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Angela Bartens – Observações sobre o uso <strong>do</strong>s afixos derivacionais 77<br />
através da multiplicidade das funções de pa-, ta- e -(h)an ou casos<br />
como nadadór ‘marinheiro’ < nadá ‘nadar’ . Enquanto a função <strong>do</strong><br />
afixo geralmente corresponde, nos outros crioulos estuda<strong>do</strong>s até agora,<br />
à sua função na língua de origem, este muitas vezes não é o caso <strong>do</strong><br />
chabacano. Por isso, listámos, na Tabela 6, as funções <strong>do</strong>s afixos<br />
considera<strong>do</strong>s tanto em chabacano como na língua de origem. Por<br />
último, ainda que o inventário de afixos derivacionais <strong>do</strong> chabacano<br />
seja considerável, é muito menor que os inventários encontra<strong>do</strong>s quer<br />
em espanhol, quer em hiligainão (Steinkrüger 2003: 256).<br />
3 – Discussão<br />
Os seis crioulos estuda<strong>do</strong>s utilizam os afixos derivacionais de<br />
maneiras muito distintas. O angolar, geralmente classifica<strong>do</strong> como<br />
crioulo radical, tem um inventário muito reduzi<strong>do</strong>, de que faz um<br />
uso produtivo e transparente, enquanto que os inventários <strong>do</strong>s outros<br />
crioulos são muito mais extensos. A coexistência com a língua<br />
lexifica<strong>do</strong>ra contribui para um esta<strong>do</strong> de coisas em que palavras<br />
derivadas transitam holisticamente de uma língua para a outra.<br />
Porventura sempre foi essa a situação deste crioulo, pelo menos em<br />
parte, ainda que tenha havi<strong>do</strong> épocas na história <strong>do</strong> cabo-verdiano em<br />
que a presença <strong>do</strong> português foi menos significativa (cf., p. ex., Bartens<br />
2000). Esta observação parece valer também para o papiamento, que<br />
hoje em dia Se encontra muito influencia<strong>do</strong> pelo espanhol, ainda<br />
que se trate de um crioulo de base lexical portuguesa e espanhola.<br />
Exemplifica esta situação a existência de autores que afirmam que<br />
o sufixo –mente se tornou produtivo no decorrer <strong>do</strong>s últimos cem<br />
anos, a par de outros que colocam em dúvida a sua produtividade e<br />
defendem que se trata de empréstimos holísticos (ver 2.4.).<br />
Por outro la<strong>do</strong>, pelo carácter restrito <strong>do</strong>s contactos <strong>do</strong> kriyôl com<br />
o português, existe uma necessidade real de se fazer uso produtivo, e<br />
na maior parte <strong>do</strong>s casos transparente, da sua morfologia derivacional,<br />
ainda que obviamente existam diferenças na produtividade de<br />
afixos individuais. O contacto prolonga<strong>do</strong> com o adstrato levou à<br />
incorporação <strong>do</strong> afixo causativo toma<strong>do</strong> de empréstimo ao mandinga<br />
(com influência apenas convergente <strong>do</strong> afixo português). Note-se,