǫ<br />
)+<br />
|i d 4 xγ 2<br />
1 a 3 ∫<br />
˙<br />
24l 2 ǫ i j ǫ˙<br />
i j − d 4 xγ 1 a 3<br />
2<br />
N<br />
24l 2 N ˙ǫ2<br />
∫<br />
+ d 4 xγ 2<br />
(−9φ 1 aȧ2 2<br />
6l 2 − 3ǫφ− 3 N<br />
4 ǫ2 + 3A i A i + 3 ) ∫<br />
2 ǫi j ǫ i j − d 4 xγ 2 1 2aȧ (<br />
3l 2 φA i |i<br />
− 1 ) ∫<br />
2 A iǫ i j | j + d 4 xγ 2<br />
1 a2 ȧ<br />
(<br />
3l 2 ǫ i j ǫ˙<br />
i j − 1 ∫ )−<br />
N 2 ǫ ˙ǫ−φ˙ǫ d 4 xγ 2 1 a2<br />
6l 2 ˙ǫAi |i<br />
∫<br />
− d 4 xγ 2 1 Na 3 ρ 0<br />
(− 1 2 φ2 + 1 ) ∫ (<br />
2 Ai A i −φχ i |i − d 4 xγ 2 1 1 Na 3 p 0<br />
2 ǫφ+ 1 4 ǫi j ǫ i j − 1 8 ǫ2<br />
) ∫<br />
−φχ i |i + d 4 xγ 2 1 1 ( a<br />
2<br />
2 Na3 (ρ 0 + p 0 ) ˙χi N 2 ˙χ i + 2 a N A ˙χ<br />
)<br />
i i + A i A i<br />
∫<br />
− d 4 xγ 2 1 1 1<br />
)<br />
2 c2 sNa 3 (ρ 0 + p 0 )(<br />
4 ε2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i.<br />
65
Quando da análise feita no capítulo 3 a ação S (0) foi <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada pois supus<strong>em</strong>os<br />
que o espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fundo era clássico e já conhecido. Assim não<br />
era necessário tratar tais termos. A ação da or<strong>de</strong>m um,δ 1 S , foi <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada<br />
pois pelo princípio <strong>de</strong> ação estacionária, tal termo t<strong>em</strong> que se anular pelo uso das<br />
equações clássicas do fundo. Restou apenasδ 2 S para ser tratada pelo formalismo.<br />
No caso presente somos obrigados a tratar S (0) juntamente comδ 2 S , uma vez<br />
que quer<strong>em</strong>os quantizar também o fundo. Com relação aos termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m um,<br />
estes po<strong>de</strong>m novamente ser <strong>de</strong>sprezados pela hipótese <strong>de</strong> que as perturbações tenham<br />
valor médio espacial nulo, ou seja<br />
∫<br />
d 3 x √ ∫<br />
−gh µν = 0 e d 3 x √ −gδ 1 ρ.<br />
Na realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW tal hipótese po<strong>de</strong> ser relaxada, exigindose<br />
que apenas as perturbações escalaresφ,ψeξtenham valor médio nulo. A<br />
razão para isto está no fato <strong>de</strong> que na ação <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m um apenas estes termos estão<br />
presentes, já que a única forma <strong>de</strong> as quantida<strong>de</strong>s w i j , S i , F i eη i aparecer<strong>em</strong> na<br />
açãoδ 1 S seria atavés das divergências S i |i, F i |i,η i |i e w i j |i j e do traço w i i, sendo<br />
que todas essas quantida<strong>de</strong>s são i<strong>de</strong>nticamente nulas por construção. Por outro lado<br />
a exigência <strong>de</strong> queφ,ψeξtenham valor médio nulo po<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre ser satisfeita,<br />
s<strong>em</strong> perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>. Suponhamos o el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> linha perturbado 2<br />
( ) ( )<br />
ds 2 = N 2 (t) 1+2φ(⃗x, t) dt 2 − a 2 (t) 1−2ψ(⃗x, t) γ i j dx i dx j . (5.1)<br />
Decompor<strong>em</strong>osφeψ<strong>em</strong><br />
φ(⃗x, t)= ¯φ(t)+φ (0) (⃗x, t)<br />
φ(⃗x, t)= ¯ψ(t)+ψ (0) (⃗x, t),<br />
on<strong>de</strong> ¯φ(t) e ¯ψ(t) são os valores médios espaciais <strong>de</strong>φ(⃗x, t) eψ(⃗x, t), supostos não nulos,<br />
eφ (0) (⃗x, t) eψ (0) (⃗x, t) são obviamente campos <strong>de</strong> valor médio nulo. O el<strong>em</strong>ento<br />
<strong>de</strong> linha perturbado será então<br />
( ) ( )<br />
ds 2 = N 2 (t) 1+2 ¯φ(t)+2φ (0) (⃗x, t) dt 2 − a 2 (t) 1−2 ¯ψ(t)−2ψ (0) (⃗x, t) γ i j dx i dx j .<br />
Definindo<br />
( )<br />
Ñ(t)=N(t) 1+2 ¯φ(t)<br />
( )<br />
ã(t)=a(t) 1−2 ¯ψ(t)<br />
( )<br />
˜φ(⃗x, t)=φ (0) (⃗x, t) 1−2 ¯φ(t)<br />
( )<br />
˜ψ(⃗x, t)=ψ (0) (⃗x, t) 1−2 ¯ψ(t)<br />
2 Somente exibimos as perturbações escalares por simplicida<strong>de</strong> notacional<br />
66
fica claro que as quantida<strong>de</strong>s ˜φ e ˜ψ possu<strong>em</strong> valor médio zero. Com essas <strong>de</strong>finições,<br />
ds 2 se torna, omitindo os “˜”<br />
( ) ( )<br />
ds 2 = N 2 (t) 1+2φ(⃗x, t) dt 2 − a 2 (t) 1−2ψ(⃗x, t) γ i j dx i dx j<br />
exatamente a expressão (5.1), com a diferença que agora as perturbações possu<strong>em</strong><br />
valor médio nulo. Vamos então admitir que tais re<strong>de</strong>finições tenham sido feitas<br />
<strong>de</strong> agora <strong>em</strong> diante. Assim, as quantida<strong>de</strong>sφeψpo<strong>de</strong>m s<strong>em</strong>pre ser consi<strong>de</strong>radas<br />
como <strong>de</strong> valor médio zero, s<strong>em</strong> perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, e os termos proporcionais<br />
a elas <strong>em</strong>δ 1 S po<strong>de</strong>m s<strong>em</strong>pre ser anulados. Uma análise s<strong>em</strong>elhante na <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> energia mostra que também s<strong>em</strong>pre po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a perturbação na <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> energiaδε como tendo valor médio nulo. Deliberadamente <strong>em</strong> nossa<br />
discussão não incluímos os modos escalares E e B. A razão para isso é que se<br />
verifica por cálculo explícito que essas quantida<strong>de</strong>s só aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong>δ 1 S através <strong>de</strong><br />
seus laplacianos B |i i e E |i i e estes termos são redutíveis, via teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Gauss, a<br />
termos <strong>de</strong> superfície que se anulam i<strong>de</strong>nticamente pela hipótese <strong>de</strong> que as seções<br />
espaciais sejam topologicamente fechadas. Assim, todas as contribuições aδ 1 S<br />
foram anuladas. Tal parcela da ação po<strong>de</strong> então ser <strong>de</strong>sprezada.<br />
A ação total, incluindo os termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero e dois será então, usando<br />
S= ∫ dtL,<br />
L=−ȧ2 aV<br />
l 2 N − Na3 ρ 0 V+ Na ∫ (<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k<br />
+φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ) ∫ ∫<br />
4 ǫ |iǫ |i + a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j − a3<br />
N<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫ<br />
2<br />
N<br />
∫<br />
+ aȧ2<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
(−9φ 1 2 − 3ǫφ− 3 N<br />
4 ǫ2 + 3A i A i + 3 )<br />
2 ǫi j ǫ i j − 2aȧ ∫ (<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 φA i |i− 1 )<br />
2 A iǫ i j | j<br />
∫<br />
+ a2 ȧ<br />
(<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ i j ǫ˙<br />
i j − 1 ) ∫ ∫ (<br />
N<br />
2 ǫ ˙ǫ−φ˙ǫ − a2<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i − Na 3 ρ 0 d 3 xγ 2<br />
1 − 1 2 φ2 + 1 2 Ai A i<br />
∫<br />
−φχ i |i<br />
)− Na 3 p 0 d 3 xγ 2( 1 1<br />
2 ǫφ+ 1 4 ǫi j ǫ i j − 1 )<br />
8 ǫ2 −φχ i |i + 1 ∫ (<br />
2 Na3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2<br />
1 a<br />
2<br />
˙χi N 2 ˙χ i<br />
+2 a N A ˙χ i i + A i A<br />
)− i 1 ∫<br />
2 c2 sNa 3 (ρ 0 + p 0 ) d 3 xγ 2( 1 1<br />
)<br />
4 ε2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i,<br />
que correspon<strong>de</strong> à equação (3.31) do capítulo 3, adicionada do termo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
zero.<br />
Particularizando a discussão para o caso <strong>de</strong> um fluido perfeito (p 0 = λρ 0 ),<br />
(5.2)<br />
67
ter<strong>em</strong>os que a hamiltoniana construída a partir <strong>de</strong>sta lagrangiana é<br />
H=− Nl2 P 2 a<br />
4aV<br />
+ Na3 Vρ 0 + Nl2 P 2 ∫ (<br />
a<br />
aV 2 d 3 xγ 2<br />
1 1<br />
8 φ2 + 1 24 ǫφ− 1 8 Ai A i − 1 32 ǫ2<br />
+ 5 )<br />
48 ǫi j ǫ i j + NP ∫ ∫<br />
a<br />
d x γ 2 1 (φA<br />
i |i +ǫ i j | jA i )+ 2Nl2 P a<br />
dxπ i j ǫ i j<br />
6V<br />
aV<br />
∫<br />
− Nl2 P a<br />
2a 2 V<br />
∫<br />
− 3l2 N<br />
− N a<br />
a 3<br />
∫<br />
d 3 xǫπ+ NP a<br />
12V<br />
d 3 x π2<br />
− Na ∫<br />
γ 1 2 4l 2<br />
d 3 xπ i χA i − Na<br />
6l 2 ∫<br />
−φ |i ǫ |i + 1 4 ǫ |iǫ |i )<br />
+ Na 3 ρ 0<br />
∫<br />
+ 1 4 ǫi j ǫ i j − 1 8 ǫ2 −φχ i |i<br />
∫ ∫ ∫<br />
d 3 xγ 2 1 ǫA<br />
i |i + Nl2 P a<br />
a 2 d 3 xπφ+ 6Nl2<br />
V<br />
a 3 d 3 x πi j π i j<br />
γ 1 2<br />
d 3 xγ 2 1 A<br />
i |i A j | j− N ∫ ∫<br />
d 3 xπA i N<br />
|i+<br />
a<br />
2a 5 d 3 x πi χπ χ i<br />
(λ+1)ρ 0 γ 2<br />
1<br />
(<br />
d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j<br />
d 3 xγ 2<br />
1<br />
)+ 1 ∫<br />
2 Na3 λ(λ+1)ρ 0<br />
(<br />
− 1 2 φ2 + 1 ∫<br />
2 Ai A i −φχ i |i<br />
)+ Na 3 λρ 0<br />
d 3 xγ 2( 1 1<br />
2 ǫφ<br />
d 3 xγ 2( 1 1<br />
)<br />
4 ǫ2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i.<br />
O procedimento padrão para simplificar a lagrangiana (5.2) consiste, como<br />
visto no capítulo 3, <strong>em</strong> efetuar uma integral por partes, que produz o termo (3.33),<br />
e então usar a equação <strong>de</strong> fundo (3.6) para obter a lagrangiana (3.32). Como este<br />
procedimento não po<strong>de</strong> ser aplicado <strong>em</strong> nosso caso, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os buscar uma outra<br />
forma <strong>de</strong> simplificar nossas expressões.<br />
Como se sabe, a soma à ação <strong>de</strong> um termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada t<strong>em</strong>poral total po<strong>de</strong> ser<br />
encarada, numa linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> fase, como uma transformação canônica<br />
cujo gerador é o próprio termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total. Esse ponto nos leva a imaginar<br />
que o termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total (3.33) possa ser utilizado para obtermos uma transformação<br />
canônica que leve a hamiltoniana (5.3) <strong>em</strong> uma forma que corresponda<br />
à hamiltoniana gerada por (3.32) acrescida dos t<strong>em</strong>os <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero.<br />
De fato, se escrevermos (3.33) como<br />
G=− a P˜<br />
∫<br />
a<br />
12V<br />
d 3 xγ 1 2<br />
(ǫ i j ǫ i j − 1 2 ǫ2 )<br />
,<br />
on<strong>de</strong> usamos a expressão <strong>de</strong> ȧ <strong>em</strong> função da variável canônica P a , ter<strong>em</strong>os o<br />
seguinte gerador <strong>de</strong> uma transformação canônica infinitesimal<br />
∫<br />
F 1 = aP˜<br />
a −<br />
d 3 xπ i j ǫ˜<br />
i j − a P˜<br />
∫<br />
a<br />
12V<br />
d 3 xγ 1 2 (ǫ<br />
i j ǫ i j − 1 2 ǫ2 ) (5.4)<br />
(5.3)<br />
68
e a tranformação propriamente dita será<br />
a=ã+ ã ∫<br />
d 3 xγ 2<br />
(˜ǫ 1 i j˜ǫ i j − 1 )<br />
12V<br />
2 ˜ǫ2<br />
P a = ˜P a − ˜P ∫<br />
a<br />
d 3 xγ 2<br />
(˜ǫ 1 i j˜ǫ i j − 1 )<br />
12V<br />
2 ˜ǫ2<br />
π i j = ˜π i j − ã ˜P<br />
(<br />
a<br />
˜ǫ i j˜ǫ i j − 1 )<br />
6V 2 ˜ǫγ i j<br />
que leva a hamiltoniana a assumir a forma<br />
H=− Nl2 P 2 a<br />
4aV<br />
+ Na3 Vρ 0 + Nl2 P 2 ∫ (<br />
a<br />
aV 2 d 3 xγ 2<br />
1 1<br />
8 φ2 + 1 8 ǫφ− 1 )<br />
8 Ai A i<br />
+ NP ∫ ) ∫ ∫<br />
a<br />
d x γ 2<br />
(φA 1 i |i+ǫ i j | jA i + Nl2 P a<br />
6V<br />
a 2 d 3 xπφ+ 6Nl2<br />
V<br />
a 3<br />
∫<br />
− 3l2 N<br />
− N a<br />
a 3<br />
∫<br />
d 3 x π2<br />
− Na ∫<br />
γ 1 2 4l 2<br />
d 3 xπ i χA i − Na ∫<br />
6l 2<br />
d 3 xγ 1 2 A<br />
i |i A j | j− N a<br />
d 3 xγ 1 2<br />
− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 4 ǫ |iǫ |i )<br />
+ Na 3 ρ 0<br />
∫<br />
+Na 3 λρ 0<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2( 1<br />
2 ǫφ−φχi |i<br />
d 3 x πi j π i j<br />
γ 1 2<br />
(5.5)<br />
∫ ∫<br />
d 3 xπA i N<br />
|i+<br />
2a 5 (λ+1)ρ 0<br />
(<br />
A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j<br />
d 3 xγ 2<br />
1<br />
)+ 1 ∫<br />
2 Na3 λ(λ+1)ρ 0<br />
(<br />
− 1 2 φ2 + 1 )<br />
2 Ai A i −φχ i |i<br />
d 3 x πi χπ χ i<br />
γ 1 2<br />
d 3 xγ 2( 1 1<br />
)<br />
4 ǫ2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i,<br />
que é exatamente a hamiltoniana obtida <strong>de</strong> (3.32), somada dos termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
zero.<br />
Deve ser reforçado o ponto <strong>de</strong> que <strong>em</strong> momento algum na discussão acima se<br />
usou nenhuma equação <strong>de</strong> movimento da or<strong>de</strong>m zero. O fato <strong>de</strong> na construção <strong>de</strong><br />
(5.4) termos nos inspirado na forma do termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total (3.33) que surge no<br />
procedimento padrão nada t<strong>em</strong> a ver com efetivamente usar as equações <strong>de</strong> fundo.<br />
De fato, po<strong>de</strong>ríamos simplesmente propor o geradorF 1 , s<strong>em</strong> justificá-lo por nenhum<br />
princípio, e a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> (5.3) para (5.6) seria igualmente feita, claramente<br />
s<strong>em</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r das equações clássicas. Se optamos por apresentar a discussão sobre<br />
a orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste gerador foi por consi<strong>de</strong>rarmos mais elegante e elucidativo que<br />
assim fosse feito.<br />
Deve estar claro então que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da dinâmica dos graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero, a lagrangiana (3.32) é válida pois s<strong>em</strong>pre po<strong>de</strong>mos efetuar<br />
uma transformação <strong>de</strong> Legendre inversa a partir <strong>de</strong> (5.6) obtendo-a como lagrangiana.<br />
A lagrangiana (3.32) é tradicionalmente mais simplificada ainda pelo uso da<br />
equação (3.5) , que a leva a (3.34). No nosso caso, um resultado s<strong>em</strong>elhante po<strong>de</strong><br />
ser obtido pela re<strong>de</strong>finição da função lapso<br />
[<br />
N= Ñ 1+ 1 ∫ )]<br />
d 3 xγ 2<br />
(ǫφ+φ 1 2 − A i A i<br />
2V<br />
69<br />
(5.6)
que aplicada <strong>em</strong> (3.32), somada aos termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero, a leva a assumir exatamente<br />
a forma (3.34), adicionada dos mesmos termos.<br />
Note que tal re<strong>de</strong>finição não possui nenhum significado físico, uma vez que N é<br />
um multiplicador <strong>de</strong> Lagrange livre da teoria. Assim nós v<strong>em</strong>os que a lagrangiana<br />
(3.34) é fisicamente indistinguível da lagrangiana (3.32), in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da<br />
valida<strong>de</strong> das equações <strong>de</strong> movimento clássicas da or<strong>de</strong>m zero.<br />
Se agora <strong>de</strong>compusermos as perturbações <strong>em</strong> modos tensoriais, vetoriais e escalares,<br />
da mesma forma feita anteriormente, novamente a lagrangiana (3.34) se<br />
<strong>de</strong>sacoplará <strong>em</strong> 3 setores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes nas perturbações, além, naturalmente, dos<br />
termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero.<br />
No setor tensorial a lagrangiana será<br />
∫<br />
L (T) = L T = a3<br />
24l 2 N<br />
d 3 xγ 1 2 ẇi jẇ i j − Na<br />
24l 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2 w<br />
i j|k w i j|k (5.7)<br />
exatamente a obtida na abordag<strong>em</strong> padrão da teoria <strong>de</strong> perturbações cosmológicas,<br />
reobtida aqui s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> do uso das equações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero.<br />
A hamiltoniana associada à lagrangiana (5.7) será [79]<br />
H T = 6l2 N<br />
a 3<br />
∫<br />
d 3 x πi j π i j<br />
γ 1 2<br />
+ Na<br />
24l 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2 w<br />
i j|k w i j|k<br />
on<strong>de</strong>π i j é o momento canonicamente associado a w i j . Voltar<strong>em</strong>os a analisar essa<br />
hamiltoniana no momento oportuno. No prosseguimento <strong>de</strong> nossa discussão, não<br />
vamos analisar as perturbações vetoriais pois o tratamento utilizado no capítulo<br />
3 para estas variáveis era totalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das equações <strong>de</strong> movimento<br />
clássicas. Os resultados obtidos naquele caso permanec<strong>em</strong> então válidos.<br />
Vejamos agora o que acontece no setor escalar das perturbações. A lagrangiana<br />
aqui, adicionada aos termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero 3 será dada, após algumas integrais por<br />
partes, por<br />
L E =−ȧ2 aV<br />
l 2 N − Na3 ρ 0 V+ Na<br />
3l 2 ∫<br />
− a3<br />
Nl 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2<br />
+ Na3 (λ+1)ρ 0<br />
2λ<br />
(<br />
˙ψ+ ȧ<br />
∫<br />
) 2−<br />
a φ Na 3 λ(λ+1)ρ 0<br />
2<br />
d 3 γ 2 1 φ 2 + 1 ∫<br />
2 Na3 (λ+1)ρ 0<br />
∫ (<br />
d 3 xγ 2<br />
(ψ 1 i ψ i − 2φ i ψ i<br />
)− 2a2<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ȧ )<br />
˙ψ+<br />
a φ ∫<br />
d 3 xγ 2<br />
(3ψ− 1 E i i−ξ i i+ 1 ) 2<br />
λ φ<br />
d 3 xγ 1 2<br />
( a<br />
N ˙ξ i + B i )( a<br />
N ˙ξ i + B i<br />
)<br />
on<strong>de</strong> F=: B−aĖ/N, como antes. Vamos <strong>de</strong>finir a variável invariante <strong>de</strong> calibre<br />
3 Como nos termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2 aparec<strong>em</strong> <strong>de</strong>rivadas do fator <strong>de</strong> escala a, o momentum que lhe<br />
é canonicamente conjugado será modificado pela presença das perturbações escalares, sendo então<br />
obrigatório consi<strong>de</strong>rarmos as or<strong>de</strong>ns zero e dois simultaneamente quando estamos falando das perturbações<br />
escalares.<br />
F i i<br />
70
ξ (ic) =ξ+E. Em termos <strong>de</strong>sta variável, a lagrangiana escalar se torna<br />
L E =−ȧ2 aV<br />
l 2 N − Na3 ρ 0 V+ Na ∫ ∫<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
(ψ 1 i ψ i − 2φ i ψ i<br />
)− 2a2<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1<br />
∫<br />
− Na3 λ(λ+1)ρ<br />
(<br />
0<br />
d 3 xγ 2<br />
1 3ψ−ξ (ic) i i+ 1 ) 2+<br />
2 λ φ Na 3 ∫<br />
(λ+1)ρ 0<br />
d 3 γ 1 2 φ<br />
2<br />
2λ<br />
+ 1 ∫ (<br />
2 Na3 (λ+1)ρ 0 d 3 xγ 2<br />
1 a<br />
N ˙ξ<br />
)( a<br />
) ∫<br />
(ic) i + F i (ic) ˙ξ<br />
N<br />
i<br />
+ F i − a3<br />
Nl 2 d 3 xγ 2<br />
1<br />
(<br />
˙ψ+ ȧ<br />
a φ )<br />
F i i<br />
(<br />
˙ψ+ ȧ<br />
a φ ) 2.<br />
Como as perturbações escalares <strong>de</strong>slocam as partículas do fluido ao longo do<br />
vetor irrotacionalξ |i , po<strong>de</strong>mos encarar a quantida<strong>de</strong> ˙ξ |i como a velocida<strong>de</strong>, irrotacional,<br />
das partículas do fluido <strong>em</strong> relação às suas posições não perturbadas. O fato<br />
<strong>de</strong>ssa velocida<strong>de</strong> ser irrotacional nos permite <strong>de</strong>finir um potencial velocida<strong>de</strong>, que<br />
tomar<strong>em</strong>os como sendo<br />
√ √ 6la<br />
2<br />
(λ+1)ρ<br />
( 0 a<br />
ϕ= √<br />
λ N ˙ξ<br />
)<br />
(ic) + F<br />
(5.8)<br />
<strong>de</strong> acordo com a literatura [34]. Com essa <strong>de</strong>finição a lagrangiana assume a forma<br />
L E = Na ∫ ∫ (<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
(ψ 1 i ψ i − 2φ i ψ i<br />
)− 2a2<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ˙ψ+ ȧ ) ∫ (<br />
a φ F i i− a3<br />
Nl 2 d 3 xγ 2<br />
1 ˙ψ+ ȧ ) 2<br />
a φ ∫<br />
− Na3 (λ+1)ρ<br />
[ ( )<br />
0<br />
2+ ( )]<br />
d 3 xγ 2<br />
1 λ 3ψ−ξ (ic) i i 2φ 3ψ−ξ (ic) i i + Nλ ∫<br />
2<br />
12l 2 d 3 xγ 2 1 ϕ i ϕ i<br />
a<br />
e, por causa <strong>de</strong>ssa mesma <strong>de</strong>finição somos agora obrigados a utilizar o formalismo<br />
<strong>de</strong> Ostrogradski na construção da hamiltoniana.<br />
T<strong>em</strong>os então como momenta<br />
P a =− 2ȧaV<br />
Nl 2<br />
P N = 0<br />
P µ = 0<br />
π φ = 0<br />
π F = 0<br />
π ϕ = 0<br />
− 4a<br />
6l 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2 φF<br />
i i − 2ȧa<br />
Nl 2 ∫<br />
π ψ =− 4a2<br />
6l 2γ 1 2 F<br />
i i − 2a3<br />
Nl 2γ 1 2 ˙ψ− 2a2 ȧ<br />
Nl 2γ 1 2 φ<br />
Note o aparecimento dos vínculos<br />
φ 1 = P N<br />
φ 2 =π F<br />
φ 3 =π φ<br />
φ 7 =π ϕ<br />
φ 9 = P µ<br />
d 3 xγ 1 2 φ 2 − 2a2<br />
Nl 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2 φ ˙ψ<br />
71
A hamiltoniana já acrescida dos multiplicadores <strong>de</strong> Lagrange será<br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P T (λ+1)P ∫ [ ( )<br />
a 3λ+ T<br />
2+ ( )]<br />
2a 3λ d 3 xγ 2<br />
1 λ 3ψ−ξ (ic) i i 2φ 3ψ−ξ (ic) i i<br />
V<br />
∫<br />
+ l2 P a<br />
2a 2 d 3 xφπ ψ + 1 ∫ ( √ √<br />
V λ<br />
)<br />
d 3 xπ ξ √ √ a − 2 1 (1−3λ) ϕ− F<br />
V<br />
a<br />
6l (λ+1)PT<br />
− a ∫ (<br />
l 2 d 3 xγ 2<br />
1 l 2<br />
π<br />
2a 2 γ 2<br />
1 ψ + 1 ) 2+ ∫<br />
λ<br />
3 Fi i<br />
12l 2 d 3 xγ 2 1 ϕϕ<br />
i i + a ∫ ( )<br />
a<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ψ−2φψ i i<br />
∫ ∫ ∫<br />
+Λ N P N +Λ µ P µ + d 3 xΛ φ π φ + d 3 xΛ F π F + d 3 xΛ ϕ π ϕ<br />
}.<br />
A conservação dos vínculos primários da teoria leva aos seguintes vínculos secundários<br />
(5.9)<br />
φ 4 = H N =: H 0<br />
φ 5 = 1 a π ξ+ 2a (<br />
1 l 2<br />
3l 2γ 2 π<br />
2a 2 γ 1 ψ + 1 j<br />
i)<br />
2 3 Fi j<br />
(<br />
3ψ−ξ (ic) i i<br />
φ 6 =− (λ+1)P T<br />
a 3λ V γ 2<br />
1<br />
φ 8 = 1 a<br />
)<br />
− l2 P a<br />
2a 2 V π ψ+ 2a<br />
3l 2γ 1 2 ψ<br />
i i<br />
√<br />
V<br />
√<br />
6l<br />
√ (λ+1)PT<br />
a − 1 2 (1−3λ) π ξ + λ<br />
6l 2 a γ 1 2 ϕ<br />
i i .<br />
A conservação <strong>de</strong>φ 5 eφ 8 leva à fixação dos multiplicadores <strong>de</strong> LagrangeΛ F eΛ ϕ<br />
(este último não nos será necessário)<br />
aΛ F =ψ−φ+ l2 P a<br />
aV F.<br />
As expressões obtidas das conservações dos vínculosφ 4 eφ 6 são i<strong>de</strong>nticamente<br />
satisfeitas (este último produz, após uma simples manipulação algébrica, uma expressão<br />
que é proporcional ao termo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero da hamiltoniana e, nessa or<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong> aproximação, esse termo é fracamente zero). Assim, não há o aparecimento <strong>de</strong><br />
novos vínculos na teoria.<br />
Comoλ F = Ḟ/N t<strong>em</strong>os<br />
a<br />
2ȧ<br />
Ḟ=ψ−φ−<br />
N N F.<br />
Esta expressão, escrita <strong>em</strong> termos dos potenciais <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>en leva ao conhecido<br />
resultado [34, 62]<br />
Φ=Ψ.<br />
Observamos também o fato <strong>de</strong> que os multiplicadores <strong>de</strong> Lagrangeλ N ,λ φ eλ µ<br />
não foram <strong>de</strong>terminados, apontando para a existência <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> calibre no<br />
72
setor das perturbações escalares e no fundo. De fato, nós sab<strong>em</strong>os que as variáveis<br />
utilizadas até esse momento não são invariantes <strong>de</strong> calibre, portanto a existência <strong>de</strong><br />
multiplicadores <strong>de</strong> Lagrange não <strong>de</strong>terminados já era esperada. De nossa discussão<br />
no capítulo 2 <strong>de</strong>ve estar claro que a teoria <strong>em</strong> estudo apresenta vínculos <strong>de</strong> primeira<br />
e <strong>de</strong> segunda classe. Concretamente, calculando os parênteses <strong>de</strong> Poisson entre os<br />
vínculos obt<strong>em</strong>os<br />
{φ 2 ,φ 5 }=− 2a 1 9l 2γ 2 δ<br />
i i<br />
√<br />
λ<br />
{φ 7 ,φ 8 }=−<br />
6l 2 a γ 2 1 δ<br />
i i<br />
{φ 6 ,φ 5 }= 2 1 9l 2γ 2 δ<br />
i j i j<br />
√ (λ+1)PT<br />
{φ 6 ,φ 8 }= √ √ a − 2 3 (1+λ) γ 2 1 δ<br />
i i<br />
6l V<br />
sendoδ i i o laplaciano da <strong>de</strong>lta <strong>de</strong> Dirac. E teríamosφ 1 ,φ 3 ,φ 9 eφ 4 como vínculos<br />
<strong>de</strong> primeira classe eφ 2 ,φ 5 ,φ 6 ,φ 7 eφ 8 como vínculos <strong>de</strong> segunda classe. A<br />
existência <strong>de</strong> um número ímpar <strong>de</strong> vínculos <strong>de</strong> segunda classe é indicadora <strong>de</strong> que<br />
na realida<strong>de</strong> há alguma combinação linear <strong>de</strong>stes vínculos que irá produzir pelo<br />
menos um novo vínculo <strong>de</strong> primeira classe. De fato, se <strong>de</strong>finirmos o vínculo<br />
¯ φ 6 =φ 6 + 1 a φ 2+<br />
√ (λ+1)PT<br />
√<br />
6l<br />
√<br />
λ<br />
√<br />
V<br />
a − 1 2 (1+3λ) φ 7 ,<br />
ter<strong>em</strong>os que o seu parêntese <strong>de</strong> Poisson com todos os outros vínculos é fracamente<br />
zero, sendo o mesmo então <strong>de</strong> primeira classe. Em resumo os vínculos <strong>de</strong> primeira<br />
classe <strong>de</strong> nossa teoria sãoφ 1 ,φ 3 , ¯φ 6 ,φ 9 eφ 4 , e os <strong>de</strong> segunda classe sãoφ 2 ,φ 5 ,φ 7<br />
eφ 8 .<br />
No capítulo 2, <strong>em</strong> nossa análise <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as vinculados, havíamos mostrado<br />
que os vínculos primários e secundários <strong>de</strong> primeira classe são geradores <strong>de</strong> transformações<br />
<strong>de</strong> calibre da teoria. Na teoria ora <strong>de</strong>senvolvida, isso é verificado,<br />
pois po<strong>de</strong>-se mostrar por cálculo direto que o parêntese <strong>de</strong> Poisson do vínculo<br />
secundário <strong>de</strong> primeira classe ¯φ 6 com as quantida<strong>de</strong>sψ,ϕeFgera as transformações<br />
<strong>de</strong> calibre corretas para essas quantida<strong>de</strong>s, enquanto o vínculoφ 3 gera a<br />
transformação <strong>de</strong>φ.<br />
É interessante nesse ponto fazermos uma análise do número <strong>de</strong> graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sta teoria. Em princípio, contando apenas os graus perturbativos escalares,<br />
teríamos um total <strong>de</strong> 10 variáveis canônicas (as 5 variáveis,φ,ψ, F,ξeϕeseus respectivos<br />
momenta). No entanto t<strong>em</strong>os 4 vínculos <strong>de</strong> segunda classe e 2 <strong>de</strong> primeira<br />
no setor das perturbações (φ 3 eφ 6 ). Como se sabe, cada vínculo <strong>de</strong> segunda classe<br />
reduz uma variável canônica da teoria, enquanto cada vínculo <strong>de</strong> primeira classe<br />
reduz 2 variáveis. Como resultado então nossa teoria <strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r ser escrita <strong>em</strong><br />
termos <strong>de</strong> apenas uma variável perturbativa (e seu momentum). Naturalmente, tal<br />
variável <strong>de</strong>ve ser invariante <strong>de</strong> calibre, para que a teoria como um todo tenha significado<br />
físico. Se <strong>de</strong>nominarmos tal variável <strong>de</strong> v, a forma mais geral para uma<br />
73
lagrangiana quadrática <strong>em</strong> v que não contenha termos com <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> v maiores<br />
que a primeira (condições satisfeitas para todas as variáveis perturbativas <strong>em</strong> nossas<br />
lagrangianas), será<br />
∫<br />
L=<br />
d 3 xγ 1 2<br />
[ ]<br />
α 1˙v 2 +α 2 v i v i +α 3 v 2 +α 4˙vv<br />
on<strong>de</strong>α 1 ,α 2 ,α 3 ,α 4 são funções das quantida<strong>de</strong>s do fundo. O último termo po<strong>de</strong><br />
ser eliminado por integração por partes, restando apenas os 3 primeiros. A hamiltoniana<br />
associada a uma tal lagrangiana é da forma<br />
∫<br />
H=<br />
d 3 π<br />
x<br />
[β 2<br />
1<br />
γ 1 2<br />
+γ 1 2<br />
(β 2 v i v i +β 3 v 2 )]<br />
(5.10)<br />
on<strong>de</strong>β 1 ,β 2 eβ 3 são novas funções do fundo. O processo padrão <strong>de</strong> tratamento<br />
<strong>de</strong> perturbações cosmológicas consegue, usando as equações clássicas do fundo,<br />
obter a forma acima comβ 1 =β 2 = 1 2<br />
(no calibre N= a). Vamos mostrar a partir<br />
<strong>de</strong> agora que o mesmo po<strong>de</strong> ser feito s<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong> tais equações.<br />
Começamos calculando os parênteses <strong>de</strong> Dirac <strong>de</strong>ssa teoria.<br />
√ √<br />
6l V<br />
{ξ (ic) i i,ϕ} D =−√ √ a − 1<br />
λ (λ+1)PT γ 2<br />
1 2 (1−3λ) δ<br />
{P a ,ϕ} D = 1 ( )<br />
1−3λϕ.<br />
2a<br />
Os outros parênteses que não estão relacionados aos acima por simetrias, ou são<br />
canônicos ou são irrelevantes para nossa discussão. Se agora <strong>de</strong>finirmos as variáveis<br />
ϕ (c) =: a 2 1 (1−3λ) ϕ<br />
√ √ λ (λ+1)PT<br />
( )<br />
π ϕ (c) =:− √ √ γ 2<br />
1 3ψ−ξ (ic) i i<br />
6l V<br />
π ψ (c) =π ψ − 3√ λ √ (λ+1)P T<br />
√<br />
6l<br />
√<br />
V<br />
γ 1 2 ϕ(c) , (5.11)<br />
construídas <strong>de</strong> forma que seus parênteses <strong>de</strong> Dirac sejam canônicos, então ter<strong>em</strong>os<br />
para a hamiltoniana<br />
[<br />
H=N− l2 P 2 a<br />
4aV + P ∫<br />
T<br />
a 3λ+3l2 a ∫<br />
− 3λ(λ+1)P T<br />
8a 3 V<br />
+ a<br />
3l 2 ∫<br />
d 3 x π2 ϕ (c)<br />
−<br />
γ 1 2<br />
∫<br />
λ<br />
12l 2 a (2−3λ)<br />
d 3 xγ 1 2 ϕ(c) ϕ i (c) i<br />
√ √<br />
d 3 xγ 2 1 ϕ<br />
2 λ 3 l √ ∫<br />
(λ+1)P T<br />
(c)<br />
−<br />
2 2 a 3√ d 3 xϕ (c) π ψ (c)<br />
∫<br />
V<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 ψψ<br />
i i<br />
]− N d 3 xφφ 6 +Λ N P N +Λ µ P µ + d 3 xΛ φ π φ<br />
74
on<strong>de</strong> já estamos consi<strong>de</strong>rando os vínculos <strong>de</strong> segunda classe como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. O<br />
vínculoφ 6 <strong>em</strong> termos <strong>de</strong>stas variáveis será<br />
φ 6 =−<br />
− 2a<br />
3l 2γ 1 2 ψ<br />
i i .<br />
√<br />
6l<br />
√ (λ+1)PT<br />
√<br />
λ<br />
√<br />
V<br />
a −3λ π ϕ (c) + l2 P a<br />
2a 2 V π ψ (c)+ 3√ √<br />
λlP a (λ+1)PT<br />
2 √ γ 1<br />
6a 2 V 2<br />
3 2 ϕ(c)<br />
Dos vínculos <strong>de</strong> segunda classe po<strong>de</strong>mos obter a seguinte i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
l 2<br />
π<br />
2a 2 γ 2<br />
1 ψ (c) + 1 3 Fi i= 0<br />
Se agora fizermos uma transformação canônica tendo como gerador<br />
∫<br />
F 1 = aP˜<br />
a +<br />
− γ 2<br />
1 ]<br />
2 αϕ ¯ (c) 2<br />
cuja forma explícita é<br />
[ 1<br />
d 3 x √6l a − 2 1 (1−3λ) ϕ ¯ (c) π+ψπ˜<br />
ψ + 2√ V √ (λ+1)P T<br />
l 2 P ˜ √ a 2 3 (1−λ) ψπ<br />
a λ<br />
[<br />
a=ã 1+ 2√ √ ∫<br />
(λ+1)P T V<br />
l 2 ˜P √ ã 1 2 2 (1−3λ)<br />
a λ<br />
− 2√ 6 √ √<br />
(λ+1)P T V<br />
) 2 ]<br />
√ ã 2−3λ ˜ψ<br />
l ˜P a λ<br />
P a = ˜P a − (1−3λ) ∫<br />
2 √ ã − 2 3 (1−λ)<br />
6l<br />
+ 3(1−λ)√ √ ∫<br />
(λ+1)P T V<br />
l 2 ˜P √ ã 2 1 (1−3λ)<br />
a λ<br />
− 2√ 6 √ (λ+1)P T<br />
√<br />
V<br />
l ˜P a<br />
√<br />
λ<br />
ã 2−3λ ˜ψ<br />
π ϕ (c) = ã− 1 2 (1−3λ)<br />
√<br />
6l<br />
) 2<br />
d 3 x ˜ψπ+ 1 ∫<br />
∂α<br />
2ã∂ ˜P a<br />
(5.12)<br />
d 3 xγ 1 2( √6lã 1<br />
2 (1−3λ) v<br />
)<br />
√ ã 2−3λ ˜ψ π<br />
l ˜P a λ<br />
( √6lã<br />
d 3 1<br />
x<br />
(1−3λ) 2 v− 2√ 6 √ √<br />
(λ+1)P T V<br />
d 3 x ˜ψπ− 1 ∫<br />
∂α<br />
2∂a<br />
d 3 xγ 1 2( √6lã 1<br />
2 (1−3λ) v<br />
π−α √ 6lã 2 1 (1−3λ) γ 2 1 2α √ 6 √ √<br />
(λ+1)P T V<br />
v+ √ ã 2−3λ γ 1 2 ˜ψ<br />
l ˜P a λ<br />
ϕ (c) = √ 6lã 1 2 (1−3λ) v− 2√ 6 √ (λ+1)P T<br />
√<br />
V<br />
l ˜P a<br />
√<br />
λ<br />
ã 2−3λ ˜ψ<br />
π ψ (c) = ˜π ψ + 2√ (λ+1)P T<br />
√<br />
V<br />
l 2 ˜P a<br />
√<br />
λ<br />
ã 3 2 (1−λ) π<br />
75
então a hamiltoniana será levada <strong>em</strong><br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P T 1 ∫<br />
a 3λ+ d 3 x π2<br />
2a γ 1 2<br />
+ λ 2a<br />
( l<br />
+18l 4 α 2 a 1−6λ + 6l 2 a 1−3λ 2 P a ∂α<br />
4aV∂a + l2 P 2 a<br />
8a 2 V<br />
+ 2√ λ √ V √ ∫<br />
(λ+1)P T<br />
a 1 2 (1−3λ)<br />
l 2 P a<br />
∫ {[ 72α<br />
+ d 3 2 (λ+1)P T V<br />
xψ<br />
P 2 aλ<br />
+ l2 P 2 a ∂α<br />
8a 2 − 3λP T ∂α<br />
)<br />
V∂ ˜P a 2a 1+3λ ∂ ˜P a<br />
[<br />
+ − 3(1−2λ)√ (λ+1)P T<br />
2 √ λ √ V<br />
+ 6√ √<br />
V[(λ+1)P T ] 2<br />
3 λ<br />
l 2 P 2 a<br />
∫<br />
∂α<br />
− 3λP T<br />
∂ ˜P a<br />
√<br />
d 3 xγ 2 1 λ vψ i i−<br />
2<br />
[<br />
d 3 xγ 2 1 v i v i + − 9l2 λ(λ+1)P T<br />
a −(2+3λ)<br />
4V<br />
∂α<br />
)]∫<br />
2a 1+3λ d<br />
∂ ˜P 3 xγ 2 1 v<br />
2<br />
a<br />
3l 2√ (λ+1)P T<br />
√<br />
V<br />
a 4−9λ + 24(λ+1)P T V<br />
( l<br />
l 2 P 2 a 2(2−3λ) 2 P a ∂α<br />
aλ<br />
4aV∂a<br />
− 9[(λ+1)P T ] 2<br />
l 2 P 2 a<br />
]γ 1−6λ 2 1 ψ<br />
a<br />
a − 1 2 (1+3λ) − 6√ λ √ V √ (λ+1)P T P T<br />
l 2 P 2 a<br />
a 1 2 (1−9λ) + 12α√ V √ (λ+1)P T<br />
P a<br />
√<br />
λ<br />
a 3 2 (1−3λ) ]<br />
π<br />
a 1 2 (1−9λ)<br />
[<br />
+ − 72l2 α 2√ √<br />
(λ+1)P T V<br />
√ a 2 5 (1−3λ) + 9√ λ[(λ+1)P T ] 2<br />
3<br />
√ a − 2 1 (1+9λ)<br />
P a λ VPa<br />
− 24√ √<br />
(λ+1)P T V<br />
(<br />
√ a 1 l<br />
2 (5−9λ) 2 P a ∂α<br />
P a λ 4aV∂a + l2 P 2 a ∂α<br />
8a 2 − 3λP T ∂α<br />
)]<br />
V∂ ˜P a 2a 1+3λ γ 2 1 v<br />
∂ ˜P a<br />
[ a<br />
+<br />
2(λ+1)P 3l 2− T V<br />
l 4 P 2 a<br />
− 6l2 α<br />
a 2−3λ ]<br />
γ 1 2 ψ<br />
i i + 3(λ+1)P T<br />
P a<br />
a −(1+3λ) π ψ<br />
}<br />
[<br />
+<br />
a 3λ − 3(λ+1)P T<br />
a −(1+3λ) + (1−3λ)l2 P a<br />
P<br />
∫ ∫ a<br />
4a 2 V<br />
−N d 3 xφφ 6 + d 3 xλ φ π φ +λ N P N +λ µ P µ .<br />
]∫<br />
}<br />
d 3 xvπ<br />
a − 1 2 (5+3λ) ∫<br />
Nas expressões acima,αéuma função <strong>de</strong> a, P a e P T ainda in<strong>de</strong>terminada. Po<strong>de</strong>mos<br />
então usá-la <strong>de</strong> forma a anular o termo <strong>em</strong> vπ. Escolhendoαcomo<br />
α=− (λ+1)P T<br />
2l 2 ˜ P a a<br />
+ (1−3λ) ˜<br />
24V<br />
P a<br />
a −(2−3λ)<br />
d 3 xvπ ψ<br />
76
a hamiltoniana se torna<br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P T 1<br />
a 3λ+ 2a<br />
− 9λ[(λ+1)P T ]P T<br />
2P 2 a<br />
∫<br />
d 3 x π2<br />
γ 1 2<br />
+ λ 2a<br />
∫<br />
[<br />
d 3 xγ 2 1 v i 9[(λ+1)PT ] 2<br />
v i +<br />
2P 2 a<br />
a −(1+6λ) + (−4+18λ−18λ2 )l 4 P 2 a<br />
64a 3 V 2 + 6l2 (1+3λ 2 )P T<br />
16V<br />
+ 2√ λ √ V √ ∫ √<br />
(λ+1)P T<br />
l 2 a 1 2 (1−3λ) d 3 xγ 1 λ<br />
2 vψ i 3l 2√ (λ+1)P T<br />
i− √<br />
P a<br />
2 V<br />
∫ {[<br />
+ d 3 18[(λ+1)PT ] 3 V<br />
xψ<br />
l 4 P 4 a (2−9λ) − 18[(λ+1)P T ] 2 P T V<br />
aλ<br />
l 4 P 4 a<br />
+ (−2+9λ−9λ2 )[(λ+1)P T ]<br />
a −3λ + 3(3+2λ+3λ2 )[(λ+1)P T ]P T<br />
8λV<br />
2l 2 P 2 aλ<br />
[ √ (−2+3λ) (λ+1)PT<br />
+<br />
2 √ λ √ V<br />
+<br />
[− 18[(λ+1)P √<br />
T ] 2<br />
5 V<br />
l 2 P 3 a<br />
a − 1 2 (1+3λ) − 6λ√ V √ (λ+1)P T P T<br />
√ a<br />
l 2 P 2 2<br />
]π<br />
1 (1−9λ)<br />
a λ<br />
√<br />
λ<br />
a 1 2 (1−15λ) + 18λ[(λ+1)P T ] 3 2 P T<br />
√<br />
V<br />
l 2 P 3 a<br />
+ (2−9λ+9λ2 )l 2 √<br />
P a (λ+1)PT<br />
√<br />
8V 3 2 λ<br />
[ a<br />
+<br />
2(λ+1)P 3l 2− T V<br />
]<br />
l 4 P 2 a 2−3λ γ 2 1 ψ<br />
i i + 3(λ+1)P }}<br />
T<br />
a −(1+3λ) π ψ<br />
a<br />
P a<br />
∫ ∫<br />
−N d 3 xφφ 6 + d 3 xλ φ π φ +λ N P N +λ µ P µ .<br />
a −(1+6λ)<br />
a −(2+3λ) ]∫<br />
a − 1 2 (5+3λ) ∫<br />
d 3 xvπ ψ<br />
d 3 xγ 1 2 v<br />
2<br />
a (2−9λ) − 3[(λ+1)P T ] 2<br />
l 2 P 2 a (1−6λ)<br />
aλ<br />
a (1−6λ) ]γ 1 2 ψ<br />
√ a 1 2 (1−15λ) + 3[(λ+1)P T ] 2<br />
3<br />
√ √<br />
λ λ VPa<br />
a − 2 3 (1+λ) − 3(3+2λ+3λ2 ) √ (λ+1)P T P<br />
]<br />
T<br />
2 √ λ √ a − 1 2 (1+9λ) γ 2 1 v<br />
VP a<br />
a − 1 2 (1+9λ)<br />
É trivial verificar que a variável v introduzida por esta transformação canônica<br />
correspon<strong>de</strong> exatamente ao potencial <strong>de</strong> Mukhanov-Sasaki [34].<br />
Sob esta transformação canônica o vínculoφ 6 é levado a<br />
φ 6 = l2 P a<br />
2a 2 V π ψ+<br />
( 6[(λ+1)PT ] 2<br />
+<br />
λP 2 al 2<br />
(− 3[(λ+1)P T ] 3 2<br />
√<br />
λ<br />
√<br />
VPa<br />
a (1−6λ) − (1+3λ)(λ+1)P T<br />
2l 2 Vλ<br />
√<br />
a − 2 1 (1+9λ) + l2 (1+3λ)P a (λ+1)PT<br />
√ a − 3<br />
4V 3 2<br />
)γ (1+λ) 2 1 v<br />
2 λ<br />
a −3λ )<br />
γ 1 2 ψ−<br />
2a<br />
3l 2γ 1 2 ψ<br />
i i .<br />
Não é difícil verificar com os el<strong>em</strong>entos apresentados que a variável v é invariante<br />
<strong>de</strong> calibre (como esperado): os seus parênteses <strong>de</strong> Dirac (que são iguais aos<br />
parênteses <strong>de</strong> Poisson) com os vínculos <strong>de</strong> primeira classe são fracamente nulos.<br />
O mesmo no entanto não po<strong>de</strong> ser dito <strong>de</strong> seu momentum canônicoπ. Essa situação<br />
é in<strong>de</strong>sejável pois se estamos interessados <strong>em</strong> obter uma hamiltoniana com<br />
a forma (5.10), o momentum associado a v t<strong>em</strong> que ser linear e homogêneo <strong>em</strong> ˙v,<br />
logo invariante <strong>de</strong> calibre.<br />
Para obtermos uma variável que faça o papel <strong>de</strong> um momentum canônico a v e<br />
que seja invariante <strong>de</strong> calibre, efetuamos uma segunda transformação canônica no<br />
77
setor escalar 4 , gerada por<br />
∫<br />
F 2 = aP˜<br />
a +<br />
− (1+3λ)√ (λ+1)P T<br />
2 √ λ √ V<br />
+ (1+3λ)(λ+1)P T<br />
2l 2 P ˜ a λ<br />
cuja forma explícita será<br />
{<br />
d 3 xψπ˜<br />
ψ + v˜π+ 2a3 Vγ 2<br />
1<br />
3l 4 P ˜ ψψ i i+<br />
a<br />
[ 6<br />
√<br />
V[(λ+1)PT ] 3 2<br />
l 2 ˜ P a<br />
2 √ λ<br />
] [<br />
a 1 2 (1−3λ) γ 2 1 vψ+ − 6V[(λ+1)P T ] 2<br />
l 4 P ˜ a 3(1−2λ)<br />
3<br />
aλ ] }<br />
a 2−3λ γ 2 1 ψ<br />
2<br />
a 3 2 (1−3λ)<br />
(5.13)<br />
a=ã<br />
{1+ 12√ V[(λ+1)P T ] 2<br />
3 ∫<br />
l 2 ˜P √ ã 1 3 2 (1−9λ) d 3 xγ 2 1 v ˜ψ+<br />
[− 18V[(λ+1)P T ] 2<br />
a λ l 4 ˜P 4 ã 2−6λ<br />
aλ<br />
+ (1+3λ)(λ+1)P ]∫ ∫<br />
T<br />
2l 2 ˜P 2 ã 1−3λ d 3 xγ 2 1 ψ 2 + 2ã2 V<br />
}<br />
aλ<br />
3l 4 ˜P 2 d 3 xγ 2 1 ˜ψ ˜ψ i i<br />
a<br />
[ √<br />
9(1−3λ) V[(λ+1)PT ] 2<br />
3<br />
P a = ˜P a +<br />
l 2 ˜P √ ã 2 2 1 (1−9λ) − (1−9λ2 ) √ (λ+1)P<br />
]∫<br />
T<br />
a λ<br />
4 √ λ √ ã − 2 1 (1+3λ)<br />
V<br />
+<br />
[− 18V(1−2λ)[(λ+1)P T ] 2<br />
l 4 ˜P 3 ã 2−6λ + (2+3λ−9λ2 )(λ+1)P<br />
]∫<br />
T<br />
aλ<br />
2l 2 ˜P ã 1−3λ d 3 xγ 2 1 ˜ψ 2<br />
a λ<br />
∫<br />
+ 2ã2 V<br />
l 4 ˜P d 3 xγ 2 1 ˜ψ ˜ψ i i<br />
a<br />
d 3 xγ 1 2 ṽ ˜ψ<br />
[ √<br />
6 V[(λ+1)PT ] 2<br />
3<br />
π= ˜π+<br />
l 2 ˜P 2 a<br />
[ √<br />
6 V[(λ+1)PT ] 2<br />
3<br />
π ψ = π˜<br />
ψ +<br />
l 2 ˜P 2 a<br />
+<br />
[− 12V[(λ+1)P T ] 2<br />
l 4 ˜P 3 aλ<br />
+ 4ã3 V<br />
3l 4 ˜P a<br />
γ 1 2 ˜ψ i i.<br />
√<br />
λ<br />
ã 3 2 (1−3λ) − (1+3λ)√ (λ+1)P T<br />
2 √ λ √ V<br />
√<br />
λ<br />
ã 3 2 (1−3λ) − (1+3λ)√ (λ+1)P T<br />
2 √ λ √ V<br />
ã 3(1−2λ) + (1+3λ)(λ+1)P T<br />
l 2 ˜P a λ<br />
E agora t<strong>em</strong>os para os vínculos <strong>de</strong> primeira classe<br />
P N ≈ 0<br />
P µ ≈ 0<br />
π φ ≈ 0<br />
ã 2−3λ ]γ 1 2 ˜ψ<br />
ã 1 2 (1−3λ) ]γ 1 2 ˜ψ<br />
ã 1 2 (1−3λ) ]γ 1 2 ṽ<br />
e po<strong>de</strong>mos re<strong>de</strong>finirφ 6 como<br />
φ 6 = l2 P a<br />
2a 2 V π ψ≈ 0<br />
φ 6 =π ψ<br />
4 Na realida<strong>de</strong> essa transformação faz mais do que isso, como ver<strong>em</strong>os ao quantizar a teoria.<br />
78
Com isso a hamiltoniana será<br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P T 1 ∫<br />
a 3λ+ d 3 x π2<br />
+ λ ∫<br />
d 3 xγ<br />
2a γ 1 2 1 v i v i − (1−3λ)l2 P<br />
}<br />
T<br />
a −(2+3λ) v 2<br />
2 2a<br />
4V<br />
∫ ( √<br />
λ<br />
+ d 3 3l 2√ (λ+1)P T<br />
x−<br />
√ a − 2 1 (5+3λ) v+ 3(λ+1)P T<br />
a −(1+3λ) ψ− l2 P<br />
)<br />
a<br />
2 V<br />
P a<br />
2a 2 V φ π ψ<br />
∫ {<br />
+H (0)<br />
0<br />
d 3 x− 9(λ+1)P T<br />
l 2 P 2 a 1−3λ γ 2 1 ψ 2 + 6√ V √ (λ+1)P T<br />
√ a<br />
a<br />
l 2 P 2 2 1 (1−3λ) ψπ<br />
a λ<br />
[ √<br />
18[(λ+1)PT ] 2<br />
3 V<br />
+ √ a<br />
l 2 P 3 2 1 (1−9λ) − 3(1−3λ)√ (λ+1)P<br />
]<br />
T<br />
a λ 2 √ V √ a − 2 1 (1+3λ) γ 1 2 vψ<br />
λP a<br />
+ 2a2 V<br />
[<br />
l 4 P 2 ψψ i i+ − 9(1+2λ)(λ+1)P T<br />
a<br />
2P 2 a −(1+3λ) + (2−9λ+9λ2 )l 2 ] }<br />
a<br />
8Va 2 γ 1 2 v<br />
2<br />
∫<br />
+ d 3 xφπ φ +λ N P N +λ µ P µ (5.14)<br />
Vamos ainda fazer uma terceira transformação canônica cujo objetivo é eliminar<br />
o termo P T v 2 , o que vai trazer simplificações quando da quantização da teoria. O<br />
gerador <strong>de</strong>ssa transformação será<br />
F 3 = a ˜P a + 1 a<br />
∫<br />
∫<br />
d 3 xv˜π− l2 ˜P a<br />
4aV<br />
d 3 xγ 1 2 v<br />
2<br />
(5.15)<br />
e a forma explícita <strong>de</strong>la será<br />
∫<br />
a=ã+ l2 ã<br />
4V<br />
P a = ˜P a − 1 ∫<br />
ã<br />
π= 1 a ˜π− l2 ˜P a<br />
2V γ 1 2 ṽ<br />
v=aṽ.<br />
d 3 xγ 1 2 ṽ2<br />
d 3 xṽ˜π+ l2 ˜P a<br />
4V<br />
∫<br />
d 3 γ 1 2 ṽ2<br />
Note que com essa transformação, o v que usamos não mais coinci<strong>de</strong> com o v <strong>de</strong><br />
Mukhanov-Sasaki.<br />
79
Como consequência <strong>de</strong>ssa transformação, a hamiltoniana se torna<br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P T 1 ∫<br />
a 3λ+ 2a 3 d 3 x π2<br />
+ 1 ∫<br />
γ 2<br />
1 2 aλ d 3 xγ 2 1 v i v i<br />
∫ { √<br />
λ<br />
+ d 3 3l 2√ (λ+1)P T<br />
x−<br />
√ a − 2 3 (1+λ) v+ 3(λ+1)P T<br />
a −(1+3λ) ψ− l2 P<br />
}<br />
a<br />
2 V<br />
P a<br />
2a 2 V φ π ψ<br />
∫ {<br />
+H (0)<br />
0<br />
d 3 x− 9(λ+1)P T<br />
l 2 P 2 a 1−3λ γ 2 1 ψ 2 + 6√ V √ (λ+1)P T<br />
√ a −<br />
a<br />
l 2 P 2 2 1 (1+3λ) ψπ<br />
a λ<br />
+[ 18[(λ+1)P √<br />
T ] 2<br />
3 V<br />
√ a<br />
l 2 P 3 2 3 (1−3λ) + (9λ−1)√ (λ+1)P T<br />
a λ 2 √ V √ a 1 2 (1−3λ) ]γ 2 1 vψ<br />
λP a<br />
+ 2a2 V<br />
[<br />
l 4 P 2 ψψ i i+ − 9(1+2λ)(λ+1)P ] }}<br />
T<br />
a<br />
2P 2 a 1−3λ + 9λ(λ−1)l2 γ 2 1 v<br />
2<br />
a<br />
8V<br />
∫<br />
+ d 3 xλ φ π φ +λ N P N +λ µ P µ .<br />
Assim, mostra-se s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> que (5.16) é exatamente igual a<br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
∫<br />
+<br />
(5.16)<br />
4aV + P T 1 ∫ ∫ }<br />
a 3λ+ 2a 3 d 3 x π2<br />
+ aλ d 3 xγ 1<br />
γ 2<br />
1 2 v i v i + H (0)<br />
0 F(2)<br />
(<br />
d 3 x F (1) − Nl2 P<br />
)<br />
a<br />
4aV φ φ 6<br />
(5.17)<br />
on<strong>de</strong> F (1) e F (2) são termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 1 e 2 nas perturbações dados por<br />
F (1) =− N√ λ 3l 2√ (λ+1)P T<br />
√ a − 2 3 (1+λ) v+ 3N(λ+1)P T<br />
a −(1+3λ) ψ<br />
2 V<br />
P a<br />
F (2) =− 9(λ+1)P T<br />
l 2 P 2 a 1−3λ γ 2 1 ψ 2 + 6√ V √ (λ+1)P T<br />
√ a −<br />
a<br />
l 2 P 2 2 1 (1+3λ) ψπ<br />
a λ<br />
[ √<br />
18[(λ+1)PT ] 3 2 V<br />
+ √ a<br />
l 2 P 3 2 3 (1−3λ) + 9(λ−1)√ (λ+1)P<br />
]<br />
T<br />
a λ 2 √ V √ a 2 1 (1−3λ) γ 1 2 vψ<br />
λP a<br />
+ 2a2 V<br />
[<br />
l 4 P 2 ψψ ,i ,i+ − 9(1+2λ)[(λ+1)P ]<br />
T<br />
a<br />
2P 2 a 1−3λ + 9λ(λ−1)l2 v 2<br />
a<br />
8V<br />
Se agora re<strong>de</strong>finirmos a função lapso como sendo<br />
( ∫<br />
Ñ= N 1+ d 3 xF<br />
),<br />
(2)<br />
80
novamente uma re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um multiplicador <strong>de</strong> Lagrange livre, s<strong>em</strong> consequências<br />
físicas, e re<strong>de</strong>finirmosφcomo<br />
˜φ=<br />
(<br />
− Nl2 P a<br />
2a 2 V φ+ F(1) )<br />
,<br />
então a hamiltoniana (5.16) assume a sua forma mais simples<br />
(<br />
H=N− l2 P 2 a<br />
4aV + P T 1 ∫<br />
a 3λ+ 2a 3<br />
d 3 x π2<br />
γ 1 2+ aλ 2<br />
∫<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 v ,i v ,i<br />
)+Λ N P N +<br />
∫<br />
d 3 x ˜φφ 6 +<br />
Alguns comentários são a<strong>de</strong>quados nesse momento.<br />
Um ponto que consi<strong>de</strong>ramos relevante é o <strong>de</strong> que a partir da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ˜φ,<br />
das inversas das transformações canônicas (5.13), (5.15), (5.12), das <strong>de</strong>finições<br />
das variáveis canônicas (5.11) e da <strong>de</strong>finição do potencial velocida<strong>de</strong> (5.8) po<strong>de</strong>-se<br />
mostrar que<br />
˜φ= l2 P<br />
(<br />
a 3l2<br />
a ˙ξ+B)<br />
2a 2 φ−<br />
V 2 Na(λ+1)ǫ 0<br />
N<br />
e como pelas equações <strong>de</strong> movimento clássicas das perturbações<br />
˙ψ= ˜φ<br />
então obt<strong>em</strong>os<br />
˙ψ= l2 P<br />
(<br />
a 3l2<br />
a ˙ξ+B)<br />
2a 2 φ−<br />
V 2 Na(λ+1)ǫ 0 ,<br />
N<br />
que equivale à equação 10.39 <strong>de</strong> [34] se impusermos o calibre N= a. Esta equação<br />
também foi obtida no capítulo 3, correspon<strong>de</strong>ndo à segunda das equações (3.36).<br />
Aplicando as transformações canônicas ao vínculoφ 5 e usando queπ ψ ≈ 0<br />
v<strong>em</strong>os que o mesmo po<strong>de</strong> ser escrito, <strong>de</strong>sprezando termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 3, como<br />
Φ i i=− 3l2<br />
2<br />
√ (λ+1)PT<br />
√<br />
λ<br />
√<br />
V<br />
a − 3 2 (1+λ) ( π<br />
γ 1 2<br />
+ l2 P a v<br />
)<br />
2aV<br />
e utilizando que P a =−2ȧaV/Nl 2 , esta expressão é levada, após algumas manipulações<br />
algébricas simples a<br />
d 3 xΛ φ π φ .<br />
Φ i i=− 3l2<br />
2<br />
√ (λ+1)PT<br />
√<br />
λ<br />
√<br />
V<br />
a 1 2 (1−3λ)<br />
N<br />
( v<br />
a)<br />
˙. (5.18)<br />
Esta equação se torna idêntica à equação 12.8 <strong>de</strong> [34] se usarmos as equações<br />
clássicas <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero com o calibre N= a. Estamos agora <strong>em</strong><br />
condições <strong>de</strong> quantizar a teoria.<br />
81
5.3 Quantização<br />
Quantizando a teoria, ter<strong>em</strong>os que o estado do sist<strong>em</strong>a será <strong>de</strong>scrito por um<br />
funcional <strong>de</strong> ondaχ(a, w i j , v,φ,ψ, T). Às quantida<strong>de</strong>s canônicas a, P a , w i j ,π i j , v,<br />
π,φ,π φ ,ψ,π ψ , T e P T associamos os operadores quânticos â, ˆP a , ŵ i j , ˆπ i j , ˆv, ˆπ,<br />
ˆφ, ˆπ φ , ˆψ, ˆπ ψ , ˆT e ˆP T . A álgebra obe<strong>de</strong>cida por estes operadores será obtida dos<br />
parênteses <strong>de</strong> Dirac (já que t<strong>em</strong>os na teoria clássica vínculos <strong>de</strong> segunda classe).<br />
Como estes são canônicos, então as relações <strong>de</strong> comutação entre esses operadores<br />
serão as relações padrão da mecânica quântica, o que nos habilita a escolher para<br />
esses operadores uma “representação <strong>de</strong> posição” dada por<br />
â=a<br />
ˆT= T<br />
ŵ i j = w i j<br />
ˆv=v<br />
ˆψ=ψ<br />
ˆφ=φ<br />
ˆP a =−ı ∂ ∂a<br />
ˆP T =−ı ∂<br />
∂T<br />
δ<br />
ˆπ i j =−ı<br />
δw i j<br />
ˆπ=−ı δ δv<br />
ˆπ ψ =−ı δ<br />
δψ<br />
ˆπ φ =−ı δ<br />
δφ .<br />
O funcional <strong>de</strong> ondaχ<strong>de</strong>ve ser anulado pelas versões operatoriais dos vínculos<br />
<strong>de</strong> primeira classe (os vínculos <strong>de</strong> segunda classe são encarados como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>finidoras dos operadores ˆπ F e ˆF e não nos serão necessários). A atuação dos<br />
vínculos ˆπ φ e ˆπ ψ sobre o funcional <strong>de</strong> onda leva a<br />
∂χ<br />
∂φ = 0<br />
∂χ<br />
∂ψ = 0<br />
e v<strong>em</strong>os então que o funcional <strong>de</strong> onda não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>ψn<strong>em</strong> <strong>de</strong>φ. Assim, estamos<br />
vendo a realização no domínio quântico do que já havíamos visto no caso clássico:<br />
a teoria (no setor escalar) é <strong>de</strong>scrita por apenas uma variável, v. V<strong>em</strong>os assim que<br />
o papel da transformação canônica (5.13), além <strong>de</strong> produzir umπinvariante <strong>de</strong><br />
82
calibre é também o <strong>de</strong> eliminar a variávelψdos graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> fisicamente<br />
relevantes. Isso já estava claro no caso clássico quando mostramos que a variável<br />
˜φ, que era na realida<strong>de</strong> um multiplicador <strong>de</strong> Lagrange não <strong>de</strong>terminado associado<br />
ao vínculoπ ψ , era igual a ˙ψ. Assim, efetivamente estávamos obtendo o resultado<br />
<strong>de</strong> que a teoria não <strong>de</strong>terminaψ, que se torna então fisicamente irrelevante.<br />
A atuação <strong>de</strong> todos os vínculos <strong>de</strong> primeira classe sobre o funcional <strong>de</strong> ondaχ<br />
leva à conclusão que<br />
Hχ=0<br />
ou equivalent<strong>em</strong>ente<br />
l 2<br />
4V a 3λ−1<br />
2<br />
− a3(λ−1)<br />
2<br />
∂<br />
∂a<br />
∫<br />
(<br />
a 3λ−1<br />
2<br />
∫<br />
∂χ<br />
)−6l 2 a 3(λ−1)<br />
∂a<br />
∫<br />
d 3 x 1 δ 2 χ a3λ+1 λ<br />
γ 1 2δv 2+ 2<br />
d 3 x 1<br />
γ 1 2<br />
δ 2 ∫<br />
χ a3λ+1<br />
δw i j δwi j+ 24l 2<br />
d 3 xγ 1 2 wi j|k w i j|k χ<br />
d 3 xγ 1 2 v i v i χ=ı ∂χ<br />
∂T , (5.19)<br />
novamente uma equação <strong>de</strong> Schroedinger no t<strong>em</strong>po T, on<strong>de</strong> escolh<strong>em</strong>os o or<strong>de</strong>namento<br />
dos termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero conforme o tratamento do capítulo 4. Na expressão<br />
acima o setor vetorial foi <strong>de</strong>sprezado por não apresentar dinâmica. Precisamos<br />
agora apenas resolver a equação <strong>de</strong> Schroedinger (5.19).<br />
Tipicamente, o processo padrão <strong>de</strong> tratamento da quantização das perturbações<br />
<strong>em</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW consi<strong>de</strong>ra que, num dado limite, os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> da<br />
or<strong>de</strong>m zero passam a ser <strong>de</strong>scritos <strong>em</strong> boa apoximação pela mecância clássica e,<br />
nesse limite obt<strong>em</strong>os um fator <strong>de</strong> escala, que é uma função do t<strong>em</strong>po. Essa função<br />
do t<strong>em</strong>po po<strong>de</strong> ser então substituída na equação <strong>de</strong> Schroedinger <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2 para o<br />
funcional <strong>de</strong> onda das perturbações. Em um tratamento totalmente quântico, entretanto,<br />
tal abordag<strong>em</strong> não seria possível e seríamos obrigados a resolver a equação<br />
(5.19) consi<strong>de</strong>rando a como uma variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, e não como uma função<br />
do t<strong>em</strong>po. Claramente isso torna a tarefa <strong>de</strong> encontrar soluções para a equação<br />
(5.19) muito mais difícil.<br />
No entanto, no contexto <strong>de</strong> uma interpretação ontológica da mecância quântica<br />
(Bohm-<strong>de</strong> Broglie) nós t<strong>em</strong>os uma trajetória a(T) b<strong>em</strong> <strong>de</strong>fininda <strong>em</strong> todo t<strong>em</strong>po,<br />
mesmo no período <strong>em</strong> que o fundo é quântico, dada pela solução da equação (5.19)<br />
<strong>em</strong> or<strong>de</strong>m zero. Levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração que estamos <strong>em</strong> efeito lidando com uma<br />
aproximação perturbativa, po<strong>de</strong>mos lançar mão do ansatz<br />
χ(a, w i j , v, T)=χ (0) (a, T)χ (E) (v, T)χ (T) (w i j , T) (5.20)<br />
on<strong>de</strong>χ (0) (a, T) é, por construção, solução dos termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero da equação<br />
(5.19) (do tipo estudado no capítulo 4). A aplicação da interpretação <strong>de</strong> Bohm nos<br />
permite então obter uma trajetória a(T), que po<strong>de</strong> ser substituída nos termos <strong>de</strong><br />
or<strong>de</strong>m 2 da equação (5.19). Dessa forma, essa equação se <strong>de</strong>sacopla <strong>em</strong> três<br />
l 2<br />
4V a 3λ−1<br />
2<br />
∂<br />
(<br />
a 3λ−1<br />
2<br />
∂a<br />
83<br />
∂χ (0) )=ı ∂χ(0)<br />
∂a ∂T
−6l 2 a 3(λ−1) ∫<br />
− a3(λ−1)<br />
2<br />
∫<br />
d 3 x 1<br />
γ 1 2<br />
δ 2 χ (T) ∫<br />
a3λ+1<br />
δw i j δwi j+ 24l 2<br />
d 3 x 1 δ 2 χ (E)<br />
γ 2<br />
1 δv 2 + a3λ+1 λ<br />
2<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2 wi j|k w i j|k χ (T) =ı ∂χ(T)<br />
∂T<br />
d 3 xγ 1 2 v i v i χ (E) =ı ∂χ(E)<br />
∂T .<br />
Note que as 2 últimas equações são, funcionalmente, a mesma equação. isso nos<br />
permite resolver tanto as perturbações tensoriais como as escalares <strong>de</strong> forma praticamente<br />
unificada.<br />
Como, por construção, os termos∂χ (T) /∂a e∂χ (E) /∂a são i<strong>de</strong>nticamente nulos,<br />
a trajetória bohmiana a(T) obtida correspon<strong>de</strong> exatamente à trajetória obtida<br />
no caso não perturbado. Isso nos leva à conclusão <strong>de</strong> que, <strong>de</strong>ntro dos limites das<br />
aproximações envolvidas neste método, é possível encontrar-se soluções <strong>em</strong> teoria<br />
<strong>de</strong> perturbações <strong>em</strong> cosmologia quântica, s<strong>em</strong> o efeito <strong>de</strong> back reaction, um<br />
resultado novo comparado aos resultados conhecidos na literatura [35].<br />
Um outro ansatz igualmente possível é<br />
χ(a, w i j , v, T)=χ (0) (a, T) ˜χ[a, v, w i j , T]<br />
com<br />
∫<br />
˜χ[a, v, w i j , T]=χ 1 [v, w i j , T]<br />
daϕ −2 (a, T)+χ 2 [v, w i j , T].<br />
Se escolhermos ˜χ[a, v, w i j , T]=χ (E) [a, v, T]χ (T) [a, w i j , T], novamente a equação<br />
(5.19) po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sacoplar nas mesmas 3 equações anteriormente obtidas. Entretanto,<br />
nesse caso, como os funcionais <strong>de</strong> onda das perturbações também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong> a, está claro que as trajetórias bohmianas não serão exatamente as obtidas s<strong>em</strong><br />
levar <strong>em</strong> conta as perturbações, ou seja, contrariamente ao ansatz anterior, este<br />
apresenta o efeito <strong>de</strong> back reaction. Este back reaction po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sprezado, <strong>em</strong><br />
uma primeira aproximação, se assumirmos que as perturbações estão inicialmente<br />
<strong>em</strong> um estado <strong>de</strong> vácuo [35, 36] e que sua posterior evolução dinâmica não as retira<br />
<strong>de</strong> um regime perturbativo.<br />
As soluções paraχ (0) (a, T) já foram abordadas no capítulo 4, sendo portanto já<br />
conhecidas. Na próxima seção, vamos abordar as equações para os funcionais <strong>de</strong><br />
onda associados às perturbações.<br />
5.4 Uso da interpretação <strong>de</strong> Bohm<br />
De agora <strong>em</strong> diante vamos tratar indistintamente as perturbações tensoriais e<br />
escalares, distinguindo-as apenas quando necessário. Tom<strong>em</strong>os então a equação<br />
<strong>de</strong> Schroedinger<br />
− a3(λ−1)<br />
2<br />
∫<br />
d 3 x 1<br />
γ 1 2<br />
δ 2 ∫<br />
χ a3λ+1<br />
δw2+ 2<br />
d 3 xγ 1 2 w i w i χ=ı ∂χ<br />
∂T<br />
84
√<br />
on<strong>de</strong> w po<strong>de</strong> ser tensorial (w → w i j 12) ou escalar (w → v) 5 .<br />
reparametrização t<strong>em</strong>poral<br />
dη=a 3λ−1 (T)dT<br />
Através da<br />
on<strong>de</strong>ηrepresenta o t<strong>em</strong>po conforme, essa equação <strong>de</strong> Schroedinger é levada a<br />
− 1<br />
2a 2 ∫<br />
d 3 x 1<br />
γ 1 2<br />
δ 2 ∫<br />
χ a2<br />
δw2+ 2<br />
d 3 xγ 1 2 w i w i χ=ı ∂χ<br />
∂η .<br />
Antes <strong>de</strong> prosseguirmos, é pru<strong>de</strong>nte um breve comentário sobre notação. Até<br />
aqui t<strong>em</strong>os adotado para as <strong>de</strong>rivadas t<strong>em</strong>porais o símbolo do ponto (ȧ, por ex<strong>em</strong>plo).<br />
Essa <strong>de</strong>rivada <strong>em</strong> efeito era tomada <strong>em</strong> relação ao t<strong>em</strong>po coor<strong>de</strong>nado, qualquer<br />
que fosse a escolha feita para este último. Em particular, essa <strong>de</strong>rivada po<strong>de</strong>ria<br />
ser <strong>em</strong> relação ao t<strong>em</strong>po T ou <strong>em</strong> relação ao t<strong>em</strong>po conformeη, a distinção ficando<br />
clara pelo contexto. A partir <strong>de</strong> agora estar<strong>em</strong>os trabalhando simultaneamente com<br />
duas variáveis distintas <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, T eη. Para evitar-se confusão, adotar<strong>em</strong>os a notação<br />
do ponto para <strong>de</strong>rivadas <strong>em</strong> relação a T (ȧ=∂a/∂T) enquanto as <strong>de</strong>rivadas<br />
<strong>em</strong> relação aηserão i<strong>de</strong>ntificadas por linha(a ′ =∂a/∂η).<br />
Se agora efetuarmos a transformação unitária <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do t<strong>em</strong>po<br />
{[∫<br />
U= exp i d 3 xγ 1/2 a′ w i j w i j ]} {[∫<br />
(<br />
exp i d 3 wi j Π i j +Π i j w<br />
) ( √ i j 12<br />
)]}<br />
x<br />
ln<br />
2a<br />
2<br />
a<br />
(5.21)<br />
e levando <strong>em</strong> conta que sob uma transformação <strong>de</strong>ste tipo a hamiltoniana se transforma<br />
como<br />
ˆ˜H= UĤU −1 + i ∂U<br />
∂η U−1<br />
ter<strong>em</strong>os a nova equação <strong>de</strong> Schroedinger<br />
i ∂χ(w,η)<br />
∂η<br />
∫<br />
=<br />
{<br />
d 3 x − 1 δ 2 [ ]}<br />
1<br />
2γ 1/2 δw 2+γ1/2 2 w kw k − a′′<br />
2a w2 χ(w,η).<br />
Esta é exatamente a forma obtida no tratamento padrão, aqui re-obtida <strong>de</strong> forma<br />
totalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da valida<strong>de</strong> das equações clássicas da or<strong>de</strong>m zero. Observe<br />
que nosso resultado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> trajetórias a(T), mas isso é<br />
totalmente diferente <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da valida<strong>de</strong> das equações clássicas para a(T), as<br />
quais não precisaram ser especificadas. Concretamente a existência <strong>de</strong> uma função<br />
a(T) b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida é perfeitamente consistente com a quantização <strong>de</strong>sse grau <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro da interpretação <strong>de</strong> Bohm-<strong>de</strong> Broglie.<br />
Sob a transformação unitária (5.21) os operadores <strong>de</strong> campo são levados <strong>em</strong><br />
w→w/a<br />
π→aπ.<br />
5 No caso escalar há também um fatorλque multiplica o termos w i w i . Estamos omitindo este<br />
fator por simplicida<strong>de</strong> notacional.<br />
85
Note que no caso específico das perturbações escalares reobt<strong>em</strong>os o potencial <strong>de</strong><br />
Mukhanov-Sasaki como variável <strong>de</strong> quantização.<br />
Se mudarmos para a visão <strong>de</strong> Heisenberg da mecânica quântica, obter<strong>em</strong>os que<br />
a equação <strong>de</strong> movimento para o operador w será<br />
w ′′ − w i i− a′′<br />
a w=0<br />
e <strong>de</strong>compondo esse operador <strong>em</strong> modos normais 6<br />
µ ′′<br />
(⃗k) + (<br />
k 2 − a′′<br />
a<br />
)<br />
µ ( ⃗k) = 0 (5.22)<br />
ter<strong>em</strong>os essencialmente a mesma equação obtida anteriormente, pelo procedimento<br />
<strong>de</strong> Mukhanov [34].<br />
Assim, atingimos nosso objetivo: mostramos que as equações (5.22) po<strong>de</strong>m<br />
ser consistent<strong>em</strong>ente usadas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da dinâmica do espaço-t<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />
fundo. No máximo precisamos admitir que esse espaço-t<strong>em</strong>po existe ontologicamente,<br />
caso contrário somos obrigados a trabalhar com a equação (5.19).<br />
A tarefa <strong>de</strong> cálculo do espectro <strong>de</strong> perturbações <strong>em</strong> Universos quânticos dominados<br />
por um fluido adiabático está agora bastante simplificada: precisamos apenas<br />
resolver a equação (5.22) usando-se para a(T) a trajetória quântica <strong>em</strong> lugar da<br />
clássica.<br />
Para a solução <strong>de</strong>sta equação é necessário que se estipul<strong>em</strong> condições iniciais<br />
para o campoµ (<br />
. A nossa proposta nesse trabalho será a <strong>de</strong> utilizarmos um<br />
⃗k)<br />
espectro <strong>de</strong> vácuo <strong>em</strong>η→−∞, como se faz usualmente. Entretanto, antes <strong>de</strong> calcularmos<br />
efetivamente os espectros <strong>de</strong> perturbações vamos analisar o caso <strong>de</strong> um<br />
universo dominado por um campo escalar.<br />
5.5 Universos Dominados por Campo Escalar<br />
Até aqui nossa análise t<strong>em</strong> se concentrado no caso <strong>de</strong> Universos dominados por<br />
um fluido perfeito. Vamos agora voltar nossa atenção para o caso <strong>em</strong> que o fluido<br />
dominante é um campo escalar. Para começar, vamos mostrar que po<strong>de</strong>mos, s<strong>em</strong><br />
perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sprezar os termos <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m nas perturbações do<br />
campo escalar quando estivermos expandindo a ação <strong>em</strong> uma série perturbativa,<br />
<strong>em</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW.<br />
Consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os um campo escalarϕ(⃗x, t) constituído <strong>de</strong> um termo <strong>de</strong> fundo,<br />
ϕ 0 (t), e perturbaçãoδϕ(⃗x, t)<br />
Essa perturbação po<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre ser <strong>de</strong>composta <strong>em</strong><br />
ϕ(⃗x, t)=ϕ 0 (t)+δϕ(⃗x, t). (5.23)<br />
δϕ(⃗x, t)=(t)+δϕ (0) (⃗x, t) (5.24)<br />
6 No caso das perturbações tensoriais a <strong>de</strong>composição será w i j = ∑ ⃗k µ (⃗k) (η)t( ⃗k)<br />
i j eı ⃗k.⃗x on<strong>de</strong> t ( ⃗k)<br />
i j<br />
é um<br />
tensor transverso e s<strong>em</strong> traço.<br />
86
on<strong>de</strong>(t) é o valor médio <strong>de</strong>δϕ(⃗x, t) sobre as seções espaciais, tomado como<br />
não nulo por hipótese. ∫<br />
(t)= d 3 xγ 2 1 δϕ.<br />
Claramente o valor médio <strong>de</strong>δϕ (0) (⃗x, t) será zero. Através <strong>de</strong> (5.23) e (5.24) o<br />
campo escalar total passa a ser dado por<br />
ϕ(⃗x, t)=ϕ 0 (t)+(t)+δϕ (0) (⃗x, t)= ¯ϕ 0 (t)+δϕ (0) (⃗x, t).<br />
A última igualda<strong>de</strong> segue como <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ¯ϕ 0 (t). Note que esta igualda<strong>de</strong> é,<br />
omitindo-se a barra, igual a (5.23), sendo, no entanto, o valor médio <strong>de</strong>δϕ(⃗x, t)<br />
i<strong>de</strong>nticamente nulo. Vamos <strong>de</strong> agora <strong>em</strong> diante admitir que as i<strong>de</strong>ntificações acima<br />
tenham sido feitas <strong>em</strong> (5.23). Assim todo e qualquer termo da forma ∫ d 3 xγ 1 2δϕ<br />
será i<strong>de</strong>nticamente nulo, e po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os <strong>de</strong>sprezar os termos <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m <strong>em</strong><br />
δϕ na expansão da ação.<br />
Com esse entendimento, a lagrangiana total (or<strong>de</strong>ns zero e dois) para perturbações<br />
<strong>em</strong> Universos dominados por um campo escalar será<br />
L=−ȧ2 aV<br />
l 2 N + ϕ˙<br />
0 2 a 3 V<br />
2N<br />
− Na3 VV<br />
d 3 xγ 2<br />
1<br />
2<br />
+ a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ]<br />
4 ǫ |iǫ |i<br />
+ Na<br />
6l 2 ∫<br />
[<br />
A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k<br />
∫ ∫ ∫ (<br />
+ a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j − a3<br />
N<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫ 2 + aȧ2<br />
N<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 −9φ 2<br />
N<br />
−3ǫφ− 3 4 ǫ2 + 3A i A i + 3 )<br />
2 ǫi j ǫ i j − 2aȧ ∫ (<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 φA i |i− 1 )<br />
2 A iǫ i j | j<br />
∫<br />
+ a2 ȧ<br />
(<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ i j ǫ˙<br />
i j − 1 ) ∫ ∫<br />
N<br />
2 ǫ ˙ǫ−φ˙ǫ − a2<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i − a3 ϕ˙<br />
(<br />
0<br />
d 3 xγ 2<br />
1 φ<br />
N<br />
+ 1 ) ∫ ∫<br />
2 ǫ δϕ+a ˙ 2 ϕ˙<br />
0 d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i − Na3 V ϕ<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ− 1 1 )<br />
2<br />
2 ǫ δϕ<br />
+ ϕ˙<br />
0 2 a 3 ∫<br />
d 3 xγ 2<br />
(3φ 1 2 +ǫφ− A i A i − 1 4N<br />
2 ǫi j ǫ i j + 1 )<br />
4 ǫ2<br />
∫<br />
+ Na3 V<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ 1 2 +ǫφ− A i A i + 1 4<br />
2 ǫi j ǫ i j − 1 )<br />
4 ǫ2<br />
∫ (<br />
+ Na3 d 3 xγ 2<br />
1 δϕ ˙<br />
2 δϕ |i<br />
2<br />
N 2 −δϕ|i a 2 − 1 )<br />
2 V ϕϕδϕ 2 . (5.25)<br />
87
A hamiltoniana associada a essa lagrangiana será<br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P2 ϕ<br />
2a 3 V + a3 VV<br />
+ l2 P 2 ∫<br />
a<br />
2 8aV 2 d 3 xγ 2 1 φ 2 + l2 P 2 ∫<br />
a<br />
24aV 2 d 3 xγ 2 1 ǫφ<br />
− l2 P 2 ∫<br />
a<br />
8aV 2 d 3 xγ 2 1 A i A i + 5l2 P 2 ∫<br />
a<br />
48aV 2 d 3 xγ 2 1 ǫ<br />
i j ǫ i j − l2 P 2 ∫<br />
a<br />
32aV 2 d 3 xγ 2 1 ǫ<br />
2<br />
+ P ∫ ∫<br />
a<br />
d 3 xγ 2 1 Ai ǫ i j | j− P2 ϕ<br />
6V<br />
4a 3 V 2 d 3 xγ 2<br />
(φ 1 2 −ǫφ− A i A i − 1 2 ǫi j ǫ i j − 1 )<br />
4 ǫ2<br />
+ P ∫<br />
ϕ<br />
a 3 d 3 x<br />
(φ+ 1 )<br />
V<br />
2 ǫ π ϕ − P ∫ ∫<br />
ϕ<br />
d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i + 6l2<br />
aV<br />
a 3 d 3 x πi j ∫<br />
π i j<br />
− 3l2<br />
γ 2<br />
1 a 3<br />
∫<br />
− l2 P a<br />
2a 2 d 3 xπǫ− a ∫<br />
V<br />
4l 2 d 3 xγ 2 1 A<br />
i |i A j | j− 1 ∫ ∫<br />
d 3 xπA i |i+ l2 P a<br />
a<br />
a 2 d 3 xπφ<br />
V<br />
∫<br />
+ 2l2 P a<br />
a 2 d 3 xπ i j ǫ i j + 1 ∫<br />
V<br />
2a 3 d 3 x π2 ϕ<br />
− a ∫ [<br />
γ 1 2 6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k<br />
d 3 x π2<br />
γ 1 2<br />
+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ] ∫<br />
4 ǫ|i ǫ |i + a3 V ϕ<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ− 1 1 )<br />
2<br />
2 ǫ δϕ<br />
∫<br />
− a3 V<br />
d 3 xγ 2<br />
(φ 1 2 +ǫφ− A i A i + 1 4<br />
2 ǫi j ǫ i j − 1 )<br />
4 ǫ2 + P ∫<br />
a<br />
d 3 xγ 2 1 ǫA<br />
i i<br />
12V<br />
∫ (<br />
+ a3<br />
d 3 xγ 2<br />
1 1<br />
2 a 2δϕ|i δϕ |i + 1 )<br />
2 V ϕϕδϕ 2 + P ∫ }<br />
a<br />
d 3 xγ 2 1 A<br />
i |i φ. (5.26)<br />
6V<br />
No capítulo 3 havíamos mostrado o método conhecido na literatura para simplificar<br />
a lagrangiana (5.25), que através <strong>de</strong> uma integral por partes e do uso das<br />
equações <strong>de</strong> fundo (3.22) e (3.23) leva-a à seguinte forma<br />
L=−ȧ2 aV<br />
l 2 N + ϕ˙<br />
0 2 a 3 V<br />
2N<br />
− Na3 VV<br />
[<br />
d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 2<br />
4 ǫi j|k ǫ i j|k<br />
+ a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 ] ∫<br />
4 ǫ |iǫ |i + a3<br />
+ Na<br />
6l 2 ∫<br />
24l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j<br />
N<br />
∫ ∫ )<br />
− a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫ 2 − aȧ2<br />
N<br />
2l 2 d 3 xγ 2<br />
(3φ 1 2 +ǫφ− A i A i − 2aȧ ∫ (<br />
N<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 φA i |i<br />
− 1 ∫ ∫<br />
2 A iǫ i j | j<br />
)− a2<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i + a3 ϕ˙<br />
(<br />
0<br />
d 3 xγ 2<br />
1 ˙φ+ 1 ) ∫<br />
N<br />
2 ˙ǫ δϕ+a 2 ϕ˙<br />
0 d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i<br />
∫<br />
−Na 3 V ϕ d 3 xγ 2 1 ϕ˙<br />
2 0 a 3 ∫ ) ∫<br />
φδϕ+ d 3 xγ 2<br />
(3φ 1 2 +ǫφ− A i A i + Na3 V<br />
(<br />
d 3 xγ 2<br />
1 φ 2<br />
4N<br />
4<br />
) ∫ (<br />
+ǫφ− A i A i + Na3 d 3 xγ 2<br />
1 δϕ ˙<br />
2 δϕ |i<br />
2<br />
N 2 −δϕ|i a 2 − 1 ) ∫<br />
2 V ϕϕδϕ 2 − a2 ȧ<br />
3l 2 d 3 xγ 2 1 φ˙ǫ<br />
N<br />
(5.27)<br />
on<strong>de</strong> o termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada total<br />
[ ∫ a2ȧ<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 (ǫ<br />
i j ǫ i j − 1 ∫<br />
N<br />
2 ǫ2 )− a3 ϕ˙<br />
0<br />
N<br />
d 3 xγ 1 2 (φ+<br />
1<br />
2 ǫ)δϕ ]<br />
˙<br />
88
foi <strong>de</strong>sprezado.<br />
Sabendo que <strong>de</strong>rivadas totais vão, no espaço <strong>de</strong> fase, gerar transformações<br />
canônicas, construímos o seguinte gerador <strong>de</strong>ssas transformações<br />
F= a ˜ P a +ϕ 0 ˜ P ϕ −<br />
− a P˜<br />
∫<br />
a<br />
12V<br />
∫<br />
d 3 xγ 2( 1 ǫ ˜ i j ǫ˜<br />
i j − 1 )<br />
2 ˜ǫ2<br />
)<br />
d x( 3 ˜φπ φ + Ã i π i A + ǫ˜<br />
i jπ i j + δϕπ ˜ ϕ<br />
P<br />
− ˜ ∫<br />
ϕ<br />
V<br />
sendo as transformações dadas explicitamente por<br />
a=ã+ ã ∫<br />
d 3 xγ 2( 1 ǫ ˜<br />
12V<br />
i j ǫ˜<br />
i j − 1 )<br />
2 ˜ǫ2<br />
P a = P˜<br />
P<br />
a − ˜ ∫<br />
a<br />
d 3 xγ 2( 1 ǫ ˜<br />
12V<br />
i j ǫ˜<br />
i j − 1 )<br />
2 ˜ǫ2<br />
ϕ 0 = ϕ˜<br />
0 + 1 ∫<br />
d 3 xγ 2( 1 ˜φ+ 1 )<br />
V<br />
2 ˜ǫ δϕ ˜<br />
P<br />
π φ = π˜<br />
φ − ˜ ϕ<br />
V γ 2<br />
1 δϕ ˜<br />
π i j = π ˜i<br />
j − ã P˜<br />
a<br />
6V γ 1 2<br />
P<br />
π ϕ = π˜<br />
ϕ − ˜ ϕ<br />
V γ 2<br />
1<br />
(<br />
˜ ǫ i j − 1 2 ˜ǫγi j )<br />
(<br />
˜φ+ 1 2 ˜ǫ )<br />
.<br />
d 3 xγ 1 2(<br />
˜φ+ 1 2 ˜ǫ )<br />
˜ δϕ<br />
P<br />
− ˜ ϕ<br />
2V γ 2<br />
1 δϕγ ˜ i j<br />
Sob essas transformações a hamiltoniana (5.26) é levada <strong>em</strong><br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P2 ϕ<br />
2a 3 V + a3 VV<br />
+ l2 P 2 ∫<br />
a<br />
2 8aV 2 d 3 xγ 2 1 φ 2 + l2 P 2 ∫<br />
a<br />
8aV 2 d 3 xγ 2 1 ǫφ<br />
− l2 P 2 ∫<br />
a<br />
8aV 2 d 3 xγ 2 1 A i A i + P ∫<br />
a<br />
d 3 xγ 2 1 A<br />
i |i φ+ P ∫<br />
a<br />
d 3 xγ 2 1 Ai ǫ i j | j<br />
6V<br />
6V<br />
∫<br />
− P2 ) ∫ ∫<br />
ϕ<br />
4a 3 V 2 d 3 xγ 2<br />
(3φ 1 2 +ǫφ− A i A i + l2 P a<br />
a 2 d 3 xπφ+ 3l2 P a<br />
V<br />
a 3 d 3 xπδϕ<br />
V<br />
+ P ∫ ∫<br />
ϕ<br />
d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i + 6l2<br />
2aV<br />
a 3 d 3 x πi j ∫<br />
π i j<br />
− 3l2<br />
γ 2<br />
1 a 3 d 3 x π2<br />
− a ∫<br />
γ 2<br />
1 4l 2 d 3 xγ 2 1 A<br />
i |i A j | j<br />
− 1 ∫<br />
d 3 xπA i |i− 9l2 P 2 ∫ ∫<br />
ϕ<br />
a<br />
4a 3 V 2 d 3 γ 2 1 δϕ 2 − 3l2 P a P 3 ∫<br />
ϕ<br />
2a 2 V 2 xγ 2 1 1 φδϕ+<br />
2a 3 d 3 x π2 ϕ<br />
γ 2<br />
1<br />
− a ∫ (<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
1 A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k + 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k<br />
+φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 4 ǫ|i ǫ |i<br />
)<br />
+ a 3 V ϕ<br />
∫<br />
+ǫφ− A i A i<br />
)<br />
+ a3<br />
2<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2<br />
d 3 xγ 2 1 a 3 ∫<br />
V φδϕ−<br />
4<br />
( 1<br />
a 2δϕ|i δϕ |i + 1 )}<br />
2 V ϕϕδϕ 2<br />
d 3 xγ 1 2<br />
(<br />
φ 2<br />
(5.28)<br />
89
e po<strong>de</strong>-se verificar, por cálculo direto, que esta é a hamiltoniana associada à lagrangiana<br />
(5.27). Note que na passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> (5.26) para (5.28) não fiz<strong>em</strong>os uso das<br />
equações <strong>de</strong> movimento da or<strong>de</strong>m zero. Isso significa que a hamiltoniana (5.28)<br />
é correta in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas equações. Essa conclusão se exten<strong>de</strong><br />
naturalmente à lagrangiana (5.27) que po<strong>de</strong> ser obtida <strong>de</strong> (5.28) por uma<br />
transformação <strong>de</strong> Legendre inversa.<br />
Voltando ao capítulo 3, havíamos usado a equação (3.21) <strong>em</strong> (5.27) <strong>de</strong> forma a<br />
eliminar alguns termos, fazendo com que a lagrangiana assumisse a forma<br />
L=−ȧ2 aV<br />
l 2 N + ϕ˙<br />
0 2 a 3 V<br />
2N<br />
− Na3 VV<br />
d 3 xγ 2<br />
1<br />
2<br />
+ a N Ȧiǫ i j | j+ 1 2 ǫi j k<br />
| jǫ i |k +φ |i ǫ i j | j− 1 2 ǫ |iǫ i j | j−φ |i ǫ |i + 1 )<br />
4 ǫ |iǫ |i<br />
+ Na<br />
6l 2 ∫<br />
(<br />
A i| j A [i| j] − 1 4 ǫi j|k ǫ i j|k<br />
∫ ∫ ∫<br />
+ a3<br />
24l 2 d 3 xγ 2<br />
1 ǫ˙<br />
i j ǫ˙<br />
i j − a3<br />
N<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫ 2 − aȧ2<br />
N<br />
l 2 d 3 xγ 2 1 φ<br />
2<br />
N<br />
− 2aȧ ∫ (<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
1 φA i |i− 1 ) ∫<br />
2 A iǫ i j | j − a2 ȧ<br />
3l 2 d 3 xγ 1 a 2 ∫<br />
2 φ˙ǫ−<br />
N<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ǫA<br />
i |i<br />
∫<br />
+ a3 ϕ˙<br />
(<br />
0<br />
d 3 xγ 2<br />
1 ˙φ+ 1 ) ∫ ∫<br />
N<br />
2 ˙ǫ δϕ+a 2 ϕ˙<br />
0 d 3 xγ 2 1 δϕA<br />
i |i − Na 3 V ϕ d 3 xγ 2 1 φδϕ<br />
+ ϕ˙<br />
0 2 a 3 ∫ ∫ (<br />
d 3 xγ 2 1 φ 2 + Na3 d 3 xγ 1 δϕ ˙<br />
2 δϕ |i<br />
2<br />
2N<br />
2<br />
N 2 −δϕ|i a 2 − 1 )<br />
2 V ϕϕδϕ 2 . (5.29)<br />
Essa mesma transformação po<strong>de</strong> ser obtida, s<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero,<br />
através da re<strong>de</strong>finição da função lapso<br />
[<br />
N= Ñ 1+ 1 ∫ ]<br />
d 3 xγ 2 1 (ǫφ+φ 2 − A i A i ). (5.30)<br />
2V<br />
Como já discutido, essa re<strong>de</strong>finição não possui significado físico. Dessa forma<br />
a lagrangiana (5.29) é fisicamente equivalente à lagrangiana (5.27), in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente<br />
da dinâmica do fundo. Nesse ponto nós aplicamos <strong>em</strong> (5.29) a <strong>de</strong>composição<br />
das perturbações <strong>em</strong> modos escalares, vetoriais e tensoriais, e a lagrangiana<br />
das perturbações se <strong>de</strong>sacopla <strong>em</strong> 3 setores perturbativos. Nessa passag<strong>em</strong>, termos<br />
<strong>de</strong> divergência total são <strong>de</strong>sprezados.<br />
No setor tensorial t<strong>em</strong>os<br />
L (T) =− Na<br />
24l 2 ∫<br />
No setor vetorial t<strong>em</strong>os<br />
L (V) = Na ∫ ∫<br />
6l 2 d 3 xγ 2 1 S<br />
i| j S [i| j] − a2<br />
6l 2<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 w<br />
i j|k w i j|k + a3<br />
24l 2 N<br />
e, através do uso da variável invariante <strong>de</strong> calibre<br />
V i = S i − a N Ḟi<br />
d 3 xγ 2<br />
1 w˙<br />
i j w˙<br />
i j .<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 S i| j F˙<br />
i| j + a3<br />
12l 2 N<br />
d 3 xγ 1 2<br />
˙<br />
˙<br />
F i| j F i| j<br />
90
essa lagrangiana se simplifica para<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2 V<br />
[i| j] V [i| j] .<br />
No setor escalar, após algumas integrais por partes a lagrangiana passa a ser 7<br />
L (E) = Na ∫ ∫ ∫<br />
6l 2 d 3 xγ 2<br />
(2ψ 1 i ψi−4φ i ψ<br />
)− i a3<br />
l 2 d 3 xγ 2 1 ˙ψ 2 − ȧ2 a<br />
N<br />
l 2 d 3 xγ 2 1 φ<br />
2<br />
N<br />
∫ ∫ ∫<br />
− 2a2 ȧ<br />
l 2 d 3 xγ 2 1 φ ˙ψ+ a3 ϕ˙<br />
0<br />
d 3 xγ 2( 1 ˙φ+3 ˙ψ<br />
)δϕ− Na 3 V ϕ d 3 xγ 2 1 φδϕ<br />
N<br />
N<br />
∫<br />
+ Na3 d 3 xγ 1 1<br />
2(<br />
2<br />
N ˙<br />
2 δϕ 2 − 1 a 2δϕi δϕ i − 1 )<br />
2 V ϕϕδϕ 2 + ϕ˙<br />
0 2 a 3 ∫<br />
d 3 xγ 2 1 φ<br />
2<br />
2N<br />
(<br />
− 2a2 ˙ψ+ ȧ<br />
3l 2 a φ− 3l2 ϕ˙<br />
)<br />
0<br />
2 δϕ (B− a N Ė)i i<br />
que correspon<strong>de</strong> àquela apresentada por Mukhanov et. al. [34], também apresentada<br />
nesta tese na equação (3.42).<br />
As hamiltonianas associadas a essas lagrangianas serão apresentadas a seguir.<br />
No setor tensorial, a hamiltoniana será dada por<br />
H (T) = 6l2 N<br />
a 3<br />
∫<br />
d 3 x πi j π i j<br />
γ 1 2<br />
+ Na<br />
24l 2 ∫<br />
d 3 xγ 1 2 w<br />
i j|k w i j|k<br />
exatamente a mesma obtida no caso do fluido adiabático. Esse resultado já era<br />
esperado, uma vez que tanto as perturbações do campo escalar quanto as do fluido<br />
adiabático são <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> componentes tensoriais. Assim, as perturbações<br />
nesse setor são <strong>de</strong>vidas inteiramente ao próprio campo gravitacional, não distinguindo<br />
portanto entre diferentes fluidos.<br />
No setor vetorial, na passag<strong>em</strong> da lagrangiana para a hamiltoniana aparece o<br />
vínculo<br />
π i V ≈ 0 (5.31)<br />
e a hamiltoniana é<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 1 ∫<br />
2 V iV i| j | j+<br />
d 3 xΛ i π i .<br />
A conservação do vínculo (5.31) dá orig<strong>em</strong> ao vínculo secundário<br />
V i| j | j≈ 0. (5.32)<br />
A conservação <strong>de</strong>ste vínculo <strong>de</strong>termina o multiplicador <strong>de</strong> LagrangeΛ i . Os vínculos<br />
neste setor são <strong>de</strong> segunda classe e, se <strong>de</strong>screvermos a dinâmica <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />
parênteses <strong>de</strong> Dirac (cuja forma explícita não nos é relevante), po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os encarar<br />
esses vínculos como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e a hamiltoniana será então anulada.<br />
7 novamente <strong>de</strong>finimos F=: B−aĖ/N<br />
H (V) = 0.<br />
91
Do vínculo (5.32) po<strong>de</strong>mos ainda obter o conhecido resultado para perturbações<br />
vetoriais <strong>em</strong> Universos <strong>de</strong> FLRW dominados por campo escalar [62]<br />
V i = 0.<br />
No setor escalar, como há na lagrangiana termos que envolv<strong>em</strong> ȧ eϕ˙<br />
0 , os momenta<br />
associados às quantida<strong>de</strong>s a eϕ 0 serão modificados por termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
dois. Assim, a análise <strong>de</strong>ve ser feita com a or<strong>de</strong>m zero simultaneamente. A hamiltoniana<br />
será<br />
[<br />
H=N− l2 P 2 a<br />
4aV + P2 ϕ<br />
2a 3 V + a3 VV<br />
+ l2 P a<br />
2 2a 2 V<br />
∫ ∫<br />
+ 3l2 P<br />
( ϕ<br />
2a 3 d 3 δϕπ ψ − a3<br />
V<br />
l 2 d 3 xγ 2<br />
1 l 2<br />
∫<br />
d 3 φπ ψ − P2 ϕ<br />
2a 3 V 2 ∫<br />
π<br />
2a 3 γ 1 ψ + 1 ) 2+ ∫<br />
1<br />
2 3a Fi i<br />
2a 3<br />
+ a ∫ (<br />
d 3 xγ 2 1 δϕ i δϕ i + − 9l2 P 2 ϕ a3 V<br />
)∫<br />
ϕϕ<br />
2<br />
4a 3 V 2+ d 3 xγ 2 1 δϕ<br />
2<br />
4<br />
(<br />
+ − 3l2 P a P<br />
)∫ ∫<br />
ϕ<br />
2a 2 V 2 + a 3 V ϕ d 3 xγ 2 1 a<br />
)<br />
φδϕ−<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
(ψ 1 i ψ i − 2φ i ψ i<br />
∫ ∫ (<br />
+Λ N P N + d 3 xΛ F π F + d 3 xΛ φ π φ − P )]<br />
ϕ<br />
V γ 1 2 δϕ<br />
e na sua construção obt<strong>em</strong>os os vínculos primários<br />
φ 1 = P N ≈ 0<br />
φ 3 =π φ − a3 ϕ˙<br />
0<br />
N γ 2 1 δϕ≈0<br />
φ 2 =π F ≈ 0.<br />
d 3 xγ 1 2 φ<br />
2<br />
d 3 x π2 ϕ<br />
γ 1 2<br />
Com a intenção <strong>de</strong> simplificar a expressão do vínculoπ φ − a3 ϕ˙<br />
0<br />
N<br />
γ 2δϕ≈0 1 efetuamos<br />
a seguinte transformação canônica<br />
ϕ 0 = ϕ˜<br />
0 − 1 ∫<br />
d 3 xγ 2 1 ˜φδϕ<br />
˜<br />
V<br />
P<br />
π φ = π˜<br />
φ + ˜ ϕ<br />
V γ 2<br />
1 δϕ ˜<br />
P<br />
π ϕ = π˜<br />
ϕ + ˜ ϕ<br />
V γ 1 2 ˜φ<br />
cujo gerador é<br />
F=I− P ϕ<br />
V<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2 ˜φδϕ<br />
sendoIatransformação i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. A hamiltoniana, após essa transformação é<br />
92
dada por<br />
[<br />
H=N− l2 P 2 ∫ ∫<br />
a<br />
4aV + P2 ϕ<br />
2a 3 V + a3 VV<br />
+ l2 P a<br />
2 2a 2 d 3 φπ ψ + 3l2 P ϕ<br />
V<br />
2a 3 d 3 δϕπ ψ<br />
V<br />
∫ (<br />
− a3<br />
l 2 d 3 xγ 2<br />
1 l 2<br />
π<br />
2a 3 γ 1 ψ + 1 ) 2+ (<br />
2 3a Fi i − 3l2 P a P ϕ<br />
2a 2 V 2 + a3 V<br />
)∫<br />
ϕ<br />
d 3 xγ 2 1 φδϕ<br />
2<br />
− a ∫ )<br />
3l 2 d 3 xγ 2<br />
(ψ 1 i ψ i − 2φ i ψ i + P ∫<br />
ϕ<br />
a 3 d 3 xφπ ϕ + 1 ∫<br />
V<br />
2a 3 d 3 x π2 ϕ<br />
γ 1 2<br />
+ a ∫ (<br />
d 3 xγ 2 1 δϕ i δϕ i + − 9l2 P 2 ϕ a3 V<br />
)∫ ] ϕϕ<br />
2<br />
4a 3 V 2+ d 3 xγ 2 1 δϕ<br />
2<br />
4<br />
∫ ∫<br />
+Λ N P N + d 3 xΛ F π F + d 3 xΛ φ π φ<br />
A conservação dos vínculos primários leva aos vínculos secundários<br />
φ 4 = H/N=: H 0 ≈ 0<br />
φ 5 = 1<br />
3a π ψ+ 2a 1 9l 2γ 2 F<br />
i i ≈ 0<br />
φ 6 =− l2 P<br />
(<br />
a<br />
2a 2 V π ψ− − 3l2 P a P ϕ<br />
2a 2 V 2<br />
+ a3 V<br />
) ϕ<br />
γ 1 2a<br />
2 δϕ+ 1<br />
2 3l 2γ 2 ψ<br />
i i − P ϕ<br />
a 3 V π ϕ≈ 0.<br />
A conservação do vínculoφ 5 fixa o multiplicador <strong>de</strong> Lagrangeλ F . A conservação<br />
do vínculoφ 4 é i<strong>de</strong>nticamente satisfeita. A conservação do vínculoφ 6<br />
produz uma expressão que, após algumas manipulações algébricas simples é i<strong>de</strong>nticamente<br />
satisfeita, <strong>de</strong>sprezando-se termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 3, por ser proporcional à<br />
hamiltoniana <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero.<br />
Dessa forma os vínculos da teoria são<br />
φ 1 = P N<br />
φ 2 =π F<br />
φ 3 =π φ<br />
φ 4 = H<br />
φ 5 = 1<br />
3a π ψ+ 2a 1 9l 2γ 2 F<br />
i i<br />
φ 6 =− l2 P a<br />
2a 2 V π ψ−<br />
(<br />
− 3l2 P a P ϕ<br />
2a 2 V 2<br />
+ a3 V<br />
) ϕ<br />
γ 1 2a<br />
2 δϕ+ 1<br />
2 3l 2γ 2 ψ<br />
i i − P ϕ<br />
a 3 V π ϕ.<br />
É trivial verificar queφ 1 ,φ 3 eφ 4 apresentam parênteses <strong>de</strong> Poisson fracamente<br />
zero com todos os outros vínculos, sendo portanto <strong>de</strong> primeira classe. Os vínculos<br />
φ 2 ,φ 5 eφ 6 apresentam parênteses <strong>de</strong> Poisson não nulos entre si. Como não po<strong>de</strong><br />
haver um número ímpar <strong>de</strong> vínculos <strong>de</strong> segunda classe, <strong>de</strong>finimos<br />
¯ φ 6 =:φ 6 + 1 a φ 3<br />
93
e resulta que esse vínculo é <strong>de</strong> primeira classe, sendo <strong>de</strong> segunda classe os vínculos<br />
φ 2 eφ 5 . Também nesse caso verifica-se que os vínculos secundários <strong>de</strong> primeira<br />
classe são geradores <strong>de</strong> transformações <strong>de</strong> calibre.<br />
A contag<strong>em</strong> dos graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> perturbativos e dos vínculos mostra que<br />
essa teoria <strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r ser escrita <strong>em</strong> função <strong>de</strong> uma única variável invariante <strong>de</strong><br />
calibre. Antes <strong>de</strong> prosseguirmos com a construção da hamiltoniana mais simples,<br />
comentamos que os parênteses <strong>de</strong> Dirac entre as variáveis dinâmicas do setor escalar<br />
e do fundo são idênticos aos <strong>de</strong> Poisson entre as mesmas variáveis, exceto os<br />
que envolv<strong>em</strong> as quantida<strong>de</strong>s F eπ F . Assim po<strong>de</strong>mos encarar os vínculosφ 5 eφ 2<br />
como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e a hamiltoniana se reduz a<br />
[<br />
H=N− l2 P 2 a<br />
4aV + P2 ϕ<br />
2a 3 V + a3 VV<br />
+ 3l2 P ϕ<br />
2 2a 3 V<br />
+ 1 ∫<br />
2a 3 d 3 x π2 ϕ<br />
+ a ∫<br />
d 3 xγ<br />
γ 1 2 1 δϕ i δϕ i +<br />
2 2<br />
∫ ∫<br />
+Λ N P N − N d 3 xφφ 6 + d 3 xΛ φ π φ .<br />
∫<br />
d 3 δϕπ ψ − a<br />
3l 2 ∫<br />
(<br />
− 9l2 P 2 ϕ a3 V ϕϕ<br />
4a 3 V 2+ 4<br />
)∫<br />
d 3 xγ 1 2 ψ i ψ i<br />
]<br />
d 3 xγ 2 1 δϕ<br />
2<br />
Vamos agora prosseguir com a obtenção <strong>de</strong> uma hamiltoniana mais simples<br />
para o setor escalar. Começamos efetuando a seguinte transformação canônica<br />
a=ã− 2P ∫<br />
ϕ<br />
l 2 P 2 d 3 x ˜ψπ− 1 ∫<br />
∂α<br />
(<br />
d<br />
a<br />
2∂P˜<br />
3 xγ 2<br />
1 v<br />
a a + 2 P˜<br />
) 2 ϕ<br />
ψ<br />
l 2 ãP˜<br />
a<br />
∫ (<br />
P a = P˜<br />
v<br />
a + d 3 x<br />
a + 2 P˜<br />
) ϕ<br />
ψπ+ 1 ∫<br />
∂α<br />
(<br />
d<br />
l 2 ãP˜<br />
3 xγ 1 v<br />
2<br />
a 2∂a<br />
a + 2 P˜<br />
ϕ<br />
ψ<br />
l 2 ãP˜<br />
a<br />
ϕ 0 = ϕ˜<br />
0 + 2 ∫<br />
l 2 P ˜ d 3 x ˜ψπ− 1 ∫<br />
∂α<br />
(<br />
d 3 xγ 1 v<br />
2<br />
a 2∂P ϕ a + 2 P˜<br />
) 2 ϕ<br />
ψ<br />
l 2 ãP˜<br />
a<br />
π ϕ = ãπ+αγ 2 1 δϕ<br />
δϕ= v a + 2 P˜<br />
ϕ<br />
ψ<br />
l 2 ãP˜<br />
a<br />
π ψ = π˜<br />
ψ − 2 P˜<br />
ϕ<br />
l 2 P ˜ π<br />
a<br />
) 2<br />
cujo gerador é<br />
∫<br />
F 1 = aP˜<br />
a +ϕ 0 P˜<br />
ϕ +<br />
(<br />
d 3 x aπδϕ+ψπ˜<br />
ψ − 2 P˜<br />
ϕ<br />
l 2 ψπ+ α )<br />
P a 2 γ 2 1 δϕ<br />
2<br />
.<br />
Nessas expressões,αéuma função <strong>de</strong> a, P a e P ϕ ainda in<strong>de</strong>terminada. Note<br />
que a variável v introduzida por essa transformação correspon<strong>de</strong> à variável <strong>de</strong><br />
94
Mukhanov-Sasaki [34]. Sob essa transformação a hamiltoniana se torna<br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P2 ϕ<br />
2a 3 V + a3 VV<br />
2<br />
[(<br />
+ − 9l2 P 2 ϕ aV ϕϕ<br />
4a 5 V 2+ 4<br />
∫<br />
+ 1 2a<br />
)<br />
− 1 ( l 2 P 2 a<br />
2 4a 4 V − 3P2 ϕ<br />
2a 6 V + 3VV<br />
2<br />
∂α<br />
]∫<br />
+ α2<br />
∂P ϕ 2a 5<br />
d 3 x π2<br />
γ 1 2<br />
+ 1 2a<br />
) ∂α<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2 v i v i<br />
∂P a<br />
− 1 l 2 P a ∂α<br />
2 2a 3 V∂a − aVV ∫<br />
ϕ<br />
d 3 xγ 2 1 v 2 + 3l2 P ϕ<br />
4<br />
2a 4 d 3 xvπ ψ<br />
V<br />
( α<br />
+<br />
3P2 ϕ<br />
a 3− a 4 P a V − l2 P<br />
)∫ ∫ {<br />
a<br />
3P<br />
2<br />
2a 2 d 3 xvπ+ d 3 ϕ<br />
xψ<br />
V<br />
a 4 P a V π ψ<br />
[ a<br />
+<br />
2P2 ] [<br />
ϕ<br />
3l 2− al 4 P 2 γ 2 1 ψ<br />
i 4P<br />
2(<br />
ϕ<br />
i +<br />
a l 4 P 2 − 9l2 P 2 ϕ aV )<br />
ϕϕ P 2 ϕ ∂α<br />
a 4a 5 V 2+ −<br />
4 l 2 a 3 P a V∂a<br />
− 2P2 (<br />
ϕ l 2 P 2 a<br />
l 4 P 2 a 4a 4 V − 3P2 ϕ<br />
2a 6 V + 3VV ) ∂α<br />
− aVV ϕP 2 ϕ ∂α<br />
2 ∂P a l 4 P 2 + 2α2 P 2 ]<br />
ϕ<br />
a ∂P ϕ l 4 a 5 P 2 γ 2 1 ψ<br />
a<br />
[<br />
+ − 6P3 ϕ<br />
l 2 a 4 P 2 aV − 2a2 P<br />
( ϕ l 2 P 2 a<br />
l 2 P 2 a 4a 4 V − 3P2 ϕ<br />
2a 6 V + 3VV )<br />
− P ϕ<br />
2 a 2 V + a3 VV ϕ<br />
l 2 P a<br />
[ 4Pϕ<br />
(<br />
+<br />
l 2 − 9l2 P 2 ϕ aV ϕϕ<br />
P a 4a 5 V 2+ 4<br />
− aVV ϕP ϕ<br />
ł 2 P a<br />
e o vínculoφ 6 se torna<br />
)<br />
− 2P (<br />
ϕ l 2 P 2 a<br />
l 2 P a 4a 4 V − 3P2 ϕ<br />
2a 6 V + 3VV<br />
2<br />
∂α<br />
+ 2α2 P<br />
] ϕ<br />
∂P ϕ l 2 a 5 γ 1 2P<br />
}} ϕ<br />
2 v−<br />
P a al 2 γ 2 1 v<br />
i i +Λ N P N +<br />
P a<br />
φ 6 =− l2 P<br />
(<br />
a<br />
2a 2 V π ψ− − 3l2 P a P ϕ<br />
2a 3 V 2 + a2 V ϕ<br />
2<br />
− 2P (<br />
ϕ<br />
l 2 − 3l2 P a P ϕ<br />
P a 2a 3 V 2 + a2 V ϕ<br />
2<br />
+ αP ϕ<br />
a 4 V<br />
+ 2αP ]<br />
ϕ<br />
l 2 a 3 π<br />
P a<br />
) ∂α<br />
− P ϕ ∂α<br />
∂P a a 3 V∂a<br />
∫ ∫<br />
d 3 xΛ φ π φ − d 3 xφφ 6<br />
+ αP )<br />
ϕ<br />
a 4 γ 2 1 v<br />
V<br />
)<br />
γ 1 2 ψ+<br />
2a<br />
3l 2γ 1 2 ψ<br />
i i .<br />
Agora po<strong>de</strong>mos escolherα<strong>de</strong> forma que o termo proporcional a vπ na hamiltoniana<br />
se anule. Assim ter<strong>em</strong>os<br />
α= 3P2 ϕ<br />
aP a V + l2 aP a<br />
2V .<br />
Consi<strong>de</strong>rando-se que os vínculosφ 3 eφ 6 são os geradores das transformações<br />
<strong>de</strong> calibre da teoria, <strong>de</strong>ve estar claro que v é invariante por essas transformações,<br />
o mesmo não po<strong>de</strong>ndo ser dito <strong>de</strong> seu momentumπ. Conforme já discutido,<br />
essa situação é in<strong>de</strong>sejável e, para corrigí-la, efetuamos uma terceira transformação<br />
95
canônica<br />
gerada por<br />
(ã4 VV ϕ<br />
a=ã−<br />
l 2 ˜<br />
+ 18 P˜<br />
4<br />
ϕ<br />
ã 3 P ˜ 4<br />
a l 4 V<br />
P a = ˜ P a +<br />
P a<br />
2<br />
)∫<br />
− 4ã3 V ϕ P˜<br />
ϕ V<br />
l 4 ˜<br />
P a<br />
2<br />
ϕ 0 = ϕ˜<br />
0 −<br />
(− 2 ˜ P ϕ<br />
− 24 P˜<br />
3 )∫<br />
ϕ<br />
ã 3 P ˜ 3<br />
a l 4 V<br />
+ 12 P˜<br />
3 )∫<br />
ϕ<br />
l 2 ã 3 P ˜ 3<br />
a V<br />
d 3 xγ 2 1 ˜ψ 2 + 2ã3 V<br />
3l 4 ˜<br />
ã 2 V − 4ã3 VV ϕ<br />
l 2 P ˜ a<br />
+ 18 P˜<br />
4 )∫<br />
ϕ<br />
ã 4 P ˜ 3<br />
a l 4 V<br />
( 2<br />
ãV − 18 P˜<br />
2<br />
ϕ<br />
)∫<br />
l 2 ã 3 P ˜ 2<br />
a V<br />
d 3 xγ 1 2 ˜ψ 2<br />
∫<br />
P ϕ = P˜<br />
ϕ − ã4 V ϕϕ<br />
l 2 P ˜ a<br />
( 2 P˜<br />
ϕ<br />
π= ˜π+<br />
ãV − ã4 VV ϕ<br />
l 2 ˜<br />
P a<br />
( 2 P˜<br />
ϕ<br />
π ψ = π˜<br />
ψ +<br />
ãV − ã4 VV ϕ<br />
l 2 ˜<br />
− 6 P˜<br />
4 ) ϕ<br />
ã 3 P ˜ 3<br />
a l 4 V<br />
∫<br />
F 2 = aP˜<br />
a +ϕ 0 P˜<br />
ϕ +<br />
( 2 ˜<br />
2<br />
P ϕ<br />
+<br />
l 2 a ˜<br />
P a<br />
2<br />
d 3 xγ 2 1 ṽ ˜ψ−<br />
(− 2 P˜<br />
2<br />
ϕ<br />
ãP˜<br />
2<br />
a l 2 V + 2ã4 V ϕ P˜<br />
ϕ V<br />
l 4 P ˜ 3<br />
a<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 ˜ψ ˜ψ i i<br />
+ 18 P˜<br />
3 )∫<br />
ϕ<br />
l 2 ã 4 P ˜ 2<br />
a V<br />
∫<br />
d 3 xγ 2 1 ˜ψ 2 + 2ã2 V<br />
l 4 P ˜ a<br />
d 3 xγ 2 1 ṽ ˜ψ+<br />
(− 2 P˜<br />
2<br />
ϕ<br />
ã 2 P ˜ a l 2 V<br />
d 3 xγ 1 2 ˜ψ ˜ψ i i<br />
(<br />
d 3 xγ 2 1 4P˜<br />
ϕ<br />
ṽ ˜ψ−<br />
ãP˜<br />
a l 2 V − ã4 V ϕ V<br />
l 4 P ˜ 2<br />
a<br />
d 3 xγ 2 1 ṽ ˜ψ− ã4 P˜<br />
∫<br />
ϕ VV ϕϕ<br />
l 4 P ˜ 2<br />
a<br />
− 6 P˜<br />
3 ) ϕ<br />
l 2 ã 3 P ˜ γ 1 2 ˜ψ<br />
2<br />
a V<br />
P a<br />
γ 1 4ã 3 V<br />
2 ψ+<br />
3l 4 P ˜ γ 2 1 ˜ψ i i<br />
a<br />
− 6 P˜<br />
3 ) ϕ<br />
l 2 ã 3 P ˜ 2<br />
a V<br />
d 3 xγ 1 2 ˜ψ 2<br />
( 2 γ<br />
˜ 2<br />
2<br />
1 P ṽ+2 ϕ<br />
ã ˜<br />
[ ( 2<br />
d 3 P˜<br />
ϕ<br />
xψπ˜<br />
ψ + v˜π+<br />
aV − a4 VV ϕ<br />
l 2 P ˜ a<br />
P a V − a4 VV ϕ P˜<br />
ϕ<br />
l 4 P ˜ − 6 ˜<br />
4<br />
P<br />
) ϕ<br />
2<br />
a l 4 a 3 P ˜ γ 2 1<br />
3 ψ 2 + 2a3 V<br />
]<br />
a V 3l 4 P ˜ γ 2 1 ψψ<br />
i i .<br />
a<br />
Sob essa transformação o vínculoφ 6 é levado <strong>em</strong><br />
P a l 2 V − ã4 V ϕ P˜<br />
ϕ V<br />
l 4 P ˜ 2<br />
a<br />
− 6 P˜<br />
3 ) ϕ<br />
l 2 a 3 P ˜ γ 2 1<br />
2 vψ<br />
a V<br />
e po<strong>de</strong>mos re<strong>de</strong>finí-lo como<br />
φ 6 =− l2 P a<br />
2a 2 V π ψ<br />
˜ φ 6 =π ψ<br />
96
e a hamiltoniana assume a forma<br />
{<br />
H=N − l2 P 2 a<br />
4aV + P2 ϕ<br />
2a 3 V + a3 VV<br />
2<br />
( 15l 2 P 2 ϕ<br />
+<br />
4a 5 V 2 + aV ϕϕ<br />
4<br />
− 3l2 Va<br />
8<br />
+ 1 2a<br />
+ 9VP2 ϕ<br />
4aP 2 a<br />
∫<br />
d 3 x π2<br />
γ 1 2<br />
+ 1 2a<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2 v i v i<br />
− l4 P 2 a<br />
27P4 ϕ<br />
16a 3 V 2− 4a 7 V 2 P 2 − 3P )∫<br />
ϕV ϕ<br />
a P a<br />
∫ [<br />
+H (0)<br />
0<br />
d 3 xψ− 6P ϕ<br />
l 2 aP 2 π+ 2a2 V<br />
a l 4 P 2 γ 1 2 ψ<br />
i i − 9P2 ϕγ 2ψ<br />
1 ( 3a 3<br />
a l 2 P 2 aa 2 V − VV ϕ<br />
l 2 P 2 a<br />
+ 18P3 ϕ<br />
l 2 a 4 P 3 aV + 3P ] ∫ (<br />
ϕ<br />
)γ 1<br />
a 2 2 v + d 3 x− l2 P a<br />
P a V<br />
2a 2 V φ+ 3P2 ϕ<br />
a 4 P a V ψ+ 3l2 P<br />
) } ϕ<br />
2a 4 V v φ ˜6<br />
∫<br />
+Λ N P N + d 3 xΛ φ π φ .<br />
d 3 xγ 1 2 v<br />
2<br />
(5.33)<br />
Da mesma forma que no caso do fluido perfeito, a hamiltoniana acima po<strong>de</strong><br />
ser simplificada por uma re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> N que leve <strong>em</strong> conta os termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2<br />
proporcionais a H (0)<br />
0<br />
e por uma re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong>φ. A forma final será então<br />
[<br />
H=N− l2 P 2 a<br />
4aV + P2 ϕ<br />
2a 3 V + a3 VV<br />
2<br />
( 15l 2 P 2 ϕ<br />
+<br />
4a 5 V 2 + aV ϕϕ<br />
− 3l2 Va<br />
4 8<br />
∫ ∫<br />
+ d 3 x ˜φφ ˜ 6 +Λ N P N +<br />
+ 1 2a<br />
+ 9VP2 ϕ<br />
4aP 2 a<br />
d 3 xΛ φ π φ<br />
∫<br />
d 3 x π2<br />
γ 1 2<br />
+ 1 2a<br />
∫<br />
d 3 xγ 1 2 v i v i<br />
− l4 P 2 a<br />
27P4 ϕ<br />
16a 3 V 2− 4a 7 V 2 P 2 − 3P )∫<br />
ϕV ϕ<br />
a P a<br />
]<br />
d 3 xγ 2 1 v<br />
2<br />
e se usarmos as equações clássicas <strong>de</strong> movimento po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os mostrar que o coeficiente<br />
do termo <strong>em</strong> v 2 é exatamente igual a−z ′′ /2z no calibre N = a, com<br />
z=a 2 ϕ˙<br />
0 /ȧ correspon<strong>de</strong>ndo então à equação (3.43).<br />
A quantização da teoria segue agora as mesmas linhas da quantização <strong>de</strong> qualquer<br />
teoria <strong>de</strong> calibre. Impomos que o funcional <strong>de</strong> onda seja aniquilado pelas<br />
versões operatoriais dos vínculos <strong>de</strong> primeira classe. Isso nos leva como antes à<br />
conclusão <strong>de</strong> que esse funcional não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>φn<strong>em</strong> <strong>de</strong>ψeobe<strong>de</strong>ce à seguinte<br />
equação<br />
[<br />
− l2 P 2 a<br />
4V + P2 ϕ<br />
2a 2 V + a4 VV<br />
+ 1 ∫<br />
d 3 x π2<br />
+ 1 ∫<br />
d 3 xγ<br />
2 2 γ 1 2 1 v i v i<br />
2 2<br />
( 15l 2 P 2 ϕ<br />
+<br />
4a 4 V 2 + a2 V ϕϕ<br />
− 3l2 Va 2<br />
+ 9VP2 ϕ<br />
4 8 4a 2 P 2 − l4 P 2 a<br />
27P4 ϕ<br />
a 16a 2 V 2− 4a 6 V 2 P 2 − 3aP )∫<br />
ϕV ϕ<br />
a P a<br />
∫<br />
+ 6l2 d 3 ∫<br />
x<br />
a 2 π i j π i j + a2<br />
24l 2 d 3 xγ 2 1 wi j|k w<br />
]χ=0.<br />
i j|k<br />
γ 1 2<br />
d 3 xγ 1 2 v<br />
2<br />
(5.34)<br />
97
Em princípio po<strong>de</strong>ríamos resolver essa equação impondo um ansatz do tipo<br />
imposto <strong>em</strong> (5.20) (apenas trocando a <strong>de</strong>pendência <strong>em</strong> a e T por uma <strong>em</strong> a eϕ 0 e<br />
supondo que as funções <strong>de</strong> onda perturbativas não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ϕ 0 ), o que levaria<br />
à separação da equação <strong>de</strong> Schroedinger <strong>em</strong> 3, e escolhendo uma variável arbitrária<br />
para parametrizar a evolução das trajetórias bohmianas (nesse caso apenas se obtém<br />
soluções implícitas a(ϕ 0 ) [14]). No entanto o tratamento <strong>de</strong>ste caso está fora do<br />
escopo <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
98
Capítulo 6<br />
Comparação com as Observações<br />
Vamos, neste capítulo, analisar o espectro <strong>de</strong> perturbações gerado pelo mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> fundo discutido no capítulo 4 utilisando-nos do formalismo <strong>de</strong>senvolvido no<br />
capítulo 5 e compará-lo com os dados observacionais.<br />
6.1 Método Utilizando Condições <strong>de</strong> Junção<br />
No mo<strong>de</strong>lo apresentado no capítulo 4, como visto, as trajetórias bohmianas<br />
para o fator <strong>de</strong> escala são dadas por<br />
(<br />
a(T)=a 0 1+ T 2 ) 1<br />
3(1−λ)<br />
. (6.1)<br />
Precisamos então calcular o potencial−a ′′ /a a que os modos perturbativos estão<br />
sujeitos.<br />
a ′ = da<br />
dη = da dT<br />
dT dη = a1−3λ ȧ<br />
Daí tiramos<br />
a ′′ = da′<br />
dη = a1−3λ d<br />
dT (a1−3λ ȧ)=(1−3λ)a 1−6λ ȧ 2 + a 2−6λ ä.<br />
[ä<br />
V= a′′<br />
(1−3λ)ȧ2 ]<br />
a = a2−6λ a + a 2 .<br />
Substituindo (6.1) v<strong>em</strong><br />
V= 2a2(1−3λ) 0<br />
3(1−λ)T0<br />
2<br />
T 2 0<br />
[<br />
1+ 1−3λ<br />
(<br />
1+ T 2<br />
T 2 0<br />
]<br />
T 2<br />
3(1−λ) T0<br />
2<br />
) 4<br />
3(1−λ)<br />
. (6.2)<br />
Na figura 6.1 apresentamos o comportamento <strong>de</strong>sse potencial para alguns valores<br />
<strong>de</strong>λ.<br />
99
1<br />
0.9<br />
Potencial<br />
λ=0<br />
λ=1/3<br />
0.8<br />
0.7<br />
0.6<br />
V(x)<br />
0.5<br />
0.4<br />
0.3<br />
0.2<br />
0.1<br />
0<br />
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5<br />
T/T 0<br />
Figura 6.1: Potencial (6.2)λ=0 eλ=1/3. Os gráficos acima correspon<strong>de</strong>m a<br />
a 0 = 1 e T 0 = 1.<br />
Para resolver a equação <strong>de</strong> movimento para os modos (5.22) precisamos escolher<br />
condições iniciais, dadas <strong>em</strong> T→−∞ (ou equivalent<strong>em</strong>ente,η→−∞). Por<br />
outro lado, as medidas <strong>de</strong>sses espectros são realizadas hoje <strong>em</strong> dia, <strong>em</strong> um t<strong>em</strong>po T<br />
muito maior que o t<strong>em</strong>po característico T 0 do bounce, <strong>de</strong> forma que po<strong>de</strong>mos, para<br />
efeito <strong>de</strong> cálculo, <strong>de</strong>terminar os espectros <strong>em</strong>|T|→∞ (|η|→∞). Assim, é conveniente<br />
que estu<strong>de</strong>mos o potencial V(η) e as soluçõesµ(η) 1 nos limitesη→±∞,<br />
utilizando então o método <strong>de</strong> junção na época <strong>de</strong> início <strong>de</strong> domínio do potencial V.<br />
∣<br />
O potencial V, para<br />
∣∣∣∣ ∣ T T 0<br />
>> 1, po<strong>de</strong> ser aproximado, nos casosλ 1 3 , por<br />
V ∞ = 2(1−3λ)a2(1−3λ) 0<br />
9(1−λ) 2 T0<br />
2<br />
O fator <strong>de</strong> escala nesse limite é dado por<br />
a 0<br />
( T<br />
T 0<br />
) 2<br />
3(1−λ)<br />
<strong>de</strong> forma que o t<strong>em</strong>po conformeηestá relacionado a T por<br />
( T<br />
) 2(3λ−1)<br />
dη=a 3λ−1 dT= a0<br />
3λ−1 3(1−λ)<br />
dT,<br />
T 0<br />
−<br />
T<br />
2(1+3λ)<br />
3(1−λ)<br />
. (6.3)<br />
T 0<br />
1 Estamos omitindo o subscrito (⃗k) por simplicida<strong>de</strong> notacional.<br />
100
que leva a<br />
( T<br />
T 0<br />
) 1+3λ<br />
3(1−λ)<br />
= 1+3λ a0<br />
1−3λ<br />
η, (6.4)<br />
3(1−λ) T 0<br />
on<strong>de</strong> escolh<strong>em</strong>osη=0 para T= 0. A substituição <strong>de</strong> (6.4) <strong>em</strong> (6.3) dá finalmente<br />
para o potencial longe do bounce<br />
V ∞ = 2(1−3λ) 1<br />
(1+3λ) 2 η2. (6.5)<br />
Com isso a equação <strong>de</strong> movimento para as perturbações será 2<br />
[<br />
µ ′′ + k 2 − 2(1−3λ) 1<br />
]<br />
(1+3λ) 2 η 2 µ=0,<br />
cuja solução é<br />
µ= √ [ ]<br />
η A 1 (k)h (1)<br />
n (kη)+ A 2 (k)h (2)<br />
n (kη)<br />
(6.6)<br />
com h (1)<br />
n (kη) e h (2)<br />
n (kη) sendo as funções <strong>de</strong> Hankel <strong>de</strong> primeiro e segundo tipos,<br />
respectivamente, e n= 3(1−λ)<br />
2(1+3λ) .<br />
Note que <strong>em</strong> princípio a solução acima não se aplica no casoλ= 1 3<br />
. No entanto,<br />
nesse caso, como a é proporcional a T, o potencial a ′′ /a é nulo, exatamente<br />
o resultado obtido pela expressão (6.5). Então v<strong>em</strong>os que, por continuida<strong>de</strong> do<br />
potencial <strong>em</strong>λ, a solução (6.6) também vale paraλ= 1 3 .<br />
As funções <strong>de</strong> Hankel têm um comportamento assintótico do tipo<br />
h (1)<br />
n (x)= eıx<br />
√ x<br />
A(n)<br />
h (2)<br />
n (x)= e−ıx<br />
√ x<br />
B(n),<br />
on<strong>de</strong> A e B são constantes.<br />
Assim, paraη→−∞, a solução (6.6) po<strong>de</strong> ser ainda mais aproximada por<br />
µ= Ã1 √<br />
k<br />
e ıkη + Ã2 √<br />
k<br />
e −ıkη (6.7)<br />
e, impondo como condição inicial o estado <strong>de</strong> vácuo, <strong>de</strong> forma que o valor esperado<br />
do operadorµseja<br />
µ∝ 1 √<br />
k<br />
e −ıkη<br />
obt<strong>em</strong>os<br />
à 2 ∝ constante à 1 = 0<br />
2 Para perturbações escalares há o fatorλque multiplica o termo <strong>em</strong> k 2 . Esse fator po<strong>de</strong> ser<br />
reabsorvido por uma re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> k.<br />
101
que implica, via (6.7), que para t<strong>em</strong>pos muito anteriores ao bounce<br />
µ=A 2<br />
√ ηh<br />
(2)<br />
n (kη) (6.8)<br />
Usando-se a fórmula <strong>de</strong> recorrência para funções <strong>de</strong> Hankel<br />
obt<strong>em</strong>os<br />
d<br />
dx h(i) n (x)= 1 2 h(i) n−1 (x)− 1 2 h(i) n+1 (x)<br />
d<br />
dη µ= A 2<br />
2 √ η h(2) n (kη)+ kA √<br />
2 η<br />
2<br />
n−1 (kη)− kA √<br />
2 η<br />
h (2)<br />
2<br />
n+1<br />
(kη). (6.9)<br />
h (2)<br />
A solução acima, como dito, vale paraη→−∞. Há uma solução formal para<br />
a equação <strong>de</strong> movimento (5.22) dada por [75, 80]<br />
∫<br />
µ η<br />
a = C 1(k)+ C 2 (k) d ¯η 1 ∫ η [ ∫<br />
a 2 (¯η) − 1 ¯η k2 d ¯η<br />
a 2 d ¯η(aµ)]<br />
. (6.10)<br />
(¯η)<br />
Essa solução po<strong>de</strong>, por iteração, ser escrita como uma série <strong>em</strong> k 2<br />
µ<br />
[ ∫ η<br />
a = C 1 1−k 2 d ¯η 1<br />
−k 2 ∫ η<br />
d ¯η 1<br />
a 2 (¯η)<br />
∫ ¯η<br />
d ¯ηa 2 (¯η)]<br />
+ C 2<br />
[∫ η<br />
d ¯η 1<br />
a 2 (¯η)<br />
∫ ¯η<br />
d ¯ηa (¯η)∫ 2 ¯η<br />
d ¯η 1<br />
a 2 (¯η)<br />
a 2 (¯η)<br />
]<br />
+ O(k 4 ). (6.11)<br />
Para k suficient<strong>em</strong>ente pequeno, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sprezar os termos <strong>em</strong> or<strong>de</strong>m k 2 ou<br />
superior, e, para a trajetória (6.1) t<strong>em</strong>os<br />
µ<br />
(<br />
a = C 1(k)+ C 2 (k)a 3(λ−1) T<br />
)<br />
0<br />
T 0 arctan .<br />
T 0<br />
Essa solução vale para todo T, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que k seja suficient<strong>em</strong>ente pequeno. Para<br />
T→−∞ essa solução po<strong>de</strong> ser aproximada por<br />
µ<br />
(<br />
a = C 1− C 2 a 3(λ−1) π<br />
0<br />
T 0<br />
2 + T )<br />
0<br />
T<br />
que leva a<br />
e a<br />
µ= ˜C 1<br />
[ 1+3λ<br />
3(1−λ)<br />
a0<br />
1−3λ ] 2 [<br />
1+3λ 1+3λ<br />
η + ˜C 2<br />
T 0<br />
3(1−λ)<br />
a0<br />
1−3λ ]−1+3λ<br />
1+3λ<br />
η<br />
T 0<br />
dµ<br />
dη = 2 ˜C<br />
[<br />
1 1+3λ a 1−3λ ] 2<br />
1+3λ 0<br />
1−3λ (−1+3λ) η 1+3λ +<br />
1+3λ 3(1−λ) T 0 1+3λ ˜C<br />
[ 1+3λ<br />
2<br />
3(1−λ)<br />
com ˜C 1 = C 1 a 0 − C 2a0<br />
3λ−2<br />
2<br />
πT 0 e ˜C 2 =−C 2 a0 3λ−2 T 0 .<br />
102<br />
(6.12)<br />
a0<br />
1−3λ ]−1+3λ<br />
1+3λ −2<br />
η 1+3λ<br />
T 0<br />
(6.13)
(<br />
Para k menor do que o valor máximo do potencial a ′′ /a que vale 2a 2(1−3λ)<br />
0<br />
/[3(1−<br />
)<br />
λ)T0 2] haverá dois instantes, que <strong>de</strong>notar<strong>em</strong>os por±η M , on<strong>de</strong> o fator k 2 − a ′′ /a<br />
se anulará. Para k 2 muito pequeno, ter<strong>em</strong>os que nesses instantes a ′′ /a será também<br />
muito pequeno. Dado que 1/3 > λ > 0, isso ocorrerá paraηsuficient<strong>em</strong>ente<br />
gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma que po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os usar a aproximação (6.5) para o potencial,<br />
levando a √ 2(1−3λ)<br />
kη M = .<br />
1+3λ<br />
Observe que o produto kη M é efetivamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> k. Emη=−η M as<br />
duas aproximações (6.12) e (6.8) se aplicam (para k suficient<strong>em</strong>ente pequeno).<br />
Isso significa que as expressões (6.8) e (6.12), quando avaliadas <strong>em</strong>−η M <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se<br />
igualar, b<strong>em</strong> como (6.13) e (6.9). Ou seja, obt<strong>em</strong>os um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> equações que<br />
resolvido nos permite obter ˜C 1 e ˜C 2 <strong>em</strong> função <strong>de</strong> A 1 , a 0 e T 0 . Essa solução nos<br />
mostra que<br />
˜C 1 ∝ k 3(1−λ)<br />
2(1+3λ)<br />
˜C 2 ∝ k − 3(1−λ)<br />
2(1+3λ).<br />
É fácil verificar que nas condições <strong>em</strong> que estamos trabalhando (1/3≥λ>0 e<br />
k
n T<br />
∣ ∣∣∣∣rad<br />
= 2<br />
Resultados também foram obtidos para o caso <strong>de</strong> seções espaciais curvas, dominadas<br />
por radiação. Para <strong>de</strong>talhes ver [75]<br />
O método <strong>de</strong> junção traz consigo uma interpretação física clara. O potencial<br />
V= a ′′ /a é proporcional ao escalar <strong>de</strong> curvatura do espaço-t<strong>em</strong>po (∼ a ′′ /a 3 ). Por<br />
outro lado, esse escalar <strong>de</strong>fine uma escala <strong>de</strong> comprimento característico para o<br />
Universo, l c , que tomar<strong>em</strong>os como sendo R∼1/l 2 c. Po<strong>de</strong>mos então consi<strong>de</strong>rar que<br />
o potencial V está associado a essa escala por<br />
V∼ a2<br />
lc<br />
2 .<br />
Associado ao vetor <strong>de</strong> onda k t<strong>em</strong>os o comprimento <strong>de</strong> onda, comóvel,λ c ∼ 1/k,<br />
que está relacionado ao comprimento <strong>de</strong> onda físico porλ f is = aλ. A junção ocorre<br />
exatamente para a situação k 2 = V, que po<strong>de</strong> então ser interpretada comoλ f is ∼ l c .<br />
Assim, para t<strong>em</strong>pos suficient<strong>em</strong>ente afastados do bounce, os modos perturbativos<br />
estão comλ f is < l c . Ou seja, modos menores que o comprimento característico<br />
do Universo propagam-se como ondas livres. Isto também po<strong>de</strong> ser interpretado<br />
como consequência do fato <strong>de</strong> para escalas muito menores que a <strong>de</strong> curvatura, a<br />
física é essencialmente regida por efeitos locais, <strong>em</strong> que a Relativida<strong>de</strong> Geral não<br />
é importante.<br />
Em princípio a solução apresentada se aplica também ao potencial <strong>de</strong> Mukhanov-<br />
Sasaki. No entanto, <strong>em</strong> teoria <strong>de</strong> perturbações cosmológicas estamos mais interessados<br />
no potencial <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>enΦ, que representa as flutuações da métrica, que vão<br />
dar orig<strong>em</strong> às estruturas e ao espectro <strong>de</strong> anisotropias da radiação <strong>de</strong> fundo. O<br />
conhecimento <strong>de</strong> v permite que apliqu<strong>em</strong>os a equação (5.18) e obtenhamos diretamente<br />
o espectro <strong>de</strong>Φ. Um cuidado <strong>de</strong>ve ser tomado no entanto: a equação (5.18)<br />
envolve uma <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> v/a. A solução apresentada paraµ/a (que correspon<strong>de</strong> a<br />
v/a no caso <strong>de</strong> perturbações escalares) é uma solução constante. Isso não significa<br />
queΦseja nulo, já que <strong>em</strong> or<strong>de</strong>ns superiores <strong>de</strong> aproximação a soluçãoµ/a apresentará<br />
correções <strong>em</strong> k 2 η 2 , cujas <strong>de</strong>rivadas contribuirão paraΦ. Dev<strong>em</strong>os então<br />
voltar na equação (6.11) e calcular também os termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k 2 .<br />
A equação (6.11), quando <strong>de</strong>rivada <strong>em</strong>ηesubstituída a trajetória bohmiana<br />
(6.1) leva a<br />
( v ′=− C 1 λk<br />
a) 2 ∫<br />
a 2 T 0 a0<br />
1+3λ<br />
+ C [ ∫<br />
2<br />
a 2 1−λk 2 T0 2 a−2+6λ 0<br />
dx(1+ x 2 ) 1+3λ<br />
3(1−λ)<br />
]<br />
dx(1+ x 2 ) 3(1−λ) 1+3λ<br />
arctan x<br />
on<strong>de</strong> usamos a relação entre o t<strong>em</strong>po conforme e a coor<strong>de</strong>nada T<br />
dη=a 3λ−1 T 0 dx<br />
para mudar <strong>de</strong> variável <strong>de</strong> integração e <strong>de</strong>finimos x=T/T 0 . Como estamos interessados<br />
na <strong>de</strong>terminação do potencial <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>en que gera as anisotropias da<br />
104
adiação <strong>de</strong> fundo, ou seja <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos já bastante posteriores ao bounce, po<strong>de</strong>mos<br />
consi<strong>de</strong>rar, nas integrais acima, x>> 1 e daí v<strong>em</strong><br />
( v<br />
a<br />
λC 2<br />
a 2 0<br />
) ′=− C 2<br />
a 2 0<br />
[<br />
x − 3(1−λ)+<br />
4<br />
−C 1 T 0 a0 1+3λ − C 2T0 2a−2+6λ<br />
2<br />
T0 2 3(1−λ)k 2<br />
a6λ 0<br />
3(1−λ).<br />
2(1+3λ) x−2+6λ<br />
0<br />
π<br />
] 3(1−λ)<br />
5+3λ<br />
k 2<br />
a 2 0<br />
λx 3(1−λ)+<br />
1+3λ<br />
Po<strong>de</strong>mos então verificar que para os valores <strong>de</strong>λque interessam ao nosso trabalho<br />
(0> 1<br />
x=<br />
[ 1+3λ<br />
3(1−λ)<br />
0<br />
π<br />
] 3(1−λ)<br />
5+3λ<br />
a0<br />
1−3λ ] 3(1−λ)<br />
1+3λ 3(1−λ)<br />
η 1+3λ ,<br />
T 0<br />
k 2<br />
a 2 0<br />
λx 3(1−λ).<br />
1+3λ<br />
v<strong>em</strong><br />
( v ′=− [C 1 +<br />
a) C 2T 0 a −3(1−λ)<br />
0<br />
π] (1+3λ)λ<br />
2 5+3λ k2 η.<br />
Substituindo este resultado <strong>em</strong> (5.18) e <strong>de</strong>compondoΦ<strong>em</strong> modos normais, obt<strong>em</strong>os<br />
Φ∝<br />
[C 1 + C 2T 0 a −3(1−λ)<br />
0<br />
π]<br />
.<br />
2<br />
Não é difícil verificar que os termos <strong>de</strong> correção <strong>em</strong> or<strong>de</strong>m k 2 não alteram a<br />
<strong>de</strong>pendência <strong>em</strong> k dos coeficientes ˜C 1 e ˜C 2 , sendo responsáveis apenas por uma<br />
mudança <strong>em</strong> suas amplitu<strong>de</strong>s. Para tanto basta aproximar <strong>em</strong> (6.11) a∝η n , válido<br />
paraηsuficient<strong>em</strong>ente gran<strong>de</strong>. Obtém-se facilmente que as correções são proporcionais<br />
a k 2 η 2 e que no instante <strong>de</strong> junção essas correções, sendo proporcionais a<br />
k 2 η 2 M<br />
, são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> k. Isso significa que as <strong>de</strong>pendências funcionais <strong>de</strong><br />
˜C 1 e ˜C 2 obtidas anteriormente continuam válidas. Assim, ˜C 2 domina sobre ˜C 1 e<br />
obt<strong>em</strong>os finalmente<br />
Φ∝k − 2(1+3λ).<br />
3(1−λ)<br />
Como o espectro <strong>de</strong> perturbações escalares é dado por<br />
chegamos ao resultado<br />
com<br />
P s = 2k3<br />
π 2|Φ|2<br />
P s ∝ k n s−1<br />
n s = 1+ 12λ<br />
1+3λ , (6.14)<br />
105
essencialmente o mesmo obtido para as perturbações tensoriais.<br />
Note que oλaque nos referimos é aquele do fluido que domina <strong>em</strong>|x|>><br />
1. Assim, o particular fluido que realiza o bounce não é diretamente relevante.<br />
Na realida<strong>de</strong> o papel do bounce é apenas o <strong>de</strong> selecionar o modo ˜C 2 como modo<br />
dominante s<strong>em</strong> efetivamente alterar a <strong>de</strong>pendência funcional <strong>de</strong>ste, a qual foi fixada<br />
<strong>em</strong>−∞.<br />
6.2 Soluções Numéricas<br />
Os resultados obtidos na seção anterior pelo método <strong>de</strong> junção foram reobtidos<br />
numericamente [80]. Na solução numérica, escolheu-se um valorλ=8, 4x10 −4 ,<br />
que produz um espectro com n s = 1, 01 segundo a equação(6.14). Este é um valor,<br />
que, <strong>em</strong>bora não seja o que produz o melhor acordo com as observações do WMAP<br />
[82] (n s ∼ 0, 97), ainda está <strong>de</strong>ntro dos valores aceitáveis.<br />
As amplitu<strong>de</strong>s, tanto das perturbações escalares quanto das perturbações tensoriais<br />
têm como parâmetro livre a escala <strong>de</strong> curvatura característica do bounce,<br />
dada por<br />
l 0 = a 3λ<br />
0 T 0<br />
e, para que a amplitu<strong>de</strong> do espectro <strong>de</strong> perturbações escalares esteja <strong>em</strong> acordo<br />
com os dados observacionais obtidos do WMAP é necessário que l 0 ∼ 10 3 l, um<br />
valor muito bom do ponto <strong>de</strong> vista conceitual pois é pequeno o suficiente para que<br />
efeitos quânticos da gravitação sejam relevantes, sendo ainda gran<strong>de</strong> o suficiente<br />
para que a equação <strong>de</strong> Wheeler-DeWitt não seja invalidada por uma eventual estrutura<br />
discreta do espaço-t<strong>em</strong>po (como prevista por teorias como a <strong>de</strong> cordas ou<br />
gravitação quântica com laços). Isso torna o mo<strong>de</strong>lo altamente consistente. Além<br />
disto, a razão entre as amplitu<strong>de</strong>s das perturbações tensoriais e escalares T/S resultou<br />
nesse mo<strong>de</strong>lo da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 10 −3 , suficient<strong>em</strong>ente pequeno para que os resultados<br />
possam ser consi<strong>de</strong>rados consistentes com os dados do WMAP, que consi<strong>de</strong>ram<br />
T/S menor que 0.21. Uma razão T/S <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 0.21, daria l 0 ∼ 350l<br />
eλ∼8.5x10 −2 , que leva à <strong>de</strong>pendência <strong>em</strong> k 0,81 , um valor muito alto. Isso nos<br />
leva a concluir que efetivamente este mo<strong>de</strong>lo prevê razões T/S pequenas, dando<br />
bom acordo com os dados observacionais. Uma possibilida<strong>de</strong> ainda inexplorada<br />
é a <strong>de</strong> uma pequena componente <strong>de</strong> energia escura dominando o Universo <strong>em</strong> algum<br />
ponto <strong>de</strong> sua fase contrativa, o que presumivelmente diminuiria o valor <strong>de</strong> n s ,<br />
aproximando-o ainda mais do valor mais aceito, 0, 97.<br />
Na figura (6.2) apresentamos o comportamento dos espectros escalar e tensorial,<br />
b<strong>em</strong> como da razão entre suas amplitu<strong>de</strong>s, obtidos numericamente [80].<br />
Na figura (6.3) apresentamos a evolução t<strong>em</strong>poral do modo v(x) para um valor<br />
<strong>de</strong> ˜k=10 −3 (˜k=:λkl 0 /a 0 ) eλ=0.1. Note que os modos escalares apresentam<br />
oscilações <strong>em</strong> sua amplitu<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> T∼ 10 7 T 0 (para os valores escolhidos). Na<br />
figura (6.4) apresentamos uma comparação da amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>P s eP T para alguns<br />
valores selecionados <strong>de</strong> ˜k. Note que os valores se tornam maiores que 1 durante o<br />
bounce ter se dado, o que po<strong>de</strong>ria levar a uma inconsistência no nosso tratamento.<br />
106
P Φ<br />
( ~ k)/ ~ k n S -1 , P h<br />
( ~ k)/ ~ k n T<br />
and T/S<br />
10 2<br />
10 0<br />
10 -2<br />
P Φ<br />
( ~ k)/ ~ k n S -1<br />
P h<br />
( ~ k)/ ~ k n T<br />
T/S<br />
10 -4<br />
10 -6 10 -5 10 -4 10 -3 10 -2 10 -1 10 0 10 1<br />
k<br />
~<br />
Figura 6.2: Espectros das perturbações escalares e tensoriais e razão T/S para<br />
umλ=8.5x10 −4 e l 0 = 1474l. Na figura, ˜k=<br />
√<br />
λT0<br />
k<br />
a0<br />
1−3λ<br />
Isto po<strong>de</strong> ser resolvido por uma escolha a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> a 0 , que ainda não foi <strong>de</strong>terminado<br />
pela comparação com as observações, já que o que interessa realmente nesta<br />
análise é o potencial <strong>de</strong> Bar<strong>de</strong>en, o qual é dado por [80]<br />
Φ k = f (x)<br />
˜k 2<br />
√ ω(ω+1)<br />
( l<br />
1/2<br />
0<br />
l<br />
1−ω a 3/2<br />
0<br />
on<strong>de</strong> f (x) é uma função que <strong>de</strong>screve a evolução das perturbações no método<br />
numérico utilizado.<br />
)<br />
,<br />
107
10 8<br />
10 6<br />
|Re v(x)|<br />
|Im v(x)|<br />
|v(x)|<br />
v(x)<br />
10 4<br />
10 2<br />
10 0<br />
~<br />
k=10 -3<br />
-1×10 8 -5×10 7 0 5×10 7 1×10 8<br />
x<br />
Figura 6.3: Evolução dinâmica <strong>de</strong>|v| para ˜k=10 −3 eλ=0.1. Note que|v| começa<br />
a oscilar após a passag<strong>em</strong> pelo bounce.<br />
108
10 5<br />
ω=0.01<br />
10 0<br />
Spectra<br />
10 -5<br />
10 -10<br />
10 -15<br />
P Φ<br />
(x)/ ~ k n S -1 , ~ k=10 -7<br />
P h<br />
(x)/ ~ k n T<br />
, ~ k=10 -7<br />
P Φ<br />
(x)/ ~ k n S -1 , ~ k=10 -5<br />
P h<br />
(x)/ ~ k n T<br />
, ~ k=10 -5<br />
10 -20<br />
-100 -75 -50 -25 0 25 50 75 100<br />
kx<br />
~<br />
Figura 6.4: Valores <strong>de</strong>P s eP T (na figura i<strong>de</strong>ntificado comoP h ) associados às<br />
perturbações escalares e tensoriais para diversos valores <strong>de</strong> ˜k eλ=0.1. Note que<br />
os valores <strong>de</strong>stas quantida<strong>de</strong>s se tornam maiores que 1 no bounce.<br />
109
Capítulo 7<br />
Conclusões e Perspectivas<br />
Futuras<br />
Este trabalho mostrou que as equações simplificadas que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> a dinâmica<br />
das perturbações, originalmente obtidas <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> cosmologia clàssica e por<br />
muito t<strong>em</strong>po tidas como exclusivas <strong>de</strong>sses mo<strong>de</strong>los, po<strong>de</strong>m ser obtidas <strong>de</strong> forma<br />
totalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do fato da dinâmica dos graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m zero<br />
ser clássica ou não. Isso habilita tais simplificações a ser<strong>em</strong> consistent<strong>em</strong>ente utilizadas<br />
nos casos <strong>em</strong> que o fundo também é quantizado.<br />
Usamos tais equações <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo simplificado existente na literatura. Nesse<br />
mo<strong>de</strong>lo, um universo eterno, inicialmente dominado por poeira e <strong>em</strong> contração,<br />
t<strong>em</strong> sua evolução modificada por efeitos quânticos, entrando <strong>em</strong> uma fase expansiva<br />
que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>boca, para t<strong>em</strong>pos suficient<strong>em</strong>ente gran<strong>de</strong>s, no mo<strong>de</strong>lo padrão da<br />
cosmologia. Mostramos que tal mo<strong>de</strong>lo po<strong>de</strong> representar uma boa <strong>de</strong>scrição do<br />
Universo pois gera um espectro <strong>de</strong> perturbações escalares invariante <strong>de</strong> escala para<br />
k pequeno (k é o módulo do vetor <strong>de</strong> onda das perturbações), <strong>em</strong> acordo com as observações<br />
das anisotropias da CMB. Fica assim evi<strong>de</strong>nciada a relevância do método<br />
<strong>de</strong>senvolvido no que concerne à comparação dos mo<strong>de</strong>los da cosmologia quântica<br />
com as observações.<br />
Outro aspecto importante sobre o qual nada comentamos no corpo da tese é o<br />
<strong>de</strong> que apesar <strong>de</strong> todos os resultados obtidos ter<strong>em</strong> sido para o caso <strong>de</strong> universos<br />
espacialmente planos (K= 0), a simplificação <strong>de</strong>monstrada po<strong>de</strong> ser aplicada ao<br />
setor tensorial mesmo nos casos K =−1 e K =+1 [79]. Esse último gera um<br />
universo que passa por fases <strong>de</strong> expansão/contração cíclicas, s<strong>em</strong> nunca colapsar<br />
<strong>em</strong> uma singularida<strong>de</strong>, não sendo possível estabelecer condições iniciais para as<br />
perturbações s<strong>em</strong> ambiguida<strong>de</strong>. Além disso, acredita-se que a passag<strong>em</strong> das perturbações<br />
por cada bounce leva à criação <strong>de</strong> novos quanta perturbativos, <strong>de</strong> forma<br />
que ao final <strong>de</strong> um certo número <strong>de</strong> tais passagens a amplitu<strong>de</strong> das perturbações<br />
cresça muito. Isso inviabiliza a abordag<strong>em</strong> perturbativa para tais mo<strong>de</strong>los. No caso<br />
K=−1, no entanto, todo o processo po<strong>de</strong> ser consistent<strong>em</strong>ente utilizado, pois há<br />
apenas uma transição contração/expansão, e espectros <strong>de</strong> ondas gravitacionais po-<br />
110
<strong>de</strong>m ser calculados. Para as perturbações vetoriais e escalares ainda há dificulda<strong>de</strong>s<br />
técnicas a ser<strong>em</strong> enfrentadas no formalismo.<br />
Os resultados obtidos abr<strong>em</strong> algumas perspectivas para a pesquisa <strong>de</strong>senvolvida.<br />
Num primeiro momento precisaríamos esten<strong>de</strong>r o formalismo para o caso <strong>de</strong> perturbações<br />
vetoriais e escalares <strong>em</strong> seções epaciais com K 0 e calcularmos os<br />
espectros envolvidos. Também uma análise dos mo<strong>de</strong>los dominados por campo<br />
escalar, é uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuação imediata do presente trabalho. Outra<br />
questão é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>rmos o formalismo para mo<strong>de</strong>los com dois ou<br />
mais fluidos. Também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>rmos o método até or<strong>de</strong>ns mais<br />
altas, o que permitiria fazer previsões ainda mais precisas a ser<strong>em</strong> comparadas com<br />
observações, é uma questão a ser avaliada.<br />
Uma questão levantada pelo mo<strong>de</strong>lo discutido no capítulo 6 é a orig<strong>em</strong> da radiação<br />
que sabidamente <strong>de</strong>ve dominar o Universo <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos posteriores ao bounce.<br />
Uma hipótese, que ainda precisa ser mais elaborada, é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perturbações<br />
<strong>de</strong> muito pequeno comprimento <strong>de</strong> onda (para as quais o espectro não é<br />
invariante <strong>de</strong> escala, segundo a figura (6.2)) dar<strong>em</strong> orig<strong>em</strong>, <strong>em</strong> torno do bounce, a<br />
mini buracos negros, cujo <strong>de</strong>caimento seria a fonte <strong>de</strong>sta radiação. Uma outra possibilida<strong>de</strong><br />
é trabalharmos com um mo<strong>de</strong>lo que contenha dois fluidos, incluindo aí<br />
a radiação. Neste caso, o formalismo <strong>de</strong>senvolvido <strong>de</strong>veria ser generalizado, b<strong>em</strong><br />
como a questão das perturbações <strong>de</strong> entropia <strong>de</strong>veria ser cuidadosamente analisada.<br />
Também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> uma fase com domínio <strong>de</strong> uma componente<br />
<strong>de</strong> energia escura anteriormente ao bounce <strong>de</strong>ve ser analisada. Essas são<br />
questões <strong>em</strong> aberto, e objetivo <strong>de</strong> futuras pesquisas no assunto.<br />
No que se refere à questão da energia escura citada no parágrafo anterior, se<br />
tal componente realmente dominou a evolução do Universo <strong>em</strong> algum momento<br />
da fase contrativa, esse domínio <strong>de</strong>ve ser transiente, uma vez que uma fase <strong>de</strong> contração<br />
acelerada não só invalidaria a imposição <strong>de</strong> condições iniciais <strong>de</strong> vácuo para<br />
as perturbações, tornando o mo<strong>de</strong>lo inconsistente, como po<strong>de</strong>ria levar à existência<br />
<strong>de</strong> horizontes <strong>de</strong> partículas, aspecto in<strong>de</strong>sejado <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los cosmológicos. Também<br />
a existência <strong>de</strong> uma fase comλ
compl<strong>em</strong>entar a este.<br />
112
Apêndice A<br />
Determinação da Ação do Setor<br />
Gravitacional até a Segunda<br />
Or<strong>de</strong>m nas <strong>Perturbações</strong><br />
Seja a métrica perturbada<br />
˜g µν = g (0)<br />
µν+ h µν .<br />
A sua inversa será, <strong>de</strong>sprezando termos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 3 ou maior,<br />
˜g µν = g (0)µν − h µν + h µ αh α ν.<br />
Nas expressões acima os índices são elevados e abaixados com o uso da métrica <strong>de</strong><br />
fundo g (0)<br />
µν e <strong>de</strong> sua inversa g (0)µν .<br />
O <strong>de</strong>terminante será<br />
(<br />
˜g=g (0) 1+h+ 1 2 h2 − 1 )<br />
2 hµν h µν<br />
e a sua raiz quadrada será<br />
√<br />
−˜g=<br />
√−g (0) (1+ 1 2 h+ 1 8 h2 − 1 4 hµν h µν<br />
)<br />
.<br />
Vamos agora calcular as quantida<strong>de</strong>s{µν,α}, ˜ ˜Γ β µν, ˜R µ ναρ, ˜R νρ e ˜R, s<strong>em</strong>pre até a<br />
segunda or<strong>de</strong>m <strong>em</strong> h µν .<br />
{µν,α}= ˜<br />
1 ) (˜g µα,ν + ˜g να,µ − ˜g µν,α ={µν,α} (0) + 1 ) (h µα,ν + h να,µ − h µν,α<br />
2<br />
2<br />
˜<br />
Γ β µν= ˜g βα {µν,α}=Γ ˜ (0)β<br />
µν + 1 (<br />
h β µ;ν+ h β ;β<br />
ν;µ− h µ;ν<br />
)− 1 ) (h<br />
2<br />
2 hαβ αν;µ + h αµ;ν − h µν;α<br />
113
˜R µ ναρ= ˜Γ µ νρ,α− ˜Γ µ να,ρ+ ˜Γ ǫ ˜Γ µ νρ ǫα− ˜Γ ǫ ˜Γ µ να ǫρ= R (0)µ ναρ+ 1 h µ ν;ρα+ h µ ρ;να<br />
2<br />
;µ<br />
−h νρ α − h µ ν;αρ− h µ ;µ<br />
α;νρ+ h αν ρ<br />
)− 1 )<br />
2 hµσ ;α<br />
(h σν;ρ + h σρ;ν − h ρν;σ<br />
+ 1 2 hµσ ;ρ<br />
(h σν;α + h σα;ν − h αν;σ<br />
)− 1 (<br />
2 hµσ h σν;ρα + h σρ;να − h νρ;σα − h σν;αρ<br />
)<br />
−h σα;νρ + h αν;σρ + 1 [( )( )<br />
h ǫ ν;ρ+ h ǫ ;ǫ<br />
ρ;ν− h ρν h µ ǫ;α+ h µ ;µ<br />
α;ǫ− h αǫ<br />
4<br />
( )( )]<br />
− h ǫ ν;α+ h ǫ ;ǫ<br />
α;ν− h αν h µ ǫ;ρ+ h µ ;µ<br />
ρ;ǫ− h ρǫ<br />
˜R νρ = ˜R µ νµρ= R (0)<br />
νρ+ 1 ) ( (h µ ν;ρµ+ h µ ;µ<br />
ρ;νµ− h νρ µ − h ;νρ − h µσ ;µ h σν;ρ<br />
2<br />
)<br />
+h σρ;ν − h ρν;σ − 1 (<br />
2 hµσ<br />
+ 1 4 h ;ǫ<br />
(<br />
h ǫ ν;ρ+ h ǫ ρ;ν− h νρ<br />
;ǫ<br />
h σν;ρµ + h σρ;νµ − h νρ;σµ − h σµ;νρ<br />
)+ 1 4 hµσ ;ρh µσ;ν<br />
)<br />
− 1 ( )( )<br />
h ǫ ;ǫ<br />
ν;µ− h µν h µ ;µ<br />
ρ;ǫ− h ǫρ<br />
4<br />
(<br />
˜R= ˜R µν g˜g µν = R (0) + h µν ;µν− h ;µ µ− h σµ ;µh ν σ ;ν+ h σµ ;µh ;σ + 3 4 hσµ;ν h σµ;ν<br />
com<br />
−h µσ h σ<br />
ν ;νµ + h µσ h ;µσ + h µσ h µσ<br />
;ν ν − 1 4 h ;µh ;µ − 1 2 h νµ;ǫh νǫ;µ − h νρ R νρ<br />
−h νρ h µ ν;ρµ+ h ν αh αρ R νρ .<br />
Por fim, a ação será<br />
δ 2 S=− 1<br />
6l 2 ∫<br />
˜S=− 1<br />
6l 2 ∫<br />
d 4 x √ −˜g ˜R=S (0) +δ 1 S+δ 2 S<br />
S (0) =− 1<br />
6l 2 ∫<br />
δ 1 S= 1<br />
6l 2 ∫<br />
d 4 x √ −gR (0)<br />
d 4 x √ −gh µν G (0)<br />
µν<br />
(<br />
d 4 x<br />
√−g (0) −h σµ ν<br />
;µh σ ;ν + h σµ ;µh ;σ + 3 4 hσµ;ν h σµ;ν − h σµ ν<br />
h σ ;νµ<br />
+h µσ h µσ<br />
;ν ν − 1 4 h ;µh ;µ − 1 2 hνµ;ǫ h νǫ;µ − h ν ρ h νµ ;ρµ+ h α ν h αρ R (0)<br />
νρ+ 1 2 hhµν ;µν<br />
− 1 2 hh;µ µ− 1 2 hhµν R (0)<br />
µν+ 1 8 h2 R (0) − 1 4 hµν h µν R (0) + h µσ h ;µσ<br />
).<br />
Através <strong>de</strong> integrais por partes obt<strong>em</strong>os<br />
δ 2 S= 1 ∫<br />
6l 2 d 4 x<br />
− 1 2 hνǫ h αµ R (0)<br />
ναǫµ+ 1 2<br />
√<br />
−g (0) [ 1<br />
4 hµν;α h µν;α − 1 2 h µ ν ;νh µρ ;ρ+ 1 2 h ;µh µν ;ν− 1 4 h ;µh ;µ<br />
(hh αβ − h µ α h µβ )<br />
R (0)<br />
αβ + (<br />
114<br />
h µν h µν − 1 2 h2 ) R<br />
(0)<br />
4<br />
]<br />
.
Por fim, através <strong>de</strong><br />
R ναǫµ = W ναǫµ − 1 ) (g νµ R αǫ + R νµ g αǫ − g νǫ R αµ − R νǫ g αµ − R ) (g νǫ g αµ − g νµ g αǫ ,<br />
2<br />
6<br />
a ação acima se torna<br />
δ 2 S= 1 ∫<br />
6l 2<br />
− 1 2 hαµ h βν W (0)<br />
αβµν + (<br />
√ [ 1<br />
d 4 x −g (0) 4 hµν;α h µν;α − 1 2 h µ ν ;νh µρ ;ρ+ 1 2 h ;µh µν ;ν− 1 4 h ;µh ;µ<br />
h µν h µν − 1 4 h2 ) R<br />
(0)<br />
6<br />
]<br />
.<br />
115
Apêndice B<br />
Obtenção da Ação <strong>de</strong> um Fluido<br />
Expandida até a Segunda Or<strong>de</strong>m<br />
nas <strong>Perturbações</strong><br />
Na presença <strong>de</strong> perturbações as partículas do fluido são <strong>de</strong>slocadas <strong>de</strong> suas<br />
posições originais, x µ , ao longo do vetor infinitesimalξ µ , que parametriza as perturbações.<br />
˜x µ = x µ 0 +ξµ .<br />
(B.1)<br />
A métrica perturbada no ponto x+ξ será<br />
˜g µν (x 0 +ξ)= ˜g µν (x 0 )+ ˜g µν,α ξ α + 1 2 ˜g µν,αβξ α ξ β ,<br />
(B.2)<br />
cujo cálculo explícito das componentes leva a<br />
(<br />
˜g 00 (x 0 +ξ)=N 2 1+2φ+2 Ṅ<br />
N χ0 + 4 Ṅ<br />
N φχ+2 ˙φχ+2φ i χ i + ¨N )<br />
N χ 2 + Ṅ2<br />
N 2χ2<br />
˜g 0i (x 0 +ξ)=−NaA i − ṄaA i χ− NȧA i χ− NaȦ i χ− NaA i, j χ j<br />
˜g i j (x 0 +ξ)=−a 2 γ i j + a 2 ǫ i j − 2ȧaγ i j χ+2ȧaǫ i j χ+a 2 ǫ i j,k χ k − äaγ i j χ 2 − ȧ 2 γ i j χ 2 .<br />
Para a obtenção <strong>de</strong>ssas expressões, usamos o fato que K = 0 e fomos para um<br />
sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas cartesiano, no qualγ i j,k = 0. O resultado final <strong>de</strong>sses cálculos<br />
(<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partículas, <strong>de</strong> energia e a ação) sendo quantida<strong>de</strong>s tensoriais,<br />
será válido <strong>em</strong> qualquer sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas.<br />
Das expressões acima tiramos<br />
˜g µν (x 0 +ξ) ∂(xµ 0 +ξµ ) ∂(x0 ν+ξν )<br />
=<br />
∂σ ∂σ<br />
(<br />
g (0)<br />
µν<br />
∂x µ 0<br />
∂σ<br />
∂x0<br />
ν )(<br />
∂σ<br />
1+2φ+2 Ṅ<br />
N<br />
χ+2 ˙χ<br />
+4 Ṅ<br />
N φχ+2 ˙φχ+2φ i χ i + ¨N<br />
N χ 2 + Ṅ2<br />
N 2χ2 + 4 ˙φχ+4 Ṅ<br />
N χ ˙χ+ ˙χ 2 − 2 a N A i ˙χ i<br />
)<br />
− a2<br />
N 2γ i j ˙χ i ˙χ j (B.4)<br />
116<br />
(B.3)
on<strong>de</strong> escolh<strong>em</strong>osσ= x 0 e usamos que as partículas do fluido não perturbado são<br />
comóveis com as coor<strong>de</strong>nadas utilizadas.<br />
Daí obt<strong>em</strong>os<br />
[˜g µν (x 0 +ξ) ∂(xµ 0 +ξµ ) ∂(x0 ν+ξν )<br />
] 1<br />
2=<br />
[<br />
g µν (x 0 ) ∂xµ 0<br />
∂σ<br />
∂x0<br />
ν ] 1<br />
2<br />
[<br />
1+φ+ Ṅ<br />
∂σ N χ<br />
∂σ ∂σ<br />
+ ˙χ+ Ṅ<br />
N φχ+ ˙φχ+φ i χ i + 1 ¨N<br />
2 N χ 2 +φ ˙χ+ Ṅ<br />
N χ ˙χ− a N A i ˙χ i<br />
− 1 a 2<br />
2 N 2γ i j ˙χ i ˙χ j − 1 ]<br />
2 φ2 . (B.5)<br />
Por outro lado t<strong>em</strong>os<br />
√<br />
−g,α = 1 √<br />
−ggµν,α g µν<br />
2<br />
(B.6)<br />
√<br />
−g,αβ =<br />
√ −g<br />
2<br />
( 1<br />
2 g ρσ,βg µν,α g ρσ g µν + g µν,αβ g µν + g µν,α g µν ,β)<br />
, (B.7)<br />
que permite-nos calcular √ −˜g(x 0 +ξ).<br />
√ √ [<br />
−˜g(x0 +ξ)= g (0) (x 0 ) 1+φ− 1 2 ǫ+ Ṅ<br />
N χ+ 3ȧ a χ− 1 2 φ2 − 1 2 ǫφ+ 1 2 A iA i<br />
− 1 4 ǫ i jǫ i j + 1 8 ǫ2 + Ṅ<br />
N φχ− 1 Ṅ<br />
2 N ǫχ+3ȧ a φχ− 3 ȧ<br />
2 a ǫχ+ ˙φχ+φ i χ i<br />
− 1 2 γi j ǫ i j,k χ k − 1 Ṅȧ ˙ǫχ+3<br />
2 Na χ 2 3ȧ2<br />
+<br />
a 2χ2 + 1 ¨N<br />
2 N χ 2 + 3 ä<br />
]<br />
2 a χ 2 . (B.8)<br />
O jacobiano da transformação do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas lagrangiano (a i ,λ)<br />
para o sist<strong>em</strong>a euleriano (x µ 0 +ξµ ) será<br />
[<br />
J(x 0 +ξ)= J 0 1+ ∂ξα 1 ( ∂ξ<br />
α<br />
∂x α+ 2<br />
) 2− 1<br />
∂x α 2<br />
]<br />
+ 1 2 χi ,iχ j , j+ ˙χχ i ,i−χ ,i ˙χ i − 1 2 χi , jχ j ,i<br />
∂ξ α ∂ξ β ]<br />
∂x β ∂x α = J 0<br />
[1+ ˙χ+χ i ,i<br />
(B.9)<br />
on<strong>de</strong> J 0 é o Jacobiano não perturbado.<br />
O produto √ −˜g(x 0 +ξ)J(x 0 +ξ) será<br />
√ [<br />
−˜g(x0 +ξ)J(x 0 +ξ)=<br />
√−g (0) J 0 1+φ− 1 2 ǫ+ Ṅ<br />
N χ+ 3ȧ a χ+ ˙χ+χi ,i− 1 2 φ2<br />
− 1 2 ǫφ+ 1 2 A iA i − 1 4 ǫ i jǫ i j + 1 8 ǫ2 + Ṅ<br />
N φχ− 1 Ṅ<br />
2 N ǫχ+3ȧ a φχ− 3 ȧ<br />
2 a ǫχ+ ˙φχ<br />
+φ i χ i − 1 2 γi j ǫ i j,k χ k − 1 Ṅȧ ˙ǫχ+3<br />
2 Na χ 2 3ȧ2<br />
+<br />
a 2χ2 + 1 2<br />
− 1 2 ǫ ˙χ+ Ṅ<br />
N χ ˙χ+3ȧ a ˙χχ+φχi ,i− 1 2 ǫχi ,i+ Ṅ<br />
+ ˙χχ i ,i−χ ,i ˙χ i − 1 2 χi , jχ j ,i<br />
]<br />
¨N<br />
N χ 2 + 3 ä<br />
2 a χ 2 +φ ˙χ<br />
N χχi ,i+ 3ȧ<br />
a χχi ,i+ 1 2 χi ,iχ j , j<br />
(B.10)<br />
117
e o inverso <strong>de</strong>sta expressão será<br />
[ −1= ] −1 [ √−˜g(x0 +ξ)J(x 0 +ξ)] [√−g (0) (x 0 )J 0 1−φ+ 1 2 ǫ− Ṅ<br />
N χ− 3ȧ χ− ˙χ<br />
a<br />
−χ i ,i+ 3 2 φ2 − 1 2 ǫφ− 1 2 A iA i + 1 4 ǫ i jǫ i j + 1 8 ǫ2 − 1 Ṅ<br />
2 N ǫχ− ˙φχ−φ i χ i + 1 2 γi j ǫ i j,k χ k<br />
− 1 ¨N<br />
2 N χ 2 − 3 ä<br />
2 a χ 2 +χ ,i ˙χ i + 1 2 χi , jχ j ,i+ Ṅ2<br />
6ȧ2<br />
N 2χ2 +<br />
a 2χ2 + ˙χ 2 + 1 2 χi ,iχ j , j<br />
+ Ṅ<br />
N φχ+3ȧ a φχ+φ ˙χ+φχi ,i− 3 ȧ<br />
2 a ǫχ− 1 2 ǫ ˙χ− 1 2 ǫχi ,i+ 3 Ṅȧ<br />
Na χ 2 + Ṅ<br />
N χ ˙χ<br />
+ Ṅ<br />
N χχi ,i+ 3ȧ<br />
a ˙χχ+3ȧ a χχi ,i+ ˙χχ i ,i+ 1 ]<br />
2 ˙ǫχ . (B.11)<br />
Substituindo todas essas expressões na fórmula para a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partículas<br />
v<strong>em</strong><br />
com<br />
[<br />
= n 1+ 1 2 ǫ− 3ȧ a χ−χi ,i− a N A i ˙χ i<br />
ñ(x 0 +ξ)= F[˜g µν(x 0 +ξ) ∂(xµ 0 +ξµ ) ∂(x0 ν+ξν )<br />
∂σ ∂σ<br />
] 1 2<br />
√ −˜g(x0 +ξ)J(x 0 +ξ)<br />
− 1 a 2<br />
2 N 2γ i j ˙χ i ˙χ j − 1 2 A iA i + 1 4 ǫ i jǫ i j + 1 8 ǫ2 + 1 2 ǫ ,iχ i + 1 2 ˙ǫχ− 3 ä<br />
2 a χ 2 +χ ,i ˙χ i<br />
+ 1 2 χi , jχ j 6ȧ2<br />
,i+<br />
a 2χ2 + 1 2 χi ,iχ j , j− 3 ȧ<br />
2 a ǫχ− 1 2 ǫχi ,i+ 3ȧ<br />
a χχi ,i<br />
Expandindo <strong>de</strong> volta para o ponto x µ 0 ter<strong>em</strong>os<br />
[<br />
ñ(x 0 )=n<br />
1+ 1 2 ǫ−χi |i+χ ˙χ i |ß+χ i | jiχ j − a N A i ˙χ i − 1 2<br />
+ 1 8 ǫ2 +χ |i ˙χ i + 1 2 χi | jχ j |i+ 1 2 χi |iχ j | j− 1 2 ǫχi |i<br />
A ação será por fim<br />
∫<br />
δ 1 S=−<br />
∫<br />
δ 2 S=−<br />
]<br />
. (B.12)<br />
a 2<br />
N 2γ i j ˙χ i ˙χ j − 1 2 A iA i + 1 4 ǫ i jǫ i j<br />
]<br />
. (B.13)<br />
S= S (0) +δ 1 S+δ 2 S (B.14)<br />
∫<br />
S (0) =−<br />
d 4 xNa 3 γ 1 2 (ρ0 + p 0 )( 1<br />
2 ǫ−χi |i<br />
d 4 xNa 3 γ 1 2<br />
d 3 xNa 3 γ 1 2 ρ0<br />
)− Na 3 ρ 0<br />
∫<br />
d 4 xγ 1 2<br />
(φ− 1 2 ǫ )<br />
(B.15)<br />
(B.16)<br />
( {ρ 0 − 1 2 φ2 + 1 ) ( 1<br />
2 A iA i −φχ i |i + p 0<br />
2 ǫφ+ 1 4 ǫi j ǫ i j − 1 )<br />
8 ǫ2 −φχ i |i<br />
− 1 ( a<br />
2<br />
2 (ρ 0+ p 0 )<br />
N 2 ˙χi ˙χ i + 2 ȧ )<br />
N A i ˙χ i + A i A i + 1 1<br />
)}<br />
2 c2 s(ρ 0 + p 0 )(<br />
4 ǫ2 +χ i |iχ j | j−ǫχ i |i<br />
(B.17)<br />
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