26.12.2013 Views

Documento (.pdf) - Universidade do Porto

Documento (.pdf) - Universidade do Porto

Documento (.pdf) - Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Angela Bartens – Observações sobre o uso <strong>do</strong>s afixos derivacionais 79<br />

<strong>do</strong> cabo-verdiano e <strong>do</strong> papiamento, considera<strong>do</strong>s acrolectais), 35<br />

a produtividade <strong>do</strong>s afixos é condicionada pela inexistência da<br />

possibilidade de emprestar deriva<strong>do</strong>s inteiros da língua lexifica<strong>do</strong>ra e<br />

pela intensidade <strong>do</strong> contacto com o adstrato. Neste senti<strong>do</strong>, o caso <strong>do</strong><br />

chabacano é sumamente ilustrativo e põe em dúvida uma conclusão<br />

à qual seria fácil de chegar a partir <strong>do</strong>s inventários derivacionais <strong>do</strong>s<br />

demais crioulos estuda<strong>do</strong>s, ou seja, que pelo menos em matéria de<br />

derivação, estes crioulos seriam línguas neo-ibero-românicas.<br />

Precisamente, excluin<strong>do</strong> o chabacano <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, esta conclusão<br />

seria imaginável ten<strong>do</strong> em conta que a formação de palavras constitui<br />

um campo muito conserva<strong>do</strong>r duma língua (contanto que alguma<br />

morfologia correspondente se conserve durante o processo de<br />

crioulização; cf. Lüdtke 1996: 236-237) e que são mais ou menos<br />

os mesmos afixos que se conservam em variedades extra-europeias<br />

das línguas ibero-românicas, não ou em menor grau reguladas por<br />

instâncias normaliza<strong>do</strong>ras, como exemplifica<strong>do</strong> pelo português de<br />

Angola, de Moçambique ou de Goa. 36 No espanhol americano que<br />

obviamente tem as suas instâncias normaliza<strong>do</strong>ras, tem si<strong>do</strong> notável<br />

o aumento da produtividade <strong>do</strong>s sufixos –ada, -ero/-era e –ción. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, só um afixo (possivelmente) empresta<strong>do</strong> a uma língua<br />

indígena, -eco/-eca (formação de nomes de lugares e seus habitantes,<br />

e adjectivos pejorativos) <strong>do</strong> nahuatl –ecatl é utiliza<strong>do</strong> de maneira<br />

corrente no espanhol centro-americano e mexicano (Kany 1962:<br />

85ss.; Buesa Oliver & Enguita Utrilla 1992: 238-246; Lipski 1994).<br />

Por isso, repitamo-lo, é bastante elucidativo observar casos<br />

como o <strong>do</strong> chabacano, que demonstra claramente até que ponto<br />

um crioulo pode mudar sob a influência <strong>do</strong> contacto linguístico,<br />

35<br />

Note-se, porém, que os inventários mais extensos postula<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong> não têm a dimensão<br />

<strong>do</strong>s inventários das línguas de super-, sub- ou adstrato, observação que já fizemos a propósito <strong>do</strong><br />

chabacano.<br />

36<br />

Endruschat (1994: 85-87) realça a produtividade <strong>do</strong>s afixos seguintes no português angolano:<br />

anti-, auto-, des-, in-, inter-, não-, pós-, pre-, sobre-, sub-, -a, -a<strong>do</strong>, -dade, -<strong>do</strong>r, -eiro/-eira, -il/-al, -ismo,<br />

-ista, -(iza)ção, -izar, -sita, -ivo. Döll (1994: 129-131) nota as formações análogas “errôneas” (ou seja,<br />

produtivas segun<strong>do</strong> a nossa interpretação) com os afixos anti-, auto-, des-, inter-, mini-, não-, pós-,<br />

pre-, pró-, sobre-, sub-, -ante, -(iza)cão, -eiro, -ismo, -ista, -mento, -(íst)ico, -ível, -izar no português<br />

moçambicano. Dalga<strong>do</strong> (1900b: 68-69) comenta o aumento <strong>do</strong>s usos de –eiro em detrimento de –ista<br />

no português regional de Goa.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!