Aprendendo com as agrobacterias - Biotecnologia
Aprendendo com as agrobacterias - Biotecnologia
Aprendendo com as agrobacterias - Biotecnologia
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ano VII • número 32 • janeiro/junho de 2004<br />
Sementes sintétic<strong>as</strong> - Entrevista<br />
Biodiesel<br />
Cultivares e genes<br />
Receptores de Bacillus thuringiensis em insetos<br />
<strong>Aprendendo</strong> <strong>com</strong> <strong>as</strong> agrobactéri<strong>as</strong><br />
As ômic<strong>as</strong>: integrando a bioinformação<br />
Criptosporidiose em camundongos<br />
Micotoxin<strong>as</strong> em alimentos<br />
Produção de fator FVIII por engenharia genética<br />
Açúcares funcionais<br />
Malária em camundongos imunodeficientes<br />
<strong>Biotecnologia</strong> aplicada ao valor nutricional dos alimentos
EM MAIO DE 1997 PLANTAMOS A PRIMEIRA SEMENTE<br />
DE BIOTECNOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA<br />
2 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
AGORA VOCÊ PODE COLHER OS FRUTOS<br />
www.biotecnologia.<strong>com</strong>.br<br />
KL3<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 3
ENTREVISTA<br />
Sementes sintétic<strong>as</strong><br />
O desenvolvimento de sementes encapsulad<strong>as</strong><br />
Entrevista concedida a<br />
Fernanda Diniz<br />
Sementes encapsulad<strong>as</strong>, também chamad<strong>as</strong> de sementes sintétic<strong>as</strong>,<br />
facilita o intercâmbio de espécies vegetais entre países, pois reduz o<br />
espaço, torna o transporte aéreo mais fácil e possibilita o envio de maiores<br />
quantidades.<br />
Uma nova modalidade de cultura de tecidos de plant<strong>as</strong> vai beneficiar muito o<br />
intercâmbio de espécies vegetais entre diferentes países. Trata-se d<strong>as</strong> sementes<br />
sintétic<strong>as</strong>, uma técnica que vem sendo desenvolvida pela Embrapa Recursos<br />
Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong> – uma d<strong>as</strong> 40 unidades de pesquisa da Embrapa,<br />
localizada em Br<strong>as</strong>ília, DF – que consiste no encapsulamento de embriões<br />
somáticos, ápices caulinares ou gem<strong>as</strong> axilares. O encapsulamento é feito <strong>com</strong> uma<br />
matriz de alginato de cálcio (que não é tóxico para a planta), na qual <strong>as</strong> partes da<br />
planta ficam <strong>com</strong>pletamente envolvid<strong>as</strong> e protegid<strong>as</strong>, <strong>as</strong>semelhando-se fisicamente<br />
a uma semente. Essa técnica vai facilitar e intensificar a troca de espécies<br />
vegetais, já que ocupa pouco espaço e, por isso, permite que sejam enviad<strong>as</strong>, de<br />
uma só vez, milhares de sementes.<br />
O encapsulamento está sendo iniciado na Embrapa Recursos Genéticos e<br />
<strong>Biotecnologia</strong> <strong>com</strong> brotos de mandioca, o que é absolutamente inovador no Br<strong>as</strong>il<br />
e no mundo, <strong>com</strong>o explica o coordenador da pesquisa, Dr. Luis Pedro Barrueto Cid.<br />
Ele afirma ainda que essa é uma forma muito eficiente de conservação e propagação<br />
da mandioca, já que <strong>as</strong> variedades <strong>com</strong>erciais não se propagam por sementes e sim<br />
pela forma vegetativa, ou reprodução <strong>as</strong>sexuada.<br />
Os brotos, ou gem<strong>as</strong>, encapsulados ficam em geladeir<strong>as</strong> por 30 di<strong>as</strong> a uma<br />
temperatura de 15ºC. Depois são retirados para germinação. Além de serem de fácil<br />
a<strong>com</strong>odação, por ocuparem pouco espaço, <strong>as</strong> sementes sintétic<strong>as</strong> beneficiam<br />
também a conservação d<strong>as</strong> espécies vegetais, pois podem ser armazenad<strong>as</strong> sem<br />
germinar e não precisam ser repicad<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o n<strong>as</strong> form<strong>as</strong> tradicionais de cultivo in<br />
vitro.<br />
Já está sendo investido, também, o desenvolvimento de testes experimentais<br />
<strong>com</strong> sementes sintétic<strong>as</strong> de café e feijão e os resultados têm sido b<strong>as</strong>tante positivos.<br />
Para o café, em especial, será um resultado muito importante, já que um dos<br />
problem<strong>as</strong> enfrentados para a conservação de sementes, nessa altura, é que el<strong>as</strong> não<br />
podem ficar armazenad<strong>as</strong> por muito tempo pois perdem rapidamente o poder<br />
germinativo.<br />
Para falar sobre essa pesquisa inovadora no Br<strong>as</strong>il e os benefícios que pode<br />
trazer para a pesquisa agrícola no país, a revista <strong>Biotecnologia</strong>, Ciência &<br />
Desenvolvimento, entrevistou no dia 2 de setembro de 2004, o coordenador da<br />
pesquisa de encapsulamento de plant<strong>as</strong>(ou sementes sintétic<strong>as</strong>), na Embrapa<br />
Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong>, Dr. Luis Pedro Barrueto Cid, que é biólogo,<br />
formado pela Universidade do Chile, é Ph.D em Fisiologia Vegetal pela Unicamp,<br />
trabalhou em Cultura de Tecidos na Universidade de Londres e tem pós-doutoramento<br />
pela Universidade da Califórnia. É pesquisador da Embrapa desde 1979.<br />
Confiram, a seguir, a entrevista:<br />
Luis Pedro Barrueto Cid<br />
Embrapa Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong><br />
lpedro@cenargen.embrapa.br<br />
4 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />
4 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
BC&D- O que são exatamente <strong>as</strong><br />
sementes sintétic<strong>as</strong>, ou encapsulad<strong>as</strong>?<br />
Barrueto – O desenvolvimento de<br />
sementes sintétic<strong>as</strong> é uma modalidade<br />
da cultura de tecidos de plant<strong>as</strong>,<br />
que consiste em encapsular embriões<br />
somáticos, ápices caulinares ou gem<strong>as</strong><br />
axilares. O encapsulamento se faz<br />
<strong>com</strong> uma matriz de alginato de cálcio<br />
“<strong>as</strong> sementes sintétic<strong>as</strong> podem ser<br />
enviad<strong>as</strong> em grandes<br />
quantidades(milhares) e em<br />
pequen<strong>as</strong> embalagens”<br />
na qual os explantes ficam <strong>com</strong>pletamente<br />
envolvidos e protegidos, parecendo<br />
exatamente uma semente. Tudo<br />
isto é claro, realizado sob condições<br />
estritamente <strong>as</strong>séptic<strong>as</strong>. O material<br />
encapsulado permanece por 30 di<strong>as</strong><br />
em geladeira a 15ºC. Depois, é retirado<br />
e colocado em estantes na sala de<br />
cultura para germinação a 27ºC. Após<br />
essa f<strong>as</strong>e, vai para o tubo de ensaio,<br />
onde continuará se desenvolvendo in<br />
vitro até o campo. Os testes de<br />
germinação feitos <strong>com</strong> o material após<br />
esse período de 30 di<strong>as</strong> têm sido<br />
muito satisfatórios e já <strong>com</strong>provaram<br />
que o alginato de cálcio não é tóxico às<br />
plant<strong>as</strong>. M<strong>as</strong> ainda não é o tempo ideal<br />
de armazenamento. Vamos iniciar os<br />
testes <strong>com</strong> 60 di<strong>as</strong> e depois p<strong>as</strong>saremos<br />
para 90 di<strong>as</strong>, que é o tempo ideal.<br />
BC&D – E quais são <strong>as</strong> principais<br />
vantagens dessa nova técnica?<br />
Figura 01: Aspecto de micro-estaca de mandioca contendo uma gema axilar após<br />
ser encapsulada numa matriz de alginato de cálcio- “semente sintética”<br />
Barrueto - Hoje em dia, a redução de<br />
custos é uma d<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> maiores preocupações.<br />
E é aí que se encontra um<br />
dos pontos principais de benefício<br />
dessa técnica. O encapsulamento, ou<br />
<strong>as</strong> sementes sintétic<strong>as</strong>, nos permitirão<br />
usar menos espaço em laboratório e<br />
racionalizar melhor a produção de<br />
mud<strong>as</strong>, reduzindo os custos do processo<br />
de cultivo in vitro. No c<strong>as</strong>o de troca<br />
de germopl<strong>as</strong>ma livre de patógenos<br />
<strong>com</strong> outros países, <strong>as</strong> sementes sintétic<strong>as</strong><br />
possibilitam a redução nos custos<br />
de transporte aéreo, já que podem ser<br />
enviad<strong>as</strong> em grandes quantidades (milhares)<br />
em pequen<strong>as</strong> embalagens.<br />
Além disso, a técnica beneficia também<br />
a conservação d<strong>as</strong> espécies vegetais,<br />
pois o material fica armazenado<br />
sem germinar e sem precisar ser repicado.<br />
Para algum<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> agrícol<strong>as</strong>,<br />
que não se propagam por sementes<br />
ou que tenham problem<strong>as</strong> de<br />
armazenamento, essa técnica pode<br />
ser b<strong>as</strong>tante vantajosa.<br />
BC&D – Com que cultur<strong>as</strong> agrícol<strong>as</strong><br />
vocês estão trabalhando? E<br />
por quê?<br />
Figura 02: A semente sintética da Fig. 1 brotando após cinco di<strong>as</strong> a 27ºC, depois de<br />
um período de 30 di<strong>as</strong> a 15ºC.<br />
lhar <strong>com</strong> mandioca, o que é uma<br />
experiência absolutamente inovadora<br />
no Br<strong>as</strong>il e no mundo. A técnica de<br />
encapsulamento é muito eficiente para<br />
a conservação e propagação dessa<br />
cultura porque <strong>as</strong> variedades <strong>com</strong>erciais<br />
não se propagam por sementes e<br />
sim pela forma vegetativa, ou reprodução<br />
<strong>as</strong>sexuada. No c<strong>as</strong>o da mandioca,<br />
são usad<strong>as</strong> gem<strong>as</strong> (brotos), m<strong>as</strong><br />
em outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>, podem ser usados<br />
embriões somáticos – aqueles que<br />
repetem <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> iguais aos<br />
pais e, por isso, dão origem a clones –<br />
ou ápices caulinares. Até agora os<br />
nossos resultados experimentais têm<br />
Barrueto – Nós <strong>com</strong>eçamos a trabamostrado<br />
que gem<strong>as</strong> axilares de mandioca<br />
são perfeitamente encapsuláveis<br />
e o que é melhor, os testes de germinação<br />
<strong>com</strong> ess<strong>as</strong> “sementes”, em condições<br />
de laboratório, têm demonstrado<br />
excelentes resultados mesmo depois<br />
de 30 di<strong>as</strong> a 15º C, o que é muito<br />
positivo, considerando o caráter tropical<br />
da planta. Já iniciamos também o<br />
processo de desenvolvimento de sementes<br />
sintétic<strong>as</strong> de café, através do<br />
encapsulamento de embriões<br />
somáticos, e de feijão, a partir de<br />
embriões zigóticos – oriundos de reprodução<br />
sexual – e os resultados<br />
também têm sido muito favoráveis.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 5<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 5
“o material fica armazenado sem<br />
germinar e sem precisar ser<br />
repicado. Para algum<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong><br />
agrícol<strong>as</strong>, essa técnica pode ser<br />
b<strong>as</strong>tante vantajosa.”<br />
Figura 03: O broto da Fig. 2 crescendo e enraizando em tubo de ensaio contendo<br />
meio SP e dando origem a uma nova muda de mandioca <strong>com</strong> 20 di<strong>as</strong> de idade<br />
empresa de biotecnologia estava interessada<br />
em <strong>com</strong>ercializar mud<strong>as</strong> de<br />
mandioca através de embriogênese<br />
somática, porém estava se defrontando<br />
<strong>com</strong> sérios problem<strong>as</strong> de vitrificação,<br />
um distúrbio funcional de plant<strong>as</strong> in<br />
vitro, que causa anomali<strong>as</strong> em sua<br />
estrutura. Além de ameaçar a sobrevivência<br />
da planta, esse fenômeno prejudica<br />
e, às vezes, até anula o seu valor<br />
<strong>com</strong>ercial. Pois bem, a vitrificação não<br />
ocorre no c<strong>as</strong>o de sementes sintétic<strong>as</strong><br />
via gem<strong>as</strong> axilares e, por isso, percebi<br />
que poderia ser uma ótima opção para<br />
o mercado de <strong>com</strong>ercialização de mud<strong>as</strong><br />
de mandioca. Trouxe a idéia para<br />
a Embrapa e <strong>com</strong>eçamos a trabalhar.<br />
Até agora, os resultados têm sido muito<br />
positivos.<br />
BC&D – Como é uma técnica nova,<br />
vocês têm enfrentado problem<strong>as</strong><br />
técnicos para o desenvolvimento<br />
dessa tecnologia?<br />
Barrueto – Não. Até o momento não<br />
nos defrontamos <strong>com</strong> problem<strong>as</strong> técnicos.<br />
M<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o em toda pesquisa,<br />
há sempre novos parâmetros a serem<br />
testados <strong>com</strong>o, por exemplo, testes<br />
de armazenamento mais longos, outr<strong>as</strong><br />
temperatur<strong>as</strong> e cultivares, etc.<br />
Figura 04: Aspecto de semente sintética de café: embrião somático encapsulado<br />
num estágio b<strong>as</strong>tante imaturo<br />
Para o café, essa metodologia é especialmente<br />
importante porque <strong>as</strong> sementes<br />
não podem ser armazenad<strong>as</strong><br />
por muito tempo pois perdem rapidamente<br />
o poder germinativo.<br />
BC&D- Como surgiu a idéia de<br />
desenvolver sementes sintétic<strong>as</strong>?<br />
Barrueto - Bem, na literatura referente<br />
à cultura de tecidos, existem relatos<br />
de sementes sintétic<strong>as</strong> em banana,<br />
6 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />
6 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />
morango, etc. Diante da relevância e<br />
d<strong>as</strong> possibilidades favoráveis de utilização<br />
dessa técnica, a nossa equipe na<br />
Embrapa Recursos Genéticos e<br />
<strong>Biotecnologia</strong> resolveu tentar<br />
desenvolvê-la <strong>com</strong> mandioca. M<strong>as</strong>,<br />
além disso, outro fato me chamou a<br />
atenção para o desenvolvimento dessa<br />
nova modalidade de cultura de<br />
tecidos. Quando estive na Califórnia<br />
em 2003, por oc<strong>as</strong>ião do meu pósdoutorado,<br />
soube que uma grande<br />
BC&D – Essa é uma pesquisa básica<br />
ou aplicada?<br />
Barrueto - Essa é uma pesquisa de<br />
caráter aplicado porque não busca<br />
expandir o leque de conhecimento<br />
por puro diletantismo, <strong>com</strong>o nos<br />
tempos de Newton ou Mendel.<br />
Estamos em busca de soluções. Nessa,<br />
<strong>com</strong>o em outr<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong><br />
desenvolvid<strong>as</strong> pela Embrapa, a<br />
produção de conhecimento tem que<br />
estar amarrada a uma solução<br />
tecnológica, dentro de um prazo. Não<br />
podemos esquecer que a Embrapa é<br />
uma instituição publica que tem <strong>com</strong>o<br />
preocupação aumentar a eficiência
produtiva do setor agropecuário e<br />
reduzir a dependência externa de<br />
tecnologi<strong>as</strong>, dentre outr<strong>as</strong> atribuições.<br />
BC&D – A pesquisa de sementes<br />
sintétic<strong>as</strong> é desenvolvida isolada<br />
ou faz parte de outr<strong>as</strong> atividades<br />
relacionad<strong>as</strong> à cultura da mandioca?<br />
Barrueto – O desenvolvimento de<br />
sementes sintétic<strong>as</strong> de mandioca está<br />
inserido dentro de um projeto maior<br />
de pesquisa de mandioca desenvolvido<br />
pela equipe de pesquisadores da<br />
Embrapa Recursos Genéticos e<br />
<strong>Biotecnologia</strong>, liderada pelo Dr. Luiz<br />
Joaquim C<strong>as</strong>telo Branco, que tem <strong>com</strong>o<br />
objetivo enriquecer a raiz da planta<br />
<strong>com</strong>o alimento básico d<strong>as</strong> populações<br />
de baixa renda. A raiz da mandioca é<br />
constituída b<strong>as</strong>icamente de amido e o<br />
que o projeto pretende é torná-la mais<br />
nutritiva, através da incorporação de<br />
proteín<strong>as</strong> e carotenóides(vitamina. A).<br />
Essa é apen<strong>as</strong> uma d<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> desenvolvid<strong>as</strong><br />
pela Embrapa hoje para<br />
atender e melhorar a qualidade de<br />
vida d<strong>as</strong> populações mais carentes.<br />
Dessa forma, a Embrapa transforma o<br />
dinheiro público em conhecimento<br />
<strong>com</strong>petitivo.<br />
BC&D – De que forma essa pesquisa<br />
pode beneficiar o mercado no<br />
Br<strong>as</strong>il?<br />
Barrueto - Com o fim da guerra fria,<br />
surge uma nova economia, sensivelmente<br />
dependente do conhecimento<br />
científico renovado. Hoje, os setores<br />
empresariais do agronegócio não só<br />
no Br<strong>as</strong>il <strong>com</strong>o no mundo estão b<strong>as</strong>tante<br />
conscientes acerca dessa nova<br />
realidade e prontos para encarar em<br />
melhores condições a lógica do custo/<br />
beneficio e da <strong>com</strong>petição. Prova disso<br />
é que atualmente há muito interesse<br />
dos empresários em conhecer os<br />
novos caminhos que a ciência lhes<br />
proporciona. Esse mês de setembro,<br />
por exemplo, tenho marcada na minha<br />
agenda uma reunião <strong>com</strong> dois<br />
empresários do agronegócio, que vêm<br />
em busca de novos subsídios<br />
tecnológicos dentro da área da cultura<br />
de tecidos. Pois então, é a ciência<br />
criando nov<strong>as</strong> expectativ<strong>as</strong> para a sociedade.<br />
A mandioca é uma cultura<br />
“Estamos em busca de soluções. A<br />
produção de conhecimento tem que<br />
estar amarrada a uma solução<br />
tecnológica, dentro de um prazo.”<br />
agrícola <strong>com</strong> muito potencial para despertar<br />
o interesse do empresariado<br />
br<strong>as</strong>ileiro, já que além de ser um alimento<br />
nutritivo e saboroso, é também<br />
uma verdadeira fábrica de produção<br />
de amido <strong>com</strong> inúmer<strong>as</strong> possibilidades<br />
de derivações industriais.<br />
BC&D - Com tanta apologia feita<br />
hoje aos produtos naturais e orgânicos,<br />
você teme que possa haver<br />
alguma reação negativa da sociedade<br />
a essa pesquisa, por se tratar<br />
de “sementes sintétic<strong>as</strong>”?<br />
Barrueto – Essa é uma questão importante<br />
e é fundamental que fique<br />
claro que, apesar do nome, esse é um<br />
processo natural, que tem <strong>com</strong>o único<br />
objetivo facilitar a conservação e a<br />
propagação d<strong>as</strong> espécies vegetais,<br />
especialmente daquel<strong>as</strong> de importância<br />
alimentar para a população br<strong>as</strong>ileira.<br />
Não há nada nesse trabalho que<br />
possa <strong>com</strong>prometer a ética. M<strong>as</strong> é<br />
sempre bom salientar que o conhecimento<br />
cientifico é neutro. Eu reconheço<br />
e endosso a preocupação da<br />
sociedade civil em impor limites éticos<br />
às descobert<strong>as</strong> científic<strong>as</strong>. Por isso<br />
mesmo é que acho importante que se<br />
utilize dos mecanismos de controle<br />
que tem à disposição, <strong>com</strong>o a imprensa,<br />
<strong>as</strong> ONG’s, o poder judicial, etc. O<br />
problema é que muit<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong> discussões<br />
científic<strong>as</strong> tendem para o lado<br />
emocional, o que só resulta em sensacionalismo<br />
e mais confusão para o<br />
público em geral. N<strong>as</strong> discussões<br />
entre ciência e sociedade, é premente<br />
que ambos os lados tenham o mesmo<br />
espaço na mídia, para que o debate<br />
possa ser saudável e equilibrado.<br />
Figura 05: Germinação de embrião da<br />
Fig. 4 em meio básico SP, após 25 di<strong>as</strong> a<br />
27ºC e depois de 30 di<strong>as</strong> a 15ºC<br />
Figura 06: Aspecto de embrião zigótico de feijão logo após ter sido encapsulado<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 7<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 7
Colaboraram nesta edição<br />
BIOTECNOLOGIA Ciência & Desenvolvimento<br />
KL3 Publicações Ltda<br />
Fundador<br />
Dr. Henrique da Silva C<strong>as</strong>tro<br />
Direção Geral e Edição<br />
Ana Lúcia de Almeida<br />
Diagramação e design<br />
Luiz Dourado Bezerra<br />
E-mail<br />
biotecnologia@biotecnologia.<strong>com</strong>.br<br />
Home-Page<br />
www.biotecnologia.<strong>com</strong>.br<br />
Projeto Gráfico<br />
KL3 Publicações Ltda<br />
SHIN CA 02 Bloco "C"<br />
Edifício Garden Place sal<strong>as</strong> 225/226<br />
Lago Norte - Br<strong>as</strong>ília - DF<br />
Cep 71503-502<br />
Tel.: (061) 468-6099<br />
Fax: (061) 468-3214<br />
Aline Maísa Mendes<br />
Aluízio Borém<br />
Ana Maria Aparecida Guaraldo<br />
Antônio Américo Barbosa Viana<br />
Delma Pegolo Alves<br />
Dim<strong>as</strong> Tadeu Cov<strong>as</strong><br />
Elisa Yoko Hirooka<br />
Elisabete Yurie Sataque Ono<br />
Eliseu Binneck<br />
Fabiana Martins Batista Motta<br />
Fernanda Diniz<br />
Gabriela Alves Macedo<br />
Gláucia Maria P<strong>as</strong>tore<br />
Juliana Alves Macedo<br />
Leila Maria Gomes Barros<br />
Lídia Mariana Fiúza<br />
Luis Pedro Barrueto Cid<br />
Marcos Barros de Medeiros<br />
Mareci Mendes de Almeida<br />
Maria Helena Seabra de Brito<br />
Mario Augusto Ono<br />
Mauro Carneiro<br />
Neuza Maria Brunoro Costa<br />
Paula Garcia Meirelles<br />
Sven Becker<br />
Torsten Tonn<br />
Virginia Proença Picanco<br />
NOTA: Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> edições da Revista <strong>Biotecnologia</strong><br />
Ciência & Desenvolvimento estão sendo indexad<strong>as</strong><br />
para o AGRIS (International Information System for<br />
the Agricultural Sciences and Technology) da FAO<br />
e para a AGROBASE (B<strong>as</strong>e de Dados da Agricultura<br />
Br<strong>as</strong>ileira).<br />
Os artigos <strong>as</strong>sinados são de<br />
inteira responsabilidade<br />
de seus autores.<br />
ISSN 1414-6347<br />
Portal <strong>Biotecnologia</strong> - www.biotecnologia.<strong>com</strong>.br<br />
8 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Conselho Científico<br />
Dr. Aluízio Borém - Genética e Melhoramento Vegetal<br />
Dr. Henrique da Silva C<strong>as</strong>tro - Saúde;<br />
Dr. Ivan Rud de Moraes - Saúde - Toxicologia;<br />
Dr. João de Deus Medeiros - Embriologia Vegetal;<br />
Dr. Naftale Katz - Saúde;<br />
Dr. Pedro Jurberg - Ciênci<strong>as</strong>;<br />
Dr. Sérgio Costa Oliveira - Imunologia e Vacin<strong>as</strong>;<br />
Dr. V<strong>as</strong>co Ariston de Carvalho Azevedo - Genética de Microorganismos;<br />
Dr. William Gerson Mati<strong>as</strong> - Toxicologia Ambiental.<br />
Conselho Br<strong>as</strong>ileiro de Fitossanidade - Cobrafi<br />
Dr. Luís Carlos Bhering N<strong>as</strong>ser - Fitopatologia<br />
Fundação Dalmo Catauli Gia<strong>com</strong>etti<br />
Dr. Eugen Silvano Gander - Engenharia Genética;<br />
Dr. José Manuel Cabral de Sousa Di<strong>as</strong> - Controle Biológico;<br />
Dra. Marisa de Goes - Recursos Genéticos<br />
Instituto de Pesquis<strong>as</strong> Energétic<strong>as</strong> e Nucleares - IPEN<br />
Dr. José Roberto Rogero<br />
Sociedade Br<strong>as</strong>ileira de <strong>Biotecnologia</strong> - SBBiotec<br />
Dr. Luiz Antonio Barreto de C<strong>as</strong>tro - EMBRAPA<br />
Dr. Diógenes Santiago Santos - UFRGS<br />
Dr. José Luiz Lima Filho - UFPE<br />
Dra. Elba P. S. Bon - UFRJ<br />
Entrevista<br />
Sementes sintétic<strong>as</strong> pág. 04<br />
Pesquisa<br />
Açúcares funcionais pág. 10<br />
<strong>Aprendendo</strong> <strong>com</strong> <strong>as</strong> agrobactéri<strong>as</strong> pág. 15<br />
As ômic<strong>as</strong>: Integrando a bioinformação pág. 28<br />
Biodiesel pág. 38<br />
<strong>Biotecnologia</strong> aplicada ao valor nutricional dos alimentos pág. 47<br />
Criptosporidiose em camundongos pág. 55<br />
Cultivares e genes pág. 61<br />
Malária em camundongos imunodeficientes pág. 64<br />
Micotoxin<strong>as</strong> em alimentos pág. 69<br />
Produção de fator FVIII por engenharia genética pág. 81<br />
Receptores de Bacillus thuringiensis em insetos pág. 84<br />
BioNotíci<strong>as</strong><br />
pág. 90<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 9
Pesquisa<br />
Açúcares funcionais<br />
Galactooligossacarídeos<br />
Produção de galactooligossacarídeos por β-galactosid<strong>as</strong>e utilizando metodologia de superfície de resposta<br />
Mareci Mendes de Almeida<br />
Prof. Dr. Depto de Engenharia de Alimentos,<br />
Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG<br />
mareci@uepg.br<br />
Gláucia Maria P<strong>as</strong>tore<br />
Prof. Titular, Depto de Ciência de Alimentos<br />
Universidade Estadual de Campin<strong>as</strong> -UNICAMP<br />
glaup<strong>as</strong>t@fea.unicamp.br<br />
Fotos cedid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> autor<strong>as</strong><br />
1. Introdução<br />
s oligossacarídeos são<br />
açúcares encontrados<br />
naturalmente em<br />
muitos alimentos <strong>com</strong>o<br />
frut<strong>as</strong>, vegetais, leite e<br />
mel. Alguns destes não apresentam só<br />
a função nutricional ou de adoçante,<br />
m<strong>as</strong> também exibem atividade<br />
fisiológica, sendo <strong>as</strong>sim denominados<br />
de alimentos funcionais (Nakano,<br />
1998). Eles melhoram a qualidade dos<br />
alimentos, promovendo uma<br />
modificação no “flavor”, n<strong>as</strong><br />
característic<strong>as</strong> físico-químic<strong>as</strong><br />
apresentam propriedades benéfic<strong>as</strong><br />
para a saúde do consumidor<br />
(Crittenden e Playne, 1996).<br />
Nos últimos anos o interesse e<br />
consumo de oligossacarídeos têm<br />
crescido muito, particularmente no<br />
Japão e Europa. Em 1991 o governo<br />
japonês criou o termo FOSHU (food<br />
for specified health use) para os<br />
alimentos funcionais. Em 1996 havia<br />
58 alimentos listados, e entre estes 34<br />
incorporavam oligossacarídeos<br />
(Crittenden e Playne, 1996), em 2003<br />
foram mais de 300 alimentos relatados<br />
<strong>com</strong>o FOSHU, sendo que 30% destes<br />
apresentavam oligossacarídeos em<br />
sua formulação (Taniguchi, 2004).<br />
Os açúcares dos alimentos são<br />
determinantes para a <strong>com</strong>posição da<br />
microflora intestinal (Sako et al.,<br />
1999). Os carboidratos que participam<br />
da dieta podem ser cl<strong>as</strong>sificados <strong>com</strong><br />
b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> propriedades fisiológic<strong>as</strong> de<br />
digeríveis ou não-digeríveis, havendo<br />
três principais tipos de carboidratos<br />
não-digeríveis: os polissacarídeos nãoamídicos,<br />
os amidos resistentes e os<br />
oligossacarídeos não-digeríveis<br />
(Voragen, 1998), estando neste grupo<br />
incluídos os galactooligossacarídeos<br />
(GOS).<br />
Os GOS apresentam configuração<br />
β e <strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> digestiv<strong>as</strong> g<strong>as</strong>trointestinais<br />
human<strong>as</strong> são principalmente<br />
específic<strong>as</strong> para ligações α, sendo<br />
então resistentes à digestão e absorção<br />
no intestino atingindo o cólon, onde<br />
são fermentados, promovendo um<br />
aumento d<strong>as</strong> bifidobactéri<strong>as</strong> (Sako,<br />
1999) e redução d<strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong> deteriorador<strong>as</strong>,<br />
consequentemente oc<strong>as</strong>ionando<br />
efeitos benéficos para a saúde<br />
humana <strong>com</strong> a redução de metabólitos<br />
tóxicos (Modler, 1994; Tomomatsu,<br />
1994). A ingestão de GOS aumenta<br />
a mineralização óssea e a resistência<br />
contra fratur<strong>as</strong>, devido à estimulação<br />
da absorção de cálcio (Brouns e<br />
Vermmer, 2000). Ainda são usados em<br />
confeitos, gom<strong>as</strong> de m<strong>as</strong>car, iogurtes<br />
e bebid<strong>as</strong> <strong>com</strong>o açúcares de baixa<br />
cariogenicidade, pois não são metabolizados<br />
pela microflora bucal para<br />
formar ácidos e poliglucan<strong>as</strong>.<br />
A formação de GOS a partir da<br />
lactose é influenciada por diversos<br />
fatores <strong>com</strong>o a fonte e concentração<br />
da enzima, pH, temperatura e<br />
concentração do substrato (Mahoney,<br />
1998; Rustom et al., 1998). Quanto<br />
mais lactose houver no sistema maior<br />
será a produção de GOS (López-Leiva<br />
e Gusman, 1995; Albayrak e Yang,<br />
2002; Roy et al., 2002). Os GOS são<br />
<strong>com</strong>postos de lactose e unidades de<br />
galactose, produzidos <strong>com</strong>ercialmente<br />
por reação enzimática onde resíduos<br />
de galactose são ligados na lactose<br />
(Zaraté e López-Leiva, 1990).<br />
Para se estudar os efeitos dos<br />
fatores por análise univariável, além<br />
de necessitar de um grande número<br />
10 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Tabela 1 – Fatores e níveis estudados no planejamento experimental<br />
fatorial de 2 níveis<br />
Fatores<br />
Enzima<br />
(U/mL)<br />
Tabela 2 – Matriz dos experimentos para planejamento experimental fatorial de<br />
dois níveis e a porcentagem de área de 4’gal-lactose formados<br />
Ensaios<br />
Enzima<br />
pH<br />
Níveis<br />
-1,68<br />
-1<br />
0 + 1 +1,6 8<br />
2,64<br />
4 6 8 9,3 6<br />
pH<br />
4,3<br />
2 5 6 7 7,6 8<br />
T emperatura<br />
( ºC)<br />
31,<br />
6 35<br />
40<br />
45<br />
48, 4<br />
T emperatura<br />
4'gal-lactose (%)<br />
1 -1<br />
-1<br />
-1<br />
20,1 3<br />
2 + 1 -1<br />
-1<br />
18,8 1<br />
3 -1<br />
+ 1 -1<br />
20,2 5<br />
4 + 1 + 1 -1<br />
20,9 2<br />
5 -1<br />
-1<br />
+ 1<br />
18,8 3<br />
6 + 1 -1<br />
+ 1<br />
16,3 7<br />
7 -1<br />
+ 1 + 1<br />
20,3 0<br />
8 + 1 + 1 + 1<br />
19,4 5<br />
9 -1,6<br />
8 0 0 20,5 6<br />
10<br />
+ 1,6 8 0 0 18,2 0<br />
11<br />
0 -1,6<br />
8 0 17,8 5<br />
12<br />
0 + 1,6 8 0 21,0 0<br />
13<br />
0 0 -1,6<br />
8<br />
20,4 5<br />
14<br />
0 0 + 1,6 8<br />
17,8 5<br />
15<br />
0 0 0 19,5 6<br />
16<br />
0 0 0 19,1 9<br />
17<br />
0 0 0 19,3 1<br />
Figura 1 – Estrutura do galactooligossacarídeo 4’galactosil lactose<br />
de experimentos a avaliação só pode<br />
ser feita individualmente, onde um fator<br />
é fixado num valor e varia-se o<br />
outro até descobrir o valor que produz<br />
o maior rendimento, sem se levar em<br />
conta que ocorre interação entre <strong>as</strong><br />
variáveis (Barros Neto et al., 1995).<br />
Utilizando-se da metodologia de superfície<br />
de resposta pode-se obter<br />
<strong>com</strong>o resultado a interação dos fatores<br />
e uma faixa de melhor atuação.<br />
2. Materiais e métodos<br />
A enzima β-galactosid<strong>as</strong>e foi sintetizada<br />
pelo fungo Scopulariopsis sp<br />
isolado por P<strong>as</strong>tore e Park (1979). O<br />
microrganismo foi produzido por fermentação<br />
semi-sólida, cultivado em<br />
farelo de trigo e água na proporção<br />
de 1:1 (p/v). Em fr<strong>as</strong>co erlenmeyer<br />
de 500 mL contendo 20g de substrato,<br />
foi adicionada uma suspensão de<br />
esporos (10 8 esporos/mL) e incubado<br />
a 30ºC por 7 di<strong>as</strong>. Após o crescimento<br />
foi adicionada água destilada e o meio<br />
triturado <strong>com</strong> b<strong>as</strong>tão de vidro para liberação<br />
da enzima, obtendo-se após filtração<br />
o extrato enzimático, que foi<br />
tratado <strong>com</strong> sulfato de amônio a 80%.<br />
O precipitado obtido (enzima bruta)<br />
foi dialisado contra água, centrifugado<br />
e liofilizado.<br />
A atividade da β-galactosid<strong>as</strong>e (EC<br />
3.2.1.23 β-galactosídeo galactohidrol<strong>as</strong>e)<br />
foi determinada usando o-nitrofenil-β-D-galactopiranosídeo<br />
(ONPG)<br />
<strong>com</strong>o substrato. O meio de reação<br />
constou de 1,55 mL de ONPG 0,25%<br />
em tampão acetato de sódio 0,1M a<br />
pH 5,0; 0,15 mL de solução enzimática,<br />
sendo a mistura incubada a 60ºC<br />
por 15 minutos, a reação foi paralisada<br />
<strong>com</strong> 0,15 mL de carbonato de sódio<br />
a 10%. Para analisar o produto da<br />
reação foi utilizado espectrofotômetro<br />
e a absorbância medida a 420 nm,<br />
contra branco. Uma unidade de atividade<br />
de β-galactosid<strong>as</strong>e foi definida<br />
<strong>com</strong>o a quantidade de enzima que libera<br />
1µmol de o-nitrofenol por minuto<br />
em 1 mL, n<strong>as</strong> condições de ensaio.<br />
O sistema de reação para a<br />
produção de galactooligossacarídeos<br />
consistiu na mistura da enzima β-galactosid<strong>as</strong>e<br />
<strong>com</strong> solução de lactose a<br />
40% (p/v), preparada em tampões<br />
<strong>com</strong> valores de pH preestabelecidos.<br />
Foi utilizado um planejamento fatorial<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 11
Figura 2 – Efeito do pH e da temperatura na produção de 4’gal-lactose, utilizando<br />
6U/mL de β-galactosid<strong>as</strong>e<br />
Figura 3 – Efeito da temperatura e da concentração de β-galactosid<strong>as</strong>e na<br />
produção de 4’gal-lactose em pH 6,0<br />
Tabela 3 – Efeito da concentração da enzima, pH e temperatura na síntese de<br />
galactooligossacarídeos<br />
Efeitos<br />
E rro puro<br />
t(2)<br />
Média<br />
19,37<br />
4 0,05<br />
6 340,40<br />
7 0,00000 9<br />
( 1) Enzima (L) - 0,99 0 0,13<br />
3 -7,41<br />
6 0,01769 7<br />
( 2) pH (L) 1,69<br />
5 0,13<br />
3 12,69<br />
8 0,00614 4<br />
(3) Temperatura<br />
(L)<br />
-1,290<br />
0,13<br />
3 - 9,66 4 0,01053 8<br />
( 1) e (2) 0,90<br />
0 0,13<br />
3 6,74<br />
2 0,02129 6<br />
( 1) e (3) -0,66<br />
5 0,13<br />
3 -4,98<br />
2 0,03800 7<br />
( 2) e (3) 0,58<br />
0 0,13<br />
3 4,34<br />
5 0,04909 5<br />
p<br />
<strong>com</strong>pleto 2 3 , os níveis de estudo estão<br />
apresentados na tabela 1. Foram<br />
analisad<strong>as</strong> <strong>as</strong> variáveis independentes:<br />
pH, temperatura e concentração de<br />
enzima, e a variável dependente:<br />
síntese do galactoligossacarídeo<br />
4’galactosil-lactose (Figura 1). Após 24<br />
hor<strong>as</strong> o experimento foi interrompido<br />
pela inativação da enzima em banho<br />
fervente por 10 minutos e os produtos<br />
foram analisados por cromatografia<br />
líquida de alta eficiência (cromatógrafo<br />
Waters) <strong>com</strong> coluna Supelcogel TM Ca<br />
(300x7,8mm), tendo <strong>com</strong>o f<strong>as</strong>e móvel<br />
a água <strong>com</strong> fluxo de 0,5 mL/min a<br />
80ºC e detectados por índice de<br />
refração. A análise estatística dos<br />
resultados foi realizada através do software<br />
STATISTICA utilizando Experimental<br />
design.<br />
3. Resultados e discussão<br />
Os resultados da análise<br />
correspondentes ao planejamento<br />
fatorial de dois níveis são apresentados<br />
na tabela 2, toda a análise foi realizada<br />
<strong>com</strong> os valores d<strong>as</strong> variáveis<br />
dependentes codificados. A resposta<br />
considerada foi a porcentagem de<br />
área do galactooligossacarídeo<br />
4’galactosil-lactose (4’gal-lactose). As<br />
variáveis pH, temperatura e<br />
concentração de enzima e su<strong>as</strong><br />
interações foram significativ<strong>as</strong> a nível<br />
de 10%.<br />
Conforme demonstrado na tabela<br />
3, o efeito da concentração de enzima,<br />
do nível –1 para +1, foi negativo,<br />
indicando que 4U/mL (-1) de enzima<br />
apresentou melhor produção de 4’gallactose<br />
do que 8U/mL (+1), o que<br />
pode ser <strong>com</strong>provado analisando <strong>as</strong><br />
figur<strong>as</strong> 3 e 4, onde se observa a<br />
tendência de aumentar a síntese de<br />
galactooligossacarídeos <strong>com</strong> a<br />
diminuição da concentração de<br />
enzima.<br />
O efeito do pH, quando houve<br />
aumento do nível –1 para +1, foi<br />
positivo, <strong>as</strong>sim na faixa estudada o<br />
valor de pH 7,0 foi melhor, para a<br />
síntese do galactooligossacarídeo, que<br />
o valor de pH 5,0, havendo uma<br />
tendência de se trabalhar <strong>com</strong> valores<br />
de pH menos ácidos (figur<strong>as</strong> 2 e 4).<br />
Quando analisada a variação da<br />
temperatura o efeito foi negativo<br />
indicando que a temperatura no nível<br />
12 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Tabela 4 - Análise de variância (ANOVA) para formação de 4’gal-lactose<br />
Soma<br />
quadrática<br />
Graus de<br />
liberdade<br />
mais baixo (35ºC) foi mais adequada<br />
para o sistema, e em temperatur<strong>as</strong><br />
mais alt<strong>as</strong> a tendência é diminuir a<br />
produção de 4’gal-lactose (figur<strong>as</strong> 2 e<br />
3).O modelo matemático obtido<br />
através da análise estatística é<br />
apresentado na equação abaixo <strong>com</strong><br />
R 2 = 0,9838, onde x 1<br />
= enzima, x 2<br />
=<br />
pH e x 3<br />
= temperatura:<br />
Conforme a tabela 4, a análise de<br />
variância demonstra que o modelo é<br />
preditivo e estatisticamente significativo<br />
<strong>com</strong> a relação Fcal/Ftab de 41,19;<br />
p
Barros Neto, B.; Scarminio, I. S.; Bruns<br />
R. E. Planejamento e otimização<br />
de experimentos. 2 ed. Campin<strong>as</strong>,<br />
SP: Editora da Unicamp, 1995,<br />
299p.<br />
Berger, J.L.; Lee, B.H.; Lacroix, C. Oligosaccharides<br />
synthesis by free<br />
and immobilized β-galactosid<strong>as</strong>es<br />
from Thermus aquaticus YT-1.<br />
Biotechnology Letters. v.17, n.<br />
10, p.1077-1080, 1995.<br />
Brouns, F.; Vermeer, C. Functional food<br />
ingredients for reducing the risks<br />
of osteoporosis. Trends in Food<br />
Science & Technology. v. 11, p.<br />
22-33, 2000.<br />
Burvall, A.; Asp, N.G.; Dahlqvist, A.<br />
Oligosaccharide formation during<br />
hydrolysis of lactose with Saccharomyces<br />
lactis lact<strong>as</strong>e (Maxilat ® ) –<br />
Part 1.Food Chemistry.v.4, p. 243-<br />
250, 1979.<br />
Crittenden, R.G.; Playne, M.J. Production,<br />
properties and apllications of<br />
food-grade oligosaccharides. Trends<br />
in Food Science & Technology.<br />
v.7, n.11, p.353-361, 1996.<br />
Gorin, P. A.J.; Spencer, J.F.T.; Phaff, H.J.<br />
The structures of galactosyl-lactose<br />
and galactobiosyl-lactose produced<br />
from lactose by Sporobolomyces<br />
singularis. Canadian<br />
Journal of Chemistry. v. 42,<br />
1964.<br />
López-Leiva, M.; Guzman, M. Formation<br />
of oligosaccharides during enzymic<br />
hydrolysis of milk whey<br />
permeates. Process Biochemistry.<br />
v. 30, n. 8, p. 757-762, 1995.<br />
Mahoney, R. R. Galactosyl-oligosaccharide<br />
formation during lactose<br />
hydrolysis: a review. Food Chemistry.<br />
v. 63, n. 2 p. 147-154,<br />
1998.<br />
Modler, H.W. Bifidogenic factors – Sources,<br />
metabolism and applications.<br />
International Dairy Journal. v.<br />
4, p. 383-407, 1994.<br />
Nakano, H. Recente japanese development<br />
in the enzymatic production<br />
and application of oligosaccharides;<br />
apresentado no<br />
Seminar on enzyme and bacterial<br />
technology, 1998, Campin<strong>as</strong>. Japan<br />
International Cooperation<br />
Agency, [s.d.].<br />
Ohtsuoka, K.; Benno, Y.; Endo, K.;<br />
Ueda, H.; Ozawa, O.; Uchida, T.;<br />
Mitsuoka, T. Effects of 4’galactosyl-lactose<br />
intake on human fecal<br />
flora. Bifidus. v. 2, p. 143-149,<br />
1989.<br />
Onishi, N.; Tanaka, T. Purification and<br />
properties of a novel thermostable<br />
galacto-oligosaccharide producing<br />
β-galctosid<strong>as</strong>es from Sterigmatomyces<br />
elviae CBS8119. Applied<br />
and Environmental Microbiology.<br />
v. 61, n.11, p.4026-4030,<br />
1995.<br />
Onishi, N.; Tanaka, T. Purification and<br />
characterization of galacto-oligosaccharide-producing<br />
β-galactosid<strong>as</strong>e<br />
from Sirob<strong>as</strong>idium magnum.<br />
Letters in Applied Microbiology.<br />
v. 24, p. 82-86, 1997.<br />
P<strong>as</strong>tore, G.M.; Park, Y.K. Screening of<br />
high b-galactosid<strong>as</strong>e-producing<br />
fungi and characterizing the hidrolysis<br />
properties of a selected strain.<br />
Journal of Food Science. v. 44,<br />
p. 1577-1579, 1979.<br />
Perrin, V.; Fenet, B.; Praly, J.; Lecroix,<br />
F.; Dung Ta, C. Identification and<br />
synthesis of trisaccharides produced<br />
from lactose by transgalactosylation.<br />
Carbohydrate Research.<br />
v. 325, p. 202-210, 2000.<br />
Prak<strong>as</strong>h, S.; Suyama, K.; Itoh, T.; Adachi.<br />
S. Oligosaccharide formation<br />
by Trichoderma harzianum in lactose<br />
containig medium. Biotechnology<br />
Letters. v. 9, n.4, p.249-<br />
252, 1987.<br />
Roy, D.; Daoudi, L.; Azaola, A. Optimization<br />
of galacto-oligosaccharide<br />
production by Bifidobacterium<br />
infantis RW-8120 using response<br />
surface methodology. Journal of<br />
Industrial Microbiology and<br />
Biotechnology. v. 29, n. 5, p.<br />
281-285, 2002.<br />
Rustom, I.Y.S.; Foda, M. I.; López-Leiva,<br />
M. H. Formation of oligosaccharides<br />
from whey UF-permeate<br />
by enzymatic hydrolysis – analysis<br />
of factors. Food Chemistry. v. 62,<br />
n. 2. p. 141-147, 1998.<br />
Sako, T.; Matsumoto. K.; Tanaka, R.<br />
Recent progress on research and<br />
applications of non-digestible galacto-oligosacharides.<br />
International<br />
Dairy Journal. v.9, p.69-80,<br />
1999.<br />
Shin, H.; Park, J.; Yang, J. Continuous<br />
production of galacto-oligosaccharides<br />
from lactose by Bullera singularis<br />
β-galactosid<strong>as</strong>e immobilized<br />
in chitosan beads. Process<br />
Biochemistry. v. 33, n.8, p.787-<br />
792, 1998.<br />
Tanaka, R.; Takayama, H.; Morotomi,<br />
M.; Kuroshima, T.; Ueyama, S.;<br />
Matsumoto, K.; Kuroda, A.; Mutai,<br />
M. Effects of administration of TOS<br />
and Bifidobacterium breve 4006<br />
on the human fecal flora. Bifidobacteria<br />
Microflora. v. 2, n. 1, p.<br />
17-24, 1983.<br />
Taniguchi, H. Carbohydrate Research<br />
and Industry in Japan and the Japanese<br />
Society of Applied Glycoscience.<br />
Starch. v. 56, p. 1-5, 2004.<br />
Toba, T.; Yokota, A. E.; Adachi, S.<br />
Oligosaccharide structures formed<br />
during the hydrolysis of lactose by<br />
Aspergillus oryzae β-galactosid<strong>as</strong>e.<br />
Food Chemistry. v. 16, p.<br />
147-162, 1985.<br />
Tomomatsu, H. Health effects of oligosaccharides.<br />
Food Technology.<br />
v.48, n. 10, p.61-65, 1994.<br />
Voragen, A.G.J. Technological <strong>as</strong>pects<br />
of functional food-related carbohydrates.<br />
Trends in Food Science<br />
& Technology. v.9, p. 328-<br />
335, 1998.<br />
Zaraté S.; López-Leiva, M. H. Oligosaccharide<br />
formation during enzymatic<br />
lactose hydrolysis: a literature<br />
review. J. Food Prot. v. 53, p.<br />
262-268, 1990.<br />
14 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Pesquisa<br />
<strong>Aprendendo</strong><br />
<strong>com</strong> <strong>as</strong> Agrobactéri<strong>as</strong><br />
D<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> aos mecanismos de crescimento e desenvolvimento vegetal<br />
Leila Maria Gomes Barros<br />
PhD.Biologia Molecular<br />
Pesquisadora<br />
Embrapa – Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong><br />
leila@cenargen.embrapa.br<br />
Antônio Américo Barbosa Viana<br />
M.Sc. em Biologia Molecular<br />
Consultor<br />
Embrapa – Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong><br />
aamerico@cenargen.embrapa.br<br />
Mauro Carneiro<br />
Ph.D. Biologia Molecular<br />
Pesquisador<br />
Embrapa – Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong><br />
mauro@cenargen.embrapa.br<br />
As agrobactéri<strong>as</strong> e a colonização<br />
genética<br />
Os mecanismos de interação planta-patógeno<br />
são extremamente <strong>com</strong>plexos<br />
e diversificados. Entre os diferentes<br />
tipos de par<strong>as</strong>itismo, o que<br />
utiliza a transferência de material genético<br />
<strong>com</strong>o estratégia de colonização<br />
é um dos mais intrigantes, tendo sido<br />
descritos nos vírus e agrobactéri<strong>as</strong>. Os<br />
vírus utilizam o sistema de transcrição<br />
e tradução da célula hospedeira para<br />
produzir su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>, o<br />
que permite a sua multiplicação, debilitando<br />
o hospedeiro e culminando,<br />
geralmente, em sua morte. As<br />
agrobactéri<strong>as</strong>, por sua vez, transferem<br />
parte de seu material genético para o<br />
genoma da planta hospedeira, mecanismo<br />
este denominado de Coloniza-<br />
Figura 1. Plant<strong>as</strong> de Nicotiana tabacum infectad<strong>as</strong> <strong>com</strong> (A) Agrobacterium tumefaciens,<br />
onde pode ser vista uma galha de coroa, e (B) A.rhizogenes, <strong>com</strong> raízes em<br />
cabeleira in vitro.<br />
ção Genética (Schell et al., 1979). Os<br />
genes transferidos são replicados, transcritos<br />
e traduzidos <strong>com</strong>o se fossem da<br />
própria célula vegetal, resultando no<br />
desenvolvimento de tumores ou raízes<br />
adventíci<strong>as</strong> no sítio de infecção, conhecidos<br />
<strong>com</strong>o galha de coroa (“crown<br />
gall”) ou raízes em cabeleira (“hairy<br />
root”), respectivamente (Figura 1). As<br />
célul<strong>as</strong> neoplásic<strong>as</strong> sintetizam e<br />
excretam <strong>com</strong>postos derivados de<br />
aminoácidos e açúcares, denominados<br />
opin<strong>as</strong>, que servem de nutrientes apen<strong>as</strong><br />
para a agrobactéria (Petit et al.,<br />
1983). Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, a célula<br />
vegetal é “subjugada” para produzir<br />
nutrientes para a agrobactéria inv<strong>as</strong>ora<br />
que, desta forma, obtém carbono e<br />
nitrogênio sem <strong>com</strong>petir <strong>com</strong> <strong>as</strong> demais<br />
bactéri<strong>as</strong> do solo.<br />
Os primeiros estudos sobre<br />
agrobactéria datam do início do século<br />
XX quando Smith e Townsend (1907)<br />
isolaram uma bactéria de galha de<br />
coroa de Chrysanthemum frutescens<br />
(margarida) e demonstraram que ela<br />
também causa tumores em vários outros<br />
vegetais, sendo denominada de<br />
Bacterium tumefaciens. Riker e colaboradores<br />
(1930) demonstraram que<br />
a proliferação de raízes em cabeleira,<br />
também é causada por uma bactéria,<br />
por eles nomeada Phytomon<strong>as</strong><br />
rhizogenes. Mais tarde, Conn (1942)<br />
agrupou <strong>as</strong> du<strong>as</strong> espécies em<br />
um novo gênero denominado<br />
Agrobacterium.<br />
Hoje, o gênero Agrobacterium<br />
encontra-se agrupado na família<br />
Rhizobiaceae, juntamente <strong>com</strong> o gênero<br />
Rhizobium, que são bactéri<strong>as</strong> de<br />
solo, Gram-negativ<strong>as</strong>, causador<strong>as</strong> de<br />
neopl<strong>as</strong>i<strong>as</strong> em plant<strong>as</strong> (Buchanan &<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 15
Gibbons, 1975). O gênero Rhizobium<br />
é <strong>com</strong>posto por bactéri<strong>as</strong> fixador<strong>as</strong> de<br />
nitrogênio que estimulam nódulos n<strong>as</strong><br />
raízes de leguminos<strong>as</strong>, diferentemente<br />
d<strong>as</strong> neopl<strong>as</strong>i<strong>as</strong> causad<strong>as</strong> por<br />
agrobactéri<strong>as</strong>.<br />
As agrobactéri<strong>as</strong> infectam inúmer<strong>as</strong><br />
dicotiledône<strong>as</strong> e algum<strong>as</strong><br />
monocotiledône<strong>as</strong> (De Cleene & De<br />
Ley, 1976; Porter,1991) apresentam<br />
temperatura ótima de crescimento<br />
entre 25-30 ºC e somente se estabelecem,<br />
em condições naturais, em locais<br />
injuriados da planta (Buchanan &<br />
Gibbons, 1975). Devido a est<strong>as</strong> característic<strong>as</strong>,<br />
<strong>as</strong> galh<strong>as</strong> de coroa e raízes<br />
em cabeleira são doenç<strong>as</strong> importantes<br />
em regiões de clima temperado, especialmente<br />
em viveiros de fruteir<strong>as</strong><br />
(parreir<strong>as</strong>, amendoeir<strong>as</strong>, ameixeir<strong>as</strong>,<br />
macieir<strong>as</strong> e pessegueiros) que são<br />
propagad<strong>as</strong> vegetativamente ou por<br />
enxertia. Os ferimentos, resultantes da<br />
manipulação d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>, favorecem a<br />
instalação da agrobactéria (Hildebrand,<br />
1934; Kerr, 1969a).<br />
No Br<strong>as</strong>il, segundo Beriam e colaboradores<br />
(1996), os primeiros trabalhos<br />
sobre infecção de plant<strong>as</strong> por<br />
agrobactéria foram feitos por Costa<br />
Neto em 1937, que relata ser a galha<br />
bacteriana do pessegueiro (Prunus<br />
persica) uma doença <strong>com</strong>um no Estado<br />
do Rio Grande do Sul. Nos anos<br />
seguintes, <strong>as</strong> galh<strong>as</strong> de coroa foram<br />
citad<strong>as</strong> em muit<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> tais <strong>com</strong>o<br />
c<strong>as</strong>tanheiro (C<strong>as</strong>tanea sativa), videira<br />
(Vitis vinifera), ameixeira (Prunus<br />
domestica), alface (Lactuca sativa),<br />
chuchu (Sechium edule), mandioca<br />
(Manihot esculenta), urucum (Bixa<br />
orellana), etc. (Beriam et al., 1996).<br />
Romeiro e colaboradores (1994) reportam<br />
que n<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> de roseir<strong>as</strong><br />
(Rosa spp.) na região de Barbacena,<br />
Estado de Min<strong>as</strong> Gerais, <strong>as</strong> galh<strong>as</strong><br />
agrobacterian<strong>as</strong> são responsáveis pela<br />
queda de 20 a 100% da produção de<br />
botões florais <strong>com</strong>ercializáveis.<br />
O mecanismo molecular de<br />
interação Agrobacterium-Planta<br />
O fato de a agrobactéria alterar o<br />
programa de desenvolvimento d<strong>as</strong><br />
plant<strong>as</strong> hospedeir<strong>as</strong>, induzindo a formação<br />
de tumores ou raízes, atraiu a<br />
curiosidade dos cientist<strong>as</strong>, resultando<br />
em avanços do conhecimento nesta<br />
área. O primeiro grande p<strong>as</strong>so no<br />
sentido de elucidar o mecanismo de<br />
infecção foi dado quando White &<br />
Braun (1943) demonstraram que <strong>as</strong><br />
galh<strong>as</strong> de coroa poderiam crescer indefinidamente<br />
in vitro, na ausência<br />
da bactéria, lançando a hipótese da<br />
existência de um princípio indutor de<br />
tumor (“tumour-inducing principle -<br />
t.i.p.”). Desde então, vári<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> importantes<br />
descobert<strong>as</strong> somaram-se no<br />
sentido de solucionar este intrigante<br />
mecanismo de infecção. Kerr (1969b)<br />
observou que a virulência de uma<br />
cepa de Agrobacterium fitopatogênica<br />
poderia ser transferida para uma cepa<br />
saprofítica (A. radiobacter). Petit e<br />
colaboradores (1970) demonstraram<br />
que a cepa que induz a síntese da<br />
opina Octopina n<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> tumorais<br />
usa esse produto, seletivamente, <strong>com</strong>o<br />
fonte de carbono e nitrogênio, m<strong>as</strong><br />
não uma outra opina <strong>com</strong>o a Nopalina,<br />
sugerindo que a informação genética<br />
para a síntese da opina seja transferida<br />
da agrobactéria para a planta. Mais<br />
tarde, foi demonstrado que um elemento<br />
não cromossomal é responsável<br />
pela virulência d<strong>as</strong> agrobactéri<strong>as</strong>,<br />
sendo denominado de pl<strong>as</strong>mídeo Ti<br />
(“Tumor inducing”) em A.<br />
tumefaciens (Van Larebeke et al.,<br />
1974) e pl<strong>as</strong>mídeo Ri (“Root inducing”)<br />
em A. rhizogenes (Moore et al., 1979).<br />
Ess<strong>as</strong> descobert<strong>as</strong> culminaram na<br />
Figura 2. Pl<strong>as</strong>mídeo Ti ou Ri de Agrobacterium<br />
tumefaciens ou A. rhizogenes, respectivamente.<br />
T-DNA: região transferida, que<br />
pode se apresentar <strong>com</strong>o um único segmento<br />
ou em dois segmentos, T L<br />
e T R<br />
-DNA; tra e<br />
trb: regiões responsáveis pela conjugação<br />
bacteriana; OPC: região responsável pelo<br />
catabolismo de opin<strong>as</strong>, e vir: codifica proteín<strong>as</strong><br />
<strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> ao processo de transferência<br />
do T-DNA para a célula hospedeira.<br />
elucidação do mecanismo de infecção:<br />
a transferência de um segmento<br />
do pl<strong>as</strong>mídeo Ti ou Ri (T-DNA) da<br />
Agrobacterium para o genoma vegetal<br />
(Chilton et al., 1977; Chilton et al.,<br />
1982; White et al., 1982).<br />
O Ti e o Ri são pl<strong>as</strong>mídeos grandes,<br />
variando de 200 a mais de 800Kb,<br />
apresentando estrutura modular, onde<br />
genes de função similar encontram-se<br />
agrupados, resultando em cinco regiões<br />
definid<strong>as</strong> (Zhu et al., 2000) (Figura<br />
2): (i) T-DNA (“transfer DNA”): região<br />
do pl<strong>as</strong>mídeo transferida para a planta,<br />
codifica os genes indutores de tumores<br />
ou raízes e genes responsáveis<br />
pela síntese d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong> (octopina,<br />
nopalina, manopina, agropina etc.).<br />
(ii) região vir: dirige o processamento<br />
e transferência do T-DNA para a célula<br />
hospedeira; (iii) região rep: responsável<br />
pela replicação do pl<strong>as</strong>mídeo; (iv)<br />
regiões tra e trb: dirigem o mecanismo<br />
de conjugação entre agrobactéri<strong>as</strong>;<br />
e (v) região opc: envolvida na absorção<br />
e catabolismo d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong>.<br />
O mecanismo de transferência do<br />
T-DNA para a célula vegetal já está<br />
qu<strong>as</strong>e totalmente elucidado. A Figura<br />
3 apresenta todos os p<strong>as</strong>sos para o<br />
estabelecimento da infecção. Quando<br />
um vegetal sofre uma injúria, um<br />
exudado <strong>com</strong>posto de fenóis e açucares<br />
é secretado, servindo de proteção<br />
e início da cicatrização do ferimento. A<br />
agrobactéria, atraída por estes <strong>com</strong>postos,<br />
chega ao local do ferimento.<br />
Os seus genes cromossomais conhecidos<br />
<strong>com</strong>o chvA, chvB, chvD, chvE,<br />
chvG, chvI, pscA, att, miaA, ros, e acvB<br />
codificam proteín<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong> no reconhecimento<br />
do exudado e no contato<br />
entre a agrobactéria e a célula<br />
hospedeira (Matthysse et al., 1981;<br />
Dougl<strong>as</strong> et al., 1982; Tzfira et al.,<br />
2000). Os <strong>com</strong>postos fenólicos presentes<br />
no exudado, principalmente a<br />
acetosseringona, também ativam a região<br />
de virulência “vir” através da<br />
estimulação da proteína VirA, uma<br />
quin<strong>as</strong>e localizada na membrana da<br />
agrobactéria que fosforila outra proteína<br />
bacteriana, a VirG que, por sua vez,<br />
estimula a transcrição d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> de<br />
todos os seis operons Vir (A, B, C, D,<br />
E e G) (Stachel et al., 1986b; Winans et<br />
al., 1989; Joubert et al., 2002). Sugerese,<br />
ainda, que a transferência do T-<br />
DNA para a célula vegetal ocorra por<br />
16 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Figura 3. Interação molecular agrobactéria-planta. A planta que sofreu injúria produz <strong>com</strong>postos fenólicos e açúcares que são<br />
captados pela proteína VirA, que fosforila a VirG que, por sua vez, ativa os demais genes vir. A VirD2 cliva <strong>as</strong> bord<strong>as</strong> do T-DNA<br />
e o direciona para a célula hospedeira através de canais formados pela VirB. Já na célula vegetal, <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> VirE2 se ligam à<br />
fita-T formando o <strong>com</strong>plexo T. Este <strong>com</strong>plexo, então, entra no núcleo da célula vegetal <strong>com</strong> o auxílio d<strong>as</strong> carioferin<strong>as</strong> e cicloferin<strong>as</strong><br />
do próprio hospedeiro, e integra no genoma da planta. Desta forma, a planta p<strong>as</strong>sa a produzir fitormônios e opin<strong>as</strong> que servem<br />
de nutriente para a agrobactéria.<br />
Adaptada de Zhu et al., 2000, por Marlene T. De-Souza e Antônio Américo B.Viana.<br />
mecanismo semelhante à conjugação<br />
bacteriana. Inicia-se <strong>com</strong> a clivagem<br />
d<strong>as</strong> bord<strong>as</strong> de uma d<strong>as</strong> fit<strong>as</strong> do T-DNA<br />
pel<strong>as</strong> endonucle<strong>as</strong>es sítio específic<strong>as</strong><br />
VirD1 e VirD2 (Wang et al., 1987).<br />
Subseqüentemente, uma nova fita de<br />
DNA é sintetizada, iniciando na borda<br />
direita e prosseguindo na direção da<br />
borda esquerda (Stachel et al., 1986a;<br />
Yanofsky et al., 1986). Um T-DNA de<br />
fita simples, chamado de fita T, é<br />
liberado no processo, no qual a proteína<br />
VirD2 permanece covalentemente<br />
ligada até seu destino final, que é o<br />
núcleo da célula vegetal (Herrera-<br />
Estrella et al., 1988). A fita T, <strong>com</strong> a<br />
proteína VirD2 e outra proteína a VirE2,<br />
são translocados da agrobactéria para a<br />
célula vegetal através de um canal<br />
semelhante ao “pilus” conjugativo estabelecido<br />
entre a agrobactéria e a<br />
célula vegetal por proteín<strong>as</strong> codificad<strong>as</strong><br />
no operon VirB (Baron & Zambryski,<br />
1996; Christie PJ, 1997). No citopl<strong>as</strong>ma<br />
da célula vegetal, vári<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> VirE2<br />
juntam-se à fita T formando um <strong>com</strong>plexo<br />
T-DNA/proteín<strong>as</strong> (<strong>com</strong>plexo T)<br />
que é transportado para o núcleo, <strong>com</strong><br />
ajuda d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> da célula vegetal<br />
carioferina alfa e cicloferin<strong>as</strong> (Zupan<br />
et al., 1996; Gelvin, 2000). Uma vez<br />
no núcleo, o T-DNA é integrado no<br />
genoma vegetal por re<strong>com</strong>binação<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 17
Tabela 1. Exemplos de pl<strong>as</strong>mídeos Ti e Ri<br />
DNA não integrativo (White et al.,<br />
1985), dependendo da linhagem<br />
bacteriana. A Tabela 1 mostra alguns<br />
exemplos de pl<strong>as</strong>mídeos Ti e Ri especificando<br />
o tipo de T-DNA e a principal<br />
opina resultante.<br />
Cada Região T é delimitada em<br />
amb<strong>as</strong> extremidades por uma seqüência<br />
de 25 pb, disposta na mesma<br />
orientação, chamada de borda esquerda<br />
e borda direita (“LB e RB”) (Wang<br />
et al., 1984). Embora os genes do T-<br />
DNA sejam provenientes de um organismo<br />
procarioto, eles contêm seqüênci<strong>as</strong><br />
regulatóri<strong>as</strong> eucariótic<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o<br />
TATA box , CAAT box , “enhancers” e<br />
um sítio para adição da seqüência de<br />
poliadenina, que são reconhecidos pela<br />
RNA polimer<strong>as</strong>e II da célula vegetal<br />
(Willmitzer et al., 1981). Desta maneira,<br />
a agrobactéria pode utilizar a maquinaria<br />
de expressão gênica do hospedeiro<br />
para expressar seus genes e,<br />
conseqüentemente, manipular a fisiologia<br />
d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> em seu favor.<br />
A exata organização dos genes<br />
dentro do pl<strong>as</strong>mídeo Ti somente foi<br />
conhecida após seu <strong>com</strong>pleto<br />
seqüenciamento, realizado por Zhu e<br />
colaboradores (2000). Este trabalho<br />
mostrou que o T L<br />
-DNA e T R<br />
-DNA do<br />
pl<strong>as</strong>mídeo Ti da família octopina, possui<br />
13 e 7,8 Kb, respectivamente,<br />
codificando um total de 13 prováveis<br />
genes. Esses genes são responsáveis<br />
pela proliferação d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
neoplásic<strong>as</strong> e produção de opin<strong>as</strong>.<br />
No T L<br />
-DNA foi caracterizado o<br />
locus tms (“tumour morphology<br />
shoot”), que, quando inativado, provoca<br />
o aparecimento de brotos nos<br />
tumores (Garfinkel et al., 1981; Ooms<br />
et al., 1981). Este locus possui dois<br />
genes, o gene iaaM também chamado<br />
de gene1, tms1, aux1 ou shi<br />
(Thom<strong>as</strong>how et al., 1986; Van<br />
Onckelen et al., 1986) e o iaaH também<br />
conhecido <strong>com</strong>o gene2, tms2,<br />
aux2 ou shi (Schröder et al., 1984;<br />
Thom<strong>as</strong>how et al., 1984). Eles codificam<br />
enzim<strong>as</strong> responsáveis pela conversão<br />
do triptofano via indolacetamida<br />
em ácido indol-3-acético (AIA), resultando<br />
em uma nova rota de produção<br />
da auxina endógena mais abundante,<br />
envolvida em vários processos do<br />
desenvolvimento vegetal. No T L<br />
-DNA<br />
também foi caracterizado o locus tmr<br />
(“tumour morphology root”) que, quan-<br />
Pl<strong>as</strong>mídeo<br />
Ti<br />
Ri<br />
T-DNA<br />
T-DNA<br />
T-DNA<br />
ilegítima, preferencialmente em locais<br />
ativos do genoma (Mayerhofer et<br />
al., 1991; Thom<strong>as</strong>how et al., 1980).<br />
Os genes do T-DNA são então expressos<br />
pela planta. Aqueles que codificam<br />
enzim<strong>as</strong> responsáveis pela síntese<br />
de fitohormônios levam à diferenciação<br />
e proliferação celular e, os que<br />
codificam para <strong>as</strong> opin<strong>as</strong> sint<strong>as</strong>es produzem<br />
nutrientes para <strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong> colonizador<strong>as</strong>.<br />
Da agrobactéria, engenheira<br />
genética natural, às plant<strong>as</strong><br />
transgênic<strong>as</strong> atuais.<br />
Opina<br />
sintetizada<br />
A descoberta de que a<br />
agrobactéria é capaz de introduzir no<br />
genoma da célula vegetal um segmento<br />
do seu próprio pl<strong>as</strong>mídeo, que<br />
altera o programa de desenvolvimento<br />
e o metabolismo da célula vegetal<br />
em seu favor, em uma troca não convencional<br />
de material genético, lançou<br />
<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es da Transformação Genética<br />
Vegetal.<br />
O entendimento dos mecanismos<br />
de transferência do T-DNA para a<br />
célula vegetal, aliado a Tecnologia de<br />
DNA Re<strong>com</strong>binante e a Cultura de<br />
Tecidos Vegetais, resultou no desenvolvimento<br />
d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong>.<br />
O homem, observando <strong>as</strong><br />
agrobactéri<strong>as</strong>, tornou-se capaz de fazer<br />
<strong>com</strong> que <strong>as</strong> plant<strong>as</strong> produzam<br />
<strong>com</strong>postos do seu interesse. No entanto,<br />
modificações no T-DNA tiveram<br />
que ser feit<strong>as</strong>, de forma que os<br />
genes responsáveis pela síntese dos<br />
fitohormônios e d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong> fossem<br />
retirados, resultando no chamado<br />
pl<strong>as</strong>mídeo Ti desarmado. Neste local,<br />
genes de interesse podem ser inseridos,<br />
incluindo genes que conferem à<br />
célula transformada uma característica<br />
p<strong>as</strong>sível de seleção. Desta forma, o Ti<br />
<strong>com</strong> o T-DNA alterado é introduzido<br />
Referência Bibliográfica<br />
N opalin a Holsters et al., 1980 ,<br />
Manopina ou<br />
Cucumopina<br />
Hansen et al.,<br />
de volta na agrobactéria, que é utilizada<br />
no processo de transformação. O<br />
tecido alvo da transformação é colocado<br />
em contato <strong>com</strong> a agrobactéria<br />
contendo o novo Ti e, subseqüentemente,<br />
cultivado em meio que favoreça<br />
a regeneração de plant<strong>as</strong>, em presença<br />
do agente seletivo, de forma a<br />
permitir a regeneração apen<strong>as</strong> d<strong>as</strong><br />
célul<strong>as</strong> transformad<strong>as</strong>, ou seja, aquel<strong>as</strong><br />
que incorporaram o T-DNA. Deste<br />
modo, a planta regenerada contém<br />
em seu genoma uma ou mais cópi<strong>as</strong><br />
do T-DNA, que serão transmitid<strong>as</strong> para<br />
<strong>as</strong> futur<strong>as</strong> gerações por meiose, obedecendo<br />
às leis de Mendel (Tepfer,<br />
1984). As primeir<strong>as</strong> plant<strong>as</strong><br />
transgênic<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> utilizando-se A.<br />
tumefaciens <strong>com</strong>o vetor de transformação<br />
foram plant<strong>as</strong> de Nicotiana<br />
tabacum. Inicialmente, foram utilizados<br />
protopl<strong>as</strong>tos de célul<strong>as</strong> do mesófilo<br />
para a transformação (De Block et al.,<br />
1984; Horsch et al., 1984) e, em seguida,<br />
p<strong>as</strong>sou-se a utilizar discos foliares<br />
(Horsch et al., 1985). Protopl<strong>as</strong>tos ou<br />
discos foliares foram co-cultivados <strong>com</strong><br />
a agrobactéria, contendo no T-DNA o<br />
gene nptII, que confere resistência ao<br />
antibiótico canamicina. Depois de vári<strong>as</strong><br />
seman<strong>as</strong> de cultivo em meio propício<br />
à regeneração, contendo<br />
canamicina, foram obtid<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> transformad<strong>as</strong><br />
resistentes ao antibiótico.<br />
Atualmente, em experimentos de<br />
transformação, o co-cultivo <strong>com</strong> segmentos<br />
foliares é utilizado preferencialmente,<br />
devido à simplicidade da<br />
manipulação.<br />
O T-DNA<br />
1991<br />
Ti<br />
T L<br />
e T R<br />
-DNA<br />
Octopin<br />
a Ooms et al., 198 2<br />
Ri<br />
T L<br />
e T R<br />
-DNA<br />
Agropin<br />
a Jouanin, 198 4<br />
O T-DNA pode ser encontrado<br />
<strong>com</strong>o um único segmento de aproximadamente<br />
20 kb, ou dividido em<br />
dois segmentos, <strong>com</strong> até 20 kb cada,<br />
separados por pelo menos 15 kb de<br />
18 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Figura 4. T-DNA da A. tumefaciens (pTiAch5) e da A. rhizogenes (pRiA4). Ambos possuem genes codificadores de hormônios<br />
vegetais (iaaM, iaaH, ipt e tml) e de síntese de opin<strong>as</strong> (ocs, ags, m<strong>as</strong>1 e m<strong>as</strong>2). Somente a A. rhizogenes possui os genes responsáveis<br />
pela indução da formação de raízes (rolA, rolB, rolC e rolD).<br />
do inativado, produz tumores <strong>com</strong><br />
raízes. Este locus contém apen<strong>as</strong> um<br />
gene o ipt, também conhecido <strong>com</strong>o<br />
gene4, tmr ou roi que catalisa a síntese<br />
da citocinina iso-penteniladenosina 5`monofosfato<br />
a partir de dimetilalilpirofosfato<br />
e 5`AMP (Akiyoshi et<br />
al.,1984; Barry et al., 1984; Buchmann<br />
et al., 1985). Aparentemente, enzim<strong>as</strong><br />
da planta hospedeira convertem isopenteniladenosina<br />
5`-monofosfato na<br />
citocinina zeatina. As citocinin<strong>as</strong> são<br />
hormônios que regulam o desenvolvimento<br />
vegetal de forma antagônica às<br />
auxin<strong>as</strong>. Dois outros genes, encontrados<br />
no T L<br />
-DNA do pl<strong>as</strong>mídeo Ti, são<br />
também responsáveis pela formação<br />
da galha de coroa: o gene5 ou ila, que<br />
é responsável pela síntese do <strong>com</strong>posto<br />
indol-3-lactato, um antagonista<br />
da auxina (Körber et al., 1991) e, o<br />
gene6b ou tml, que confere <strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
transformad<strong>as</strong> um aumento de sensibilidade<br />
à auxina, por um mecanismo<br />
ainda não identificado (Hooyka<strong>as</strong> et<br />
al., 1988; Tinland et al., 1992). No T L<br />
-<br />
DNA também existem genes responsáveis<br />
pelo metabolismo d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong>.<br />
Um deles é o gene ocs, que codifica a<br />
enzima octopina sint<strong>as</strong>e, responsável<br />
pela condensação do piruvato <strong>com</strong><br />
quatro aminoácidos básicos, arginina,<br />
lisina, histidina ou ornitina, dando origem<br />
opin<strong>as</strong> octopina, lisopina,<br />
histopina ou ácido octopínico, respectivamente<br />
(De Greve et al., 1982).<br />
Outro gene caracterizado é o nos, que<br />
codifica uma proteína responsável pela<br />
secreção d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong> (Messens et al.,<br />
1985) (Figura4).<br />
No T R<br />
-DNA deste pl<strong>as</strong>mídeo Ti<br />
foram identificados três outros genes<br />
responsáveis pela produção d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong><br />
são eles o m<strong>as</strong>2’, cujo produto é o<br />
responsável pela condensação do ácido<br />
glutâmico <strong>com</strong> a glicose formando<br />
o precursor desoxifrutosilglutamina, e<br />
o m<strong>as</strong>1’, responsável pela redução do<br />
precursor, formando a opina manopina<br />
(Dessaux et al., 1998). O outro gene<br />
é o ags, cujo produto catalisa a<br />
lactonização da manopina resultando<br />
na agropina (Dessaux et al., 1998;<br />
Hong et al., 1997). Dois outros possíveis<br />
genes foram identificados no T L<br />
-<br />
DNA da família octopina, o gene 3 e o<br />
gene 4, cuj<strong>as</strong> funções ainda não foram<br />
determinad<strong>as</strong>. Portanto, os pl<strong>as</strong>mídeos<br />
do tipo octopina produzem diferentes<br />
tipos de opin<strong>as</strong>.<br />
No c<strong>as</strong>o da A. rhizogenes, em<br />
contr<strong>as</strong>te <strong>com</strong> o A. tumefaciens, ocorre<br />
a indução de um tecido neoplásico<br />
organizado na forma de raízes adventíci<strong>as</strong><br />
(Figura 1). Não obstante, existe<br />
uma significante homologia do T R<br />
-<br />
DNA do pl<strong>as</strong>mídeo Ri <strong>com</strong> o T-DNA<br />
do pl<strong>as</strong>mídeo Ti, <strong>com</strong>o por exemplo,<br />
os genes de síntese de auxina iaaM e<br />
iaaH e, os genes m<strong>as</strong>1’, m<strong>as</strong>2’ e ags,<br />
responsáveis pela síntese d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong><br />
(White et al., 1985). Em contr<strong>as</strong>te, o<br />
T L<br />
-DNA do pl<strong>as</strong>mídeo RiA4, possui 18<br />
regiões abert<strong>as</strong> para leitura (ORFs)<br />
(Slightom et al., 1986) <strong>com</strong> baixa<br />
homologia <strong>com</strong> o pl<strong>as</strong>mídeo Ti da<br />
família octopina (Nilsson & Olsson,<br />
1997). Quatro destes genes, específicos<br />
dos pl<strong>as</strong>mídeos Ri, são considerados<br />
responsáveis pela indução d<strong>as</strong><br />
raízes em cabeleira (White et al.,1985,<br />
Spena et al., 1987) (Figura 4). Esse<br />
locus foi denominado de locus de raiz<br />
(root locus) cujos genes foram designados<br />
de rolA, rolB, rolC e rolD (White<br />
et al.,1985), correspondendo <strong>as</strong> ORFs<br />
10, 11, 12 e 15, respectivamente<br />
(Slightom et al., 1986).<br />
Diferentemente dos tumores, <strong>as</strong><br />
raízes neoplásic<strong>as</strong> provêm de uma<br />
única célula transformada e podem<br />
regenerar plant<strong>as</strong> férteis, quando<br />
cultivad<strong>as</strong> in vitro. Ess<strong>as</strong> plant<strong>as</strong><br />
apresentam fenótipo alterado, cujos<br />
principais sintom<strong>as</strong> são: nanismo,<br />
enrugamento foliar, formação de raízes<br />
adventíci<strong>as</strong> e plagiotrópic<strong>as</strong>,<br />
dominância apical reduzida, alteração<br />
na morfologia floral, redução do<br />
número de sementes, entre outros<br />
(Tepfer, 1984). Assim <strong>com</strong>o a<br />
descoberta da transferência do T-DNA<br />
para a célula vegetal levou ao<br />
desenvolvimento d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong><br />
transgênic<strong>as</strong>, o entendimento dos<br />
mecanismos pelos quais <strong>as</strong><br />
agrobactéri<strong>as</strong> alteram a morfologia da<br />
planta pode ser útil nos estudos de<br />
Biologia do Desenvolvimento e<br />
Fisiologia Vegetal, bem <strong>com</strong>o na<br />
manipulação de característic<strong>as</strong><br />
agronômic<strong>as</strong> de interesse.<br />
Os oncogenes rolA, rolB,<br />
rolC e rolD<br />
Como os genes rol participam da<br />
estratégia de colonização, estabelecida<br />
no decorrer da evolução planta/<br />
patógeno? Qual é o papel de cada<br />
gene na síndrome de raiz em cabeleira?<br />
As respost<strong>as</strong> para est<strong>as</strong> pergunt<strong>as</strong><br />
ainda não são totalmente conhecid<strong>as</strong>.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 19
No entanto, sabemos que os genes rol<br />
atuam de maneira sinergística e que,<br />
quando expressos em pares, provocam<br />
efeitos mais acentuados do que<br />
quando expressos isoladamente<br />
(Spena et al., 1987). Isto sugere uma<br />
certa redundância funcional, que pode<br />
ser interpretada <strong>com</strong>o um modo de<br />
garantir o sucesso no processo de<br />
infecção.<br />
O gene rolB (ORF11) é o mais<br />
eficiente na indução d<strong>as</strong> raízes e o<br />
único gene do T-DNA que, quando<br />
inativado, suprime a indução de raízes<br />
n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> infectad<strong>as</strong> pela A.<br />
rhizogenes, exceto em plant<strong>as</strong> de<br />
fumo (White et al., 1985). De fato, A.<br />
rhizogenes contendo apen<strong>as</strong> o gene<br />
rolB é capaz de induzir raízes tão bem<br />
quanto cep<strong>as</strong> selvagens (Spena et al.,<br />
1987; Capone et al., 1989). O gene<br />
rolB expresso em plant<strong>as</strong> promove<br />
alterações na morfologia d<strong>as</strong> folh<strong>as</strong> e<br />
flores, o desenvolvimento de raízes<br />
adventíci<strong>as</strong> no caule (Schumülling et<br />
al., 1988)e a indução de raízes em<br />
segmentos foliares cultivados, in vitro,<br />
na ausência de auxina. Ess<strong>as</strong> observações<br />
levaram a conclusão de que plant<strong>as</strong><br />
transformad<strong>as</strong> <strong>com</strong> rolB apresentam<br />
um estado hiperauxínico (Capone<br />
et al., 1989).<br />
A proteína RolB contém 259<br />
aminoácidos <strong>com</strong> m<strong>as</strong>sa molecular de<br />
30KDa, não possuindo nenhum motivo<br />
típico ou similar a proteín<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong>.<br />
Primeiramente, foi sugerido que<br />
RolB provocaria um aumento da concentração<br />
de auxina, resultado da<br />
hidrólise dos conjugados inativos do<br />
ácido indol acético (AIA), liberando<br />
auxina ativa na célula (Estruch et al.,<br />
1991b). Porém, plant<strong>as</strong> de fumo expressando<br />
o gene rolB sob controle<br />
do promotor 35S do vírus do mosaico<br />
da couve-flor (CaMV35S) (Odell et<br />
al.,1985) não apresentam níveis alterados<br />
de AIA ou AIA-conjugado (Nilsson<br />
et al., 1993). A segunda hipótese é<br />
que RolB aumentaria a sensibilidade<br />
da célula para o AIA, e não a sua<br />
disponibilidade, <strong>com</strong>o sugerido anteriormente.<br />
Protopl<strong>as</strong>tos de plant<strong>as</strong><br />
transgênic<strong>as</strong> de fumo expressando<br />
RolB são até 100000 vezes mais sensíveis<br />
à auxina do que plant<strong>as</strong> controle<br />
(Maurel et al., 1991). Corroborando<br />
este resultado, foi observado que preparações<br />
de membrana pl<strong>as</strong>mática de<br />
célul<strong>as</strong> transformad<strong>as</strong> <strong>com</strong> rolB são<br />
capazes de ligar mais auxina do que<br />
membran<strong>as</strong> de plant<strong>as</strong> controle, e que<br />
esta ligação é <strong>com</strong>pletamente abolida<br />
na presença de anticorpos anti-RolB<br />
(Filippini et al., 1994). Além disso,<br />
protopl<strong>as</strong>tos 35S::rolB se dividem e<br />
formam calos na ausência de auxina<br />
(Walden et al., 1993), e calos gerados<br />
a partir de raiz de plant<strong>as</strong> 35S::RolB<br />
tornam-se necróticos em um terço da<br />
concentração de auxina necessária para<br />
induzir a mesma resposta em calos<br />
controle (Schmülling et al., 1993). Os<br />
efeitos de rolB na organogênese foram<br />
estudados utilizando cultura de<br />
camada fina de célul<strong>as</strong> (TCL), onde foi<br />
observado que rolB não somente induz<br />
a formação meristem<strong>as</strong> radiculares,<br />
m<strong>as</strong> também meristem<strong>as</strong> florais<br />
(Altamura et al., 1994). Recentemente,<br />
Altamura (2004) propôs um modelo<br />
no qual rolB induziria a formação de<br />
meristem<strong>as</strong>, sendo que o tipo de<br />
meristema resultante depende do balanço<br />
hormonal local. Apesar dos efeitos<br />
da proteína RolB serem bem conhecidos,<br />
ainda existem controvérsi<strong>as</strong><br />
quanto ao seu modo de ação. Filippini<br />
e colaboradores (1994) demonstraram<br />
que a proteína RolB possui atividade<br />
tirosina fosfat<strong>as</strong>e, e a localizaram<br />
em membrana pl<strong>as</strong>mática d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
transformad<strong>as</strong>, sugerindo uma função<br />
de receptor ou transdutor de sinal da<br />
via do hormônio AIA. No entanto,<br />
Moriuchi e colaboradores (2004) localizaram<br />
a proteína quimérica GFP::RolB<br />
no núcleo de célul<strong>as</strong> transformad<strong>as</strong>, o<br />
que favorece a função de transdutor<br />
de sinais.<br />
O gene rolC (ORF 12), cuja proteína<br />
possui 180 aminoácidos <strong>com</strong><br />
m<strong>as</strong>sa molecular de 20 KDa, também<br />
não possui homologia <strong>com</strong> proteín<strong>as</strong><br />
conhecid<strong>as</strong>. A proteína RolC foi<br />
imunolocalizada no citosol d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
transformad<strong>as</strong> (Estruch et al., 1991a;<br />
Oono et al., 1987). As plant<strong>as</strong><br />
transgênic<strong>as</strong> de fumo expressando<br />
RolC são menores, ramificad<strong>as</strong>, <strong>com</strong><br />
folh<strong>as</strong> afilad<strong>as</strong> e redução do conteúdo<br />
de clorofila. A floração ocorre mais<br />
cedo <strong>com</strong> flores pequen<strong>as</strong> e redução<br />
do número de grãos de pólen (Oono<br />
et al., 1987; Schmülling et al., 1988). A<br />
função da proteína RolC ainda não foi<br />
determinada, tendo sido descrito um<br />
aumento de citocinina ZR n<strong>as</strong> regiões<br />
apicais (Nilsson et al., 1996), sugerindo<br />
que RolC influencia positivamente<br />
a síntese de citocinina em folh<strong>as</strong> jovens.<br />
Foi observado, ainda, uma diminuição<br />
dos níveis de giberilina (GA)<br />
em plant<strong>as</strong> expressando o gene rolC<br />
devido, provavelmente, à inibição da<br />
conversão do GA 19<br />
para o GA 20<br />
(Nilsson<br />
et al., 1993, 1996). No entanto, a<br />
aplicação de GA exógeno em plant<strong>as</strong><br />
expressando a proteína RolC reflete<br />
somente no aumento do tamanho d<strong>as</strong><br />
plant<strong>as</strong>, não revertendo os outros<br />
fenótipos, tornando evidente que o<br />
decréscimo de GA é um efeito secundário<br />
(Schmülling et al., 1993).<br />
O gene rolD (ORF15) codifica<br />
uma proteína de 344 aminoácidos<br />
(Slightom et al., 1986). A. rhizogenes<br />
contendo no locus rol apen<strong>as</strong> o gene<br />
rolD é incapaz de induzir a formação<br />
de raízes em plant<strong>as</strong> de fumo (Mauro<br />
et al.,1996). Por outro lado, A.<br />
rhizogenes contendo mutações apen<strong>as</strong><br />
no gene rolD induz o desenvolvimento<br />
de raízes, porém, <strong>as</strong> raízes<br />
resultantes são pequen<strong>as</strong> (White et<br />
al., 1985). A proteína RolD provoca a<br />
floração precoce em plant<strong>as</strong> de fumo<br />
e a potenciação da organogenese floral<br />
em cultur<strong>as</strong> de célul<strong>as</strong> (Mauro et al.,<br />
1996; Altamura, 2004). Em 2001,<br />
Trovato e colaboradores demonstraram<br />
que o produto protéico deste<br />
gene é a enzima ornitina<br />
ciclodesamin<strong>as</strong>e (OCD), que converte<br />
ornitina em prolina. Existem evidênci<strong>as</strong><br />
de que a prolina atue <strong>com</strong>o<br />
um indutor da floração.<br />
O gene rolA (ORF10) é, entre os<br />
genes rol, o que causa maiores alterações<br />
morfológic<strong>as</strong> em plant<strong>as</strong>, sendo<br />
este objeto de estudo em nosso laboratório.<br />
A. rhizogenes contendo apen<strong>as</strong><br />
o gene rolA é capaz de induzir<br />
raízes em N. tabacum, m<strong>as</strong> não em<br />
outr<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> testad<strong>as</strong> (Spena et al.,<br />
1987). Plant<strong>as</strong> de fumo transformad<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> o gene rolA apresentam redução<br />
do porte, folh<strong>as</strong> enrugad<strong>as</strong>, arredondad<strong>as</strong><br />
e verdes escur<strong>as</strong>, atr<strong>as</strong>o na floração,<br />
(Figura 5), sistema radicular pobre,<br />
reduzido número de flores e retardo<br />
na senescência (Schmülling et al.,<br />
1988; Sinkar et al., 1988; Slightom et<br />
al.,1986; Carneiro & Vilaine, 1993). Da<br />
mesma forma, foram observad<strong>as</strong> alterações<br />
fisiológic<strong>as</strong> tais <strong>com</strong>o redução<br />
de giberilina GA 1<br />
(Dehio et al., 1993;<br />
20 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Moritz & Schmülling 1998) e redução<br />
da síntese de poliamin<strong>as</strong>, através de<br />
interferência na via da ornitina (Burtin<br />
et al., 1991; Sun et al., 1991; Ben-<br />
Hayyim et al.,1996). Plant<strong>as</strong> de fumo<br />
expressando rolA, quando tratad<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
giberilina, não revertem <strong>com</strong>pletamente<br />
o fenótipo (Dehio et al., 1993;<br />
Schmülling et al., 1993), o que sugere<br />
que esta redução de giberelina represente<br />
um efeito secundário. Curiosamente,<br />
plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> <strong>com</strong> reduzido<br />
nível de AIA apresentam<br />
fenótipo semelhante a plant<strong>as</strong> rolA<br />
(Romano et al., 1991), sendo especulado<br />
que o fenótipo rolA seja o resultado<br />
de um aumento da relação<br />
citocinina/auxina. Em consonância <strong>com</strong><br />
esta hipótese, nanismo, folh<strong>as</strong><br />
enrugad<strong>as</strong> e verdes escur<strong>as</strong> são<br />
fenótipos típicos de plant<strong>as</strong> <strong>com</strong> alta<br />
produção de citocinin<strong>as</strong> (Eklöf et al.,<br />
1996).<br />
A expressão do gene rolA em<br />
plant<strong>as</strong> transgênci<strong>as</strong> mostrou que seu<br />
promotor é ativo, essencialmente, em<br />
todos os órgãos (Schmülling et al.,<br />
1989). Carneiro & Vilaine (1993) mostraram<br />
que o nível do RNA mensageiro<br />
é maior no caule, cinco vezes menor<br />
na folha e cinqüenta vezes menor na<br />
raiz, e que, além disso, o promotor do<br />
gene é <strong>com</strong>posto por módulos que<br />
determinam a expressão tecido específica.<br />
A proteína RolA possui 100<br />
aminoácidos <strong>com</strong> m<strong>as</strong>sa molecular estimada<br />
em torno de 11,4 KDa e ponto<br />
isoelétrico de 11,2 (Slightom et al.,<br />
1986). Análises <strong>com</strong>putacionais mostraram<br />
que não existe similaridade da<br />
RolA <strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong>. Devido<br />
à sua natureza extremamente básica<br />
e à presença do motivo SPXX encontrado<br />
em proteín<strong>as</strong> regulatóri<strong>as</strong>, a<br />
possibilidade de interação <strong>com</strong> ácidos<br />
nucléicos foi proposta (Levesque et<br />
al.,1988; Hansen et al., 1994). Alternativamente,<br />
foi sugerido uma função de<br />
receptor ou transdutor de sinal de<br />
auxin<strong>as</strong> na membrana pl<strong>as</strong>mática<br />
(Maurel et al.,1991; Vansuyt et<br />
al.,1992). Experimentos de<br />
fracionamento celular de plant<strong>as</strong> de<br />
fumo transformad<strong>as</strong> <strong>com</strong> o gene<br />
rolA::gus indicam que a proteína RolA<br />
estaria <strong>as</strong>sociada, preferencialmente,<br />
à fração da membrana pl<strong>as</strong>mática, embora<br />
a atividade do gene repórter gus<br />
tenha sido detectada em outr<strong>as</strong> frações<br />
celulares (Vilaine et al.,1998).<br />
Sendo <strong>as</strong>sim, <strong>as</strong> informações quanto à<br />
localização da proteína RolA na célula<br />
vegetal e sua provável função são<br />
contraditóri<strong>as</strong>, e, apesar d<strong>as</strong> alterações<br />
hormonais detectad<strong>as</strong> n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> rolA<br />
explicarem parcialmente os fenótipos<br />
resultantes, faz-se necessário um<br />
aprofundamento d<strong>as</strong> investigações<br />
para se chegar a sua verdadeira função<br />
biológica.<br />
Estratégia adotada para estudar<br />
a função da proteína RolA<br />
em plant<strong>as</strong><br />
A capacidade de RolA alterar vários<br />
<strong>as</strong>pectos do crescimento e desenvolvimento<br />
de plant<strong>as</strong> tem atraído a<br />
atenção dos cientist<strong>as</strong>, pois decifrar a<br />
função de RolA pode levar ao entendimento<br />
de <strong>com</strong>o os fenótipos baixo<br />
porte, enrugamento foliar, crescimento<br />
deficiente de raízes, retardo na<br />
floração e senescência são gerados.<br />
Est<strong>as</strong> informações podem resultar em<br />
avanços na Fisiologia Vegetal e Biologia<br />
do Desenvolvimento, possibilitando<br />
ainda, o controle de característic<strong>as</strong><br />
agronômic<strong>as</strong> desejáveis em uma determinada<br />
cultura.<br />
Tendo <strong>com</strong>o b<strong>as</strong>e <strong>as</strong> hipóteses<br />
existentes na literatura, de localização<br />
da proteína RolA na membrana<br />
pl<strong>as</strong>mática ou no núcleo, desenhamos<br />
algum<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> <strong>com</strong> o objetivo de<br />
testar ess<strong>as</strong> du<strong>as</strong> hipóteses.<br />
Estudos de modelagem molecular<br />
da proteína RolA, realizados por Rigden<br />
e Carneiro (1999) culminaram <strong>com</strong> a<br />
proposição de um modelo para a proteína<br />
RolA, no qual esta estaria atuando<br />
na forma dimérica e interagindo<br />
<strong>com</strong> seqüênci<strong>as</strong> de DNA em dois pontos<br />
específicos de sua estrutura, os<br />
resíduos lisina 24 e arginina 27, via<br />
pontes de hidrogênio. Para testar este<br />
modelo, experimentos de mutação<br />
sítio-dirigida foram realizados, substituindo<br />
os aminoácidos lisina 24 e<br />
arginina 27 por <strong>as</strong>paragina 24 e 27 e<br />
por glutamina 24 e 27 (Assis, 2003).<br />
Asparagina e glutamina foram escolhidos<br />
por apresentarem tamanhos similares<br />
aos aminoáciodos lisina e arginina,<br />
m<strong>as</strong> diferentes quanto às característic<strong>as</strong><br />
físico-químic<strong>as</strong>, o que poderia alterar<br />
a especificidade de ligação de RolA<br />
<strong>com</strong> os promotores, sem alterações<br />
consideráveis na estrutura da proteína.<br />
Os genes rolA mutados foram inseridos<br />
em plant<strong>as</strong> de fumo, e análises<br />
fenotípic<strong>as</strong> estão sendo realizad<strong>as</strong> em<br />
nosso laboratório.<br />
Para testar a hipótese de que<br />
Figura 5. (A) Planta de N. tabacum expressando o gene rolA sob controle do seu<br />
próprio promotor, à esquerda, e uma planta não transformada, à direita. Amb<strong>as</strong><br />
possuem a mesma idade. (B) Detalhe da planta expressando o gene rolA.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 21
Figura 6. Perfil de hidrofobicidade e seqüência primária de RolA. Destacada em verde, a região hidrofóbica<br />
<strong>com</strong> 22 resíduos de aminoácidos, e em vermelho, uma região hidrofílica de 14 resíduos. As cores representam<br />
<strong>as</strong> propriedades físico-químic<strong>as</strong> dos resíduos de aminoácidos: verde – apolares, e vermelho – carregados<br />
positivamente.<br />
RolA atue <strong>com</strong>o regulador da expressão<br />
de genes, DNA de Arabdopsis<br />
thaliana foi digerido <strong>com</strong> enzim<strong>as</strong> de<br />
restrição de corte freqüente, gerando,<br />
<strong>as</strong>sim, um banco de fragmentos de<br />
DNA. Estes fragmentos foram então<br />
incubados <strong>com</strong> a proteína de fusão<br />
GST::RolA (Santos, 2002) e,<br />
con<strong>com</strong>itantemente, <strong>com</strong> a proteína<br />
GST isolada. A A. thaliana foi escolhida<br />
<strong>com</strong>o modelo experimental, dado<br />
à disponibilidade da seqüência do seu<br />
genoma <strong>com</strong>pleto em bancos de dados,<br />
o que facilita os estudos posteriores.<br />
Por análise diferencial, foi possível<br />
isolar trinta fragmentos de DNA <strong>com</strong><br />
os quais RolA se ligou. Para verificar se<br />
esses fragmentos são promotores de<br />
genes regulados pela proteína RolA,<br />
eles foram clonados adjacentes à seqüência<br />
codante do gene repórter<br />
uidA (gus), que codifica a enzima β-<br />
Glucuronid<strong>as</strong>e (Jefferson et al., 1986),<br />
em vetores de planta, de forma a<br />
tornar possível a verificação da capacidade<br />
dos fragmentos de promover a<br />
expressão da Gus. Esses vetores foram<br />
então transferidos por<br />
eletroporação para protopl<strong>as</strong>tos de<br />
fumo, onde foi observada atividade<br />
promotora em alguns fragmentos<br />
(Barreto et al.,1998). Dois destes fragmentos,<br />
quando expressos em plant<strong>as</strong><br />
de fumo, foram capazes de promover<br />
a expressão de Gus nos grãos de<br />
pólen de plant<strong>as</strong> de fumo (Viana,<br />
2003).<br />
Alternativamente, uma outra estratégia<br />
foi estabelecida para possibili-<br />
22 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
tar a localização subcelular e evidenciar<br />
a existência de domínios funcionais<br />
na proteína RolA. O perfil de<br />
hidrofobicidade da RolA foi determinado,<br />
utilizando o programa ProtScale<br />
disponível no endereço (http://<br />
www.exp<strong>as</strong>y.ch/). Du<strong>as</strong> regiões bem<br />
definid<strong>as</strong> ficaram evidentes no N-terminal<br />
da proteína RolA: uma região<br />
hidrofóbica seguida de outra hidrofílica<br />
(Figura 6). A região hidrofóbica possui<br />
23 resíduos de aminoácidos, dos quais<br />
16 são resíduos apolares (em verde) e<br />
a região básica corresponde a 14 resíduos<br />
de aminoácidos, sendo que 9 são<br />
resíduos básicos (em vermelho) e 5<br />
apolares (em verde) (Figura 6). Em<br />
acordo <strong>com</strong> a hipótese da RolA ser<br />
uma proteína reguladora da expressão<br />
gênica, foi observado dentro da região<br />
básica, uma região homologa ao sinal<br />
de endereçamento nuclear da proteína<br />
antígeno “large T” do vírus SV40.<br />
Por outro lado, os 23 primeiros resíduos<br />
de aminoácidos, presentes no N-<br />
terminal, essencialmente hidrofóbicos,<br />
seguidos de resíduos básicos,<br />
hidrofílicos, configuram um possível<br />
motivo conhecido <strong>com</strong>o “Reversesignal-ancor”,<br />
que, n<strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong>, permitem<br />
o ancoramento em membran<strong>as</strong><br />
(Barros et al., 2003). Os resíduos básicos<br />
interagem <strong>com</strong> <strong>as</strong> porções<br />
hidrofílic<strong>as</strong> dos lipídeos d<strong>as</strong> membran<strong>as</strong><br />
promovendo o ancoramento d<strong>as</strong><br />
proteín<strong>as</strong> na membrana de maneira<br />
estável (van Heijne e Manoil, 1990).<br />
Com b<strong>as</strong>e ness<strong>as</strong> informações<br />
experimentos foram desenhados para<br />
estudar estes motivos putativos encontrados<br />
no N-terminal da proteína<br />
RolA. Foram construíd<strong>as</strong> fusões<br />
traducionais da proteína RolA inteira,<br />
ou apen<strong>as</strong> segmentos do seu N ou C-<br />
terminal, <strong>com</strong> a enzima repórter Gus<br />
(RolA::Gus). Os genes quiméricos foram<br />
inseridos no pl<strong>as</strong>mídeo Ti desarmado,<br />
sob o controle do promotor<br />
CaMV35S. Plant<strong>as</strong> de fumo transformad<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> ess<strong>as</strong> construções foram<br />
regenerad<strong>as</strong>, sendo que o fenótipo<br />
característico de plant<strong>as</strong> rolA está presente<br />
apen<strong>as</strong> n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> que contém<br />
o gene rolA <strong>com</strong>pleto. Surpreendentemente,<br />
a atividade específica desta<br />
proteína de fusão aumentou mais de<br />
50 vezes, devido ao acúmulo da fusão,<br />
em torno de 36 vezes maior que a<br />
proteína Gus isolada (Barros, 2003). É<br />
possível, que o acúmulo da proteína<br />
de fusão observado possa estar relacionado<br />
<strong>com</strong> a função biológica da proteína<br />
RolA (Barros et al., 2003). Curiosamente,<br />
ensaios preliminares de<br />
citoquímica e imunocitoquímica sugerem<br />
a presença da proteína RolA::Gus<br />
em cloropl<strong>as</strong>tos, em vez de membrana<br />
celular ou núcleo, <strong>com</strong>o previsto<br />
(Barros, 2003). Desta maneira, é possível<br />
que a função da proteína RolA<br />
esteja relacionada <strong>com</strong> esta organela,<br />
que tem um papel central no metabolismo<br />
vegetal.<br />
Considerações finais<br />
O conhecimento dos mecanismos<br />
moleculares de interação<br />
Agrobacterium-planta permitiu ao<br />
homem manipular geneticamente espécies<br />
vegetais, introduzindo genes<br />
de interesse agronômico, resultando<br />
em variedades mais produtiv<strong>as</strong>, resistentes<br />
a estresses bióticos e abióticos,<br />
e <strong>com</strong> aumento no seu valor nutricional.<br />
Por outro lado, os genes rol são<br />
ferrament<strong>as</strong> importantes para o entendimento<br />
dos mecanismos de crescimento<br />
e desenvolvimento vegetal.<br />
Porém, apesar dos esforços de diversos<br />
grupos de pesquisa, a função primária<br />
de vários desses genes ainda é<br />
controversa. Serão necessários, ainda,<br />
estudos para se alcançar o <strong>com</strong>pleto<br />
conhecimento do modo de ação de<br />
cada um dos genes rol em plant<strong>as</strong><br />
transgênic<strong>as</strong>, e seus papéis na interação<br />
Agrobacterium-planta.<br />
Bibliografia<br />
Akiyoshi DE, Klee H, Am<strong>as</strong>ino RM,<br />
Nester EW, Gordon MP (1984). T-<br />
DNA of Agrobacterium tumefaciens<br />
encodes an enzyme of cytokinin<br />
biosynthesis. Proc. Natl. Acad.<br />
Sci. USA, 81: 5994-5998.<br />
Altamura MM (2004). Agrobacterium<br />
rhizogenes rolB and rolD genes:<br />
regulation and involvement in<br />
plant development. Plant Cell Tiss.<br />
Org., 77: 89-101.<br />
Altamura MM, Capitani F, Gazza L,<br />
Capone I, Constantino P (1994).<br />
The plant oncogene rolB stimulates<br />
the formation of flower and root<br />
meristemoids in tobacco thin cell<br />
layers. New Phytol., 126: 283-293.<br />
Assis CM (2003). Teste do modelo de<br />
interação da proteína RolA de<br />
Agrobacterium rhizogenes <strong>com</strong> o<br />
DNA em plant<strong>as</strong> de tabaco. Dissertação<br />
de Mestrado – Departamento<br />
de Biologia Celular, Universidade<br />
de Br<strong>as</strong>ília (UnB).<br />
Baron C & Zambryski C (1996). Plant<br />
transformation: A pilus in<br />
Agrobacterium T-DNA transfer.<br />
Curr. Biol., 6: 1567-1569.<br />
Barreto CC, Rodrigues CA, Carneiro M<br />
(1998). Isolamento de promotores<br />
de plant<strong>as</strong> por afinidade pela<br />
proteína RolA de Agrobacterium<br />
rhizogenes. Comunicado Técnico<br />
– Embrapa Recursos Genéticos<br />
e <strong>Biotecnologia</strong>, 29: 1-5.<br />
Barros LMG (2003). Estudos<br />
moleculares da proteína RolA de<br />
Agrobacterium rhizogenes em<br />
plant<strong>as</strong> de Nicotiana tabacum.<br />
Tese de Doutorado – Departamento<br />
de Biologia Celular, Universidade<br />
de Br<strong>as</strong>ília (UnB).<br />
Barros LMG, Curtis RH, Viana AAB,<br />
Campos L, Carneiro M (2003).<br />
Fused RolA protein enhances b-<br />
glucuronid<strong>as</strong>e activity 50-fold:<br />
implication for RolA mechanism<br />
of action. Protein Peptide Lett., 10<br />
(3): 303-311.<br />
Barry GF, Rogers SG, Fraley RT, Brand<br />
L (1984). Identification of a cloned<br />
cytokinin biosynthetic gene. Proc.<br />
Natl. Acad. Sci. USA, 81: 4776-<br />
4780.<br />
Ben-Hayyim G, Martin-Tanguy J,<br />
Tepfer D (1996). Changing root<br />
and shoot architecture with the<br />
rolA gene from Agrobacterium<br />
rhizogenes: Interactions with<br />
gibberellic acid and polyamine<br />
metabolism. Physiol. Plantarum,<br />
96: 237-243.<br />
Beriam LOS, Malavolta Jr VA, Robbs CF<br />
(1996). Considerações sobre o<br />
gênero Agrobacterium. Revisão<br />
Anual de Patologia de Plant<strong>as</strong>, 4:<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 23
51-74<br />
Buchanan RE, Gibbons NE (1975).<br />
Bergey’s Manual of Determinative<br />
Bacteriology. 8 a edição. Williams<br />
& Wilkins Co.<br />
Buchmann I, Marner FJ, Schröder G,<br />
Waffenschmidt S, Schröder J<br />
(1985). Tumor genes in plants: T-<br />
DNA encoded cytokinin<br />
biosynthesis. EMBO J., 4: 853-859.<br />
Burtin D, Martin-Tanguy J, Tepfer D<br />
(1991) a-DL<br />
Difluoromethylornithine, a<br />
specific, irreversible inhibitor of<br />
putrescine biosynthesis, induces a<br />
phenotype in tobacco similar to<br />
that <strong>as</strong>cribed to the root-inducing,<br />
left-hand transferred DNA of<br />
Agrobacterium rhizogenes. Plant<br />
Physiol., 95: 461-468.<br />
Capone I, Spanò L, Cardarelli M,<br />
Bellincampi D, Petit A, Constantino<br />
P (1989). Induction and growth<br />
properties of carrot roots with<br />
different <strong>com</strong>plements of<br />
Agrobacterium rhizogenes T-<br />
DNA. Plant Mol. Biol., 13: 43-52.<br />
Carneiro M, Vilaine F (1993).<br />
Differential expression of the rolA<br />
plant oncogene and its effect on<br />
tobacco development. Plant J., 3:<br />
785-792.<br />
Chilton MD, Drummond MH, Merlo<br />
DJ, Sciaky D, Montoya AL, Gordon<br />
MP, Nester EW (1977). Stable<br />
incorporation of Pl<strong>as</strong>mid DNA into<br />
higher plant cells: the molecular<br />
b<strong>as</strong>es of crown gall tumorigenesis.<br />
Cell, 11:263-271.<br />
Chilton MD, Tepfer DA, Petit A, David<br />
C, C<strong>as</strong>se-Delbart F, Tempé J<br />
(1982). Agrobacterium rhizogenes<br />
inserts T-DNA into the genomes<br />
of the host plant root cells. Nature,<br />
295: 432-434.<br />
Christie PJ (1997). Agrobacterium<br />
tumefaciens T-<strong>com</strong>plex transport<br />
apparatus: a paradigm for a new<br />
family of multifunctional<br />
transporters in eu-bacteria. J.<br />
Bacteriol., 179: 3085-3094.<br />
Conn HJ (1942). Validity of the genus<br />
Alcaligenes. J. Bacteriol., 44: 353-<br />
360.<br />
De Block M, Herrera-Estrella L, Van<br />
Montagu M, Schell J, Zambryski P<br />
(1984). Expression of foreign<br />
genes in regenerated plants and in<br />
their progeny. EMBO J., 3: 1681-<br />
1690.<br />
De Cleene M, De Ley J (1976). The<br />
host range of crown gall. Bot.<br />
Rev., 42: 389-466.<br />
De Greve H, Dhaese P, Seurinck J,<br />
Lemmers M, Van Montagu M,<br />
Schell J (1982). Nucleotide<br />
sequence and transcript map of<br />
the Agrobacterium tumefaciens<br />
Ti pl<strong>as</strong>mid-encoded octopine<br />
synth<strong>as</strong>e gene. J. Mol. Appl. Genet.,<br />
1: 499-511.<br />
Dehio C, Grossmann K, Schell J,<br />
Schmülling T (1993). Phenotype<br />
and hormonal status of transgenic<br />
tobacco plants overexpressing the<br />
rolA gene of Agrobacterium<br />
rhizogenes T-DNA. Plant Mol.<br />
Biol., 23: 1199-1210.<br />
Dessaux Y, Petit A, Farrand SK, Murphy<br />
PJ (1998). Opines and opine-like<br />
molecules involved in plant-<br />
Rhizobiaceae interactions, p. 173-<br />
197. In Spaink HP, Kondorosi A,<br />
Hooyka<strong>as</strong> PJJ (ed.). The<br />
Rhizobiaceae: molecular biology<br />
of model plant-<strong>as</strong>sociated bacteria.<br />
Kluwer Academic Publishers,<br />
Dordrecht, The Netherlands.<br />
Dougl<strong>as</strong> CJ, Walter H, Nester EW<br />
(1982). Agrobacterium<br />
tumefaciens mutants affected in<br />
attachment to plants. J. Bacteriol.,<br />
152: 1265-1275.<br />
Eklöf S, Åstot C, Moritz T, Blackwell J,<br />
Olsson O, Sandberg G (1996).<br />
Cytokinin metabolites and<br />
gradients in wild type and<br />
transgenic tobacco with moderate<br />
cytokinin over-production.<br />
Physiol. Plantarum, 98: 333-344.<br />
Estruch JJ, Chriqui D, Grossmann K,<br />
Schell J, Spena A (1991a) The<br />
plant oncogene rolC is responsible<br />
for the rele<strong>as</strong>e of cytokinins from<br />
glucoside conjugates. EMBO J., 10:<br />
2889-2895<br />
Estruch JJ, Schell j, Spena A (1991b).<br />
The protein encoded by the rolB<br />
plant oncogene hydrolyses indole<br />
glucosides. EMBO J., 10: 3125-<br />
3128<br />
Filippini F, Lo Schiavo F, Terzi M,<br />
Costantino P, Trovato M (1994).<br />
The plant oncogene rolB alters<br />
binding of auxin to plant cell<br />
membranes. Plant Cell Physiol.,<br />
35: 767-771.<br />
Garfinkel DJ, Simpson RB, Ream LW,<br />
White FF, Gordon MP, Nester EW,<br />
(1981). Genetic analysis of crown<br />
gall: Fine structure map of the T-<br />
DNA by site-directed mutagenesis.<br />
Cell, 27: 143-153.<br />
Gelvin SB (2000). Agrobacterium and<br />
plant genes involved in T-DNA<br />
transfer and integration. Annu.<br />
Rev. Plant Phys., 51: 223-256.<br />
Hansen G, Larribe M, Vaubert D,<br />
Tempé J, Biermann BJ, Montoya<br />
AL, Chilton MD, Brevet J (1991).<br />
Agrobacterium rhizogenes,<br />
pRi8196 T-DNA: Mapping and<br />
DNA sequence of functions<br />
involved in mannopine synthesis<br />
and hairy root differentiation. Proc.<br />
Natl. Acad. Sci. USA, 88: 7763-<br />
7767.<br />
Hansen G, Vaubert D, Clérot D, Tempé<br />
J, Brevet J (1994). A new open<br />
reading frame, encoding a putative<br />
regulatory protein, in<br />
Agrobacterium rhizogenes T-<br />
DNA. CR Acad Sci, 317: 49-53.<br />
Herrera-Estrella A, Chen Z, Van<br />
Montagu M, Wang K (1988). VirD<br />
proteins of Agrobacterium<br />
tumefaciens are required for the<br />
formation of a covalent DNA<br />
protein <strong>com</strong>plex at the 5´terminus<br />
of the T-strand molecules. EMBO<br />
J., 7: 4055-4062.<br />
Hildebrand EM (1934). Life history of<br />
24 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
the hairy-root organism in relation<br />
to its pathogenesis on nursery<br />
apple trees. J. Agr. Sci., 48: 857-<br />
885.<br />
Holsters M, Silva B, Van Vliet F,<br />
Genetello C, De Block M, Dhaese<br />
P, Depicker A, Inzé D, Engler G,<br />
Villarroel R, Van Montagu M, Schell<br />
J (1980). The functional<br />
organization of the nopaline A.<br />
tumefaciens pl<strong>as</strong>mid pTiC58.<br />
Pl<strong>as</strong>mid, 3: 212-230.<br />
Hong SB, Hwang I, Dessaux Y, Guyon<br />
P, Kim KS, Farrand SK (1997). A T-<br />
DNA gene required for agropine<br />
biosynthesis by transformed plants<br />
is functionally and evolutionarily<br />
related to a Ti pl<strong>as</strong>mid gene<br />
required for catabolism of agropine<br />
by Agrobacterium strains. J.<br />
Bacteriol., 179: 4831-4840.<br />
Hooyka<strong>as</strong> PJJ, den Dulk-R<strong>as</strong> H,<br />
Schilperoort RA (1988). The<br />
Agrobacterium tumefaciens T-<br />
DNA gene 6b is an onc gene.<br />
Plant Mol. Biol., 11: 791-794.<br />
Horsch RB, Fraley RT, Rogers SG,<br />
Sanders PR, Lloyd A,Hoffmann M<br />
(1984). Inheritance of functional<br />
foreign genes in plants. Science,<br />
223: 496-498.<br />
Horsch RB, Fry JE, Hoffmann NL,<br />
Eichholtz D, Rogers SG, Fraley RT<br />
(1985). A simple and general<br />
method for transferring genes into<br />
plants, Science, 227:1229-1231.<br />
Jefferson RA, Burgess SM, Hirsh D<br />
(1986). b-Glucuronid<strong>as</strong>e from<br />
Escherichia coli <strong>as</strong> a gene-fusion<br />
marker. Proc. Natl. Acad. Sci.<br />
USA, 83: 8447-8451.<br />
Jouanin L (1984). Restriction map of<br />
an agropine-type Ri pl<strong>as</strong>mid and<br />
its homologies with Ti pl<strong>as</strong>mids.<br />
Pl<strong>as</strong>mid, 12: 91-102.<br />
Joubert P, Beaupère D, Lelièvre P,<br />
Wadouachi A, Sangwan RS,<br />
Sangwan-Norreel BS (2002).<br />
Effects of phenolic <strong>com</strong>pounds on<br />
Agrobacterium vir genes and gene<br />
transfer induction – a plausible<br />
molecular mechanism of phenol<br />
binding protein activation. Plant<br />
Sci., 162: 733-743.<br />
Kerr A (1969a). Crown gall on stone<br />
fruit. I Isolation of Agrobacterium<br />
tumefaciens and related species.<br />
Aust. J. Biol. Sci., 22: 111-116.<br />
Kerr A (1969b). Transfer of virulence<br />
between isolates of<br />
Agrobacterium. Nature, 223:<br />
1175-1176.<br />
Körber H, Strizhov N, Staiger D,<br />
Feldwisch J, Olsson O, Sandberg<br />
G, Palme K, Schell J, Koncz C<br />
(1991). T-DNA gene 5 of<br />
agrobacterium modulates auxin<br />
response by autoregulated<br />
synthesis of a growth hormone<br />
antagonist in plants. EMBO J., 10:<br />
3983-3991.<br />
Levesque H, Delepelaire P, Rouze P,<br />
Slightom J, Tepfer D (1988).<br />
Common evolutionary origin of<br />
the central portions of the Ri TL-<br />
DNA of Agrobacterium rhizogenes<br />
and the Ti T-DNAs of<br />
Agrobacterium tumefaciens.<br />
Plant. Mol. Biol., 11, 731-744.<br />
Matthysse AG, Homes KV, Gurlitz RH,<br />
(1981). Elaboration of cellulose<br />
fibrils by Agrobacterium<br />
tumefaciens during to attachment<br />
to carrot cells. J. Bacteriol., 145:<br />
583-595.<br />
Maurel C, Barbier-Brygoo H, Spena A,<br />
Tempe J, Guem J (1991). Single<br />
rol genes from Agrobacterium<br />
rhizogenes TL-DNA alter some of<br />
the cellular responses to auxin in<br />
Nicotiana tabacum. Plant<br />
Physiol., 97: 212-216.<br />
Mauro ML, Trovato M, De Palois A,<br />
Gallelli A, Constantino P, Altamura<br />
MM (1996) The plant oncogene<br />
rolD stimulates flowering in<br />
transgenic tobacco plants. Dev.<br />
Biol., 180: 693-700<br />
Mayerhofer R, Koncz-Kalman Z,<br />
Nawrath C, Bakkeren G, Crameri<br />
A, Angelis K, Redei GP, Schell J,<br />
Hohn B, Koncz (1991). T-DNA<br />
integration: a model of illegitimate<br />
re<strong>com</strong>bination in plants. EMBO J.,<br />
10: 697-704.<br />
Messens F, Lenaerts A, Van Montagu<br />
M, Hedges RW (1985). Genetic<br />
b<strong>as</strong>is for opine secretion from<br />
crown gall tumor cells. Mol. Gen.<br />
Genet., 199: 344-348.<br />
Moore J, Warren G, Strobel G (1979).<br />
Involvement of a pl<strong>as</strong>mid in the<br />
hairy root dise<strong>as</strong>e of plants caused<br />
by Agrobacterium rhizogenes.<br />
Pl<strong>as</strong>mid, 2: 617-626.<br />
Moritz T, Schmülling (1998) The<br />
Gibberellin content of rolA<br />
transgenic tobacco plants is<br />
specifically altered. J. Plant<br />
Physiol., 153: 774-776.<br />
Moriuchi H, Okamoto C, Nishihama R,<br />
Yam<strong>as</strong>hita I, Machida Y, Tanaka N<br />
(2004). Nuclear localization and<br />
interaction of RolB with plant 14-<br />
3-3 proteins correlates with<br />
induction of adventitious roots by<br />
the oncogene rolB. Plant J., 38:<br />
260-275.<br />
Nilsson O, Moritz T, Imbault N, ,<br />
Sundberg G, Olsson O<br />
(1993).Hormonal characterization<br />
of transgenic tobacco plants<br />
expressing the rolC gene of<br />
Agrobacterium rhizogenes TL-<br />
DNA. Plant Physiol., 102: 363-<br />
371.<br />
Nilsson O, Moritz T, Sundberg B,<br />
Sundberg G, Olsson O (1996).<br />
Expression of the Agrobacterium<br />
rhizogenes rolC gene in a<br />
deciduous forest tree alters growth<br />
and development and leads to<br />
stem f<strong>as</strong>ciation. Plant Physiol., 112:<br />
493-502.<br />
Nilsson O, Olsson O (1997). Getting to<br />
the root: The role of the<br />
Agrobacterium rhizogenes rol<br />
genes in the formation of hairy<br />
roots. Physiol. Plantarum, 100:<br />
463-473.<br />
Odell JT, Nagy F, Chua N-H (1985).<br />
Identification of DNA sequences<br />
required for the activity of the<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 25
cauliflower mosaic virus 35S<br />
promoter. Nature, 313: 810-812.<br />
Ooms G, Hooyka<strong>as</strong> PJJ, Moolenaar G,<br />
Schilperoort RA (1981). Crown gall<br />
tumors of abnormal morphology,<br />
induced by Agrobacterium<br />
tumefaciens carrying mutated<br />
octopine Ti pl<strong>as</strong>mids: Analysis of<br />
T-DNA functions. Gene, 14: 33-<br />
50.<br />
Ooms G, Hooyka<strong>as</strong> PJJ, Van Veen<br />
RJM, Van Beelen P, Regensburg-<br />
Tuïnk TJG, Schilperoort RA (1982).<br />
Octopine Ti-pl<strong>as</strong>mid deletion<br />
mutants of Agrobacterium<br />
tumefaciens with emph<strong>as</strong>is on the<br />
right side of the T-region. Pl<strong>as</strong>mid,<br />
7: 15-29.<br />
Oono Y, Handa T, Kanaya K, Uchimiya<br />
H (1987). TL-DNA gene of Ri<br />
pl<strong>as</strong>mids responsible for dwarfness<br />
of tobacco plants. Jpn. J. Genet.,<br />
62: 501-505.<br />
Petit A, David C, Dahl GA, Ellis JG,<br />
Guyon P, C<strong>as</strong>seDelbart F, Tempé<br />
J (1983). Further extension of the<br />
opine concept: pl<strong>as</strong>mids in<br />
Agrobacterium rhizogenes<br />
cooperate for opine degradation.<br />
Mol. Gen. Genet., 190: 204-214.<br />
Petit A, Delhaye S, Tempé J, Morel G<br />
(1970). Recherches sur les<br />
guanidines des tissus de crowngall.<br />
Mise en évidence d’une<br />
relation biochimique spécifique<br />
entre les souches d’Agrobacterium<br />
tumefaciens et les tumeurs qu’elles<br />
induisent. Physiol. Veg., 8: 205-<br />
213.<br />
Porter, JR (1991). Host range and<br />
implication of plant infection by<br />
Agrobacterium rhizogenes. – CRC<br />
Crit. Rev. Plant Sci., 10: 387-421.<br />
Riker AJ, Banfield WM, Wright WH,<br />
Keitt GW, Sagen HE (1930).<br />
Studies on infectious hairy root of<br />
nursery apple trees. J. Agr. Res.,<br />
41: 507-540.<br />
Rigden DJ, Carneiro M (1999) A<br />
structural model for the RolA<br />
protein and its interaction with<br />
DNA. Proteins, 37: 697-708.<br />
Romano C, Hein M, Klee HJ (1991).<br />
Inactivation of auxin in tobacco<br />
transformed with the indoleacetic<br />
acid-lysine synth<strong>as</strong>e gene of<br />
Pseudomon<strong>as</strong> sav<strong>as</strong>tanoi. Genes<br />
Dev., 5: 438-446.<br />
Romeiro RS, Barbosa JG, Oliveira JR,<br />
Napoleão RL (1994). Galha da<br />
roseira (Agrobacterium<br />
tumefaciens) na microrregião de<br />
Barbacena (Min<strong>as</strong> Gerais, Br<strong>as</strong>il) e<br />
su<strong>as</strong> implicações fitopatológic<strong>as</strong> e<br />
econômic<strong>as</strong>. Fitopatologia Br<strong>as</strong>ileira,<br />
19 (suplemento): 320.<br />
Santos MMB (2002). Expressão do<br />
gene rolA de Agrobacterium<br />
rhizogenes em bactéria e produção<br />
de anticorpos anti-RolA. Dissertação<br />
de Mestrado – Departamento<br />
de Biologia Celular, Universidade<br />
de Br<strong>as</strong>ília (UnB).<br />
Schell J, Van Montagu M, DE Beuckeleer<br />
M, De Block M, Depicker A, De<br />
Wilde M, Engler G, Genetello C,<br />
Hernalsteens JP, Holsters M,<br />
Seurinck J, Silva B, Van Vliet F,<br />
Villaroel R (1979). Interaction and<br />
DNA transfer between<br />
Agrobacterium tumefaciens, the<br />
Ti-pl<strong>as</strong>mid and the plant host. P.<br />
Roy. Soc. Lond. B Bio., 204: 251-<br />
266.<br />
Schmülling T, Schell J, Spena A (1988).<br />
Single genes from Agrobacterium<br />
rhizogenes influence plant<br />
development. EMBO J., 7 (9):<br />
2621-2629.<br />
Schmülling T, Schell J, Spena A (1989)<br />
Promoters of the rolA, B and C<br />
genes of Agrobacterium<br />
rhizogenes are differentially<br />
regulated in transgenic plants.<br />
Plant Cell, 1: 665-670.<br />
Schmülling T, Fladung M, Grossmann<br />
K, Schell J (1993). Hormonal<br />
content and sensitivity of<br />
transgenic tobacco and potato<br />
plants expressing single rol genes<br />
of Agrobacterium rhizogenes T-<br />
DNA. Plant J., 3: 371-382.<br />
Schröder G, Waffenschmidt S, Weiler<br />
EW, Schröder J (1984). The T-<br />
region of Ti pl<strong>as</strong>mids codes for an<br />
enzyme synthesizing indole-3-<br />
acetic acid. Eur. J. Biochem., 138:<br />
387-391.<br />
Sinkar VP, Pythoud F, White FF, Nester<br />
EW, Gordon MP (1888). rolA locus<br />
of the Ri pl<strong>as</strong>mid directs<br />
developmental abnormalities in<br />
transgenic tobacco plants. Genes<br />
Dev., 2: 688-697.<br />
Slightom JL, Durand-Tardif M, Jouanin<br />
L, Tepfer D (1986). Nucleotide<br />
sequence analysis of TL-DNA of<br />
Agrobacterium rhizogenes<br />
agropine type pl<strong>as</strong>mid. J. Biol.<br />
Chem., 261: 108-121.<br />
Smith EF; Townsend CO (1907). A<br />
plant-tumor of bacterial origin.<br />
Science, 25: 671-673.<br />
Spena A, Schmulling T, Konez C, Schell<br />
JS (1987) Independent and<br />
synergistic activity of rol A, B and<br />
C loci in stimulating abnormal<br />
growth in plants. EMBO J., 6: 3891-<br />
3899.<br />
Stachel SE, Timmerman B, Zambryski<br />
P (1986) Generation of singlestranded<br />
T-DNA molecules during<br />
the initial stages of T-DNA transfer<br />
from Agrobacterium tumefaciens<br />
to plant cells. Nature, 322: 706-<br />
712.<br />
Stachel SE, Zambryski PC (1986). virA<br />
and virG control the plant-induced<br />
activation of the T-DNA transfer<br />
process of A. tumefaciens. Cell,<br />
46: 325-333.<br />
Sun JY, Monneuse MO, Martin-Tanguy<br />
J, Tepfer D (1991). Changes in<br />
flowering and the accumulation of<br />
polyamines and hydroxycinnamic<br />
acid-polyamine conjugates in<br />
tobacco plants transformed by the<br />
rolA locus from the Ri TL-DNA of<br />
Agrobacterium rhizogenes. Plant<br />
Sci., 80: 145-156.<br />
Tepfer D (1984). Transformation of<br />
several species of higher plants by<br />
Agrobacterium rhizogenes: sexual<br />
26 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
transmission of the transformed<br />
genotype and phenotype. Cell,<br />
37: 959-967.<br />
Thom<strong>as</strong>how MF, Nutter R, Montoya<br />
AL, Gordon MP, Nester EW (1980).<br />
Integration and organization of Ti<br />
pl<strong>as</strong>mid sequences in crown gall<br />
tumors. Cell, 19: 729-739.<br />
Thom<strong>as</strong>how LS, Reeves S, Thom<strong>as</strong>how<br />
MF (1984). Crown gall<br />
oncogenesis: Evidence that a T-<br />
DNA gene from the Agrobacterium<br />
Ti pl<strong>as</strong>mid pTiA6 encodes an<br />
enzyme that catalyses synthesis<br />
of indoleacetic acid. Proc. Natl.<br />
Acad. Sci. USA , 81: 5071-5075.<br />
Thom<strong>as</strong>how MF, Hughly S, Buchholtz<br />
WG, Thom<strong>as</strong>how LS (1986).<br />
Molecular b<strong>as</strong>is for the auxinindependent<br />
phenotype of crown<br />
gall tumor tissue. Science, 231:<br />
616-618.<br />
Tinland B Fournier P, Heckel T, Otten<br />
L (1992). Expression of a chimaeric<br />
heat-shock-inducible<br />
Agrobacterium 6b oncogene in<br />
Nicotiana rustica. Plant Mol. Biol.,<br />
18: 921-930.<br />
Trovato M, Mar<strong>as</strong> B, Linhares F,<br />
Costantino P (2001). The plant<br />
oncogene rolD encodes a<br />
functional ornithine<br />
cyclodeamin<strong>as</strong>e. Proc. Natl. Acad.<br />
Sci. USA, 98: 13449-13453.<br />
Tzfira T, Rhee Y, Chem MH, Kunik T,<br />
Citovsky V (2000). Nucleic acid<br />
transport in plant-microbe<br />
interactions: the molecules that<br />
walk through the walls. Annu.<br />
Rev. Microbiol., 54: 187-219.<br />
Van Heijne G, Manoil C (1990).<br />
Membrane proteins: from sequence<br />
to structure. Protein Eng., 4: 109-<br />
112.<br />
Van Larebeke N, Engler G, Holsters M,<br />
van den Elsack D, Zaenen I,<br />
Schilperoort RA; Schell J (1974).<br />
Large Pl<strong>as</strong>mid in Agrobacterium<br />
tumefaciens essential for crowngall<br />
inducing activity. Nature,<br />
255:742-743<br />
Van Onckelen H, Prinsen E, Inés d,<br />
Rüdelsheim P, van Lijsebettens M,<br />
Follin A, Schell J, van Montagu M,<br />
De Greef J (1986). Agrobacterium<br />
T-DNA gene 1 codes for<br />
tryptophan 2-monooxygen<strong>as</strong>e<br />
activity in tobacco crown gall cells.<br />
FEBS Lett., 198: 357-360.<br />
Vansuyt G, Vilaine F, Tepfer M,<br />
Rossignol M (1992). rolA<br />
modulates the sensitivity to auxin<br />
of the proton translocation<br />
catalyzed by the pl<strong>as</strong>ma<br />
membrane H + -ATP<strong>as</strong>e in<br />
transformed tobacco. FEBS Lett,<br />
298: 89-92.<br />
Viana AAB (2003). Seqüênci<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
afinidade pela proteína RolA de<br />
Agrobacterium rhizogenes promovem<br />
expressão pólen-específica<br />
em plant<strong>as</strong> de tabaco. Dissertação<br />
de Mestrado – Departamento<br />
de Biologia Celular, Universidade<br />
de Br<strong>as</strong>ília (UnB).<br />
Vilaine F, Rembur J, Chriqui D, Tepfer<br />
(1998). M. Modified Development<br />
in transgenic tobacco plants<br />
expressing a rolA::GUS<br />
translational fusion and subcellular<br />
localization of the fusion protein.<br />
Mol. Plant Microbe In., 11 (9),<br />
855-859.<br />
Walden R, Czaja I, Schmülling T, Schell<br />
J (1993). rol genes alter hormonal<br />
requirements for protopl<strong>as</strong>t<br />
growth and modify the expression<br />
of an auxin responsive promoter.<br />
Plant Cell Rep., 12: 551-554.<br />
Wang K, Herrera-Estrella L, Van<br />
Montagu M, Zambrisky P (1984).<br />
Right 25 bp terminus sequence of<br />
the nopaline T-DNA is essential<br />
for and determines direction of<br />
DNA transfer from Agrobacterium<br />
to the plant geneome. Cell, 38:<br />
455-462.<br />
Wang K, Stachel SE, Timmerman B,<br />
Van Montagu M, Zambryski P<br />
(1987). Site-specific nick occurs<br />
within the 25 bp transfer promoting<br />
border sequence following<br />
induction of vir gene expression<br />
in of Agrobacterium tumefaciens.<br />
Science, 235: 587-591.<br />
White PR, Braun AC (1943). Crown<br />
gall production by bacteria-free<br />
tumor tissues. Science, 94: 239-<br />
241.<br />
White FF, Ghidossi G, Gordon MP,<br />
Nester EW (1982). Tumor<br />
induction by Agrobacterium<br />
rhizogenes involves the transfer<br />
of pl<strong>as</strong>mid DNA to the plant<br />
genome. Proc. Natl. Acad. Sci.<br />
USA, 79: 3193-3197.<br />
White FF, Taylor BH, Huffman GA,<br />
Gordon MP, Nester EW (1985).<br />
Molecular and genetic analysis of<br />
the transferred DNA regions of the<br />
root-inducing pl<strong>as</strong>mid of<br />
Agrobacterium rhizogenes. J.<br />
Bacteriol., 164: 33-44.<br />
Willmitzer L, Schmalenbach W, Schell<br />
J (1981). Transcription of T-DNA<br />
in octopine and nopaline crown<br />
gall tumours is inhibited by low<br />
concentration of á-amanitin.<br />
Nucleic Acids Res., 9: 4801-4812.<br />
Winans SC, Kerstetter RA, Ward JE,<br />
Nester EW (1989). A protein<br />
required for transcriptional<br />
regulation o Agrobacterium<br />
virulence genes spans the<br />
cytopl<strong>as</strong>mic membrane. J.<br />
Bacteriol., 171: 1616-1622.<br />
Yanofsky MF, Porter SG, Young C,<br />
Albright LM, Gordon MP, Nester<br />
EW (1986). The virD operon of<br />
agrobacterium tumefaciens<br />
encodes a site-specific<br />
endonucle<strong>as</strong>e. Cell, 7: 471-477.<br />
Zhu J, Oger PM, Schrammeijer B,<br />
Hooyka<strong>as</strong> PJJ, Farrand SK, Winans<br />
SC (2000). The b<strong>as</strong>es of crown gall<br />
tumorigenesis. J. Bacteriol., 182:<br />
3885-3895.<br />
Zupan JR, Citovsky V, Zambryski P<br />
(1996). Agrobacterium Vir E2<br />
protein mediates nuclear uptake<br />
of single-stranded DNA in plant<br />
cells. Proc. Natl. Acad. Sci. USA,<br />
93: 2392-2397.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 27
As ômic<strong>as</strong>:<br />
Pesquisa<br />
Integrando a bioinformação<br />
O papel da bioinformática em expansão<br />
Dr. Eliseu Binneck<br />
Consultor/Pesquisador na área de Bioinformática<br />
Embrapa Soja, Londrina – PR.<br />
binneck@cnpso.embrapa.br<br />
Imagens cedid<strong>as</strong> pelo autor<br />
Como resultado dos crescentes<br />
investimentos na área da genômica nos<br />
últimos anos, a lista de sequênci<strong>as</strong> de<br />
genom<strong>as</strong> <strong>com</strong>pletos vem crescendo<br />
a uma velocidade cada vez maior e<br />
contribuindo <strong>com</strong> a disposição de um<br />
volume de dados para acesso público<br />
sem precedentes na história. Hoje<br />
(maio de 2004) são 190 genom<strong>as</strong> <strong>com</strong>pletos<br />
publicados, dos quais, 145 de<br />
procariotos, 18 de archaea e 27 de<br />
eucariotos. Além disso, existem 900<br />
genom<strong>as</strong> sendo seqüenciados; 460 de<br />
procariotos, 26 de archaea e 414 eucariotos<br />
(http://www.genomesonline.org).<br />
A Figura 1 apresenta a evolução na<br />
obtenção de sequênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>plet<strong>as</strong> de organismos de vida livre.<br />
Um forte <strong>com</strong>ponente que tem (Mewes et al, 2004), são de domínio<br />
auxiliado tremendamente essa público e possibilitam a obtenção de<br />
evolução da informação genômica são informações organizad<strong>as</strong>, além de integrarem<br />
<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> de bioinformática.<br />
ferrament<strong>as</strong> poderos<strong>as</strong>, pos-<br />
Atualmente os dados de sequênci<strong>as</strong> sibilitando, por exemplo, a análise<br />
podem ser explorados <strong>com</strong> o uso de <strong>com</strong>parativa entre dados de diferentes<br />
poderos<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> de busca, genom<strong>as</strong>.<br />
acessando fontes de informação Entretanto, em meio a esse clima<br />
eletrônica <strong>as</strong>sociada e integrada de um de novidade e excitação, parece ter<br />
modo inconcebível há menos de uma se estabelecido uma expectativa<br />
década, quando, em 1995, foi seqüenciado<br />
excessiva sobre a aplicação de dados<br />
o primeiro genoma de um orga-<br />
de sequênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong> em busca<br />
nismo de vida livre, Haemophilus influenzae<br />
de inferênci<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong>. Por outro<br />
(Fleischmann et al, 1995). lado, existe um crescente<br />
Muit<strong>as</strong> dess<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o Ensembl<br />
reconhecimento e entendimento de<br />
Genome Browser (http:// que tais metodologi<strong>as</strong> b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> na<br />
www.ensembl.org/) (Stalker et al, seqüência de DNA terão que ser<br />
2004), KEGG (http://www.genome.ad.jp/ <strong>com</strong>plementad<strong>as</strong> pela análise direta<br />
kegg/kegg2.html) (Kanehisa et al, dos produtos codificados pelos genes;<br />
2004), GeneQuiz (http:// os RNAs e <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>. Sabe-se que<br />
www.sander.ebi.ac.uk/gqsrv/submit/) conhecer a seqüência de um genoma<br />
(Hoersch et al, 2000) e MIPS (http:// não garante que <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
www.mips.biochem.mpg.de/) codificad<strong>as</strong> por esse genoma possam<br />
Fig.1: Plântula de café cv Rubi, crescida in vitro e obtida a partir<br />
de 28 gema <strong>Biotecnologia</strong> axilar de Ciência uma & Desenvolvimento outra plântula n.32 similar - janeiro/junho a ela. Assim 2004 por<br />
diante, outros clones podem ser obtidos<br />
Figura 1. Evolução no número de genom<strong>as</strong><br />
sequenciados desde 1995 até abril de 2004.<br />
Gráfico produzido <strong>com</strong> permissão a partir de<br />
informações disponíveis no banco de dados<br />
GOLD (http://www.genomesonline.org) (Bernal<br />
& Kyrpides, 2001).<br />
ser imediatamente determinad<strong>as</strong> (por<br />
exemplo, por homologia <strong>com</strong><br />
proteín<strong>as</strong>, já conhecid<strong>as</strong>, de outros<br />
organismos). Há uma estimativa,<br />
b<strong>as</strong>eada em genom<strong>as</strong> recém<strong>com</strong>pletos,<br />
que cerca de 30% do<br />
conteúdo gênico de um organismo seja<br />
de proteín<strong>as</strong> específic<strong>as</strong> deste (Rubin<br />
et al, 2000). É claro que esse número<br />
tende a diminuir à medida que mais e<br />
mais genom<strong>as</strong> vão sendo<br />
seqüenciados, m<strong>as</strong> mostra a<br />
dificuldade em proceder-se a uma<br />
anotação automatizada [confiável e<br />
<strong>com</strong>pleta] dos genom<strong>as</strong>.<br />
As predições <strong>com</strong>putacionais a<br />
partir de dados de seqüênci<strong>as</strong> são <strong>com</strong>plicad<strong>as</strong><br />
e nem sempre geram resultados<br />
confiáveis, principalmente no c<strong>as</strong>o<br />
de genom<strong>as</strong> mais <strong>com</strong>plexos <strong>com</strong>o o<br />
genoma humano. Embora o término<br />
do Projeto Genoma Humano tenha<br />
sido <strong>com</strong>emorado em abril de 2003
(Collins et al, 2003; Pennisi, 2003a), o<br />
número exato de genes codificados<br />
pelo genoma é ainda desconhecido e<br />
podem ser necessários anos ainda até<br />
que tenhamos uma contagem confiável<br />
do número de genes no genoma<br />
humano.<br />
A razão para tanta incerteza é que<br />
<strong>as</strong> predições são derivad<strong>as</strong> a partir de<br />
diferentes métodos <strong>com</strong>putacionais e<br />
program<strong>as</strong> de predição gênica. Alguns<br />
program<strong>as</strong> detectam genes<br />
procurando por parâmetros diferentes<br />
que definem onde um gene <strong>com</strong>eça<br />
e termina (predição “ab initio”).<br />
Outros program<strong>as</strong> procuram por genes<br />
pela <strong>com</strong>paração de segmentos de<br />
sequência <strong>com</strong> homologia <strong>com</strong> genes<br />
e proteín<strong>as</strong> conhecidos (predição<br />
<strong>com</strong>parativa). Enquanto a predição ab<br />
initio tende a sobrestimar o número<br />
de genes pela contagem de qualquer<br />
segmento que pareça um gene, o<br />
método de predição <strong>com</strong>parativa<br />
tende a subestimar este número, já que<br />
é limitado por reconhecer somente os<br />
genes similares aos já conhecidos. A<br />
definição de gene é problemática<br />
porque pequenos genes podem ser<br />
difíceis de detectar, um gene pode<br />
codificar para vários produtos<br />
protéicos, alguns genes codificam para<br />
RNA, dois genes podem se sobrepor,<br />
e há muit<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> <strong>com</strong>plicações<br />
(Pennisi, 2003b). Sendo <strong>as</strong>sim,<br />
métodos <strong>com</strong>putacionais por si só não<br />
são suficientes para gerar o número<br />
real e o conhecimento de todos os<br />
genes de um genoma eucariótico<br />
<strong>com</strong>plexo; pelo menos <strong>com</strong> <strong>as</strong><br />
informações existentes atualmente.<br />
Até que se gere um conjunto de dados<br />
b<strong>as</strong>tante informativo para <strong>as</strong> predições<br />
<strong>com</strong>parativ<strong>as</strong>, ess<strong>as</strong> precisarão ser<br />
verificad<strong>as</strong> por trabalho intensivo de<br />
laboratório antes de se chegar a um<br />
consenso real.As últim<strong>as</strong> estimativ<strong>as</strong> a<br />
partir de program<strong>as</strong> de predição<br />
gênica sugerem que no genoma<br />
humano devem existir 24500 ou<br />
menos genes que codificam para<br />
proteín<strong>as</strong> (Pennisi, 2003c). A<br />
estimativa do Ensembl (versão<br />
20.34c.1, de 08-02-2004) é de 23531<br />
genes, incluindo 1744 pseudogenes<br />
(http://www.ensembl.org/Homo_sapiens/)<br />
(Stalker, 2004). Essa estimativa é<br />
muito menor do que aquel<strong>as</strong> d<strong>as</strong><br />
anotações iniciais, que contavam mais<br />
de 70.000 genes (Write et al, 2001).<br />
Considerando que os genes no<br />
genoma humano apresentam um<br />
tamanho médio de 3000 pares de<br />
b<strong>as</strong>es, menos de 2% do genoma<br />
codificam para proteín<strong>as</strong>. Assim<br />
mesmo, atualmente é desconhecida<br />
a função de mais de 50% dos genes<br />
descobertos.<br />
Observando a inesperada<br />
equidade relativa no número de genes<br />
de organismos b<strong>as</strong>tante diferentes em<br />
termos de <strong>com</strong>plexidade (Quadro 1),<br />
sugere-se que o fator que determina<br />
a <strong>com</strong>plexidade de um organismo não<br />
está no número de genes, m<strong>as</strong> em<br />
<strong>com</strong>o <strong>as</strong> partes gênic<strong>as</strong> são usad<strong>as</strong><br />
para construir diferentes produtos em<br />
um processo chamado splicing<br />
alternativo. Outra razão para essa<br />
maior <strong>com</strong>plexidade são <strong>as</strong> milhares<br />
de modificações químic<strong>as</strong> pós<br />
traducionais que ocorrem n<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
e o repertório de mecanismos de<br />
regulação que controlam esses<br />
processos (Genomics and Its Impact<br />
on Science and Society: The Human<br />
Genome Project and Beyond, 2003).<br />
A versão 34.00 do banco de dados<br />
RESID (http://pir.georgetown.edu/<br />
pirwww/dbinfo/resid.html) (Garavelli,<br />
2003) apresenta 339 modificações<br />
pós ou co-traducionais conhecid<strong>as</strong> em<br />
proteín<strong>as</strong>, modificações ess<strong>as</strong> que não<br />
podem ser evidenciad<strong>as</strong> diretamente<br />
a partir da seqüência gênica.<br />
Informação versus ação<br />
Em qualquer sistema biológico, se<br />
um trabalho é realizado, qu<strong>as</strong>e sempre<br />
a molécula responsável por essa<br />
ação é uma proteína. A vida depende<br />
de milhares de proteín<strong>as</strong> diferentes,<br />
cuj<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> são ajustad<strong>as</strong> para que<br />
molécul<strong>as</strong> individuais de proteín<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>binem, numa precisão impressionante,<br />
<strong>com</strong> outr<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong>. Reações<br />
químic<strong>as</strong> na célula dependem da <strong>com</strong>binação<br />
de enzim<strong>as</strong> <strong>com</strong> substratos e<br />
ess<strong>as</strong> são geralmente controlad<strong>as</strong> por<br />
outr<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> <strong>com</strong>binando <strong>com</strong> sítios<br />
específicos da proteína. Estrutur<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>o os músculos dependem da<br />
interação proteína-proteína, o controle<br />
da expressão gênica depende da<br />
<strong>com</strong>binação proteína-DNA, o controle<br />
hormonal depende da interação do<br />
hormônio <strong>com</strong> receptores protéicos,<br />
o transporte através da membrana<br />
envolve interações soluto-proteína,<br />
proteções imunes requerem a interação<br />
antígeno-anticorpo, atividades<br />
neuronais requerem a interação substância<br />
transmissora-proteína. Estes<br />
são apen<strong>as</strong> alguns exemplos do<br />
universo qu<strong>as</strong>e infindável de interações<br />
específic<strong>as</strong> em que <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
são envolvid<strong>as</strong>. Tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> interações<br />
dependem do reconhecimento<br />
exato de estrutur<strong>as</strong> específic<strong>as</strong> n<strong>as</strong><br />
molécul<strong>as</strong> d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong><br />
(Goodsell, 1991). Neste contexto,<br />
bancos de dados <strong>com</strong>o o LIGAND<br />
(http://www.genome.ad.jp/ligand/)<br />
(Goto, 2002) possibilitam visualizar<br />
cada uma entre o universo de reações<br />
químic<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong> envolvendo a<br />
interação de enzim<strong>as</strong> <strong>com</strong> metabólitos<br />
e outros <strong>com</strong>postos. Interações<br />
proteína-proteína, proteína-DNA e<br />
proteína-RNA podem ser encontrad<strong>as</strong><br />
em bancos de dados <strong>com</strong>o BIND –<br />
Biomolecular Interaction Network<br />
datab<strong>as</strong>e (http://www.bind.ca/) (Bader<br />
et al, 2003), DIP – Datab<strong>as</strong>e of Interacting<br />
Proteins (http://dip.doe-<br />
Quadro 1 – Tamanho do genoma e número estimado de genes de diferentes organismos.<br />
Organismo Tamanho do Genoma (pares de b<strong>as</strong>es) N° Estimado de Genes<br />
Homem (Homo sapiens) 3 bilhões 30.000<br />
Rato (M. musculus) 2,6 bilhões 30.000<br />
Mostarda (A. thaliana) 100 milhões 25.000<br />
Roundworm (C. elegans) 97 milhões 19.000<br />
Mosca d<strong>as</strong> frut<strong>as</strong> (D. melanog<strong>as</strong>ter) 137 milhões 13.000<br />
Levedura (S. cerevisiae) 12,1 milhões 6.000<br />
Bactéria (E. coli) 4,6 milhões 3.200<br />
Virus da AIDS (HIV) 9700 9<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 29
mbi.ucla.edu/) (Salwinski et al, 2004)<br />
e MINT – Molecular INTeractions<br />
(http://cbm.bio.uniroma2.it/mint/)<br />
(Zanzoni, et al, 2002). Informações<br />
sobre interação antígeno-anticorpo são<br />
disponíveis no IMGT – International<br />
Immunogenetics Datab<strong>as</strong>e<br />
(imgt.cines.fr) (Lefranc, 2004).<br />
Cada vez mais se torna evidente<br />
que a aplicação de dados de seqüênci<strong>as</strong><br />
de DNA, utilizando informações<br />
sobre a relação entre a seqüência de<br />
DNA do gene e a função protéica, não<br />
sustenta a atribuição infalível de função<br />
para <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>. Muit<strong>as</strong> evidênci<strong>as</strong><br />
mostram a fragilidade d<strong>as</strong> constatações<br />
feit<strong>as</strong> puramente a partir de<br />
seqüênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong>, sugerindo que<br />
(i) embora a seqüência genômica possa<br />
ser usada para predizer “open reading<br />
frames” (ORFs), tais predições são<br />
ainda muito grosseir<strong>as</strong> e p<strong>as</strong>síveis de<br />
erro, principalmente em eucariotos.<br />
(ii) O processamento do mRNA tem<br />
uma influência importante no produto<br />
final da expressão gênica; o proteoma.<br />
É o c<strong>as</strong>o do splicing alternativo,<br />
em que, pela montagem de diferentes<br />
<strong>com</strong>binações de exons, um prémRNA<br />
dá origem a dois ou mais mR-<br />
NAs diferentes, que codificam para<br />
produtos protéicos diferentes. Como<br />
resultado, <strong>as</strong> modificações advind<strong>as</strong> do<br />
processamento do mRNA permitem<br />
que seja produzida uma variedade de<br />
proteín<strong>as</strong> superior ao número de genes<br />
do genoma. (iii) Existe uma enorme<br />
diversidade de modificações pós-traducionais<br />
que uma proteína pode sofrer,<br />
influenciando a sua função, localização<br />
celular e atividade. A informação<br />
da seqüência de DNA ainda não<br />
dá um discernimento claro sobre modificações<br />
pós-traducionais a que cada<br />
produto protéico está sujeito, sendo<br />
difícil, se não impossível, estabelecer<br />
um número de proteín<strong>as</strong> produtos<br />
que cada gene codifica. (iv) Os mecanismos<br />
de controle da expressão gênica<br />
envolvem uma rede <strong>com</strong>plexa e<br />
variável de interações moleculares,<br />
cujo entendimento é ainda b<strong>as</strong>tante<br />
rudimentar. Esses mecanismos não são<br />
prontamente evidentes a partir do<br />
conhecimento da seqüência de DNA<br />
Fig.5: Fruto de mamão<br />
do genoma, havendo ainda grandes<br />
(Carica papaya L. cv tainung<br />
limitações em se utilizar a informação<br />
1) mostrando <strong>as</strong>pectos e<br />
da seqüência de DNA <strong>com</strong> o intuito<br />
quantidade de sementes por<br />
de conhecer o conteúdo e a dimani-<br />
fruto<br />
cidade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> codificad<strong>as</strong> por<br />
um determinado genoma.<br />
Fotografia versus filme<br />
Certos grupos de proteín<strong>as</strong> interagem<br />
entre si para realizar determinados<br />
trabalhos celulares. Um exemplo<br />
bem típico são <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> organizad<strong>as</strong><br />
em vi<strong>as</strong> metabólic<strong>as</strong> <strong>com</strong>o a<br />
glicólise, o ciclo de Krebs, e outr<strong>as</strong>,<br />
em que os produtos gênicos chamados<br />
enzim<strong>as</strong> precisam trabalhar em<br />
harmonia. Outro exemplo bem conhecido<br />
é o c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> estruturais<br />
que devem estar junt<strong>as</strong> e organizad<strong>as</strong><br />
precisamente para exercer a<br />
sua função, <strong>com</strong>o exemplo, os <strong>com</strong>ponentes<br />
de uma unidade ribossomal,<br />
<strong>as</strong> histoproteín<strong>as</strong> que são essenciais<br />
para manter a estrutura da cromatina<br />
etc. Desse modo, em estudos de<br />
expressão gênica é habitual <strong>as</strong>sumir<br />
que grupos de genes cujos modelos<br />
de expressão são similares entre si,<br />
sejam provavelmente funcionalmente<br />
relacionados.<br />
Um problema <strong>com</strong> <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> de<br />
agrupamento de dados de expressão<br />
gênica (ESTs, SAGE, Microarrays), no<br />
entanto, é que el<strong>as</strong> são b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> na<br />
suposição de que os genes que apresentam<br />
modelos de expressão similares<br />
são de fato relacionados funcionalmente,<br />
isto é, eles têm funções que<br />
são relacionad<strong>as</strong>. Essa interpretação<br />
geralmente leva a erros na tentativa<br />
de entender a relação real entre os<br />
genes [através dos seus produtos].<br />
Existem razões para pôr em dúvida<br />
essa suposição: primeiro, ainda é<br />
muito inconsistente o conhecimento<br />
de quão discretamente trabalham os<br />
grupamentos funcionais de genes na<br />
maquinaria celular. Pode ser que<br />
produtos gênicos individuais tenham<br />
tantos papéis diferentes em diferentes<br />
circunstânci<strong>as</strong>, que vários deles participem<br />
de papéis essenciais em mais<br />
de uma função. Por exemplo, os processos<br />
de defesa contra estresses bióticos<br />
(originados do ataque de agentes<br />
patogênicos), ou estresses ambientais,<br />
podem ser extremamente <strong>com</strong>plexos<br />
e envolverem diferentes mecanismos<br />
atuando em conjunto. Segundo,<br />
o termo “relacionados funcionalmente”<br />
é por si só mal especificado.<br />
Se o modelo de expressão de um<br />
gene é similar ao de um outro gene,<br />
isso pode significar vários tipos de relacionamento,<br />
desde “dois genes tendo<br />
produtos que interagem fisicamente”,<br />
“um gene que codifica para<br />
um fator de transcrição para outro<br />
gene”, “dois genes ambos <strong>com</strong> seqüênci<strong>as</strong><br />
promotor<strong>as</strong> ligad<strong>as</strong> por repressores<br />
que são liberados quando<br />
um receptor nuclear é ativado, mesmo<br />
que os dois genes tenham funções<br />
muito distantes”. É claro que existe um<br />
nível de abstração no qual todos os<br />
genes são funcionalmente relacionados<br />
no trabalho de manter a célula viva<br />
e produzindo todos os <strong>com</strong>ponentes<br />
necessários para o organismo <strong>com</strong>o um<br />
todo. M<strong>as</strong> abaixo desse nível de abstração<br />
existem muitos alternativos,<br />
pela sua natureza, favorecendo a<br />
definição de agrupamento. Portanto,<br />
é perfeitamente questionável a atribuição<br />
indistinta de que similaridade<br />
em expressão corresponde à similaridade<br />
em função.<br />
Além disso, o que constitui realmente<br />
um modelo de expressão similar<br />
é ainda pouco preciso, ou pelo<br />
menos existem múltipl<strong>as</strong> definições<br />
alternativ<strong>as</strong>. Por exemplo, similaridade<br />
poderia significar ter um modelo de<br />
mudança similar ao longo do tempo.<br />
Pode significar também níveis absolutos<br />
de expressão a qualquer dado<br />
momento, ou pode significar a perfeita<br />
oposição, m<strong>as</strong> bem coreografada<br />
no modelo de expressão. Pensando<br />
em métodos <strong>com</strong>parativos, qual<br />
medida de discrepância exatamente<br />
escolhida para medir os modelos de<br />
expressão influenciará o tipo de agrupamento<br />
funcional esperado. Métodos<br />
confiáveis e exeqüíveis em escala<br />
genômica para medição absoluta da<br />
expressão gênica precisam ainda ser<br />
desenvolvidos.<br />
Corretamente interpretados ou<br />
não, dados de expressão gênica vêm<br />
sendo acumulados em volume e variedade<br />
cada vez maior. Um ensaio isolado<br />
de hibridação <strong>com</strong> DNA Microarrays,<br />
por exemplo, fornece na melhor<br />
d<strong>as</strong> hipóteses uma visão estática<br />
do nível de expressão <strong>com</strong>parativo entre<br />
os genes amostrados. Seria <strong>com</strong>o<br />
a fotografia do evento. M<strong>as</strong> dificilmente<br />
uma fotografia consegue mostrar<br />
todo o panorama. Uma nova fotografia,<br />
tomada de um outro ângulo,<br />
30 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
pode mostrar nuances que não haviam<br />
sido captad<strong>as</strong> anteriormente, e<br />
<strong>as</strong>sim por diante. Conhecer <strong>as</strong><br />
mudanç<strong>as</strong> é diferente de percorrer o<br />
caminho que leva aos estados diferenciados.<br />
Por exemplo, entender a<br />
trajetória da ocorrência de vários RNAs<br />
mensageiros em vez de conhecer<br />
apen<strong>as</strong> valores absolutos ou <strong>com</strong>parativos<br />
em um dado momento, proporciona<br />
muito mais informação sobre<br />
a operacionalidade do sistema.<br />
A vida é essencialmente dinâmica.<br />
Apen<strong>as</strong> o filme, isto é, a análise<br />
dinâmica do sistema, pode dar suporte<br />
para o entendimento <strong>com</strong>pleto dos<br />
processos biológicos. E aí está o<br />
grande desafio da bioinformática. A<br />
integração <strong>com</strong>parativa dos dados<br />
precisa ser realizada in silico, transformando<br />
o conjunto de imagens estátic<strong>as</strong><br />
no filme da vida.<br />
As ômic<strong>as</strong><br />
larga escala, deu campo para o surgimento<br />
de uma lista de novos termos,<br />
Antes da era da bioinformática, que não pára de crescer. Estamos entrando<br />
somente du<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong> de fazer experimentação<br />
na era d<strong>as</strong> ômic<strong>as</strong> (Pals-<br />
em biologia eram disponíveis:<br />
son,2002). Com centen<strong>as</strong> de milhares<br />
utilizando um organismo vivo de proteín<strong>as</strong> para identificar, correl<strong>as</strong>on,2002).<br />
(também chamado in vivo) ou em cionar e entender, por exemplo, não<br />
um sistema artificial (também chamado<br />
é suficiente estudar um gene, um<br />
in vitro). Seguindo essa analogia, produto gênico ou um processo de<br />
podemos dizer que a bioinformática cada vez. Por outro lado, estudar em<br />
é de fato a biologia in silico. A bioinformática<br />
larga escala um conjunto de molécu-<br />
veio para facilitar o uso de l<strong>as</strong> <strong>com</strong> o objetivo de entender mecan-<br />
<strong>com</strong>putadores no sentido de organizar ismos celulares, dificilmente podem<br />
e analisar integradamente uma montanha<br />
responder questões interessantes sem<br />
Fig.6:<br />
de<br />
Germinação<br />
dados <strong>com</strong>plexos<br />
de sementes<br />
e variados,<br />
de mamão<br />
a <strong>as</strong>sistência<br />
sob condições<br />
da informação<br />
in vitro,<br />
gerada<br />
após<br />
pela<br />
ter-se retirado a sarcotesta e realizado sua <strong>as</strong>sepsia<br />
possibilitando enfrentar o desafio de<br />
decifrar <strong>com</strong>ponentes importantes<br />
dentro de um universo crescente de<br />
informações. Isso somado ao desenvolvimento<br />
de equipamentos poderosos<br />
para a miniaturização e automação<br />
da aquisição de dados biológicos em<br />
pesquisa tradicional dirigida por hipóteses.<br />
Por isso, os dois tipos de ciência<br />
atualmente disponíveis, <strong>as</strong> ômic<strong>as</strong><br />
e <strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> dirigid<strong>as</strong> por hipóteses<br />
(Weinstein, 2001), são sinérgic<strong>as</strong> e<br />
devem ser utilizad<strong>as</strong> de modo a se<br />
<strong>com</strong>plementarem.<br />
Genômica<br />
A genômica se caracteriza pelo estudo dos genes e su<strong>as</strong> funções. A sua chegada, <strong>com</strong> o projeto genoma humano<br />
no final da década de 1980, alavancou toda a revolução atual no campo da biologia. Muit<strong>as</strong> expectativ<strong>as</strong> e investimentos<br />
têm sido empregad<strong>as</strong> na genômica, visando aplicações n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> da indústria farmacêutica, agricultura, produção de<br />
energia e proteção do meio ambiente. M<strong>as</strong> a determinação da seqüência <strong>com</strong>pleta de vários genom<strong>as</strong> não é o final da<br />
história. É apen<strong>as</strong> o <strong>com</strong>eço, principalmente pelo fato de que mecanismos biológicos não podem ser inferidos simplesmente<br />
a partir do conhecimento da seqüência sem o auxílio de outr<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> de estudo, <strong>as</strong> ômic<strong>as</strong> em geral.<br />
Genômica <strong>com</strong>parativa. Esse novo ramo da genômica, que vem se tornando cada vez mais <strong>com</strong>um dada a<br />
quantidade de seqüênci<strong>as</strong> de genom<strong>as</strong> sendo produzid<strong>as</strong>, tem o objetivo de <strong>com</strong>parar todo o conteúdo de DNA do<br />
genoma de um organismo particular <strong>com</strong> outros genom<strong>as</strong> já conhecidos. Através dessa análise pode ser possível<br />
identificar diferenç<strong>as</strong>, tanto no conteúdo gênico quanto não-gênico, que podem ser responsáveis por importantes<br />
propriedades fenotípic<strong>as</strong> ou evolutiv<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o patogenicidade, reações a condições ambientais advers<strong>as</strong>, proximidade<br />
taxonômica entre grupos e até mesmo a aquisição (ou manifestação?) de determinados <strong>com</strong>portamentos individuais.<br />
Transcriptômica (ou genômica funcional)<br />
O produto inicial da expressão gênica em um organismo é conhecido <strong>com</strong>o transcriptoma e se caracteriza por<br />
uma coleção de molécul<strong>as</strong> de RNA mensageiro cuja informação biológica é requerida pela célula em um determinado<br />
momento. Ess<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> de mRNA são sintetizad<strong>as</strong> a partir de genes que codificam proteín<strong>as</strong> e, <strong>as</strong>sim, direcionam a<br />
síntese do produto final da expressão gênica, o proteoma, que especifica a natureza d<strong>as</strong> reações bioquímic<strong>as</strong> que a<br />
célula está apta a realizar. Um ponto importante a notar é que o transcriptoma nunca é sintetizado de novo, isto é, não<br />
<strong>com</strong>eça do zero. Cada célula recebe parte de seu transcriptoma materno quando é formada pela divisão celular, e<br />
depois é responsável pela manutenção e adaptação do transcriptoma conforme os diferentes estágios de sua vida e o<br />
tipo de diferenciação tomado.<br />
Como regra geral, RNAs mensageiros bacterianos têm mei<strong>as</strong>-vid<strong>as</strong> de não mais de poucos minutos e em eucariotos<br />
a maioria dos mRNAs são degradados pouc<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> após a sua síntese. O “turnover” rápido significa que a <strong>com</strong>posição<br />
do transcriptoma não é fixa e pode ser rapidamente reestruturada pela mudança no nível de síntese de mRNAs<br />
específicos. Assim, a transcrição não resulta na síntese do transcriptoma, m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> o mantém pela reposição de<br />
mRNAs que foram degradados, e promove mudanç<strong>as</strong> na <strong>com</strong>posição do transcriptoma ligando ou desligando os diferentes<br />
genes ou conjuntos de genes.<br />
Avanços tecnológicos b<strong>as</strong>eados na PCR, intenso sequenciamento de cDNA e síntese de novo de ácidos nucléicos,<br />
têm contribuído para o desenvolvimento de técnic<strong>as</strong> de quantificação de mRNA em larga escala, em muitos c<strong>as</strong>os em<br />
escala genômica, possibilitando que centen<strong>as</strong> ou milhares de genes sejam estudados em paralelo em vez de um gene<br />
de cada vez. Métodos <strong>com</strong>o Differential Display (DD), Serial Analysis of Gene Expression (SAGE) e DNA array<br />
hibridization ou DNA microarray, todos trouxeram benefícios significativos em relação ao Northern blotting em<br />
termos de sensibilidade e número de ensaios. Entre ess<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong>, a que vem ganhando preferência para estudar a<br />
<strong>com</strong>posição de um transcriptoma, e fazer <strong>com</strong>parações entre diferentes transcriptom<strong>as</strong>, é a técnica de DNA microarray,<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 31
que se b<strong>as</strong>eia na hibridação em paralelo de ácidos nucléicos. Experimentos de expressão gênica <strong>com</strong> DNA microarrays<br />
vêm sendo largamente utilizados para explorar o modelo de expressão simultânea e em paralelo de milhares de genes.<br />
Isso requer ferrament<strong>as</strong> poderos<strong>as</strong> de correlação <strong>com</strong>putacional.<br />
Um DNA microarray consiste de uma coleção de sequênci<strong>as</strong> parciais de genes (normalmente cDNAs) que são<br />
espotados individualmente em locais específicos de uma lâmina. Ess<strong>as</strong> sequênci<strong>as</strong> geralmente variam de 500 a 4000<br />
b<strong>as</strong>es (idealmente 500 a 2000 b<strong>as</strong>es) e podem ser escolhid<strong>as</strong> a partir de diferentes regiões do gene dependendo do<br />
objetivo do projeto. Uma variação da técnica, chamada DNA chip, é b<strong>as</strong>eada na deposição ou síntese in situ de<br />
oligonucleotídeos para a geração de alvos. Esses chips contêm oligômeros curtos variando de 25 a 80 b<strong>as</strong>es <strong>com</strong>o<br />
seqüênci<strong>as</strong>-alvo. Enquanto ess<strong>as</strong> sequênci<strong>as</strong> curt<strong>as</strong> podem conferir alta sensibilidade, el<strong>as</strong> podem apresentar baixa<br />
especificidade de ligação <strong>com</strong>parada <strong>com</strong> DNA microarrays, uma vez que <strong>as</strong> seqüênci<strong>as</strong> são curt<strong>as</strong> e usualmente não<br />
representam genes conhecidos.<br />
O uso de DNA microarrays para o estudo do modelo de expressão gênica b<strong>as</strong>eia-se em dois princípios. Primeiro,<br />
considera-se que cada gene é expresso ou não e <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> no seu nível de expressão em uma célula ou tecido, em<br />
determinado momento, são um reflexo de quais mRNAs estão presentes e a sua abundância, e; segundo, <strong>as</strong> fit<strong>as</strong> de<br />
DNA podem hibridar-se <strong>com</strong> seqüênci<strong>as</strong> <strong>com</strong>plementares formando uma molécula estável em fita dupla.<br />
Tipicamente, a primeira face dos dados experimentais de DNA microarrays é uma lista de genes/sequênci<strong>as</strong> ou<br />
números de identificação e o seu perfil de expressão. Modelos de correlação dentro do conjunto m<strong>as</strong>sivo de dados de<br />
pontos não são óbvios por uma inspeção visual. Diferentes algoritmos de agrupamento <strong>com</strong>putacional precisam ser<br />
usados simultaneamente para reduzir a <strong>com</strong>plexidade dos dados e para encurtar a relação entre genes de acordo <strong>com</strong><br />
o seu nível de expressão ou mudanç<strong>as</strong> nos níveis de expressão. Problem<strong>as</strong> relacionados <strong>com</strong> <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> de agrupamento<br />
são considerados na seção anterior.<br />
Uma d<strong>as</strong> maiores vantagens da utilização da técnica de DNA microarray, <strong>com</strong>parando-a <strong>com</strong> outros métodos, é<br />
a facilidade da análise simultânea e em paralelo de um grande número de genes e de um grande número de amostr<strong>as</strong>.<br />
Deve ser notado, entretanto, que tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> usad<strong>as</strong> para a quantificação de mRNA proporcionam um nível de<br />
informação empírica e não uma condição estável absoluta. Além disso, sabe-se que a detecção de uma diferença na<br />
abundância de um mRNA específico entre du<strong>as</strong> amostr<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong> não é necessariamente refletida por uma diferença<br />
quantitativa equivalente no nível de abundância da proteína, o que muit<strong>as</strong> vezes está implícito nos estudos.<br />
Existem, portanto, limitações intrínsec<strong>as</strong> da técnica, entre <strong>as</strong> quais (i) a abundância do mRNA nem sempre é bem<br />
correlacionada <strong>com</strong> a abundância da proteína, (ii) a sensibilidade e variação dinâmica dos métodos existentes são tais<br />
que os mRNAs menos abundantes, potencialmente codificando <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> regulatóri<strong>as</strong> mais importantes, não são<br />
facilmente medidos <strong>com</strong>o acontece <strong>com</strong> os mRNAs mais abundantes, e (iii) a atividade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> codificad<strong>as</strong> pelos<br />
mRNAs é regulada a vários níveis após a sua expressão. Por exemplo, a localização subcelular e/ou a extensão em que<br />
<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> são pós-traducionalmente modificad<strong>as</strong>, não são revelad<strong>as</strong> pela medição da abundancia do mRNA.<br />
Proteômica<br />
Para entender a função de todos os genes em um organismo, é necessário conhecer não só quais genes são<br />
expressos, quando e onde, m<strong>as</strong> também quais são os produtos da expressão e em que condições esses produtos<br />
(proteín<strong>as</strong>) são sintetizados em certos tecidos. A proteômica tenta descrever o conjunto <strong>com</strong>pleto de proteín<strong>as</strong> produto<br />
da expressão do genoma (James, 1997), e fornece informações importantes para <strong>com</strong>plementar os estudos de transcriptômica<br />
e metabolômica.<br />
Os organismos podem sintetizar muitos milhares de proteín<strong>as</strong> ao mesmo tempo, e a diversidade potencial de<br />
tipos de proteín<strong>as</strong> no proteoma certamente excede o número estimado de genes no genoma. Isso ocorre porque os<br />
produtos de um gene podem diferir devido a splicing alternativo e uma variedade de modificações pós-traducionais<br />
possíveis, <strong>com</strong>o apresentado acima. O crescente interesse no campo da proteômica vem concentrando esforços para<br />
acelerar o desenvolvimento e implementação de estratégi<strong>as</strong> mais apropriad<strong>as</strong> para a análise de expressão e função de<br />
proteín<strong>as</strong> em escala genômica.<br />
Esse interesse tem ocorrido, em parte substancial, devido ao sucesso dos projetos de sequenciamentos genômicos,<br />
considerando que a realização bem sucedida desses projetos tem resultado em uma apreciação mais extensa de<br />
que, por si só, eles revelam menos do que se esperava sobre a biologia do organismo. Os dados de sequênci<strong>as</strong><br />
genômic<strong>as</strong> proporcionam uma plataforma essencial para um conhecimento mais amplo d<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> experimentais<br />
<strong>com</strong>plementares que darão suporte à caracterização dos genes contidos nos genom<strong>as</strong>. A utilização integrada dess<strong>as</strong><br />
ferrament<strong>as</strong> possibilitará o entendimento de <strong>com</strong>o os produtos desses genes atuam conjuntamente para regular <strong>as</strong><br />
atividades do organismo.<br />
A proteômica depende da extração, separação, visualização, identificação e quantificação d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> presentes<br />
em um organismo ou tecido, em um determinado momento. Todos esses estágios têm limitações. Portanto, atualmente,<br />
é impossível descrever o proteoma <strong>com</strong>pleto de um organismo.<br />
Atualmente, o ponto de partida para muit<strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong> na investigação d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na expressão protéica<br />
envolve a resolução d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> de uma mistura <strong>com</strong>plexa por eletroforese 2-D e a sua subsequente identificação<br />
usando métodos analíticos cada vez mais precisos e poderosos. Eletroforese 2-D, <strong>com</strong>plementada <strong>com</strong> HPLC, permite<br />
32 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
separar e purificar vários milhares de proteín<strong>as</strong> extraíd<strong>as</strong> de um tecido ou célul<strong>as</strong>, em um determinado momento ou<br />
condição. Embora a eletroforese 2-D apresente significantes limitações, parece ser o melhor método até o momento<br />
para resolver um grande número de proteín<strong>as</strong> de uma mistura, ao mesmo tempo em que permite acessar <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong><br />
no nível de expressão e a purificação de proteín<strong>as</strong> chave para subsequente caracterização.<br />
Avanços relativamente recentes na caracterização de proteín<strong>as</strong> têm surgido da automatização de métodos <strong>com</strong>o<br />
matrix-<strong>as</strong>sisted l<strong>as</strong>er desortion-ionization (MALDI) e eletrospray ionization (ESI) m<strong>as</strong>s spectrocopy (MS) para se<br />
obter o fingerprinting de m<strong>as</strong>sa e sequenciamento de peptídeos.<br />
Metabolômica<br />
A metabolômica é uma área da genômica funcional que estuda <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na expressão de pequen<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong><br />
orgânic<strong>as</strong>, conhecid<strong>as</strong> <strong>com</strong>o metabólitos, em sistem<strong>as</strong> biológicos. Ela promete <strong>com</strong>plementar a genômica por permitir<br />
avaliações objetiv<strong>as</strong> do fenótipo (Weckwerth, et al, 2004).<br />
Grande importância vem sendo dada para a <strong>com</strong>binação de dados de metabolômica <strong>com</strong> dados de expressão<br />
gênica e proteômica. A metabolômica ajudará na revelação de <strong>com</strong>o os genótipos são <strong>as</strong>sociados <strong>com</strong> os fenótipos e<br />
fazer simulações de mecanismos celulares em larga escala. Em uma escala maior, o fenomenoma (Schilling et al, 1999;<br />
Palsson, 2000) ajudará a materializar métodos de análise <strong>com</strong> a melhor tecnologia para estudos [e interpretações] do<br />
metaboloma.<br />
O fenomenoma requer uma organização de descobert<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong>, quantificando e identificando todos os<br />
metabólitos em um <strong>com</strong>plexo de amostr<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong>, rápida e simultaneamente. Isso deve ser obtido sem qualquer<br />
seleção a priori dos metabólitos de interesse, para evitar tendenciosidades. Softwares de bioinformática são necessários<br />
para organizar e facilitar a visualização dos dados de modo a auxiliar na sua interpretação (Steuer et al, 2003; Covert et<br />
al, 2004). Os softwares devem <strong>com</strong>binar dados obtidos por DNA microarrays, proteômica e metabolômica numa<br />
mesma visualização.<br />
Essa tecnologia permitirá, em última instância, a integração e correlação d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> globais no metabolismo e<br />
expressão gênica. Uma análise quantitativa de todos os metabólitos em uma célula pode ajudar no entendimento de<br />
problem<strong>as</strong> <strong>com</strong>o, por exemplo, os efeitos pleiotrópicos, em que um único gene determina um número de característic<strong>as</strong><br />
não relacionad<strong>as</strong>. Problem<strong>as</strong> <strong>as</strong>sim podem ser mais bem entendidos se uma alteração detectada no conteúdo de um<br />
metabólito, utilizado em vi<strong>as</strong> metabólic<strong>as</strong> diferentes, estiver relacionado <strong>com</strong> uma mutação no gene ou a sua sobreexpressão<br />
ou inibição.<br />
O Quadro 2 mostra a evolução<br />
d<strong>as</strong> principais nov<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> da pesquisa<br />
biológica no últimos anos, b<strong>as</strong>eada no<br />
número de ocorrênci<strong>as</strong> de termos relacionados<br />
na literatura científica.<br />
Além dess<strong>as</strong>, uma variedade de<br />
ômic<strong>as</strong> vem surgindo e uma sobreposição<br />
de propósito é inevitável.<br />
Entre outr<strong>as</strong> tant<strong>as</strong>, a farmacogenômica<br />
(Marshall, 1997) visa entender<br />
a interação da constutuição<br />
genética de um indivíduo <strong>com</strong> a resposta<br />
a drog<strong>as</strong>.<br />
A fisiômica (Sanford et al, 2002)<br />
se dedica a fazer uma descrição quantitativa<br />
d<strong>as</strong> funções fisiológic<strong>as</strong> de um<br />
organismo intacto. É necessário predi-<br />
zer o fenótipo a partir do genótipo,<br />
m<strong>as</strong> isso é difícil por causa d<strong>as</strong> influênci<strong>as</strong><br />
do ambiente e <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong><br />
do crescimento, desenvolvimento<br />
e doenç<strong>as</strong>. O objetivo é obter o<br />
um discernimento de toda a fisiologia<br />
de um organismo, incluindo <strong>as</strong> vi<strong>as</strong><br />
metabólic<strong>as</strong> e tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> e<br />
su<strong>as</strong> interações, que fazem o organismo<br />
<strong>com</strong>pleto. Uma d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong><br />
nesse campo é o Projeto Fisioma<br />
(http://physiome.org/), cujo<br />
principal objetivo é entender o organismo<br />
humano, descrevendo quantitativamente<br />
a sua fisiologia e patofisiologia,<br />
utilizando inclusive informações<br />
provenientes dos fisiom<strong>as</strong> de outros<br />
organismos, para melhorar a saúde<br />
humana (B<strong>as</strong>singthwaighte, 2000).<br />
A regulômica (Werner, 2004) é<br />
o estudo d<strong>as</strong> instruções bioquímic<strong>as</strong><br />
da rede de interação gênica que controla<br />
os mecanismos de regulação da<br />
expressão dos genes para fazer todos<br />
os tipos de célula necessários para<br />
construir organismos <strong>com</strong>pletos (Kondro,<br />
2004; Gao et al 2004; Roven &<br />
Bussemaker, 2004).<br />
A peptidômica se dedica a estudar<br />
peptídeos pequenos (0,5 a 15<br />
kDa), <strong>com</strong>o hormônios, citoquin<strong>as</strong>,<br />
fatores de crescimento, venenos, toxin<strong>as</strong>,<br />
peptídeos antimicrobianos etc.<br />
Ess<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> têm papel fundamental<br />
em muitos processos biológicos<br />
(Schulz-Knappe et al, 2001; Prates &<br />
Bloch, 2002).<br />
A degradômica é a aplicação de<br />
dados gerados pela genômica e proteômica<br />
para identificar <strong>as</strong> prote<strong>as</strong>es<br />
Quadro 2 – Número de ocorrênci<strong>as</strong> de referênci<strong>as</strong> no PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih/) em algum<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> da pesquisa<br />
biológica, desde 1998. Busca limitada para os campos Título e Abstract.<br />
Palavra chave 1988 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Abril2004<br />
“Genomics” 3 12 23 38 52 64 90 130 208 386 678 1263 2081 3104 4199 4660<br />
“Comparative genomics” — — — — — — 4 8 18 37 69 126 192 291 427 503<br />
“Functional genomics” — — — — — — — — 10 46 131 277 480 736 1016 1127<br />
“Transcriptomics” — — — — — — — — — — 1 3 7 23 41 63<br />
“Proteomics” — — — — — — — — 1 20 67 277 631 1254 2022 2444<br />
“Pharmacogenomics” — — — — — — — — 1 11 37 136 249 472 702 795<br />
“Metabolomics” — — — — — — — — — — — 2 7 28 59 81<br />
“Peptidomics” — — — — — — — — — — — — 5 8 18 23<br />
“Bioinformatics” — — — — 3 12 20 44 78 144 230 420 657 1058 1604 1852<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 33
e os seus substratos em escala genômica,<br />
para descobrir novos papéis para<br />
prote<strong>as</strong>es in vivo. O objetivo é facilitar<br />
a identificação de novos alvos para<br />
o desenvolvimento de fármacos visando<br />
o tratamento de doenç<strong>as</strong> (Lopez-<br />
Otin & Overall, 2002).<br />
A epigenômica busca esclarecer<br />
<strong>com</strong>o o genoma funciona <strong>com</strong>o um<br />
PESQUISA<br />
todo. Ela <strong>com</strong>bina a genética <strong>com</strong> o<br />
ambiente para buscar uma <strong>com</strong>preensão<br />
dos sistem<strong>as</strong> biológicos <strong>com</strong>plexos<br />
<strong>com</strong>o a pl<strong>as</strong>ticidade do genoma.<br />
Embora tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> nuclead<strong>as</strong> de<br />
um organismo levem o mesmo<br />
genoma, el<strong>as</strong> expressam diferentes<br />
genes em diferentes momentos e<br />
condições. Esses mecanismos de regulação<br />
da expressão gênica são <strong>com</strong>plexos,<br />
e um dos principais fatores<br />
envolvidos são <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> epigenétic<strong>as</strong><br />
resultantes da metilação<br />
diferencial do genoma. Daí, diz-se que<br />
resultam diferentes epigenom<strong>as</strong>. Alguns<br />
estudos têm demonstrado o envolvimento<br />
da metilação do DNA num<br />
processo chamado imprinting<br />
genômico, que controla a expressão<br />
de alguns genes em mamíferos, podendo<br />
ter efeito no surgimento de<br />
doenç<strong>as</strong>, especialmente o câncer.<br />
Novik et al (2002) apresenta uma revisão<br />
sobre o <strong>as</strong>sunto.<br />
A toxicogenômica (Kramer &<br />
Kolaja, 2002 e Guerreiro et al, 2003)<br />
marca um novo paradigma no desenvolvimento<br />
de drog<strong>as</strong> e análise de<br />
risco, que promete gerar uma enorme<br />
quantidade de informação na direção<br />
de aumentar o entendimento do<br />
mecanismo molecular que leva à toxicidade<br />
da droga e eficiência. É esperado<br />
que a toxigenômica seja mais e<br />
mais integrada <strong>com</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> f<strong>as</strong>es do<br />
processo de desenvolvimento de drog<strong>as</strong>,<br />
particularmente na toxicologia<br />
mecanística e preditiva, e descobrimento<br />
de biomarcadores, buscando<br />
identificar polimorfismos no DNA relacionados<br />
<strong>com</strong> a suscetibilidade individual<br />
à toxicidade em relação a uma<br />
determinada droga. O objetivo é a<br />
seleção de candidatos no sentido de<br />
ajudar a desenvolver e utilizar drog<strong>as</strong><br />
que produzam menor toxicidade.<br />
Antes e depois da genômica:<br />
a velha e a nova biologia<br />
Depois do descobrimento da<br />
dupla fita de DNA, do código genético,<br />
enzim<strong>as</strong> de restrição, PCR e tantos<br />
avanços na biologia molecular durante<br />
a segunda metade do século<br />
p<strong>as</strong>sado, na última década experienciamos<br />
uma nova revolução no campo<br />
da biologia <strong>com</strong> a era da genômica,<br />
e <strong>com</strong> ela muit<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> ômic<strong>as</strong>,<br />
<strong>com</strong>o apresentado acima. Nesse contexto,<br />
muit<strong>as</strong> pergunt<strong>as</strong> surgiram e<br />
permanecem ainda sem respost<strong>as</strong><br />
satisfatóri<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o: quais os impactos<br />
da genômica nos projetos de<br />
pesquisa n<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong><br />
biológic<strong>as</strong>? o método científico<br />
Figura 2. Ilustração do processo<br />
de obtenção de nov<strong>as</strong><br />
descobert<strong>as</strong> nos diversos<br />
campos da ciência.<br />
ainda é relevante? a bioinformática é<br />
uma disciplina separada? <strong>com</strong>o pode<br />
ser melhorada a <strong>com</strong>unicação entre<br />
<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> científic<strong>as</strong> atuais e a tecnologia<br />
da informação (IT) para solucionar<br />
a necessidade da integração<br />
dos dados disponíveis, que apresentam-se<br />
em fontes e formatos tão variados?<br />
pergunt<strong>as</strong> <strong>com</strong>o ess<strong>as</strong> são<br />
chaves para <strong>as</strong> ações futur<strong>as</strong> n<strong>as</strong> biociênci<strong>as</strong>.<br />
Fazendo um paralelo entre a<br />
velha biologia e a situação atual, podemos<br />
notar que o predomínio de<br />
pesquisadores mais ou menos independentes<br />
e profundamente especializados<br />
em um domínio estreitamente<br />
focado, não é adequado para<br />
a nova ciência cada vez mais integrada<br />
e ampla. Os estudos voltados para<br />
um gene ou uma função de cada vez<br />
dão lugar para a análise quantitativa<br />
de centen<strong>as</strong> de milhares de genes, e<br />
não mais focalizando apen<strong>as</strong> uma espécie,<br />
m<strong>as</strong> <strong>com</strong> uma abordagem de<br />
integração <strong>com</strong>parativa de dados interespecíficos.<br />
Os grandes investimentos<br />
voltados para enfoques<br />
científicos muit<strong>as</strong> vezes pouco<br />
abrangentes e hipóteses dirigid<strong>as</strong> pela<br />
pesquisa são substituídos pela automação<br />
e miniaturização, reduzindo<br />
o custo e aumentando a velocidade<br />
da coleta de dados. A necessidade da<br />
busca de ferrament<strong>as</strong> <strong>com</strong>putacionais<br />
básic<strong>as</strong> e somente para analisar conjuntos<br />
de dados é suplantada pela rápida<br />
disponibilidade de bancos de dados,<br />
grandes demais para um pesquisador<br />
conseguir analisar os dados<br />
sozinho. E, <strong>as</strong>sim, onde estão <strong>as</strong> hipóteses?<br />
poderíamos caracterizar essa<br />
revolução <strong>com</strong>o uma grande expedição<br />
para o acabamento da ciência<br />
da vida? quais são os impactos para a<br />
sociedade?<br />
Embora se tenha observado uma<br />
grande mudança no tipo e quantidade<br />
de dados obtidos, e a validade do<br />
método científico ser colocado em<br />
xeque, o plano clássico no curso da<br />
ciência continua sendo válido. Os dados<br />
geram informação, que gera novos<br />
conhecimentos, que proporcionam<br />
o caminho para nov<strong>as</strong> descobert<strong>as</strong>.<br />
No final, algum<strong>as</strong> vezes, paradigm<strong>as</strong><br />
são transpostos (Figura 2). A principal<br />
diferença é que até algum<strong>as</strong><br />
décad<strong>as</strong> atrás, esse processo requeria<br />
somente poder de raciocínio, lápis e<br />
papel. Agora requer tecnologia <strong>com</strong>putacional<br />
sofisticada. Para isso, os<br />
centros de pesquisa e universidades<br />
cada vez mais terão que ter seus próprios<br />
grupos de bioinformática, mantendo<br />
equipes multidisciplinares <strong>com</strong> atividades<br />
que de um lado promovam<br />
uma melhor exploração dos dados biológicos<br />
através de ferrament<strong>as</strong> de<br />
bioinformática e, por outro lado, <strong>as</strong><br />
questões gerad<strong>as</strong> pelos dados biológicos<br />
obtidos possibilitem melhorar <strong>as</strong><br />
ferrament<strong>as</strong> de bioinformática. A bioinformática<br />
será cada vez mais importante<br />
em termos de integração da informação,<br />
buscando impulsionar a<br />
aquisição de conhecimento sobre os<br />
sistem<strong>as</strong> biológicos para a geração de<br />
nov<strong>as</strong> saíd<strong>as</strong> para problem<strong>as</strong> na agricultura,<br />
medicina, produção de energia<br />
e conservação do meio ambiente.<br />
O papel da bioinformática<br />
em expansão<br />
Os projetos genoma transformaram<br />
a biologia em muitos sentidos, m<strong>as</strong><br />
34 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
o mais impressionante avanço foi a<br />
emergência da bioinformática e o treinamento<br />
dos cientist<strong>as</strong> em tecnologi<strong>as</strong><br />
modern<strong>as</strong> de pesquisa. Inicialmente<br />
a bioinformática teve <strong>com</strong>o<br />
aplicação principal facilitar o manuseio<br />
da grande quantidade de dados gerados<br />
pelos projetos genoma, <strong>com</strong>o a<br />
montagem de contigs e fechamento<br />
de seqüênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong>, além de dar<br />
suporte para outr<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> experimentais<br />
no campo da biologia molecular.<br />
De lá para cá, muit<strong>as</strong> informações<br />
foram disponibilizad<strong>as</strong> em bancos de<br />
dados públicos de seqüênci<strong>as</strong> gênic<strong>as</strong>,<br />
proteín<strong>as</strong>, estrutur<strong>as</strong> de macromolécul<strong>as</strong>,<br />
perfil metabólico, filogenia e outros,<br />
cujo valor ainda não pode sequer<br />
ser estimado. Hoje não é mais possível<br />
avançar em biotecnologia sem a<br />
integração da tecnologia da informação<br />
<strong>com</strong> a tecnologia experimental.<br />
As abordagens de estudos biotecnológicos<br />
atualmente buscam resolver<br />
questões específic<strong>as</strong>, optando-se<br />
normalmente por fazer uma análise<br />
<strong>com</strong>putacional inicial <strong>com</strong> a utilização<br />
dess<strong>as</strong> informações para direcionar e<br />
selecionar <strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> experimentais,<br />
<strong>com</strong> considerável economia financeira<br />
e de tempo, sem considerar a<br />
efetividade de tais procedimentos na<br />
aceleração da obtenção dos resultados<br />
e descobert<strong>as</strong> científic<strong>as</strong>.<br />
Além disso, muit<strong>as</strong> descobert<strong>as</strong><br />
estão sendo feit<strong>as</strong> simplesmente pela<br />
análise sistematizada dess<strong>as</strong> fontes de<br />
dados, que não param de crescer tanto<br />
em volume <strong>com</strong>o em <strong>com</strong>plexidade<br />
e variabilidade. A tendência atual<br />
é para descobert<strong>as</strong> científic<strong>as</strong> e síntese<br />
sendo dirigid<strong>as</strong> pela informação<br />
emergindo intrinsecamente a partir da<br />
biologia em si e a partir da diversidade<br />
e heterogeneidade d<strong>as</strong> observações<br />
experimentais. Um projeto típico de<br />
pesquisa pode <strong>com</strong>eçar <strong>com</strong> a coleção<br />
de sequênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong><br />
ou não conhecid<strong>as</strong>. Para sequênci<strong>as</strong><br />
não conhecid<strong>as</strong>, pode-se conduzir uma<br />
busca em bancos de dados por sequênci<strong>as</strong><br />
similares ou usar algoritmos <strong>com</strong>putacionais<br />
procurando predizer <strong>as</strong><br />
su<strong>as</strong> possíveis identidades e funções.<br />
Isso requer o acesso à versão mais<br />
atual da coleção de dados, em bancos<br />
de dados mundiais, e <strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong><br />
fundamentais da bioinformática agora<br />
são cada vez mais parte dos métodos<br />
experimentais. Entretanto, ess<strong>as</strong> informações<br />
estão espalhad<strong>as</strong> em múltipl<strong>as</strong><br />
fontes, impossibilitando que os cientist<strong>as</strong><br />
obtenham direta e eficientemente<br />
a informação requerida para<br />
converter os dados <strong>com</strong>plexos e heterogêneos<br />
em dados úteis, informação<br />
organizada e sistematizada conforme<br />
<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> de pesquisa específic<strong>as</strong>.<br />
Nesse ambiente, para responder<br />
uma simples questão pode ser<br />
necessário acessar vári<strong>as</strong> fontes de<br />
dados e utilizar ferrament<strong>as</strong> de análise<br />
sofisticad<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o alinhamento de<br />
sequênci<strong>as</strong>, agrupamento, modelagem<br />
molecular etc. Enquanto a integração<br />
dos dados é uma área de pesquisa<br />
dinâmica, necessidades específic<strong>as</strong><br />
dos biocientist<strong>as</strong> têm levado ao<br />
desenvolvimento de numerosos sistem<strong>as</strong><br />
que acabam desconectando o<br />
acesso aos dados em um ambiente<br />
direcionado por resultados. O resultado<br />
é o crescente número de bancos<br />
de dados e web sites representando<br />
uma coleção confinada de dados, governada<br />
por sistem<strong>as</strong> próprios de gerenciamento<br />
e formatos particulares de<br />
input e output dos dados, apresentações<br />
gráfic<strong>as</strong> dos resultados, e problem<strong>as</strong><br />
sérios de <strong>com</strong>patibilidade e<br />
interoperabilidade <strong>com</strong> outros sistem<strong>as</strong>.<br />
Uma evidência disso é o número<br />
crescente de novos bancos de dados<br />
relatados a cada ano na edição de<br />
janeiro da Nucleic Acids Research<br />
(http://nar.oupjournals.org/). A edição<br />
atual lista 548 bancos de dados, 162 a<br />
mais em relação ao ano anterior (Galperin,<br />
2004). Boa parte desses bancos<br />
ainda são construídos <strong>com</strong> enfoques<br />
extremamente limitados para<br />
aplicações restrit<strong>as</strong>, sem a preocupação<br />
<strong>com</strong> relação à <strong>com</strong>patibilidade<br />
e troca de informações <strong>com</strong> outros<br />
sistem<strong>as</strong>. Adaptações são lent<strong>as</strong> e<br />
muit<strong>as</strong> vezes difíceis de implementar<br />
quando a filosofia básica do banco precisa<br />
ser mantida.<br />
O acesso a esses dados precisa<br />
melhorar em termos de eficiência,<br />
velocidade e facilidade. Para facilitar<br />
o entendimento dos processos biológicos,<br />
é necessário fazer novos arranjos<br />
aos recursos de dados disponíveis. Por<br />
exemplo, o que se faz inicialmente<br />
em uma rota metabólica, uma rede de<br />
interações moleculares etc., é<br />
necessário generalizar para outros<br />
sistem<strong>as</strong> biológicos; a partir de E. coli<br />
para levedura, e chegar à biologia de<br />
organismos mais <strong>com</strong>plexos, <strong>com</strong>o o<br />
homem, animais e plant<strong>as</strong> economicamente<br />
importantes. Trabalhar toda<br />
essa informação conjuntamente é fundamental<br />
para a geração de novos insights.<br />
O rápido crescimento do volume<br />
de dados é um desafio para cada<br />
um, e <strong>com</strong> a produção de dados mais<br />
diversos e em larga escala (por e-<br />
xemplo, dados de DNA microarrays)<br />
esse crescimento está apen<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>eçando.<br />
As atividades de bancos de dados<br />
e desenvolvimento de algoritmos<br />
<strong>com</strong>putacionais precisam estar integrad<strong>as</strong><br />
para produzir uma infra-estrutura<br />
de informação coesiva delimitando<br />
toda a biologia. Para isso é necessário<br />
o desenvolvimento de ferrament<strong>as</strong><br />
para disseminar e analisar m<strong>as</strong>siv<strong>as</strong><br />
quantidades de dados, inclusive literatura,<br />
e a construção de <strong>com</strong>unidades<br />
de bancos de dados b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> em<br />
princípios operacionais padronizados<br />
e <strong>com</strong> padrões interoperacionais.<br />
Muitos dos problem<strong>as</strong> da bioinformática<br />
são genéricos, por isso<br />
soluções em um domínio podem ser<br />
naturalmente aplicáveis para outros.<br />
O entendimento da informação molecular<br />
até a célula, órgão e o sistema<br />
biológico do organismo será o maior<br />
desafio (fenomenoma). A p<strong>as</strong>sagem<br />
do genótipo para o fenótipo requererá<br />
um novo conjunto de ferrament<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>putacionais altamente robust<strong>as</strong>. O<br />
principal enfoque da bioinformática<br />
para os próximos anos será integrar<br />
esses dados de modo a permitir busc<strong>as</strong><br />
transparentes através dos dados.<br />
Fazer isso de forma robusta abrangendo<br />
todo o conjunto de dados é um<br />
desafio real.<br />
Apesar do avanço já feito, é<br />
necessário continuar a pesquisa no<br />
campo da genômica, principalmente<br />
para microrganismos <strong>as</strong>sociados a<br />
plant<strong>as</strong> economicamente importantes,<br />
incluindo fungos, e buscar entender<br />
<strong>as</strong> interações hospedeiro-microrganismo<br />
ou planta-patógeno. No c<strong>as</strong>o da<br />
medicina, a necessidade atual é por<br />
dados clínicos bem estruturados e consistentes<br />
sobre grandes populações.<br />
Tais dados, que são difíceis de coletar<br />
e caros, serão críticos para ligar os<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 35
dados moleculares <strong>com</strong> o fenótipo.<br />
Embora exista um crescente número<br />
de centros de bioinformática, a maior<br />
tendência é que ela esteja presente<br />
nos centros de pesquisa e n<strong>as</strong> universidades,<br />
em cada departamento de<br />
biologia ou biotecnologia, em cada<br />
faculdade na área d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong><br />
em todo o mundo. Todos os<br />
grandes centros de pesquisa terão que<br />
ter profissionais especializados em bioinformática/biologia<br />
<strong>com</strong>putacional.<br />
Hoje é consenso geral que ess<strong>as</strong> instituições<br />
necessitam de pesso<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
esse entendimento em seus departamentos<br />
de biologia e necessitarão formar<br />
os seus estudantes de graduação<br />
em biologia quantitativa em vez de<br />
somente biologia experimental. Os<br />
experimentos precisam ser feitos no<br />
contexto do conhecimento corrente,<br />
e os dados gerados precisam ser rapidamente<br />
armazenados e explorados<br />
<strong>com</strong>putacionalmente juntamente <strong>com</strong><br />
o universo de informação disponível.<br />
Nunca na história da ciência <strong>as</strong><br />
informações foram tão democraticamente<br />
acessíveis <strong>com</strong>o hoje. Especialmente<br />
<strong>as</strong> informações e ferrament<strong>as</strong><br />
disponibilizad<strong>as</strong> pela bioinformática.<br />
Não importa quem e onde. O mesmo<br />
tipo de informação pode ser acessada<br />
por qualquer pessoa, em qualquer<br />
lugar do mundo. Praticamente tod<strong>as</strong><br />
<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> de bioinformática e<br />
bancos de dados disponíveis podem<br />
ser dispostos de modo que possam<br />
ser acessad<strong>as</strong> e utilizad<strong>as</strong> na web. B<strong>as</strong>ta<br />
fazer a pergunta correta e buscar a<br />
resposta.<br />
Conclusão<br />
O debate que está emergindo<br />
atualmente é se existe uma pletora<br />
ou esc<strong>as</strong>sez de dados experimentais<br />
proveitosos derivados pala plataforma<br />
d<strong>as</strong> ômic<strong>as</strong>. O grande desafio, no entanto,<br />
é o que se pode fazer <strong>com</strong> esses<br />
dados. Não há dúvida de que a<br />
tecnologia da informação precisa ser<br />
tomada <strong>com</strong>o parte integral do processo<br />
de descoberta pelos pesquisadores<br />
no campo da biologia. Este é o<br />
problema fundamental que precisa ser<br />
resolvido pela bioinformática, promovendo<br />
um profundo impacto no processo<br />
de descobert<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong>. É<br />
necessário que ocorram discussões<br />
freqüentes entre todos os especialist<strong>as</strong><br />
participantes de estudos relacionados,<br />
visando um emprego mais adequado<br />
da cultura científica dos participantes,<br />
já que, de modo simplificado,<br />
os biólogos querem entender<br />
<strong>com</strong>o os organismos funcionam e os<br />
cientist<strong>as</strong> da <strong>com</strong>putação querem fazer<br />
ferrament<strong>as</strong> que resolvam problem<strong>as</strong>.<br />
O estabelecimento de uma linguagem<br />
<strong>com</strong>um entre os especialist<strong>as</strong> em diferentes<br />
áre<strong>as</strong>, o monitoramento de quais<br />
ferrament<strong>as</strong> são mais usad<strong>as</strong> e importantes<br />
para o escopo do estudo, uma<br />
filosofia orientada para nov<strong>as</strong><br />
descobert<strong>as</strong>, não orientada por dogm<strong>as</strong>,<br />
são re<strong>com</strong>endações importantes<br />
para o sucesso dos empreendimentos<br />
científicos. Treinamentos constantes<br />
e workshops devem fazer parte<br />
dos investimentos previstos nos projetos.<br />
O bom entendimento entre os<br />
pesquisadores de diferentes áre<strong>as</strong> é<br />
fundamental. Por exemplo, os cientist<strong>as</strong><br />
da <strong>com</strong>putação devem ser pacientes<br />
<strong>com</strong> o biólogo, já que este<br />
geralmente não sabe exatamente<br />
onde quer chegar ou o que espera dos<br />
dados (o que é natural nos estudos<br />
biológicos). Deve ensinar pelo menos<br />
os conceitos básicos de <strong>com</strong>putação<br />
para estabelecer uma plataforma <strong>com</strong>um<br />
de <strong>com</strong>unicação, encorajar os<br />
biólogos a mostrar <strong>com</strong>o eles estão<br />
realmente usando <strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> disponibilizad<strong>as</strong><br />
e buscar sempre proporcionar<br />
o máximo de acesso aos dados.<br />
A retenção longa dos dados inibe<br />
o espírito de <strong>com</strong>unidade. Por parte<br />
do biólogo, espera-se que não espere<br />
muito ou tente fazer <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> sozi -<br />
nho, fale <strong>com</strong> uma variedade de cientist<strong>as</strong><br />
da <strong>com</strong>putação, encontre aqueles<br />
mais interessados no seu problema,<br />
encontre aqueles <strong>com</strong> quem gosta<br />
de trabalhar, faça pergunt<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
freqüência e logo que surjam, use uma<br />
variedade de nov<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong>, fazendo<br />
<strong>com</strong>entários/sugestões <strong>as</strong>sim<br />
que puder e busque entender os desafios<br />
da <strong>com</strong>putação para solucionar<br />
problem<strong>as</strong> novos. A obtenção de novos<br />
conhecimentos acelera quando<br />
todos contribuem.<br />
Agradecimentos<br />
Aos coleg<strong>as</strong> Dr. Francisco Prosdocimi,<br />
Dr. Newton Portilho Carneiro<br />
e Dr. Alexandre Lima Nepomuceno<br />
pela revisão crítica deste artigo.<br />
Referênci<strong>as</strong><br />
B<strong>as</strong>singthwaighte JB. Strategies for the<br />
physiome project. Ann Biomed<br />
Eng. 2000, 28(8):1043-58. PMID:<br />
11144666<br />
Bernal A, Ear U, Kyrpides N. Genomes<br />
OnLine Datab<strong>as</strong>e (GOLD): a<br />
monitor of genome projects worldwide.<br />
Nucleic Acids Res. 2001,<br />
29(1):126-127. PMID: 11125068<br />
Collins FS, Green ED, Guttmacher AE,<br />
Guyer MS; US National Human<br />
Genome Research Institute. A vision<br />
for the future of genomics research.<br />
Nature. 2003, 422(6934):835-<br />
47. PMID: 12695777<br />
Covert MW, Knight EM, Reed JL,<br />
Herrgard MJ, Palsson BO.<br />
Integrating high-throughput and<br />
<strong>com</strong>putational data elucidates<br />
bacterial networks. Nature. 2004,<br />
429(6987):92-6. PMID: 15129285<br />
Fleischmann RD, Adams MD, White O,<br />
Clayton RA, Kirkness EF, Kerlavage<br />
AR, Bult CJ, Tomb JF, Dougherty<br />
BA, Merrick JM, et al. Wholegenome<br />
random sequencing and<br />
<strong>as</strong>sembly of Haemophilus<br />
influenzae Rd. Science. 1995,<br />
269(5223):496-512. PMID:<br />
7542800<br />
Galperin MY. The Molecular Biology<br />
Datab<strong>as</strong>e Collection: 2004 update.<br />
Nucleic Acids Res. 2004, 1;32<br />
Datab<strong>as</strong>e issue:D3-22. PMID:<br />
14681349<br />
Gao F, Foat BC, Bussemaker HJ.<br />
Defining transcriptional networks<br />
through integrative modeling of<br />
mRNA expression and transcription<br />
factor binding data. BMC<br />
Bioinformatics. 2004, 18;5(1):31.<br />
PMID: 15113405<br />
Garavelli JS. The RESID Datab<strong>as</strong>e of<br />
Protein Modifications: 2003<br />
developments. Nucleic Acids Res.<br />
2003, 31(1):499-501. PMID:<br />
12520062<br />
Genomics and Its Impact on Science<br />
and Society: The Human Genome<br />
Project and Beyond. U.S.<br />
Department of Energy Human<br />
Genome Program. 2003. Disponível<br />
http://www.ornl.gov/sci/<br />
techresources/Human_Genome/<br />
36 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
publicat/primer2001/index.shtml<br />
Goodsell DS. Inside a living cell. Trends<br />
Biochem Sci. 1991, 16(6):203-<br />
206. PMID: 1891800<br />
Goto S, Okuno Y, Hattori M, Nishioka<br />
T, Kanehisa M. LIGAND: datab<strong>as</strong>e<br />
of chemical <strong>com</strong>pounds and reactions<br />
in biological pathways. Nucleic<br />
Acids Res. 2002, 30(1):402-4.<br />
PMID: 11752349<br />
Guerreiro N, Staedtler F, Grenet O,<br />
Kehren J, Chibout SD. Toxicogenomics<br />
in drug development. Toxicol<br />
Pathol. 2003, 31(5):471-9.<br />
PMID: 14692614<br />
Hoersch S, Leroy C, Brown NP, Andrade<br />
MA, Sander C. The GeneQuiz<br />
web server: protein functional<br />
analysis through the Web. Trends<br />
Biochem Sci. 2000, 25(1):33-35.<br />
PMID: 10637611<br />
James P. Protein identification in the<br />
post-genome era: the rapid rise of<br />
proteomics. Q Rev Biophys. 1997,<br />
30(4):279-331. PMID: 9634650<br />
Kanehisa M, Goto S, Kaw<strong>as</strong>hima S,<br />
Okuno Y, Hattori M. The KEGG<br />
resource for deciphering the genome.<br />
Nucleic Acids Res. 2004, 32<br />
Datab<strong>as</strong>e issue:D277-D280. PMID:<br />
14681412<br />
Kramer JA, Kolaja KL. Toxicogenomics:<br />
an opportunity to optimise<br />
drug development and safety evaluation.<br />
Expert Opin Drug Saf. 2002,<br />
1(3):275-86. PMID: 12904143<br />
Kondro W. MOLECULAR BIOLOGY:<br />
Consortium Tackles Mouse Regulome.<br />
Science. 2004,<br />
304(5673):942A. PMID: 15143247<br />
Lefranc MP. IMGT, The International<br />
ImMunoGeneTics Information System,<br />
http://imgt.cines.fr. Methods<br />
Mol Biol. 2004, 248:27-49. PMID:<br />
14970490<br />
Lopez-Otin C, Overall CM. Prote<strong>as</strong>e<br />
degradomics: a new challenge for<br />
proteomics. Nat Rev Mol Cell Biol.<br />
2002, 3(7):509-19. PMID:<br />
12094217<br />
Marshall A. Genset-Abbott deal heralds<br />
pharmacogenomics era. Nat Biotechnol.<br />
1997, 15(9):829-30. PMID:<br />
9306389<br />
Mewes HW, Amid C, Arnold R, Frishman<br />
D, Guldener U, Mannhaupt<br />
G, Munsterkotter M, Pagel P, Strack<br />
N, Stumpflen V, Warfsmann J,<br />
Ruepp A. MIPS: analysis and annotation<br />
of proteins from whole<br />
genomes.Nucleic Acids Res. 2004,<br />
32 Datab<strong>as</strong>e issue:D41-D44. PMID:<br />
14681354<br />
Novik KL, Nimmrich I, Genc B, Maier S,<br />
Piepenbrock C, Olek A, Beck S.<br />
Epigenomics: genome-wide study<br />
of methylation phenomena. Curr<br />
Issues Mol Biol. 2002, 4(4):111-28.<br />
PMID: 12432963<br />
Palsson B. In silico biology through<br />
“omics”. Nat Biotechnol. 2002,<br />
20(7):649-50. PMID: 12089538<br />
Palsson B. The challenges of in silico<br />
biology. Nat Biotechnol. 2000,<br />
18(11):1147-50. PMID: 11062431<br />
Pennisi E. Human genome. Reaching<br />
their goal early, sequencing labs<br />
celebrate. Science. 2003a,<br />
300(5618):409. PMID: 12702850<br />
Pennisi E. Human genome. A low number<br />
wins the GeneSweep Pool.<br />
Science. 2003b, 300(5625):1484.<br />
PMID: 12791949<br />
Pennisi E. Bioinformatics. Gene counters<br />
struggle to get the right answer.<br />
Science. 2003c, 301(5636):1040-<br />
1. PMID: 12933991<br />
Prates MV, Bloch C. Peptídeos antimicrobianos.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência e<br />
Desenvolvimento. 2002, 29: 30-<br />
36.<br />
Roven C, Bussemaker HJ. REDUCE:<br />
An online tool for inferring cisregulatory<br />
elements and transcriptional<br />
module activities from microarray<br />
data. Nucleic Acids Res.<br />
2003, 31(13):3487-90. PMID:<br />
12824350<br />
Rubin GM, Yandell MD, Wortman JR,<br />
Gabor Miklos GL, Nelson CR, Hariharan<br />
IK, Fortini ME, Li PW, Apweiler<br />
R, Fleischmann W, Cherry JM,<br />
Henikoff S, Skupski MP, Misra S,<br />
Ashburner M, Birney E, Boguski<br />
MS, Brody T, Brokstein P, Celniker<br />
SE, Chervitz SA, Coates D, Cravchik<br />
A, Gabrielian A, Galle RF,<br />
Gelbart WM, George RA, Goldstein<br />
LS, Gong F, Guan P, Harris NL,<br />
Hay BA, Hoskins RA, Li J, Li Z,<br />
Hynes RO, Jones SJ, Kuehl PM,<br />
Lemaitre B, Littleton JT, Morrison<br />
DK, Mungall C, O’Farrell PH, Pickeral<br />
OK, Shue C, Vosshall LB,<br />
Zhang J, Zhao Q, Zheng XH, Lewis<br />
S. Comparative genomics of the<br />
eukaryotes. Science. 2000,<br />
287(5461):2204-2215. PMID:<br />
10731134<br />
Sanford K, Soucaille P, Whited G, Chotani<br />
G. Genomics to fluxomics and<br />
physiomics - pathway engineering.<br />
Curr Opin Microbiol. 2002,<br />
5(3):318-22. PMID: 12057688<br />
Schilling CH, Edwards JS, Palsson BO.<br />
Toward metabolic phenomics:<br />
analysis of genomic data using flux<br />
balances. Biotechnol Prog. 1999,<br />
15(3):288-95. PMID: 10356245<br />
Schulz-Knappe P, Zucht HD, Heine G,<br />
Jurgens M, Hess R, Schrader M.<br />
Peptidomics: the <strong>com</strong>prehensive<br />
analysis of peptides in <strong>com</strong>plex<br />
biological mixtures. Comb Chem<br />
High Throughput Screen. 2001,<br />
4(2):207-17. PMID: 11281836<br />
Stalker J, Gibbins B, Meidl P, Smith J,<br />
Spooner W, Hotz HR, Cox AV. The<br />
Ensembl web site: mechanics of a<br />
genome browser. Genome Res.<br />
2004, 14(5):951-955. PMID:<br />
15123591<br />
Steuer R, Kurths J, Fiehn O, Weckwerth<br />
W. Observing and interpreting<br />
correlations in metabolomic networks.<br />
Bioinformatics. 2003,<br />
19(8):1019-26. PMID: 12761066<br />
Weckwerth W, Loureiro ME, Wenzel<br />
K, Fiehn O. Differential metabolic<br />
networks unravel the effects of<br />
silent plant phenotypes. Proc Natl<br />
Acad Sci U S A. 2004. PMID:<br />
15136733<br />
Weinstein JN. Searching for pharmacogenomic<br />
markers: the synergy<br />
between omic and hypothesis-driven<br />
research. Dis Markers. 2001,<br />
17(2):77-88. PMID: 11673654<br />
Werner T. Proteomics and regulomics:<br />
the yin and yang of functional<br />
genomics. M<strong>as</strong>s Spectrom Rev.<br />
2004, 23(1):25-33. PMID:<br />
14625890<br />
Wright FA, Lemon WJ, Zhao WD, Sears<br />
R, Zhuo D, Wang JP, Yang HY,<br />
Baer T, Stredney D, Spitzner J,<br />
Stutz A, Krahe R, Yuan B. A draft<br />
annotation and overview of the<br />
human genome. Genome Biol.<br />
2001, 2(7):RESEARCH0025. PMID:<br />
11516338<br />
Zanzoni A, Montecchi-Palazzi L, Quondam<br />
M, Ausiello G, Helmer-Citterich<br />
M, Cesareni G. MINT: a Molecular<br />
INTeraction datab<strong>as</strong>e. FEBS Lett.<br />
2002, 513(1):135-40. PMID:<br />
11911893<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 37
BIODIESEL<br />
Pesquisa<br />
Produção de biodiesel por transesterificação de óleos vegetais<br />
Gabriela Alves Macedo<br />
Dra. em Ciência de Alimentos<br />
Professora da Faculdade de Eng. de Alimentos<br />
UNICAMP<br />
gmacedo@fea.unicamp.br<br />
Juliana Alves Macedo<br />
Graduanda em Engenharia de Alimentos<br />
UNICAMP<br />
macedo@fea.unicamp.br<br />
Resumo<br />
biodiesel (ésteres de ácidos<br />
graxos), que é derivado de<br />
triglicerídeos por transesterificação<br />
<strong>com</strong> metanol ou<br />
etanol, tem atraído considerável atenção<br />
<strong>com</strong>o <strong>com</strong>bustível renovável, biodegradável<br />
e não-tóxico. Muitos processos<br />
têm sido desenvolvidos para<br />
produção de biodiesel, m<strong>as</strong> a transesterificação<br />
usando álcali <strong>com</strong>o catalisador<br />
tem gerado altos níveis de conversão<br />
de triglicerídeos em ésteres<br />
metílicos em curto tempo de reação.<br />
Por essa razão, este processo tem sido<br />
adotado para produção de biodiesel<br />
em muitos países da Europa e América<br />
do Norte. Recentemente, a tran-<br />
Figura 01. Transesterificação de triglicerídeos <strong>com</strong> álcool. (a) Equação<br />
geral; (b) Três reações consecutiv<strong>as</strong> e reversíveis. R1, R2, R3 e R’<br />
representam os grupos alquila.<br />
sesterificação enzimática, empregando<br />
lip<strong>as</strong>es, tornou-se mais atrativa para<br />
a produção de biodiesel, uma vez que<br />
o glicerol produzido <strong>com</strong>o subproduto<br />
pode ser facilmente recuperado e<br />
a purificação dos ésteres é <strong>com</strong>pleta.<br />
A maior dificuldade da <strong>com</strong>ercialização<br />
deste sistema ainda é o custo da<br />
produção de lip<strong>as</strong>es. O custo de produção<br />
d<strong>as</strong> lip<strong>as</strong>es pode ser reduzido<br />
através da aplicação de genética molecular<br />
produzindo lip<strong>as</strong>es de alta produtividade,<br />
seletividade e estabilidade<br />
e da imobilização d<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong>, viabilizando<br />
a reutilização seguida em<br />
reações.<br />
Introdução<br />
Combustíveis alternativos para<br />
motores a diesel são cada vez mais<br />
importantes devido à esc<strong>as</strong>sez d<strong>as</strong><br />
reserv<strong>as</strong> de petróleo e aos problem<strong>as</strong><br />
de poluição ambiental. Um grande<br />
número de estudos tem mostrado que<br />
os triglicerídeos são uma alternativa<br />
promissora ao diesel (Bartholomeu,<br />
1981-Ziejewski and Kaufman, 1983).<br />
Contudo, o uso direto de óleos vegetais<br />
e/ou mistur<strong>as</strong> de óleos são considerados<br />
insatisfatórios e não práticos<br />
tanto para motores de injeção direta<br />
<strong>com</strong>o indireta, movidos a diesel. Dentre<br />
os principais problem<strong>as</strong> apresentados<br />
estão: a <strong>com</strong>posição de ácidos<br />
graxos dos óleos vegetais, a alta viscosidade,<br />
a acidez, a presença de gom<strong>as</strong><br />
formad<strong>as</strong> por oxidação e polimerização<br />
durante a estocagem e a deposição<br />
de carbonos, entre outros (Ma<br />
and Hanna, 1999). Conseqüentemente,<br />
um grande número de estudos têm<br />
sido conduzidos a fim de desenvolver<br />
derivados de óleos vegetais, cuj<strong>as</strong> propriedades<br />
e performance se aproxi-<br />
38 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
mem do tridiocarboneto óleo diesel.<br />
Os principais problem<strong>as</strong> encontrados<br />
são a viscosidade muito alta, baixa<br />
volatilidade e caráter polinsaturado<br />
dos óleos vegetais (Sriv<strong>as</strong>tava and<br />
Heyes, 1962).<br />
São três os processos mais investigados<br />
a fim de sobrepor os problem<strong>as</strong><br />
encontrados na substituição do<br />
diesel por óleos vegetais: a pirólise, a<br />
micro-emulsificação e a transesterificação.<br />
Pirólise é a conversão química<br />
causada pela aplicação de energia térmica,<br />
na presença de nitrogênio. Muitos<br />
estudos foram realizados <strong>com</strong> a<br />
pirólise de triglicerídeos <strong>com</strong> o objetivo<br />
de obter produtos adequados aos<br />
motores a diesel (Grossley et al.,<br />
1962- Billaud et al., 1995). A de<strong>com</strong>posição<br />
térmica dos triglicerídeos produz<br />
diferentes tipos de <strong>com</strong>postos,<br />
incluindo alcanos, alcenos, alcadienos,<br />
ácidos carbonílicos e aromáticos, dependendo<br />
da fonte do óleo vegetal<br />
de<strong>com</strong>posto. A pirólise do óleo de soja,<br />
por exemplo, contém 79% de carbonos<br />
e 12% de hidrogênio (Schwab et<br />
al., 1988), apresentando baixa viscosidade<br />
e alto número de cetano <strong>com</strong>parado<br />
ao óleo puro. Contudo, apesar<br />
de os óleos vegetais pirolisados possuírem<br />
concentrações de enxofre,<br />
água, sedimentos e cobre satisfatórios,<br />
são inaceitáveis os níveis de cinz<strong>as</strong>,<br />
resíduos de carbono e o ponto de<br />
ignição alcançado. Embora o produto<br />
da pirólise seja quimicamente similar<br />
ao diesel proveniente do petróleo, a<br />
remoção do oxigênio durante o processo<br />
térmico elimina qualquer benefício<br />
ambiental do produto (Ma and<br />
Hanna, 1999).<br />
O uso de microemulsões <strong>com</strong><br />
solventes <strong>com</strong>o metanol, etanol e 1-<br />
butanol é outro processo que vem<br />
sendo estudado <strong>com</strong> o objetivo de<br />
resolver o problema da viscosidade<br />
dos óleos vegetais (Schwab et al.,<br />
1987- Ziejewski et al., 1984).<br />
Microemulsões são dispersões<br />
isotrópic<strong>as</strong>, termodinamicamente estáveis,<br />
de óleo, água, sulfactante e<br />
geralmente uma molécula pequena<br />
amfifílica, chamada cosurfactante<br />
(Schwab et al., 1987). Ziejeuski et al.,<br />
1984, prepararam uma emulsão de<br />
53,3% (v/v) de óleo de gir<strong>as</strong>sol, 13,3%<br />
(v/v) de etanol e 33,4% (v/v) de 1-<br />
butanol. Esta emulsão não-iônica apresentou<br />
viscosidade de 6,31.10 -6 m 2 /s<br />
a 40ºC, número de cetano de 25,<br />
0,01% de enxofre e 0,01% ácidos graxos<br />
livres e cinz<strong>as</strong> inferior a 0,01%. A<br />
Tabela 1. Propriedades físic<strong>as</strong> e químic<strong>as</strong> do biodiesel.<br />
viscosidade obtida foi ainda menor<br />
quando se aumentou a concentração<br />
de 1-butanol.<br />
Schwab et al, 1987, reportaram<br />
que o 2-octanol foi efetivo na solubilização<br />
micelar de metanol em trioleína<br />
e óleo de soja. Contudo, foram<br />
observados, em escala laboratorial,<br />
depósitos de carbono e aumento da<br />
viscosidade.<br />
A transesterificação, também<br />
chamada alcóolise, é a troca de um<br />
álcool de um éster por outro álcool<br />
em um processo similar ao da hidrólise,<br />
exceto o fato de que não se trata<br />
de um álcool no lugar da água. Os álcoois<br />
que podem ser utilizados são o<br />
metanol, etanol, propanol, butanol ou<br />
álcool amílico. Metanol e etanol são<br />
utilizados mais freqüentemente. Nos<br />
estudos publicados, o metanol tem<br />
sido o mais empregado devido a seu<br />
baixo custo e grande disponibilidade<br />
na Europa, Japão e EUA. O etanol<br />
pode também ser utilizado e visto que,<br />
no Br<strong>as</strong>il existe grande disponibilidade<br />
deste produto a baixo custo, provavelmente<br />
será este o substrato para<br />
o biodiesel br<strong>as</strong>ileiro.<br />
A transesterificação tem sido<br />
largamente utilizada para diminuição<br />
da viscosidade dos triglicerídeos, me-<br />
Óleo vegetal<br />
metil éster<br />
a<br />
Clark et al., 1984<br />
b<br />
Smith, 1949.<br />
c<br />
Sprules and Price, 1950.<br />
Viscosidade<br />
2<br />
cinemática<br />
(mm /s)<br />
Número<br />
de cetano<br />
Poder<br />
calorífico<br />
inferior (MJ/l)<br />
Ponto de<br />
n évoa ( º C)<br />
Ponto de<br />
f l<strong>as</strong>h ( º C)<br />
Densidade (g/l)<br />
a<br />
Amendoim<br />
4 .9(37. 8º C)<br />
54<br />
33.<br />
6<br />
5 176<br />
0.88<br />
3<br />
-<br />
Soja<br />
ª<br />
4 .5(37. 8 º C)<br />
45<br />
33.<br />
5<br />
1 178<br />
0.88<br />
5<br />
-<br />
b<br />
Soja<br />
4 .0(4 0º) 45.7-56<br />
32.<br />
7<br />
- - 0 .880 (15º C)<br />
-<br />
a<br />
Babaçu<br />
3 .6(37. 8º C)<br />
63<br />
31.<br />
8<br />
4 127<br />
0.87<br />
9<br />
-<br />
a<br />
Palma<br />
5 .7(37. 8º C)<br />
62<br />
33.<br />
5<br />
13<br />
164<br />
0.88<br />
0<br />
-<br />
b<br />
Palma<br />
4 .3-4.5(4 0º C)<br />
64.3-70<br />
32.<br />
4<br />
- - 0 .872-0.877 (15º C)<br />
-<br />
a<br />
Gir<strong>as</strong>sol<br />
4 .6(37. 8º C)<br />
49<br />
33.<br />
5<br />
1 183<br />
0.86<br />
0<br />
-<br />
a<br />
Gordura<br />
vegetal - - - 12<br />
96<br />
- -<br />
b<br />
Semente<br />
de colza 4 .2(4 0º C)<br />
51-59.<br />
7 32.<br />
8<br />
- - 0 .882 (15º C)<br />
-<br />
c<br />
Óleo de colza usado 9 .48(3 0º C)<br />
53<br />
36.<br />
7<br />
- 192<br />
0.89<br />
5<br />
0.00 2<br />
Sulfur.<br />
(wt%)<br />
c<br />
Óleo de milho usado 6 .23(3 0º C)<br />
63.<br />
9 42.<br />
3<br />
- 166<br />
0.88<br />
4<br />
0.001 3<br />
Óleo diesel<br />
c<br />
JIS-2D<br />
(g<strong>as</strong>olina)<br />
b<br />
12-3.5(40<br />
º C)<br />
2 .8 (30º C)<br />
51<br />
58<br />
35.5<br />
42.7<br />
-<br />
-<br />
-<br />
59<br />
0.830-0.840<br />
( 15º C)<br />
0.833<br />
-<br />
0.05<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 39
lhorando <strong>as</strong> propriedades físic<strong>as</strong> dos<br />
<strong>com</strong>bustíveis para o motor a diesel<br />
(Clark et al., 1984). Assim, ésteres etílicos<br />
ou metílicos de ácidos graxos<br />
(conhecidos por biodiesel) obtidos por<br />
alcóolise de óleos vegetais podem ser<br />
usados <strong>com</strong>o <strong>com</strong>bustíveis alternativos<br />
para os motores a diesel.<br />
As propriedades do biodiesel e<br />
diesel são <strong>com</strong>parad<strong>as</strong> na tabela 1 (Sriv<strong>as</strong>tava<br />
and Pr<strong>as</strong>ad, 2000; Yamane et<br />
al., 2001; Varese and Varese, 1996).<br />
O biodiesel produzido a partir<br />
de vários óleos vegetais possui viscosidade<br />
próxima ao do diesel convencional.<br />
Os valores de poder calorífico<br />
inferior são menores, m<strong>as</strong> possuem<br />
número de cetano e ponto de fl<strong>as</strong>h<br />
altos. Uma vez que <strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />
do biodiesel são geralmente similares<br />
às do diesel, teoricamente, este é um<br />
forte candidato a substituir parcialmente<br />
o diesel, c<strong>as</strong>o sua produção a se<br />
viabilizar economicamente.<br />
Dentre <strong>as</strong> vantagens da utilização<br />
do biodiesel podem ser citad<strong>as</strong>:<br />
(I)<br />
(II)<br />
(III)<br />
(IV)<br />
É um <strong>com</strong>bustível nãoderivado<br />
do petróleo,<br />
m<strong>as</strong> proveniente de plant<strong>as</strong>,<br />
portanto sua <strong>com</strong>bustão<br />
não aumenta o nível<br />
atual de CO 2<br />
na atmosfera,<br />
Pode ser produzido localmente<br />
e em pequen<strong>as</strong><br />
escal<strong>as</strong>, reduzindo importação<br />
de petróleo,<br />
É biodegradável,<br />
Comparativamente, sua<br />
<strong>com</strong>bustão produz reduzidos<br />
níveis de CO, NO<br />
e material particulado.<br />
Trata-se de um fato estabelecido<br />
que a queima de biodiesel reduz<br />
substancialmente a emissão de SO x<br />
óxidos de enxofre e hidrocarbonetos.<br />
Existe um pequeno aumento atribuído<br />
à adaptação dos motores a diesel<br />
(Yamane et al., 2001-Sams, 1998).<br />
Yamane et al., 2001; recentemente<br />
publicaram que um biodiesel<br />
<strong>com</strong> boa taxa de ignição, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o<br />
alta concentração de metil oleato, gera<br />
menores níveis de NO, hidrocarbonetos,<br />
HCHO, CH 3<br />
CHO e HCOOH. Sheehan<br />
et al, 1998, publicaram um estudo<br />
mostrando que o benefício ambiental<br />
de utilizar o biodiesel é proporcional<br />
ao nível de mistura <strong>com</strong> o diesel<br />
<strong>com</strong>um.A queima do biodiesel<br />
(100%) pode reduzir em 78,45% <strong>as</strong><br />
emissões de CO 2<br />
. Misturado na faixa<br />
de 20% ao diesel <strong>com</strong>um, reduz<br />
15,66% a emissão de CO 2<br />
.<br />
As conseqüênci<strong>as</strong> disto podem<br />
ser vantajos<strong>as</strong> tanto do ponto de vista<br />
ambiental <strong>com</strong>o do ponto de vista<br />
econômico, o que justifica o crescente<br />
interesse no desenvolvimento d<strong>as</strong><br />
tecnologi<strong>as</strong> referentes à produção de<br />
biodiesel.<br />
Este trabalho busca sintetizar os<br />
processos de transesterificação de óleos<br />
existentes para a produção de biodiesel,<br />
enfatizando a importância da<br />
transesterificação enzimática.<br />
A reação de transesterificação<br />
Como já foi mencionado, o biodiesel<br />
pode ser produzido por pirólise,<br />
microemulsões ou transesterificação.<br />
A transesterificação (também<br />
chamada de alcóolise) é a reação de<br />
formação de ésteres a partir de óleos<br />
e álcoois, resultando em glicerol.<br />
Dentre os álcoois que podem<br />
ser empregados neste tipo de reação<br />
o metanol e o etanol são os mais empregados,<br />
principalmente pelo custo<br />
e su<strong>as</strong> propriedades físico-químic<strong>as</strong><br />
(menor cadeia carbônica). Estes podem<br />
reagir rapidamente <strong>com</strong> os triglicerídeos<br />
e o catalisador NaOH é facilmente<br />
dissolvido. Para <strong>com</strong>pleta transesterificação<br />
estequiométrica é necessário<br />
ter uma relação molar de 3:1,<br />
no mínimo, entre o álcool e triglicerídeos.<br />
A reação de transesterificação<br />
pode ser catalisada por álcalis, ácidos<br />
ou enzim<strong>as</strong>, e é o processo usado para<br />
produção de biodiesel nos Estados<br />
Unidos e na Europa. Essa reação também<br />
é usada na produção de ésteres<br />
metílicos para outr<strong>as</strong> aplicações <strong>com</strong>o<br />
detergentes e cosméticos. Os parâmetros<br />
importantes na reação de transesterificação<br />
são:<br />
a) A concentração de ácidos graxos<br />
livres nos óleos é fator<br />
importante na reação quando<br />
catalisada por NaOH, pois<br />
será maior seu requerimento<br />
para a neutralização. O conteúdo<br />
de água nos reagentes<br />
deve ser baixo, pois podem<br />
ser formados sabões no processo,<br />
o que aumenta a viscosidade<br />
final do produto e<br />
dificulta a separação do glicerol.<br />
(Bradshaw and Meuly,<br />
1944; Freedman et al., 1984;<br />
Feuge and Grose, 1949).<br />
b) O efeito da relação molar<br />
entre os reagentes é outro<br />
fator importante no rendimento<br />
da reação. Este fator<br />
está <strong>as</strong>sociado ao tipo de catalisador<br />
utilizado, por exemplo:<br />
Na catálise ácida necessita<br />
de 30:1 de butanol e óleo<br />
de soja, enquanto na alcalina<br />
só foi requerido 6:1 para atingir<br />
a mesma taxa de esterificação,<br />
por exemplo (Freedman<br />
et al., 1986).<br />
c) Os tipos de catalisadores possíveis<br />
são os ácidos (H 2<br />
SO 4<br />
,<br />
HCL, derivados H 2<br />
PO 4<br />
), alcalinos<br />
(KOH, NaOH) ou enzim<strong>as</strong><br />
(lip<strong>as</strong>es). A catálise alcalina<br />
é muito mais rápida do<br />
que a ácida, contudo, quando<br />
se utilizam óleos usados<br />
<strong>com</strong> alto teor de água e ácidos<br />
graxos livres, a catálise<br />
ácida é mais indicada (Sprules<br />
and Price, 1950- Freedman<br />
et al., 1986). Os estudos<br />
empregando lip<strong>as</strong>es<br />
<strong>com</strong>o biocatalizadores <strong>com</strong>eçaram<br />
a ser publicados no<br />
início da década de 90.<br />
d) O efeito do tempo de reação:<br />
normalmente o grau de<br />
esterificação aumenta <strong>com</strong> o<br />
tempo. As reações são rápid<strong>as</strong><br />
se a dispersão é boa, duram<br />
até 15 minutos n<strong>as</strong> catálises<br />
químic<strong>as</strong>.<br />
e) O efeito da temperatura é<br />
variável em função dos tipos<br />
de óleos e do catalisador. A<br />
metanólise alcalina de óleo<br />
de mamona ocorreu bem<br />
entre 20-35ºC (Smith, 1949).<br />
Cinética d<strong>as</strong> reações de<br />
transesterificação<br />
Existem muitos estudos relatados<br />
na literatura sobre a cinética da<br />
40 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Catálise<br />
Alcalina<br />
Catálise Enzimática<br />
Temperatura<br />
de reação<br />
60-70ºC 30-40ºC<br />
Ácidos graxos livres no óleo não<br />
refinado<br />
Água<br />
na matéria-prima<br />
Rendimento de<br />
metil ésteres<br />
Recuperação do glicerol<br />
Purificação de<br />
metil ésteres<br />
Produtos saponificados<br />
Interferência<br />
na reaçã o<br />
Norma<br />
l<br />
difíci<br />
l<br />
Lavagens consecutiva s<br />
Tabela 2. Comparação entre catálise alcalina e catálise enzimática <strong>com</strong> lip<strong>as</strong>es para<br />
a produção de biodiesel<br />
Metil éstere s<br />
Sem influênci a<br />
Alto<br />
Fáci l<br />
Nenhum a<br />
catálise ácida (Freedman et al., 1986-<br />
Eckey, 1956) e básica (Freedman et<br />
al., 1986; Noureddini and Zhu, 1997)<br />
d<strong>as</strong> reações de transesterificação. Dufek<br />
et al., 1972; estudaram a esterificação<br />
e transesterificação por catálise<br />
ácida do ácido 9(10)-carboniesterático<br />
e seus mono e di ésteres metílicos.<br />
Freedam et al., 1986; relatam a reação<br />
de transesterificação de óleo de<br />
soja e outros vegetais <strong>com</strong> álcoois,<br />
examinando o efeito do tipo de álcool,<br />
a relação molar entre os reagentes,<br />
tipo e concentração do catalisador e<br />
temperatura de reação na ordem e<br />
curso da reação. Tanto na presença<br />
de ácido, quanto na presença de b<strong>as</strong>e<br />
<strong>com</strong>o catalisadores, a reação apresentou-se<br />
<strong>com</strong>o sendo de pseudo-primeira<br />
ordem para o butanol e óleo de soja<br />
na proporção de 30:1. Na proporção<br />
de 6:1 de butanol e óleo de soja <strong>com</strong><br />
catalisador alcalino, a reação apresentou<br />
cinética de segunda ordem. Para<br />
metanol e óleo de soja (6:1) <strong>com</strong><br />
0,5% de metóxido de sódio, a cinética<br />
foi <strong>com</strong>binada de segunda e quarta<br />
ordem. Serão discutidos brevemente<br />
a seguir os efeitos da presença de ácidos<br />
graxos livres, da relação molar<br />
entre os reagentes e do tipo de catalisador<br />
no processo de transesterificação.<br />
Efeito da relação molar entre os<br />
reagentes: Uma variável importante na<br />
taxa de esterificação é a relação molar<br />
entre o álcool e o óleo. A<br />
estequiometria da reação de<br />
transesterificação requer 3 moles de<br />
álcool por mol de triglicerídeos, para<br />
render 3 moles de éster e um mol de<br />
glicerol (veja a Fig.1a). Alta relação<br />
molar resulta em maior obtenção de<br />
ésteres em menor tempo de reação.<br />
Na reação de alcóolise de óleo de<br />
amendoim <strong>com</strong> etanol, na proporção<br />
de (6:1), foi liberada maior quantidade<br />
de glicerol do que na proporção<br />
(3:1). Freedman et al.1984, estudaram<br />
ainda, o efeito da relação molar (de<br />
1:1 para 6:1) na conversão de óleos<br />
vegetais em ésteres metílicos. Os óleos<br />
de soja, gir<strong>as</strong>sol, amendoim e algodão<br />
apresentaram <strong>com</strong>portamento similar,<br />
<strong>com</strong> maior taxa de conversão atingida<br />
na proporção 6:1. Krisnangkura e<br />
Simamaharunop, 1992, estudaram a<br />
transesterificação de óleo de palma a<br />
70ºC em presença de solvente orgânico<br />
<strong>com</strong> metóxido de sódio <strong>com</strong>o<br />
catalisador. Observaram que a taxa de<br />
conversão aumentou <strong>com</strong> o aumento<br />
da relação molar entre o metanol e o<br />
óleo de palma. Assim, a relação molar<br />
de 6:1 é geralmente a mais empregada<br />
em processos industriais para obter<br />
ésteres metílicos em tax<strong>as</strong> de 98%<br />
de conversão (Feuge and Grose,<br />
1949; Fillieres and Delm<strong>as</strong>, 1995).<br />
Efeito do tipo de catalisador: O<br />
metóxido de sódio tem se mostrado<br />
mais efetivo do que o hidróxido de<br />
sódio, provavelmente por produzir<br />
menor concentração de água durante<br />
a reação, do que NaOH e MeOH<br />
(Freedman et al., 1984; Hartman,<br />
1956). Alcântara et al., 2000; reagiram<br />
três óleos – óleo de soja, óleo de<br />
fritura, e gordura de porco - <strong>com</strong><br />
metóxido de sódio em dois tipos diferentes<br />
de reação: a transesterificação<br />
e a amidação, <strong>com</strong> metanol e<br />
dietilamina, respectivamente. As<br />
amid<strong>as</strong> aumentam <strong>as</strong> propriedades de<br />
ignição do óleo diesel. Como, tanto o<br />
hidróxido de sódio, quanto o de potássio<br />
são capazes de catalisar a<br />
transesterificação, e sendo ambos<br />
muito baratos, são extensivamente<br />
aplicados na produção de biodiesel<br />
industrialmente.<br />
Catalisador químico: A reação de transesterificação<br />
<strong>com</strong> álcool pode ser representada<br />
pela equação geral ilustrada<br />
na Figura 1a. A Figura 1b mostra <strong>as</strong><br />
reações consecutiv<strong>as</strong> e reversíveis que<br />
sofrem os triglicerídeos na transesterificação.<br />
O primeiro p<strong>as</strong>so é a conversão<br />
dos triglicerídeos em diglicerídeos,<br />
que é seguida pela conversão<br />
dos últimos em monoglicerídeos e finalmente<br />
em glicerol, rendendo uma<br />
molécula de éster etílico em cada p<strong>as</strong>so<br />
(Freedman et al., 1986; Noureddini<br />
and Zhu, 1997).<br />
Catalisador enzimático: A cinética de<br />
transesterificação de triglicerídeos <strong>com</strong><br />
metanol (metanólise) catalisada por<br />
lip<strong>as</strong>e de Rhyzopus oryzal parece<br />
estar de acordo <strong>com</strong> o modelo teórico<br />
proposto (Kaieda et al.,2001), ou<br />
seja, inicialmente os triglicerídeos são<br />
hidrolisados pela lip<strong>as</strong>e em glicerídeos<br />
parciais e ácidos graxos livres, e depois<br />
são sintetizados os ésteres<br />
metílicos <strong>com</strong> metanol e os ácidos<br />
graxos livres (veja Fig. 1b). Isso sugere<br />
que, diferentemente da catálise alcalina,<br />
ácidos graxos livres contidos<br />
em óleos usados podem ser convertidos<br />
facilmente em ésteres na catálise<br />
enzimática.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 41
Transesterificação catalisada<br />
por ácidos in situ<br />
Os ácidos utilizados para transesterificação<br />
incluem sulfúrico, fosfórico,<br />
hidroclórico e ácidos sulfônicos<br />
orgânicos. Embora a transesterificação<br />
por catálise ácida seja mais lenta que<br />
a alcalina (Ma and Hanna, 1999; Sriv<strong>as</strong>tava<br />
and Pr<strong>as</strong>ad, 2000; Freedman<br />
et al., 1984), a transesterificação ácido<br />
é melhor quando o óleo usado tem<br />
alta concentração de ácidos graxos livres<br />
e água, <strong>com</strong>o é o c<strong>as</strong>o de óleos<br />
já utilizados para fritur<strong>as</strong> e etc. (Freedman<br />
et al., 1984; Aksoy et al., 1988).<br />
Aksoy et al. 1988, relatam que foi<br />
necessário realizar a reação de transesterificação<br />
em catálise ácida quando<br />
o óleo utilizado foi de oliva <strong>com</strong><br />
muitos <strong>com</strong>postos de enxofre. Em<br />
geral, os ésteres etílicos de ácidos graxos<br />
monossaturados ou de cadeia curta,<br />
<strong>com</strong> 2% de ácido sulfúrico podem<br />
ser bons <strong>com</strong>bustíveis alternativos<br />
(Klopfenstein, 1983).<br />
Transesterificação in situ difere<br />
do processo convencional porque<br />
se utiliza de óleo cru, diretamente <strong>com</strong><br />
álcool acidificado, em vez de óleo e<br />
álcool purificados. Ou seja, a extração<br />
e transesterificação ocorrem no mesmo<br />
processo <strong>com</strong> o álcool atuando<br />
em dois papéis: o de solvente extrator<br />
e na esterificação. A transesterificação<br />
in situ do óleo de gir<strong>as</strong>sol <strong>com</strong><br />
metanol acidificado produz ésteres<br />
metílicos <strong>com</strong> rendimento maior do<br />
que os obtidos <strong>com</strong> óleo pré-extraído<br />
(Harrington and D’Arey-Evans, 1985;<br />
Harrington and D’Arey-Evans, 1985).<br />
Kildiran et al., 1996; propuseram a<br />
transesterificação in situ do óleo de<br />
soja, enquanto Özgul e Türkay, 1993,<br />
relataram a esterificação in situ de óleo<br />
de arroz <strong>com</strong> diferentes álcoois monohidratados,<br />
explorando a vantagem<br />
de extração simultânea dos lipídeos<br />
neutros de sementes, quando a transesterificação<br />
in situ é empregada.<br />
Transesterificação catalisada<br />
por alcalina.<br />
As b<strong>as</strong>es empregad<strong>as</strong> na catálise<br />
do processo de transesterificação<br />
incluem NaOH, KOH, carbonatos e<br />
alcóxidos <strong>com</strong>o metóxido de sódio e<br />
butóxido de sódio. A transesterificação<br />
alcalina ocorre, aproximadamente,<br />
4000 vezes mais rápido do que a<br />
ácida (Formo, 1954), e é a mais empregada<br />
<strong>com</strong>ercialmente.<br />
No c<strong>as</strong>o da transesterificação<br />
alcalina, os glicerídeos e o álcool devem<br />
ser anidros, pois a presença de<br />
água favorece a reação de saponificação<br />
dos ácidos <strong>com</strong> o sal, formando<br />
sabões (Wright et al., 1944). O sabão<br />
consome o catalisador reduzindo a<br />
eficiência catalítica e aumentando a<br />
viscosidade. As conseqüênci<strong>as</strong> são a<br />
formação de gel e a dificuldade de<br />
separação do glicerol.<br />
Ma et al. 1998, sugeriram que<br />
a concentração livre de ácidos graxos<br />
no óleo refinado deve ser a menor<br />
possível, abaixo de 0,5%. Feuge e<br />
Grose, 1949, também reforçaram a<br />
importância dos óleos estarem livres<br />
de água e de ácidos graxos. Freedman<br />
et al. 1984, reportam que <strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de<br />
transesterificação são significativamente<br />
reduzid<strong>as</strong> se os reagentes não seguirem<br />
os requerimentos acima.<br />
Transesterificação utilizando<br />
fluidos supercríticos<br />
Com o objetivo de desenvolver<br />
um novo processo de metanólise<br />
de óleos sem qualquer catalisador,<br />
Saka e Kusdiana, 2001, fizeram um<br />
estudo fundamental para produção de<br />
biodiesel em metanol supercrítico.<br />
Demonstraram que o pré-aquecimento<br />
a 350ºC por 240s em metanol supercrítico,<br />
foi suficiente para converter<br />
óleo de semente de colza em ésteres<br />
metílicos. Os ésteres metílicos<br />
produzidos em metanol supercrítico<br />
foram os mesmos obtidos em catálise<br />
alcalina, m<strong>as</strong> <strong>com</strong> taxa de conversão<br />
maior. As análises cinétic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> reações<br />
demonstraram que a conversão de<br />
ésteres metílicos é muito mais rápida<br />
em condições supercrític<strong>as</strong>. As melhores<br />
condições foram a 350ºC e relação<br />
molar de 42:1 entre metanol e óleo<br />
(Kusdiana and Saka, 2001).<br />
Uma hipótese para a aceleração<br />
da reação é que metanol supercrítico<br />
tenha natureza hidrofílica <strong>com</strong><br />
baixa constante dielétrica, dessa forma,<br />
os triglicerídeos não polares podem<br />
ser bem solvatados pelo metanol<br />
supercrítico, formando um sistema<br />
unifásico de metanol/óleo. Além<br />
disso, o metanol líquido é um solvente<br />
polar e apresenta pontes de hidrogênio<br />
entre o OH-oxigênio e OH-hidrogênio<br />
formando clusters de metanol,<br />
dificultando o acesso do triglicerídeo.<br />
Est<strong>as</strong> podem ser algum<strong>as</strong> razões<br />
para a transesterificação supercrítica<br />
apresentar maior velocidade de reação.<br />
Assim <strong>com</strong>o na transesterificação<br />
enzimática, e ao contrário da<br />
alcalina, os ácidos graxos livres contidos<br />
no óleo também podem ser esterificados<br />
em metanol supercrítico.<br />
Além deste <strong>as</strong>pecto positivo, adiciona-se<br />
o fato de não utilizar catalisadores<br />
químicos, o que torna mais fácil a<br />
separação dos produtos dessa reação<br />
em relação à catálise alcalina. Devese<br />
observar que neste novo processo<br />
são requerid<strong>as</strong> alt<strong>as</strong> temperatur<strong>as</strong><br />
(350ºC) e pressões (45 MPa), além de<br />
grandes quantidades de metanol, e<br />
que, para aplicação industrial, são necessári<strong>as</strong><br />
mais investigações do processo.<br />
Transesterificação enzimática<br />
de óleos vegetais<br />
Nelson et al., 1996; foram os<br />
primeiros a estudar a alcóolise enzimática<br />
de triglicerídeos <strong>com</strong> o objetivo<br />
de produzir biodiesel. Quando a<br />
alcóolise de vários óleos e gordur<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> metanol e etanol foi conduzida<br />
usando lip<strong>as</strong>e imobilizada de R. michei<br />
na presença de hexano, mais de<br />
95% dos triglicerídeos foram convertidos<br />
em metil ou etil ésteres. A metanólise<br />
de gordura de carne atingiu<br />
65% de conversão, sem adição de solventes<br />
orgânicos. Foi observado que,<br />
quanto maior a cadeia carbônica do<br />
álcool empregado, maior foi a conversão<br />
da gordura de carne.<br />
Embora a transesterificação química,<br />
empregando catálise alcalina,<br />
resulte em alt<strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de conversão<br />
de triglicerídeos em seus respectivos<br />
ésteres, quando se trata de curtos tempos<br />
de reação, existem alguns inconvenientes<br />
ou desvantagens:<br />
1) tem altos g<strong>as</strong>tos energéticos,<br />
2) a recuperação do glicerol é<br />
difícil e demorada,<br />
3) remoção do catalisador é necessária,<br />
42 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
4) tratamento da água alcalina<br />
residual é requerida,<br />
5) Os substratos/reagentes devem<br />
ter baixa concentração<br />
de água e ácidos graxos livres.<br />
As lip<strong>as</strong>es extracelulares e <strong>as</strong><br />
intracelulares são também capazes de<br />
catalisar efetivamente a transesterificação<br />
de triglicerídeos em sistem<strong>as</strong><br />
aquosos ou não-aquosos. Isto pode ser<br />
observado na Tabela 2, que <strong>com</strong>para<br />
qualitativamente a catálise alcalina e<br />
enzimática em relação às característic<strong>as</strong><br />
do substrato e dos produtos obtidos.<br />
Em particular, deve ser observado<br />
que o subproduto glicerol pode ser<br />
facilmente recuperado, sem processos<br />
<strong>com</strong>plexos, e que os ácidos graxos<br />
livres nos óleos também são convertidos<br />
em seus ésteres correspondentes.<br />
Por outro lado, o custo de produção<br />
d<strong>as</strong> lip<strong>as</strong>es é significativamente<br />
maior do que dos catalisadores químicos.<br />
Transesterificação utilizando<br />
lip<strong>as</strong>es extracelulares:<br />
Vários tipos de álcoois podem ser<br />
empregados na transesterificação ca-<br />
talisada por lip<strong>as</strong>es. Linko et al., 1998,<br />
demonstraram a viabilidade da produção<br />
de diferentes ésteres biodegradáveis<br />
e poliésteres empregando lip<strong>as</strong>e.<br />
Na transesterificação de óleo de<br />
colza <strong>com</strong> 2-etil-1-hexanol, foi obtida<br />
uma taxa de 97% de conversão <strong>com</strong><br />
lip<strong>as</strong>e de cândida rugosa. De et al.,<br />
1999, estudaram a conversão de álcoois<br />
graxos em ésteres (C4-C18:1)<br />
empregando lip<strong>as</strong>e imobilizada de<br />
Mucor miehei (Lipozyme IM-20) em<br />
sistema livre de solventes orgânicos.<br />
A percentagem de conversão molar<br />
foi entre 86,8-99,2%. Estes resultados,<br />
entre outros, estão sintetizados na<br />
Tabela 3.<br />
Macedo et al., 2004; estudaram a<br />
esterificação direta de ácido acético,<br />
butírico e propiônico <strong>com</strong> álcool<br />
isoamílico para produção de ésteres<br />
de aroma. As lip<strong>as</strong>es empregad<strong>as</strong> foram<br />
microbian<strong>as</strong> não-<strong>com</strong>erciais de<br />
Geotrichum e Rhyzopus sp, e atingiram<br />
até 90% de conversão após 48h<br />
em meio aquoso.<br />
A transesterificação de<br />
triglicerídeos dos óleos de peixe, gir<strong>as</strong>sol<br />
e gordura vegetal <strong>com</strong> etanol,<br />
ou, etanólise, também foi estudada. Em<br />
todos os c<strong>as</strong>os, foram observad<strong>as</strong> tax<strong>as</strong><br />
de conversão acima de 80%, empregando<br />
lip<strong>as</strong>es de M. miehei (Selmi<br />
and Thom<strong>as</strong>, 1998), Cândida<br />
antartica (Breivk and Kriatinsson,<br />
1997), Pseudomon<strong>as</strong> cepacia (Wu et<br />
al., 1999) respectivamente.<br />
Nelson et al., 1996, investigaram<br />
<strong>as</strong> habilidades de lip<strong>as</strong>es<br />
transesterificarem triglicerídeos <strong>com</strong><br />
álcoois de cadeia curta. A lip<strong>as</strong>e de M.<br />
miehei foi a mais eficiente na conversão<br />
de triglicerídeos em su<strong>as</strong> alquil<strong>as</strong><br />
e ésteres <strong>com</strong> álcoois primários, enquanto<br />
a líp<strong>as</strong>e de C. antartica foi a<br />
mais eficiente na transesterificação de<br />
triglicerídeos <strong>com</strong> álcoois secundários<br />
na produção de ésteres ramificados.<br />
As tax<strong>as</strong> máxim<strong>as</strong> de conversão para<br />
os álcoois primários: metanol, etanol,<br />
propanol, butanol, isobutanol, foram<br />
de 94,8-98,5% e para os álcoois secundários:<br />
isopropanol e 2butanol, de<br />
61,2-83,8%, sempre na presença de<br />
hexano. N<strong>as</strong> reações livres de hexano,<br />
contudo, <strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de conversão para<br />
etanol e metanol decresceram até<br />
19,4%.<br />
Mittelbach, 1990, reportou a<br />
transesterificação dos álcoois<br />
primários: metanol, etanol e 1butanol,<br />
<strong>com</strong> e sem éter de petróleo <strong>com</strong>o<br />
solvente. Os resultados mostram que<br />
<strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de conversão obtid<strong>as</strong> para<br />
Tabela 3. Transesterificação enzimática utilizando diferentes tipos de álcoois e lip<strong>as</strong>es<br />
Óleo<br />
Álcool<br />
L ip<strong>as</strong>e<br />
Conversão(%<br />
)<br />
S olvente<br />
Ref.<br />
Semente<br />
de colza<br />
2-etil-1-hexano<br />
l C.<br />
rugos a<br />
97<br />
n enhu m Linko, at al, 1998 .<br />
Mowrah,<br />
Manga, Kernel<br />
Gir<strong>as</strong>sol<br />
álcooi<br />
s<br />
4-<br />
C . miehei (Lipozyme IM-20)<br />
C 18:<br />
1<br />
M 86.8-99.<br />
2 Nenhu m<br />
E tano l<br />
M.<br />
miehei (Lipozyme ) 83<br />
Nenhu m<br />
De and Bandhu,<br />
1999<br />
Selmi and<br />
Thom<strong>as</strong>, 1998<br />
Peixe<br />
Etano<br />
l<br />
C.<br />
antartic a<br />
100<br />
Nenhu m<br />
Breivik at al.,<br />
1997<br />
Gordura reciclada<br />
restaurantes<br />
de<br />
Etanol<br />
P. cepacia (Lip<strong>as</strong>e OS-30)+ C.<br />
antártica (Lip<strong>as</strong>e SP435)<br />
85.4<br />
Nenhu<br />
m Wu at al., 199 9<br />
Sebo, soja, óleo de<br />
semente de colza<br />
a<br />
Álcoois primários<br />
álcoois secundários<br />
metanol etanol<br />
b<br />
M.miehei (LipozymeIM60)<br />
C. antartica (SP435)<br />
M.miehei (LipozymeIM60)<br />
M.miehei (LipozymeIM60)<br />
94.8-98.5<br />
61.2-83.8<br />
19.4<br />
65.5<br />
Hexano<br />
Hexano<br />
Nenhum<br />
Nenhum<br />
Nelson at al.,<br />
1996<br />
Gir<strong>as</strong>sol<br />
Metanol<br />
Metanol<br />
Etanol<br />
P. fluorescens<br />
3<br />
79<br />
82<br />
Nenhum<br />
Éter de petróleo<br />
Nenhum<br />
Mittelbach, 1990<br />
Palma<br />
M etanolEtano l P.<br />
cepacia (Lip<strong>as</strong>e PS-30)<br />
157<br />
2<br />
NenhumNenhu<br />
m Abigor at al., 200 0<br />
a<br />
Metanol, etanol, propanol, butanol e isobutanol.<br />
b<br />
Isopropanol e 2-butanol.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 43
Tabela 4. Processos de metanólise efetivos tanto <strong>com</strong> lip<strong>as</strong>es intracelulares quanto <strong>com</strong> lip<strong>as</strong>es extracelulares.<br />
Lip<strong>as</strong>e<br />
Regioespecifidade<br />
Processo<br />
e operação<br />
Metil éster<br />
Tempo de<br />
reação(h)<br />
Ref.<br />
a<br />
C.<br />
antártica<br />
(Novozym 435)<br />
Nenhuma<br />
Processo semi-contínuo<br />
Operação contínua<br />
Processo em batelada<br />
96-98<br />
92-94<br />
87<br />
48<br />
7 h<br />
3. 5<br />
Shimada at al., 1999<br />
Watanabe at al., 2000<br />
Samukawa at al., 2000<br />
b<br />
C.<br />
rugosa , P. cepaci a b<br />
,<br />
b<br />
Nenhum<br />
a<br />
P.<br />
fluorescence<br />
Processo em batelad a 80-100<br />
80-90<br />
Kaieda at al., 2001<br />
b<br />
R.<br />
oryzae (F-AP15) 1(3)-regioespecificidad e<br />
Processo em batelada<br />
Processo em batelada<br />
80-90<br />
80-90<br />
70<br />
72<br />
Kaieda at al., 1999<br />
Ban at al., 2001<br />
c<br />
R.<br />
oryzae IFO4697 1(3)-regioespecificidad<br />
e Processo semi-contínu o 70-80<br />
72<br />
Ban at al., 200 2<br />
a<br />
Lip<strong>as</strong>e extracelular imobilizada em resina de troca iônica.<br />
b<br />
Lip<strong>as</strong>e extracelular em pó.<br />
c<br />
Célul<strong>as</strong> de lip<strong>as</strong>e intracelular imobilizada.<br />
d<br />
Adição de metanol em três p<strong>as</strong>sos; mistura de reagentes óleo/metanol (1:1, mol/mol) alimentada a cada p<strong>as</strong>so.<br />
e<br />
Reação contínua <strong>com</strong> alimentação de metanol em três etap<strong>as</strong>.<br />
f<br />
Pré-tratamento da líp<strong>as</strong>e imobilizada <strong>com</strong> metil oleato e óleo de soja.<br />
g<br />
Tratamento de célul<strong>as</strong> imobilizad<strong>as</strong> utilizando glutaraldeido.<br />
h<br />
Tempo de residência total.<br />
etanol e 1butanol foram relativamente<br />
alt<strong>as</strong>, tanto na presença, quanto na<br />
ausência de solvente orgânico. No<br />
entanto, na reação <strong>com</strong> metanol,<br />
somente traços de ésteres metílicos<br />
foram obtidos.<br />
Abigor et al., 2000; também<br />
observou que na conversão de óleo<br />
de palma por lip<strong>as</strong>e P. cepacia, o<br />
etanol atingiu melhores tax<strong>as</strong> de conversão<br />
(72%) que o metanol (15%).<br />
As lip<strong>as</strong>es são conhecid<strong>as</strong> por<br />
terem a propensão a agir mais efetivamente<br />
em molécul<strong>as</strong> de cadeia<br />
carbônica longa do que de cadei<strong>as</strong><br />
carbônic<strong>as</strong> curt<strong>as</strong> (Shimada et al.,<br />
1997; Shimada et al., 1998). Assim, de<br />
modo geral, a eficiência da<br />
transesterificação dos triglicerídeos<br />
<strong>com</strong> metanol parece ser muito menos<br />
favorecida do que <strong>com</strong> etanol,<br />
tanto em sistem<strong>as</strong> <strong>com</strong>, <strong>com</strong>o em sistem<strong>as</strong><br />
sem solventes orgânicos.<br />
Recentemente, uma série de<br />
trabalhos de pesquisa foram publicados<br />
a respeito da alcóolise de óleos<br />
por lip<strong>as</strong>es, a síntese dos resultados<br />
principais destes trabalhos encontr<strong>as</strong>e<br />
na Tabela 4. Shimada et al., 1999;<br />
observaram que a lip<strong>as</strong>e imobilizada<br />
de C. antartica (Novozym 435) mostrou-se<br />
mais efetiva na metanólise do<br />
que outr<strong>as</strong> lip<strong>as</strong>es testad<strong>as</strong>. O grupo<br />
desenvolveu um processo de adição<br />
do metanol em etap<strong>as</strong>, o que se mostrou<br />
necessário, uma vez que a enzima<br />
foi inativada pela agitação em sistem<strong>as</strong><br />
contendo mais de 1,5 moles de<br />
metanol por mol de óleo. Como resultado,<br />
foi mantida uma taxa de mais<br />
de 95% de conversão após 50 ciclos<br />
de reação, em processo de adição<br />
contínua de metanol.<br />
Watanabe et al.,2000; demonstrou<br />
um processo de metanólise efetivo,<br />
utilizando um sistema em<br />
batelada, <strong>com</strong> 2 e 3 etap<strong>as</strong> e a<br />
Novozym 435. A taxa de conversão<br />
molar no final do último estágio foi de<br />
90-93%, e a lip<strong>as</strong>e pode ser reutilizada<br />
por 100 ciclos, sem perder atividade.<br />
O efeito do pré-tratamento da<br />
lip<strong>as</strong>e 435 em metanol para<br />
metanólise de óleos foi investigada por<br />
Samukaiva et al.2000.<br />
A metanólise progrediu muito<br />
mais rápido quando a Novozym 435<br />
foi pré-incubada em metiloleato por<br />
0,5 hor<strong>as</strong> e subseqüentemente em<br />
óleo soja por 12h. Como resultado, a<br />
taxa de conversão atingiu 97% em<br />
3,5hor<strong>as</strong> de reação, <strong>com</strong> adição contínua<br />
de 0,33 moles de metanol após<br />
cada 0,25-0,4h de reação.<br />
Kaieda et al., 2001; estudaram<br />
a metanólise de óleo de soja <strong>com</strong><br />
lip<strong>as</strong>es não regioseletiva e 1(3)-<br />
regioespecífica em sistema aquoso. As<br />
lip<strong>as</strong>es não regioespecífic<strong>as</strong> de C. rugosa,<br />
P. cepacia e P. fluorescens mostraram<br />
alta atividade catalítica <strong>com</strong><br />
presença de 4-30% de água no sistema.<br />
A lip<strong>as</strong>e de R. oryzae, que exibe<br />
1(3)-regioseletividade (Okumura et<br />
al., 1976; Scheib et al., 1998) também<br />
foi efetiva na metanólise do óleo de<br />
soja atingindo 80% de conversão.<br />
Os principais resultados dos<br />
estudos mencionados (entre outr<strong>as</strong><br />
publicações) podem ser sintetizados<br />
da seguinte forma (Shimada et al.,<br />
2002):<br />
a) <strong>as</strong> lip<strong>as</strong>es catalisam a<br />
alcóolise de triglicerídeos e <strong>as</strong><br />
reações ocorrem mais eficientemente<br />
se a cadeia<br />
carbônica for maior do que a<br />
do etanol e metanol;<br />
b) a alcóolise de metanol e<br />
etanol ocorre mais eficientemente<br />
na presença de<br />
solvente orgânico do que em<br />
meio aquoso;<br />
c) a não ser que a lip<strong>as</strong>e seja<br />
imobilizada e permita a<br />
reutilização, o processo pode<br />
ser muito dispendioso;<br />
d) <strong>as</strong> vantagens ambientais do<br />
processo enzimático são<br />
evidentes: menor g<strong>as</strong>to<br />
energético <strong>com</strong> temperatura<br />
e pressão alta, mais fácil<br />
recuperação dos produtos e<br />
menor quantidade de glicerol<br />
<strong>com</strong>o subproduto.<br />
44 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Conclusão<br />
Os estudos de transesterificação<br />
enzimática ainda são muito recentes,<br />
m<strong>as</strong> já demonstram o potencial desta<br />
tecnologia na transesterificação de<br />
óleos vegetais. As vantagens da reação<br />
enzimática frente às tecnologi<strong>as</strong><br />
químic<strong>as</strong> são evidentes, e justificam o<br />
investimento em pesquis<strong>as</strong> e desenvolvimento<br />
de tecnologia nacional para<br />
implantação no Br<strong>as</strong>il.<br />
Tomando <strong>com</strong>o exemplo o<br />
que ocorreu <strong>com</strong> a indústria de gordur<strong>as</strong><br />
e óleos na década de oitenta,<br />
tendo sido substituído o processo de<br />
hidrólise química pelo enzimático<br />
<strong>com</strong> aumento de qualidade e de produtividade,<br />
a indústria do biodiesel<br />
deve conhecer e testar <strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong><br />
enzimátic<strong>as</strong> para este processo.<br />
Referênci<strong>as</strong> bibliográfic<strong>as</strong><br />
Abigor, R., Uadia, P., Foglia, T.,<br />
Ha<strong>as</strong>, M., Jones, K., Okpefa,<br />
E., Obibuzor, J., and Bafor, M.:<br />
Lip<strong>as</strong>e-catalysed production of<br />
biodiesel fuel from Nigerian lauric<br />
oils. Biochem. Soc. Trans., 28, 979-<br />
981 (2000).<br />
Aksoy, H. A., Kahraman, I.,<br />
Karaosmanoglu, F., and<br />
Civelekoglu, H.: Evaluation of<br />
Turkish sulphur olive oil <strong>as</strong> an<br />
alternative diesel fuel. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 65, 936-938 (1988).<br />
Alcantara, R., Amores, J., Canoira,<br />
L., Fidalgo, E., Franco, M. J.,<br />
and Navarro, A.: Catalytic production<br />
of biodiesel from soy-bean<br />
oil, used frying oil to diesel and<br />
tallow. Biom<strong>as</strong>s Bioenerg., 18, 515-<br />
527 (2000).<br />
Ban, K., Hama, S., Nishizuka, K.,<br />
Kaieda, M., Matsumoto, T.,<br />
Kondo, A., Noda, H., Fukuda,<br />
H.: Repeated use of whole cell<br />
biocatalysts immobilized within<br />
biom<strong>as</strong>s support particles for<br />
Biodiesel fuel production. J. Mol.<br />
Catal. B: Enz, 2002.<br />
Ban, K., Kaieda, M., Matsumoto,<br />
T., Kondo, A., and Fukuda, H.:<br />
Whole cell biocatalysts for<br />
Biodiesel fuel production utilizing<br />
Rhizopus oryzae cells immobilized<br />
within biom<strong>as</strong>s support particles.<br />
Biochem. Eng. J., 8, 39-43,<br />
2001.<br />
Bartholomew, D.: Vegetable oil fuel.<br />
J. Am. Oil Chem. Soc., 58, 286A-<br />
288A (1981).<br />
Billaud, F., Dominguez, V., Broutin,<br />
P., and Busson, C.: Production<br />
of hydrocarbons by pyrolyses of<br />
methyl esters from rapeseed oil. J.<br />
Am. Oil Chem. Soc., 72, 1149-<br />
1154 (1995).<br />
Bradshaw, G. B. and Meuly, W. C.:<br />
Preparation of detergents. US<br />
Patent 2, 360-844, 1944.<br />
Breivik, H., Haraldsson, G. G., and<br />
Kristinsson, B.: Preparation of<br />
highly purified concentrates of<br />
eicosapentaenoic acid and<br />
docosahexaenoic acid. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 74, 1425-1429 (1997).<br />
Clark, S. J., Wangner, L., Schrock,<br />
M. D., and Piennaar, P. G.:<br />
Methyl and ethyl soybean esters<br />
<strong>as</strong> renewable fuels for diesel engines.<br />
J. Am. Oil Chem. Soc., 61,<br />
1632-1638 (1984).<br />
De, B. K., Bhattacharyya, D. K.,<br />
and Bandhu, C.: Enzymatic synthesis<br />
of fatty alcohol esters by<br />
alcoholysis. J. Am. Oil Chem. Soc.,<br />
76, 451-453 (1999).<br />
Dufek, E. J., Butterfield, R. O., and<br />
Frankel, E. N.: Esterification and<br />
transesterification of 9(10)-<br />
carboxystearic acid and its methyl<br />
esters. Kinetic studies. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 49, 302-319 (1972).<br />
Eckey, E. W.: Esterification and<br />
interesterification. J. Am. Oil Chem.<br />
Soc., 33, 575-579 (1956).<br />
Feuge, R. O. and Grose, T.: Modification<br />
of vegetable oils. VII. Alkali<br />
catalyzed interesterification of<br />
peanut oil with ethanol. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 26, 97-102 (1949).<br />
Fillieres, R., Benjelloun-Mlayah,<br />
B., and Delm<strong>as</strong>, M.: Ethanolysis<br />
of rapeseed oil: quantitation of<br />
ethyl esters, mono-, di-, and triglycerides<br />
and glycerol by high<br />
performance size-exclusion chromatography.<br />
J. Am. Oil Chem. Soc.,<br />
72, 427-432 (1995).<br />
Formo, M. W.: Ester reactions of fatty<br />
materials. J. Am. Oil Chem. Soc.,<br />
31, 548-559 (1954).<br />
Freedman, B., Butterfield, R. O.,<br />
and Pryde, E. H.:<br />
Transesterification kinetics of soybean<br />
oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 63,<br />
1375-1380 (1986).<br />
Freedman, B., Pryde, E. H., and<br />
Mounts, T. L.: Variables affecting<br />
the yields pf fatty esters from<br />
transesterified vegetable oils. J.<br />
Am. Oil Chem. Soc., 61, 1638-<br />
1643 (1984).<br />
Grossley, T. D., Heyes, T. D., and<br />
Hudson, B. J. F.: The effect of<br />
heat on pure triglycerides. J. Am.<br />
Oil. Chem. Soc., 39, 9-14 (1962).<br />
Harrington, K. J. and D’Arey-<br />
Evans, C.: A <strong>com</strong>parison of conventional<br />
and in situ methods of<br />
transesterification of seed oil from<br />
a series of sunflower cultivars. J.<br />
Am. Oil Chem. Soc., 62, 1009-<br />
1013 (1985).<br />
Harrington, K. J. and D’Arey-<br />
Evans, C.: Transesterification in<br />
situ of sunflower seed oil. Ind.<br />
Eng. Chem. Prod. Res. Dev., 24,<br />
314-318 (1985).<br />
Hartman, L.: Methanolysis of triglycerides.<br />
J. Am. Oil Chem. Soc., 33,<br />
129-132 (1956).<br />
Kaieda, M., Samukawa, T., Kondo,<br />
A., and Fukuda, H.: Effect of<br />
methanol and water contents on<br />
production of biodiesel fuel from<br />
plant oil catalyzed by various lip<strong>as</strong>es<br />
in a solvent-free system. J.<br />
Biosc. Bioeng., 91, 12-15 (2001).<br />
Kaieda, M., Samukawa, T.,<br />
Matsumoto, T., Ban, K., Kondo,<br />
A., Shimada, Y., Noda, H.,<br />
Nomoto, F., Ohtsuka, K.,<br />
Izumoto, E., and Fukuda, H.:<br />
Biodiesel fuel production from<br />
plant oil catalyzed by Rhizopus<br />
oryzae lip<strong>as</strong>e in a water-containing<br />
system without an organic solvent.<br />
J. Biosci. Bioeng., 88, 627-<br />
631, 1999.<br />
Kildiran, G., Özgül, S., and Türkay,<br />
S.: In-situ alcoholysis of soybean<br />
oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 73, 225-<br />
228 (1996).<br />
Klopfenstein, W. E. and Walker,<br />
H. S.: Efficiencies of various esters<br />
of fatty acids <strong>as</strong> diesel fuels. J. Am.<br />
Oil Chem. Soc., 60, 1595-1598<br />
(1983).<br />
Krisnangkura, K. And<br />
Simamaharunop, R.: Continuous<br />
transmethylation of palm oil in<br />
an organic solvent. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 69, 166-169 (1992).<br />
Kusdiana, D., and Saka, S.: Kinet-<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 45
ics of transesterification in rapeseed<br />
oil to biodiesel fuel treated in<br />
supercritical methanol. Fuel, 80,<br />
693-698 (2001).<br />
Linko, Y.-Y., Lämsä, M., Wu, X.,<br />
Uosukaineu, W., Sappälä, J.,<br />
and Linko, P.: Biodegradable<br />
products by lip<strong>as</strong>e biocatalysis. J.<br />
Biotechnol., 66, 41-50 (1998).<br />
Ma, F. and Hanna, M. A.: Biodiesel<br />
production: a review. Bioresour.<br />
Technol., 70, 1-15 (1999).<br />
Ma, F., Clements, L. D., and Hanna,<br />
M. A.: Biodiesel fuel from animal<br />
fat. Ancillary studies on<br />
transesterification of beef tallow.<br />
Ind. Eng. Chem. Soc., 37, 3768-<br />
3771 (1998).<br />
Mittelbach, M.: Lip<strong>as</strong>e catalyzed alcoholysis<br />
of sunflower oil. J. Am.<br />
Oil Chem. Soc., 67, 168-170<br />
(1990).<br />
Nelson, L.A., Foglia, A., and<br />
Marmer, W. N.: Lip<strong>as</strong>e-catalyzed<br />
production of biodiesel. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 73, 1191-1195 (1996).<br />
Noureddini, H. and Zhu, D.: Kinetics<br />
of transesterification of soybean<br />
oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 74,<br />
1457-1463 (1997).<br />
Okumura, S., Iwai, M., and<br />
Tsujikawa, T.: Positional specificities<br />
of four kinds of microbial<br />
lip<strong>as</strong>es. Agr. Biol. Chem., 40, 655-<br />
660 (1976).<br />
Özgül, S., and Türkay, S.: In situ<br />
esterification of rice bran oil with<br />
methanol and ethanol. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 70, 145-147 (1993).<br />
Saka, S., and Kusdiana, D.: Biodiesel<br />
fuel from rapeseed oil <strong>as</strong> prepared<br />
in supercritical methanol. Fuel, 80,<br />
225-231 (2001).<br />
Sams, T.: Exhaust <strong>com</strong>ponents of<br />
biofuels under real world engine<br />
conditions, p. 64-77. In Martini, N.<br />
and Schell, J. S. (ed.), Plant oils <strong>as</strong><br />
fuels. Springer-Verlag, Heidelberg<br />
(1998).<br />
Samukawa, T., Kaieda, M.,<br />
Matsumoto, T., Ban, K., Kondo,<br />
A., Shimada, Y., Noda, H., and<br />
Fukuda, H.: Pretreatment of immobilized<br />
Candida antarctica lip<strong>as</strong>e<br />
for biodiesel fuel production<br />
from plant oil. J. Biosci. Bioeng.,<br />
90, 180-183 (2000).<br />
Scheib, H., Pleiss, J., Stadler, P.,<br />
Kovac, A., Potthoff, A. P.,<br />
Haalck, L., Spener, F., Paltauf,<br />
F., and Schmid, R. D.: Rational<br />
design of Rhizopus oryzae lip<strong>as</strong>e<br />
with modified steleoselectivity<br />
toward triadylglycerols. Protein<br />
Eng., 11, 675-682 (1998).<br />
Schwab, A. W., Bagby, M. O., and<br />
Feedman, B.: Preparation and<br />
properties of diesel fuels from<br />
vegetable oils. Fuel, 66, 1372-1378<br />
(1987).<br />
Schwab, A. W., Dykstra, G. J.,<br />
Selke, E., Sorenson, S. C., and<br />
Pryde, E. H.: Diesel fuel from<br />
thermal de<strong>com</strong>position of soybean<br />
oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 65,<br />
1781-1786 (1988).<br />
Selmi, B. and Thom<strong>as</strong>, D.: Immobilized<br />
lip<strong>as</strong>e-catalyzed ethanolysis<br />
of sunflower oil in solvent-free<br />
medium. J. Am. Oil Chem. Soc.,<br />
75, 691-695 (1998).<br />
Sheehan, J., Camobresco, V.,<br />
Duffield, J., Graboski, M., and<br />
Shapouri, H.: An overview of<br />
biodiesel and petroleum diesel life<br />
cycles. Report of National Renewable<br />
Energy Laboratory (NREL)<br />
and US-Department of Energy<br />
(DOE). T<strong>as</strong>k No. BF886002, May<br />
(1998).<br />
Shimada, Y., Sugihara, A.,<br />
Minamigawa,<br />
Y.,<br />
Hig<strong>as</strong>hiyamna, K., Akimoto,<br />
K., Fujikawa, S., Komemushi,<br />
S., and Tominaga, Y.: Enzymatic<br />
enrichment of arachdonic<br />
acid from Mortierella single-cell<br />
oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 75,<br />
1213-1217 (1998).<br />
Shimada, Y., Sugihara, A., Nakano,<br />
H., Kuramoto, T., Nagno, T.,<br />
Gemba, M., and Tominaga, Y.:<br />
Purification of docosahexaenoic<br />
acid by selective esterification of<br />
fatty acids from tuna oil with Rhizopus<br />
delemar lip<strong>as</strong>e. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 74, 97-101 (1997).<br />
Shimada, Y., Watanabe, Y.,<br />
Samukawa, T., Sugihara, A.,<br />
Noda, H., Fukuda, H., and<br />
Tominaga, Y.: Convertion of<br />
vegetable oil to biodiesel using<br />
immobilized Candida antarctica<br />
lip<strong>as</strong>e. J. Am. Oil Chem. Soc., 76,<br />
789-793 (1999).<br />
Shimada, Y., Watanabe, Y.,<br />
Sugihara, A., Tominaga, Y.:<br />
Enzymatic alcoholysis for Biodiesel<br />
fuel production and application of<br />
the reaction to oil processing. J. of<br />
Molecular Catalysis B: Enzymatic,<br />
17, 133-142, 2002.<br />
Smith, M.K.: Process of producing<br />
esters. US Patent 2, 444-486, 1949.<br />
Sprules, F. J. and Price, D.: Production<br />
of fatty esters. US Patent 2,<br />
366-494, 1950.<br />
Sriv<strong>as</strong>tava, A. and Pr<strong>as</strong>ad, R.: Triglycerides-b<strong>as</strong>ed<br />
diesel fuels. Renew.<br />
Sust. Energ. Rev., 4, 111-133<br />
(2000).<br />
Varese, R. and Varese, M.: Methyl<br />
ester biodiesel: opportunity or<br />
necessity? Inform, 7, 816-824<br />
(1996).<br />
Watanabe, Y., Shimada, Y.,<br />
Sugihara, A., Noda, H., Fukuda,<br />
H., and Tominaga, Y.: Continuous<br />
production of biodiesel fuel<br />
from vegetable oil using immobilized<br />
Candida antarctica lip<strong>as</strong>e. J.<br />
Am. Oil Chem. Soc., 77, 355-360<br />
(2000).<br />
Wright, H. J., Segur, J. B., Clark, H.<br />
V., Cobura, S. K., Langdon, E.<br />
E., and DuPuis, R. N.: A report<br />
on ester interchange. Oil Soap, 21,<br />
145-148 (1944).<br />
Wu, W. H., Foglin, T. A., Marmer,<br />
W. N., and Phillips, J. G.: Optimizing<br />
production of ethyl esters<br />
of gr<strong>as</strong>e using 95% ethanol by<br />
response surface methodology. J.<br />
Am. Oil Chem. Soc., 76, 517-521<br />
(1999).<br />
Yamane, K., Ueta, A., and<br />
Shimamoto, Y.: Influence of<br />
physical and chemical properties<br />
of biodiesel fuel on injection, <strong>com</strong>bustion<br />
and exhaust emission characteristics<br />
in a DI-CI engine. Proc.<br />
5 th Int. Symp. On Diagnostics and<br />
Modeling of Combustion in Internal<br />
Combustion Engines<br />
(COMODIA 2001). Nagoya, p. 402-<br />
409 (2001).<br />
Ziejewski, M. and Kaufman, K. R.:<br />
Laboratory endurance test of a<br />
sunflower oil blend in a diesel<br />
engine. J. Am. Oil Chem. Soc., 60,<br />
1567-1573 (1983).<br />
Ziejewski, M., Kaufman, K. R.,<br />
Schwab, A. W., and Pryde, E.<br />
H.: Diesel engine evaluation of a<br />
nonionic sunflower oil – aqueous<br />
ethanol microemulsion. J. Am. Oil<br />
Chem. Soc., 61, 1620-1626 (1984).<br />
46 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
<strong>Biotecnologia</strong> aplicada ao valor<br />
Pesquisa<br />
nutricional dos alimentos<br />
Biofortificação<br />
Neuza Maria Brunoro Costa<br />
PhD em Nutrição Humana, professora do<br />
Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade<br />
Federal de Viçosa, Viçosa, MG<br />
nmbc@ufv.br<br />
Fotos cedid<strong>as</strong> pela autora<br />
biotecnologia b<strong>as</strong>eia-se na<br />
habilidade de introduzir,<br />
<strong>com</strong> precisão, construções<br />
gênic<strong>as</strong> em um organismo,<br />
usando a tecnologia<br />
do DNA re<strong>com</strong>binante ou técnic<strong>as</strong> de<br />
engenharia genética para alterar os<br />
seus processos metabólicos favoravelmente.<br />
A maioria d<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> de melhoramento<br />
de plant<strong>as</strong> d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> últim<strong>as</strong><br />
décad<strong>as</strong> tem sido direcionada para<br />
aumentar a produtividade e resistência<br />
a doenç<strong>as</strong> e prag<strong>as</strong>. Atualmente, a<br />
aplicação de biotecnologia às plant<strong>as</strong><br />
tem sido direcionada para aumentar<br />
sua qualidade nutricional (Zimmermann<br />
e Hurrel, 2002).<br />
Segundo Kishore e Shewmaker<br />
(1999), o desenvolvimento da biotecnologia<br />
pode ser dividido em três f<strong>as</strong>es.<br />
A primeira f<strong>as</strong>e consistiu na introdução<br />
de característic<strong>as</strong> agronômic<strong>as</strong>.<br />
Desde 1995, alguns produtos <strong>com</strong><br />
melhores <strong>as</strong>pectos culturais têm sido<br />
lançados no mercado, <strong>com</strong> a soja Roundup<br />
Ready, tolerante ao glifosato, um<br />
ingrediente ativo do herbicida Roundup.<br />
Outro exemplo de produto <strong>com</strong><br />
melhores <strong>as</strong>pectos culturais é o milho<br />
YieldGard. Este milho possui um gene<br />
que codifica para uma proteína inseticida<br />
que ocorre naturalmente na bactéria<br />
Bacillus thuringiensis e confere<br />
resistência à broca no milho, inseto que<br />
infesta a cultura e reduz sua produção<br />
de 6% a 20%.<br />
A segunda f<strong>as</strong>e da biotecnologia<br />
visa à produção de cultur<strong>as</strong> de melhor<br />
qualidade. O melhoramento genético<br />
clássico tem produzido alimentos diferenciados,<br />
<strong>com</strong>o a canola <strong>com</strong> alto teor<br />
de ácido erúcico e glicosinolato, milho<br />
ceroso <strong>com</strong> alto teor de amilose, arroz<br />
<strong>com</strong> grão longo e trigo durrun. Vários<br />
produtos para ração animal estão sendo<br />
desenvolvidos, entre os quais aqueles<br />
<strong>com</strong> grãos <strong>com</strong> alta densidade calórica,<br />
devido ao elevado conteúdo de<br />
óleo; e os de grãos <strong>com</strong> alta densidade<br />
de nutrientes, principalmente teor de<br />
proteína, aminoácidos essenciais ou<br />
micronutrientes. O milho <strong>com</strong> alto teor<br />
de óleo (6% ou mais) e/ou alto teor de<br />
proteína é resultado do melhoramento<br />
molecular. Outro exemplo da biotecnologia,<br />
introduzindo genes que alteram<br />
vi<strong>as</strong> metabólic<strong>as</strong>, é a produção de<br />
gordura sólida ou semi-sólida sem ácidos<br />
graxos trans n<strong>as</strong> sementes oleaginos<strong>as</strong>.<br />
Isso é possível, inibindo-se a<br />
conversão de ácido esteárico para oléico<br />
em soja e canola. A melhoria de<br />
atributos <strong>com</strong>o flatulência, flavor do<br />
feijão, propriedades de textura e emulsificação<br />
da soja também são exemplos<br />
de novos produtos da biotecnologia<br />
da segunda f<strong>as</strong>e.<br />
A terceira f<strong>as</strong>e da biotecnologia<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 47
objetiva o uso de plant<strong>as</strong> <strong>com</strong>o<br />
“biofábric<strong>as</strong>” produzindo alimentos<br />
nutricionalmente fortificados<br />
e substituindo a adição<br />
de constituintes sintéticos aos<br />
alimentos. Um exemplo é o<br />
óleo de canola rico em caroteno.<br />
Desse modo, a biotecnologia<br />
pode ser utilizada para suprir<br />
<strong>as</strong> deficiênci<strong>as</strong> nutricionais,<br />
<strong>com</strong>o a vitamina A. A biotecnologia<br />
também pode ser usada<br />
para reduzir o conteúdo de fatores<br />
antinutricionais, <strong>as</strong>sim<br />
<strong>com</strong>o para fornecer novos nutrientes<br />
nos grãos, <strong>com</strong>o os fitoesteróis,<br />
os quais têm o potencial de reduzir<br />
de 10% a 15% os níveis de colesterol<br />
em humanos. Outr<strong>as</strong> aplicações da<br />
biotecnologia para um futuro próximo<br />
incluem a modulação de doenç<strong>as</strong> pela<br />
manipulação de <strong>com</strong>postos antioxidantes,<br />
antiinflamatórios e estimulantes<br />
do sistema imune nos alimentos.<br />
Proteín<strong>as</strong><br />
A melhoria do valor nutricional de<br />
plant<strong>as</strong>, enfocando a <strong>com</strong>posição de<br />
aminoácidos d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>, tem sido<br />
objeto de program<strong>as</strong> de melhoramento<br />
de plant<strong>as</strong> há vári<strong>as</strong> décad<strong>as</strong>. As<br />
proteín<strong>as</strong> dos cereais são normalmente<br />
pobres em certos aminoácidos essenciais.<br />
Em milho, lisina é o primeiro<br />
aminoácido limitante e triptofano, o<br />
segundo. Metionina e cisteína também<br />
estão presentes em pequen<strong>as</strong> concentrações,<br />
o que pode prejudicar a absorção<br />
de ferro e zinco no intestino<br />
(Graham et al., 1999).<br />
A lisina é sintetizada junto <strong>com</strong><br />
outros aminoácidos essenciais, <strong>com</strong>o<br />
treonina, metionina e isoleucina, a partir<br />
do <strong>as</strong>partato. A introdução dos genes<br />
que codificam <strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> <strong>as</strong>partato<br />
quin<strong>as</strong>e e diidrodipicolinato sint<strong>as</strong>e<br />
de bactéri<strong>as</strong> menos sensíveis à inibição<br />
por lisina dentro da batata resultou em<br />
aumentos de 6, 8 e 2 x nos teores de<br />
lisina, treonina e metionina, respectivamente.<br />
O nível de lisina chegou a<br />
15% do aminoácido total, enquanto<br />
n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> não transformad<strong>as</strong> esse<br />
nível foi de 1% (Sévenier et al., 2002).<br />
A soja, embora seja uma d<strong>as</strong> melhores<br />
fontes protéic<strong>as</strong> de origem vegetal,<br />
contém proteín<strong>as</strong> inferiores às<br />
de origem animal, por apresentarem<br />
Lipídios<br />
deficiência em aminoácidos sulfurados.<br />
Portanto, a melhoria do valor nutricional<br />
e d<strong>as</strong> propriedades funcionais<br />
da soja tem sido importante objetivo<br />
da indústria de alimentos. A metionina<br />
é o aminoácido limitante da soja e,<br />
devido à sua hidrofobicidade, sua inserção<br />
resulta na melhoria do valor<br />
nutricional e funcional dessa oleaginosa.<br />
O aumento da hidrofobicidade aumenta<br />
a formação de gel induzido pelo<br />
calor e a capacidade emulsificante da<br />
soja.<br />
O gene que codifica uma proteína<br />
específica da semente, rica em aminoácidos<br />
essenciais e não-alergênica,<br />
AmA1, albumina do amarantos (Amaranthus<br />
hipochondriacus), foi introduzido<br />
na batata, resultando na melhoria<br />
de seu valor nutricional, <strong>com</strong> aumento<br />
do conteúdo total de proteín<strong>as</strong><br />
e, principalmente, de aminoácidos essenciais.<br />
Um aumento de 2,5 a 4 vezes<br />
no teor de lisina, metionina, cisteína e<br />
tirosina foi observado em batat<strong>as</strong> contendo<br />
o gene AmA1 (Chakraborty et<br />
al., 2000). Portanto, a introdução desse<br />
gene possibilita aumento do valor protéico<br />
da batata, <strong>com</strong> perfil de aminoácidos<br />
essenciais semelhante ao padrão<br />
estabelecido pela FAO/OMS, e, ao<br />
contrário do que ocorreu <strong>com</strong> o gene<br />
da c<strong>as</strong>tanha-do-br<strong>as</strong>il, não apresenta<br />
alergenicidade.<br />
As plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> podem<br />
ser uma fonte alternativa viável de<br />
hemoglobina, uma vez que el<strong>as</strong> constituem<br />
uma fonte de biom<strong>as</strong>sa barata,<br />
e <strong>as</strong> produções de cultur<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong><br />
têm sido disponíveis <strong>com</strong>ercialmente<br />
em alguns países. As proteín<strong>as</strong><br />
α e β-globin<strong>as</strong> da hemoglobina humana<br />
foram express<strong>as</strong> em tabaco transgênico<br />
(Nicotiana tabacum var. Xanthi),<br />
transformad<strong>as</strong> usando Agrobacterium<br />
tumefaciens.<br />
Embora o tabaco tenha sido<br />
usado <strong>com</strong>o planta-modelo,<br />
outr<strong>as</strong> espécies podem fornecer<br />
maiores produções<br />
<strong>com</strong> etap<strong>as</strong> de purificação e<br />
esterilização mais simples.<br />
As plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> oferecem<br />
consideráveis vantagens<br />
para produção em larga<br />
escala de hemoglobina<br />
re<strong>com</strong>binante e poderiam<br />
aliviar a dependência de limitados<br />
suprimentos de resíduos<br />
de sangue humano, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o<br />
eliminando a contaminação de origens<br />
bacteriana e animal (Dieryck et al.,<br />
1997).<br />
Plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> podem expressar<br />
vári<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> do leite humano.<br />
Por exemplo, tem sido demonstrado<br />
que o gene que codifica a β-c<strong>as</strong>eína<br />
pode ser introduzido na batata, de<br />
forma que essa proteína possa ser<br />
detectada n<strong>as</strong> folh<strong>as</strong> e nos tubérculos<br />
na proporção de 0,01% d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
solúveis. Da mesma forma, α-lactoalbumina<br />
e lactoferrina podem ser express<strong>as</strong><br />
em tabaco. Ess<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong><br />
poderão, num futuro breve, possibilitar<br />
o uso de plant<strong>as</strong> na produção de<br />
alimentos infantis, <strong>com</strong> os benefícios<br />
dess<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> do leite humano (Dunwell,<br />
1999).<br />
Lipídios<br />
A manipulação do perfil de ácidos<br />
graxos por meio da biotecnologia pode<br />
trazer benefícios nutricionais. O melhoramento<br />
convencional tem produzido<br />
óleos de gir<strong>as</strong>sol e amendoim<br />
ricos em ácido oléico, os quais são<br />
normalmente ricos em ácido linoléico.<br />
Por meio de mutações, em gir<strong>as</strong>sol, o<br />
conteúdo de ácido oléico aumentou<br />
de 29% para 84%. Mutantes da soja<br />
<strong>com</strong> menores teores de ácido palmítico<br />
e maiores teores de ácido esteárico<br />
têm sido obtidos (Liu et al., 2002).<br />
Ess<strong>as</strong> alterações no perfil de ácidos<br />
graxos, aumentando o teor de ácidos<br />
graxos monoinsaturados e reduzindo o<br />
teor de ácido palmítico, têm implicações<br />
na redução do risco de doenç<strong>as</strong><br />
cardiov<strong>as</strong>culares.<br />
Ácidos graxos trans<br />
48 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Os ácidos graxos trans têm sido<br />
<strong>as</strong>sociados a efeitos indesejáveis nos<br />
lipídios sangüíneos, o que tem levado<br />
a indústria a reexaminar o uso de<br />
gordura hidrogenada na produção de<br />
margarin<strong>as</strong> e molhos. Através da biotecnologia,<br />
foi desenvolvida canola <strong>com</strong><br />
elevado teor de ácido esteárico (18:0),<br />
pela supressão da enzima ∆9 dessatur<strong>as</strong>e.<br />
O ácido esteárico, embora seja<br />
saturado, tem menos implicações no<br />
perfil lipídico, uma vez que pode ser<br />
convertido em ácido oléico no organismo.<br />
O óleo requer menor ou nenhuma<br />
hidrogenação e, portanto, não são produzidos<br />
ácidos graxos trans.<br />
Outra forma de evitar a hidrogenação<br />
e a geração de ácidos graxos<br />
trans é aumentando a expressão do<br />
ácido oléico (18:1 n-9) no lugar do<br />
ácido linoléico (18:2 n-6) e α-linolênico<br />
(18:3 n-3), pela supressão da enzima<br />
∆12 dessatur<strong>as</strong>e. O óleo <strong>com</strong> mais<br />
ácido oléico é menos suscetível à oxidação.<br />
Ácido γ-linolênico (GLA)<br />
Os ácidos graxos ∆6-dessaturados<br />
são de grande importância para <strong>as</strong><br />
Arroz Dourado<br />
célul<strong>as</strong> animais, por desempenharem<br />
papel na manutenção da estrutura e<br />
função da membrana, na regulação da<br />
síntese e transporte de colesterol e na<br />
prevenção da perda de água pela pele<br />
e <strong>com</strong>o precursores de eicosanóides,<br />
incluindo prostaglandin<strong>as</strong> e leucotrienos.<br />
Em animais, esses ácidos graxos<br />
são sintetizados a partir do ácido graxo<br />
essencial linoléico (C18:2 ∆9,12), sendo<br />
a primeira etapa a dessaturação<br />
para ácido γ-linolênico (GLA; C18:3<br />
∆6,9,12), catalisada pela ∆6-dessatur<strong>as</strong>e.<br />
A atividade reduzida dessa enzima<br />
pode ser observada no envelhecimento,<br />
estresse, diabetes, eczema e<br />
em algum<strong>as</strong> doenç<strong>as</strong> infeccios<strong>as</strong>, ou<br />
no catabolismo aumentado do GLA<br />
pela oxidação ou aumento da divisão<br />
celular (<strong>com</strong>o exemplo, no câncer ou<br />
inflamação). Óleos contendo GLA são<br />
amplamente usados <strong>com</strong>o suplementos<br />
e têm sido relatados <strong>com</strong>o de uso<br />
farmacêutico. No reino vegetal, o GLA<br />
não é <strong>com</strong>umente produzido, entretanto,<br />
<strong>com</strong> o uso da biotecnologia, o<br />
DNA que expressa a enzima ∆6-dessatur<strong>as</strong>e<br />
foi introduzido no tabaco a partir<br />
de Borago officinalis L., cuj<strong>as</strong> sementes<br />
contêm cerca de 20% a 25% de<br />
GLA. Com isso, outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
maior produtividade podem se tornar<br />
fontes e GLA (Sayanova et al., 1997).<br />
Zinco<br />
As principais fontes de zinco em<br />
populações pobres, que têm acesso<br />
limitado a alimentos de origem animal,<br />
são cereais, tubérculos e leguminos<strong>as</strong>,<br />
os quais têm baixa quantidade ou biodisponibilidade<br />
de zinco. O principal<br />
fator que reduz a biodisponibilidade de<br />
zinco em cereais e leguminos<strong>as</strong> é o<br />
ácido fítico (Ruel e Bouis, 1998).<br />
As estratégi<strong>as</strong> do melhoramento<br />
de plant<strong>as</strong> para controlar deficiênci<strong>as</strong><br />
de zinco incluem o aumento da concentração<br />
de zinco n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>, redução<br />
da quantidade de ácido fítico e<br />
aumento da concentração de aminoácidos<br />
sulfurados (metionina e cisteína),<br />
os quais aumentam a absorção de zinco<br />
pel<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>.<br />
Ferro<br />
A alta prevalência de anemia ferropriva<br />
nos países em desenvolvimento<br />
tem sido <strong>as</strong>sociada ao consumo de<br />
ferro de baixa biodisponibilidade. O<br />
consumo de alimentos que aumentam<br />
a absorção de ferro não-heme, <strong>com</strong>o<br />
frut<strong>as</strong> e vegetais, é freqüentemente<br />
limitado. Além disso, os grãos e leguminos<strong>as</strong><br />
são ricos em ácido fítico, que<br />
é um potente inibidor da absorção de<br />
ferro (Lucca et al., 2002).<br />
O enriquecimento <strong>com</strong> ferro, através<br />
do melhoramento genético ou da<br />
biotecnologia (biofortificação), tem sido<br />
uma alternativa <strong>com</strong> perspectiv<strong>as</strong> sustentáveis<br />
para alimentos que fazem<br />
parte da dieta básica de populações,<br />
substituindo os suplementos dietéticos<br />
ou a fortificação de alimentos.<br />
Oferece, ainda, a possibilidade de aumentar<br />
a produtividade, que geralmente<br />
é limitada pela deficiência mineral<br />
da planta (Grotz e Guerinot,<br />
2002).<br />
O conteúdo de ferro nos tecidos<br />
da planta pode ser aumentado pela<br />
maior captação de ferro do solo. Na<br />
deficiência de ferro, <strong>as</strong> plant<strong>as</strong> liberam<br />
prótons, os quais reduzem o pH em<br />
torno da raiz, aumentando o teor de<br />
Fe 3+ livre e estabelecendo um gradiente<br />
eletroquímico que direciona o transporte<br />
de ferro para dentro da raiz.<br />
Além disso, na deficiência de ferro, a<br />
enzima Fe 3+ quelato redut<strong>as</strong>e, que reduz<br />
o Fe 3+ para a forma Fe 2+ mais<br />
solúvel, é induzida e, finalmente, o<br />
Fe 2+ é captado por transportadores.<br />
Essa redução do Fe 3+ é uma etapalimite<br />
para a maioria d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>. Gene<br />
que induz a superexpressão da redut<strong>as</strong>e-oxid<strong>as</strong>e<br />
2 férrica (FRO2) de levedura<br />
tem sido expressa em tabaco, aumentando<br />
a atividade da Fe 3+ quelato<br />
redut<strong>as</strong>e (Grotz e Guerinot, 2002).<br />
Proteín<strong>as</strong> transportador<strong>as</strong> de ferro,<br />
<strong>com</strong>o a Nramp (natural resistance<strong>as</strong>sociated<br />
macrophage protein) e IRT1<br />
(iron regulated transporter 1), podem<br />
ser superexpress<strong>as</strong>, aumentando a<br />
concentração de ferro n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>.<br />
Cultur<strong>as</strong> de milho, trigo e arroz usam da<br />
quelação <strong>com</strong> <strong>com</strong>postos de baixo<br />
peso molecular <strong>com</strong>o estratégia para<br />
obter ferro do solo. Esses <strong>com</strong>postos<br />
da família dos fitossideróforos são liberados<br />
no solo, onde se ligam ao Fe 3+ ,<br />
transportando-o para a planta. A superexpressão<br />
do gene NAAT (nicotinamide<br />
aminotransfer<strong>as</strong>e) leva ao au-<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 49
mento de fitossideróforos, que por sua<br />
vez eleva o conteúdo de ferro ness<strong>as</strong><br />
plant<strong>as</strong>.<br />
Para aumentar o conteúdo mineral<br />
em algum tecido específico d<strong>as</strong><br />
plant<strong>as</strong> através da manipulação transgênica,<br />
é necessário não somente aumentar<br />
a absorção do mineral pela raiz,<br />
m<strong>as</strong> também conduzi-lo aos diversos<br />
órgãos da planta (Grusak, 2002).<br />
Com o objetivo de elevar o teor<br />
de ferro do arroz branco ou polido, foi<br />
realizada a inserção de genes que expressam<br />
três proteín<strong>as</strong> no endosperma<br />
central: fitoferrina de Ph<strong>as</strong>eolus,<br />
proteína semelhante à metalotioneína,<br />
rica em cisteína endógena, e uma fit<strong>as</strong>e<br />
de Aspergillus fumigatus termorresistente.<br />
A proteína semelhante à metalotioneína,<br />
rica em cisteína, superexpressa<br />
em arroz aumentou o conteúdo<br />
de resíduos de cisteína sete vezes e o<br />
nível de fit<strong>as</strong>e 130 vezes. Isso possibilita<br />
uma atividade da fit<strong>as</strong>e suficiente<br />
para degradar o ácido fítico <strong>com</strong>pletamente.<br />
Entretanto, a proteína fit<strong>as</strong>e do<br />
fungo perde sua atividade após a cocção<br />
do arroz. A expressão de fitoferrina<br />
pode dobrar o conteúdo de ferro do<br />
endosperma do arroz, variando de 1,15<br />
a 2,21 mg/100 g, em <strong>com</strong>paração <strong>com</strong><br />
arroz-controle, que apresenta de 1,0 a<br />
1,1 mg/100 g.<br />
Os peptídios ricos em cisteína<br />
melhoram a absorção de ferro no intestino,<br />
pois são considerados os principais<br />
contribuidores na absorção de ferro.<br />
Outra opção para aumentar o conteúdo<br />
de ferro em plant<strong>as</strong> é a introdução<br />
de ácido <strong>as</strong>córbico, hemoglobina e<br />
peptídeos contendo cisteína no tecido<br />
vegetal (Zimmermann e Hurrel, 2002).<br />
O consumo extra de ferro no arroz<br />
transgênico parece ser de significância<br />
nutricional, considerando-se um consumo<br />
diário de 300 g de arroz por um<br />
adulto, o que representaria elevar de<br />
3mg para 6 mg de ferro provenientes<br />
do arroz, o equivalente a 20% d<strong>as</strong><br />
re<strong>com</strong>endações diári<strong>as</strong> de ferro.<br />
Beta caroteno e vitamina A<br />
A deficiência de vitamina A é<br />
problema de saúde pública em mais<br />
de 70 países. Duzentos e cinqüenta<br />
milhões de crianç<strong>as</strong> são deficientes de<br />
vitamina A, e a cada ano três milhões<br />
de crianç<strong>as</strong> desenvolvem xeroftalmia<br />
(FAO/WHO, 1998).<br />
A vitamina A é requerida para<br />
visão, crescimento, reprodução, proliferação<br />
e diferenciação celular e integridade<br />
do sistema imune. É fornecida<br />
na dieta <strong>com</strong>o retinol pré-formado,<br />
principalmente <strong>com</strong>o éster de retinol,<br />
pelos alimentos de origem animal e<br />
pelos carotenóides, pró-vitamina A,<br />
presentes em alimentos de origem<br />
vegetal.<br />
O consumo de micronutrientes<br />
deve ser suficiente para prevenir deficiênci<strong>as</strong><br />
e manter boa saúde. Em condições<br />
normais, uma dieta bem balanceada<br />
fornece quantidades suficientes<br />
de todos os nutrientes para o funcionamento<br />
adequado do organismo. Em<br />
condições fisiológic<strong>as</strong> específic<strong>as</strong>, o<br />
consumo de nutrientes por meio de<br />
alimentos naturais pode, entretanto,<br />
ser inadequado. Em tais c<strong>as</strong>os, suplementos<br />
ou produtos fortificados podem<br />
prevenir a inadequação. A aplicação<br />
da biotecnologia em alimentos<br />
para aumentar o teor de β-caroteno<br />
(biofortificação) tem sido considerada<br />
uma opção atrativa (Winter e Rodrigues,<br />
1997).<br />
Em mandioca, o conteúdo de b-<br />
caroteno atinge mais de 20 mg/kg em<br />
algum<strong>as</strong> variedades. A intensidade da<br />
cor da raiz está altamente correlacionada<br />
<strong>com</strong> a concentração de caroteno, a<br />
qual parece ser determinada por dois<br />
genes, um que controla o transporte<br />
de intermediários para a raiz e outro<br />
responsável pelo processo de estocagem.<br />
O cultivar de tomate Caro-Red<br />
possui 10 vezes mais caroteno que<br />
cultivares normais, entretanto ele teve<br />
problem<strong>as</strong> de aceitação devido a cor<br />
menos vermelha (Graham et al., 1999).<br />
Nos países tropicais, o arroz é<br />
beneficiado para remover a camada de<br />
aleuroma rica em óleo, para reduzir a<br />
rancificação durante a estocagem. Na<br />
porção restante, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o no farelo,<br />
50 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
a provitamina A é deficiente (Zimmermann<br />
e Hurrel, 2002). A engenharia<br />
genética foi usada para produzir grãos<br />
de arroz ricos em β-caroteno. O endosperma<br />
de arroz imaturo pode sintetizar<br />
o <strong>com</strong>posto intermediário geranilgeranil<br />
difosfato, uma molécula isoprenóide<br />
de 20 carbonos. A condensação de<br />
du<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> de geranilgeranil difosfato<br />
produz o fitoeno, uma molécula<br />
<strong>com</strong> 40 carbonos. O fitoeno é o primeiro<br />
carotenóide precursor na via biossintética<br />
para a produção de β-caroteno,<br />
pela expressão da enzima fitoeno<br />
sint<strong>as</strong>e. Entretanto, alterando o precursor<br />
geranilgeranil difosfato para a produção<br />
de β-caroteno, pode reduzir os<br />
níveis de outros <strong>com</strong>postos.<br />
A síntese de β-caroteno a partir do<br />
fitoeno requer <strong>com</strong>plementação <strong>com</strong><br />
três enzim<strong>as</strong>: a dessatur<strong>as</strong>e fitoeno, a<br />
dessatur<strong>as</strong>e β-caroteno e a licopeno β-<br />
cicl<strong>as</strong>e (Zimmermann e Hurrel, 2002).<br />
O fitoeno é precursor do licopeno, o<br />
qual é convertido a caroteno (Dunwell,<br />
1999).<br />
A introdução simultânea desses<br />
genes foi um dos maiores avanços<br />
tecnológicos, e 1,6 a 2 µg de β-caroteno/g<br />
de arroz fresco foram expressos<br />
(Zimmermann e Hurrel, 2002). O Goden<br />
rice, o arroz-dourado e geneticamente<br />
modificado para expressar alto<br />
conteúdo de carotenóide, tem recebido<br />
atenção da mídia pelo seu potencial<br />
em suprir provitamina A para milhões<br />
de indivíduos. Foi desenvolvido em<br />
1990 por pesquisadores alemães e<br />
suíços, <strong>com</strong> financiamento da Fundação<br />
Rockefeller, e tende a ser cruzado<br />
<strong>com</strong> variedades locais de arroz. Três<br />
genes tirados do narciso-silvestre e da<br />
bactéria Erwinia sp foram introduzidos<br />
no arroz para produzir um grão amarelo,<br />
<strong>com</strong> altos níveis de β-caroteno, que<br />
é convertido em vitamina A no organismo.<br />
Esforços iniciais <strong>com</strong> o Golden<br />
rice têm-se concentrado na Índia, m<strong>as</strong><br />
esta tecnologia deverá se estender a<br />
outros países da Ásia, África e América<br />
do Sul.<br />
O arroz <strong>com</strong> vitamina A produzido<br />
geneticamente tem sido indicado<br />
<strong>com</strong>o importante alternativa no <strong>com</strong>bate<br />
à cegueira. Mais de dois milhões<br />
de crianç<strong>as</strong> estão sob o risco de cegueira<br />
devido à deficiência de vitamina A.<br />
Trata-se, portanto, de um esforço para<br />
melhorar a saúde de milhões de pesso<strong>as</strong>,<br />
a maioria na Ásia, visto que é difícil<br />
obter uma grande abrangência aos malnutridos<br />
do mundo inteiro <strong>com</strong> o uso<br />
de pílul<strong>as</strong>.<br />
Projeto similar ao Golden rice está<br />
sendo realizado para introduzir a enzima<br />
fitoene sint<strong>as</strong>e na canola (Br<strong>as</strong>sica<br />
napus). A concentração de caroteno<br />
obtida foi de 1.000 a 1.500 µg/g de<br />
semente. Essa tecnologia foi também<br />
transferida para a mostarda (Br<strong>as</strong>sica<br />
juncea), cultivada em muit<strong>as</strong> partes do<br />
mundo, incluindo Índia, Nepal e Bangladesh,<br />
sendo o segundo maior óleo<br />
consumido na Índia. O óleo de mostarda<br />
deverá conter β-caroteno suficiente<br />
para reduzir a deficiência de vitamina<br />
A na população indiana e, visto tratarse<br />
de óleo, é esperado que tenha alta<br />
biodisponibilidade (Mackey, 2002).<br />
Vitamina C<br />
Vitamina C, cujos nomes químicos<br />
são ácido <strong>as</strong>córbico ou <strong>as</strong>corbato, é um<br />
doador de elétrons, antioxidante ou<br />
agente redutor. A vitamina C promove<br />
a absorção de ferro não-heme, reduzindo,<br />
<strong>as</strong>sim, a anemia.<br />
As pesso<strong>as</strong> que possuem estoques<br />
máximos (20 mg/kg) de vitamina<br />
C podem viver durante dois meses,<br />
sem o consumo de vitamina C, sem<br />
que os sinais clínicos de deficiência<br />
apareçam. Com um consumo abaixo<br />
de 30 mg/dia, <strong>as</strong> concentrações pl<strong>as</strong>mátic<strong>as</strong><br />
ficam em 11 µmol/L. Acima<br />
desse consumo, <strong>as</strong> concentrações aumentam<br />
rapidamente para 60 µmol/L<br />
(FAO/WHO, 1998).<br />
Uma justificativa para o aumento<br />
do teor de vitamina C em alimentos é<br />
o fato de esta conferir proteção contra<br />
catarat<strong>as</strong>, câncer e lesões oxidativ<strong>as</strong> no<br />
DNA do esperma. Segundo Ames<br />
(2001), os fumantes deveriam ingerir<br />
muito mais vitamina C que os nãofumantes<br />
para alcançar o mesmo nível<br />
de vitamina C no pl<strong>as</strong>ma. O risco de<br />
câncer para descendentes de pais fumantes<br />
é maior quando o consumo de<br />
antioxidante da dieta é baixo.<br />
O nível de vitamina C pode ser<br />
aumentado, expressando-se o gene<br />
que codifica a enzima L-galactona-αlactona<br />
desidrogen<strong>as</strong>e (Dunwell,<br />
1999). Em plant<strong>as</strong> e alguns animais,<br />
m<strong>as</strong> não no homem, o ácido <strong>as</strong>córbico<br />
é sintetizado a partir da glicose.<br />
Genes codificando sorbose desidrogen<strong>as</strong>e<br />
e sorbosone desidrogen<strong>as</strong>e<br />
de Gluconobacter oxydans inserid<strong>as</strong><br />
no mesmo organismo possibilitam a<br />
conversão de sorbitol a 2-ceto-L-gulonato.<br />
Erwinia herbicola contendo o<br />
gene de Corynebacterium sp. converte<br />
glicose em ácido 2-cetogulônico, o<br />
qual pode ser facilmente convertido<br />
em ácido <strong>as</strong>córbico (Demain, 2000).<br />
Fitato<br />
O fitato, uma molécula de açúcar/<br />
álcool ligado a seis grupos fosfato, é<br />
uma fonte de fósforo para a semente,<br />
necessária para a germinação (Raboy,<br />
2001). Uma redução no teor de fitato<br />
pode ser inaceitável, já que reduziria o<br />
teor de fósforo total. Além disso, altos<br />
conteúdos de fitato estão <strong>as</strong>sociados<br />
<strong>com</strong> altos conteúdos de ferro e zinco<br />
(Grahan et al., 1999). Entretanto, na<br />
alimentação, o fitato é um fator antinutricional<br />
porque quela ferro, cálcio,<br />
zinco e outros íons divalentes, tornando-os<br />
indisponíveis para absorção. Tal<br />
efeito negativo do ácido fítico tem<br />
maior impacto em países em desenvolvimento,<br />
onde grande parte da<br />
população tem <strong>com</strong>o principais fontes<br />
de zinco os cereais, tubérculos e <strong>as</strong><br />
leguminos<strong>as</strong> e acesso limitado a alimentos<br />
de origem animal. Os efeitos<br />
benéficos do mioinositol na saúde,<br />
<strong>com</strong>o agente anticancerígeno e antioxidante,<br />
têm maior impacto nos países<br />
desenvolvidos, onde a maior preocupação<br />
é <strong>com</strong> patologi<strong>as</strong> <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> ao<br />
envelhecimento, <strong>com</strong>o dano oxidativo<br />
e câncer (Brinch-Pedersen et al.,<br />
2002).<br />
A adição de fit<strong>as</strong>e de Aspergillus<br />
ninger em soja e canola, via transgênese,<br />
levou a uma menor excreção de<br />
fósforo n<strong>as</strong> fezes de frangos e de<br />
suínos, indicando maior biodisponibilidade<br />
de fósforo e de outros minerais<br />
normalmente quelados ao fitato, <strong>com</strong>o<br />
ferro e zinco. Além disso, a menor<br />
liberação de fósforo no ambiente reduz<br />
seu arr<strong>as</strong>te pela água, reduzindo o<br />
impacto ambiental. O uso de fit<strong>as</strong>e em<br />
vez da remoção do fitato do alimento<br />
tem a vantagem de não reduzir o teor<br />
de fósforo do alimento, além de aumentar<br />
a sua biodisponibilidade (Brinch-Pederson<br />
et al., 2002).<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 51
Para melhorar o valor nutritivo<br />
mineral, a biotecnologia (biofortificação)<br />
pode ser aplicada de três form<strong>as</strong>:<br />
para elevar a concentração de minerais<br />
em tecidos apropriados, <strong>com</strong>o endosperma<br />
de cereais; para elevar os<br />
níveis de <strong>com</strong>postos que aumentam o<br />
uso do mineral e reduzir os fatores<br />
antinutricionais, <strong>com</strong>o mioinositol. Em<br />
humanos, milho <strong>com</strong> baixo teor de<br />
fitato, contendo 73% do fosfato disponível,<br />
teve a absorção de zinco aumentada<br />
em 76% (Raboy, 2001).<br />
Produtos de origem animal<br />
O melhoramento genético, <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />
de reprodução e a manipulação<br />
da alimentação animal têm levado a<br />
melhori<strong>as</strong> na produção e valor nutritivo<br />
da carne de suínos, aves, peixes e<br />
ruminantes em geral.<br />
A manipulação da <strong>com</strong>posição da<br />
carne de suínos tem possibilitado alterações.<br />
Por exemplo, o aumento do<br />
teor de ácidos graxos monoinsaturados,<br />
a redução da relação de ácidos<br />
graxos ω-6/ω-3 de 7 a 10 para 4 a 5 e<br />
o aumento do conteúdo de ácidos<br />
graxos polinsaturados de cadeia longa<br />
(EPA e DHA), elevando, <strong>as</strong>sim, a sua<br />
qualidade nutricional e propiciando<br />
maiores benefícios à saúde.<br />
A qualidade da carcaça e a homogeneidade<br />
dos animais quando abatidos<br />
poderiam ser melhorad<strong>as</strong> <strong>com</strong> o<br />
uso da clonagem ou da produção in<br />
vitro de embriões em larga escala. Em<br />
médio prazo, é possível a integração<br />
da biotecnologia da reprodução <strong>com</strong> a<br />
genética quantitativa e molecular. No<br />
longo prazo, a <strong>com</strong>petitividade d<strong>as</strong><br />
carnes de ovelha e cabrito poderia ser<br />
amplamente aumentada pel<strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />
técnic<strong>as</strong> reprodutiv<strong>as</strong> e genétic<strong>as</strong>. Entretanto,<br />
ainda não está claro se esses<br />
avanços serão bem aceitos pelos consumidores<br />
nos países desenvolvidos.<br />
Pesquisa no Reino Unido apontou os<br />
organismos geneticamente modificados<br />
(OGM) <strong>com</strong>o a principal preocupação<br />
do consumidor, entretanto técnic<strong>as</strong><br />
de manipulação na criação de<br />
peixes, <strong>com</strong>o a ginogênese, a androgênese<br />
e a transgênese, têm sido usad<strong>as</strong><br />
rotineiramente. Existem previsões<br />
de uso de carnes <strong>com</strong> baixos teores de<br />
gordura e de colesterol obtid<strong>as</strong> de<br />
animais transgênicos. Questiona-se,<br />
entretanto, se a obtenção dess<strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />
desejáveis só será possível<br />
por meio da modificação genética,<br />
utilizando-se transgênicos.<br />
O papel da biotecnologia será,<br />
num primeiro momento, limitada à<br />
preservação da biodiversidade e à autenticidade<br />
do produto, m<strong>as</strong> desempenhará<br />
um papel importante em termos<br />
de desenvolvimento sustentável<br />
da produção animal extensiva.<br />
O número e <strong>as</strong> condições d<strong>as</strong><br />
fibr<strong>as</strong> musculares são parâmetros fisiológicos<br />
importantes no animal vivo e<br />
determinantes-chave da qualidade e<br />
quantidade da carne. A interação entre<br />
genes e fisiologia pode determinar a<br />
qualidade e quantidade da carne. Isso<br />
pode beneficiar a indústria da carne<br />
pelo aumento da quantidade de tecido<br />
magro da matéria-prima, <strong>com</strong> ótim<strong>as</strong><br />
característic<strong>as</strong> de qualidade e menor<br />
variabilidade do produto final (Garnier<br />
et al., 2002).<br />
A aceitação da biotecnologia animal<br />
encontra-se nos di<strong>as</strong> de hoje apoiada<br />
em preocupações de ordem ética,<br />
segurança alimentar e ambiental, bemestar<br />
dos animais, benefícios para os<br />
consumidores, produtores e agroindústria<br />
e impacto socioeconômico. A<br />
biotecnologia pode ser aplicada para<br />
melhorar a performance dos animais<br />
<strong>com</strong> uma melhor nutrição, aumento do<br />
potencial de produção, melhoria do<br />
estado de saúde e redução dos resíduos<br />
pela melhor utilização dos recursos<br />
(Bonneau e Laarveld, 1999).<br />
A adição de enzim<strong>as</strong> pode melhorar<br />
a disponibilidade de nutrientes de<br />
alimentos, diminuir custos de alimentação<br />
e reduzir os dejetos de produção<br />
no ambiente. Pré e probióticos ou<br />
suplementos imunes podem inibir<br />
microrganismos intestinais patogênicos<br />
ou tornar o animal mais resistente<br />
a eles. A biotecnologia pode melhorar<br />
o valor nutricional d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>, ou incorporar<br />
vacin<strong>as</strong> ou anticorpos na alimentação,<br />
o que protegerá o animal<br />
mais eficientemente contra doenç<strong>as</strong>.<br />
A administração de somatotropina<br />
re<strong>com</strong>binante acelera o crescimento<br />
e proporciona carcaça mais magra e<br />
aumenta a produção de leite. Entretanto,<br />
quando administrada em longo prazo,<br />
aumenta a incidência de osteocondrose,<br />
cartilagem macia, úlcera estomacal,<br />
resistência à insulina e estresse.<br />
Pode também reduzir a capacidade de<br />
detoxicação do fígado, reduzindo a<br />
eliminação de xenobióticos pelos animais<br />
(Bonneau e Laarveld, 1999).<br />
A expressão do gene somatotropina<br />
em peixes e porcos proporciona<br />
crescimento mais rápido, melhor eficiência<br />
alimentar e carcaça mais magra.<br />
A expressão do hormônio IGF-1 (fator<br />
de crescimento semelhante à insulina)<br />
no músculo aumenta o crescimento<br />
muscular em porcos. O gene c-ski em<br />
porcos e gado resulta em hipertrofia<br />
muscular (Bonneau e Laarveld, 1999).<br />
Os avanços da engenharia genética<br />
podem ser aplicados para melhorar<br />
a produção e sua eficiência, alterar a<br />
<strong>com</strong>posição do leite e auxiliar na prevenção,<br />
diagnóstico e tratamento de<br />
doenç<strong>as</strong>. Algum progresso já foi alcançado,<br />
<strong>com</strong>o o desenvolvimento de<br />
bactéri<strong>as</strong> que produzem grandes quantidades<br />
de proteína e são importantes<br />
regulador<strong>as</strong> do metabolismo; seleção<br />
mais rápida e melhoria no cruzamento<br />
de animais e plant<strong>as</strong> pela transferência<br />
de genes; desenvolvimento de testes<br />
de DNA no diagnóstico de doenç<strong>as</strong><br />
infeccios<strong>as</strong>; e produção de anticorpos<br />
monoclonais para o tratamento de<br />
doenç<strong>as</strong>, dentre outr<strong>as</strong>. A biologia<br />
molecular tem ainda o potencial de<br />
produzir animais transgênicos capazes<br />
de produzir leite <strong>com</strong> diferente <strong>com</strong>posição;<br />
a concentração de c<strong>as</strong>eína<br />
poderá ser aumentada ou modificada,<br />
visando à produção de queijo; a proteína<br />
β-lactoglobulina, que causa problem<strong>as</strong><br />
na manufatura do leite, poderia<br />
ser suprimida; a concentração de gordura<br />
no leite poderia ser reduzida pela<br />
supressão da enzima CoA carboxil<strong>as</strong>e,<br />
<strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o a concentração de lactose<br />
poderia ser reduzida pela remoção da<br />
α-lactoalbumina ou pela introdução de<br />
uma enzima capaz de quebrar a lactose<br />
em glicose e galactose; e outr<strong>as</strong><br />
modificações de interesse da indústria<br />
e do consumidor (Chalupa et al., 1996).<br />
Embora sejam muit<strong>as</strong> <strong>as</strong> aplicações<br />
da biotecnologia para a produção<br />
animal, sua aceitação é pequena. Os<br />
benefícios podem ser grandes para a<br />
indústria de alimentos, <strong>com</strong>o a melhoria<br />
na carcaça dos animais. Também<br />
pode beneficiar tanto a indústria <strong>com</strong>o<br />
a população, pela redução dos custos<br />
de tratamentos medicamentosos dos<br />
animais, menor produção de resíduos,<br />
52 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
menor resistência a antibióticos, menor<br />
impacto ambiental e melhor saúde<br />
animal (Bonneau e Laarveld, 1999).<br />
Considerações finais<br />
Diversos <strong>com</strong>postos, <strong>com</strong>o vitamin<strong>as</strong><br />
e minerais, antioxidantes, ácidos<br />
graxos insaturados, fibr<strong>as</strong> alimentares,<br />
flavonóides, prebióticos e probióticos,<br />
são reconhecidos por prevenir ou retardar<br />
o aparecimento de doenç<strong>as</strong> <strong>com</strong>o<br />
aterosclerose e câncer, dentre outr<strong>as</strong>, e<br />
podem ter seus teores aumentados<br />
nos alimentos pela biotecnologia.<br />
A biotecnologia apresenta grande<br />
potencial para a produção de alimentos<br />
<strong>com</strong> melhores propriedades nutricionais<br />
e funcionais, entretanto o baixo<br />
acesso à literatura científica atualizada<br />
acerca d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> possíveis aplicações<br />
tem gerado insegurança e resistência<br />
de certos indivíduos na aceitação dos<br />
seus produtos.<br />
Segundo Roberts et al. (2001), o<br />
conhecimento do genoma e <strong>as</strong> possíveis<br />
modificações na <strong>com</strong>posição nutricional<br />
e funcional dos alimentos podem<br />
ser uma perspectiva futura para a<br />
manipulação de doenç<strong>as</strong> <strong>com</strong>o fenilcetonúria,<br />
enteropati<strong>as</strong> induzid<strong>as</strong> pelo<br />
glúten e intolerância à lactose. Ainda<br />
doenç<strong>as</strong> crônico-degenerativ<strong>as</strong> nãotransmissíveis,<br />
<strong>com</strong>o doenç<strong>as</strong> cardiov<strong>as</strong>culares,<br />
câncer, obesidade, diabetes<br />
mellitus, doença de Parkinson e de<br />
Alzheimer poderão ser melhores conhecid<strong>as</strong>,<br />
diagnosticad<strong>as</strong>, prevenid<strong>as</strong> e<br />
tratad<strong>as</strong>.<br />
O uso do genoma na prevenção<br />
dietética de doenç<strong>as</strong> está por ser estabelecido,<br />
e o campo da nutrição tem<br />
que se tornar mais ativo na demonstração<br />
de mecanismos que direcionem a<br />
conexão entre dieta e fenótipo de<br />
acordo <strong>com</strong> variações genétic<strong>as</strong> específic<strong>as</strong>.<br />
Referênci<strong>as</strong> Bibliográfic<strong>as</strong><br />
Ames, B.N. 2001. DNA damage from<br />
micronutrient deficiencies is likely<br />
to be a major cause of cancer.<br />
Mutation Research. Fundamental<br />
and Molecular Mechanisms of<br />
Mutagenesis, 475: 7-20.<br />
Barbosa, M.C.A. 1997. Determinação<br />
de inibidores de prote<strong>as</strong>es em soja<br />
e em seus derivados protéicos.<br />
Viçosa, MG: UFV, Impr. Univ. 61 p.<br />
Dissertação (Mestrado em Ciência<br />
e Tecnologia de Alimentos) – Universidade<br />
Federal de Viçosa.<br />
Barkovich, R.; Liao, J.C. 2001. Metabolic<br />
engineering of isoprenoids.<br />
Metabolic Engineering, 3: 27-39.<br />
Berg, R.D. 1998. Probiotics, prebiotics<br />
or conbiotics? Trends in<br />
Microbiology, 6: 89-92.<br />
Bonneau, M.; Laarveld, B. 1999.<br />
Biotechnology in animal nutrition,<br />
physiology and health. Livestock<br />
Production Science, 59: 223–241.<br />
Bostid, F.R.R. 1988. Quality-protein<br />
maize. W<strong>as</strong>hington: National<br />
Academic Press. 100 p.<br />
Bouis, H.E. 1999. Economics of<br />
enhanced micronutrient density in<br />
food staples. Field Crops Research,<br />
60: 65-173.<br />
Brinch-Pedersen, H.; Sørensen, L.D.;<br />
Holm, P.B. 2002. Engineering crop<br />
plants: getting a handle on<br />
phosphate. Trends in Plant Science,<br />
7: 118-125.<br />
Chakraborty, S.; Chakraborty, N.; Datta,<br />
A. 2000. Incre<strong>as</strong>ed nutritive<br />
value of transgenic potato by expressing<br />
a nonallergenic seed albumin<br />
gene from Amaranthus<br />
hypochondriacus. PNAS, 97: 3724-<br />
3729.<br />
Chaleff, R.S. 1984. Applications of plant<br />
cell culture to crop improvement,<br />
177-192. In: Puett, D. Human<br />
fertility, health and food. Impact of<br />
molecular biology and<br />
biotechnology. New York: United<br />
Nations Fund for Population<br />
Activities. 254 p.<br />
Chalupa, W.; Galligan, D.T.; Ferguson,<br />
J.D. 1996. Animal nutrition and<br />
management in the 21 st century:<br />
dairy cattle. Animal Feed Science<br />
Technology, 58: 1-18.<br />
Ch<strong>as</strong>sy, B.M. 2002. Food safety<br />
evaluation of crops produced<br />
through biotechnology. Journal of<br />
the American College of Nutrition,<br />
21:166S-173S.<br />
Demain, A.L. 2000. Small bugs, big<br />
business: the economic power of<br />
the microbe. Biotechnology<br />
Advances, 18: 499-514.<br />
Dieryck, W.; Paginier, J.; Poyart, C.;<br />
Marden, M.C. 1997. Human<br />
haemoglobin from transgenic<br />
tobacco. Nature, 386: 29-30.<br />
Dunwell, J.M. 1999. Transgenic crops:<br />
the next generation, or an example<br />
of 2020 vision. Annals of Botany,<br />
84: 269-277.<br />
FAO/WHO. 1998. Human vitamin and<br />
mineral requirements. Report of a<br />
joint FAO/WHO expert<br />
consultation. Food and Agriculture<br />
Organization of the United Nations,<br />
Rome, Italy. 286 p. www.fao.org/<br />
HumanVitaminandMineralRequirements.htm<br />
Forkmann, G.; Martens, S. 2001.<br />
Metabolic engineering and<br />
applications of flavonoids. Current<br />
Opinion in Biotechnology, 12: 155–<br />
160.<br />
Friedrich, M. J. 1999. Genetically<br />
enhanced rice to help fight<br />
malnutrition. JAMA, 282: 1508-<br />
1509.<br />
Garnier, J.P.; Klont, R.; Pl<strong>as</strong>tow, G.<br />
2002. The potential impact of<br />
current animal research on the meat<br />
industry and consumer attitudes<br />
towards meat. Meat Science. Article<br />
In Press, 9p.<br />
Graham, R.; Senadhira, D.; Beebe, S.;<br />
Iglesi<strong>as</strong>, C.; Mon<strong>as</strong>terio, I. 1999.<br />
Breeding for micronutrient density<br />
in edible portions of staple food<br />
crops: conventional approaches.<br />
Field Crops Research, 60: 57-80.<br />
Grotz, N.; Guerinot, M.L. 2002. Limiting<br />
nutrients: an old problem with new<br />
solutions? Current Opinion in Plant<br />
Biology, 5: 158–163.<br />
Grusak, M.A. 2002 Enhancing mineral<br />
content in plant food products.<br />
Journal of the American College of<br />
Nutrition, 21: 178S–183S.<br />
Heyer, A.G.; Lloyd, J.; Kossmann, J.<br />
1999. Production of modified<br />
polymeric carbohydrates. Current<br />
Opinion in Biotechnology, 10: 169–<br />
174.<br />
Hirschberg, J. 1999. Production of highvalue<br />
<strong>com</strong>pounds: carotenoids and<br />
vitamin E. Current Opinion in<br />
Biotechnology, 10: 186–191.<br />
Jensen, L.G.; Olsen, O.; Kops, O.; Wolf,<br />
N.; Thomsen, K.K.; Wettstein, D.<br />
1996. Transgenic barley expressing<br />
a protein-engineered, thermostable<br />
(1,3-1,4)-b-glucan<strong>as</strong>e during<br />
germination. Proc. Natl. Acad. Sci.<br />
USA, 93: 3487-3491.<br />
Kemper, E.L. 1999. Estudo da Modulação<br />
e do Papel Funcional da Enzima<br />
Lisina-Cetoglutarato redut<strong>as</strong>e em<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 53
milho. Joinville, – SC: UNICAMP.<br />
142 p. Tese (Doutorado)-Universidade<br />
Estadual de Campin<strong>as</strong><br />
Kishore, G.M.; Shewmaker, C. 1999.<br />
Biotechnology: enhancing human<br />
nutrition in developing and developed<br />
worlds. Proc. Natl. Acad. Sci.<br />
USA, 96: 5968–5972.<br />
Kuipers, O.P. 1999. Genomics for food<br />
biotechnology: prospects of the<br />
use of high-throughput technologies<br />
for the improvement of food<br />
microorganisms. Current Opinion<br />
in Biotechnology, 10: 511–516.<br />
Liu, Q.; Singh, S.; Green, A. 2002. Higholeic<br />
and high-stearic cottonseed<br />
oils: Nutritionally improved cooking<br />
oils developed using gene silencing.<br />
Journal of the American College<br />
of Nutrition, 21: 205S–211S.<br />
Lönnerdal, B. 2002. Expression of human<br />
milk proteins in plants. Journal<br />
of the American College of<br />
Nutrition, 21: 218S–221S.<br />
Lucca, P.; Hurrell, R.; Potrykus, I. 2002.<br />
Fighting iron deficiency anemia<br />
with iron-rich rice. Journal of the<br />
American College of Nutrition, 21:<br />
184S–190S.<br />
Mackey, M. 2002. The application of<br />
biotechnology to nutrition: An overview.<br />
Journal of the American College<br />
of Nutrition, 21: 157S–160S.<br />
Marzzoco, A; Torres, B.B. 1999. Bioquímica<br />
básica. 2. ed. São Paulo: Guanabara.<br />
360 p.<br />
M<strong>as</strong>on, H.S.; Haq, T.A.; Clements, J.D.;<br />
Arntzen, C.J. 1998. Edible vaccine<br />
protects mice against Escherichia<br />
coli heat-labile enterotoxin (LT):<br />
potatoes expressing a synthetic<br />
LT-B gene. Vaccine, 16: 1336-1346.<br />
Monteiro, M.R.P. 2001. Avaliação da<br />
digestibilidade e da qualidade<br />
protéica de linhagens de soja <strong>com</strong><br />
ausência do inibidor de tripsina<br />
Kunitz e d<strong>as</strong> isoenzim<strong>as</strong><br />
lipoxigen<strong>as</strong>es. Viçosa, MG: UFV,<br />
Impr. Univ. 69 p. Tese (Doutorado<br />
em Ciência e Tecnologia de Alimentos)<br />
– Universidade Federal<br />
de Viçosa.<br />
Murphy, D.J. 1999. Production of novel<br />
oils in plants. Current Opinion<br />
in Biotechnology, 10: 175- 180.<br />
Raboy, V. 2001. Seeds for a better<br />
future: ‘low phytate’ grains help to<br />
over<strong>com</strong>e malnutrition and reduce<br />
pollution. Trends in Plant Science,<br />
6: 458-462.<br />
Reilly, C. 1996. Biotechnology: Science<br />
and the consumer. Trends in<br />
Food Science & Technology, 7:<br />
336-338.<br />
Roberts, M.A.; Mutch, D.M.; German,<br />
J.B., 2001. Genomics: food and<br />
nutrition. Current Opinion in Biotechnology,<br />
12: 516–522.<br />
Rocheford, T.R.; Wong, J.C.; Egesel,<br />
C.O.; Lambert, R.J. 2002. Enhancement<br />
of vitamin E levels in corn.<br />
Journal of the American College of<br />
Nutrition, 21: 191S–198S.<br />
Ruel, M.T.; Bouis, H.E. 1998. Plant<br />
breeding: a long-term strategy for<br />
the control of zinc deficiency in<br />
vulnerable populations. American<br />
Journal of Clinical Nutrition, 68:<br />
488S-494S.<br />
Sayanova, O.; Smith, M.A.; Lapinsk<strong>as</strong>,<br />
P.; Stobart, A.K.; Dobson, G.;<br />
Christie, W.W.; Shewry, P.R.; Napier,<br />
J.A. 1997. Expression of a borage<br />
desatur<strong>as</strong>e cDNA containing an N-<br />
terminal cytochrome b 5<br />
domain<br />
results in the accumulation of high<br />
levels of r 6 -desaturated fatty acids<br />
in transgenic tobacco. Proc. Natl.<br />
Acad. Sci., USA, 94: 4211-4216.<br />
Schiffrin, E.J.; Blum, S. 2001. Food processing:<br />
probiotic microorganisms<br />
for beneficial foods. Current Opinion<br />
in Biotechnology, 12: 499–502.<br />
Sévenier, R.; Meer, I.M.V.D.; Bino, R.;<br />
Koops, A.J. 2002. Incre<strong>as</strong>ed<br />
production of nutriments by<br />
genetically engineered crops.<br />
Journal of the American College of<br />
Nutrition, 21: 199S–204S.<br />
Silva, M.V. 1989. Influência de<br />
lipoxigen<strong>as</strong>es 1 e 3 no sabor de<br />
extratos hidrossolúveis de soja.<br />
Viçosa, MG: UFV, Impr. Univ. 47 p.<br />
Dissertação (Mestrado em Ciência<br />
e Tecnologia de Alimentos) – Universidade<br />
Federal de Viçosa.<br />
Speirs, J.; Lee, E.; Holt, K.; Young-Duk,<br />
K.; Scott, N.S.; Loveys, B.; Schuch,<br />
W. 1998. Genetic manipulation of<br />
alcohol dehydrogen<strong>as</strong>e levels in<br />
ripening tomato fruit affects the<br />
balance of some flavor aldehydes<br />
and alcohols. Plant Physiology, 117:<br />
1047-1058.<br />
Tak<strong>as</strong>e, K.; Hagiwara, K. 1998. Expression<br />
of human alpha-lactalbumin<br />
in transgenic tobacco. Journal of<br />
Biochemistry, Tokyo, 123: 440-<br />
444.<br />
UNICEF. 1996. Nutrition. 18 nations<br />
fortify foods site: www.unicef.org/<br />
pon96/nutortif.htm. consultado em<br />
07/2002.<br />
Utsumi, S.; Katsube, T.; Ishige, T.; Takawa,<br />
F. 1997. Molecular design of<br />
soybean glycinins with enhaced<br />
food qualities and development of<br />
crop producing such glycinins.<br />
Advances in Experimental Medicine<br />
and Biology, 115: 1-15.<br />
Vaughan, E.E.; Mollet, B.; Vos, W.M.<br />
1999. Functionality of probiotics<br />
and intestinal lactobacilli: light in<br />
the intestinal tract tunnel. Current<br />
Opinion in Biotechnology, 10: 505–<br />
510.<br />
Verpoorte, R.; Memelink, J.,2002. Engineering<br />
secondary metabolite<br />
production in plants. Current Opinion<br />
in Biotechnology, 13: 181–<br />
187.<br />
Verrips, C.T.; Warmoeskerken, MMCG;<br />
Post, J.A. 2001. General<br />
introduction to the importance of<br />
genomics in food biotechnology<br />
and nutrition. Current Opinion in<br />
Biotechnology, 12: 483–487.<br />
Willen, M.V. 2001. Advances in<br />
genomics for microbial food<br />
fermentations and safety. Current<br />
Opinion in Biotechnology, 12: 493-<br />
498.<br />
Winter, K.; Rodriguez, G. 1997.<br />
Consumers’ views on nutrition and<br />
public health. Proceedings of the<br />
Nutrition Society, 56: 879-888.<br />
Wiseman, A.; Woods, L.; Ridgeway, T.<br />
2001. Bioprocessing to generate<br />
‘multifunctional’ foods? Trends in<br />
Biotechnology, 19, 89-90.<br />
Worrall, D.; Eli<strong>as</strong>, L.; Ashford, D.;<br />
Smallwood, M.; Sidebottom, C.; Lillford,<br />
P.; Telford, J.; Holt, C.; Bowles,<br />
D. 1998. A carrot leucine-richrepeat<br />
protein that inhibits ice recrystallization.<br />
Science: 282: 115-<br />
117.<br />
Zhao, F.J.; Hawkesford, M.J.; McGrath,<br />
S.P. 1999. Sulphur <strong>as</strong>similation and<br />
effects on yield and quality of<br />
wheat. Journal of Cereal Science,<br />
30: 1-17.<br />
Zimmermann, M.B.; Hurrell, R.F. 2002.<br />
Improving iron, zinc and vitamin A<br />
nutrition through plant biotechnology.<br />
Current Opinion in Biotechnology,<br />
13: 142–145.<br />
54 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Pesquisa<br />
Criptosporidiose<br />
em camundongos imunodeficientes<br />
Dinâmica da eliminação de oocistos de Cryptosporidium sp em linhagens de camundongos imunodeficientes<br />
Delma Pegolo Alves<br />
Doutoranda do Depto de Par<strong>as</strong>itologia<br />
IB - Unicamp<br />
Diretora Associada do CEMIB<br />
Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica<br />
delma@cemib.unicamp.br<br />
Maria Helena Seabra Soares de Britto<br />
Mestre em Imunologia - Unicamp<br />
Doutoranda do Depto de Par<strong>as</strong>itologia<br />
IB - Unicamp<br />
Professora do Depto de Farmácia da<br />
Universidade Federal do Maranhão<br />
mhssb@elo.<strong>com</strong>.br<br />
Ana Maria Aparecida Guaraldo<br />
Prof a Dr a do Instituto de Biologia<br />
Departamento de Par<strong>as</strong>itologia - Unicamp<br />
Diretora do CEMIB - Centro Multidisciplinar para<br />
Investigação Biológica<br />
guaraldo@cemib.unicamp.br<br />
Fotos cedid<strong>as</strong> pelos autores<br />
1. Introdução<br />
Em 1907, TYZZER descreveu<br />
Cryptosporidium muris para designar<br />
um pequeno protozoário coccídio,<br />
encontrado n<strong>as</strong> glândul<strong>as</strong> gástric<strong>as</strong> de<br />
camundongo. Posteriormente, em<br />
1912, TYZZER descreveu uma nova<br />
espécie Cryptosporidium parvum.<br />
Por meio de infecção experimental em<br />
camundongos, ele demonstrou que C.<br />
parvum desenvolvia somente no intestino<br />
delgado, e os oocistos eram<br />
menores em relação aos oocistos do<br />
C. muris. (FAYER et al, 1997).<br />
Somente em 1976 foram relatados<br />
os dois primeiros c<strong>as</strong>os de<br />
criptosporidiose humana, sugerindo<br />
um <strong>com</strong>portamento oportunista do<br />
par<strong>as</strong>ito em indivíduos imuno<strong>com</strong>prometidos<br />
(NIME et al, 1976).<br />
Em indivíduos imuno<strong>com</strong>petentes<br />
e <strong>com</strong> sistema imunólogico<br />
<strong>com</strong>prometido, a criptosporidiose é<br />
reconhecida <strong>com</strong>o uma importante<br />
doença diarréica. Geralmente a infecção<br />
pode ser <strong>as</strong>sintomática em indivíduos<br />
imuno<strong>com</strong>petentes, enquanto<br />
nos indivíduos portadores de HIV<br />
ou outr<strong>as</strong> desordens imunológic<strong>as</strong>,<br />
freqüentemente a infecção se torna<br />
crônica (TZIPORI et al, 1986).<br />
As característic<strong>as</strong> clínic<strong>as</strong> da<br />
criptosporidiose são bem descrit<strong>as</strong>. A<br />
doença pode apresentar quatro form<strong>as</strong>:<br />
<strong>as</strong>sintomática, importante por<br />
causar a transmissão endêmica, transitória<br />
ocorrendo em indivíduos imuno<strong>com</strong>petentes,<br />
<strong>com</strong> período de incubação<br />
de 6 di<strong>as</strong> e uma duração de 2 a<br />
30 di<strong>as</strong>. Na forma sintomática são<br />
freqüentes a anorexia, diarréia aquosa,<br />
desconforto abdominal e febre. A forma<br />
crônica é <strong>com</strong>um nos pacientes<br />
HIV positivos, levando à desidratação<br />
e agravamento clínico em indivíduos<br />
desnutridos. A forma fulminante é<br />
exclusiva de pacientes HIV positivos<br />
ou imunossuprimidos devido à terapêutica,<br />
apresentando-se <strong>com</strong>o uma<br />
doença semelhante ao cólera (GRIF-<br />
FITHS, 1998).<br />
Morgan-Ryan et al, 2002,<br />
descreveram uma nova espécie de<br />
Cryptosporidium, designando a de<br />
genótipo humano de C. parvum,<br />
genótipo 1 ou genótipo H.<br />
Considerando <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong><br />
e moleculares, esta nova espécie foi<br />
denominada:Cryptosporidium<br />
hominis.<br />
Alguns estudos consideram que<br />
esta nova espécie não infecta camundongos,<br />
ratos, cães e bezerros. Porém,<br />
a infecção <strong>com</strong> o C. hominis foi reportada<br />
em mamífero marinho Dugong<br />
dugon e ovelh<strong>as</strong>, experimentalmente<br />
foi demonstrada em ovelh<strong>as</strong>,<br />
gado e leitões (XIAO et al., 2004).<br />
Os surtos de criptosporidiose têm<br />
ocorrido devido a transmissão do C.<br />
parvum pela água, pois os oocistos<br />
não são retidos pelos sistem<strong>as</strong> de filtros<br />
no tratamento da água e são resistentes<br />
aos produtos desinfetantes<br />
(SMITH & ROSE, 1998).<br />
Um dos maiores surtos de<br />
criptosporidiose já registrado ocorreu<br />
em abril de 1993, nos Estados Unidos,<br />
na cidade de Milwaukee, onde<br />
aproximadamente 400.000 pesso<strong>as</strong><br />
foram infectad<strong>as</strong> <strong>com</strong> oocistos de<br />
Cryptosporidium parvum veiculados<br />
pela água (MCKENZIE et al, 1994).<br />
Franco et al, 2001, realizaram uma<br />
investigação sobre a ocorrência de<br />
oocistos de Cryptosporidium e cistos<br />
de Giardia, na Região Sudeste do Bra-<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 55
Figura1: Oocistos da linhagem humana MMC de Cryptosporidium sp em esfregaço de suspensão fecal de camundongos<br />
neonatos da linhagem BALB/c/Uni. Coloração Ziehl-Neelsen. Aumento 40X<br />
sil, em água superficial do rio Atibaia.<br />
Os autores relataram que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />
amostr<strong>as</strong> examinad<strong>as</strong> foram positiv<strong>as</strong><br />
para ambos os protozoários.<br />
Experimentalmente a criptosporidiose<br />
ocorre em animais de laboratório<br />
que são imunologicamente<br />
imaturos, ratos tratados <strong>com</strong> drog<strong>as</strong><br />
imunossupressor<strong>as</strong>, camundongos<br />
atímicos, camundongos tratados <strong>com</strong><br />
anticorpos anti-CD4, camundongos<br />
NIH-III (bg/nu/xid) e camundongos<br />
bg (TZIPORI & GRIFFITHS, 1998).<br />
Um problema <strong>as</strong>sociado <strong>com</strong> o<br />
estudo experimental da criptosporidiose<br />
em mamíferos é que muit<strong>as</strong> espécies<br />
de hospedeiros são susceptíveis<br />
à infecção <strong>com</strong> C. parvum durante<br />
<strong>as</strong> três primeir<strong>as</strong> seman<strong>as</strong> de vida<br />
(UNGAR et al, 1990). Os camundongos<br />
imuno<strong>com</strong>petentes d<strong>as</strong> linhagens<br />
BALB/c e C57BL/6 infectados ao n<strong>as</strong>cer,<br />
apresentam resolução da infecção<br />
no decorrer da maturação do sistema<br />
imunológico e da colonização da microbiota<br />
<strong>as</strong>sociada (HARP et al, 1988).<br />
ENRIQUEZ & STERLING (1991)<br />
se propuseram a identificar um modelo<br />
animal <strong>com</strong> potencial de uso para<br />
o estudo da infecção pelo C. parvum.<br />
Para tanto, avaliaram 19 linhagens<br />
diferentes de camundongos adultos e<br />
uma de gerbil (Meriones unguiculatus).<br />
Os resultados mostraram que<br />
somente os camundongos beige<br />
(C57BL/6J-bg j ), apresentaram<br />
números significantes de oocistos no<br />
7 o dia após a infecção.<br />
O modelo scid torna-se importante<br />
por se infectar cronicamente<br />
<strong>com</strong> C. parvum e desenvolver sintom<strong>as</strong><br />
similares aos apresentados por<br />
pacientes <strong>com</strong> imunodeficiência<br />
(MEAD, et al, 1991). Camundongos<br />
scid tratados <strong>com</strong> anti-interferon-gama<br />
são usados para o estudo da infecção<br />
pelo C. parvum, na f<strong>as</strong>e aguda durante<br />
os vinte primeiros di<strong>as</strong> após o<br />
desafio <strong>com</strong> o C. parvum, quando a<br />
infecção é limitada ao trato g<strong>as</strong>trointestinal.<br />
Na f<strong>as</strong>e crônica da doença, do<br />
32 o ao 47 o di<strong>as</strong> após a infecção pelo<br />
C. parvum, ocorre <strong>com</strong>prometimento<br />
hepatobiliar e dos ductos pancreáticos<br />
(TZIPORI et al, 1995).<br />
Os camundongos knockout (KO)<br />
para IFN-γ (interferon-gama), são utilizados<br />
para o estudo da criptosporidiose,<br />
devido ao desenvolvimento de<br />
sinais clínicos e perda de peso. Estes<br />
animais se infectam <strong>com</strong> baix<strong>as</strong> doses<br />
de oocistos de C. parvum, <strong>com</strong> apen<strong>as</strong><br />
10 oocistos o animal desenvolve<br />
a infecção, tornando-se um modelo<br />
importante para avaliação de drog<strong>as</strong><br />
terapêutic<strong>as</strong> (GRIFFITHS et al, 1998).<br />
Com b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> imunológic<strong>as</strong><br />
entre <strong>as</strong> linhagens de camundongos<br />
C57BL/6 KO para IFN-γ,<br />
C.B-17 scid, C57BL/6 bg e C3H nu, o<br />
presente estudo tem <strong>com</strong>o objetivo a<br />
avaliação da dinâmica da eliminação<br />
de oocistos da linhagem MMC de<br />
Cryptosporidium sp em animais adultos.<br />
2. Material e métodos<br />
O protocolo experimental nº428/<br />
1 referente a esta pesquisa foi aprovado<br />
pela CEEA (Comissão de Ética<br />
em Experimentação Animal) do Instituto<br />
de Biologia da UNICAMP - Universidade<br />
Estadual de Campin<strong>as</strong>.<br />
2.1 Manutenção<br />
“in vivo” da linhagem MMC de<br />
Cryptosporidium sp<br />
Conforme relatado por Britto et<br />
al, 2000, a linhagem MMC foi isolada<br />
a partir de fezes human<strong>as</strong> de um único<br />
paciente HIV positivo <strong>com</strong><br />
criptosporidiose, do Hospital d<strong>as</strong> Clínic<strong>as</strong><br />
da Unicamp. A manutenção desta<br />
linhagem foi realizada em camundongos<br />
neonatos S.P.F. (Specific<br />
56 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Tabela I – Mortalidade de camundongos imunodeficientes e imuno<strong>com</strong>petentes<br />
infectados <strong>com</strong> 10 5 oocistos de Cryptosporidium sp.<br />
L inhagens de Camundongos Mortalidade (%)<br />
C.B-17/Uni<br />
scid<br />
0<br />
BALB/c/Uni<br />
0<br />
2.3 Análise morfométrica de<br />
oocistos de Cryptosporidium sp<br />
Para a análise morfométrica dos<br />
oocistos da linhagem MMC, foi utilizado<br />
o material obtido do intestino e<br />
fezes dos animais sacrificados no 7º<br />
dia após a infecção, conforme metodologia<br />
descrita (item 2.1). Foram<br />
feitos esfregaços durante <strong>as</strong> primei-<br />
C57BL/6 KO para IFN- γ 40<br />
C57BL/6/Uni<br />
bg<br />
20<br />
C3H/Uni<br />
nu<br />
40<br />
C57BL/6/Uni<br />
0<br />
Pathogen Free), imuno<strong>com</strong>petentes<br />
isogênicos d<strong>as</strong> linhagens BALB/c/Uni,<br />
C57BL/6/Uni, CBA/Uni, C.B-17/Uni e<br />
heterogênico da linhagem Swiss/Uni<br />
no período de dezembro/1999 a julho/2002.<br />
A partir de novembro/2002<br />
a fevereiro/2004, a linhagem MMC foi<br />
mantida em camundongos de 04 a 06<br />
seman<strong>as</strong> de idade da linhagem C57BL/<br />
6 KO para IFN-γ. A manutenção “in<br />
vivo” do Cryptosporidium sp foi realizada<br />
em ambiente controlado, no isolador,<br />
<strong>com</strong> manejo preconizado por<br />
P<strong>as</strong>sos & Alves (1996). Os oocistos<br />
foram obtidos do intestino dos animais<br />
sacrificados no 7º dia após a infecção.<br />
Foi realizada a maceração do intestino<br />
em homogeneizador de Biozzi,<br />
<strong>com</strong> solução salina tamponada 0,01M<br />
pH 7.2. Em seguida foi realizada a<br />
filtração em malh<strong>as</strong> de nylon e centrifugação<br />
2 a 3 vezes a 1500g, por<br />
10 minutos a 4ºC. A camada superior<br />
do precipitado foi recolhida para determinação<br />
do número de oocistos<br />
(PEETERS & VILLACORTA, 1995). Foi<br />
feita a diluição da suspensão dos oocistos<br />
(20 µL) em solução de verde<br />
de malaquita (80 mL), contendo SDS.<br />
O nº de oocistos foi determinado em<br />
câmara de Neubauer, <strong>com</strong> microscopia<br />
de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e, utilizando<br />
objetiva de 40X.<br />
2.2 Infecção de camundongos<br />
imunodeficientes <strong>com</strong> oocistos<br />
de Cryptosporidium sp<br />
Fême<strong>as</strong> SPF <strong>com</strong> 4 a 6 seman<strong>as</strong><br />
de vida , provenientes do CEMIB,<br />
foram infectad<strong>as</strong> <strong>com</strong> 10 5 oocistos de<br />
Cryptosporidium sp por tubagem<br />
esofágica. Foram utilizados 10 animais<br />
de cada uma d<strong>as</strong> seguintes linhagens<br />
imunodeficientes:<br />
- C.B-17/Uni scid; linhagem imuno<strong>com</strong>petente<br />
controle BALB/c/Uni<br />
- C57BL/6 KO para IFN-γ, C3H/<br />
Uni nu, C57BL/6/Uni bg; linhagem<br />
imuno<strong>com</strong>petente controle C57BL/6/<br />
Uni.<br />
A colônia d<strong>as</strong> linhagens citad<strong>as</strong><br />
foram monitorizad<strong>as</strong> pela Seção de<br />
Controle de Qualidade Sanitária do<br />
CEMIB, <strong>com</strong> metodologia descrit<strong>as</strong><br />
por Gilioli et al, 1996 e Gilioli et al,<br />
2000).<br />
Os ensaios experimentais foram<br />
realizados no Departamento de Par<strong>as</strong>itologia<br />
da UNICAMP, em unidade isoladora<br />
de PVC flexível tipo Trexler.<br />
Após os experimentos, os materiais<br />
retirados do isolador foram tratados<br />
antes do descarte, <strong>com</strong>o padrão de<br />
biossegurança. Para a descontaminação,<br />
os materiais de laboratório foram<br />
submetidos a fervura durante 15<br />
minutos, antes da lavagem. Os dejetos<br />
retirados do equipamento foram<br />
enviados para inativação em equipamento<br />
para tratamento de resíduo de<br />
serviço de saúde mediante ond<strong>as</strong><br />
eletromagnétic<strong>as</strong>.<br />
Foram considerados resistentes os<br />
animais que apresentaram liberação<br />
de oocistos de Cryptosporidium sp na<br />
f<strong>as</strong>e aguda da doença e não apresentaram<br />
mortalidade no período de 15<br />
di<strong>as</strong>.<br />
r<strong>as</strong> 28 p<strong>as</strong>sagens da infecção, no<br />
período de dezembro/1999 a julho/<br />
2000. Os esfregaços foram corados<br />
pela técnica de Ziehl-Neelsen modificada<br />
(HENRIKSEN & POHLENZ,<br />
1981). As medid<strong>as</strong> de 35 oocistos foram<br />
realizad<strong>as</strong> <strong>com</strong> auxílio de ocular<br />
micrométrica, em microscópio Zeiss<br />
acoplado à câmara clara, <strong>com</strong> aumento<br />
de 1000X. Os resultados foram expressos<br />
<strong>com</strong>o índice de forma, conforme<br />
XIAO et al, (2004).<br />
2.4 Dinâmica da eliminação de<br />
oocistos de Cryptosporidium sp<br />
As fezes dos animais adultos infectados<br />
foram colhid<strong>as</strong> diariamente,<br />
durante 15 di<strong>as</strong>, individualmente e<br />
armazenad<strong>as</strong> em dicromato de potássio<br />
na concentração final de 2,5%,<br />
mantid<strong>as</strong> a 4ºC. Posteriormente, <strong>as</strong><br />
amostr<strong>as</strong> de fezes foram centrifugad<strong>as</strong><br />
a 1500 g durante 15 minutos. Em<br />
seguida, retirou-se a camada superior,<br />
para a contagem dos oocistos adicionando-se<br />
solução de verde de malaquita<br />
a 0,16%, contendo 0,1% de SDS. O<br />
número de oocistos foi determinado<br />
em câmara de Neubauer, sob microscopia<br />
de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e<br />
(PEETERS & VILLACORTA, 1995). O<br />
peso corporal individual dos camundongos,<br />
devidamente identificados<br />
por marcação auricular, foi registrado<br />
em balança semi-analítica, no início e<br />
ao final do experimento.<br />
2.5 Metodologia estatística<br />
O estudo estatístico da eliminação<br />
de oocistos de Cryptosporidium sp.<br />
foi realizado mediante a <strong>com</strong>paração<br />
d<strong>as</strong> médi<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> em cada uma d<strong>as</strong><br />
amostr<strong>as</strong>, referente aos 6 o , 9 o , 12 o e<br />
15 o di<strong>as</strong> após a infecção. Este período<br />
está <strong>as</strong>sociado <strong>com</strong> a mortalidade dos<br />
animais e eliminação dos oocistos n<strong>as</strong><br />
fezes. Foi utilizado o procedimento de<br />
Análise de Variância (ANOVA) e <strong>com</strong>parações<br />
paread<strong>as</strong> pelo método de<br />
Tukey, <strong>com</strong> nível de confiança de<br />
95%. As análises foram realizad<strong>as</strong> no<br />
software estatístico Minitab – Versão<br />
13.<br />
3. Resultados<br />
A dimensão de 35 oocistos de<br />
Cryptosporidium sp (média e desvio<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 57
padrão), foram <strong>as</strong><br />
seguintes: <strong>com</strong>primento<br />
4,91 ±0,44µm e largura<br />
5,85 ±0,35µm. O índice<br />
de forma (C/L) obtido<br />
foi 0,84.<br />
Foi possível estabelecer<br />
a manutenção<br />
do cultivo “in vivo” da<br />
linhagem humana MMC<br />
de Cryptosporidium sp<br />
em camundongos neonatos<br />
imuno<strong>com</strong>petentes,<br />
e camundongos<br />
adultos C57BL/6 KO<br />
para IFN-g. Esta linhagem<br />
de Cryptosporidium<br />
sp encontra-se na<br />
67º p<strong>as</strong>sagem da infecção e mantém<br />
alta infectividade .<br />
Para a implantação e manutenção<br />
do cultivo “in vivo” do<br />
Cryptosporidium sp, correspondente<br />
ao período de Dezembro/1999 a fevereiro/2004,<br />
foram utilizados 1265<br />
animais, entre camundongos neonatos<br />
d<strong>as</strong> linhagens BALB/c/Uni, C57BL/6/<br />
Uni, CBA/Uni, C.B-17 /Uni, Swiss/Uni,<br />
e camundongos adultos C57BL/6 KO<br />
para IFN-γ, em ambiente controlado<br />
(Fig.1).<br />
Considerando a taxa de mortalidade<br />
nos animais imunodeficientes<br />
e imuno<strong>com</strong>petentes (Tabela I), não<br />
houve morte na linhagem scid, <strong>as</strong>sim<br />
<strong>com</strong>o no controle. Os camundongos<br />
nude, KO e bg apresentaram mortalidade<br />
no 11º dia após infecção.<br />
O <strong>com</strong>portamento d<strong>as</strong> linhagens<br />
imunodeficientes e imuno<strong>com</strong>petentes,<br />
quanto a liberação de oocistos<br />
n<strong>as</strong> fezes, foi avaliado a partir do 6º<br />
dia até o 15º dia após a infecção<br />
(Figura 2).<br />
4. Discussão<br />
A manutenção da linhagem de<br />
origem humana de Cryptosporidium<br />
sp em camundongos SPF ainda não<br />
foi descrita no Br<strong>as</strong>il e tornou-se uma<br />
fonte de antígeno para diagnóstico da<br />
criptosporidiose.<br />
Um dos fatores limitantes para<br />
entender a biologia do C. parvum é<br />
a dificuldade de obtenção de amostr<strong>as</strong><br />
purificad<strong>as</strong> de vários estágios de<br />
desenvolvimento intracelular do par<strong>as</strong>ito.<br />
Conseqüentemente, muit<strong>as</strong><br />
Figura 2 - Dinâmica da eliminação de oocistos de Cryptosporidium sp em<br />
camundongos imunodeficientes: KO, nude, scid, bg e imuno<strong>com</strong>petentes<br />
BALB/c/Uni e C57BL/6/Uni no 6º, 9º, 12º e 15º dia após a infecção (d.a.i.)<br />
<strong>com</strong> 10 5 oocistos.<br />
pesquis<strong>as</strong> <strong>com</strong> o par<strong>as</strong>ito procuram<br />
caracterizar e identificar os antígenos<br />
expressos na superfície d<strong>as</strong> form<strong>as</strong><br />
inv<strong>as</strong>iv<strong>as</strong>, tais <strong>com</strong>o esporozoítos e<br />
merozoítos (WIDMER et al, 2002).<br />
O isolamento da linhagem<br />
MMC de Cryptosporidium sp em camundongo<br />
propicia a padronização<br />
de um genótipo, possivelmente humano<br />
<strong>com</strong>o fonte de antígenos para<br />
diagnóstico e infecção de cultura de<br />
célul<strong>as</strong>.<br />
Atualmente são reconhecid<strong>as</strong><br />
treze espécies de Cryptosporidium<br />
(XIAO et al, 2004). As medid<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong><br />
dos oocistos da linhagem MMC,<br />
<strong>com</strong>primento 4,91 ±0,44µm e largura<br />
5,85 ±0,35µm sugerem que a<br />
linhagem MMC, de origem humana<br />
se enquadra dentro da espécie<br />
Cryptosporidium hominis, conforme<br />
CAREY et al, 2004. No entanto, o<br />
índice de forma (C/L) obtido foi de<br />
0,84, divergindo d<strong>as</strong> observações de<br />
XIAO et al, 2004, que indica para C.<br />
hominis índice de forma 1,15. Porém,<br />
a análise morfométrica não pode ser<br />
usada <strong>com</strong>o ferramenta para cl<strong>as</strong>sificação<br />
d<strong>as</strong> espécies de Cryptosporidium,<br />
pois além dos parâmetros biológicos,<br />
deve-se considerar principalmente<br />
<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> genétic<strong>as</strong> (MOR-<br />
GAN-RYAN et al, 2002; FALL et al,<br />
2003).<br />
A hipótese de se tratar de<br />
Cryptosporidium hominis, pode ser<br />
sustentada pelos resultados de<br />
Mclauchlin et al, 1999, quando <strong>com</strong>parado<br />
<strong>com</strong> C. parvum.<br />
Outra diferença entre C. hominis<br />
e C. parvum é quanto a liberação<br />
de oocistos. O estudo<br />
conduzido por Mclauchlin<br />
et al, 1999, em 218<br />
pacientes, <strong>com</strong> diagnóstico<br />
de diarréia,<br />
demonstrou que os pacientes<br />
que apresentaram<br />
infecção pelo C.<br />
hominis liberaram<br />
maior quantidade de oocistos,<br />
em relação aos<br />
pacientes que se infectaram<br />
pelo C. parvum.<br />
Todos os camundongos<br />
utilizados neste<br />
estudo foram cl<strong>as</strong>sificados<br />
na categoria VAF (Virus<br />
Antibody Free), pelos<br />
resultados de monitorização sanitária.<br />
Desta forma foi <strong>as</strong>segurada a infecção<br />
“in vivo” sem a interferência<br />
de outros patógenos murinos. Poucos<br />
são os relatos de interferência do<br />
Cryptosporidium na pesquisa experimental<br />
<strong>as</strong>sociado a outros patógenos<br />
em camundongos. Há autores que relataram<br />
o efeito sinérgico do<br />
Cryptosporidium parvum, isolado<br />
CPB-0, <strong>com</strong> rotavírus em leitões SPF<br />
(Enemark et al, 2003).<br />
Dentre <strong>as</strong> linhagens de camundongos<br />
imunodeficientes estudad<strong>as</strong>, a<br />
linhagem scid apresentou resistência<br />
à infecção pelo Cryptosporidium sp,<br />
quando <strong>com</strong>parada <strong>com</strong> <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> linhagens<br />
imunodeficentes. Os nossos<br />
resultados corroboram <strong>com</strong> Hayard et<br />
al, 2000, que <strong>com</strong>provaram a importância<br />
do IFN-γ para a sobrevida<br />
do scid .<br />
Mead & You, 1998, investigaram<br />
à susceptibilidade frente a infecção<br />
pelo C. parvum entre du<strong>as</strong> linhagens<br />
diferentes de camundongos, amb<strong>as</strong><br />
KO para interferon-gama (BALB/c-<br />
Ifg (m)@ e C57BL/6J-Ifg (m)@ ). Os camundongos<br />
BALB/c-Ifg (m)@ desenvolveram<br />
infecção moderada <strong>com</strong> média de<br />
eliminação de oocistos 100 vezes<br />
menor em relação ao camundongo<br />
C57BL/6J-Ifg (m)@ .<br />
O estudo da ação de citocin<strong>as</strong><br />
durante a infecção pelo<br />
Cryptosporidium parvum em<br />
camundongos knockout (KO) para IL-<br />
4, IL-10, IL12 e CCR5, <strong>com</strong> background<br />
de BALB/c, evidenciou <strong>as</strong><br />
diferenç<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> linhagens, pois os<br />
animais KO mostraram-se resistentes<br />
58 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
(CAMPBELL et al, 2002). Os autores<br />
também observaram que o KO para<br />
IL-12, <strong>com</strong> “background” de C57BL/<br />
6, quando infectado <strong>com</strong> 100 oocistos,<br />
apresentou alta susceptibilidade,<br />
liberando grandes quantidades de<br />
oocistos, em relação às outr<strong>as</strong><br />
linhagens knockout. Após du<strong>as</strong><br />
seman<strong>as</strong> o KO para IL-12 foi capaz<br />
de controlar a infecção, sugerindo que<br />
a IL-12 é um importante indutor de<br />
IFN-γ.<br />
Os camundongos nude<br />
mostraram controle parcial da infecção.<br />
Nossos resultados encontram respaldo<br />
nos trabalhos de R<strong>as</strong>mussen & Healey,<br />
1992, foi demonstrado que a ausência<br />
de linfócitos T em modelos animais<br />
estabelece a infecção pelo<br />
Cryptosporidum parvum. Conforme<br />
descrito pelos autores, os<br />
camundongos CD4 - apresentam<br />
perfil de infecção semelhante aos<br />
camundongos nude.<br />
Ungar et al, 1991, avaliaram o<br />
papel de INF-γ, célul<strong>as</strong> CD4 e CD8<br />
em camundongos adultos BALB/c<br />
nude submetidos a tratamento <strong>com</strong><br />
anticorpo monoclonal. Os autores<br />
demonstraram que o controle da<br />
infecção requer a produção de IFN-γ<br />
e contribuição do linfócito CD4. Na<br />
defesa do hospedeiro contra a<br />
infecção pelo Criptosporidium sp,<br />
também é acionado um mecanismo<br />
independente de linfócitos T, no qual<br />
os macrófagos ativados induzem a<br />
secreção de IFN-γ, pel<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> NK<br />
(BANCROFT & KELLY, 1994).<br />
A análise estatística da eliminação<br />
de oocistos no decorrer da infecção<br />
evidenciou que a linhagem KO para<br />
IFN-γ apresentou significativamente<br />
maior liberação de oocistos em todos<br />
os períodos. A linhagem nude superou<br />
a linhagem controle apen<strong>as</strong> no 6º<br />
dia após infecção, apresentando diferenç<strong>as</strong><br />
significativ<strong>as</strong> em relação à linhagem<br />
scid. No 15º dia após infecção,<br />
houve diferença significativa<br />
entre <strong>as</strong> linhagens de camundongos<br />
bg e scid <strong>com</strong>parada aos respectivos<br />
controles. É importante destacar que<br />
a linhagem imuno<strong>com</strong>petente mais<br />
refratária à infecção foi C57BL/6/Uni,<br />
que apresentou oocistos apen<strong>as</strong> no 9º<br />
dia, enquanto a linhagem BALB/c/Uni<br />
apresentou oocistos no 6º, 9º e 12º<br />
di<strong>as</strong> após a infecção.<br />
A literatura relata que <strong>as</strong> linhagens<br />
de Cryptosporidium sp estudad<strong>as</strong> até<br />
o momento, mesmo <strong>as</strong> de origem<br />
humana, são mantid<strong>as</strong> em bezerros,<br />
por vários anos. No estudo de Griffiths<br />
et al, 1998, utilizando o camundongo<br />
KO para IFN-γ <strong>com</strong> “background”<br />
C57BL/6, o pico de eliminação<br />
de oocistos aconteceu no 9º dia<br />
após a infecção. Em nossos resultados,<br />
a linhagem MMC de Cryptosporidium<br />
sp, no mesmo modelo evidenciou<br />
maior eliminação de oocistos no 6º dia<br />
após a infecção, uma característica que<br />
sugere tratar-se genótipo humano.<br />
Foi possível constatar que não<br />
houve controle da infecção pela linhagem<br />
KO, enquanto a linhagem bg<br />
apresentou uma resposta tardia quanto<br />
à eliminação dos oocistos <strong>as</strong>sociada<br />
a significativa perda de peso no 15º<br />
dia após a infecção (dados não mostrados).<br />
A análise conjunta da mortalidade<br />
dos camundongos imunodeficientes<br />
infectados pelo Cryptosporidium sp<br />
e da eliminação de oocistos (Fig.2)<br />
indica que o perfil de resistência à<br />
infecção n<strong>as</strong> linhagens estudad<strong>as</strong> obedece<br />
o seguinte padrão: C57BL/6/Uni<br />
> BALB/c/Uni > scid >bg > nude > KO.<br />
Os resultados indicam a importância<br />
do interferon-gama, linfócitos T e<br />
célul<strong>as</strong> NK na resistência à infecção<br />
pelo Cryptosporidium sp.<br />
5. Referênci<strong>as</strong> Bibliográfic<strong>as</strong><br />
BANCROFT, G.J. & KELLY, J.P. Macrophage<br />
activation and innate resistance<br />
to infection in SCID mice.<br />
Immunobiology, v.191, p.424-<br />
31, 1994.<br />
BRITTO, M.H.S, ALVES, D.P. FREITAS,<br />
F.F.T. & GUARALDO, A.M.A. Isolamento<br />
de Cryptosporidium parvum<br />
de fezes de paciente HIV<br />
positivo e manutenção do isolado<br />
humano em camundongos. IN:<br />
Congresso Br<strong>as</strong>ileiro da Ciência de<br />
Animais de Laboratório, VII, 3-6/<br />
12/2000, Campin<strong>as</strong>.<br />
CAMPBELL, L.D., STEWART, J.N. &<br />
MEAD, J.R. Susceptibility to Cryptosporidium<br />
parvum infections in<br />
cytokine and chemokine-receptor<br />
knockout mice. The Journal<br />
of Par<strong>as</strong>itology, v.88, p.1014-<br />
16, 2002.<br />
CAREY, C.M., LEE, H. & TREVORS, J.T.<br />
Biology persistence and detection<br />
of Cryptosporidium parvum and<br />
Cryptosporidium hominis oocyst.<br />
Water Research. v.38, p.818-<br />
862, 2004.<br />
ENEMARK, H.L., BILLE-HANSEN,V. ,<br />
LIND P., HEEGAARD P.M., VI-<br />
GRE, H., AHRENS, P. & THAMS-<br />
BORG, S M. Pathogenicity of Cryptosporidium<br />
parvum- evaluation<br />
of an animal infection model. Veterinary<br />
Par<strong>as</strong>itology, v. 113<br />
p.35-37, 2003.<br />
ENRIQUEZ, F.J., & STERLING, C.R.<br />
Cryptosporidium Infections in<br />
inbred strains of mice. Journal<br />
Protozoology, v.38, p.100-02,<br />
1991.<br />
FALL, A., THOMPSON, R.C., HOBBS,<br />
R.P., MORGAN-RYAN, U. Morphology<br />
is not a reliable tool for delineating<br />
species within Cryptosporidium.<br />
The Journal of Par<strong>as</strong>itology,<br />
vol.89, p.399-402, 2003.<br />
FAYER, R., SPEER, C. & DUBEY, J. The<br />
general biology of Cryptosporidium,<br />
p.1-41. IN: R. Fayer ( ed),<br />
Cryptosporidium and Cryptosporidiosis.<br />
CRC Press, Inc., Boca<br />
Taton, Fla. 1997.<br />
FRANCO, R.B., ROCHA-EBERHARDT,<br />
R. & CANTUSIO NETO, R. Ocurrence<br />
of Cryptosporidium oocysts<br />
and Giardia cysts in raw water<br />
from the Atibaia River, Campin<strong>as</strong>,<br />
Brazil. Revista do Instituto de<br />
Medicina Tropical do Estado<br />
de São Paulo, v.43, p.109-111,<br />
2001.<br />
GILIOLI, R., SAKURADA, J.K., ANDRA-<br />
DE, L. A.G., KRAFT, V., MEYER, B.<br />
& RANGEL, H.A. Virus infection in<br />
rat and mouse colonies reared in<br />
Brazilian animal facilities. Laboratory<br />
Animal Science, v.46,<br />
p.582-84, 1996.<br />
GILIOLI, R., ANDRADE, L.A.G., PAS-<br />
SOS, L.A.C., SILVA, F.A., RODRI-<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 59
GUES, D.M., GUARALDO, A.M.A.<br />
Par<strong>as</strong>ite survey in mouse and rat<br />
colonies of Brazilian laboratory<br />
animal houses kept under different<br />
sanitary barrier conditions.<br />
Arquivo Br<strong>as</strong>ileiro de Medicina<br />
Veterinária e Zootecnia,<br />
v.52, p.33-37, 2000.<br />
GRIFFTHS, J.K. Human<br />
Cryptosporidiosis: epidemiology,<br />
transmission, clinical dise<strong>as</strong>e,<br />
treatment and diagnosis. Advances<br />
in Par<strong>as</strong>itology.<br />
v.40, p. 37-85, 1998.<br />
GRIFFITHS, J.K., THEODOS, C., PA-<br />
RIS, M., & TZIPORI, S. The gamma<br />
interferon gene Knockout mouse:<br />
a highly sensitive model for<br />
evaluation of therapeutic agents<br />
against Cryptosporidium parum.<br />
Journal of Clinical<br />
Microbiology. v.36, p. 2503-<br />
2508, 1998.<br />
HARP, J.A., WANNEMUEHLER, M.W.,<br />
WOODMANSEE, D.B. & MOON,<br />
H.W. Susceptibility of germ-free<br />
or antibiotic-treated adult mice to<br />
Cryptosporidium parvum.<br />
Infection And Immunity, v.56,<br />
p. 2006-2010,1988.<br />
HENRIKSEN, S.A., POHLENZ, J.F.L.<br />
Staining of Cryptosporidia by a<br />
modified Ziehl-Neelsen technique.<br />
Acta Veterinary Scanddinavian,<br />
v.22, p.594-596, 1981.<br />
MACKENZIE, W.R., N.J. HOXIE, M.E.<br />
PROCTOR, M.S. GRADUS, K.A.<br />
BLAIR, D.E. PETERSON, J.J. KAZ-<br />
MIERCZAK, D.G. ADDISS, K.R.<br />
FOX, J. B. ROSE, ET AL. A m<strong>as</strong>sive<br />
outbreak in Milwaukee of Cryptosporidium<br />
infection transmitted<br />
through the public water supply.<br />
The New England Journal of<br />
Medicine, v.331, p.161-167,<br />
1994.<br />
McLAUCHLIN, J., S. PEDRAZA-DIAZ,<br />
C. AMAR-HOETZENEDER & G.L.<br />
NICHOLS. Genetic characterization<br />
of Cryptosporidium strains<br />
from 218 patients with diarrhea<br />
diagnosed <strong>as</strong> having sporadic cryptosporidiosis.<br />
Journal of Clinical<br />
Microbiology, v.37, p.3153-<br />
3158, 1999.<br />
MEAD, J.R., ARROWOOD, M.J., SI-<br />
DWELL, R.W. & HEALEY, M.C.<br />
Chronic Cryptosporidium parvum<br />
infections in congenitally immunodeficient<br />
SCID and nude mice.<br />
The Journal Of Infectious Dise<strong>as</strong>es,<br />
v.163, p.1297-1304, 1991.<br />
MEAD, J.R. & YOU, X. Susceptibility<br />
differences to Cryptosporidium<br />
parvum infection in two strains of<br />
gamma interferon knockout mice.<br />
The Journal Of Par<strong>as</strong>itology, v.<br />
84, p.1045-1048, 1998.<br />
MORGAN-RYAN, U.M., FALL, A.,<br />
WARD, L.A., HIJJAWI, N., SULAI-<br />
MAN, I., FAYER, R., THOMPSON,<br />
R.C., OLSON, M., LAL, A., XIAO L.,<br />
Cryptosporidium hominis n. sp.<br />
(Api<strong>com</strong>plexa: Cryptosporidiidae)<br />
from Homo sapiens Journal Eukaryotic<br />
Microbiology, v.49, p.<br />
433-440, 2002.<br />
NIME, F., BUREK, J., PAGE, D., HOLS-<br />
CHER, M. & YARDLEY, J. Acute<br />
enterocolitis in a human infected<br />
with the protozoan Cryptosporidium<br />
G<strong>as</strong>troenterology, v.70,<br />
p.592-598, 1976.<br />
PASSOS, L.A.C. & ALVES, D.P. Isoladores.<br />
IN: Manual para Técnicos em<br />
Bioterismo. De Luca, RR., Alexandre,<br />
SR., Marques, T., Souza, NL.,<br />
Merusse, JLB. e Neves, S. P. (eds)<br />
2 a ed. São Paulo, p.27-34, 1996.<br />
PEETERS, J. & VILLACORTA, I. Cryptosporidium.<br />
IN: EUR 16602 –<br />
Guidelines on Techniques in coccidiosis<br />
research. J. Eckert, R. Braun,<br />
M.W. Shirley, P. Coudert Ed. Luxembourg.<br />
p. 202-240, 1995.<br />
RASMUSSEN, K. & HEALEY, M. Experimental<br />
Cryptosporidium parvum<br />
infections in immunosuppressed<br />
adult mice. Infection And Immunity,<br />
v.60, p. 1648-1652, 1992.<br />
SMITH, H.V. & ROSE, J.B. Waterborne<br />
Cryptosporidiosis: Current status.<br />
Par<strong>as</strong>itology Today, v.14, p.14-<br />
22, 1998.<br />
TZIPORI, S., ROBERTON, D., CHAP-<br />
MAN, C., - Remission of diarrhoea<br />
due to cryptosporidiosis in an immunodeficient<br />
child treated whith<br />
hyperimmune bovine colostrum.<br />
British Medical Journal, v.293,<br />
p.1276, 1986.<br />
TZIPORI, S., RAND, W. & THEODOS,<br />
C. Evaluation of a two-ph<strong>as</strong>e a scid<br />
mouse model preconditioned with<br />
anti-interferon-gamma monoclonal<br />
antibody for drug testing against<br />
Cryptosporidium parvum. The<br />
Journal of Infectious Dise<strong>as</strong>es,<br />
v.172, p. 1160-1164, 1995.<br />
TZIPORI , S. & GRIFFITHS, J. Natural<br />
history and biology of Cryptosporidium<br />
parvum . IN: Advances in<br />
Par<strong>as</strong>itology – Opportunistic Protozoa<br />
in Humans. Baker, J.R., Mullrt,<br />
R., Rollinson, D. & Tzipori, S. eds.<br />
Academic Press Ltd. London, v.40,<br />
p.6-36, 1998.<br />
UNGAR, B.L, BURRIS, J., QUINN, C. &<br />
FINKELMAN, F. New mouse models<br />
for chronic Cryptosporidium<br />
infection in immunodeficient hosts.<br />
Infection and Immunity, v.58,<br />
p. 961-969, 1990.<br />
UNGAR, B.L., KAO, T.C., BURRIS, J.A.<br />
& FINKELMAN, F.D. Cryptosporidium<br />
infection in an adult mouse<br />
model. Independent roles for IFNgamma<br />
and CD4+ T lymphocytes<br />
in protective immunity. The Journal<br />
of Immunology, v.3, p.1014-<br />
1022, 1991.<br />
WIDMER, G., LIN, L., KAPUR, V., FENG,<br />
X. & ABRAHAMSEN, M. S.<br />
Genomics and genetics of Cryptosporidium<br />
parvum: the key to<br />
understanding cryptosporidiosis.<br />
Microbes and Infections v4, p.<br />
1081-1090, 2002.<br />
XIAO, L., FAYER, R., RYAN, U. &<br />
UPTON, S. J. Cryptosporidium<br />
Taxonomy: Recent Advances and<br />
Implications for Public Health.<br />
Clinical Microbiology Reviews,<br />
v.17, p.72-97, 2004.<br />
60 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Pesquisa<br />
Cultivares e genes<br />
Pesquisa<br />
Entidades distint<strong>as</strong> e essenciais à agricultura<br />
Aluízio Borém<br />
Eng. Agrônomo, M.S. Ph.D., Professor da<br />
Universidade Federal de Viçosa e Presidente da<br />
Sociedade Br<strong>as</strong>ileira de Melhoramento de Plant<strong>as</strong><br />
borem@ufv.br<br />
Imagens cedid<strong>as</strong> pelo autor<br />
Figura 01<br />
Até por volta do ano 1900 não se<br />
entendia a razão da semelhança entre<br />
pais e filhos ou entre parentes. Alguns<br />
acreditavam que o sangue era responsável<br />
pela semelhança entre indivíduos<br />
aparentados. Intrigado por esta<br />
questão Gregor Mendel, em 1865, realizou<br />
uma série de cruzamentos entre<br />
ervilh<strong>as</strong> <strong>com</strong> diferentes tipos de grãos<br />
e cor de flor. Estudando os resultados<br />
dos seus trabalhos Mendel concluiu<br />
que uma determinada estrutura presente<br />
nos órgãos reprodutivos eram<br />
responsáveis pela hereditariedade, os<br />
genes. Gene é a unidade física e<br />
funcional da hereditariedade que codifica<br />
uma proteína funcional ou molécula<br />
de RNA. Os botânicos e em geral<br />
a <strong>com</strong>unidade cientifica da época consideraram<br />
a argumentação de Mendel<br />
sem consistência e ele morreu sem ter<br />
seus trabalhos reconhecidos. Somente<br />
em 1900 que seus trabalhos foram<br />
descobertos, dando origem a ciência<br />
que hoje conhecemos <strong>com</strong>o genética.<br />
Gene é, portanto, uma seqüência<br />
de ácidos desoxirribonucléicos (DNA),<br />
que codifica <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> herdáveis<br />
dos seres vivos. Cada gene sozinho, ou<br />
em muito c<strong>as</strong>os, <strong>as</strong>sociados a um ou<br />
mais genes determinam se uma variedade<br />
de milho apresenta elevado teor<br />
de proteína ou se é de ciclo precoce.<br />
Os genes encontram-se na estrutura<br />
constituída de uma hélice dupla denominada<br />
cromossomo. Cada espécie<br />
possui um número típico de<br />
cromossomos e, o conjunto de todos<br />
os genes, distribuídos nos<br />
cromossomos, constituem o genoma<br />
do indivíduo.<br />
As célul<strong>as</strong> não podem produzir uma<br />
proteína pelo simples alinhamento de<br />
aminoácidos ao longo do gene (DNA),<br />
e para isso usam o RNA; os aminoácidos<br />
não se aderem ao DNA. Adicionalmente,<br />
o uso de um molde intermediário<br />
(RNA) na síntese protéica reduz o risco<br />
de danos ao DNA. Novamente, o<br />
dogma central da genética postula que<br />
a molécula intermediária RNAm, uma<br />
cópia do DNA, é utilizada repetidamente<br />
para a síntese protéica,utilizando<br />
a maquinaria celular e resultando na<br />
expressão d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> dos indivíduos<br />
(Figura 01).<br />
Os genes são, portanto, a receita de<br />
cada indivíduo ser <strong>com</strong>o é. Neste<br />
sentido, os genes em seu conjunto, o<br />
genoma, são a receita de cada indivíduo.<br />
Embora um indivíduo não possa<br />
existir sem os genes, cada gene isoladamente<br />
não possui capacidade autônoma<br />
de reprodução e não pode se<br />
multiplicar por si só. A perpetuação de<br />
um gene só é possível se ele estiver<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 61
inserido em um indivíduo ou uma de<br />
su<strong>as</strong> partes, a exemplo d<strong>as</strong> sementes<br />
ou estrutur<strong>as</strong> vegetativ<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o os<br />
bulbos, estolons, rizom<strong>as</strong> etc. A estrutura<br />
mínima de reprodução de uma<br />
planta é uma célula, que no seu núcleo<br />
possui pelo menos um exemplar de<br />
cada gene da espécie. A replicação<br />
gênica ocorre dentro do núcleo da<br />
célula, <strong>com</strong> o envolvimento da enzima<br />
DNA polimer<strong>as</strong>e, presente na celula<br />
(Figura 02).<br />
Para a funcionalidade do gene, ele<br />
precisa apresentar outr<strong>as</strong> regiões além<br />
da região codificadora, denominada<br />
éxon. O esquema da figura abaixo<br />
ilustra um gene típico de organismos<br />
eucarióticos: animais e plant<strong>as</strong>. Nessa<br />
figura está evidenciado o promotor,<br />
que é a região do DNA que regula o<br />
local, momento e intensidade da expressão<br />
do gene. A região à direita do<br />
promotor constitui a sua seqüência<br />
codificadora <strong>com</strong> seus éxons e íntrons,<br />
os quais são transcritos, ou seja, são<br />
convertidos em uma molécula de RNA<br />
durante a expressão do gene. Os íntrons<br />
funcionam <strong>com</strong> o preenchimento do<br />
loco gênico (região do DNA onde se<br />
encontra o gene), os quais, embora<br />
sejam transcritos, são eliminados no<br />
Figura 02<br />
processamento do RNAm, antes de<br />
ocorrer a tradução (produção da proteína).<br />
Os éxons contêm a seqüência<br />
codificadora da proteína a ser sintetizada<br />
(Figura 03).<br />
Variedade geneticamente modificada<br />
é aquela na qual foi inserido um<br />
gene isolado de um outro indivíduo,<br />
via técnic<strong>as</strong> do DNA re<strong>com</strong>binante,<br />
também conhecida <strong>com</strong>o engenharia<br />
genética. O gene <strong>as</strong>sim transferido,<br />
tem sido designado de transgene e<br />
possui <strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> propriedades característica<br />
dos genes, qual sejam, são<br />
essenciais para a formação do ser vivo<br />
porém não se perpetuam autonomamente,<br />
isto é, independentemente do<br />
indivíduo.<br />
Variedade é um grupo de plant<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> característic<strong>as</strong> distint<strong>as</strong>, homogêne<strong>as</strong><br />
e estáveis, <strong>com</strong> identidade própria,<br />
que a distingue d<strong>as</strong> demais. Os<br />
descritores varietais que conferem identidade<br />
às variedades podem ser: ciclo,<br />
cor d<strong>as</strong> sementes, caracteres<br />
morfológicos, reação a doenç<strong>as</strong>, produção<br />
de grãos, padrões isoenzimáticos<br />
ou de ácidos nucléicos. A estabilidade<br />
da variedade é importante para sua<br />
identificação, geração após geração.<br />
O termo cultivar, que tem sido<br />
usado <strong>com</strong>o sinônimo de variedade,<br />
foi cunhado a partir da contração d<strong>as</strong><br />
palavr<strong>as</strong> ingles<strong>as</strong> cultivated variety (variedade<br />
cultivada). Há uma discussão<br />
sobre o gênero do termo cultivar. Alguns<br />
periódicos científicos nacionais<br />
consideram-no feminino, <strong>com</strong>o a Revista<br />
da Pesquisa Agropecuária Br<strong>as</strong>ileira,<br />
PAB, enquanto a Revista Ceres<br />
considera-o m<strong>as</strong>culino.<br />
Tipos de variedade<br />
Vários são os tipos de variedades<br />
que o melhorista desenvolve para que<br />
o agricultor possa explorar <strong>com</strong>ercialmente<br />
<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>. Embora <strong>as</strong> variedades<br />
só possam ser multiplicad<strong>as</strong> se<br />
seus genes estiverem presentes na<br />
unidade de reprodução, sementes ou<br />
partes vegetativ<strong>as</strong>, os genes por sua<br />
vez não podem se reproduzir isoladamente,<br />
isto é, autonomamente.<br />
Linh<strong>as</strong> pur<strong>as</strong><br />
As linh<strong>as</strong> pur<strong>as</strong> são constituíd<strong>as</strong> por<br />
um grupo de indivíduos em<br />
homozigose que apresentam b<strong>as</strong>icamente<br />
a mesma constituição genética,<br />
o que <strong>as</strong> torna homozigótic<strong>as</strong> e homogêne<strong>as</strong>.<br />
Estatisticamente, Kempthorne<br />
(1957) definiu uma linha pura <strong>com</strong>o<br />
um grupo de indivíduos homozigóticos<br />
<strong>com</strong> um coeficiente de parentesco<br />
superior ou igual a 0,87.<br />
Híbridos<br />
Os híbridos são resultantes do cruzamento<br />
entre indivíduos geneticamente<br />
distintos, visando à utilização<br />
prática da heterose. São heterozigóticos<br />
e homogêneos e primariamente utilizados<br />
em espécies alógam<strong>as</strong>. Híbridos<br />
de algum<strong>as</strong> espécies autógam<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o<br />
tomate e berinjela e, de forma menos<br />
representativa, trigo e cevada, estão<br />
disponíveis em diferentes países<br />
(Carlsson e Leijon, 1986; Lehmann,<br />
1986).<br />
Os híbridos podem ser obtidos do<br />
cruzamento de du<strong>as</strong> linhagens<br />
Figura 03<br />
62 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
endogâmic<strong>as</strong>, (P 1<br />
x P 2<br />
), híbrido simples;<br />
de três linhagens endogâmic<strong>as</strong>,<br />
[(P 1<br />
x P 2<br />
) x P 3<br />
], híbrido triplo; ou de<br />
quatro linhagens endogâmic<strong>as</strong>, [(P 1<br />
x<br />
P 2<br />
) x (P 3<br />
x P 4<br />
)], híbrido duplo. Além d<strong>as</strong><br />
linhagens endogâmic<strong>as</strong>, podem-se utilizar<br />
variedades de polinização aberta,<br />
clones ou linh<strong>as</strong> pur<strong>as</strong> na obtenção dos<br />
híbridos.<br />
Clone<br />
O clone é constituído por um grupo<br />
de indivíduos que descendem, por<br />
propagação <strong>as</strong>sexuada, de um único<br />
genitor. Os clones são heterozigóticos<br />
e, em geral, homogêneos. Os indivíduos<br />
de um mesmo clone são geneticamente<br />
idênticos.<br />
N<strong>as</strong> espécies de propagação<br />
<strong>as</strong>sexuada, há uma correlação positiva<br />
entre grau de heterozigose e vigor.<br />
Por isso, <strong>as</strong> variedades clonais são em<br />
geral altamente heterozigótic<strong>as</strong>.<br />
Outros tipos de cultivares <strong>com</strong>o<br />
multilinh<strong>as</strong>, sintéticos, variedades de<br />
polinização aberta e outr<strong>as</strong> podem<br />
eventualmente ser utilizad<strong>as</strong> pelos<br />
agricultores.<br />
Conclusões<br />
Genes convencionais ou transgenes<br />
não possuem capacidade autônoma<br />
de reprodução ou de multiplicação por<br />
si só. Para a perpetuação de um gene<br />
ele precisa estar inserido em uma planta<br />
ou em uma de su<strong>as</strong> partes, que<br />
possua viabilidade, a exemplo d<strong>as</strong> sementes.<br />
Referênci<strong>as</strong> bibliográfic<strong>as</strong><br />
ADAMS, M.W., SHANK, D.B.<br />
The relationship of heterozigosity<br />
to homeost<strong>as</strong>is in maize hybrids.<br />
Genetics, 44:777-787.<br />
BOREM, A. 2003. Melhoramento<br />
de plant<strong>as</strong>. Viçosa Editora UFV.<br />
500p.<br />
BOREM, A. 1999. Melhoramento<br />
de especies cultivad<strong>as</strong>. Viçosa<br />
Editora UFV. 816p.<br />
BORLANG, N.E. 1959. The use<br />
of multilineal or <strong>com</strong>posite varieties<br />
to control airborne epidemic<br />
dise<strong>as</strong>es of self-pollinated crop<br />
plants. In: INT. WHEAT GENET.<br />
SYMP. UNIVERSITY OF<br />
MANITOBA, 1. Proceedings...<br />
Winnipeg, University of Manitoba.<br />
p. 12-26.<br />
BROWNING, J.A., FREY, K.J.<br />
1969. Multiline cultivars <strong>as</strong> a means<br />
of dise<strong>as</strong>e control. Annu. Rev.<br />
Phytopathol., 7:355-382.<br />
DICKERSON, G.E. 1963.<br />
Biological interpretations of the<br />
genetic parameters of populations<br />
pp. 95-107. In: HANSON, W.D.,<br />
ROBINSON, H.F. (Eds.). Statistical<br />
genetics and plant breeding. W<strong>as</strong>hington,<br />
D.C. (Pub. 982. NAS-<br />
NRC).<br />
EBERHART, S.A., RUSSEL, W.A.<br />
1969. Yield and stability for a 10-<br />
line diallel of single-cross and<br />
double-cross maize hybrids. Crop<br />
Sci., 9:357-361.<br />
FREY, K.J., CHANDHANA-<br />
MUTTA, P. 1975. Spontaneous<br />
mutations <strong>as</strong> a source of variation<br />
in diploid, tetraploid and hexaploid<br />
oats (Avena spp.) Egypt. J.<br />
Genet. Cyto., 4:238-249.<br />
HARLAN, H.V., MARTINI, M.L.,<br />
HARLAN, S. 1940. A study of<br />
methods in barley breeding. W<strong>as</strong>hington:<br />
USDA.<br />
HARLAN, J.R. 1971. Agricultural<br />
origins: Centers and noncenters.<br />
Science, 174:468-474.<br />
HARLAN, J.R., WET de, J.M.J.<br />
1971. Toward a rational cl<strong>as</strong>sification<br />
of cultivated plants. Taxon,<br />
20:509-517.<br />
INTERNATIONAL CODE OF<br />
NOMENCLATURE FOR CULTIVA-<br />
TED PLANTS. 1980. Reg. Veget.,<br />
4:7-32.<br />
KEMPTHORNE, O. 1957. An<br />
introduction to genetic statistics.<br />
New York: John Wiley Sons.<br />
NATIONAL ACADEMY OF SCI-<br />
ENCE, 1972. Genetic vulnerability<br />
of major crops. W<strong>as</strong>hington, D.C.<br />
PFEIFFER, T.W., SURYATI, D.,<br />
EGLI, D.B. 1991. Soybean plant<br />
introductions selected for seed<br />
filling period or yield: performance<br />
of parents. Crop Sci., 1:1418-1421.<br />
SCHNELL, F.W. 1975. Type of<br />
variety and average performance<br />
in hibrid maize Z. Pflanzenzucht,<br />
74:177-184.<br />
SCHOENER, C.S., FEHR, W.R.<br />
1979. Utilization of plant<br />
introductions in soybean<br />
populations. Crop Sci., 19:185-188.<br />
SHANDS, H.L., WIESNER, L.E.<br />
1991. Use of plant introductions in<br />
cultivar development: proceedings<br />
of a symposium. (CSSA publicação<br />
especial, 17).<br />
SPRAGUE, G.F., JENKINS, M.T.<br />
1943. A <strong>com</strong>parison of synthetic<br />
varieties, multiple crosses, and<br />
double crosses in corn. J. Am. Soc.<br />
Agron., 35:137-147.<br />
SPRAGUE, G.F. 1967. Plant<br />
breeding. Annu. Rev. Genet.,<br />
1:196-294.<br />
SUNESON, C.A. 1956.<br />
Evolutionary plant breeding. Agron.<br />
J., 48:188-190.<br />
VAVILOV, N.I. 1951. The origin,<br />
variation, immunity, and breeding<br />
of cultivated plants. Translated<br />
from Russian by K. Starr Chester.<br />
(Chronica Botanica, 1/6.).<br />
WEATHERSPOON, J.H. 1970.<br />
Comparative yield of single, threeway,<br />
and double-crosses of maize.<br />
Crop Sci., 10:157-159.<br />
WHEAT, J.G., FREY, K.J. 1961.<br />
Number of lines needed in oatvariety<br />
purification. Crop Sci.,<br />
53:39-41.<br />
ZEVEN, A.C. 1980. The spread<br />
of bread wheat over the old world<br />
since the neolithicum <strong>as</strong> indicated<br />
by its genotype for hybrid necrosis.<br />
J. Agric. Trad. Bota. Appl., 27:19-<br />
45.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 63
Pesquisa<br />
Malária em camundongos<br />
imunodeficientes<br />
A malária experimental por Pl<strong>as</strong>modium chabaudichabaudi em camundongo scid<br />
Fabiana Martins Batista Motta<br />
Mestre em Par<strong>as</strong>itologia (Unicamp).<br />
fabiana@cemib.unicamp.br<br />
Ana Maria Aparecida Guaraldo<br />
Profa. Dra. Do Instituto de Biologia –<br />
Departamento de Par<strong>as</strong>itologia (Unicamp);<br />
Diretora do CEMIB (Centro Multidisciplinar<br />
para Investigação Biológica).<br />
guaraldo@cemib.unicamp.br<br />
Imagens cedid<strong>as</strong> pelos autores<br />
1. Introdução<br />
malária é um dos<br />
maiores desafios de<br />
saúde pública que afeta<br />
o desenvolvimento dos<br />
países mais pobres. Segundo<br />
a OMS, a cada ano são registrados<br />
aproximadamente 300-500 milhões<br />
de c<strong>as</strong>os e 1 milhão de mortes<br />
por malária, a<strong>com</strong>etendo principalmente<br />
crianç<strong>as</strong> menores de cinco anos<br />
e mulheres grávid<strong>as</strong>. Deste número<br />
alarmante, 90% se concentram na África<br />
e os outros 10% estão distribuídos<br />
n<strong>as</strong> Améric<strong>as</strong> Central e do Sul, Sudeste<br />
Asiático e Ilh<strong>as</strong> da Oceania (RBM –<br />
OMS).<br />
Na América Latina, 99% ocorrem<br />
na Amazônia br<strong>as</strong>ileira, dos quais<br />
78% dos c<strong>as</strong>os relatados referem-se ao<br />
Pl<strong>as</strong>modium vivax e 22% ao Pl<strong>as</strong>modium<br />
falciparum (Fun<strong>as</strong>a-2002).<br />
A malária murina é útil na pesquisa<br />
científica, pois a escolha de linhagem<br />
do hospedeiro e do par<strong>as</strong>ita<br />
pode simular a doença humana. O P.<br />
chabaudi chabaudi tem sido adotado<br />
pelos pesquisadores <strong>com</strong>o modelo<br />
para estudar imunidade adquirida para<br />
o estágio eritrocítico, pois é um par<strong>as</strong>ita<br />
de roedor equivalente ao P. falciparum.<br />
Estudos demonstraram que a<br />
imunidade na malária depende de linfócitos<br />
T e B malária-específica e seus<br />
respectivos anticorpos, onde célul<strong>as</strong> T<br />
regulam a f<strong>as</strong>e inicial da infecção e <strong>as</strong><br />
célul<strong>as</strong> B e anticorpos se encarregam<br />
de finalizar a infecção (Meding & Langhorne,<br />
1991).<br />
A importância d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> T<br />
CD4+ na resolução do estágio sangüíneo<br />
da infecção por P. chabaudi linhagem<br />
AS tem sido estabelecida <strong>com</strong><br />
b<strong>as</strong>e na incapacidade do camundongo<br />
nude, camundongo scid e camundongo<br />
deficiente de célula T CD4+<br />
para controlar a infecção. O mecanismo<br />
pelo qual <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> T CD4+<br />
fornecem proteção imune tem sido<br />
alvo de recentes e intensiv<strong>as</strong> investigações.<br />
Com b<strong>as</strong>e no padrão de<br />
produção de citocin<strong>as</strong> e na habilidade<br />
em promover ajuda para <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> B,<br />
foi demonstrado que célul<strong>as</strong> T CD4+<br />
correspondem ao tipo inflamatório ou<br />
subconjunto Th1, que predominam<br />
durante a f<strong>as</strong>e aguda ou inicial da<br />
malária, seguida pelo aparecimento,<br />
durante a f<strong>as</strong>e crônica ou tardia da infecção,<br />
d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> Th2, que são capazes<br />
de induzir a produção de anticorpos<br />
Pl<strong>as</strong>modium-específico e citocin<strong>as</strong>,<br />
<strong>com</strong>o IL-4 e IL-10 (Larghorne<br />
et al. 1998). Conclusões similares foram<br />
alcançad<strong>as</strong> por Taylor-Robinson<br />
em 1996.<br />
Além dos linfócitos T CD4+, linfócitos<br />
T CD8+ também contribuem<br />
para o desenvolvimento de imunidade<br />
adquirida para infecção por P. chabaudi<br />
AS. Nos estudos realizados por Podoba<br />
& Stevenson, 1991, a depleção de<br />
célul<strong>as</strong> T CD4+ provocou significativo<br />
aumento da par<strong>as</strong>itemia já no 7º dia<br />
da infecção. Em contr<strong>as</strong>te, na ausência<br />
de linfócitos T CD8+, a infecção<br />
aguda <strong>com</strong> P. chabaudi AS foi definitivamente<br />
resolvida. No entanto, du<strong>as</strong><br />
crises recorrentes de par<strong>as</strong>itemia foram<br />
observad<strong>as</strong> durante a f<strong>as</strong>e de eliminação,<br />
que requisitou mais de 5 seman<strong>as</strong><br />
em vez de 4 seman<strong>as</strong> , característica<br />
dessa infecção em C57BL/<br />
6, demonstrando então a contribuição<br />
que o linfócito T CD8+ exerce para a<br />
imunidade adquirida na malária.<br />
As célul<strong>as</strong> NK, definid<strong>as</strong> <strong>com</strong>o<br />
célul<strong>as</strong> citotóxic<strong>as</strong> , dotad<strong>as</strong> de<br />
64 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
morfologia predominante de grande<br />
linfócito granular, possuem a habilidade<br />
de secretar <strong>as</strong> citoquin<strong>as</strong> INF-gama e<br />
TNF-alfa, em resposta à infecção por<br />
par<strong>as</strong>it<strong>as</strong> intracelulares e ainda<br />
respondem à indução pela IL-12. As<br />
célul<strong>as</strong> NK são célul<strong>as</strong> efetor<strong>as</strong> da<br />
resistência inata contra agentes<br />
infecciosos (Scott et al 1995).<br />
Seix<strong>as</strong> et al. (2001), <strong>com</strong>provaram<br />
a capacidade de célul<strong>as</strong> dendrític<strong>as</strong><br />
produzirem TNF-alpha dentro<br />
de 30 minutos da exposição aos esquizontes<br />
de P. chabaudi chabaudi, independentemente<br />
de célul<strong>as</strong> T ou NK.<br />
Portanto, o estágio eritrocítico deste<br />
par<strong>as</strong>ita ativa célul<strong>as</strong> dendrític<strong>as</strong> diretamente,<br />
propiciando a rápida ativação<br />
de célul<strong>as</strong> Th1 e indução de imunidade.<br />
Apesar de estudos <strong>com</strong>provarem<br />
que <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> NK e su<strong>as</strong> citocin<strong>as</strong><br />
exercem papel importante no controle<br />
imunológico da malária, sabe-se que<br />
fatores genéticos representam um dos<br />
maiores determinantes da resistência<br />
do hospedeiro contra a malária. Estudos<br />
sobre o modelo P. chabaudi AS,<br />
usando análise genética,<br />
mostraram que a<br />
atividade da célula NK<br />
e a resistência a esse<br />
par<strong>as</strong>ita segregam independentemente<br />
(Skamene et al 1983).<br />
De acordo <strong>com</strong> Fortin<br />
et al (2002), <strong>as</strong> linhagens<br />
A/J, BALB/c,<br />
AKR, DBA/1, C3H/<br />
HeJ, SJL e 129/ICR são<br />
susceptíveis ao P. chabaudi,<br />
enquanto que<br />
<strong>as</strong> linhagens C57BL/6,<br />
B10. A, CBA, DBA/2 e<br />
C57L são resistentes ao<br />
P. chabaudi.<br />
A linhagem P.<br />
chabaudi chabaudi<br />
CR, não-letal, representa a malária experimental<br />
de autocontrole, apropriada<br />
para estudos de imunidade em estágio<br />
sangüíneo (Garnica et al., 2002).<br />
Esta linhagem propicia o estudo da f<strong>as</strong>e<br />
crônica da infecção em linhagens imunodeficientes.<br />
O objetivo deste trabalho é<br />
estudar a importância d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> NK<br />
no controle do P. chabaudi em camundongos<br />
mediante a <strong>com</strong>paração<br />
Figura 01<br />
da par<strong>as</strong>itemia, após inoculação do<br />
par<strong>as</strong>ita n<strong>as</strong> linhagens de camundongos<br />
scid e C57BL/6 Knockout para interfero-gama.<br />
2. Material e Métodos<br />
Camundongos. Quatro linhagens de<br />
camundongos machos livres de<br />
patógenos específicos (SPF), <strong>com</strong> 6 a<br />
8 seman<strong>as</strong> de idade, provenientes do<br />
CEMIB/Unicamp foram adotad<strong>as</strong> :<br />
C.B17 scid/Uni (12 animais); BALB/c/<br />
Uni (48 animais); C57BL/6 knockout<br />
(KO) para interferon gama (4 animais);<br />
e C57BL/6/Uni (3 animais) .<br />
Pl<strong>as</strong>modium chabaudi chabaudi<br />
CR. A linhagem de P. chabaudi chabaudi<br />
(CR) foi cedida pelo Prof. Dr.<br />
Heitor F. Andrade Junior, do Instituto<br />
de Medicina Tropical de São Paulo. Um<br />
camundongo da linhagem C57BL/6 foi<br />
a fonte de P. chabaudi. Os par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />
foram mantidos mediante p<strong>as</strong>sagens<br />
semanais sucessiv<strong>as</strong> no camundongo<br />
BALB/c Uni por 12 seman<strong>as</strong> antes da<br />
infecção do scid e KO. Após este<br />
período um “pool” de célul<strong>as</strong><br />
sangüíne<strong>as</strong> foi coletado da veia da cauda<br />
dos animais, para o preparo do i-<br />
noculo em solução NaCl 0,15 M. A<br />
contagem dest<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> foi realizada<br />
em câmara de Neubauer sob microscopia<br />
de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e.<br />
A manutenção do P. chabaudi<br />
chabaudi CR foi realizada mediante<br />
repiques semanais do inoculo de 10 7<br />
hemáci<strong>as</strong> par<strong>as</strong>itad<strong>as</strong> em camundongos<br />
macho BALB/c/Uni mantidos em<br />
isoladores. Amostr<strong>as</strong> de esfregaços também<br />
foram corad<strong>as</strong> pelo Giemsa, para<br />
avaliação d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de Pl<strong>as</strong>modium.<br />
Manutenção dos animais em isolador<br />
de PVC. Os camundongos infectados<br />
foram mantidos em isolador<br />
de plástico flexível (LNF – Ind. & Com.<br />
Ltda.), de pressão positiva, <strong>com</strong> 16 a<br />
18 troc<strong>as</strong> de ar por hora, no Departamento<br />
de Par<strong>as</strong>itologia da UNICAMP.<br />
O material necessário para a manutenção<br />
dos animais (gaiol<strong>as</strong>, tamp<strong>as</strong>,<br />
ração, água, maravalha, bebedouros,<br />
pinç<strong>as</strong> etc.) foi devidamente submetido<br />
a processos de esterilização em autoclave,<br />
conforme norm<strong>as</strong> de procedimentos<br />
adotados pelo CEMIB.<br />
Determinação da Par<strong>as</strong>itemia.<br />
Amostr<strong>as</strong> de 20 ml de sangue foram<br />
coletad<strong>as</strong> <strong>com</strong> micropipeta da cauda<br />
do camundongo infectado. A coleta<br />
aconteceu a intervalos semanais até a<br />
6 ª semana de infecção. Após este<br />
período, os intervalos para determinação<br />
da par<strong>as</strong>itemia<br />
foram de 15 di<strong>as</strong>. Para<br />
a contagem de par<strong>as</strong>it<strong>as</strong>,<br />
o sangue foi diluído<br />
1000 x em NaCl<br />
0,15 M. As hemáci<strong>as</strong><br />
par<strong>as</strong>itad<strong>as</strong> e os par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />
livres foram contados<br />
em câmara de<br />
Neubauer sob microscopia<br />
de f<strong>as</strong>e (Figura<br />
1). Os valores foram<br />
expressos em<br />
número de hemáci<strong>as</strong><br />
par<strong>as</strong>itad<strong>as</strong> x 10 8 /mL.<br />
Os camundongos do<br />
experimento foram infectados<br />
<strong>com</strong> 10 6 par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />
(hemáci<strong>as</strong> par<strong>as</strong>itad<strong>as</strong><br />
+ par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />
livres) mediante injeção intraperitoneal.<br />
No decorrer do experimento foi<br />
registrada a morta-lidade dos animais.<br />
Monitoramento imunológico da<br />
linhagem C.B-17 scid/Uni. A cl<strong>as</strong>sificação<br />
dos animais homozigotos ou<br />
heterozigotos da linhagem C.B-17 scid/<br />
Uni foi realizada pelo teste Dot-Elisa<br />
para imunoglobulin<strong>as</strong>. (Alves et al.,<br />
2002).<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 65
Figura 2 - Média e erro padrão dos valores de par<strong>as</strong>itemia em camundongos C.B-<br />
17 SCID, BALB/c/Uni, C57BL/6 KO para interferon gama durante 6 seman<strong>as</strong> de<br />
infecção <strong>com</strong> Pl<strong>as</strong>modium chabaudi chabaudi (CR) e durante <strong>as</strong> seman<strong>as</strong> 1, 2, 3 e<br />
4 nos camundongos C57BL/6/Uni.<br />
Mouse Antibody Production (MAP<br />
– teste). Considerando que a linhagem<br />
do Pl<strong>as</strong>modium chabaudi chabaudi<br />
(CR) foi proveniente de manutenção<br />
“in vivo” em animais <strong>com</strong> padrão sanitário<br />
desconhecido, tornou-se<br />
necessário avaliar os patógenos <strong>as</strong>sociados<br />
ao par<strong>as</strong>ita. Desta forma, os camundongos<br />
imuno<strong>com</strong>petentes foram<br />
avaliados quanto à presença de 11<br />
antígenos de patógenos murinos<br />
(MHV-3, TMEV-GDVII, SENDAI, MVM,<br />
LCM, Ectromelia, Adenovirus, Rotavirus,<br />
Reovirus tipo 3, Mycopl<strong>as</strong>ma pulmonis<br />
e Toxopl<strong>as</strong>ma gondii). Os camundongos<br />
SPF inoculados <strong>com</strong> o Pl<strong>as</strong>modium<br />
foram mantidos em isoladores<br />
por mais de 60 di<strong>as</strong> e o respectivo soro<br />
coletado para análise sorológica de<br />
patógenos murinos pelo Laboratório<br />
de Controle de Qualidade do CEMIB.<br />
Estatística. Os valores da par<strong>as</strong>itemia<br />
dos três grupos de animais (BALB/c/<br />
Uni, C.B-17 scid/Uni, C57BL/6 KO) no<br />
intervalo d<strong>as</strong> seis primeir<strong>as</strong> seman<strong>as</strong><br />
foram submetidos a Análise de Variância<br />
de Medid<strong>as</strong> Repetid<strong>as</strong> e o teste<br />
de Duncan, executados pelo programa<br />
estatístico SAS (SAS Institute 1987).<br />
3. Resultados<br />
A maior par<strong>as</strong>itemia da linhagem<br />
C.B-17 scid aconteceu por volta<br />
da 6 ª semana e uma recrudescência<br />
foi observada na 12 ª semana. No controle<br />
correspondente, BALB/c/Uni , a<br />
maior par<strong>as</strong>itemia aconteceu na 10 ª<br />
semana.<br />
A análise estatística <strong>com</strong>parativa<br />
entre <strong>as</strong> linhagens BALB/c e scid<br />
n<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> 6 seman<strong>as</strong> de infecção<br />
permitiu constatar a capacidade do<br />
animal <strong>com</strong>petente em controlar a<br />
par<strong>as</strong>itemia na 6 ª semana (Figura 2).<br />
Os camundongos C57BL/6 KO<br />
para INF-g atingiram níveis mais elevados<br />
de par<strong>as</strong>itemia quando <strong>com</strong>parados<br />
<strong>com</strong> o seu controle C57BL/6 (Figura<br />
2) e também em relação ao modelo<br />
scid (Figura 2). A maior par<strong>as</strong>itemia<br />
em KO ocorreu na 10 ª semana.<br />
Foi feita a <strong>com</strong>paração estatística<br />
entre os valores médios de par<strong>as</strong>itemia<br />
durante <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> seis seman<strong>as</strong><br />
no grupo de animais C.B-17 scid,<br />
BALB/c/Uni e KO para INF-γ . Os resultados<br />
evidenciaram o aumento marcante<br />
de par<strong>as</strong>itemia em animais KO<br />
e scid, resultando em diferença significativa<br />
entre a 1 ª e 6 ª seman<strong>as</strong> de infecção<br />
(Figura 2).<br />
Durante o período máximo de<br />
observação, correspondente a 23 seman<strong>as</strong><br />
para <strong>as</strong> linhagens KO e scid,<br />
não foi observada mortalidade em KO.<br />
Entretanto, do grupo de doze scid,<br />
quatro morreram: um, na segunda semana;<br />
um, na décima semana; um, na<br />
décima terceira semana; e, outro, na<br />
décima sexta.<br />
É importante ressaltar que<br />
houve mortalidade dos camundongos<br />
BALB/c/Uni (2/48), linhagem de manutenção<br />
do P. chabaudi: um, na décima<br />
primeira semana; e, outro, na décima<br />
nona semana após infecção.<br />
Os camundongos scid são considerados<br />
homozigotos quando os<br />
níveis de imunoglobulina sérica forem<br />
inferiores a 5 mg/ml. O critério de<br />
seleção dos animais homozigotos scid/<br />
scid foi adotado para seleção d<strong>as</strong> matrizes<br />
na colônia do CEMIB/Unicamp,<br />
<strong>com</strong> o objetivo de minimizar e retardar<br />
a expressão do fenótipo “leaky”<br />
(capacidade de alguns camundongos<br />
scid desenvolver um limitado número<br />
de célul<strong>as</strong> T e B entre 3 e 9 meses de<br />
idade) (Bosma et al 1988).<br />
Todos os animais scid adotados<br />
nos experimentos apresentaram-se<br />
homozigotos.<br />
Todos os soros testados d<strong>as</strong><br />
linhagens de camundongos imuno<strong>com</strong>petentes<br />
do experimento, <strong>as</strong>sim<br />
<strong>com</strong>o o soro do animal infectado no<br />
Instituto de Medicina Tropical de São<br />
Paulo (fonte do P. chabaudi chabaudi<br />
linhagem CR), que foi mantido durante<br />
65 seman<strong>as</strong>, revelaram-se negativos<br />
para os 11 antígenos de patógenos<br />
murinos avaliados (MHV-3,<br />
TMEV-GDVII, SENDAI, MVM, LCM, Ectromelia,<br />
Adenovirus, Rotavirus, Reovirus<br />
tipo 3, Mycopl<strong>as</strong>ma pulmonis e<br />
Toxopl<strong>as</strong>ma gondii).<br />
4. Discussão<br />
O ambiente controlado – isoladores<br />
– onde são mantidos os animais<br />
SPF (Specific Pathogen Free) permitiu<br />
o controle dos fatores externos<br />
evitando riscos de contaminação dos<br />
animais experimentais, o que poderia<br />
influenciar e <strong>com</strong>prometer os resultados<br />
da pesquisa. Em se tratando de<br />
camundongos da linhagem C.B-17 scid,<br />
o fato de a colônia ser mantida em<br />
condições ambiente e sanitária controlad<strong>as</strong><br />
colabora para o nível baixo de<br />
animais <strong>com</strong> o fenótipo “leaky”. Os<br />
últimos levantamentos sorológicos<br />
detectaram o fenótipo “leaky” em 9%<br />
da colônia <strong>com</strong> idade de 40 seman<strong>as</strong><br />
(Alves et al 2002). Camundongos scid<br />
são desprovidos de resposta imune<br />
dependentes de linfócitos T e B. Desta<br />
maneira, são muito susceptíveis a<br />
patógenos oportunist<strong>as</strong> que podem<br />
ser bactéri<strong>as</strong>: (Proteus mirabilis, Streptococcus<br />
viridans e Escherichia coli)<br />
e vírus (vírus da hepatite murina<br />
(MHV), vírus Sendai e vírus respiratório<br />
66 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
murino), e ainda o Pneumocystis carinii.<br />
(Percy & Barta 1993).<br />
Um exemplo de co-infecção<br />
<strong>com</strong> P. chabaudi e a respectiva interferência<br />
no desempenho de resposta<br />
imune foi estudado por Yoshida et al<br />
(2000) onde constataram que camundongos<br />
A/J susceptíveis à malária, infectados<br />
<strong>com</strong> P. chabaudi e coinfectados<br />
<strong>com</strong> Schistosoma mansoni desenvolveram<br />
resistência ao Pl<strong>as</strong>modium.<br />
Os resultados desse estudo mostraram<br />
que, apesar de o S. mansoni na f<strong>as</strong>e<br />
de oviposição, induzir resposta Th2,<br />
dentro de cert<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>, a coinfecção<br />
Schistosoma/Pl<strong>as</strong>modium promoveu<br />
resposta imune tipo Th1 no<br />
camundongo A/J, tornando-o resistente<br />
ao Pl<strong>as</strong>modium.<br />
Célul<strong>as</strong> tipo Th1 são responsáveis<br />
por mediar o controle da par<strong>as</strong>itemia<br />
aguda através da ativação de<br />
mecanismos imune mediados por célula,<br />
enquanto que <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> tipo Th2<br />
mediam o crescimento e diferenciação<br />
de célul<strong>as</strong> B para controlar a infecção<br />
através de mecanismos dependentes<br />
de anticorpos (Yap et al 1994).<br />
Skamene et al (1983) descreveram<br />
a inexistência de relação<br />
entre resistência na infecção <strong>com</strong> Pl<strong>as</strong>modium<br />
chabaudi e atividade de célul<strong>as</strong><br />
NK. Em seu experimento mostraram<br />
que camundongo C57BL/6 bg/<br />
bg deficiente de célula NK obteve a<br />
resolução da infecção por P. chabaudi<br />
da mesma forma que o seu camundongo<br />
parental +/+.<br />
Kitaguchi et al (1996) injetaram<br />
célul<strong>as</strong> NK de camundongo C57BL/6<br />
infectado <strong>com</strong> P. chabaudi em outro<br />
camundongo que também seria<br />
infectado. Essa transferência não<br />
conferiu proteção, pois o curso desta<br />
infecção foi similar ao do camundongo<br />
controle. Entretanto, tratamento de<br />
camundongos <strong>com</strong> anticorpos<br />
monoclonais anti-NK resultou no<br />
aumento da morta- lidade. Concluíram,<br />
então, que célul<strong>as</strong> NK podem não<br />
impedir o aumento da par<strong>as</strong>itemia,<br />
m<strong>as</strong> el<strong>as</strong> podem exibir um papel<br />
importante na recuperação da par<strong>as</strong>itemia,<br />
provavelmente por secretar<br />
INF-γ, e conseqüentemente diminuir<br />
a mortalidade em infecções por P.<br />
chabaudi.<br />
O tratamento de camundongo<br />
susceptível A/J <strong>com</strong> IL-12 murina<br />
reduziu muito a par<strong>as</strong>itemia e<br />
melhorou a sobrevida do hospedeiro.<br />
Essa proteção induzida por IL-12 é<br />
mediada por INFγ- e TNF-α secretados<br />
por célul<strong>as</strong> NK durante infecção inicial<br />
(Stevenson et al 1995; Mohan et al<br />
1997). Além disso, foi observado que<br />
em camundongos deficientes de receptor<br />
para INF-γ (Balmer et al 2000;<br />
Favre et al 1997) e camundongo KO<br />
para INF-γ (Su & Stevenson 2000),<br />
infectados <strong>com</strong> P. chabaudi AS,<br />
ocorreu incapacidade para reduzir a<br />
par<strong>as</strong>itemia primária e alta<br />
mortalidade. Batchelder et al 2003,<br />
<strong>com</strong>provaram também em seus<br />
estudos, a importância que o INF-γ<br />
exerce na imunidade celular contra P.<br />
chabaudi adami.<br />
Camundongos KO para IL-12<br />
(gene p 40) infectados <strong>com</strong> P.<br />
chabaudi AS, tiveram os níveis de INFg<br />
diminuídos bem <strong>com</strong>o IgG2a e IgG3<br />
Th1-dependente. Com esses<br />
resultados concluiu-se que a citocina<br />
IL-12 produzida na f<strong>as</strong>e inicial do<br />
estágio sangüíneo da infecção por P.<br />
chabaudi AS é importante para indução<br />
de resposta imune INF-γ-dependente<br />
tipo Th1 responsável pelo controle da<br />
f<strong>as</strong>e aguda da infecção e sobrevivência<br />
do hospedeiro, influenciando<br />
fortemente a imunidade tipo Th2<br />
mediada por anticorpo necessária para<br />
resolução da f<strong>as</strong>e crônica (Su &<br />
Stevenson, 2002; B<strong>as</strong>tos et al, 2002).<br />
Os resultados obtidos em<br />
animais KO para INF-γ corroboram os<br />
de Su & Stevenson (2000) no que se<br />
refere à incapacidade de reduzir a par<strong>as</strong>itemia.<br />
Por se tratar de linhagem<br />
distinta de P. chabaudi, a mortalidade<br />
observada em nossos animais KO foi<br />
zero. Não foi possível observar o clearance<br />
do par<strong>as</strong>ita.<br />
Os modelos animais utilizados<br />
em nosso trabalho, scid, KO para IFNγ<br />
e BALB/c são considerados<br />
geneticamente susceptíveis por Fortin<br />
et al (2002).<br />
A linhagem scid, cuja única<br />
fonte de resposta imune é a célula NK,<br />
revelou-se extremamente suceptível<br />
ao P. chabaudi CR, <strong>com</strong> 25% de morte<br />
em 12 animais.<br />
Em C57BL/6 não se observou a<br />
par<strong>as</strong>itemia além d<strong>as</strong> quatro seman<strong>as</strong><br />
porque trata-se de linhagem resistente<br />
ao Pl<strong>as</strong>modium.<br />
As célul<strong>as</strong> NK sozinh<strong>as</strong> não controlam<br />
a par<strong>as</strong>itemia. Entretanto, em<br />
camundongos C57BL/6 KO para INFγ,<br />
os picos par<strong>as</strong>itêmicos foram muito<br />
altos, levando à conclusão de que, <strong>as</strong><br />
célul<strong>as</strong> NK, provavelmente devido à<br />
produção de inrterferon gama, contribuem<br />
para a redução da par<strong>as</strong>itemia.<br />
Estudos (Prak<strong>as</strong>h et al, 2003)<br />
demonstram correlação entre falência<br />
renal aguda e c<strong>as</strong>os de malária severa<br />
por P. falciparum (79,6%), o que conduz<br />
à necessidade de avaliar a ocorrência<br />
de lesões histopatológic<strong>as</strong> renais<br />
provocad<strong>as</strong> por P. chabaudi CR em<br />
camundongos, o que possivelmente<br />
contribuiria para <strong>com</strong> a mortalidade<br />
desses animais.<br />
Referênci<strong>as</strong> Bibliográfic<strong>as</strong><br />
ALVES, D P; SAKURADA, J K;<br />
ZANFOLIN, M; SCARELLI, C A A;<br />
EDIVANIA, V; PASSOS, L A C;<br />
GIGLIOLI, R; GUARALDO, A M A.<br />
Leaky phenotype frequency<br />
among CB-17 scid/Uni mice reared<br />
in pl<strong>as</strong>tic isolator. Abstract P137<br />
on 53 rd. AALAS National Meeting.<br />
October 27-31, San Antônio –<br />
Tex<strong>as</strong> (USA), p. 135, 2002.<br />
BALMER, P; ALEXANDER, J; PHILLIPS,<br />
R S. Protective immunity to<br />
erythrocytic Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />
AS infection involves INFg-mediated<br />
responses and a celular infiltrate<br />
to the liver. Par<strong>as</strong>itology,v.<br />
121, p. 473-482, 2000.<br />
BASTOS, K. R.; BARBOZA, R.; ELIAS, R.<br />
M.; SARDINHA, L. R.; GRISOTTO,<br />
M. G.; MARINHO, C. R.;<br />
AMARANTE-MENDES, G. P.;<br />
ALVAREZ, J. M.; LIMA, M. R. Impaired<br />
macrophage responses may<br />
contribute to exacerbation of bloodstage<br />
Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />
chabaudi malaria in interleukin-<br />
12-deficient mice. Journal of<br />
Interferon Cytokine Research,<br />
v. 22, n. 12, p. 1191-1199, 2002.<br />
BATCHELDER, J. M.; BURNS, J. M. Jr.;<br />
CIGEL, F. K.; LIEBERG, H.; MAN-<br />
NING, D. D.; PEPPER, B. J.; YANEZ,<br />
D. M.; van der HEYDE, H.;<br />
WEIDANZ, W. P. Pl<strong>as</strong>modium<br />
chabaudi adami: inteferon-gamma<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 67
ut not IL-12 is essential for the<br />
expression of cell-mediated immunity<br />
against blood-stage par<strong>as</strong>ite<br />
in mice. Experimental Par<strong>as</strong>itology,<br />
v. 105, n. 2, p. 159-166,<br />
2003.<br />
BOSMA, G C; FRIED, M; CUSTER, R P;<br />
CARROL, A; GIBSON, D M; BOS-<br />
MA, M J. Evidence of funcional<br />
lymphocytes in some (leaky) scid<br />
mice. Journal Exp Med. v. 167,<br />
n.3, p. 1016-1033. Março, 1988.<br />
FAVRE, N; RYFFEL, B; BORDMANN,<br />
G; RUDIN, W.The course of Pl<strong>as</strong>modium<br />
chabaudi chabaudi infection<br />
interferon-gamma receptor<br />
deficient mice. Par<strong>as</strong>ite Immunology,<br />
v.19, n. 8, p. 375-383,<br />
Agosto 1997.<br />
FORTIN, A; STEVENSON, M M; GROS,<br />
P.Complex genetic control of susceptibility<br />
to malaria in mice. Genes<br />
and Immunity. n. 3, p. 177-<br />
186, 2002.<br />
GARNICA, M R; SOUTO, J T; SILVA, J S;<br />
JR, H F A. Stromaal cell deved<br />
factor 1 synthesis by spleen cells in<br />
rodent malaria, and the effects of<br />
in vivo supplementation of SDF-<br />
1a and CXCR4 receptor blocker.<br />
Immunnology Letters, v. 83, n.1,<br />
p. 47-53, Agosto 2002.<br />
KITAGUSHE, T; NAGOYA, M; AMA-<br />
NO, T; SUZUKI, M; MINAMI, M.<br />
Analysis of roles of natural killer<br />
cells in defense against Pl<strong>as</strong>modium<br />
chabaudi chabaudi in mice.<br />
Par<strong>as</strong>itology Research. n. 82, p.<br />
352-357, 1996.<br />
LANGHORNE, J; CROSS, C; SEIXAS, E;<br />
LI, C; VON DER WEID, T. A role for<br />
cells in the development of T cell<br />
helper function in a malaria infection<br />
in mice. Immunology, v.95,<br />
p.1730-1734, 1998.<br />
MEDING, S J & LANGHORNE, J.<br />
CD4 + T cells and B cells are necessary<br />
for the transfer of protective<br />
immunity to Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />
chabaudi. Europe Journal<br />
Immunology. n. 21, p. 1433-<br />
1438, 1991.<br />
MINISTÉRIO DA SAÚDE: GOVERNO DO BRASIL.<br />
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (FU-<br />
NASA). Disponível em: http://<br />
www.fun<strong>as</strong>a.gov.br. Acesso em 24<br />
junho 2003.<br />
MOHAN, K; MOULIN, P; STEVENSON,<br />
M M. Natural killer cell cytokine<br />
production, not cytotoxity, contributes<br />
to resistance against bloodstage<br />
Pl<strong>as</strong>modium chabaudi AS<br />
infection. The Journal of Immunology,<br />
v.159, n. 10, p. 4990-<br />
4998, Novembro 1997.<br />
PERCY, D H & BATA, J R. Spontaneous<br />
and experimental infections in scid<br />
and scid/beige mice. Laboratory<br />
Animal Science. v. 43, n. 2, p.<br />
127-132, Abril, 1993.<br />
PODOBA, J E; STEVENSON, M M. CD4+<br />
and CD8+ T Lymphocytes both<br />
contribute to acquired immunity<br />
to blood-stage Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />
AS. Infection and Immunity,<br />
v. 59, n.1, p. 51-58, Janeiro<br />
1991.<br />
PRAKASH, J.; SINGH, A. K.; KUMAR,<br />
N. S.; SAXENA, R. K. Acute Renal<br />
Failure in Pl<strong>as</strong>modium vivax malaria.<br />
J. Assoc. Physicians India,<br />
v. 51, p. 265-267, 2003.<br />
SAS INSTITUTE, INC. 1987. S. A. S. User’s<br />
Guide: Satistics, 6 ª ed., Cary, N. C.<br />
ROLL BACK MALARIA, WORLD HEALTH ORGA-<br />
NIZATION. (RBM – OMS). Disponível<br />
em: http://www.rbm.who.int/<br />
cmc_upload/0/000/015/372/<br />
RBMInfosheet_1.htm. Acesso em<br />
24 de junho de 2003.<br />
SCOTT, P. TRINCHIERI, G. The role of<br />
natural killer cells in host-par<strong>as</strong>ite<br />
interactions. Current opinion in<br />
Immunology, v. 7, p. 34-40, 1995.<br />
SEIXAS, E; CROSS, C; QUIN, S; LAN-<br />
GHORNE, J. Direct activation of<br />
dendritic cells by the malaria par<strong>as</strong>ite,<br />
Pl<strong>as</strong>modium chabaudi chabaudi.<br />
Europe Journal Immunology,<br />
v. 31, n. 10, p. 2970-<br />
2978, Outubro 2001.<br />
SKAMENE, E; STEVENSON, M M; LE-<br />
MIEUX, S. Murine malaria: dissociation<br />
of natural killer (NK) cell<br />
activity and resistance to Pl<strong>as</strong>modium<br />
chabaudi. Par<strong>as</strong>ite Immunology,<br />
v. 5, p. 557-565, Abril<br />
1983.<br />
STEVENSON, M M; TAM, M; WOLF, S F;<br />
SHER, A. IL-12-Induced protection<br />
against blood-stage Pl<strong>as</strong>modium<br />
chabaudi AS requires INF-g and<br />
INF-a and occurs via a Nitric Oxide-dependent<br />
mechanism. The<br />
Journal of Immunology, n. 155,<br />
p. 2545-2556, 1995.<br />
SU, Z & STEVENSON, MM. Central role<br />
of endogenous gamma interferon<br />
in protective immunity against<br />
blood-stage Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />
AS infection. Infection and<br />
Immunity, v. 68, n. 8, p. 4399-<br />
4406, Agosto, 2000.<br />
SU, Z; STEVENSON, M M. IL-12 is<br />
required for antibody-mediated<br />
protective immunity against bloodstage<br />
Pl<strong>as</strong>modium chabaudi AS<br />
malaria infection in mice.The Journal<br />
of Immunology, v. 168, n.3,<br />
p. 1348-1355, Fevereiro 2002.<br />
TAYLOR-ROBINSON, A. W. & PHI-<br />
LLIPS, STEPHEN R. Reconstitution<br />
of B-cell-depleted mice with B<br />
cells restores Th2-Type immune<br />
responses during Pl<strong>as</strong>modium<br />
chabaudi chabaudi infection. Infection<br />
and Immunity, v. 64, n.<br />
1, p. 366-370, 1996.<br />
YAP, G S; JACOBS, P; STEVENSON, M<br />
M. Th cell regulation of host resistance<br />
to blood-stage Pl<strong>as</strong>modium<br />
chabaudi AS. Resource Immunology,<br />
v.145, n.6, p. 419-422,<br />
1994.<br />
YOSHIDA, A; MARUYAMA, H;<br />
KUMAGAL, T; AMANO, T;<br />
KOBAYASHI, F; ZHANG, M;<br />
HIMENO, K; OHTA, N.<br />
Schistosoma mansoni infection<br />
cancels the susceptibility to<br />
Plsamodium chabaudi through<br />
induction of type 1 immune<br />
responses in A/J mice.<br />
International Immunology, v.<br />
12, n. 8, p. 117-1125, 2000.<br />
68 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Pesquisa<br />
Micotoxin<strong>as</strong><br />
em alimentos<br />
Progressos na imunodetecção<br />
Elisabete Yurie Sataque Ono<br />
Dra., Prof., Departamento de Bioquímica e<br />
<strong>Biotecnologia</strong> - Centro de Ciênci<strong>as</strong> Exat<strong>as</strong><br />
Universidade Estadual de Londrina<br />
eysono@uel.br<br />
Aline Maísa Mendes<br />
Especialista em Bioquímica Aplicada<br />
Departamento de Bioquímica e <strong>Biotecnologia</strong><br />
Centro de Ciênci<strong>as</strong> Exat<strong>as</strong>,<br />
Universidade Estadual de Londrina<br />
alinempinheiro@yahoo.<strong>com</strong>.br<br />
Paula Garcia Meirelles<br />
Pós-graduanda do Programa de Mestrado em<br />
<strong>Biotecnologia</strong>, Departamento de Bioquímica e<br />
<strong>Biotecnologia</strong>, Centro de Ciênci<strong>as</strong> Exat<strong>as</strong>,<br />
Universidade Estadual de Londrina<br />
paulag@uel.br<br />
Elisa Yoko Hirooka<br />
Doutora, Professora, Depto. de Tecnologia de<br />
Alimentos e Medicamentos<br />
Centro de Ciênci<strong>as</strong> Agrári<strong>as</strong><br />
Universidade Estadual de Londrina<br />
hirooka@uel.br<br />
Mario Augusto Ono<br />
Doutor, Professor, Departamento de Ciênci<strong>as</strong><br />
Patológic<strong>as</strong> - Centro de Ciênci<strong>as</strong> Biológic<strong>as</strong><br />
Universidade Estadual de Londrina<br />
marioono@uel.br<br />
Fotos cedid<strong>as</strong> pelos autores<br />
Introdução<br />
Micotoxin<strong>as</strong> são metabólitos secundários<br />
tóxicos produzidos por fungos<br />
que freqüentemente contaminam<br />
produtos agrícol<strong>as</strong>, no campo, durante<br />
a colheita, transporte e estocagem.<br />
Estes <strong>com</strong>postos apresentam estrutur<strong>as</strong><br />
químic<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> e são produzidos<br />
por fungos de campo e de estocagem,<br />
incluindo muit<strong>as</strong> espécies de Fusarium,<br />
Aspergillus e Penicillium (Figura<br />
1) (Ayres, 1979).<br />
Muit<strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong> são capazes<br />
de apresentar uma ampla gama de<br />
efeitos biológicos em vári<strong>as</strong> espécies<br />
animais, incluindo o homem, em concentrações<br />
relativamente baix<strong>as</strong> (i.e.,<br />
na faixa de mg/kg [ppm] a µg/kg<br />
[ppb]).<br />
A ocorrência natural de micotoxin<strong>as</strong><br />
em grãos de cereais pode, além<br />
dos problem<strong>as</strong> de saúde, ter implicações<br />
econômic<strong>as</strong> importantes para diversos<br />
setores <strong>com</strong>erciais incluindo<br />
produtores de grãos, criadores de animais<br />
e aves, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o processadores<br />
de alimentos e rações (Pestka et<br />
al., 1995). As perd<strong>as</strong> acarretad<strong>as</strong> podem<br />
advir da baixa qualidade dos<br />
grãos (Figura 2), baixa produtividade,<br />
baixa performance animal e/ou necessidade<br />
de descontaminação dos<br />
grãos.<br />
Segundo uma estimativa da FAO<br />
(Food and Agriculture Organization)<br />
anualmente cerca de 25% do suprimento<br />
alimentar mundial é contaminado<br />
por micotoxin<strong>as</strong>. Os riscos à<br />
saúde humana <strong>as</strong>sociada à ocorrência<br />
natural de determinad<strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong><br />
resultaram na adoção de medid<strong>as</strong> de<br />
controle em alguns países (FAO, 1997).<br />
O principal meio de eliminar<br />
micotoxin<strong>as</strong> consiste em detectar e<br />
desviar <strong>as</strong> matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> contaminad<strong>as</strong><br />
de produtos destinados ao consumo<br />
humano e animal. A vigilância<br />
analítica permite identificar regiões<br />
geográfic<strong>as</strong> onde <strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong> constituem<br />
um problema recorrente, além<br />
de fornecer uma b<strong>as</strong>e de dados sobre<br />
a exposição humana em estudos epidemiológicos<br />
(Pestka et al. 1995).<br />
Uma vez que o problema relacionado<br />
às micotoxin<strong>as</strong> é difícil de ser<br />
evitado, <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> mais efetiv<strong>as</strong> de<br />
controle dependem de um rigoroso<br />
programa para monitorar a contaminação<br />
em alimentos e rações (Chu, 1984).<br />
Os métodos para análise de<br />
micotoxin<strong>as</strong> incluem cromatografia de<br />
camada delgada (Stockenström et al.,<br />
1994), cromatografia g<strong>as</strong>osa (Sydenham<br />
et al., 1990), cromatografia g<strong>as</strong>osa-espectroscopia<br />
de m<strong>as</strong>sa (Plattner<br />
et al., 1990) e cromatografia líquida<br />
de alta eficiência (CLAE) (Shephard<br />
et al., 1990). Embora a CLAE tenha<br />
sido adotada <strong>com</strong>o um método oficial<br />
Figura 1. Colôni<strong>as</strong> de Fusarium spp. (a),<br />
Aspergillus spp. (b) e Penicillium spp. (c)<br />
em ágar batata dextrose<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 69
Recentemente, foi desenvolvido<br />
um novo método de produção de<br />
anticorpos <strong>com</strong> grande potencial. O<br />
método é b<strong>as</strong>eado em técnic<strong>as</strong> de<br />
biologia molecular e consiste no isolamento<br />
e re<strong>com</strong>binação dos genes que<br />
codificam a região variável dos anticorpos<br />
(Lee & Morgan, 1993). Esta<br />
técnica apresenta vantagens <strong>com</strong>o<br />
baixo custo e possibilidade de manipulação<br />
do DNA que codifica para o<br />
anticorpo a fim de melhorar característic<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>o afinidade e especificidade<br />
(Yau et al., 2003).<br />
Princípios de imunoensaio<br />
Figura 2. Grãos de milho de boa qualidade (a) e de baixa qualidade (b)<br />
para análise de micotoxin<strong>as</strong> (Sydenham<br />
et al., 1996a,b), requer instrumentação<br />
de alto custo, pessoal altamente<br />
treinado, uma pré-limpeza extensiva<br />
da amostra, tornando cada análise<br />
muito demorada.<br />
Nos últimos anos, ocorreu um<br />
grande avanço no uso de imunoensaios<br />
na análise de micotoxin<strong>as</strong> devido à<br />
especificidade, sensibilidade e simplicidade<br />
aliad<strong>as</strong> à rapidez e a possibilidade<br />
de análise de um grande número<br />
de amostr<strong>as</strong> simultaneamente (Hefle,<br />
1995).<br />
Em seguida serão descritos os<br />
princípios básicos de imunoensaios e<br />
alguns dos desenvolvimentos mais recentes<br />
na aplicação de técnic<strong>as</strong> imunoquímic<strong>as</strong><br />
para a determinação de<br />
micotoxin<strong>as</strong> (aflatoxin<strong>as</strong> e fumonisin<strong>as</strong>).<br />
Conceitos básicos<br />
Os imunoensaios são procedimentos<br />
analíticos b<strong>as</strong>eados na ligação<br />
não covalente entre antígeno e anticorpo,<br />
e podem ser desenvolvidos<br />
para detectar o antígeno ou o anticorpo.<br />
Os imunoensaios utilizados na área<br />
de alimentos são b<strong>as</strong>eados na pesquisa<br />
de antígenos.<br />
Os imunoensaios podem ser realizados<br />
<strong>com</strong> anticorpos policlonais,<br />
anticorpos monoclonais e anticorpos<br />
re<strong>com</strong>binantes.<br />
Anticorpos policlonais<br />
Os anticorpos policlonais são obtidos<br />
pela imunização de um animal<br />
(coelho, carneiro, cabra, cavalo) e purificados<br />
posteriormente a partir do<br />
soro imune.<br />
A estimulação de linfócitos B induz<br />
a produção de anticorpos. Cada<br />
clone de linfócito produz anticorpo de<br />
uma determinada especificidade, portanto<br />
a estimulação de muitos linfócitos<br />
do organismo determina a produção<br />
de muitos anticorpos diferentes,<br />
<strong>com</strong> diferentes especificidades e afinidades.<br />
O soro obtido de um animal<br />
imunizado contém anticorpos produzidos<br />
por diferentes clones de linfócitos<br />
B e, portanto, é denominado anticorpo<br />
policlonal (Abb<strong>as</strong>, 2000).<br />
Os anticorpos policlonais são<br />
relativamente fáceis de produzir e<br />
apresentam alta afinidade, porém podem<br />
apresentar reações cruzad<strong>as</strong>.<br />
Anticorpos monoclonais<br />
Os anticorpos monoclonais são<br />
produzidos por hibridom<strong>as</strong>, que são<br />
obtidos pela fusão de linfócito B <strong>com</strong><br />
célula tumoral (mieloma). O hibridoma<br />
tem a capacidade de proliferar,<br />
produzindo anticorpos monoclonais em<br />
grandes quantidades (Abb<strong>as</strong>, 2000).<br />
Os anticorpos monoclonais oferecem<br />
vantagens <strong>com</strong>o afinidade e<br />
especificidade de ligação, homogeneidade<br />
e capacidade de serem produzidos<br />
em quantidades ilimitad<strong>as</strong><br />
(Deshpande, 1996).<br />
Anticorpos re<strong>com</strong>binantes<br />
Inicialmente o radioimunoensaio<br />
foi o método mais utilizado para quantificação<br />
de micotoxin<strong>as</strong>, porém, devido<br />
a problem<strong>as</strong> relacionados à manipulação<br />
de material radioativo e o<br />
reduzido tempo de prateleira dos reagentes<br />
foi substituído pelos ensaios<br />
imunoenzimáticos (Pestka et al., 1995).<br />
Imunoensaios que utilizam antígeno<br />
ou anticorpo marcado <strong>com</strong> uma<br />
enzima são denominados ensaios imunoenzimáticos,<br />
entre os quais o mais<br />
empregado é o método de ELISA<br />
(Enzyme-linked Immunosorbent Assay).<br />
O ensaio imunoenzimático é um<br />
método em que a reação antígenoanticorpo<br />
é monitorada pela medida<br />
da atividade enzimática, utilizando a<br />
conversão de um substrato (cromogênico,<br />
fluorescente ou quimioluminescente)<br />
por um antígeno ou anticorpo<br />
marcado <strong>com</strong> a enzima <strong>com</strong>o meio de<br />
detecção/quantificação do analito<br />
(Gazzaz et al., 1992). Os imunoensaios<br />
apresentam alta sensibilidade, especificidade<br />
e facilidade na execução<br />
e permitem a quantificação do analito<br />
em níveis de ng ou pg.<br />
A enzima utilizada no ELISA deve<br />
apresentar alta atividade específica e<br />
o produto da reação enzimática deve<br />
ser estável, de fácil quantificação, facilmente<br />
conjugada a vários antígenos,<br />
anticorpos e haptenos, sem perda<br />
da atividade e ter custo acessível (Sanchez,<br />
1998).<br />
Vári<strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> podem ser utilizad<strong>as</strong><br />
no ELISA, <strong>com</strong>o peroxid<strong>as</strong>e, fosfat<strong>as</strong>e<br />
alcalina, β-galactosid<strong>as</strong>e, entre outr<strong>as</strong><br />
(Gazzaz et al., 1992).<br />
Tipos de ELISA<br />
Atualmente, os tipos de ELISA<br />
mais empregados para análise de substânci<strong>as</strong><br />
biologicamente ativ<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o<br />
70 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Figura 3. ELISA <strong>com</strong>petitivo direto (dc-ELISA)<br />
<strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong>, são ELISA <strong>com</strong>petitivo<br />
direto e ELISA <strong>com</strong>petitivo indireto.<br />
ELISA <strong>com</strong>petitivo direto<br />
(dc-ELISA)<br />
No dc-ELISA, <strong>as</strong> microplac<strong>as</strong> são<br />
sensibilizad<strong>as</strong> <strong>com</strong> anticorpo específico<br />
para a micotoxina, incubad<strong>as</strong> <strong>com</strong> o<br />
conjugado micotoxina-enzima, na presença<br />
da amostra em que se deseja<br />
pesquisar a micotoxina (Figura 3). Após<br />
a obtenção do equilíbrio da reação<br />
antígeno-anticorpo é adicionado o substrato<br />
da enzima. Há uma relação inversamente<br />
proporcional entre a concentração<br />
de micotoxina na amostra e a<br />
intensidade da cor desenvolvida (Sanchez,<br />
1998).<br />
O dc-ELISA é um método fácil e<br />
rápido para detecção de micotoxin<strong>as</strong>,<br />
visto que a amostra e o conjugado<br />
(micotoxina conjugada à enzima) podem<br />
ser adicionados ao mesmo tempo<br />
(Gazzaz et al, 1992).<br />
ELISA <strong>com</strong>petitivo indireto<br />
(ic-ELISA)<br />
No ic-ELISA o anticorpo específico<br />
(anticorpo primário) para a micotoxina<br />
é incubado <strong>com</strong> a amostra em<br />
uma microplaca sensibilizada <strong>com</strong> a<br />
micotoxina (Figura 4). Quanto maior a<br />
concentração de micotoxina na amostra,<br />
menos anticorpo livre estará disponível<br />
para ligar-se à micotoxina fixada<br />
à microplaca. A quantidade de<br />
anticorpo primário ligado à placa pode<br />
ser estimada pela incubação <strong>com</strong> anticorpo<br />
secundário marcado <strong>com</strong> enzima,<br />
específico para o anticorpo primário,<br />
seguida de adição do substrato. A<br />
concentração de micotoxina na amostra<br />
é inversamente proporcional à intensidade<br />
da cor desenvolvida (Hefle,<br />
1995).<br />
Aplicação de técnic<strong>as</strong><br />
imunoquímic<strong>as</strong><br />
Diversos métodos imunoquímicos<br />
têm sido aplicados na detecção de<br />
micotoxin<strong>as</strong>, incluindo ELISA, colun<strong>as</strong><br />
de imunoafinidade, métodos que empregam<br />
membran<strong>as</strong>, imunofiltração e<br />
biosensores (Tabela 1).<br />
As técnic<strong>as</strong> de ELISA são amplamente<br />
utilizad<strong>as</strong> na análise de lotes de<br />
amostr<strong>as</strong> e podem fornecer resultados<br />
qualitativos b<strong>as</strong>eados no desenvolvimento<br />
de cor pela reação enzimática<br />
<strong>com</strong> um substrato cromogênico, ou<br />
semiquantitativo/quantitativo pela determinação<br />
espectrofotométrica. A<br />
principal desvantagem do ELISA resulta<br />
d<strong>as</strong> interações inespecífic<strong>as</strong> de <strong>com</strong>ponentes<br />
alimentares (proteín<strong>as</strong>, ácidos<br />
graxos) <strong>com</strong> o anticorpo, que<br />
podem causar reações falso-positiv<strong>as</strong><br />
ou superestimação da concentração<br />
de micotoxin<strong>as</strong> (Hefle, 1995; Barna-<br />
Vetró et al., 1996). As interferênci<strong>as</strong><br />
podem ser minimizad<strong>as</strong> pela diluição<br />
d<strong>as</strong> amostr<strong>as</strong> antes do ensaio, ou pela<br />
inclusão de uma etapa de pré-limpeza<br />
(Pestka et al., 1994; Barna-Vetro et al.,<br />
1996; Ono et al., 2000).<br />
Recentemente a “Association of<br />
Official Analytical Chemists” (AOAC)<br />
validou diversos métodos analíticos<br />
b<strong>as</strong>eados na pré-limpeza do extrato<br />
alimentar por coluna de imunoafinidade<br />
antes da análise por CLAE (Burd<strong>as</strong>pal<br />
et al., 2001; Dragacci et al., 2001;<br />
Entwisle et al., 2001; Visconti et al.,<br />
2001). A utilização de cromatografia<br />
em camada delgada (CCD) <strong>as</strong>sociada<br />
a colun<strong>as</strong> de imunoafinidade é um<br />
procedimento promissor <strong>com</strong> desempenho<br />
<strong>com</strong>parável à CLAE (Stroka &<br />
Anklam, 2002), principalmente se a<br />
CCD de alta performance for utilizada<br />
(Valenta, 1998). A desvantagem em<br />
relação ao elevado custo d<strong>as</strong> colun<strong>as</strong><br />
de afinidade <strong>com</strong>erciais tende a ser<br />
minimizada pelo processo de regeneração<br />
da coluna (Scott & Trucksess,<br />
1997; Fazek<strong>as</strong> & Tar, 2001; Watanabe<br />
et al., 2001; Kondo et al., 2002).<br />
Os limites regulatórios cada vez<br />
mais rigorosos sobre os níveis de contaminação<br />
de micotoxin<strong>as</strong> por países<br />
importadores de grãos aumentaram a<br />
demanda por métodos rápidos e confiáveis<br />
para condições de campo. Diversos<br />
métodos que empregam membran<strong>as</strong><br />
(“dip-sticks”, tir<strong>as</strong> imunocromatográfic<strong>as</strong>,<br />
dispositivos de fluxo)<br />
foram desenvolvidos para aplicação<br />
no campo (De Saeger & Van Peteghem,<br />
1996; Sibanda et al., 2000; Ho<br />
& Wauchope, 2002). Entretanto, geralmente<br />
esses métodos apresentam<br />
baixa sensibilidade e são inadequados<br />
para a análise de grande número de<br />
amostr<strong>as</strong>. Ultimamente, houve um<br />
progresso expressivo em bio-sensores<br />
tais <strong>com</strong>o “surface pl<strong>as</strong>mon resonance”<br />
(SPR), sond<strong>as</strong> de fibra óptica e<br />
ensaios b<strong>as</strong>eados em micropartícul<strong>as</strong><br />
(Carlson et al., 2000; Daly et al., 2000;<br />
Maragos, 2002; N<strong>as</strong>ir & Jolley, 2002),<br />
m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> uma amostra pode ser<br />
avaliada de cada vez. As principais<br />
limitações desses métodos consistem<br />
na baixa reutilização da imunosuperfície<br />
e elevado consumo de reagentes<br />
(Gonzalez-Martinez et al., 1999).<br />
Aflatoxin<strong>as</strong><br />
As aflatoxin<strong>as</strong>, <strong>com</strong>postos heterocíclicos<br />
consistindo de diidrofurano<br />
ou tetraidrofurano ligado a uma cumarina<br />
substituída (Figura 5), são produzid<strong>as</strong><br />
por Aspergillus flavus e A. par<strong>as</strong>iticus<br />
(Stoloff, 1976). Os principais<br />
membros deste grupo de micotoxin<strong>as</strong><br />
consistem de quatro toxin<strong>as</strong> que ocorrem<br />
naturalmente, AFB 1<br />
, AFB 2<br />
, AFG 1<br />
e<br />
AFG 2<br />
, juntamente <strong>com</strong> seus produtos<br />
metabólicos (AFM 1<br />
, AFM 2<br />
, AFP 1<br />
, AFQ 1<br />
e aflatoxicol) produzidos pelos sistem<strong>as</strong><br />
metabólicos microbianos e animais<br />
(Bradburn et al., 1993).<br />
As aflatoxin<strong>as</strong> são encontrad<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>o contaminantes de milho, aveia,<br />
cevada, amendoim e outr<strong>as</strong> nozes,<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 71
especialmente em regiões tropicais e<br />
subtropicais, onde <strong>as</strong> condições de<br />
temperatura e umidade são ótim<strong>as</strong><br />
para o crescimento do fungo e para a<br />
produção da toxina (Rustom, 1997).<br />
As aflatoxin<strong>as</strong> provocam sintom<strong>as</strong><br />
tóxicos agudos em vári<strong>as</strong> espécies<br />
de animais, e o fígado é o alvo<br />
principal (Wogan, 1969). A AFB 1<br />
apresenta<br />
atividade teratogênica, mutagênica<br />
e hepatocarcinogênica, por meio<br />
da ativação metabólica para a forma<br />
epóxido, que pode se ligar covalentemente<br />
ao DNA. Devido à <strong>as</strong>sociação<br />
<strong>com</strong> o câncer hepático primário foi<br />
cl<strong>as</strong>sificada pela “International Agency<br />
for Research on Câncer” (IARC)<br />
<strong>com</strong>o carcinógeno do grupo 1 (IARC,<br />
2002).<br />
Dentre <strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong><br />
para <strong>as</strong> quais os limites legais<br />
de contaminação já foram<br />
estabelecidos, <strong>as</strong><br />
aflatoxin<strong>as</strong> são <strong>as</strong> mais amplamente<br />
regulad<strong>as</strong>. A<br />
“Food and Agriculture<br />
Organization” (FAO, 1997)<br />
relatou 77 países onde existe<br />
alguma forma de controle<br />
para aflatoxin<strong>as</strong>. Em países<br />
onde o regulamento<br />
especifica apen<strong>as</strong> o nível<br />
de AFB 1<br />
, os níveis permitidos<br />
se encontram numa faixa<br />
de zero detectável a 50<br />
µg/kg , sendo que a maioria<br />
é de 5 µg/kg. Além dos níveis de AFB 1<br />
,<br />
alguns países regulam os níveis de<br />
aflatoxin<strong>as</strong> totais dentro da mesma<br />
faixa de concentração.<br />
A aflatoxina M 1<br />
é um derivado<br />
hidroxilado da AFB 1<br />
, sendo produzida<br />
e excretada no leite de animais que<br />
consomem ração contaminada <strong>com</strong><br />
AFB 1<br />
. A preocupação existente acerca<br />
da AFM 1<br />
advém de sua semelhança<br />
estrutural <strong>com</strong> a AFB 1<br />
e também do<br />
fato d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> estarem entre os<br />
maiores consumidores de leite (Gremmels,<br />
1999). A AFM 1<br />
foi cl<strong>as</strong>sificada<br />
<strong>com</strong>o carcinógeno do grupo 2B (possivelmente<br />
carcinogênico para seres<br />
humanos) (IARC, 2002).<br />
Anticorpos policlonais e monoclonais<br />
para aflatoxin<strong>as</strong> foram desenvolvidos<br />
para utilização em ic-ELISA e<br />
dc-ELISA (Morgan et al., 1983; Chu et<br />
al., 1987; Kawamura et al., 1988; Li et<br />
al., 1994; Aldao et al., 1995, Devi et al.,<br />
1999; Thirumala-Devi et al., 2002;<br />
Lipigorngoson et al., 2003).<br />
Lipigorngoson et al. (2003) desenvolveram<br />
um dc-ELISA b<strong>as</strong>eado<br />
em anticorpos monoclonais para<br />
detecção de AFB 1<br />
<strong>com</strong> um limite de<br />
detecção de 4 µg/kg, recuperação de<br />
88,1% a 99,5%. Os coeficientes de<br />
correlação <strong>com</strong> kit de ELISA <strong>com</strong>ercial<br />
e CCD foram 0,912 e 0,802 para<br />
milho, 0,941 e 0,832 para amendoim,<br />
respectivamente (p
Figura 5. Estrutur<strong>as</strong> químic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> principais aflatoxin<strong>as</strong><br />
Figura 6. Estrutur<strong>as</strong> químic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> principais fumonisin<strong>as</strong><br />
utilizada <strong>com</strong>o b<strong>as</strong>e para detecção de<br />
< 20 ng de AFB 1<br />
marcada <strong>com</strong> lipossomos<br />
contendo um corante (Ho &<br />
Wauchope, 2002). Neste método, a<br />
amostra migra ao longo da tira por<br />
capilaridade em uma área contendo<br />
anticorpos imobilizados, então a AFB 1<br />
marcada <strong>com</strong> lipossomos contendo<br />
corante migra pela mesma área <strong>com</strong> a<br />
subseqüente ligação <strong>com</strong> os anticorpos<br />
que não se ligaram à AFB 1<br />
da<br />
amostra, desenvolvendo uma coloração<br />
intensa.<br />
Um imunoensaio colorimétrico<br />
para detecção de AFB 1<br />
b<strong>as</strong>eado na<br />
injeção seqüencial de amostr<strong>as</strong> (SIIA),<br />
utilizando uma célula de fluxo circular<br />
empacotada em uma f<strong>as</strong>e sólida de<br />
polimetilmetacrilato, apresentou um<br />
limite de detecção de 0,2 ng/mL em<br />
amostr<strong>as</strong> de alimentos artificialmente<br />
contaminados (Garden & Strachan,<br />
2001). Esta sensibilidade é <strong>com</strong>parável<br />
à sensibilidade do ELISA em microplaca,<br />
<strong>com</strong> a vantagem de ser realizado<br />
em apen<strong>as</strong> dez minutos, enquanto<br />
o ELISA demora 2 hor<strong>as</strong>. A desvantagem<br />
do novo sistema é a realização de<br />
análises seqüenciais de no máximo 15<br />
amostr<strong>as</strong>, enquanto o ELISA permite a<br />
análise de dezen<strong>as</strong> de amostr<strong>as</strong> ao<br />
mesmo tempo.<br />
Diversos trabalhos sobre a performance<br />
de kits para determinação de<br />
aflatoxin<strong>as</strong> foram realizados (Dorner &<br />
Cole, 1989; Koeltzow & Tanner, 1990;<br />
Beaver et al., 1991; Sabino et al.; 1997;<br />
Oliveira et al., 2000). Hongyo et al.<br />
(1992) <strong>com</strong>parando a análise de extratos<br />
de milho por dc-ELISA b<strong>as</strong>eado<br />
em anticorpos monoclonais <strong>com</strong> CCD<br />
e CLAE, encontraram coeficientes de<br />
correlação de 0,93 e 0,95, respectivamente,<br />
quando o nível de contaminação<br />
era até 200 µg/kg.<br />
Oliveira et al. (2000) <strong>com</strong>pararam<br />
<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> de CCD <strong>com</strong> quantificação<br />
visual e densitométrica e ELISA,<br />
para análise de aflatoxin<strong>as</strong> em amostr<strong>as</strong><br />
de milho naturalmente contaminad<strong>as</strong>.<br />
As concentrações de aflatoxin<strong>as</strong><br />
totais encontrad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />
de CCD e ELISA apresentaram maior<br />
freqüência na faixa de 0-30 µg/kg e<br />
acima de 300 µg/kg. Os coeficientes<br />
de correlação entre os métodos foram<br />
altamente significativos para <strong>as</strong> relações<br />
entre <strong>as</strong> quantificações visual e<br />
densitométrica (r= 0,92), ELISA e visual<br />
(r= 0,83), ELISA e densitometria (r=<br />
0,74), na determinação de aflatoxin<strong>as</strong><br />
totais em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> amostr<strong>as</strong> de milho<br />
pesquisad<strong>as</strong>, confirmando haver equivalência<br />
d<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> estudad<strong>as</strong>.<br />
Sabino et al. (1997) avaliaram a<br />
eficiência de dois kits de ELISA (Cite<br />
Probe Aflatoxin Test Kit-Idexx) para<br />
detecção de AFB 1<br />
em níveis de 5 e 20<br />
ng/g em <strong>com</strong>paração à CCD. Os kits<br />
de ELISA apresentaram resultados falsopositivos<br />
indicando que o método de<br />
ELISA pode superestimar os níveis de<br />
aflatoxin<strong>as</strong>, demonstrando a<br />
necessidade de confirmar resultados<br />
positivos. Resultados falso-negativos<br />
foram encontrados em amostr<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
traços de aflatoxin<strong>as</strong> e, portanto, abaixo<br />
do limite de detecção dos kits. Os<br />
resultados obtidos permitiram concluir<br />
que os kits mostraram-se adequados<br />
para testes de triagem de AFB 1<br />
em<br />
amostr<strong>as</strong> de milho, ração, amendoim e<br />
seus derivados.<br />
Diversos estudos colaborativos<br />
sobre kits de ELISA e colun<strong>as</strong> de imunoafinidade<br />
têm sido relatados desde<br />
1988 (Mortimer et al., 1988; Park et al.,<br />
1989; Trucksess et al., 1989; Patey et<br />
al., 1992; Trucksess & Stack, 1994;<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 73
Tabela 1. Limites de detecção de diferentes tipos de imunoensaios para aflatoxin<strong>as</strong> e fumonisin<strong>as</strong><br />
Micotoxina Tipo de imunoensaio Limite de detecção Referência<br />
AFB 1<br />
ELISA (Cite Probe) 5 ng/g Sabino et al. (1997)<br />
AFB 1<br />
dc-ELISA 4 ng/g Lipigorngoson et al. (2003)<br />
AFB 1<br />
Imunofiltração 0,01 ng/mL Pal & Dhar (2004)<br />
AFB 1<br />
SIIA b 0,2 ng/mL Garden & Strachan (2001)<br />
AFM 1<br />
Ensaio imunoenzimático<br />
de análise em fluxo 0,05 ng/mL Sibanda et al. (1999)<br />
AFM 1<br />
cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen) 0,01 ng/mL López et al. (2003)<br />
FB 1<br />
cd-ELISA 7,6 ng/g Barna-Vetró et al. (2000)<br />
FB 1<br />
FILIA c 1 ng/mL Ho & Durst (2000)<br />
FB 1<br />
Polarização de fluorescência 500 ng/g Maragos et al. (2001)<br />
FB 1<br />
Biosensor (SPR) d 50 ng/mL Mullet et al. (1998)<br />
FBs totais a ic-ELISA 93 ng/g Ono et al. (2000)<br />
FBs totais a cd-ELISA 1000 ng/g Desjardins et al. (2000)<br />
FBs totais a cd-ELISA 5 ng/g Kim et al. (2002)<br />
FBs totais a cd-ELISA (Veratox) 200 ng/g C<strong>as</strong>telo et al. (1998)<br />
FBs totais a cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen) 3 ng/mL Torres et al. (1998)<br />
FBs totais a cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen) 3,4 ng/g Danielsen & Funck-Jensen (1998)<br />
a<br />
FBs totais: Fumonisin<strong>as</strong> totais<br />
b<br />
SIIA: Imunoensaio de injeção seqüencial<br />
c<br />
FILIA: “Flow-injection liposome immunoanalysis”<br />
d<br />
SPR: “Surface Pl<strong>as</strong>mon Resonance”<br />
Patey et al., 1991; Trucksess et al.,<br />
1990, 1991; Barmark & Larsson, 1994).<br />
A coluna de imunoafinidade Aflatest-P<br />
acoplada à fluorimetria ou CLAE foi<br />
adotada <strong>com</strong>o método oficial pela<br />
AOAC para aflatoxin<strong>as</strong> totais em milho,<br />
amendoim e p<strong>as</strong>ta de amendoim<br />
em concentrações > 10 µg/kg (Trucksess<br />
et al., 1991).<br />
Souza et al. (1999) avaliaram um<br />
kit de cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen, R-Biopharm)<br />
na detecção e quantificação<br />
de AFM 1<br />
em leite e relataram uma<br />
eficiência qualitativa, sensibilidade elevada<br />
e especificidade considerável.<br />
Na faixa de contaminação de 0,019 a<br />
0,090 µg/L o kit apresentou exatidão e<br />
precisão, porém para níveis de contaminação<br />
de 0,200 a 0,970 µg/L não foi<br />
observada a mesma eficiência.<br />
López et al. (2003) analisaram<br />
AFM 1<br />
em 77 amostr<strong>as</strong> de leite da<br />
Argentina, empregando o kit <strong>com</strong>ercial<br />
dc-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen, R-Biopharm)<br />
e observaram que 23% d<strong>as</strong> amostr<strong>as</strong><br />
estavam contaminad<strong>as</strong> <strong>com</strong> AFM 1<br />
em<br />
níveis de 0,01 a 0,03 µg/L. Sarimehmetoglu<br />
et al. (2003) também empregaram<br />
o kit de dc-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen,<br />
R-Biopharm) para a detecção de AFM 1<br />
em 400 amostr<strong>as</strong> de queijos consumidos<br />
na província de Ankara (Turquia)<br />
e relataram contaminação de 81,75%,<br />
sendo que 27,5% apresentaram níveis<br />
que excediam os limites legais de 250<br />
ng/kg.<br />
Sibanda et al. (1999) desenvolveram<br />
um novo ensaio imunoenzimático<br />
b<strong>as</strong>eado em um sistema de fluxo<br />
através de membrana, que foi acoplado<br />
a uma coluna de imunoafinidade. O<br />
limite de detecção visual foi de 0,05<br />
ng/mL de AFM 1<br />
no leite e o tempo<br />
total de ensaio foi de 30 minutos. A<br />
reatividade cruzada dos anticorpos<br />
monoclonais anti-AFM 1<br />
foi de 100, 20,<br />
74 e 57% contra AFM 1<br />
, AFM 2<br />
, AFB 1<br />
e<br />
AFB 2<br />
, respectivamente.<br />
Um ic-ELISA b<strong>as</strong>eado em anticorpos<br />
policlonais foi desenvolvido<br />
para detecção de AFM 1<br />
em leite e<br />
derivados. O ensaio apresentou resultados<br />
precisos em concentrações de<br />
AFM 1<br />
superiores a 0,25 ng/mL, e a<br />
reação cruzada foi de 5% para AFB 1<br />
e<br />
menor que 5% para AFB 2<br />
, AFG 1<br />
e<br />
AFG 2<br />
; não houve reação cruzada <strong>com</strong><br />
a ocratoxina A (Thirumala-Devi et al.,<br />
2002).<br />
Fumonisin<strong>as</strong><br />
As fumonisin<strong>as</strong> constituem um<br />
grupo de metabólitos secundários produzidos<br />
por Fusarium verticillioides,<br />
F. proliferatum e outr<strong>as</strong> espécies relacionad<strong>as</strong><br />
morfologicamente. Vinte e<br />
oito análogos de fumonisin<strong>as</strong> foram<br />
caracterizados, porém fumonisina B 1<br />
(FB 1<br />
), FB 2<br />
e FB 3<br />
são os principais<br />
contaminantes naturais de milho e<br />
derivados (Rheeder et al., 2002).<br />
As fumonisin<strong>as</strong> causam leucoencefalomalacia<br />
em eqüinos (Kellerman<br />
et al., 1990) e edema pulmonar<br />
em suínos (Harrison et al., 1990). Em<br />
seres humanos, altos níveis de fumonisin<strong>as</strong><br />
em derivados de milho têm sido<br />
<strong>as</strong>sociados <strong>com</strong> câncer esofágico na<br />
África do Sul e China (Rheeder et al.,<br />
1992; Chu & Li, 1994). As toxin<strong>as</strong> de F.<br />
verticillioides foram cl<strong>as</strong>sificad<strong>as</strong> pela<br />
“International Agency for Research on<br />
Cancer” <strong>com</strong>o possivelmente carcinogênic<strong>as</strong><br />
para seres humanos (IARC,<br />
2002).<br />
Embora os limites legais para <strong>as</strong><br />
fumonisin<strong>as</strong> não tenham sido estabelecidos,<br />
o “Mycotoxin Committee of<br />
the American Association of Veterinary<br />
Laboratory Diagnosticians” re<strong>com</strong>enda<br />
5, 10, 50 e 50 µg/g para ração de<br />
eqüinos, suínos, bovinos e aves, respectivamente<br />
(Munkvold & Desjardins,<br />
1997). A Suíça re<strong>com</strong>enda o<br />
limite de 1 µg/g para derivados de<br />
milho destinados ao consumo humano<br />
(Visconti & Boenke, 1995)<br />
Anticorpos policlonais e mono-<br />
74 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
clonais para fumonisin<strong>as</strong> foram produzidos<br />
para aplicação em dc-ELISA e ic-<br />
ELISA (Azcona-Olivera et al. 1992a, b;<br />
Usleber et al., 1994; Iijima et al., 1996;<br />
Yeung et al., 1996; Yu & Chu, 1996;<br />
Barna-Vetró et al., 2000; Christensen<br />
et al., 2000).<br />
Um dc-ELISA b<strong>as</strong>eado em anticorpos<br />
monoclonais desenvolvido para<br />
detecção de FB 1<br />
em cereais (Barna-<br />
Vetró et al., 2000) apresentou um<br />
limite de detecção de 7,6 ng/g FB 1<br />
e<br />
uma reatividade cruzada média de<br />
100%, 91,8%, e 209% para FB 1<br />
, FB 2<br />
, e<br />
FB 3<br />
, respectivamente. A recuperação<br />
da toxina a partir de cereais artificialmente<br />
contaminados em níveis de 50-<br />
200 ng/g FB 1<br />
variou de 61% a 84%.<br />
Kulisek & Hazebroek (2000) desenvolveram<br />
um cd-ELISA empregando<br />
anticorpos policlonais para a triagem<br />
rápida de contaminação por FB 1<br />
.<br />
Esse ensaio foi aplicado num estudo<br />
<strong>com</strong>parativo para determinar a eficiência<br />
de extração de FB 1<br />
em água<br />
deionizada, tampão fosfato salina (PBS),<br />
PBS-Tween e em solventes orgânicos<br />
(70% metanol, 50% acetonitrila) utilizando<br />
16 amostr<strong>as</strong> de milho. O tampão<br />
fosfato mostrou-se adequado para<br />
a extração de FB 1<br />
. As determinações<br />
realizad<strong>as</strong> por ELISA apresentaram boa<br />
correlação (r = 0,94) <strong>com</strong> CLAE em<br />
amostr<strong>as</strong> artificialmente contaminad<strong>as</strong><br />
entre 1 e 50 mg/mL de extrato.<br />
Desjardins et al. (2000) avaliaram<br />
a ocorrência de fumonisin<strong>as</strong> em milho<br />
nepalense por dc-ELISA b<strong>as</strong>eado em<br />
anticorpos monoclonais e os níveis de<br />
fumonisin<strong>as</strong> foram >1 µg/g em 22% de<br />
74 amostr<strong>as</strong>. O limite de detecção do<br />
método foi de 1 µg/g.<br />
Danielsen & Funck Jensen (1998)<br />
avaliaram 35 amostr<strong>as</strong> de milho proveniente<br />
de três regiões geográfic<strong>as</strong><br />
de Costa Rica, e detectaram<br />
fumonisin<strong>as</strong> em níveis de 4 a 16.000<br />
ng/g, <strong>com</strong> uma média de 2500 ng/g,<br />
utilizando um cd-ELISA <strong>com</strong>ercial b<strong>as</strong>eado<br />
em anticorpos monoclonais<br />
(Rid<strong>as</strong>creen Fumonisin F<strong>as</strong>t, R-<br />
Biopharm). Os anticorpos apresentaram<br />
reatividade cruzada <strong>com</strong> FB 2<br />
(40%)<br />
e FB 3<br />
(100%), resultando em uma<br />
superestimação média de
Torres et al. (1998) avaliaram a<br />
ocorrência de fumonisin<strong>as</strong> em 32 amostr<strong>as</strong><br />
de cerveja da Espanha, empregando<br />
cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen, R-Biopharm).<br />
O limite de detecção do kit foi<br />
de 3 ng de fumonisin<strong>as</strong>/mL de cerveja.<br />
D<strong>as</strong> 32 amostr<strong>as</strong> analisad<strong>as</strong>, 14 (43,8%)<br />
estavam contaminad<strong>as</strong> por fumonisin<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> concentrações variando de<br />
4,76 ng/mL a 85,53 ng/mL.<br />
Outra variante de métodos imunoquímicos<br />
consiste na detecção de<br />
fumonisin<strong>as</strong> por imunosensor de “surface<br />
pl<strong>as</strong>mon ressonance” (SPR). Neste<br />
método, anticorpos policlonais de alta<br />
afinidade específicos para FB 1<br />
são<br />
imobilizados em uma película de ouro,<br />
que é acoplada a um prisma de vidro.<br />
Um raio de luz é focalizado através do<br />
prisma para excitar a SPR na película<br />
de ouro. Quando uma amostra contendo<br />
FB 1<br />
é adicionada a uma célula na<br />
parte externa da película de ouro, o<br />
perfil angular da intensidade da luz<br />
refletida é alterado, provocando mudança<br />
no ângulo de ressonância que é<br />
proporcional à concentração de FB 1<br />
. O<br />
limite de detecção deste método é de<br />
50 ng/mL <strong>com</strong> um tempo de análise<br />
inferior a 10 minutos (Mullett et al.,<br />
1998).<br />
Os trabalhos relatados demonstraram<br />
que <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> imunoquímic<strong>as</strong><br />
preenchem os requisitos de rapidez e<br />
eficiência na triagem de micotoxin<strong>as</strong>,<br />
devendo-se concentrar os esforços na<br />
redução da reatividade cruzada.<br />
Considerações finais<br />
A ocorrência de micotoxin<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>o contaminantes alimentares, bem<br />
<strong>com</strong>o o impacto desses <strong>com</strong>postos na<br />
saúde humana e animal, resultaram no<br />
desenvolvimento e no aperfeiçoamento<br />
de vários métodos de imunodetecção<br />
para monitorar os níveis de contaminação<br />
em alimentos. Atualmente<br />
existem kits de ELISA para análise d<strong>as</strong><br />
principais micotoxin<strong>as</strong>, porém <strong>as</strong> reações<br />
falso-positiv<strong>as</strong> dificultam ainda, a<br />
sua utilização <strong>com</strong>o alternativa aos<br />
métodos reconhecidos pela AOAC,<br />
sendo necessária a confirmação por<br />
métodos químicos <strong>com</strong>o a CLAE. As<br />
colun<strong>as</strong> de imunoafinidade proporcionam<br />
especificidade e eficiência <strong>com</strong>o<br />
técnica de pré-limpeza e concentração<br />
antes da análise por CLAE e têm<br />
sido amplamente utilizad<strong>as</strong> na determinação<br />
de micotoxin<strong>as</strong>. Recentemente<br />
foram desenvolvidos métodos<br />
rápidos b<strong>as</strong>eados em biosensores, “surface<br />
pl<strong>as</strong>mon resonance”, “dipstick”,<br />
imuno-análise b<strong>as</strong>eada em lipossoma,<br />
que podem ser utilizados na análise<br />
rápida de um grande número de amostr<strong>as</strong>.<br />
Os imunoensaios desempenharão<br />
um papel cada vez mais importante<br />
na análise de alimentos, principalmente<br />
de micotoxin<strong>as</strong>, pois disponibilizam<br />
uma gama de métodos que<br />
podem ser utilizados tanto nos laboratórios<br />
<strong>com</strong>o ensaios quantitativos, <strong>com</strong>o<br />
no campo, para a triagem. Considerando<br />
que os kits, bem <strong>com</strong>o grande<br />
parte dos insumos para realização de<br />
imunoensaios são importados, elevando<br />
os custos, é de extrema importância<br />
alcançar a auto-suficiência na produção<br />
e desenvolvimentos de kits e<br />
reagentes imunológicos.<br />
Agradecimentos<br />
Os autores agradecem o apoio<br />
financeiro recebido pelo Conselho<br />
Nacional de Desenvolvimento Científico<br />
e Tecnológico (CNPq) e Fundação<br />
Araucária.<br />
Referênci<strong>as</strong> bibliográfic<strong>as</strong><br />
Abb<strong>as</strong> A.K., Lichtman A.H., Pober, J.S.<br />
(2000) Cellular an Molecular<br />
Immunology. W.B. Saunders<br />
Company, Philadelphia.<br />
Aldao M.A.J., Carpinella M.C., Corelli<br />
M., Herrero G.G. (1995). Competitive<br />
ELISA for quantifying small<br />
amounts of aflatoxin B 1<br />
, Food and<br />
Agricultural Immunology<br />
7(4):307-314.<br />
Ayres J.C. (1979). Significance of food<br />
mycology - an overview. In: Food<br />
mycology, Rhodes M.E. Ed., G.K.<br />
Hall & Co., M<strong>as</strong>sachussetts, 3-10.<br />
Azcona-Oliveira J. I., Abouzied M. M.,<br />
Plattner R. D., Norred W. P., Pestka<br />
J.J. (1992a). Generation of antibodies<br />
reactive with fumonisins B 1<br />
,<br />
B 2<br />
and B 3<br />
by using cholera toxin <strong>as</strong><br />
the carrier-adjuvant, Applied and<br />
Environmental Microbiology<br />
58(1):169-173.<br />
Azcona-Olivera J. I., Abouzied M. M.,<br />
Plattner R. D., Pestka J. J. (1992b).<br />
Production of monoclonal antibodies<br />
to the mycotoxins fumonisins<br />
B 1<br />
, B 2<br />
and B 3<br />
, Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry<br />
40(3):531-534.<br />
Barmark A. L., Larsson K. (1994). Immunoaffinity<br />
column clean-up/liquid<br />
chromatography determination<br />
of aflatoxins: An interlaboratory<br />
study, Journal of AOAC<br />
International 77:46-53.<br />
Barna-Vetró I., Solti L., Téren J., Gyöngyösi<br />
A., Szabó E., Wölfling A.<br />
(1996). Sensitive ELISA Test for<br />
determination of ochratoxin A,<br />
Journal of Agricultural and<br />
Food Chemistry 44: 4071-4074.<br />
Barna-Vetró I., Szabo E., Fazek<strong>as</strong> B.,<br />
Solti L. (2000). Development of a<br />
sensitive ELISA for the determination<br />
of fumonisin B 1<br />
in cereals,<br />
Journal of Agricultural and<br />
Food Chemistry 48:2821-2825.<br />
Beaver R.W., James M.A., Lin T.Y.<br />
(1991). Comparison of an ELISAb<strong>as</strong>ed<br />
screening test with liquid<br />
chromatography for the determination<br />
of aflatoxins in corn, Journal<br />
of the Association of Official<br />
Analytical Chemists 74:827-<br />
829.<br />
Bird C.B., Malone B., Rice L.G., Ross<br />
P.F., Eppley R., Abouzied M.M.<br />
(2002). Determination of total fumonisins<br />
in corn by <strong>com</strong>petitive<br />
direct enzyme-linked immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say: collaborative study,<br />
Journal of AOAC International<br />
85(2):404-410.<br />
Bradburn N., Blunden G., Coker R.D.,<br />
Jewers K. (1993). Aflatoxin contamination<br />
of maize, Tropical Science<br />
33:418-428.<br />
Burd<strong>as</strong>pal P., Ma Legarda T., Gilbert J.<br />
(2001). Immunoaffinity column<br />
clean-up with liquid chromatography<br />
for the determination of ochratoxin<br />
A in baby food: collaborative<br />
study, Journal of AOAC Inter-<br />
76 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
national 84:1445-1452.<br />
Carlson M.A., Bargeron C.B., Benson<br />
R.C., Fr<strong>as</strong>er A.B., Phillips T.E., Velky<br />
J.T., Groopman J.D., Strickland<br />
P.T., Ko H.W. (2000). An automated,<br />
handheld biosensor for aflatoxin,<br />
Biosensors and Bioelectronics<br />
14:841-848.<br />
C<strong>as</strong>telo M.M., Sumner, S.S., Bullerman<br />
L.B. (1998) Occurrence of fumonisins<br />
in corn-b<strong>as</strong>ed food products,<br />
Journal of Food Protection,<br />
61(6): 704-707.<br />
Christensen H.R., Yu F-Y., Chu F.S.<br />
(2000). Development of a polyclonal<br />
antibody-b<strong>as</strong>ed sensitive<br />
enzyme-linked immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say for fumonisin B 4<br />
, Journal of<br />
Agricultural and Food Chemistry<br />
48:1977-1984.<br />
Chu F.S. (1984). Immuno<strong>as</strong>says for<br />
analysis of mycotoxins, Journal<br />
of Food Protection 47: 562-569.<br />
Chu F.S., Fan T.S.L., Zhang G.S., Xu<br />
Y.C., Faust S., McMahon P.L. (1987).<br />
Improved enzyme-linked immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say for aflatoxin B 1<br />
in<br />
agricultural <strong>com</strong>modities, Journal<br />
of the Association of Official<br />
Analytical Chemists 70:854-857.<br />
Chu F.S., Li G.Y. (1994) Simultaneous<br />
occurrence of fumonisin B 1<br />
and<br />
other mycotoxins in moldy corn<br />
collected from the Peoples’ Republic<br />
of China in regions with high<br />
incidences of esophageal cancer,<br />
Applied and Environmental<br />
Microbiology 60:847-852.<br />
Daly S.J., Keating G.J., Dillon P.P.,<br />
Manning B.M., O’Kennedy R., Lee<br />
H.A., Morgan M.R. (2000). Development<br />
of surface pl<strong>as</strong>mon resonance-b<strong>as</strong>ed<br />
immuno<strong>as</strong>say for aflatoxin<br />
B 1<br />
, Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry<br />
48(11):5097-5104.<br />
Danielsen S., Funck Jensen D. (1998).<br />
Relationships between seed germination,<br />
fumonisin content, and<br />
Fusarium verticillioides infection<br />
in selected maize samples from<br />
different regions of Costa Rica,<br />
Plant Pathology 47:609–614.<br />
De Saeger S., Van Peteghem C. (1996).<br />
Dipstick enzyme immuno<strong>as</strong>say to<br />
detect Fusarium T-2 toxin in wheat,<br />
Applied and Environmental<br />
Microbiology 62:1880-1884.<br />
Deshpande, S. S. (1996) Immuno<strong>as</strong>says<br />
Cl<strong>as</strong>sification and Commercial<br />
Technologies. In: Enzyme<br />
Immuno<strong>as</strong>says: From Concept<br />
to Product Development, Chapman<br />
& Hall, New York, 231-259.<br />
Desjardins A.E., Manandhar G., Plattner<br />
R.D., Maragos C.M., Shrestha<br />
K., McCormick S.P. (2000). Occurrence<br />
of Fusarium species and<br />
mycotoxins in Nepalese maize and<br />
wheat and the effect of traditional<br />
processing methods on mycotoxin<br />
levels, Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry<br />
48:1377-1383.<br />
Devi K.T., Mayo M.A., Reddy K.L.N.,<br />
Delfosse P., Reddy G., Reddy S.V.,<br />
Reddy D.V.R. (1999). Production<br />
and characterization of monoclonal<br />
antibodies for aflatoxin B 1<br />
, Letters<br />
in Applied Microbiology<br />
29:284–288.<br />
Dorner J.W., Cole R.J. (1989). Comparison<br />
of two ELISA screening tests<br />
with liquid chromatography for<br />
determination of aflatoxins in raw<br />
peanuts, Journal of the Association<br />
of Official Analytical<br />
Chemists 72(6):962-964.<br />
Dragacci S., Grosso F., Gilbert J. (2001).<br />
Immunoafinity column clean-up<br />
with liquid chromatography for<br />
determination of aflatoxin M 1<br />
in<br />
liquid milk: collaborative study,<br />
Journal of AOAC International<br />
84:437-443.<br />
Entwisle A.C., Williams A.C., Mann P.J.,<br />
Russel J., Slack P.T., Gilbert J.<br />
(2001). Combined phenyl silane<br />
and immunoaffinity column cleanup<br />
with liquid chromatography for<br />
the determination of ochratoxin A<br />
in ro<strong>as</strong>ted coffee: collaborative<br />
study, Journal of AOAC<br />
International 84:444-450.<br />
Fazek<strong>as</strong> B., Tar A. (2001). Determination<br />
of zearalenone content in cereals<br />
and feedstuffs by immunoaffinity<br />
column coupled with liquid<br />
chromatography, Journal of the<br />
Association of Official Analytical<br />
Chemists International<br />
84(5):1453-1459.<br />
Food and Agriculture Organization of<br />
the United Nations (FAO). (1997).<br />
Application of risk management<br />
to food safety matters.Report of<br />
the joint FAO/WHO consultation,<br />
FAO Food and Nutrition paper no.<br />
65, Rome: FAO.<br />
Garden S.R., Strachan N.J.C. (2001).<br />
Novel colorimetric immuno<strong>as</strong>say<br />
for the detection of aflatoxin B 1,<br />
Analytica Chimica Acta<br />
444:187-191.<br />
Gathumbi JK, Usleber E, Ngatia TA,<br />
Kangethe EK, Martlbauer E. (2003).<br />
Application of immunoaffinity<br />
chromatography and enzyme immuno<strong>as</strong>say<br />
in rapid detection of<br />
aflatoxin B 1<br />
in chicken liver tissues,<br />
Poultry Science 82:585-590.<br />
Gazzaz S.S., R<strong>as</strong>co B.A., Dong F.M.<br />
(1992). Application of immunochemical<br />
<strong>as</strong>says to food analysis,<br />
Critical Reviews in Food Science<br />
and Nutrition 32(3):197-<br />
229.<br />
Gonzalez-Martinez M.A., Puchades R.,<br />
Maquieira A. (1999). On-line immunoanalysis<br />
for environmental<br />
pollutants: from batch <strong>as</strong>says to<br />
automated sensors, Trends in<br />
Analytical Chemistry 18:204-<br />
218.<br />
Gremmels, J. F. (1999) Mycotoxins:<br />
Their Implications for Human and<br />
Animal Health. The Veterinary<br />
Quarterly 21(4):115-120.<br />
Harrison L.R., Colvin B.M., Green J.T.,<br />
Newman L.E., Cole J.R. (1990).<br />
Pulmonary edema and hydrothorax<br />
in swine produced by fumonisin<br />
B 1<br />
, a toxic metabolite of Fusarium<br />
moniliforme, Journal of<br />
Veterinary Diagnostic Investigation<br />
2:217-221.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 77
Hefle S.L. (1995). Immuno<strong>as</strong>say fundamentals,<br />
Food Technology<br />
49(2):102-107.<br />
Ho J.-A.A, Durst R.A. (2000). Development<br />
of a flow-injection liposome<br />
immunoanalysis system for<br />
fumonisin B 1<br />
, Analytica Chimica<br />
Acta 414:61-69.<br />
Ho J.-A.A., Durst R.A. (2003). Detection<br />
of fumonisin B 1<br />
: <strong>com</strong>parison of<br />
flow-injection liposome immunoanalysis<br />
with high-performance liquid<br />
chromatography, Analytical<br />
Biochemistry 312:7-13.<br />
Ho J.-A.A., Wauchope R.D. (2002). A<br />
strip liposome immuno<strong>as</strong>say for<br />
aflatoxin B 1<br />
, Analytical Chemistry<br />
74:1493-1496.<br />
Hongyo K., Itoh Y., Hifumi E., Takey<strong>as</strong>u<br />
A. (1992). Comparison of monoclonal<br />
antibody-b<strong>as</strong>ed enzymelinked<br />
immunosorbent <strong>as</strong>say with<br />
thin-layer chromatography and liquid<br />
chromatography for aflatoxin<br />
B 1<br />
determination in naturally contaminated<br />
corn and mixed feed,<br />
Journal of AOAC International<br />
75:307-312.<br />
Iijima K., Kawamura O, Wang D.-S.,<br />
Manabe M., Tanaka K., Chen G.,<br />
Yu S.Z., Ueno W. (1996). Development<br />
of highly sensitive immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say for fumonisins and<br />
its application for contaminated<br />
corn, Mycotoxins 42:63-66.<br />
International Agency for Research on<br />
Cancer. (2002) IARC Monographs<br />
on the Evaluation of Carcinogenic<br />
Risks to Humans and Their<br />
Supplements: A Complete List. Vol.<br />
82, Some Traditional Herbal Medicines,<br />
Some Mycotoxins, Naphthalene<br />
and Styrene; International<br />
Agency for Research on Cancer,<br />
World Health Organization:<br />
Lyon, France, http://<br />
monographs.iarc.fr/htdocs/ monographs/vol82/82-05.html.<br />
Kawamura O., Nagayama S., Sato S.,<br />
Ohtani K., Ueno I., Ueno Y. (1988)<br />
A monoclonal antibody-b<strong>as</strong>ed enzyme-linked<br />
immunosorbent <strong>as</strong>say<br />
for aflatoxin B 1<br />
in peanut products.<br />
Mycotoxin Research 4:75-<br />
88.<br />
Kellerman T.S., Mar<strong>as</strong><strong>as</strong> W.F.O., Thiel<br />
P.G., Gelderblom W.C.A., Cawood<br />
M., Coetzer J.A.W. (1990). Leukoencephalomalacia<br />
in two horses<br />
induced by oral dosing of fumonisin<br />
B1, Onderstepoort Journal<br />
Veterinary Research 57:269-<br />
275.<br />
Kim E.K., Shon D.H., Chung S.H., Kim<br />
Y.B. (2002). Survey for fumonisin<br />
B 1<br />
in Korean corn-b<strong>as</strong>ed food products,<br />
Food Additives Contaminants<br />
19(5):459-464.<br />
Koeltzow D.E., Tanner S.N. (1990).<br />
Comparative evaluation of <strong>com</strong>mercially<br />
available aflatoxin test<br />
methods, Journal of the Association<br />
of Official Analytical<br />
Chemists 73:584-589.<br />
Kondo F., Ito Y., Yamada S., Tsuji K.,<br />
Imokawa M., Niimi Y., Harada K.-<br />
I., Ueno Y., Miyazaki Y. (2002).<br />
Determination of microcystins in<br />
lake water using reusable immunoaffinity<br />
column, Toxicon<br />
40:893-899.<br />
Kulisek E.S., Hazebroek J.P. (2000).<br />
Comparison of extraction buffers<br />
for the detection of fumonisin B 1<br />
in<br />
corn by immuno<strong>as</strong>say and highperformance<br />
liquid chromatography,<br />
Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry 48:65-69.<br />
Lee, H. A.; Morgan, M. R. A. (1993)<br />
Food immuno<strong>as</strong>says: applications<br />
of polyclonal, monoclonal and re<strong>com</strong>binant<br />
antibodies. Trends in<br />
Food Science and Technology<br />
4:129-134<br />
Li S., Marquardt R.R., Frohlich A.A.,<br />
Xiao H., Clarke J.R. (1994). The<br />
development of a quantitative<br />
ELISA for aflatoxin B 1<br />
in ground<br />
peanuts using antibodies isolated<br />
from the yolk of a laying hen,<br />
Journal of Food Protection<br />
57:1022-1024.<br />
Lipigorngoson S., Limtrakul P., Suttajit<br />
M., Yoshizawa T. (2003). In-house<br />
direct ELISA for determining aflatoxin<br />
B 1<br />
in Thai corn and peanuts,<br />
Food Additives Contaminants<br />
20 (9): 838-845.<br />
López, C. E.; Ramos, L. L.; Ramadán, S.<br />
S., Bulacio, L. C. (2003) Presence<br />
of aflatoxin M 1<br />
in milk for human<br />
consumption in Argentina. Food<br />
Control, 14: 31-34.<br />
Maragos C.M. (2002). Novel <strong>as</strong>says<br />
and sensor platforms for the detection<br />
of aflatoxins, Advances<br />
in Experimental Medicine and<br />
Biology 504:85-93.<br />
Maragos C.M, Jolley M.E., Plattner R.D.,<br />
N<strong>as</strong>ir M.S. (2001). Fluorescence<br />
polarization <strong>as</strong> a means for determination<br />
of fumonisins in maize,<br />
Journal of Agricultural and<br />
Food Chemistry 49:596-602.<br />
Morgan M.R.A., McNerney R., Chan<br />
H.W.S. (1983). Enzyme-linked<br />
immunosorbent <strong>as</strong>say of ochratoxin<br />
A in barley, Journal of the<br />
Association of Official Analytical<br />
Chemists 66:1481-1484.<br />
Mortimer D.N., Shepherd M.J., Gilbert<br />
J., Clark C. (1988). Enzyme-linked<br />
immunosorbent (ELISA) determination<br />
of aflatoxin B 1<br />
in peanut<br />
butter: collaborative trial, Food<br />
Additives and Contaminants<br />
5:601-608.<br />
Mullett W., Lai E.P.C., Yeung J.M.<br />
(1998). Immuno<strong>as</strong>say of fumonisins<br />
by a surface pl<strong>as</strong>mon resonance<br />
biosensor, Analytical Biochemistry<br />
258:161-167<br />
Munkvold G.P., Desjardins A.E. (1997)<br />
Fumonisins in maize: Can we reduce<br />
their occurrence? Plant Dise<strong>as</strong>e<br />
81:556-565.<br />
N<strong>as</strong>ir M.S., Jolley M.E. (2002). Development<br />
of a fluorescence polarization<br />
<strong>as</strong>say for the determination of<br />
aflatoxins in grains, Journal of<br />
Agricultural and Food Chemistry<br />
50:3116-3121.<br />
78 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Nilüfer D., Boyacioglu D. (2002). Comparative<br />
study of three different<br />
methods for the determination of<br />
aflatoxins in tahini, Journal of<br />
Agricultural and Food Chemistry<br />
50(12):3375-3379.<br />
Oliveira M.S., Prado G., Junqueira R.G.<br />
(2000) Comparação d<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />
de cromatografia em camada delgada<br />
e ELISA na quantificação de<br />
aflatoxin<strong>as</strong> em amostr<strong>as</strong> de milho.<br />
Ciência e Tecnologia de Alimentos<br />
20(3):369-374.<br />
Ono E.Y.S., Kawamura O., Ono M.A.,<br />
Ueno Y., Hirooka E.Y. (2000). A<br />
<strong>com</strong>parative study of indirect <strong>com</strong>petitive<br />
ELISA and HPLC for fumonisin<br />
detection in corn of the State<br />
of Paraná, Brazil, Food and Agricultural<br />
Immunology 12(1):5-<br />
14.<br />
Ono E.Y.S., Ono M.A., Funo F.Y., Medina<br />
A.E., Oliveira T.C.R.M., Kawamura<br />
O., Ueno Y., Hirooka E.Y.<br />
(2001). Evaluation of fumonisinaflatoxin<br />
co-occurrence in Brazilian<br />
corn hybrids by ELISA, Food<br />
Additives and Contaminants<br />
18:719-729.<br />
Pal A., Dhar T.K. (2004). An analytical<br />
device for on-site immuno<strong>as</strong>say:<br />
Demonstration of its applicability<br />
in semiquantitative detection of<br />
aflatoxin B 1<br />
in a batch of samples<br />
with ultrahigh sensitivity, Analytical<br />
Chemistry 76:98-104.<br />
Park D.L., Miller B.M., Nesheim S.,<br />
Trucksess M.W., Vekich A., Bigigare<br />
B., McVey J.L., Brown L.H.<br />
(1989). Visual and semiquantitative<br />
spectrophotometric ELISA screening<br />
method for aflatoxin B 1<br />
in<br />
corn and peanut products: followup<br />
collaborative study, Journal<br />
of the Association of Official<br />
Analytical Chemists 72(4):638-<br />
643.<br />
Patey A.L., Sharman M., Gilbert J.<br />
(1991). Liquid chromatographic<br />
determination of aflatoxin levels<br />
in peanut butters using na immunoaffinity<br />
column cleanup method:<br />
international collaborative<br />
trial, Journal of the Association<br />
of Official Analytical Chemists<br />
74:76-81.<br />
Patey A.L., Sharman M., Gilbert J.<br />
(1992). Determination of total aflatoxin<br />
levels in peanut butter by<br />
enzyme-linked immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say: collaborative study, Journal<br />
of AOAC International<br />
75:693-697.<br />
Pestka J.J., Azcona-Oliveira J.I., Plattner<br />
R.D., Minervini F., Doko M.B.,<br />
Visconti A. (1994). Comparative<br />
<strong>as</strong>sessment of fumonisin in grain<br />
b<strong>as</strong>ed foods by ELISA, GC-MS, and<br />
HPLC, Journal of Food Protection<br />
57(2):169-172<br />
Pestka J.J., Abouzied M.N., Sutikno.<br />
(1995). Immunological <strong>as</strong>says for<br />
mycotoxin detection, Food Technology<br />
2:120-128.<br />
Plattner R.D., Norred W.P., Bacon C.W.,<br />
Voss K.A., Peterson R., Shackelford<br />
D.D., Weisleder D. (1990) A<br />
method of detection of fumonisins<br />
in corn samples <strong>as</strong>sociated<br />
with field c<strong>as</strong>es of equine leukoencephalomalacia.<br />
Mycologia 82:<br />
698-702.<br />
Rheeder J.P., Mar<strong>as</strong><strong>as</strong> W.F.O, Thiel<br />
P.G., Sydenham E.W., Shephard<br />
G.S., Van Schalkwyk D.J. (1992).<br />
Fusarium moniliforme and fumonisins<br />
in corn in relation to human<br />
esophageal cancer in Transkei,<br />
Phytopathology 82:353-357.<br />
Rheeder J.P., Mar<strong>as</strong><strong>as</strong> W.F.O., Vismer<br />
H.F. (2002). Production of fumonisin<br />
analogs by Fusarium species,<br />
Applied and Environmental.<br />
Microbiology 68:2101-2105.<br />
Rustom, I.Y.S. (1997) Aflatoxin in<br />
food and feed: occurrence, legislation<br />
and inactivation by physical<br />
methods. Food Chemistry<br />
59(1):57-67.<br />
Sabino M., Milanes T.V., Lamardo L.C.A.,<br />
Nav<strong>as</strong> S.A., Stofer M., Garcia C.B.<br />
(1997) Avaliação da eficiência de<br />
dois kits <strong>com</strong>erciais para detecção<br />
de AFB 1<br />
em amostr<strong>as</strong> de milho,<br />
ração e amendoim e seus produtos.<br />
Ciência e Tecnologia de<br />
Alimentos, 17(2): 107-110.<br />
Sánchez, M. C. A. (1998) Testes Sorológicos.<br />
In: Abb<strong>as</strong>, A.K.; Lichtman,<br />
A. H.; Pober, J. S. Imunologia<br />
Celular e Molecular. Revinter,<br />
Rio de Janeiro, 19-22.<br />
Scott P.M., Trucksess M.W. (1997).<br />
Application of immunoaffinity columns<br />
to mycotoxin analysis, Journal<br />
of the Association of Official<br />
Analytical Chemists International<br />
80(5):941-949.<br />
Scott P.M., Yeung J.M., Lawrence G.A.,<br />
Prelusky D.B. (1997). Evaluation<br />
of enzyme-linked immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say for analysis of beer for fumonisins,<br />
Food Additives and Contaminants<br />
14(5):445-450.<br />
Shephard G. S., Sydenham E.W., Thiel<br />
P.G., Gelderblom W.C.A. (1990)<br />
Quantitative determination of fumonisins<br />
B 1<br />
and B 2<br />
by high-performance<br />
liquid chromatography<br />
with fluorescence detection. Journal<br />
of Liquid Chromatography<br />
13: 2077-2087.<br />
Sibanda L., De Saeger S., Van Peteghem<br />
C. (1999). Development of<br />
a portable field immuno<strong>as</strong>say for<br />
the detection of aflatoxin M 1<br />
in<br />
milk, International Journal of<br />
Food Microbiology 48:203-209.<br />
Sibanda L., De Saeger S., Van Peteghem<br />
C., Grabarkiewicz-Szczesna<br />
J., Tomczak M. (2000). Detection<br />
of T-2 Toxin in different cereals by<br />
flow-through enzyme immuno<strong>as</strong>say<br />
with a simultaneous internal<br />
reference, Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry<br />
48:5864-5867.<br />
Souza S.V. C., Varg<strong>as</strong> E.A., Junqueira<br />
R.G. (1999) Eficiência de um kit<br />
de ELISA na detecção e<br />
quantificação de aflatoxina M 1<br />
em<br />
leite e investigação da ocorrência<br />
no Estado de Min<strong>as</strong> Gerais. Ciência<br />
e Tecnologia de Alimentos,<br />
19(3):401-405.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 79
Stockenström S., Sydenham E.W., Thiel<br />
P.G. (1994) Determination of<br />
fumonisins in corn: Evaluation of<br />
two purification procedures. Mycotoxin<br />
Research, 10: 9-14.<br />
Stoloff, L. (1976) Occurrence of mycotoxins<br />
in foods and feeds. In: Mycotoxins<br />
and other fungal related<br />
food problems, Rodricks,<br />
J.V, American Chemical Society,<br />
W<strong>as</strong>hington D.C., 23-50.<br />
Stroka J., Anklam E. (2002). New strategies<br />
for screening and determination<br />
of aflatoxins and for detection<br />
of aflatoxin producing mould<br />
in food and feed, Trends in<br />
Analytical Chemistry, 21:90-95.<br />
Sutikno, Abouzied M.M., Azcona-Olivera<br />
J.I., Hart L.P., Pestka J. (1996).<br />
Detection of fumonisins in Fusarium<br />
cultures, corn, and corn products<br />
by polyclonal antibody-b<strong>as</strong>ed<br />
ELISA: relation to fumonisin B 1<br />
detection by liquid chromatography,<br />
Journal of Food Protection<br />
59(6):645-651.<br />
Sydenham E.W, Gelderblom W.C.A.,<br />
Thiel P.G., Mar<strong>as</strong><strong>as</strong> W.F.O. (1990)<br />
Evidence for the natural occurrence<br />
of fumonisin B 1<br />
, a mycotoxin<br />
produced by Fusarium moniliforme,<br />
in corn. Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry,<br />
38(1): 285-290.<br />
Sydenham E.W., Shephard G.S., Thiel<br />
P.G., Bird C., Miller B.M. (1996a).<br />
Determination of fumonisins in<br />
corn: evaluation of <strong>com</strong>petitive<br />
immuno<strong>as</strong>say and HPLC techniques,<br />
Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry 44(1):159-<br />
164.<br />
Sydenham E.W., Stockenstrom S., Thiel<br />
P.G., Rheeder J.P., Doko M.B.,<br />
Bird C., Miller B.M. (1996b). Polyclonal<br />
antibody-b<strong>as</strong>ed ELISA and<br />
HPLC methods for the determination<br />
of fumonisins in corn: a <strong>com</strong>parative<br />
study, Journal of Food<br />
Protection 59(8):893- 897.<br />
Thirumala-Devi K., Mayo M.A., Hall<br />
A.J., Craufurd P.Q., Wheeler T.R.,<br />
Waliyar F., Subrahmanyam A., Reddy<br />
D.V.R. (2002). Development<br />
and application of an indirect <strong>com</strong>petitive<br />
enzyme-linked immuno<strong>as</strong>say<br />
for aflatoxin M 1<br />
in milk and<br />
milk-b<strong>as</strong>ed confectionery, Journal<br />
of Agricultural and Food<br />
Chemistry 50:933-937.<br />
Torres M. R., Sanchis V., Ramos A. J.<br />
(1998) Occurrence of fumonisins<br />
in spanish beers analyzed by an<br />
enzyme-linked immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say method. International<br />
Journal of Food Microbiology,<br />
39:139-143.<br />
Trucksess M.W., Stack M.E. (1994).<br />
Enzyme-linked immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say of total aflatoxins B 1<br />
, B 2<br />
and<br />
G 1<br />
in corn: follow-up collaborative<br />
study, Journal of AOAC International<br />
77(3):655-658.<br />
Trucksess M.W., Stack M.E., Nesheim<br />
S., Park D.L., Pohland A.E. (1989).<br />
Enzyme-linked immunosorbent<br />
<strong>as</strong>say of aflatoxins B 1<br />
, B 2<br />
, and G 1<br />
in<br />
corn, cottonseed, peanuts, peanut<br />
butter, and poultry feed: collaborative<br />
study, Journal of the Association<br />
of Official Analytical<br />
Chemists 72(6):957-962.<br />
Trucksess M.W., Stack M.E., Nesheim<br />
S., Page S.W., Albert R.H., Hansen<br />
T.J., Donahue K.F. (1991). Immunoaffinity<br />
column coupled with<br />
solution fluorometry or liquid chromatography<br />
postcolumn derivatization<br />
for determination of aflatoxins<br />
in corn, peanuts, and peanut<br />
butter: collaborative study, Journal<br />
of the Association of Official<br />
Analytical Chemists<br />
74(1):81-88.<br />
Trucksess M.W., Young K., Donahue<br />
K.F., Morris D.K., Lewis E. (1990).<br />
Comparison of two immunochemical<br />
methods with thin-layer chromatographic<br />
methods for determination<br />
of aflatoxins, Journal of<br />
the Association of Official<br />
Analytical Chemists 73(3):425-<br />
428.<br />
Usleber E., Straka M., Terplan G.<br />
(1994). Enzyme immuno<strong>as</strong>say for<br />
fumonisin B 1<br />
applied to corn-b<strong>as</strong>ed<br />
food, Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry<br />
42(6):1392-1396<br />
Valenta H. (1998). Chromatographic<br />
methods for the determination of<br />
ochratoxin A in animal and human<br />
tissues and fluids, Journal of<br />
Chromatography A, 815:75–92.<br />
Visconti A., Boenke A. (1995). Improvement<br />
of the determination of<br />
fumonisins (FB 1<br />
and FB 2<br />
) in maize<br />
and maize-b<strong>as</strong>ed feeds, European<br />
Commission BCR Information<br />
- Chemical Analysis. Brussels,<br />
Belgium.<br />
Visconti A., Solfrizzo M., De Girolamo<br />
A. (2001). Determination of fumonisin<br />
B 1<br />
and B 2<br />
in corn and corn<br />
flakes by high performance liquid<br />
chromatography and immunoaffinity<br />
column clean-up: collaborative<br />
study, Journal of AOAC International<br />
84(6):1828-1837.<br />
Watanabe E., Yosimura Y., Yu<strong>as</strong>a Y.,<br />
Nakazawa, H. (2001). Immunoaffinity<br />
column clean-up for the<br />
determination of imazalil in citrus<br />
fruits, Analytica Chimica Acta<br />
433:199-206.<br />
Wogan G.N. (1969) Metabolism and<br />
biochemical effects of aflatoxins.<br />
In: Aflatoxin, Goldblatt L.A. Academic<br />
Press Inc., London, 152-<br />
186.<br />
Yau K.Y.F., Lee H., Hall J.C. (2003).<br />
Emerging trends in the synthesis<br />
and improvement of hapten-specific<br />
re<strong>com</strong>binant antibodies, Biotechnology<br />
Advances 21:599–<br />
637.<br />
Yeung J.M., Prelusky D.B., Savard M.E.,<br />
Dang B.D.M., Robinson L.A.<br />
(1996). Sensitive immuno<strong>as</strong>say for<br />
FB 1<br />
in corn, Journal of Agricultural<br />
and Food Chemistry<br />
44:3582-3586.<br />
Yu F.-Y., Chu F.S. (1996). Production<br />
and characterization of antibodies<br />
against fumonisin B 1,<br />
Journal of<br />
Food Protection 59:992-997.<br />
80 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Produção de fator FVIII<br />
Pesquisa<br />
por engenharia genética<br />
Produção de fator FVIII da coagulação por tecnologia do DNA re<strong>com</strong>binante<br />
Virginia Proenca Picanco<br />
Doutoranda em Cienci<strong>as</strong> Biomédic<strong>as</strong>-FMRP-<br />
USP e participante do programa de doutorado<br />
sanduiche DAAD/Cnpq <strong>com</strong> a Universidade<br />
de Frankfurt<br />
v.picanco@peg<strong>as</strong>us.fmrp.usp.br<br />
Prof. Dr Dim<strong>as</strong> Tadeu Cov<strong>as</strong><br />
Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto<br />
Hemocentro de Ribeirao Preto<br />
dim<strong>as</strong>@fmrp.usp.br<br />
Dr. Sven Becker<br />
Institute for Transfusion Medicine and<br />
Immunohematology<br />
Red Cross Blood Bonor Service Baden-<br />
Wuerttemberg / Hessen<br />
Frankfurt am Main<br />
Alemanha<br />
sbecker@bsdhessen.de<br />
Dr. Torsten Tonn<br />
Institute for Transfusion Medicine and<br />
Immunohematology Red Cross Blood Bonor<br />
Service - Baden-Wuerttemberg / Hessen<br />
Frankfurt am Main<br />
Alemanha<br />
ttonn@bsbhessen.de<br />
Imagem cedida pelos autores<br />
Hemofilia A no Br<strong>as</strong>il<br />
hemofilia é uma doença<br />
hemorrágica hereditária<br />
resultante da deficiência<br />
de uma d<strong>as</strong> vári<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
do sangue envolvid<strong>as</strong> no processo<br />
de coagulação. Cerca de 350.000<br />
pesso<strong>as</strong> em todo o mundo sofrem de<br />
hemofilia A em que o fator VIII não é<br />
produzido, não funciona ou existe em<br />
quantidades reduzid<strong>as</strong>.<br />
No Br<strong>as</strong>il, estima-se que existam<br />
cerca de 7000 hemofílicos que<br />
são tratados, na sua maioria, <strong>com</strong> concentrados<br />
de fator VIII obtidos a partir<br />
do pl<strong>as</strong>ma humano. Este tipo de tratamento<br />
é caro e muit<strong>as</strong> vezes não disponível<br />
na quantidade necessária. No<br />
mercado br<strong>as</strong>ileiro cada unidade internacional<br />
(UI) de fator VIII é <strong>com</strong>ercializada<br />
ao preço médio de US $ 0,50.<br />
A dispensação anual média por<br />
hemofílico é de 30.000 UI, aproximadamente<br />
US $ 15.000,00/ paciente/<br />
ano, totalizando cerca de 100 milhões<br />
de dólares por ano. O tratamento atual<br />
para a hemophilia A é b<strong>as</strong>eado na<br />
infusão intravenosa de concentrados<br />
de FVIII, profilaticamente ou na ocorrência<br />
de um sangramento. Os problem<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> estes concentrados, incluindo<br />
o alto custo, a inconveniência, e<br />
o risco da transmissão de doenç<strong>as</strong> virais,<br />
tais <strong>com</strong>o, hepatitis e HIV, aumentaram<br />
o interesse em expressar este<br />
fator em sistem<strong>as</strong> celulares in vitro ou<br />
in vivo.<br />
Gene do fator VIII<br />
O gene do fator VIII foi clonado<br />
e caracterizado em 1984. Seu locus<br />
situa-se na região 28 do braço longo<br />
do cromossomo X (Xq28). É<br />
constituído por 26 exons cujo tamanho<br />
varia entre 69 e 3106 pb e 25 íntrons<br />
que podem atingir o tamanho<br />
de 32,4 kb, pertencendo a um dos<br />
maiores genes humano (0,1% do cromossomo<br />
X) 1-3 .<br />
Estrutura e função<br />
A proteína deduzida da seqüência<br />
de nucleotídeos do cDNA<br />
contém 2351 aminoácidos. A análise<br />
da estrutura primária mostrou a organização<br />
em domínios: A1- a1- A2- a2-<br />
B- a3- A3- C1- C2 , sendo a cadeia<br />
pesada constituída pelos domínios A1-<br />
a1-A2-a2-B e a cadeia leve pelos<br />
domínios a3-A3-C1-C2.<br />
O fator VIII é uma glicoproteína<br />
que ativa o fator X no processo da<br />
coagulação sangüínea. É sintetizada<br />
<strong>com</strong>o um polipeptídeo de cadeia única<br />
de cerca de 330 kDa e é clivada,<br />
gerando a cadeia pesada de 210 kDa<br />
e a cadeia leve de 80 kDa que se <strong>as</strong>sociam<br />
por interaçoes eletrostátic<strong>as</strong> e<br />
hidrofóbic<strong>as</strong>. O domínio B, o maior<br />
domínio, não participa da atividade<br />
coagulante da proteína e sua função<br />
ainda permanece desconhecida. 4<br />
Expressão do fator VIII em<br />
sistem<strong>as</strong> in vitro<br />
Vários experimentos testaram<br />
a transfecção do gene do fator VIII,<br />
na sua forma inteira ou sem o dominio<br />
B, em sistem<strong>as</strong> celulares, seguida<br />
da avaliação de sua atividade funcional.<br />
Os estudos iniciais mostraram<br />
níveis muito baixos de expressão<br />
em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> linhagens celulares<br />
2, 4-7<br />
estudad<strong>as</strong>.<br />
Em princípio, três seriam os<br />
fatores limitantes para a obtenção de<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 81
A<br />
B<br />
Figura 1: A. Construções Lentivirais. As construções lentivirais foram realizad<strong>as</strong> no<br />
vetor 1054 (cedido gentilmente por Naldini L), onde o FVIII sem o dominio B foi<br />
clonado sob controle dos promotores CMV, HAAT, FVIIIp e EF1-alpha B. Construcoes<br />
pl<strong>as</strong>midiais. N<strong>as</strong> construções pl<strong>as</strong>midiais o vetor utilizado foi o pCDNA3.1 e<br />
diferentes promotores (CMV, HAAT, FVIIIp e EF1-alpha) foram clonados juntamente<br />
<strong>com</strong> o FVIII sem o domínio B.<br />
níveis elevados de expressão da proteína<br />
do fator VIII: 1) o tamanho do<br />
gene; 2) o seu baixo nível de expressão<br />
de mRNA; e, 3) a secreção<br />
ineficiente do produto deste gene.<br />
É conveniente destacar que,<br />
apesar de mais elevados, os níveis de<br />
expressão obtidos <strong>com</strong> o fator VIII são<br />
muito baixos quando <strong>com</strong>parados aos<br />
obtidos para divers<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>.<br />
Informações adicionais sobre <strong>as</strong> modificações<br />
pós-traducionais e o mecanismo<br />
de secreção do fator VIII tornam-se<br />
primordiais para maior entendimento<br />
deste <strong>as</strong>pecto.<br />
Terapia gênica para hemofilia A<br />
A hemofilia A é uma doença<br />
que se presta para a terapia gênica,<br />
uma vez que se sabe muito sobre a<br />
sua transmissão, sobre a localização<br />
do gene defeituoso e sobre a estrutura<br />
e função do fator produzido por este<br />
gene. É de se salientar que a concentração<br />
sanguínea de fator VIII obtida<br />
não é crítica, sendo que um pequeno<br />
aumento da concentração pl<strong>as</strong>mática<br />
de FVIII pode converter um quadro<br />
de hemofilia grave em hemofilia moderada.<br />
O desenvolvimento da terapia<br />
gênica para a hemofilia A tem sido<br />
extensivamente explorado, utilizando<br />
estratégi<strong>as</strong> <strong>com</strong> vetores adenovirais e<br />
retrovirais ex vivo e in vivo. Na terapia<br />
ex vivo tem sido utilizada uma<br />
variedade de célul<strong>as</strong> transduzid<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
retro ou adenovirus e transplantad<strong>as</strong><br />
em camundongos hemofílicos. Apesar<br />
de níveis terapeuticos de FVIII<br />
serem detectados na circulação, a expressão<br />
declina gradualmente devido<br />
ao tempo limitado de sobrevivência<br />
d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> transplantad<strong>as</strong> ou devido<br />
ao silenciamento da transcrição do<br />
transgene. 8-12<br />
O uso de vetores retrovirais<br />
é dificultado pelo baixo título do vetor<br />
e por baixos níveis de expressão do<br />
FVIII. Recentemente, modificações<br />
nos vetores retrovirais permitiu a<br />
produção de altos títulos do vetor 13-15 ,<br />
apesar da incapacibilidade destes<br />
vetores retrovirais de transduzir célul<strong>as</strong><br />
quiescentes, limitando o seu uso<br />
na terapia gênica in vivo.<br />
Vetores adenovirais podem<br />
transduzir uma variedade de célul<strong>as</strong>,<br />
incluindo célul<strong>as</strong> quiescentes e foi<br />
observada eficiente produção de FVIII<br />
em transdução in vivo. 16 Esta expressão<br />
do FVIII foi gradualmente<br />
perdida devido á resposta imune contra<br />
o vetor ou contra o produto do<br />
transgene.<br />
Vetores lentivirais, b<strong>as</strong>eados<br />
no HIV, são uma ferramenta promissora<br />
para terapia gênica, diferentemente<br />
do retrovirus MLV (Moloney<br />
murine leukemia b<strong>as</strong>ed), os lentivirus<br />
são capazes de transduzir estavelmente<br />
célul<strong>as</strong> quiescente em vários<br />
órgaos 15, 17 . Contudo, a resposta i-<br />
mune do hospedeiro contra o produto<br />
transgênico expresso pode resultar<br />
na perda da expressão da proteína na<br />
circulação 18 .<br />
Resultados obtidos no Instituto<br />
de Medicina Transfusional de<br />
Frankfurt mostram que célul<strong>as</strong> endoteliais<br />
progenitor<strong>as</strong> derivad<strong>as</strong> de<br />
cordão umbilical (CBECs) 19 e célul<strong>as</strong><br />
Hematopoiétic<strong>as</strong> 20 transduzid<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
vetor lentiviral contendo o cDNA do<br />
FVIII mantêm a expressão estável do<br />
FVIII por vári<strong>as</strong> gerações, indicando<br />
que est<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> podem ser usad<strong>as</strong><br />
futuramente na terapia gênica. Além<br />
disso, um estudo detalhado da via de<br />
secrecão do FVIII mostra que do FVII<br />
re<strong>com</strong>binante, <strong>com</strong> ou sem o domínio<br />
B, expresso em célul<strong>as</strong> que não secretam<br />
o FVIII fisiologicamente fica retido<br />
em <strong>com</strong>partimentos celulares,<br />
<strong>com</strong>o o retículo endopl<strong>as</strong>mático, limitando<br />
a secrecão deste fator 21 . Análise<br />
de fatores envolvidos na secrecão<br />
do FVIII, linhagens celulares adequad<strong>as</strong><br />
à expressão e secrecão, <strong>as</strong>sim<br />
<strong>com</strong>o a utilizacão de determinados<br />
promotores poderão facilitar a expressão<br />
do FVIII re<strong>com</strong>binate.<br />
Objetivos<br />
O objetivo principal deste<br />
projeto é produzir o fator VIII de coagulação<br />
em sistem<strong>as</strong> celulares in vitro,<br />
por técnic<strong>as</strong> de engenharia re<strong>com</strong>binante.<br />
Este objetivo se justifica <strong>com</strong><br />
b<strong>as</strong>e no pressuposto de menor custo<br />
e maior segurança, visto que seriam<br />
produtos praticamente isentos de<br />
agentes patogênicos, ao contrário do<br />
produto obtido do pl<strong>as</strong>ma humano.<br />
Em colaboração <strong>com</strong> o Instituto<br />
de Medicina Transfusional de<br />
Frankfurt objetivamos obter altos<br />
níveis de fator VIII em linhagens celulares<br />
de mamífero e também a construção<br />
de vetores lentivirais para uma<br />
futura aplicação em estudos in vivo<br />
(terapia gênica).<br />
Construções<br />
Estudos usando a primeira<br />
geração de vetores adenovirais<br />
82 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
mostraram que promotores específicos<br />
para fígado, em vez de promotores<br />
celulares fortes, podem aliviar a<br />
ativação do sistema imune do<br />
hospedeiro, sugerindo que a resposta<br />
imune está relacionada <strong>com</strong> a<br />
transdução de célul<strong>as</strong> apresentador<strong>as</strong><br />
de antígeno 16 . B<strong>as</strong>eado nesses<br />
resultados, foram construídos vetores<br />
contendo, além dos promotores<br />
universais CMV e EF-1a, promotores<br />
específicos de fígado, HAAT e F8p<br />
(Figura 1).<br />
Vetores lentivirais e<br />
pl<strong>as</strong>midiais foram construídos <strong>com</strong><br />
diferentes tipos de promotores, para<br />
observar a especificidade dos<br />
promotores em linhagens celulares de<br />
fígado. Em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> construções<br />
realizad<strong>as</strong> foram utilizado o cDNA do<br />
FVIII sem o dominio B (Figura 1).<br />
No momento, estes vetores<br />
estão sendo testados em cultur<strong>as</strong><br />
celulares para posteriormente serem<br />
aplicados em estudos in vivo.<br />
Considerações finais<br />
O crescente interesse em se<br />
entender os mecanismos de regulação<br />
da secreção e função do fator VIII<br />
leva à realização de experimentos<br />
engenhosos que <strong>com</strong>binam<br />
abordagens de bioquímica e<br />
engenharia genética, trazendo<br />
informações inusitad<strong>as</strong> sobre esse fator<br />
de coagulação sanguínea. Apesar<br />
dos avanços no desenvolvimento de<br />
vetores mais seguros e n<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />
de transferência gênica, a resposta<br />
imunológica do hospedeiro contra o<br />
transgene, <strong>as</strong> dificuldades de<br />
produção em larga escala e sua<br />
padronização, ainda são grandes<br />
barreir<strong>as</strong> para seu uso clínico.<br />
Estabelecer linhagens celulares<br />
de mamíferos transformad<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> construções re<strong>com</strong>binantes contendo<br />
o FVIII que expressem a proteína<br />
em níveis elevados será um p<strong>as</strong>so<br />
fundamental para novos avanços<br />
na terapêutica da hemofilia e na caracterização<br />
dos processos envolvidos na<br />
biossíntese do fator VIII. Isto permitirá<br />
também estabelecer, no Br<strong>as</strong>il, a<br />
metodologia para a produção de<br />
fatores de coagulação através de tecnologia<br />
de DNA re<strong>com</strong>binante.<br />
Referênci<strong>as</strong> bibliográfic<strong>as</strong><br />
1- Gitschier J et al (1984). Characterization<br />
of the human factor VIII gene.<br />
Nature 312:326-330.<br />
2- Toole J.J. et al (1984) Molecular<br />
cloning of a cDNA encoding human<br />
antihaemophilic factor. Nature<br />
312:342-347.<br />
3- Vehar G.A. et al (1984) Structure of<br />
active human factor VIII. Nature<br />
312:3 3 7-342.<br />
4- Kaufman R.J et al (1989) Effect of<br />
von Willebrand Factor Coexpression<br />
on the Synthesis and Secretion of<br />
Factor VIII in Chinese Hamster<br />
Ovary Cells. Mol. Cell Biol. 9:1233-<br />
1242.<br />
5- Yonemura et al., 1993. Efficient production<br />
of re<strong>com</strong>binant human factor<br />
VIII by co-expression of the<br />
heavy and light chains. Protein Eng.<br />
1993 Aug;6(6):669-74.<br />
6- Kjalke et al., 1995. Amino acid<br />
residues 721-729 are required for<br />
full factor VIII activity. Eur J Biochem.<br />
1995 Dec 15;234(3):773-9.<br />
7- Burke et al (1986) The functional<br />
domains of coagulation factor VIII:C.<br />
J. Biol. Chem. 261:12574-12578<br />
8- Hoeben et al (1993). Toward gene<br />
therapy in haemophilia A:<br />
retrovirus-mediated transfer of a<br />
factor VIII gene into murine<br />
haematopoietic progenitor cells.<br />
Thromb Haemost. 1992 Mar<br />
2;67(3):341-5.<br />
9- Zatloukal K et al, 1994. In vivo<br />
production of human factor VII in<br />
mice after intr<strong>as</strong>plenic implantation<br />
of primary fibrobl<strong>as</strong>ts transfected<br />
by receptor-mediated, adenovirusaugmented<br />
gene delivery. Proc Natl<br />
Acad Sci U S A. 1994 May<br />
24;91(11):5148-52<br />
10- Chuah et al, 2000,<br />
11- VandenDriessche et al, 1999. Longterm<br />
expression of human coagulation<br />
factor VIII and correction<br />
of hemophilia A after in vivo<br />
retroviral gene transfer in factor<br />
VIII-deficient mice. Proc Natl<br />
Acad Sci U S A. 1999 Aug<br />
31;96(18):10379-84.<br />
12- Dwarki VJ et al, 1995. Gene therapy<br />
for hemophilia A: production of<br />
therapeutic levels of human factor<br />
VIII in vivo in mice. Proc Natl Acad<br />
Sci U S A. 1995 Feb 14;92(4):<br />
1023-7.<br />
13- Chuah MK, et al, 2000. Long-term<br />
persistence of human bone marrow<br />
stromal cells transduced with factor<br />
VIII-retroviral vectors and transient<br />
production of therapeutic levels of<br />
human factor VIII in<br />
nonmyeloablated immunodeficient<br />
mice. Hum Gene Ther. 2000 Mar<br />
20;11(5):729-38<br />
14- Gallo-Penn AM et al, 2001. Systemic<br />
delivery of an adenoviral vector<br />
encoding canine factor VIII results<br />
in short-term phenotypic correction,<br />
inhibitor development, and<br />
biph<strong>as</strong>ic liver toxicity in hemophilia<br />
A dogs. Blood. 2001 Jan 1;97(1):107-<br />
13.<br />
15- Naldini L et al, 1996. Efficient transfer,<br />
integration, and sustained<br />
long-term expression of the<br />
transgene in adult rat brains injected<br />
with a lentiviral vector. Proc<br />
Natl Acad Sci U S A. 1996 Oct<br />
15;93(21):11382-8.<br />
16- P<strong>as</strong>tore L at al, 1999. Use of a<br />
liver-specific promoter reduces<br />
immune response to the transgene<br />
in adenoviral vectors. Hum Gene<br />
Ther. 1999 Jul 20;10(11):1773-81.<br />
17- Naldini L et al (1996). In vivo<br />
gene delivery and stable transduction<br />
of nondividing cells by a<br />
lentiviral vector. Science. 1996 Apr<br />
12;272(5259):263-7.<br />
18- Park F et al (2000). Therapeutic<br />
levels of human factor VIII and<br />
IX using HIV-1-b<strong>as</strong>ed lentiviral<br />
vectors in mouse liver. Blood. 2000<br />
Aug 1;96(3):1173-6.<br />
19- Herder et al (2003). Sustained Expansion<br />
and Transgene Expression<br />
of Coagulation Factor VIII- Transduced<br />
Cord Blood- Derived Endothelial<br />
Progenitor Cells. Arterioscler<br />
Thromb V<strong>as</strong>c Biol. Dec 23 (12)<br />
2266-72.<br />
20- Tonn T et al. Generation and<br />
characterization of human hematopoietic<br />
cell lines expressing factor<br />
FVIII. Journal of Hematotherapy<br />
& Stem Cell. 2002 Aug. 11(4) ; 695-<br />
704<br />
21- Becker S et al. Confocal microscopy<br />
analylis of native, full lengh and<br />
B-domain deleted coagulation factor<br />
VIII trafficking in mammalian<br />
cells. Artigo aceito pela revista<br />
Thromb. Hemost.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 83
Pesquisa<br />
Receptores de Bacillus<br />
thuringiensis em insetos<br />
Análises in vitro de receptores membranares de proteín<strong>as</strong> Cry em larv<strong>as</strong> de lepidópteros<br />
Lídia Mariana Fiuza<br />
Drª em Ciênci<strong>as</strong> Agronômic<strong>as</strong> pela ENSAM -<br />
Montpellier (França)<br />
Profª Adjunta do PPG-Biologia: Diversidade e<br />
Manejo de Vida Silvestre, Líder do Grupo de Pesquisa:<br />
Manejo de Populações de Insetos, Coordenadora do<br />
Laboratório de Microbiologia, Universidade do Vale<br />
do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS<br />
Pesquisadora Consultora da Fitotecnia, EEA/<br />
Instituto Rio-Grandense do Arroz, Cachoeirinha, RS.<br />
fiuza@bios.unisinos.br<br />
Bacillus thuringiensis<br />
1. Introdução<br />
bactéria ubíqua, Bacillus<br />
thuringiensis tem ação<br />
entomopatogênica relacionada<br />
ao corpo de inclusão<br />
paraesporal, que se<br />
forma durante a esporulação, sendo<br />
este constituído de proteín<strong>as</strong> Cry codificad<strong>as</strong><br />
por genes cry (Höfte & Whiteley,<br />
1989; Schnepf et al., 1998). As<br />
proteín<strong>as</strong> Cry têm mostrado atividade<br />
inseticida altamente específica entre<br />
<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> ordens de insetos, <strong>com</strong>o:<br />
Lepidoptera, Diptera, Coleoptera<br />
(Zhong et al., 2000); Hymenoptera,<br />
Hemiptera, Orthoptera, Isoptera e<br />
Malophaga (Feitelson et al., 1992; De<br />
Maagd et al., 2001; C<strong>as</strong>tilhos-Fortes et<br />
al., 2001), além de Nematóides (Marroquin<br />
et al., 2000), Ácaros, Protozoários<br />
e Fitopatógenos.<br />
Os dados atuais, na escala mundial,<br />
revelam mais de 60.000 isolados de<br />
B. thuringiensis, correspondentes a<br />
82 subespécies descrit<strong>as</strong> até 1999,<br />
<strong>com</strong> cerca de 300 genes cry distribuídos<br />
em 34 cl<strong>as</strong>ses (Pinto & Fiuza,<br />
2002). A revisão da nomenclatura dos<br />
genes cry de B. thuringiensis foi publicada<br />
por Crickmore et al. (1998), a<br />
qual vem sendo atualizada no Web<br />
Site: http://biols.susx.ac.uk/Home/<br />
Neil_Crickmore/Bt/index.html.<br />
Como mecanismo de ação, entre<br />
a ingestão d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry de B.<br />
thuringiensis e a morte d<strong>as</strong> larv<strong>as</strong> dos<br />
insetos suscetíveis, destacam-se <strong>as</strong> seguintes<br />
f<strong>as</strong>es:<br />
* solubilização do corpo de inclusão<br />
paraesporal em pH alcalino no<br />
intestino médio dos insetos, liberando<br />
<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry <strong>com</strong> m<strong>as</strong>sa molecular<br />
de 130-140 kDa a 70 kDa (Schnepf et<br />
al., 1998). Essa f<strong>as</strong>e é determinante à<br />
especificidade do isolado de B. thuringiensis<br />
e à espécie-alvo, tanto pela<br />
alcalinidade do sistema digestivo quanto<br />
pela <strong>com</strong>posição dos cristais (Aronson<br />
et al., 1991).<br />
* ativação d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry pel<strong>as</strong><br />
enzim<strong>as</strong> digestiv<strong>as</strong> formando fragmentos<br />
tóxicos de 60-65 kDa (Schnepf<br />
et al., 1998). Nessa f<strong>as</strong>e tanto a<br />
<strong>com</strong>posição proteolítica quanto à estrutura<br />
protéica do cristal são importantes<br />
(Choma et al., 1990).<br />
* ligação d<strong>as</strong> toxin<strong>as</strong> aos receptores<br />
específicos às microvilosidades<br />
d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> epiteliais do intestino médio<br />
d<strong>as</strong> larv<strong>as</strong> suscetíveis. Os estudos<br />
realizados <strong>com</strong> Brush Border Membrane<br />
Vesicles (BBMV) isolad<strong>as</strong> de larv<strong>as</strong><br />
de lepidópteros mostram que ligações<br />
de forte afinidade entre <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> e<br />
os receptores são considerad<strong>as</strong> fatores<br />
determinantes do espectro inseticida<br />
(Hofmann et al., 1988; Van Rie et al.,<br />
1989 e 1990; Fiuza et al., 1996). Esses<br />
autores mostram que há uma correlação<br />
positiva entre a ligação, in vitro, da<br />
toxina no receptor intestinal e a toxicidade,<br />
in vivo. Por outro lado, outros<br />
estudos descrevem que o reconhecimento<br />
do receptor é necessário, m<strong>as</strong><br />
não é suficiente para provocar a toxicidade,<br />
sugerindo a existência de outros<br />
fatores relacionados ao modo de<br />
ação d<strong>as</strong> delta-endotoxin<strong>as</strong> (Wolfersberger,<br />
1990). Em 1994, Knight et al.<br />
isolaram, d<strong>as</strong> BBMVs de larv<strong>as</strong> de Manduca<br />
sexta (Lep., Sphingidae), uma<br />
aminopeptid<strong>as</strong>e N implicada na interação<br />
da toxina Cry1Ac. Os modelos de<br />
receptores atualmente descritos mostram<br />
que um inseto pode apresentar<br />
quantidade variável de divers<strong>as</strong> cl<strong>as</strong>ses<br />
de receptores, os quais podem ser<br />
reconhecidos por diferentes toxin<strong>as</strong><br />
(Hua et al., 2001). Diversos autores<br />
84 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
sugerem que estes modelos podem<br />
explicar a especificidade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
Cry de B. thuringiensis.<br />
* indução à formação de poros na<br />
membrana celular do epitélio intestinal<br />
(Höfte & Witeley, 1989; Schnepf et<br />
al., 1998).<br />
* desequilíbrio iônico entre o citopl<strong>as</strong>ma<br />
e o meio externo à célula<br />
(Gill et al., 1992; Knowles & Bow,<br />
1993). As análises histopatológic<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong><br />
após a intoxicação dos insetos<br />
mostram a destruição d<strong>as</strong> microvilosidades,<br />
hipertrofia d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> epiteliais,<br />
vacuolização do citopl<strong>as</strong>ma e lise celular,<br />
levando o inseto à paralisia e morte<br />
(Endo & Nishiitsuji-Uwo, 1981; Bravo<br />
et al., 1992a,b; Denolf et al., 1993a,b).<br />
Considerando a especificidade<br />
inseticida d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry de B. thuringiensis,<br />
de acordo <strong>com</strong> Meadows<br />
(1993), até o momento não foram<br />
descritos c<strong>as</strong>os de intoxicações de<br />
mamíferos através dos alimentos. Por<br />
outro lado, em estudos <strong>com</strong> toxin<strong>as</strong> de<br />
B. thuringiensis israelensis, administrad<strong>as</strong><br />
via parenteral, foi observada a<br />
atividade citolítica para divers<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
de mamíferos (Thom<strong>as</strong> & Ellar,<br />
1983; Armstrong et al., 1985; Meadows,<br />
1993). Face aos referidos dados,<br />
esse entomopatógeno tem sido considerado<br />
seguro ao homem e ao ecossistema.<br />
Na seleção d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> inseticid<strong>as</strong>,<br />
sintetizad<strong>as</strong> por essa bactéria, <strong>as</strong><br />
análises in vitro dos receptores membranares<br />
podem viabilizar uma rápida<br />
determinação do espectro de ação d<strong>as</strong><br />
proteín<strong>as</strong> Cry contra <strong>as</strong> espécies alvo,<br />
sendo em seguida efetuada a avaliação<br />
da toxicidade in vivo, apen<strong>as</strong> para os<br />
isolados pré-selecionados <strong>com</strong>o ativos<br />
in vitro. Sendo <strong>as</strong>sim, o presente trabalho<br />
trata de diferentes métodos de<br />
análise de receptores de proteín<strong>as</strong> de<br />
B. thuringiensis em form<strong>as</strong> imatur<strong>as</strong><br />
de lepidópteros.<br />
2. Material e métodos<br />
2.1. Tecidos dos insetos<br />
As larv<strong>as</strong> de lepidópteros (Chilo<br />
suppressalis, Heliothis armigera e Plutella<br />
xylostella) foram obtid<strong>as</strong> da criação<br />
m<strong>as</strong>sal de insetos mantida em<br />
laboratório, a 25±1ºC, 70±5ºC e 12h de<br />
fotof<strong>as</strong>e. Os tubos digestivos foram<br />
dissecados e fixados durante 24h em<br />
BHS a 10%, sendo em seguida lavados<br />
por 12h em água destilada e desidratados<br />
em séries crescentes de etanol, 70<br />
a 100% (Brandtzaeg, 1982). Os tecidos<br />
foram impregnados em banhos mistos<br />
(etanol/tolueno/parapl<strong>as</strong>to) e incluídos<br />
em parapl<strong>as</strong>to 100% a 58ºC. Os<br />
cortes longitudinais de 7 µm de espessura,<br />
preparados <strong>com</strong> micrótomo LKB,<br />
foram montados em lâmin<strong>as</strong> de vidro,<br />
tanad<strong>as</strong> <strong>com</strong> poly-l-lysina (Sigma) a<br />
10%, e conservad<strong>as</strong> a 4ºC.<br />
2.2. Purificação d<strong>as</strong><br />
proteín<strong>as</strong> Cry<br />
As proteín<strong>as</strong> Cry1Aa, Cry1Ac e<br />
Cry1Ba foram obtid<strong>as</strong> de B. thuringiensis<br />
dendrolimus HD 37, B. thuringiensis<br />
kurstaki HD 73 e B. thuringiensis<br />
thuringiensis 4412, respectivamente.<br />
Ess<strong>as</strong> cep<strong>as</strong> contêm apen<strong>as</strong><br />
um gene cry que codifica a referida<br />
proteína Cry inseticida, <strong>as</strong> quais foram<br />
cedid<strong>as</strong> para essa pesquisa pelo Instituto<br />
P<strong>as</strong>teur (IEBC-Paris, França) e a<br />
Pant Genetics Systems (PGS-Ghent,<br />
Bélgica). As cep<strong>as</strong> de B. thuringiensis<br />
foram cultivad<strong>as</strong> conforme o método<br />
de Mahillon & Delcour (1984). Após a<br />
lise bacteriana foram centrifugad<strong>as</strong> e<br />
lavad<strong>as</strong> <strong>com</strong> tampão fosfato (100 mM<br />
NaH 2<br />
PO 4<br />
; 100 mM NaCl; 0,01 % Triton<br />
X-100; pH 6).<br />
Os cristais foram separados dos<br />
esporos e d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> bacterian<strong>as</strong> em<br />
gradiente de renografina por ultracentrifugação,<br />
conforme metodologia descrita<br />
por Sharpe et al. (1975). As band<strong>as</strong>,<br />
contendo os cristais puros, foram<br />
lavad<strong>as</strong> e diluíd<strong>as</strong> em água milli-Q<br />
esterilizada, contendo 0,1 mM phenylmethylsulfonyl<br />
(PMSF). As proteín<strong>as</strong><br />
Cry foram solubilizad<strong>as</strong> em tampão<br />
fosfato (50 mM Na 2<br />
, CO 3<br />
; 10 mM dithiothreitol;<br />
0,1 mM PMSF; pH 10). O<br />
pH foi ajustado a 8,6 por diálise contra<br />
o tampão 20 mM Tris e <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
Cry foram clivad<strong>as</strong> por bovine pancreatic<br />
trypsin (Type I; Sigma), sendo a<br />
reação inativada <strong>com</strong> trypsin inhibitor<br />
(Type II-S; Sigma).<br />
A pureza e a integridade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
foram avaliad<strong>as</strong> por eletroforese<br />
em gel de poliacrilamida a 10%,<br />
SDS-PAGE (Laemmli, 1970). A concentração<br />
foi determinada pelo método<br />
Bradford (1976), usando a bovine<br />
serum albumin (BSA) <strong>com</strong>o proteína<br />
padrão.<br />
2.3. Proteín<strong>as</strong> Cry biotinilad<strong>as</strong><br />
As proteín<strong>as</strong> Cry foram preliminarmente<br />
biotinilad<strong>as</strong> conforme o<br />
método descrito por Bayer & Wilcheck<br />
(1990), onde a incorporação da biotina<br />
na parte N-terminal da proteína é feita<br />
usando o BNHS (biotinyl-N-hydroxysuccinimide<br />
éster - Amersham) em<br />
tampão de bicarbonato de sódio<br />
(100 mM NaHCO 3<br />
; 150 mM NaCl; pH<br />
9). O produto da reação foi purificado<br />
em sephadex G-25 (Sigma) e <strong>as</strong> frações<br />
biotinilad<strong>as</strong> identificad<strong>as</strong> por dotblot,<br />
onde foi utilizada membrana de<br />
nitrocelulose, o conjugado de estreptavidina-fosfat<strong>as</strong>e-alcalina<br />
diluída no<br />
tampão Tris-Saline-Triton (10 mM<br />
Tris; 150 mM NaCl; 0,1% Triton X-100;<br />
pH 7;6) e o substrato de revelação (5-<br />
bromo-4-chloro-3-indolyl phosphate e<br />
nitroblue tetrazolium, diluídos no tampão<br />
100 mM Tris; 100 mM NaCl; 5 mM<br />
MgCl 2<br />
; pH 9,5). A concentração d<strong>as</strong><br />
proteín<strong>as</strong> Cry biotinilad<strong>as</strong> foi determinada<br />
pelo método Bradford (1976),<br />
usando a BSA <strong>com</strong>o proteína padrão. A<br />
pureza e a integridade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
marcad<strong>as</strong> foi avaliada em western-blot,<br />
usando membrana de nitrocelulose<br />
(Sigma) e o tampão Towbin (12.5 mM<br />
Tris, 96 mM glycine; pH 8,3 <strong>com</strong> 10%<br />
ethanol). As membran<strong>as</strong> foram revelad<strong>as</strong><br />
usando a mesma técnica descrita<br />
no dot-blot.<br />
2.4. Anticorpos policlonais<br />
As proteín<strong>as</strong>, Cry1Aa, Cry1Ac e<br />
Cry1Ba, foram preparad<strong>as</strong> conforme<br />
descrito anteriormente na purificação.<br />
Os anticorpos foram produzidos em<br />
coelhos (Eurogentec – Bélgica), sendo<br />
<strong>as</strong> imunoglobulin<strong>as</strong> (IgGs) separad<strong>as</strong><br />
em colun<strong>as</strong> de sepharose protein-A e<br />
<strong>as</strong> frações purificad<strong>as</strong> por afinidade<br />
incubando os IgGs e <strong>as</strong> membran<strong>as</strong> de<br />
nitrocelulose, contendo os antígenos<br />
previamente transferidos por westernblot<br />
conforme descrito por Burke et al.<br />
(1982). A especificidade e sensibilidade<br />
dos anticorpos policlonais foi determinada<br />
pelo método de ELISA (Enzyme-linked<br />
immunosorbent <strong>as</strong>say) e<br />
dot-blot.<br />
2.5. Detecção in vitro dos<br />
receptores membranares<br />
O estudo in vitro dos receptores<br />
foi efetuado sobre cortes histológicos<br />
do intestino dos insetos, utilizando <strong>as</strong><br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 85
toxin<strong>as</strong> sintetizad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> cep<strong>as</strong> de B.<br />
thuringiensis em estudo. A detecção<br />
propriamente dita corresponde a incubação<br />
dos tecidos, previamente desparafinados<br />
e reidratados, <strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
Cry.<br />
N<strong>as</strong> análises <strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> Cry<br />
biotinilad<strong>as</strong>, os cortes histológicos foram<br />
incubados à temperatura ambiente,<br />
durante 1h, <strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> biotinilad<strong>as</strong><br />
(10 µg/ml). As proteín<strong>as</strong> não<br />
ligad<strong>as</strong> aos sítios receptores foram removid<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> TST (10 mM Tris; 150<br />
mM NaCl; 0,1% Triton X-100; pH 7,6).<br />
Em seguida, os tecidos foram tratados<br />
<strong>com</strong> estreptavidina conjugada a uma<br />
enzima (peroxid<strong>as</strong>e ou fosfat<strong>as</strong>e<br />
alcalina) ou fluorocromo<br />
(fluoresceína ou ficoeritrina),<br />
diluídos em tampão TST. O<br />
<strong>com</strong>plexo da reação “proteína-receptor”,<br />
usando o conjugado<br />
<strong>com</strong> enzim<strong>as</strong> foi revelado<br />
<strong>com</strong> substrato DAB para<br />
peroxid<strong>as</strong>e e BCIP/NBT para<br />
fosfat<strong>as</strong>e alcalina, sendo <strong>as</strong><br />
secções montad<strong>as</strong> <strong>com</strong> Pertex,<br />
entre lâmina e lamínula<br />
de vidro. N<strong>as</strong> revelações <strong>com</strong><br />
a fluoresceína ou ficoeritrina,<br />
<strong>as</strong> secções foram montad<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> Mowiol e conservad<strong>as</strong> a<br />
4ºC.<br />
N<strong>as</strong> análises imunohistoquímic<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> nativ<strong>as</strong> (não<br />
biotinilad<strong>as</strong>), os receptores foram revelados<br />
<strong>com</strong> o <strong>com</strong>plexo anticorpo<br />
primário (AC 1<br />
, específico contra a proteína<br />
Cry) e anticorpo secundário (AC 2<br />
,<br />
dirigido contra o AC 1<br />
) conjugado a uma<br />
enzima ou fluorocromo, os quais foram<br />
revelados e montados de acordo <strong>com</strong><br />
o método descrito anteriormente. Na<br />
imunodetecção, os cortes histológicos<br />
foram incubados <strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> nativ<strong>as</strong><br />
e na imunolocalização, <strong>as</strong> lagart<strong>as</strong><br />
foram previamente tratad<strong>as</strong> in vivo<br />
<strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry e posteriormente<br />
foram preparados os tecidos e <strong>as</strong> reações<br />
imunohistoquímic<strong>as</strong>.<br />
Em ambos os métodos, <strong>as</strong> testemunh<strong>as</strong><br />
foram preparad<strong>as</strong> pela omissão<br />
alternada de cada etapa da reação,<br />
a fim de eliminar a hipótese de reações<br />
falso-positiv<strong>as</strong>. As amostr<strong>as</strong> revelad<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> enzim<strong>as</strong>, tipo peroxid<strong>as</strong>e e fosfat<strong>as</strong>e<br />
alcalina, foram avaliad<strong>as</strong> em microscopia<br />
óptica de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e<br />
Nomarski (Leitz DMRB). Para <strong>as</strong> análises<br />
onde foram utilizados os fluorocromos<br />
foi utilizada a microscopia de<br />
varredura l<strong>as</strong>er (ACAS 570, Meridian).<br />
3. Resultados<br />
3.1. Localização de receptores<br />
<strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> Cry biotinilad<strong>as</strong><br />
Os cortes histológicos d<strong>as</strong> lagart<strong>as</strong><br />
de Chilo suppressalis, tratados <strong>com</strong><br />
proteín<strong>as</strong> biotinilad<strong>as</strong> de Cry1Aa e<br />
Cry1Ac (Fig. 1A), revelaram uma marcagem<br />
uniforme ao longo d<strong>as</strong> microvilosidades<br />
intestinais. Na mesma espécie<br />
a marcagem de Cry1Ba (Fig. 1B)<br />
também foi intensa. Os tecidos de<br />
Figura 1: Detecção de receptores de proteína Cry1 de Bacillus<br />
thuringiensis em cortes longitudinais de lagart<strong>as</strong> de Chilo<br />
suppressalis (A e B), Heliothis armigera (C) e Plutella xylostella<br />
(D), analisados em microscopia óptica de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e<br />
Nomarski e Fluorescência.<br />
Heliothis armigera também apresentaram<br />
marcagem uniforme n<strong>as</strong> microvilosidades<br />
intestinais para a proteína<br />
Cry1Ac (Fig. 1C), sendo os mesmos<br />
resultados obtidos nos ensaios <strong>com</strong> <strong>as</strong><br />
lagart<strong>as</strong> de Plutella xylostella, quando<br />
tratad<strong>as</strong> <strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry1Aa e<br />
Cry1Ac (Fig. 1D).<br />
No c<strong>as</strong>o dos tecidos tratados <strong>com</strong>o<br />
controle, representantes da omissão<br />
alternada dos diferentes <strong>com</strong>ponentes<br />
da reação, observou-se a ausência de<br />
coloração n<strong>as</strong> microvilosidades d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
do epitélio intestinal dos insetos<br />
em estudo. As marcagens detectad<strong>as</strong><br />
na região d<strong>as</strong> microvilosidades d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
do epitélio intestinal revelam a<br />
presença de receptores membranares<br />
às proteín<strong>as</strong> Cry, em estudo, n<strong>as</strong> referid<strong>as</strong><br />
espécies de insetos alvo.<br />
3.2. Imunodetecção de receptores<br />
<strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> Cry nativ<strong>as</strong><br />
Os resultados d<strong>as</strong> análises de<br />
imunohistoquímica, utilizando os anticorpos<br />
policlonais, confirmam a detecção<br />
dos receptores membranares intestinais<br />
n<strong>as</strong> lagart<strong>as</strong> de: Chilo suppressalis<br />
às proteín<strong>as</strong> nativ<strong>as</strong> Cry1Aa,<br />
Cry1Ac e Cry1Ba; Heliothis armigera à<br />
proteína Cry1Ac; Plutella xylostella às<br />
proteín<strong>as</strong> Cry1Aa e Cry1Ac (Fig. 2).<br />
3.3. Imunolocalização de receptores<br />
<strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> Cry nativ<strong>as</strong><br />
Ness<strong>as</strong> análises apen<strong>as</strong> a espécie<br />
Chilo suppressalis foi avaliada, demonstrando<br />
a localização de receptores<br />
intestinais às proteín<strong>as</strong> Cry1Aa,<br />
Cry1Ac e Cry1Ba nos tecidos d<strong>as</strong> lagart<strong>as</strong><br />
previamente intoxicad<strong>as</strong> in vivo,<br />
confirmando <strong>as</strong>sim os dados<br />
obtidos n<strong>as</strong> análises in vitro<br />
de receptores por imunodetecção<br />
e biotinilação de proteín<strong>as</strong>.<br />
3.4. Receptores membranares<br />
em microscopia<br />
de varredura<br />
l<strong>as</strong>er<br />
As amostr<strong>as</strong> de imunodetecção<br />
(Fig. 2) e biotinilação<br />
de proteín<strong>as</strong>, revelad<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> fluorocromos, foram<br />
avaliad<strong>as</strong> em microscopia de<br />
varredura l<strong>as</strong>er, que permite<br />
uma análise semiquantitativa<br />
dos receptores através da<br />
varredura da totalidade d<strong>as</strong> secções<br />
longitudinais dos tubos digestivos d<strong>as</strong><br />
lagart<strong>as</strong>, podendo-se obter imagens:<br />
bidimensional (Fig. 2A), tridimensional<br />
(Fig. 2B) ou um gráfico que representa<br />
o pico de fluorescência numa linha<br />
imaginária do epitélio intestinal (Fig.<br />
2C).<br />
Nos estudos <strong>com</strong> Chilo suppressalis<br />
foi avaliada a distribuição dos<br />
receptores d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry1Aa e<br />
Cry1Ac ao longo do epitélio intestinal,<br />
cujos dados foram convertidos em valores<br />
numéricos correspondentes à intensidade<br />
de fluorescência e analisados<br />
estatisticamente pelo teste de homogeneidade<br />
de variância de Bartlett<br />
(Dagnelie, 1970), sendo <strong>as</strong> du<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong>parad<strong>as</strong> pelo teste de Student–Neuwman-Keuls<br />
em três porções<br />
intestinais. Os resultados revelaram<br />
uma diferença significativa na intensidade<br />
de fluorescência detectada<br />
para Cry1Aa e Cry1Ac (Fig. 3), sendo<br />
a primeira mais intensa, representando<br />
86 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
<strong>com</strong>petição de du<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o<br />
por exemplo Cry1Aa e Cry1Ba, revelad<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> fluorocromos detectados em<br />
diferentes <strong>com</strong>primentos de onda, sobre<br />
a mesma porção intestinal da lagarta<br />
(Chilo suppressalis), revelando <strong>as</strong>sim<br />
que a fluorescência pode ser sobreposta<br />
(Fig. 4) e que ess<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
se ligam aos mesmos receptores membranares<br />
intestin<strong>as</strong>.<br />
4. Discussão<br />
Figura 2: Imunodetecção de receptores de proteína Cry1A de Bacillus thuringiensis<br />
em cortes longitudinais de lepidópteros, analisados em microscopia de varredura<br />
l<strong>as</strong>er (barra = 35 µm).<br />
Figura 3: Distribuição de receptores de proteín<strong>as</strong> Cry1 ao longo intestino médio de<br />
lagart<strong>as</strong> de Chilo suppressalis, avaliad<strong>as</strong> em microscopia de varredura l<strong>as</strong>er.<br />
uma maior concentração de receptores<br />
intestinais na espécie em estudo.<br />
Por outro lado, amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
revelaram uma maior quantidade de<br />
receptores na porção anterior (Fig. 3A)<br />
e posterior (Fig. 3C) do intestino mé-<br />
dio, quando <strong>com</strong>parad<strong>as</strong> à porção central<br />
(Fig. 3B).<br />
A microscopia de varredura l<strong>as</strong>er<br />
permite a leitura simultânea de dois<br />
fluorocromos (fluoresceína e ficoeritrina),<br />
permitindo <strong>as</strong>sim a análise da<br />
Figura 4: Competição de proteín<strong>as</strong> Cry1 biotinilad<strong>as</strong>, revelad<strong>as</strong> <strong>com</strong> fluoresceína<br />
(Cry1Aa - detector1) e ficoeritrina (Cry1Ba - detector 2), na análise de receptores<br />
membranares intestinais de Chilo suppressalis, em microscopia de varredura l<strong>as</strong>er.<br />
As análises de receptores membranares<br />
intestinais, através de técnic<strong>as</strong><br />
de imunohistoquímica e detecções<br />
de proteín<strong>as</strong> Cry biotinilad<strong>as</strong>, foram<br />
realizad<strong>as</strong> por diversos autores em larv<strong>as</strong><br />
de diferentes espécies de lepidópteros<br />
(Bravo et al., 1992a; Denolf et al.,<br />
1993a; Estada e Ferre, 1994; Fiuza,<br />
1995), dípteros (Ravoahangimalala et<br />
al., 1993) e coleópteros (Bravo et al.<br />
1992a; Boets et al., 1994). Esses autores<br />
<strong>com</strong>provaram que <strong>as</strong> ligações d<strong>as</strong><br />
proteín<strong>as</strong> Cry n<strong>as</strong> microvilosidades do<br />
intestino médio d<strong>as</strong> larv<strong>as</strong> de insetos<br />
correspondem à existência de um receptor<br />
específico à referida proteína<br />
no inseto-alvo.<br />
As análises in vitro de receptores<br />
de proteín<strong>as</strong> Cry de B. thuringiensis<br />
revelad<strong>as</strong> <strong>com</strong> enzim<strong>as</strong> mostram<br />
que em geral os receptores estão distribuídos<br />
uniformemente ao longo do<br />
intestino médio dos lepidópteros (Bravo<br />
et al., 1992b; Denolf et al., 1993a),<br />
porém Bravo et al. (1992b) revelaram<br />
que ess<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> se ligam preferencialmente<br />
n<strong>as</strong> microvilosidades da porção<br />
posterior do intestino médio d<strong>as</strong><br />
larv<strong>as</strong> dos coleópteros. No presente<br />
estudo, <strong>as</strong> semiquantitativ<strong>as</strong> dos receptores,<br />
avaliad<strong>as</strong> em microscopia de<br />
varredura l<strong>as</strong>er, em larv<strong>as</strong> de lepidópteros,<br />
também revelaram que a distribuição<br />
desses receptores membranares<br />
intestinais foi diferenciada ao longo<br />
do epitélio, sendo mais concentrada<br />
n<strong>as</strong> porções anteriores e posteriores<br />
do intestino médio.<br />
N<strong>as</strong> avaliações de <strong>com</strong>petição<br />
d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> de B. thuringiensis, <strong>as</strong><br />
toxin<strong>as</strong> Cry1Aa e Cry1Ba mostraramse<br />
em <strong>com</strong>petição pelos receptores<br />
celulares de Chilo suppressalis, cujos<br />
dados também foram demonstrados<br />
em outr<strong>as</strong> espécies de lepidópteros.<br />
Por outro lado, os estudos desenvolvi-<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 87
dos por Denolf et al. (1993a,b), utilizando<br />
<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry1Ac e Cry1Ba<br />
(marcad<strong>as</strong> <strong>com</strong> molécul<strong>as</strong> de biotina e<br />
de iodo radioativo), em larv<strong>as</strong> de Ostrinia<br />
nubilalis, revelaram que ess<strong>as</strong> toxin<strong>as</strong><br />
se ligam a diferentes receptores<br />
intestinais, sugerindo que a utilização<br />
simultânea dess<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> pode apresentar<br />
um efeito inseticida sinérgico<br />
contra O. nubilalis.<br />
Relacionando o estudo dos receptores<br />
in vitro e a análise da toxicidade<br />
in vivo, pode-se inferir que os métodos<br />
de detecção de receptores membranares<br />
podem ser aplicados na seleção<br />
d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> ativ<strong>as</strong> contra insetos,<br />
havendo uma correlação positiva entre<br />
<strong>as</strong> análises in vitro e in vivo. Porém,<br />
para determinar a Concentração Letal<br />
Média (CL 50<br />
) de uma proteína Cry fazse<br />
necessário o bioensaio uma vez que<br />
<strong>as</strong> ligações d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> aos receptores<br />
podem variar em concentração e<br />
afinidade, <strong>com</strong>o já descrito por diversos<br />
autores, para diferentes espécies<br />
de insetos (Denolf et al., 1993a; Van<br />
Rie et al., 1990; Fiuza et al., 1996; Lee<br />
et al., 1996; Hua et al., 2001). Também<br />
há estudos demonstrando que <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />
Cry tóxic<strong>as</strong> aos insetos correspondem<br />
àquel<strong>as</strong> que se ligam de forma<br />
irreversível aos receptores d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
epiteliais do inseto-alvo (Liang et<br />
al., 1995).<br />
No contexto, controle microbiano<br />
de insetos, a espécie Bacillus thuringiensis<br />
oferece <strong>as</strong> melhores alternativ<strong>as</strong><br />
à produção de biopesticid<strong>as</strong> e à<br />
engenharia genética de plant<strong>as</strong>. Sendo<br />
<strong>as</strong>sim, é fundamental avaliar o espectro<br />
de ação e a especificidade d<strong>as</strong><br />
proteín<strong>as</strong> potencialmente inseticid<strong>as</strong><br />
e, nesse sentido, a análise in vitro dos<br />
receptores membran<strong>as</strong> pode ser considerada<br />
uma ferramenta indispensável<br />
face ao grande número de isolados,<br />
cep<strong>as</strong> e proteín<strong>as</strong> de B. thuringiensis<br />
já identificados, que representam um<br />
potencial no manejo de insetos-praga.<br />
5. Agradecimentos<br />
À equipe Biotrop do Centre Internationale<br />
de Recherche Agronomique<br />
pour le Dévélopement (Montpellier,<br />
França), especialmente a Drª Nicole<br />
Michaux-Ferriere, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o aos pesquisadores<br />
Dr. Jeroen Van Rie (Plant<br />
Genetic Systems, Ghent, Bélgica) e ao<br />
Dr. Jean-François Charles (Institut P<strong>as</strong>teur,<br />
Paris, França), por su<strong>as</strong> contribuições<br />
nessa pesquisa.<br />
6. Referênci<strong>as</strong><br />
Bibliográfic<strong>as</strong><br />
ARMSTRONG, J. L.; ROHRMANN, G. F.<br />
& BEAUDREAU, G. S. 1985. Deltaendotoxins<br />
of Bacillus thuringiensis<br />
subspecies israelensis. Journal<br />
Bacteriology, 161: 39-46.<br />
ARONSON, A.; HAN, E.; McGAUGHEY,<br />
W. & JOHNSON, D. 1991. The<br />
solubility of inclusion proteins from<br />
Bacillus thuringiensis is depend<br />
upon protoxin <strong>com</strong>position and is<br />
a factor in toxicity to insects. Applied<br />
Environmental Microbiology,<br />
57:981-986.<br />
BAYER, E. & WILCHECK, M. 1990.<br />
Protein biotinylation. Methods in<br />
Enzymology. 184: 138-159.<br />
BOETS, A.; JANSENS, S.; DENOLF, P.;<br />
PEFEROEN, M.; DEGHEELE, D.;<br />
VAN RIE, J. 1994. Sequential<br />
observations of toxin distribution<br />
and histopathological effects of<br />
CryIIIA in the gut of intoxicated<br />
Leptinotarsa decemlineata larvae.<br />
XXVIIth Annual Meeting of the<br />
Society for Invertebrate Pathology,<br />
p. 377.<br />
BRADFORD, M. 1976. A rapid and<br />
sensitive method for the<br />
quantitation of microgram<br />
quantities of protein utilizing the<br />
principle of protein-dye binding.<br />
Analytical Biochemistry. 72 : 248-<br />
254.<br />
BRANDTZAEG, P. 1982. Tissue preparation<br />
methods for imunocytochemistry.<br />
In: Bullock G. & Petruz<br />
P., Techniques in imunocytochemistry.<br />
Academic Press, London.<br />
pp. 49-51.<br />
BRAVO, A.; JANSENS, S.; PEFEROEN,<br />
M. 1992a. lmmunocytochemical<br />
localization of Bacillus thuringiensis<br />
insecticidal crystal proteins in<br />
intoxicated insects. J. Invertebr.<br />
Pathol 60:237-246.<br />
BRAVO, A.; HENDRICKX, K.; JANSENS,<br />
S.; PEFEROEN, M. 1992b.<br />
Immunocytochemical analysis of<br />
specific binding of Bacillus<br />
thuringiensis insecticidal crystal<br />
proteins to lepidopteran and<br />
coleopteran midgut membranes.<br />
J. Invertebr. Pathol 60:247-253.<br />
BURKE, B.; GRIFFIHS, G.; REGGIO,<br />
H.; LOUVARD, D. & WARREN, G.<br />
1982. A monoclonal antibody<br />
against a 135-K Golgi membrane<br />
protein. European Molecular<br />
Biology Organization Journal, 1:<br />
1621-1628.<br />
CASTILHOS-FORTES, R.;<br />
MATSUMURA, A. T. S.; DIEHL, E. &<br />
FIUZA, L. M. 2002. Susceptibility<br />
of N<strong>as</strong>utitemes ehrhadti (Isoptera:<br />
Termitidae) to Bacillus<br />
thuringiensis. Brazilian Journal<br />
of Microbiology, 33: 221-224.<br />
CHOMA, C. T. & KAPLAN, H. 1990.<br />
Folding and unfolding of the<br />
protoxin from Bacillus<br />
thuringiensis: Evidence that the<br />
Toxic Moiety is present in a Active<br />
Conformation. Biochemistry, 29:<br />
10971-10977.<br />
CRICKMORE, N.; ZEIGLER, D.R.;<br />
FEITELSON, J.; SCHENEPF, E; VAN<br />
RIE, J.; LERECLUS, D.; BAUM, J.;<br />
DEAN, D. 1998. Revision of the<br />
nomenclature for the Bacillus<br />
thuringiensis pesticidal crystal<br />
proteins. Microbiol. and Mol. Biol.<br />
Rev. 62(3):807-813.<br />
DAGNELIE, P. 1975. Théorie et<br />
Méthodes statistiques, applications<br />
agronomiques. Les Presses<br />
Agronomiques de Gembloux, vol.<br />
II, pp. 56-57.<br />
DE MAAG, R.; BOSCH, D. ; STIEKEMA,<br />
W. 1999. Bacillus thuringiensis<br />
toxin-mediated insect resistance<br />
in plants. Trends Plant Sci. 4: 9-13.<br />
DENOLF, P.; JANSENS, S.; PEFEROEN,<br />
M.; DEGHEELE, D.; VAN RIE, J.<br />
1993a. Two different Bacillus<br />
thuringiensis delta-endotoxin<br />
receptors in the midgut brush<br />
border membrane of the European<br />
corn borer, Ostrinia nubilalis. Appl.<br />
Environ. Microbiol 59(6):1828-<br />
1837.<br />
DENOLF, P.; JANSENS, S.; VAN HOUDT,<br />
S.; PEFEROEN, M.; DEGHEELE, D.;<br />
VAN RIE, J. 1993b. Biotinylation of<br />
Bacillus thuringiensis insecticidal<br />
crystal proteins. Appl. Environ.<br />
Microbiol. 59(6):1821-1827.<br />
ENDO, Y. & NISHIITSUTSUJI-UWO, J.<br />
1980. Mode of Action of Bacillus<br />
thuringiensis delta-endotoxin:<br />
Histopathological Changes in the<br />
Silkworm Midgut. Journal<br />
88 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004
Invertebrate Pathology, 36:90-103.<br />
ESTADA, U.; FERRE, J. 1994. Binding<br />
of insecticidal crystals proteins of<br />
Bacillus thuringiensis to the midgut<br />
brush border of the Cabbage<br />
Looper, Trichoplusia ni and selection<br />
for resistance to one of the<br />
crystal proteins. Appl. Environ.<br />
Microbiol. 60(10):3840-3846.<br />
FEITELSON, J.; SPAYNE, J. & KIM, L.<br />
1992. Bacillus thuringiensis: insects<br />
and beyond. Bio/Technology,<br />
10: 271–275.<br />
FIUZA, L. M. 1995. Etude des sites<br />
récepteurs et de la toxicité des<br />
delta-endotoxines de Bacillus thuringiensis<br />
Berliner chez les larves<br />
de la Pyrale du riz, Chilo suppressalis<br />
Walker. Thèse de doctorat en<br />
Sciences Agronomiques, ENSA-M,<br />
Montpellier, France. 180p.<br />
FIUZA, L. M.; NIELSEN-LEROUX, C.;<br />
GOZE, E.; FRUTOS, R.; CHARLES,<br />
J-F 1996. Binding of Bacillus<br />
thuringiensis Cry1 toxins to the<br />
midgut brush border membrane<br />
vesicles of Chilo suppressalis<br />
(Lepidoptera, Pyralidae): evidence<br />
of shared binding sites. Appl.<br />
Environ. Microbiol. 62:1544-1549.<br />
GILL, S.; COWLES, E. &<br />
PIETRANTONIO, P. 1992. The<br />
mode of action of Bacillus<br />
thuringiensis endotoxins. Annual<br />
Reviews Entomology, 37:615-636.<br />
HOFMANN, C.; VANDERBRUGGEN,<br />
H.; HOFTE, H.; VAN RIE, J.;<br />
JANSENS, S.; VAN MELLAERT, H.<br />
1988. Specificity of Bt deltaendotoxins<br />
is correlated with the<br />
presence of high-affinity binding<br />
sites in the brush border membrane<br />
of target insect midguts.<br />
Proceedings of the National<br />
Academic Sciences of U.S.A., 85:<br />
7844-7848.<br />
HÖFTE, H. & WHITELEY, H.R. 1989.<br />
Insecticidal crystal proteins of Bt.<br />
Microbiological Reviews, 53: 242-<br />
255.<br />
HUA, G.; MASSON, L.; JURAT-FUENTES,<br />
J. L.; SCHWAB, G.; ADANG, M. J.<br />
2001. Binding Analyses of Bacillus<br />
thuringiensis Cry delta-endotoxins<br />
using brush border membrane<br />
vesicles of Ostrinia nubilalis. Appl.<br />
Environ. Microbiol. 67(2):872-879.<br />
KNIGHT, P.; CRICKMORE, N. & ELLAR,<br />
D. 1994. The receptor for Bacillus<br />
thuringiensis CryIAc deltaendotoxin<br />
in the brush border<br />
membrane of the lepidopteran<br />
Manduca sexta is aminopeptid<strong>as</strong>e<br />
N. Molecular Microbiology, 11:<br />
429-436.<br />
KNOWLES, B.H. & BOW, J.T. 1993.<br />
The delta-endotoxins of Bacillus<br />
thuringiensis: models for their<br />
mechanism of action on the insect<br />
gut. BioEssays, 15: 469-476.<br />
LAEMMLI, U. 1970. Cleavage of<br />
structural proteins during the<br />
<strong>as</strong>sembly of the head of<br />
bacteriophage T4. Nature<br />
(London). 227: 680-685.<br />
LEE, M. K.; YOU, T. H.; YOUNG, B. A.;<br />
COTRILL, J. A.; VALATIS, A. P.;<br />
DEAN, D. H. 1996.<br />
Aminopeptid<strong>as</strong>e N purified from<br />
Gypsy moth brush border<br />
membrane vesicles is a specific<br />
receptor for Bacillus thuringiensis<br />
Cry1Ac toxin. Appl. Environ.<br />
Microbiol. 62:2845-2849.<br />
LIANG, Y., PATEL, S. S.; DEAN, D. H.<br />
1995. Irreversible binding kinetics<br />
of Bacillus thuringiensis Cry1A<br />
delta-endotoxins to Gypsy moth<br />
brush border membrane vesicles is<br />
directly correlated to toxicity. J.<br />
Biol. Cheml. 270:24719-24724.<br />
MAHILLON, J. & DELCOUR, J. A. 1984.<br />
A convenient procedure for the<br />
preparation of highly purified<br />
par<strong>as</strong>poral crystal of Bacillus<br />
thuringiensis. J. Microbiol.<br />
Methods, 3:69-76.<br />
MARROQUIN, L.D., ELYASSNIA, D.,<br />
GRIFFITTS, J.S., FEITELSON, J.S.,<br />
& AROIAN R.V. 2000. Bacillus<br />
thuringiensis toxin susceptibility<br />
and isolation of resistance mutants<br />
in the nematode Caenorhabditis<br />
elegans. Genetics, 155: 1693-1699.<br />
MEADOWS, M. P. 1993. Bacillus thuringiensis<br />
in the Environment:<br />
Ecology and Risk Assessment. p.<br />
193-213. In.: ENTWISTLE P. (ed.).<br />
Bacillus thuringiensis, An Environmental<br />
Biopesticide : Theory<br />
and Practice. John Wiley & Sons,<br />
New York, USA.<br />
PINTO, L. M. N. & FIUZA, L. M. 2002.<br />
Genes cry de Bacillus thuringiensis:<br />
uma alternativa biotecnológica<br />
aplicada ao manejo de insetos.<br />
Biociênci<strong>as</strong>, 10 (2): 03-13.<br />
RAVOAHANGIMALALA, O.; CHARLES,<br />
J-F.; SCHOELLER-RACCAUD, J.<br />
1993. Immunological localization<br />
of Bacillus thuringiensis serovar israelensis<br />
toxins in midgut cells of<br />
intoxicated Anopheles gambie larvae<br />
(Diptera: Culicidae). Res. Microbiol.<br />
144:271-278.<br />
SCHNEPF, E.; CRICKMORE, N.; VAN-<br />
RIE, J; LERECLUS, D.; BAUM, J.;<br />
FEITELSON, J.; ZEIGLER, D. R.;<br />
DEAN, D. H. 1998. Bacillus thuringiensis<br />
and its Pesticidal Crystal<br />
Proteins. Microbiology and Molecular<br />
Biology Reviews. 62(3):775-<br />
806.<br />
SHARPE, E.; NICKERSON, K.; BULLA,<br />
L. & ARONSON, J. 1975. Separation<br />
of spores and par<strong>as</strong>poral crystals of<br />
Bacillus thuringiensis in gradients<br />
of certain x-ray contr<strong>as</strong>ting agents.<br />
Applied Microbiology, 30(6): 1052-<br />
1053.<br />
THOMAS, W. & ELLAR, D. 1983. Bacillus<br />
thuringiensis var. israelensis<br />
crystal delta-endotoxin: effects on<br />
insect and mammalian cells in vitro<br />
and in vivo. Journal of Cell<br />
Science, 60:181-197.<br />
VAN RIE, J.; JANSENS, S.; HÖFTE, H.;<br />
DEGHEELE, D.; VAN MELLAERT,<br />
H. 1989. Specificity of Bacillus thuringiensis<br />
delta-endotoxins. Importance<br />
of specific receptors on the<br />
brush border membrane of the<br />
midgut of target insects. Eur. J.<br />
Biochem. 186:239-247.<br />
VAN RIE, J; JANSENS, S.; HÖFTE, H.;<br />
DEGHEELE, D.; VAN MELLAERT,<br />
H. 1990. Receptors on the brush<br />
border membrane insect midgut<br />
<strong>as</strong> determinants of the specificity<br />
of Bacillus thuringiensis deltaendotoxins.<br />
Appl. Environ.<br />
Microbiol. 56:1378-1385<br />
WOLFERSBERGER, M. 1990. Specificity<br />
and mode of action of Bacillus<br />
thuringiensis insecticidal crystal<br />
proteins toxic to lepidopteran larvae:<br />
recent insights from studies<br />
utilizing midgut brush border membrane<br />
vesicles. Vth Int. Coll Invertebrate<br />
Pathology, pp.278-282.<br />
ZHONG, C.; ELLAR, D.J.; BISHOP, A.;<br />
JOHNSON, C.; LIN, S. & HART, E.R.<br />
2000. Characterization of a Bacillus<br />
thuringiensis d-endotoxin<br />
which is toxic to insects in three<br />
orders. J. Invertebr. Pathol.,76:<br />
131–139.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 89
Nanotecnologia é arma na luta contra o câncer<br />
O Instituto do Câncer dos Estados<br />
Unidos (NCI) anunciou um plano de<br />
cinco anos para desenvolver a utilização<br />
da nanotecnologia no <strong>com</strong>bate ao<br />
câncer. A área, que abrange a criação<br />
de aparelhos microscópicos, é considerada<br />
promissora para a obtenção de<br />
nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de diagnóstico e tratamento<br />
da doença em estágio inicial e<br />
<strong>com</strong> poucos efeitos colaterais.<br />
“Se pudermos alcançar esses objetivos,<br />
seremos capazes de eliminar a<br />
doença”, previu Richard Smalley, professor<br />
de nanotecnologia da Rice<br />
University. O plano de US$ 144,3 milhões<br />
incluirá a Aliança para a<br />
Nanotecnologia no Câncer, uma iniciativa<br />
que reunirá pesquisadores, médicos,<br />
empres<strong>as</strong> e grupos sem fins lucrativos.<br />
A medicina já emprega dispositivos<br />
do tamanho de molécul<strong>as</strong> na forma<br />
de proteín<strong>as</strong> - <strong>com</strong>o os anticorpos -<br />
naturais ou criad<strong>as</strong> artificialmente. “A<br />
novidade é que podemos construir<br />
nano-objetos que nunca existiram”,<br />
<strong>com</strong>entou Smalley. Esses dispositivos<br />
seriam cobertos de substânci<strong>as</strong> que<br />
encontrariam <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> canceros<strong>as</strong>.<br />
Os nano-objetos também poderão<br />
levar drog<strong>as</strong> para matar <strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />
ou agentes de obtenção de imagens<br />
para ajudar a detectar o câncer, explicou<br />
o médico Mauro Ferrari, consultor<br />
do NCI e professor de engenharia<br />
biomédica da Ohio State University.<br />
“Ao realizar isso em uma escala<br />
muito pequena, haverá efeitos distintos.<br />
As possibilidades são enormes para<br />
se encontrar tumores muito pequenos,<br />
muito antes do que conseguimos hoje,<br />
e tratá-los <strong>com</strong> drog<strong>as</strong> poderos<strong>as</strong>, ao<br />
mesmo tempo reduzindo os efeitos<br />
colaterais. A iniciativa permitirá que<br />
exploremos o uso dessa tecnologia em<br />
seu pleno potencial”, disse Samuel<br />
Wickline, da W<strong>as</strong>hington University.<br />
técnica possibilita tratamento preciso<br />
Uma droga conduzida por um<br />
equipamento nanométrico poderia, por<br />
exemplo, atingir célul<strong>as</strong> canceros<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />
uma precisão que não existe na<br />
quimioterapia e na radioterapia. Segundo<br />
os especialist<strong>as</strong>, isso já é possível<br />
<strong>com</strong> os anticorpos monoclonais,<br />
m<strong>as</strong> essa área seria ampliada de maneira<br />
significativa.<br />
Os lipossomos, cápsul<strong>as</strong> minúscul<strong>as</strong><br />
usad<strong>as</strong> para carregar drog<strong>as</strong>, podem<br />
ser considerados a primeira geração de<br />
dispositivos desse tipo. A médica Janet<br />
Woodcock, <strong>com</strong>issária-adjunta da FDA,<br />
disse que a agência tem se preparado<br />
para aprovar novos dispositivos médicos<br />
em escala nanométrica - um<br />
nanômetro corresponde a um<br />
bilionésimo do metro. “Vemos um grande<br />
potencial em nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de administração<br />
de remédios”, disse.<br />
Qualquer produto novo, porém,<br />
terá de p<strong>as</strong>sar pel<strong>as</strong> etap<strong>as</strong> normais de<br />
aprovação nos quesitos segurança e<br />
eficácia. Janet Woodcock lembrou que<br />
Especialist<strong>as</strong> aprofundam pesquis<strong>as</strong> sobre a Amazônia<br />
também haverá algum<strong>as</strong> questões burocrátic<strong>as</strong>,<br />
principalmente se os produtos<br />
forem cl<strong>as</strong>sificados ao mesmo tempo<br />
<strong>com</strong>o dispositivos e drog<strong>as</strong>.<br />
A diretora-adjunta do NCI, Anna<br />
Barker, informou que o plano incluirá<br />
US$ 90 milhões para pelo menos cinco<br />
centros de excelência em cinco anos,<br />
US$ 16 milhões para treinamento e<br />
US$ 38 milhões em bols<strong>as</strong> para projetos<br />
específicos.<br />
Primeir<strong>as</strong> aplicações >> Os<br />
lipossomos, a primeira geração de dispositivos<br />
nanométricos para administração<br />
de remédios, foram desenvolvidos<br />
para levar tratamentos anticâncer<br />
diretamente aos tumores. A<br />
doxorubicina lipossômica é usada para<br />
tratar alguns tipos de câncer, enquanto<br />
a anfotericina lipossômica B <strong>com</strong>bate<br />
infecções por fungos, freqüentemente<br />
<strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> a tratamentos anticâncer<br />
agressivos. >>Recentemente, uma formulação<br />
de nanopartícul<strong>as</strong> do conhecido<br />
<strong>com</strong>posto anticâncer taxol foi submetida<br />
ao FDA <strong>com</strong>o um novo tratamento<br />
para câncer de mama em estágio<br />
avançado. >> Outr<strong>as</strong> aplicações<br />
clínic<strong>as</strong> da nanotecnologia têm <strong>com</strong>o<br />
foco a identificação do câncer em estágios<br />
iniciais; a visualização do desenvolvimento<br />
da doença; a administração<br />
de tratamentos melhorados para<br />
aumentar a eficácia e reduzir os efeitos<br />
colaterais d<strong>as</strong> drog<strong>as</strong>; e a detecção de<br />
sinais de eficácia de medicamentos.<br />
Jornal do Commercio - RJ<br />
Durante três di<strong>as</strong>, entre amanhã<br />
(28/09) e a próxima quinta-feira (30/<br />
09), especialist<strong>as</strong> e pesquisadores de<br />
prestígio internacional discutem, em<br />
Rio Branco (AC), questões relativ<strong>as</strong> à<br />
ciência e tecnologia, experiênci<strong>as</strong> e<br />
resultados concretos na Amazônia,<br />
exploração florestal, genética, ecologia,<br />
mercado e organização <strong>com</strong>unitária.<br />
A programação é parte do seminário<br />
Manejo Florestal para Pequen<strong>as</strong> Propriedades:<br />
a Experiência do Projeto de<br />
Colonização Pedro Peixoto.<br />
O seminário será uma oportunidade<br />
para sintetizar a experiência acumulada<br />
no projeto de <strong>as</strong>sentamento Pedro<br />
Peixoto, onde 25 produtores estão<br />
envolvidos <strong>com</strong> manejo florestal <strong>com</strong>unitário<br />
há qu<strong>as</strong>e 10 anos sob orientação<br />
de pesquisadores da Embrapa<br />
Acre.<br />
O modelo desenvolvido no local<br />
tornou-se referência para o Estado e o<br />
Instituto Nacional de Colonização e<br />
Reforma Agrária (Incra) já manifestou<br />
interesse em adotá-lo em projetos de<br />
<strong>as</strong>sentamentos florestais na Amazônia.<br />
90 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />
90 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
Pedro Peixoto foi um dos primeiros<br />
trabalhos de manejo articulado <strong>com</strong><br />
produtores rurais que, tradicionalmente,<br />
viam a floresta <strong>com</strong>o um entrave ao<br />
desenvolvimento da propriedade.<br />
Entre os pesquisadores de maior<br />
expressão, está Milton Kan<strong>as</strong>hiro, da<br />
unidade Amazônia Oriental da Empresa<br />
Br<strong>as</strong>ileira de Pesquisa Agropecuária<br />
(Embrapa), vinculada ao Ministério da<br />
Agricultura, Pecuária e Ab<strong>as</strong>tecimento.<br />
Kan<strong>as</strong>hiro é líder do Projeto<br />
Dendrogene, que busca os pontos de<br />
Célul<strong>as</strong> mort<strong>as</strong> por raios<br />
Tratamento <strong>com</strong> radiação<br />
ultravioleta artificial é usado para<br />
linfoma cutâneo<br />
Trabalho sobre o uso da radiação<br />
ultravioleta artificial para o tratamento<br />
do câncer linfoma cutâneo será apresentado<br />
no Simpósio de Imunologia<br />
Clínica e Experimental (ImunoRio),<br />
que acontece di<strong>as</strong> 16 e 17 na Santa<br />
C<strong>as</strong>a de Misericórdia, no Centro. A<br />
doença se manisfesta na pele, m<strong>as</strong><br />
pode se al<strong>as</strong>trar para órgãos <strong>com</strong>o<br />
pulmão e fígado. ´<br />
Durante quatro anos, o professor<br />
Luiz Werber Bandeira, chefe do Serviço<br />
de Imunologia Clínica e Experimental<br />
da Santa C<strong>as</strong>a, realizou pesquisa<br />
<strong>com</strong> nove pacientes portadores do<br />
linfoma. A radiação foi aplicada três<br />
vezes por semana, durante quatro<br />
equilíbrio ente o uso e conservação da<br />
floresta e a exploração madeireira, geradora<br />
de 600 mil empregos e R$ 3<br />
bilhões de renda ao Br<strong>as</strong>il. O projeto<br />
desenvolve meios de avaliar os impactos<br />
da exploração florestal sobre a<br />
biodiversidade. Trata dos impactos sobre<br />
a capacidade da floresta de se<br />
regenerar e garantir, por meio de processos<br />
de reprodução, a continuidade<br />
d<strong>as</strong> diferentes espécies. O Dendrogene<br />
conquistou o Prêmio Ford de Conservação<br />
Ambiental 2003 e o Super Ecologia<br />
2004, concedido pela revista<br />
Super Interessante.<br />
O seminário é uma iniciativa da<br />
Embrapa Acre, Instituto Br<strong>as</strong>ileiro do<br />
Meio Ambiente (Ibama), Pro-Manejo e<br />
Associação dos Produtores Rurais em<br />
Manejo Florestal e Agricultura<br />
(Apruma). O encontro conta <strong>com</strong> patrocínio<br />
da KfW Group e apoio do<br />
Sebrae e Governo do Estado do Acre.<br />
A programação <strong>com</strong>pleta pode<br />
ser vista em www.cpafac.embrapa.br.<br />
Fonte: www.agricultura.<strong>com</strong>.br<br />
meses. No fim do estudo, concluiu-se<br />
que <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> cancerígen<strong>as</strong> diminuíam<br />
consideravelmente. Não houve efeitos<br />
colaterais.<br />
Colocados em uma câmara <strong>com</strong><br />
lâmpad<strong>as</strong> que emitem raios ultraviolet<strong>as</strong><br />
artificiais, os pacientes tomaram<br />
psoraleno, substância imunomoduladora<br />
que previne <strong>com</strong>plicações<br />
Fonte: O Dia - RJ<br />
Biorremédio é mais eficiente na degradação de herbicid<strong>as</strong> no solo<br />
Uma forma de remediar solos contaminados<br />
pelo herbicida atrazina, utilizando<br />
técnic<strong>as</strong> da indústria farmacêutica,<br />
está sendo desenvolvida pela professora<br />
Julieta Mieko Ueta, da Faculdade<br />
de Ciênci<strong>as</strong> Farmacêutic<strong>as</strong> de Ribeirão<br />
Preto (FCFRP) da USP. Ela conseguiu<br />
isolar microrganismos redutores<br />
de atrazina e condensá-los em<br />
microcápsul<strong>as</strong>, formando uma espécie<br />
de biomedicamento - em que o princípio<br />
ativo, ao invés de uma substância<br />
química, é um ser vivo.<br />
Em parceria <strong>com</strong> o CNPMA (unidade<br />
Meio Ambiente da Embrapa, localizada<br />
em Jaguariúna), Ueta coletou<br />
mensalmente, durante dois anos, amostr<strong>as</strong><br />
de solo de fazend<strong>as</strong> da região de<br />
Ribeirão Preto. “Escolhemos uma propriedade<br />
monocultora, produtora de<br />
cana-de-açúcar - cultivo que demanda<br />
larga aplicação de atrazina”, explica a<br />
pesquisadora. Em laboratório, ela mediu<br />
o impacto do uso do herbicida<br />
sobre a biodiversidade bacteriana do<br />
solo. “As bactéri<strong>as</strong>, além de<br />
metabolizarem materiais orgânicos e<br />
contribuírem para a fertilidade do terreno,<br />
conseguem biodegradar substânci<strong>as</strong><br />
xenobiótic<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o pesticid<strong>as</strong><br />
e herbicid<strong>as</strong>. No entanto, quando a<br />
aplicação do herbicida é exagerada, a<br />
capacidade biorremediadora da população<br />
microbiana é reduzida, <strong>com</strong> conseqüente<br />
prejuízo à qualidade do solo<br />
e do ambiente”, diz.<br />
A atrazina é um herbicida triazínico,<br />
empregado largamente na agricultura<br />
para o controle de erv<strong>as</strong> daninh<strong>as</strong>.<br />
“Estima-se que a cultura canavieira no<br />
Br<strong>as</strong>il vem consumindo acima de 20<br />
mil tonelad<strong>as</strong> desse tipo de substância<br />
por ano”, afirma Ueta. O dado é<br />
preocupante na medida em que a<br />
atrazina, graç<strong>as</strong> ao seu alto potencial<br />
de escoamento e elevada persistência<br />
nos solos, é um potencial contaminador<br />
da água. Ess<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> ganham<br />
maiores proporções na região de Ribeirão<br />
Preto, onde se localiza um dos<br />
pontos de afloramento do Aqüífero<br />
Guarani. “Durante o processo de poluição,<br />
a atrazina infiltra-se no solo,<br />
podendo atingir lençóis freáticos”, explica<br />
a pesquisadora. “Analisamos amostr<strong>as</strong><br />
da água do Aqüífero e não encontramos<br />
indícios concretos de contaminação.<br />
No entanto, <strong>com</strong>o a atrazina é<br />
amplamente usada n<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> de canade-açúcar<br />
da região, o risco existe.”<br />
Biorremédio<br />
Foi justamente <strong>com</strong> o objetivo de<br />
evitar possíveis contaminações do solo<br />
e, principalmente, da água que Ueta<br />
vem desenvolvendo microcápsul<strong>as</strong><br />
<strong>com</strong> microrganismos do gênero<br />
Pseudomon<strong>as</strong> - que conseguem degradar<br />
a atrazina <strong>com</strong> grande eficiência.<br />
O biorremédio para o solo é <strong>com</strong>posto<br />
utilizando técnic<strong>as</strong> da fabricação<br />
de medicamentos pela indústria farmacêutica.<br />
“Os princípios ativos dos<br />
‘<strong>com</strong>primidos’ são <strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong>. Porém,<br />
na formulação d<strong>as</strong> microcápsul<strong>as</strong>, adicionamos<br />
alguns nutrientes cujo papel<br />
é facilitar o desenvolvimento dos microrganismos<br />
de forma que eles degradem<br />
mais rapidamente a atrazina”,<br />
esclarece Ueta.<br />
91 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 91
Biodiesel ganha status de fonte alternativa de energia<br />
92 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />
92 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />
Pesquisadores, professores, estudantes,<br />
especialist<strong>as</strong> de órgãos públicos<br />
e parlamentares participam amanhã<br />
(28/09), às 8h15, no auditório da<br />
Reitoria da Universidade de Br<strong>as</strong>ília<br />
(UnB), do 5º Encontro do Projeto Café<br />
<strong>com</strong> Ciência, cujo tema será “Biodiesel:<br />
Uma alternativa de Energia Renovável”.<br />
Promovido pelo Decanato de<br />
Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, o<br />
encontro mostrará <strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> desenvolvid<strong>as</strong><br />
pela universidade sobre o<br />
bio<strong>com</strong>bustível. A palestra dos pesquisadores<br />
Kleber Carlos Mundim e João<br />
Nildo de Sousa Vianna abordará os<br />
<strong>as</strong>pectos fundamentais do uso do<br />
biodiesel no Br<strong>as</strong>il, <strong>com</strong>o a caracterização,<br />
produção, utilização e<br />
sustentabilidade da cadeia produtiva.<br />
O trabalho envolve o Instituto de<br />
Química, onde são estudados os processos<br />
tecnológicos da utilização dos<br />
diversos óleos vegetais, <strong>com</strong>o os derivados<br />
da soja, gir<strong>as</strong>sol e mamona, além<br />
do Departamento de Engenharia Mecânica<br />
e o Centro de Desenvolvimento<br />
Sustentável, que investigam o desempenho<br />
do biodiesel e <strong>as</strong> questões<br />
de sustentabilidade.<br />
Emprego - O governo federal<br />
pretende autorizar a entrada do biodiesel<br />
no mercado nacional de <strong>com</strong>bustíveis<br />
até o final deste ano. O produto poderá<br />
ser adicionado ao óleo diesel mineral<br />
Resina para imobilização da invert<strong>as</strong>e apresenta vantagens em relação ao carvão ativo<br />
Pesquisadores do Departamento<br />
de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica,<br />
da Faculdade de Ciênci<strong>as</strong> Farmacêutic<strong>as</strong><br />
(FCF) da USP, patentearam<br />
um novo método de imobilização de<br />
invert<strong>as</strong>e - enzima usada no processo<br />
de produção do açúcar invertido. “Desenvolvemos<br />
uma nova maneira de<br />
reaproveitar vári<strong>as</strong> vezes a invert<strong>as</strong>e”,<br />
<strong>com</strong>enta o professor Michele Vitolo,<br />
que juntamente <strong>com</strong> sua orientanda,<br />
Ester Junko Tomotani, patentearam o<br />
produto.<br />
O açúcar invertido é uma mistura<br />
de frutose <strong>com</strong> glicose, e resulta da<br />
quebra d<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> da sacarose - o<br />
açúcar <strong>com</strong>um, obtido da cana-de-açúcar.<br />
É muito utilizado pela indústria de<br />
alimentos, uma vez que a frutose tem<br />
mais capacidade de adoçar do que a<br />
sacarose.<br />
“Nós imobilizamos a invert<strong>as</strong>e em<br />
uma resina de troca iônica (tipo<br />
DOWEX®)”, explica o professor. Essa<br />
resina é um polímero orgânico, insolúvel<br />
em água, capaz de adsorver<br />
macromolécul<strong>as</strong> (no c<strong>as</strong>o, a invert<strong>as</strong>e)<br />
por meio de interação eletrostática.<br />
“Dizemos que <strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> de invert<strong>as</strong>e<br />
pres<strong>as</strong> ao polímero (chamado de suporte<br />
ou carreador) encontram-se na<br />
forma imobilizada”, conta Vitolo. “Com<br />
a invert<strong>as</strong>e imobilizada, podemos<br />
utilizá-la vári<strong>as</strong> vezes, sem nenhum<br />
tipo de perda”.<br />
Vantagens<br />
A invert<strong>as</strong>e imobilizada já é conhecida<br />
desde 1916 - e usada regularmente<br />
na indústria. Só que a fórmula<br />
<strong>com</strong>ercial atual de maior uso traz<br />
invert<strong>as</strong>e imobilizada em carvão ativo.<br />
“É um método eficiente, m<strong>as</strong> acreditamos<br />
que a imobilização em DOWEX®<br />
apresenta vantagens”, <strong>com</strong>enta o professor.<br />
Uma del<strong>as</strong> é a facilidade em<br />
separar após a reação, geralmente por<br />
filtração, a invert<strong>as</strong>e imobilizada do<br />
restante da mistura, sem deixar vestígios<br />
de resina no produto final (açúcar<br />
invertido). “Como <strong>as</strong> partícul<strong>as</strong> de carvão<br />
ativo têm dimensões extremamente<br />
reduzid<strong>as</strong>, para evitar a presença<br />
del<strong>as</strong> no produto final torna-se necessário<br />
o uso de microfiltros - muito<br />
caros - ou realizar vári<strong>as</strong> filtrações sucessiv<strong>as</strong>,<br />
quando se empregam filtros<br />
<strong>com</strong>uns”, diz Vitolo.<br />
Para desenvolver esse método, o<br />
Nos testes em laboratório, a<br />
biorremediação obteve sucesso. No<br />
entanto, ela ainda não foi aplicada em<br />
campo “porque deve-se estudar a fundo<br />
<strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong> que a introdução<br />
de seres vivos estranhos ao ambiente<br />
pode provocar. C<strong>as</strong>o contrário, ao invés<br />
de melhorar a situação, podemos<br />
causar um desequilíbrio ambiental”, alerta<br />
a pesquisadora. Segundo ela, <strong>as</strong><br />
melhores ferrament<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong> são<br />
aquel<strong>as</strong> que, quando lançad<strong>as</strong> na natureza,<br />
cumprem seu papel e morrem,<br />
“<strong>com</strong>o <strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong> utilizad<strong>as</strong> em derrames<br />
de petróleo no oceano”. Por isso,<br />
conclui Ueta, o ideal é mesmo não<br />
poluir.<br />
Tadeu Breda<br />
Mais informações:<br />
(0XX16) 602-4158 ou jueta@usp.br<br />
Fone: Agência USP de Notíci<strong>as</strong><br />
na proporção de até 2%, sem <strong>com</strong>prometer<br />
a garantia dos motores dos veículos.<br />
O Br<strong>as</strong>il dispõe de um grande<br />
número de matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> para a produção<br />
de biodiesel, <strong>com</strong>o soja, gir<strong>as</strong>sol,<br />
mamona e dendê. O governo federal<br />
espera que a entrada do novo <strong>com</strong>bustível<br />
no mercado nacional permita a<br />
redução da importação do diesel, que<br />
hoje corresponde a 9% do consumo.<br />
Além disso, o biodiesel deve apoiar o<br />
desenvolvimento econômico do meio<br />
rural <strong>com</strong> a geração de empregos e<br />
renda e incrementar o desenvolvimento<br />
da indústria nacional de pesquisa e<br />
equipamentos.<br />
Fonte: www.agricultura.gov.br<br />
professor Vitolo e Ester Tomotani testaram<br />
vários tipos de resin<strong>as</strong> de troca<br />
iônica. “Foram testad<strong>as</strong> mais de vinte<br />
resin<strong>as</strong> <strong>com</strong> característic<strong>as</strong> distint<strong>as</strong>.<br />
Quatro ou cinco variedades de resina<br />
se mostraram favoráveis, m<strong>as</strong> a<br />
DOWEX® (tipos 1X2, 1X4 e 1X8)<br />
adsorveu 100% d<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> de<br />
invert<strong>as</strong>e”, explica. “As vantagens dessa<br />
resina são a não toxicidade, o baixo<br />
custo, o amplo uso e a plena disponibilidade<br />
no mercado”.<br />
Márcia Bl<strong>as</strong>ques, especial para a Agência<br />
USP<br />
Mais informações:<br />
(0XX11)091-2382, <strong>com</strong> o professor<br />
Michele Vitolo, ou pelo e-mail<br />
michenzi@usp.br<br />
Fonte: Agência USP de Notíci<strong>as</strong>
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 93