09.04.2014 Views

Aprendendo com as agrobacterias - Biotecnologia

Aprendendo com as agrobacterias - Biotecnologia

Aprendendo com as agrobacterias - Biotecnologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ano VII • número 32 • janeiro/junho de 2004<br />

Sementes sintétic<strong>as</strong> - Entrevista<br />

Biodiesel<br />

Cultivares e genes<br />

Receptores de Bacillus thuringiensis em insetos<br />

<strong>Aprendendo</strong> <strong>com</strong> <strong>as</strong> agrobactéri<strong>as</strong><br />

As ômic<strong>as</strong>: integrando a bioinformação<br />

Criptosporidiose em camundongos<br />

Micotoxin<strong>as</strong> em alimentos<br />

Produção de fator FVIII por engenharia genética<br />

Açúcares funcionais<br />

Malária em camundongos imunodeficientes<br />

<strong>Biotecnologia</strong> aplicada ao valor nutricional dos alimentos


EM MAIO DE 1997 PLANTAMOS A PRIMEIRA SEMENTE<br />

DE BIOTECNOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA<br />

2 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


AGORA VOCÊ PODE COLHER OS FRUTOS<br />

www.biotecnologia.<strong>com</strong>.br<br />

KL3<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 3


ENTREVISTA<br />

Sementes sintétic<strong>as</strong><br />

O desenvolvimento de sementes encapsulad<strong>as</strong><br />

Entrevista concedida a<br />

Fernanda Diniz<br />

Sementes encapsulad<strong>as</strong>, também chamad<strong>as</strong> de sementes sintétic<strong>as</strong>,<br />

facilita o intercâmbio de espécies vegetais entre países, pois reduz o<br />

espaço, torna o transporte aéreo mais fácil e possibilita o envio de maiores<br />

quantidades.<br />

Uma nova modalidade de cultura de tecidos de plant<strong>as</strong> vai beneficiar muito o<br />

intercâmbio de espécies vegetais entre diferentes países. Trata-se d<strong>as</strong> sementes<br />

sintétic<strong>as</strong>, uma técnica que vem sendo desenvolvida pela Embrapa Recursos<br />

Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong> – uma d<strong>as</strong> 40 unidades de pesquisa da Embrapa,<br />

localizada em Br<strong>as</strong>ília, DF – que consiste no encapsulamento de embriões<br />

somáticos, ápices caulinares ou gem<strong>as</strong> axilares. O encapsulamento é feito <strong>com</strong> uma<br />

matriz de alginato de cálcio (que não é tóxico para a planta), na qual <strong>as</strong> partes da<br />

planta ficam <strong>com</strong>pletamente envolvid<strong>as</strong> e protegid<strong>as</strong>, <strong>as</strong>semelhando-se fisicamente<br />

a uma semente. Essa técnica vai facilitar e intensificar a troca de espécies<br />

vegetais, já que ocupa pouco espaço e, por isso, permite que sejam enviad<strong>as</strong>, de<br />

uma só vez, milhares de sementes.<br />

O encapsulamento está sendo iniciado na Embrapa Recursos Genéticos e<br />

<strong>Biotecnologia</strong> <strong>com</strong> brotos de mandioca, o que é absolutamente inovador no Br<strong>as</strong>il<br />

e no mundo, <strong>com</strong>o explica o coordenador da pesquisa, Dr. Luis Pedro Barrueto Cid.<br />

Ele afirma ainda que essa é uma forma muito eficiente de conservação e propagação<br />

da mandioca, já que <strong>as</strong> variedades <strong>com</strong>erciais não se propagam por sementes e sim<br />

pela forma vegetativa, ou reprodução <strong>as</strong>sexuada.<br />

Os brotos, ou gem<strong>as</strong>, encapsulados ficam em geladeir<strong>as</strong> por 30 di<strong>as</strong> a uma<br />

temperatura de 15ºC. Depois são retirados para germinação. Além de serem de fácil<br />

a<strong>com</strong>odação, por ocuparem pouco espaço, <strong>as</strong> sementes sintétic<strong>as</strong> beneficiam<br />

também a conservação d<strong>as</strong> espécies vegetais, pois podem ser armazenad<strong>as</strong> sem<br />

germinar e não precisam ser repicad<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o n<strong>as</strong> form<strong>as</strong> tradicionais de cultivo in<br />

vitro.<br />

Já está sendo investido, também, o desenvolvimento de testes experimentais<br />

<strong>com</strong> sementes sintétic<strong>as</strong> de café e feijão e os resultados têm sido b<strong>as</strong>tante positivos.<br />

Para o café, em especial, será um resultado muito importante, já que um dos<br />

problem<strong>as</strong> enfrentados para a conservação de sementes, nessa altura, é que el<strong>as</strong> não<br />

podem ficar armazenad<strong>as</strong> por muito tempo pois perdem rapidamente o poder<br />

germinativo.<br />

Para falar sobre essa pesquisa inovadora no Br<strong>as</strong>il e os benefícios que pode<br />

trazer para a pesquisa agrícola no país, a revista <strong>Biotecnologia</strong>, Ciência &<br />

Desenvolvimento, entrevistou no dia 2 de setembro de 2004, o coordenador da<br />

pesquisa de encapsulamento de plant<strong>as</strong>(ou sementes sintétic<strong>as</strong>), na Embrapa<br />

Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong>, Dr. Luis Pedro Barrueto Cid, que é biólogo,<br />

formado pela Universidade do Chile, é Ph.D em Fisiologia Vegetal pela Unicamp,<br />

trabalhou em Cultura de Tecidos na Universidade de Londres e tem pós-doutoramento<br />

pela Universidade da Califórnia. É pesquisador da Embrapa desde 1979.<br />

Confiram, a seguir, a entrevista:<br />

Luis Pedro Barrueto Cid<br />

Embrapa Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong><br />

lpedro@cenargen.embrapa.br<br />

4 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />

4 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


BC&D- O que são exatamente <strong>as</strong><br />

sementes sintétic<strong>as</strong>, ou encapsulad<strong>as</strong>?<br />

Barrueto – O desenvolvimento de<br />

sementes sintétic<strong>as</strong> é uma modalidade<br />

da cultura de tecidos de plant<strong>as</strong>,<br />

que consiste em encapsular embriões<br />

somáticos, ápices caulinares ou gem<strong>as</strong><br />

axilares. O encapsulamento se faz<br />

<strong>com</strong> uma matriz de alginato de cálcio<br />

“<strong>as</strong> sementes sintétic<strong>as</strong> podem ser<br />

enviad<strong>as</strong> em grandes<br />

quantidades(milhares) e em<br />

pequen<strong>as</strong> embalagens”<br />

na qual os explantes ficam <strong>com</strong>pletamente<br />

envolvidos e protegidos, parecendo<br />

exatamente uma semente. Tudo<br />

isto é claro, realizado sob condições<br />

estritamente <strong>as</strong>séptic<strong>as</strong>. O material<br />

encapsulado permanece por 30 di<strong>as</strong><br />

em geladeira a 15ºC. Depois, é retirado<br />

e colocado em estantes na sala de<br />

cultura para germinação a 27ºC. Após<br />

essa f<strong>as</strong>e, vai para o tubo de ensaio,<br />

onde continuará se desenvolvendo in<br />

vitro até o campo. Os testes de<br />

germinação feitos <strong>com</strong> o material após<br />

esse período de 30 di<strong>as</strong> têm sido<br />

muito satisfatórios e já <strong>com</strong>provaram<br />

que o alginato de cálcio não é tóxico às<br />

plant<strong>as</strong>. M<strong>as</strong> ainda não é o tempo ideal<br />

de armazenamento. Vamos iniciar os<br />

testes <strong>com</strong> 60 di<strong>as</strong> e depois p<strong>as</strong>saremos<br />

para 90 di<strong>as</strong>, que é o tempo ideal.<br />

BC&D – E quais são <strong>as</strong> principais<br />

vantagens dessa nova técnica?<br />

Figura 01: Aspecto de micro-estaca de mandioca contendo uma gema axilar após<br />

ser encapsulada numa matriz de alginato de cálcio- “semente sintética”<br />

Barrueto - Hoje em dia, a redução de<br />

custos é uma d<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> maiores preocupações.<br />

E é aí que se encontra um<br />

dos pontos principais de benefício<br />

dessa técnica. O encapsulamento, ou<br />

<strong>as</strong> sementes sintétic<strong>as</strong>, nos permitirão<br />

usar menos espaço em laboratório e<br />

racionalizar melhor a produção de<br />

mud<strong>as</strong>, reduzindo os custos do processo<br />

de cultivo in vitro. No c<strong>as</strong>o de troca<br />

de germopl<strong>as</strong>ma livre de patógenos<br />

<strong>com</strong> outros países, <strong>as</strong> sementes sintétic<strong>as</strong><br />

possibilitam a redução nos custos<br />

de transporte aéreo, já que podem ser<br />

enviad<strong>as</strong> em grandes quantidades (milhares)<br />

em pequen<strong>as</strong> embalagens.<br />

Além disso, a técnica beneficia também<br />

a conservação d<strong>as</strong> espécies vegetais,<br />

pois o material fica armazenado<br />

sem germinar e sem precisar ser repicado.<br />

Para algum<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> agrícol<strong>as</strong>,<br />

que não se propagam por sementes<br />

ou que tenham problem<strong>as</strong> de<br />

armazenamento, essa técnica pode<br />

ser b<strong>as</strong>tante vantajosa.<br />

BC&D – Com que cultur<strong>as</strong> agrícol<strong>as</strong><br />

vocês estão trabalhando? E<br />

por quê?<br />

Figura 02: A semente sintética da Fig. 1 brotando após cinco di<strong>as</strong> a 27ºC, depois de<br />

um período de 30 di<strong>as</strong> a 15ºC.<br />

lhar <strong>com</strong> mandioca, o que é uma<br />

experiência absolutamente inovadora<br />

no Br<strong>as</strong>il e no mundo. A técnica de<br />

encapsulamento é muito eficiente para<br />

a conservação e propagação dessa<br />

cultura porque <strong>as</strong> variedades <strong>com</strong>erciais<br />

não se propagam por sementes e<br />

sim pela forma vegetativa, ou reprodução<br />

<strong>as</strong>sexuada. No c<strong>as</strong>o da mandioca,<br />

são usad<strong>as</strong> gem<strong>as</strong> (brotos), m<strong>as</strong><br />

em outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>, podem ser usados<br />

embriões somáticos – aqueles que<br />

repetem <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> iguais aos<br />

pais e, por isso, dão origem a clones –<br />

ou ápices caulinares. Até agora os<br />

nossos resultados experimentais têm<br />

Barrueto – Nós <strong>com</strong>eçamos a trabamostrado<br />

que gem<strong>as</strong> axilares de mandioca<br />

são perfeitamente encapsuláveis<br />

e o que é melhor, os testes de germinação<br />

<strong>com</strong> ess<strong>as</strong> “sementes”, em condições<br />

de laboratório, têm demonstrado<br />

excelentes resultados mesmo depois<br />

de 30 di<strong>as</strong> a 15º C, o que é muito<br />

positivo, considerando o caráter tropical<br />

da planta. Já iniciamos também o<br />

processo de desenvolvimento de sementes<br />

sintétic<strong>as</strong> de café, através do<br />

encapsulamento de embriões<br />

somáticos, e de feijão, a partir de<br />

embriões zigóticos – oriundos de reprodução<br />

sexual – e os resultados<br />

também têm sido muito favoráveis.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 5<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 5


“o material fica armazenado sem<br />

germinar e sem precisar ser<br />

repicado. Para algum<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong><br />

agrícol<strong>as</strong>, essa técnica pode ser<br />

b<strong>as</strong>tante vantajosa.”<br />

Figura 03: O broto da Fig. 2 crescendo e enraizando em tubo de ensaio contendo<br />

meio SP e dando origem a uma nova muda de mandioca <strong>com</strong> 20 di<strong>as</strong> de idade<br />

empresa de biotecnologia estava interessada<br />

em <strong>com</strong>ercializar mud<strong>as</strong> de<br />

mandioca através de embriogênese<br />

somática, porém estava se defrontando<br />

<strong>com</strong> sérios problem<strong>as</strong> de vitrificação,<br />

um distúrbio funcional de plant<strong>as</strong> in<br />

vitro, que causa anomali<strong>as</strong> em sua<br />

estrutura. Além de ameaçar a sobrevivência<br />

da planta, esse fenômeno prejudica<br />

e, às vezes, até anula o seu valor<br />

<strong>com</strong>ercial. Pois bem, a vitrificação não<br />

ocorre no c<strong>as</strong>o de sementes sintétic<strong>as</strong><br />

via gem<strong>as</strong> axilares e, por isso, percebi<br />

que poderia ser uma ótima opção para<br />

o mercado de <strong>com</strong>ercialização de mud<strong>as</strong><br />

de mandioca. Trouxe a idéia para<br />

a Embrapa e <strong>com</strong>eçamos a trabalhar.<br />

Até agora, os resultados têm sido muito<br />

positivos.<br />

BC&D – Como é uma técnica nova,<br />

vocês têm enfrentado problem<strong>as</strong><br />

técnicos para o desenvolvimento<br />

dessa tecnologia?<br />

Barrueto – Não. Até o momento não<br />

nos defrontamos <strong>com</strong> problem<strong>as</strong> técnicos.<br />

M<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o em toda pesquisa,<br />

há sempre novos parâmetros a serem<br />

testados <strong>com</strong>o, por exemplo, testes<br />

de armazenamento mais longos, outr<strong>as</strong><br />

temperatur<strong>as</strong> e cultivares, etc.<br />

Figura 04: Aspecto de semente sintética de café: embrião somático encapsulado<br />

num estágio b<strong>as</strong>tante imaturo<br />

Para o café, essa metodologia é especialmente<br />

importante porque <strong>as</strong> sementes<br />

não podem ser armazenad<strong>as</strong><br />

por muito tempo pois perdem rapidamente<br />

o poder germinativo.<br />

BC&D- Como surgiu a idéia de<br />

desenvolver sementes sintétic<strong>as</strong>?<br />

Barrueto - Bem, na literatura referente<br />

à cultura de tecidos, existem relatos<br />

de sementes sintétic<strong>as</strong> em banana,<br />

6 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />

6 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />

morango, etc. Diante da relevância e<br />

d<strong>as</strong> possibilidades favoráveis de utilização<br />

dessa técnica, a nossa equipe na<br />

Embrapa Recursos Genéticos e<br />

<strong>Biotecnologia</strong> resolveu tentar<br />

desenvolvê-la <strong>com</strong> mandioca. M<strong>as</strong>,<br />

além disso, outro fato me chamou a<br />

atenção para o desenvolvimento dessa<br />

nova modalidade de cultura de<br />

tecidos. Quando estive na Califórnia<br />

em 2003, por oc<strong>as</strong>ião do meu pósdoutorado,<br />

soube que uma grande<br />

BC&D – Essa é uma pesquisa básica<br />

ou aplicada?<br />

Barrueto - Essa é uma pesquisa de<br />

caráter aplicado porque não busca<br />

expandir o leque de conhecimento<br />

por puro diletantismo, <strong>com</strong>o nos<br />

tempos de Newton ou Mendel.<br />

Estamos em busca de soluções. Nessa,<br />

<strong>com</strong>o em outr<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong><br />

desenvolvid<strong>as</strong> pela Embrapa, a<br />

produção de conhecimento tem que<br />

estar amarrada a uma solução<br />

tecnológica, dentro de um prazo. Não<br />

podemos esquecer que a Embrapa é<br />

uma instituição publica que tem <strong>com</strong>o<br />

preocupação aumentar a eficiência


produtiva do setor agropecuário e<br />

reduzir a dependência externa de<br />

tecnologi<strong>as</strong>, dentre outr<strong>as</strong> atribuições.<br />

BC&D – A pesquisa de sementes<br />

sintétic<strong>as</strong> é desenvolvida isolada<br />

ou faz parte de outr<strong>as</strong> atividades<br />

relacionad<strong>as</strong> à cultura da mandioca?<br />

Barrueto – O desenvolvimento de<br />

sementes sintétic<strong>as</strong> de mandioca está<br />

inserido dentro de um projeto maior<br />

de pesquisa de mandioca desenvolvido<br />

pela equipe de pesquisadores da<br />

Embrapa Recursos Genéticos e<br />

<strong>Biotecnologia</strong>, liderada pelo Dr. Luiz<br />

Joaquim C<strong>as</strong>telo Branco, que tem <strong>com</strong>o<br />

objetivo enriquecer a raiz da planta<br />

<strong>com</strong>o alimento básico d<strong>as</strong> populações<br />

de baixa renda. A raiz da mandioca é<br />

constituída b<strong>as</strong>icamente de amido e o<br />

que o projeto pretende é torná-la mais<br />

nutritiva, através da incorporação de<br />

proteín<strong>as</strong> e carotenóides(vitamina. A).<br />

Essa é apen<strong>as</strong> uma d<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> desenvolvid<strong>as</strong><br />

pela Embrapa hoje para<br />

atender e melhorar a qualidade de<br />

vida d<strong>as</strong> populações mais carentes.<br />

Dessa forma, a Embrapa transforma o<br />

dinheiro público em conhecimento<br />

<strong>com</strong>petitivo.<br />

BC&D – De que forma essa pesquisa<br />

pode beneficiar o mercado no<br />

Br<strong>as</strong>il?<br />

Barrueto - Com o fim da guerra fria,<br />

surge uma nova economia, sensivelmente<br />

dependente do conhecimento<br />

científico renovado. Hoje, os setores<br />

empresariais do agronegócio não só<br />

no Br<strong>as</strong>il <strong>com</strong>o no mundo estão b<strong>as</strong>tante<br />

conscientes acerca dessa nova<br />

realidade e prontos para encarar em<br />

melhores condições a lógica do custo/<br />

beneficio e da <strong>com</strong>petição. Prova disso<br />

é que atualmente há muito interesse<br />

dos empresários em conhecer os<br />

novos caminhos que a ciência lhes<br />

proporciona. Esse mês de setembro,<br />

por exemplo, tenho marcada na minha<br />

agenda uma reunião <strong>com</strong> dois<br />

empresários do agronegócio, que vêm<br />

em busca de novos subsídios<br />

tecnológicos dentro da área da cultura<br />

de tecidos. Pois então, é a ciência<br />

criando nov<strong>as</strong> expectativ<strong>as</strong> para a sociedade.<br />

A mandioca é uma cultura<br />

“Estamos em busca de soluções. A<br />

produção de conhecimento tem que<br />

estar amarrada a uma solução<br />

tecnológica, dentro de um prazo.”<br />

agrícola <strong>com</strong> muito potencial para despertar<br />

o interesse do empresariado<br />

br<strong>as</strong>ileiro, já que além de ser um alimento<br />

nutritivo e saboroso, é também<br />

uma verdadeira fábrica de produção<br />

de amido <strong>com</strong> inúmer<strong>as</strong> possibilidades<br />

de derivações industriais.<br />

BC&D - Com tanta apologia feita<br />

hoje aos produtos naturais e orgânicos,<br />

você teme que possa haver<br />

alguma reação negativa da sociedade<br />

a essa pesquisa, por se tratar<br />

de “sementes sintétic<strong>as</strong>”?<br />

Barrueto – Essa é uma questão importante<br />

e é fundamental que fique<br />

claro que, apesar do nome, esse é um<br />

processo natural, que tem <strong>com</strong>o único<br />

objetivo facilitar a conservação e a<br />

propagação d<strong>as</strong> espécies vegetais,<br />

especialmente daquel<strong>as</strong> de importância<br />

alimentar para a população br<strong>as</strong>ileira.<br />

Não há nada nesse trabalho que<br />

possa <strong>com</strong>prometer a ética. M<strong>as</strong> é<br />

sempre bom salientar que o conhecimento<br />

cientifico é neutro. Eu reconheço<br />

e endosso a preocupação da<br />

sociedade civil em impor limites éticos<br />

às descobert<strong>as</strong> científic<strong>as</strong>. Por isso<br />

mesmo é que acho importante que se<br />

utilize dos mecanismos de controle<br />

que tem à disposição, <strong>com</strong>o a imprensa,<br />

<strong>as</strong> ONG’s, o poder judicial, etc. O<br />

problema é que muit<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong> discussões<br />

científic<strong>as</strong> tendem para o lado<br />

emocional, o que só resulta em sensacionalismo<br />

e mais confusão para o<br />

público em geral. N<strong>as</strong> discussões<br />

entre ciência e sociedade, é premente<br />

que ambos os lados tenham o mesmo<br />

espaço na mídia, para que o debate<br />

possa ser saudável e equilibrado.<br />

Figura 05: Germinação de embrião da<br />

Fig. 4 em meio básico SP, após 25 di<strong>as</strong> a<br />

27ºC e depois de 30 di<strong>as</strong> a 15ºC<br />

Figura 06: Aspecto de embrião zigótico de feijão logo após ter sido encapsulado<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 7<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 7


Colaboraram nesta edição<br />

BIOTECNOLOGIA Ciência & Desenvolvimento<br />

KL3 Publicações Ltda<br />

Fundador<br />

Dr. Henrique da Silva C<strong>as</strong>tro<br />

Direção Geral e Edição<br />

Ana Lúcia de Almeida<br />

Diagramação e design<br />

Luiz Dourado Bezerra<br />

E-mail<br />

biotecnologia@biotecnologia.<strong>com</strong>.br<br />

Home-Page<br />

www.biotecnologia.<strong>com</strong>.br<br />

Projeto Gráfico<br />

KL3 Publicações Ltda<br />

SHIN CA 02 Bloco "C"<br />

Edifício Garden Place sal<strong>as</strong> 225/226<br />

Lago Norte - Br<strong>as</strong>ília - DF<br />

Cep 71503-502<br />

Tel.: (061) 468-6099<br />

Fax: (061) 468-3214<br />

Aline Maísa Mendes<br />

Aluízio Borém<br />

Ana Maria Aparecida Guaraldo<br />

Antônio Américo Barbosa Viana<br />

Delma Pegolo Alves<br />

Dim<strong>as</strong> Tadeu Cov<strong>as</strong><br />

Elisa Yoko Hirooka<br />

Elisabete Yurie Sataque Ono<br />

Eliseu Binneck<br />

Fabiana Martins Batista Motta<br />

Fernanda Diniz<br />

Gabriela Alves Macedo<br />

Gláucia Maria P<strong>as</strong>tore<br />

Juliana Alves Macedo<br />

Leila Maria Gomes Barros<br />

Lídia Mariana Fiúza<br />

Luis Pedro Barrueto Cid<br />

Marcos Barros de Medeiros<br />

Mareci Mendes de Almeida<br />

Maria Helena Seabra de Brito<br />

Mario Augusto Ono<br />

Mauro Carneiro<br />

Neuza Maria Brunoro Costa<br />

Paula Garcia Meirelles<br />

Sven Becker<br />

Torsten Tonn<br />

Virginia Proença Picanco<br />

NOTA: Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> edições da Revista <strong>Biotecnologia</strong><br />

Ciência & Desenvolvimento estão sendo indexad<strong>as</strong><br />

para o AGRIS (International Information System for<br />

the Agricultural Sciences and Technology) da FAO<br />

e para a AGROBASE (B<strong>as</strong>e de Dados da Agricultura<br />

Br<strong>as</strong>ileira).<br />

Os artigos <strong>as</strong>sinados são de<br />

inteira responsabilidade<br />

de seus autores.<br />

ISSN 1414-6347<br />

Portal <strong>Biotecnologia</strong> - www.biotecnologia.<strong>com</strong>.br<br />

8 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Conselho Científico<br />

Dr. Aluízio Borém - Genética e Melhoramento Vegetal<br />

Dr. Henrique da Silva C<strong>as</strong>tro - Saúde;<br />

Dr. Ivan Rud de Moraes - Saúde - Toxicologia;<br />

Dr. João de Deus Medeiros - Embriologia Vegetal;<br />

Dr. Naftale Katz - Saúde;<br />

Dr. Pedro Jurberg - Ciênci<strong>as</strong>;<br />

Dr. Sérgio Costa Oliveira - Imunologia e Vacin<strong>as</strong>;<br />

Dr. V<strong>as</strong>co Ariston de Carvalho Azevedo - Genética de Microorganismos;<br />

Dr. William Gerson Mati<strong>as</strong> - Toxicologia Ambiental.<br />

Conselho Br<strong>as</strong>ileiro de Fitossanidade - Cobrafi<br />

Dr. Luís Carlos Bhering N<strong>as</strong>ser - Fitopatologia<br />

Fundação Dalmo Catauli Gia<strong>com</strong>etti<br />

Dr. Eugen Silvano Gander - Engenharia Genética;<br />

Dr. José Manuel Cabral de Sousa Di<strong>as</strong> - Controle Biológico;<br />

Dra. Marisa de Goes - Recursos Genéticos<br />

Instituto de Pesquis<strong>as</strong> Energétic<strong>as</strong> e Nucleares - IPEN<br />

Dr. José Roberto Rogero<br />

Sociedade Br<strong>as</strong>ileira de <strong>Biotecnologia</strong> - SBBiotec<br />

Dr. Luiz Antonio Barreto de C<strong>as</strong>tro - EMBRAPA<br />

Dr. Diógenes Santiago Santos - UFRGS<br />

Dr. José Luiz Lima Filho - UFPE<br />

Dra. Elba P. S. Bon - UFRJ<br />

Entrevista<br />

Sementes sintétic<strong>as</strong> pág. 04<br />

Pesquisa<br />

Açúcares funcionais pág. 10<br />

<strong>Aprendendo</strong> <strong>com</strong> <strong>as</strong> agrobactéri<strong>as</strong> pág. 15<br />

As ômic<strong>as</strong>: Integrando a bioinformação pág. 28<br />

Biodiesel pág. 38<br />

<strong>Biotecnologia</strong> aplicada ao valor nutricional dos alimentos pág. 47<br />

Criptosporidiose em camundongos pág. 55<br />

Cultivares e genes pág. 61<br />

Malária em camundongos imunodeficientes pág. 64<br />

Micotoxin<strong>as</strong> em alimentos pág. 69<br />

Produção de fator FVIII por engenharia genética pág. 81<br />

Receptores de Bacillus thuringiensis em insetos pág. 84<br />

BioNotíci<strong>as</strong><br />

pág. 90<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 9


Pesquisa<br />

Açúcares funcionais<br />

Galactooligossacarídeos<br />

Produção de galactooligossacarídeos por β-galactosid<strong>as</strong>e utilizando metodologia de superfície de resposta<br />

Mareci Mendes de Almeida<br />

Prof. Dr. Depto de Engenharia de Alimentos,<br />

Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG<br />

mareci@uepg.br<br />

Gláucia Maria P<strong>as</strong>tore<br />

Prof. Titular, Depto de Ciência de Alimentos<br />

Universidade Estadual de Campin<strong>as</strong> -UNICAMP<br />

glaup<strong>as</strong>t@fea.unicamp.br<br />

Fotos cedid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> autor<strong>as</strong><br />

1. Introdução<br />

s oligossacarídeos são<br />

açúcares encontrados<br />

naturalmente em<br />

muitos alimentos <strong>com</strong>o<br />

frut<strong>as</strong>, vegetais, leite e<br />

mel. Alguns destes não apresentam só<br />

a função nutricional ou de adoçante,<br />

m<strong>as</strong> também exibem atividade<br />

fisiológica, sendo <strong>as</strong>sim denominados<br />

de alimentos funcionais (Nakano,<br />

1998). Eles melhoram a qualidade dos<br />

alimentos, promovendo uma<br />

modificação no “flavor”, n<strong>as</strong><br />

característic<strong>as</strong> físico-químic<strong>as</strong><br />

apresentam propriedades benéfic<strong>as</strong><br />

para a saúde do consumidor<br />

(Crittenden e Playne, 1996).<br />

Nos últimos anos o interesse e<br />

consumo de oligossacarídeos têm<br />

crescido muito, particularmente no<br />

Japão e Europa. Em 1991 o governo<br />

japonês criou o termo FOSHU (food<br />

for specified health use) para os<br />

alimentos funcionais. Em 1996 havia<br />

58 alimentos listados, e entre estes 34<br />

incorporavam oligossacarídeos<br />

(Crittenden e Playne, 1996), em 2003<br />

foram mais de 300 alimentos relatados<br />

<strong>com</strong>o FOSHU, sendo que 30% destes<br />

apresentavam oligossacarídeos em<br />

sua formulação (Taniguchi, 2004).<br />

Os açúcares dos alimentos são<br />

determinantes para a <strong>com</strong>posição da<br />

microflora intestinal (Sako et al.,<br />

1999). Os carboidratos que participam<br />

da dieta podem ser cl<strong>as</strong>sificados <strong>com</strong><br />

b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> propriedades fisiológic<strong>as</strong> de<br />

digeríveis ou não-digeríveis, havendo<br />

três principais tipos de carboidratos<br />

não-digeríveis: os polissacarídeos nãoamídicos,<br />

os amidos resistentes e os<br />

oligossacarídeos não-digeríveis<br />

(Voragen, 1998), estando neste grupo<br />

incluídos os galactooligossacarídeos<br />

(GOS).<br />

Os GOS apresentam configuração<br />

β e <strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> digestiv<strong>as</strong> g<strong>as</strong>trointestinais<br />

human<strong>as</strong> são principalmente<br />

específic<strong>as</strong> para ligações α, sendo<br />

então resistentes à digestão e absorção<br />

no intestino atingindo o cólon, onde<br />

são fermentados, promovendo um<br />

aumento d<strong>as</strong> bifidobactéri<strong>as</strong> (Sako,<br />

1999) e redução d<strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong> deteriorador<strong>as</strong>,<br />

consequentemente oc<strong>as</strong>ionando<br />

efeitos benéficos para a saúde<br />

humana <strong>com</strong> a redução de metabólitos<br />

tóxicos (Modler, 1994; Tomomatsu,<br />

1994). A ingestão de GOS aumenta<br />

a mineralização óssea e a resistência<br />

contra fratur<strong>as</strong>, devido à estimulação<br />

da absorção de cálcio (Brouns e<br />

Vermmer, 2000). Ainda são usados em<br />

confeitos, gom<strong>as</strong> de m<strong>as</strong>car, iogurtes<br />

e bebid<strong>as</strong> <strong>com</strong>o açúcares de baixa<br />

cariogenicidade, pois não são metabolizados<br />

pela microflora bucal para<br />

formar ácidos e poliglucan<strong>as</strong>.<br />

A formação de GOS a partir da<br />

lactose é influenciada por diversos<br />

fatores <strong>com</strong>o a fonte e concentração<br />

da enzima, pH, temperatura e<br />

concentração do substrato (Mahoney,<br />

1998; Rustom et al., 1998). Quanto<br />

mais lactose houver no sistema maior<br />

será a produção de GOS (López-Leiva<br />

e Gusman, 1995; Albayrak e Yang,<br />

2002; Roy et al., 2002). Os GOS são<br />

<strong>com</strong>postos de lactose e unidades de<br />

galactose, produzidos <strong>com</strong>ercialmente<br />

por reação enzimática onde resíduos<br />

de galactose são ligados na lactose<br />

(Zaraté e López-Leiva, 1990).<br />

Para se estudar os efeitos dos<br />

fatores por análise univariável, além<br />

de necessitar de um grande número<br />

10 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Tabela 1 – Fatores e níveis estudados no planejamento experimental<br />

fatorial de 2 níveis<br />

Fatores<br />

Enzima<br />

(U/mL)<br />

Tabela 2 – Matriz dos experimentos para planejamento experimental fatorial de<br />

dois níveis e a porcentagem de área de 4’gal-lactose formados<br />

Ensaios<br />

Enzima<br />

pH<br />

Níveis<br />

-1,68<br />

-1<br />

0 + 1 +1,6 8<br />

2,64<br />

4 6 8 9,3 6<br />

pH<br />

4,3<br />

2 5 6 7 7,6 8<br />

T emperatura<br />

( ºC)<br />

31,<br />

6 35<br />

40<br />

45<br />

48, 4<br />

T emperatura<br />

4'gal-lactose (%)<br />

1 -1<br />

-1<br />

-1<br />

20,1 3<br />

2 + 1 -1<br />

-1<br />

18,8 1<br />

3 -1<br />

+ 1 -1<br />

20,2 5<br />

4 + 1 + 1 -1<br />

20,9 2<br />

5 -1<br />

-1<br />

+ 1<br />

18,8 3<br />

6 + 1 -1<br />

+ 1<br />

16,3 7<br />

7 -1<br />

+ 1 + 1<br />

20,3 0<br />

8 + 1 + 1 + 1<br />

19,4 5<br />

9 -1,6<br />

8 0 0 20,5 6<br />

10<br />

+ 1,6 8 0 0 18,2 0<br />

11<br />

0 -1,6<br />

8 0 17,8 5<br />

12<br />

0 + 1,6 8 0 21,0 0<br />

13<br />

0 0 -1,6<br />

8<br />

20,4 5<br />

14<br />

0 0 + 1,6 8<br />

17,8 5<br />

15<br />

0 0 0 19,5 6<br />

16<br />

0 0 0 19,1 9<br />

17<br />

0 0 0 19,3 1<br />

Figura 1 – Estrutura do galactooligossacarídeo 4’galactosil lactose<br />

de experimentos a avaliação só pode<br />

ser feita individualmente, onde um fator<br />

é fixado num valor e varia-se o<br />

outro até descobrir o valor que produz<br />

o maior rendimento, sem se levar em<br />

conta que ocorre interação entre <strong>as</strong><br />

variáveis (Barros Neto et al., 1995).<br />

Utilizando-se da metodologia de superfície<br />

de resposta pode-se obter<br />

<strong>com</strong>o resultado a interação dos fatores<br />

e uma faixa de melhor atuação.<br />

2. Materiais e métodos<br />

A enzima β-galactosid<strong>as</strong>e foi sintetizada<br />

pelo fungo Scopulariopsis sp<br />

isolado por P<strong>as</strong>tore e Park (1979). O<br />

microrganismo foi produzido por fermentação<br />

semi-sólida, cultivado em<br />

farelo de trigo e água na proporção<br />

de 1:1 (p/v). Em fr<strong>as</strong>co erlenmeyer<br />

de 500 mL contendo 20g de substrato,<br />

foi adicionada uma suspensão de<br />

esporos (10 8 esporos/mL) e incubado<br />

a 30ºC por 7 di<strong>as</strong>. Após o crescimento<br />

foi adicionada água destilada e o meio<br />

triturado <strong>com</strong> b<strong>as</strong>tão de vidro para liberação<br />

da enzima, obtendo-se após filtração<br />

o extrato enzimático, que foi<br />

tratado <strong>com</strong> sulfato de amônio a 80%.<br />

O precipitado obtido (enzima bruta)<br />

foi dialisado contra água, centrifugado<br />

e liofilizado.<br />

A atividade da β-galactosid<strong>as</strong>e (EC<br />

3.2.1.23 β-galactosídeo galactohidrol<strong>as</strong>e)<br />

foi determinada usando o-nitrofenil-β-D-galactopiranosídeo<br />

(ONPG)<br />

<strong>com</strong>o substrato. O meio de reação<br />

constou de 1,55 mL de ONPG 0,25%<br />

em tampão acetato de sódio 0,1M a<br />

pH 5,0; 0,15 mL de solução enzimática,<br />

sendo a mistura incubada a 60ºC<br />

por 15 minutos, a reação foi paralisada<br />

<strong>com</strong> 0,15 mL de carbonato de sódio<br />

a 10%. Para analisar o produto da<br />

reação foi utilizado espectrofotômetro<br />

e a absorbância medida a 420 nm,<br />

contra branco. Uma unidade de atividade<br />

de β-galactosid<strong>as</strong>e foi definida<br />

<strong>com</strong>o a quantidade de enzima que libera<br />

1µmol de o-nitrofenol por minuto<br />

em 1 mL, n<strong>as</strong> condições de ensaio.<br />

O sistema de reação para a<br />

produção de galactooligossacarídeos<br />

consistiu na mistura da enzima β-galactosid<strong>as</strong>e<br />

<strong>com</strong> solução de lactose a<br />

40% (p/v), preparada em tampões<br />

<strong>com</strong> valores de pH preestabelecidos.<br />

Foi utilizado um planejamento fatorial<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 11


Figura 2 – Efeito do pH e da temperatura na produção de 4’gal-lactose, utilizando<br />

6U/mL de β-galactosid<strong>as</strong>e<br />

Figura 3 – Efeito da temperatura e da concentração de β-galactosid<strong>as</strong>e na<br />

produção de 4’gal-lactose em pH 6,0<br />

Tabela 3 – Efeito da concentração da enzima, pH e temperatura na síntese de<br />

galactooligossacarídeos<br />

Efeitos<br />

E rro puro<br />

t(2)<br />

Média<br />

19,37<br />

4 0,05<br />

6 340,40<br />

7 0,00000 9<br />

( 1) Enzima (L) - 0,99 0 0,13<br />

3 -7,41<br />

6 0,01769 7<br />

( 2) pH (L) 1,69<br />

5 0,13<br />

3 12,69<br />

8 0,00614 4<br />

(3) Temperatura<br />

(L)<br />

-1,290<br />

0,13<br />

3 - 9,66 4 0,01053 8<br />

( 1) e (2) 0,90<br />

0 0,13<br />

3 6,74<br />

2 0,02129 6<br />

( 1) e (3) -0,66<br />

5 0,13<br />

3 -4,98<br />

2 0,03800 7<br />

( 2) e (3) 0,58<br />

0 0,13<br />

3 4,34<br />

5 0,04909 5<br />

p<br />

<strong>com</strong>pleto 2 3 , os níveis de estudo estão<br />

apresentados na tabela 1. Foram<br />

analisad<strong>as</strong> <strong>as</strong> variáveis independentes:<br />

pH, temperatura e concentração de<br />

enzima, e a variável dependente:<br />

síntese do galactoligossacarídeo<br />

4’galactosil-lactose (Figura 1). Após 24<br />

hor<strong>as</strong> o experimento foi interrompido<br />

pela inativação da enzima em banho<br />

fervente por 10 minutos e os produtos<br />

foram analisados por cromatografia<br />

líquida de alta eficiência (cromatógrafo<br />

Waters) <strong>com</strong> coluna Supelcogel TM Ca<br />

(300x7,8mm), tendo <strong>com</strong>o f<strong>as</strong>e móvel<br />

a água <strong>com</strong> fluxo de 0,5 mL/min a<br />

80ºC e detectados por índice de<br />

refração. A análise estatística dos<br />

resultados foi realizada através do software<br />

STATISTICA utilizando Experimental<br />

design.<br />

3. Resultados e discussão<br />

Os resultados da análise<br />

correspondentes ao planejamento<br />

fatorial de dois níveis são apresentados<br />

na tabela 2, toda a análise foi realizada<br />

<strong>com</strong> os valores d<strong>as</strong> variáveis<br />

dependentes codificados. A resposta<br />

considerada foi a porcentagem de<br />

área do galactooligossacarídeo<br />

4’galactosil-lactose (4’gal-lactose). As<br />

variáveis pH, temperatura e<br />

concentração de enzima e su<strong>as</strong><br />

interações foram significativ<strong>as</strong> a nível<br />

de 10%.<br />

Conforme demonstrado na tabela<br />

3, o efeito da concentração de enzima,<br />

do nível –1 para +1, foi negativo,<br />

indicando que 4U/mL (-1) de enzima<br />

apresentou melhor produção de 4’gallactose<br />

do que 8U/mL (+1), o que<br />

pode ser <strong>com</strong>provado analisando <strong>as</strong><br />

figur<strong>as</strong> 3 e 4, onde se observa a<br />

tendência de aumentar a síntese de<br />

galactooligossacarídeos <strong>com</strong> a<br />

diminuição da concentração de<br />

enzima.<br />

O efeito do pH, quando houve<br />

aumento do nível –1 para +1, foi<br />

positivo, <strong>as</strong>sim na faixa estudada o<br />

valor de pH 7,0 foi melhor, para a<br />

síntese do galactooligossacarídeo, que<br />

o valor de pH 5,0, havendo uma<br />

tendência de se trabalhar <strong>com</strong> valores<br />

de pH menos ácidos (figur<strong>as</strong> 2 e 4).<br />

Quando analisada a variação da<br />

temperatura o efeito foi negativo<br />

indicando que a temperatura no nível<br />

12 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Tabela 4 - Análise de variância (ANOVA) para formação de 4’gal-lactose<br />

Soma<br />

quadrática<br />

Graus de<br />

liberdade<br />

mais baixo (35ºC) foi mais adequada<br />

para o sistema, e em temperatur<strong>as</strong><br />

mais alt<strong>as</strong> a tendência é diminuir a<br />

produção de 4’gal-lactose (figur<strong>as</strong> 2 e<br />

3).O modelo matemático obtido<br />

através da análise estatística é<br />

apresentado na equação abaixo <strong>com</strong><br />

R 2 = 0,9838, onde x 1<br />

= enzima, x 2<br />

=<br />

pH e x 3<br />

= temperatura:<br />

Conforme a tabela 4, a análise de<br />

variância demonstra que o modelo é<br />

preditivo e estatisticamente significativo<br />

<strong>com</strong> a relação Fcal/Ftab de 41,19;<br />

p


Barros Neto, B.; Scarminio, I. S.; Bruns<br />

R. E. Planejamento e otimização<br />

de experimentos. 2 ed. Campin<strong>as</strong>,<br />

SP: Editora da Unicamp, 1995,<br />

299p.<br />

Berger, J.L.; Lee, B.H.; Lacroix, C. Oligosaccharides<br />

synthesis by free<br />

and immobilized β-galactosid<strong>as</strong>es<br />

from Thermus aquaticus YT-1.<br />

Biotechnology Letters. v.17, n.<br />

10, p.1077-1080, 1995.<br />

Brouns, F.; Vermeer, C. Functional food<br />

ingredients for reducing the risks<br />

of osteoporosis. Trends in Food<br />

Science & Technology. v. 11, p.<br />

22-33, 2000.<br />

Burvall, A.; Asp, N.G.; Dahlqvist, A.<br />

Oligosaccharide formation during<br />

hydrolysis of lactose with Saccharomyces<br />

lactis lact<strong>as</strong>e (Maxilat ® ) –<br />

Part 1.Food Chemistry.v.4, p. 243-<br />

250, 1979.<br />

Crittenden, R.G.; Playne, M.J. Production,<br />

properties and apllications of<br />

food-grade oligosaccharides. Trends<br />

in Food Science & Technology.<br />

v.7, n.11, p.353-361, 1996.<br />

Gorin, P. A.J.; Spencer, J.F.T.; Phaff, H.J.<br />

The structures of galactosyl-lactose<br />

and galactobiosyl-lactose produced<br />

from lactose by Sporobolomyces<br />

singularis. Canadian<br />

Journal of Chemistry. v. 42,<br />

1964.<br />

López-Leiva, M.; Guzman, M. Formation<br />

of oligosaccharides during enzymic<br />

hydrolysis of milk whey<br />

permeates. Process Biochemistry.<br />

v. 30, n. 8, p. 757-762, 1995.<br />

Mahoney, R. R. Galactosyl-oligosaccharide<br />

formation during lactose<br />

hydrolysis: a review. Food Chemistry.<br />

v. 63, n. 2 p. 147-154,<br />

1998.<br />

Modler, H.W. Bifidogenic factors – Sources,<br />

metabolism and applications.<br />

International Dairy Journal. v.<br />

4, p. 383-407, 1994.<br />

Nakano, H. Recente japanese development<br />

in the enzymatic production<br />

and application of oligosaccharides;<br />

apresentado no<br />

Seminar on enzyme and bacterial<br />

technology, 1998, Campin<strong>as</strong>. Japan<br />

International Cooperation<br />

Agency, [s.d.].<br />

Ohtsuoka, K.; Benno, Y.; Endo, K.;<br />

Ueda, H.; Ozawa, O.; Uchida, T.;<br />

Mitsuoka, T. Effects of 4’galactosyl-lactose<br />

intake on human fecal<br />

flora. Bifidus. v. 2, p. 143-149,<br />

1989.<br />

Onishi, N.; Tanaka, T. Purification and<br />

properties of a novel thermostable<br />

galacto-oligosaccharide producing<br />

β-galctosid<strong>as</strong>es from Sterigmatomyces<br />

elviae CBS8119. Applied<br />

and Environmental Microbiology.<br />

v. 61, n.11, p.4026-4030,<br />

1995.<br />

Onishi, N.; Tanaka, T. Purification and<br />

characterization of galacto-oligosaccharide-producing<br />

β-galactosid<strong>as</strong>e<br />

from Sirob<strong>as</strong>idium magnum.<br />

Letters in Applied Microbiology.<br />

v. 24, p. 82-86, 1997.<br />

P<strong>as</strong>tore, G.M.; Park, Y.K. Screening of<br />

high b-galactosid<strong>as</strong>e-producing<br />

fungi and characterizing the hidrolysis<br />

properties of a selected strain.<br />

Journal of Food Science. v. 44,<br />

p. 1577-1579, 1979.<br />

Perrin, V.; Fenet, B.; Praly, J.; Lecroix,<br />

F.; Dung Ta, C. Identification and<br />

synthesis of trisaccharides produced<br />

from lactose by transgalactosylation.<br />

Carbohydrate Research.<br />

v. 325, p. 202-210, 2000.<br />

Prak<strong>as</strong>h, S.; Suyama, K.; Itoh, T.; Adachi.<br />

S. Oligosaccharide formation<br />

by Trichoderma harzianum in lactose<br />

containig medium. Biotechnology<br />

Letters. v. 9, n.4, p.249-<br />

252, 1987.<br />

Roy, D.; Daoudi, L.; Azaola, A. Optimization<br />

of galacto-oligosaccharide<br />

production by Bifidobacterium<br />

infantis RW-8120 using response<br />

surface methodology. Journal of<br />

Industrial Microbiology and<br />

Biotechnology. v. 29, n. 5, p.<br />

281-285, 2002.<br />

Rustom, I.Y.S.; Foda, M. I.; López-Leiva,<br />

M. H. Formation of oligosaccharides<br />

from whey UF-permeate<br />

by enzymatic hydrolysis – analysis<br />

of factors. Food Chemistry. v. 62,<br />

n. 2. p. 141-147, 1998.<br />

Sako, T.; Matsumoto. K.; Tanaka, R.<br />

Recent progress on research and<br />

applications of non-digestible galacto-oligosacharides.<br />

International<br />

Dairy Journal. v.9, p.69-80,<br />

1999.<br />

Shin, H.; Park, J.; Yang, J. Continuous<br />

production of galacto-oligosaccharides<br />

from lactose by Bullera singularis<br />

β-galactosid<strong>as</strong>e immobilized<br />

in chitosan beads. Process<br />

Biochemistry. v. 33, n.8, p.787-<br />

792, 1998.<br />

Tanaka, R.; Takayama, H.; Morotomi,<br />

M.; Kuroshima, T.; Ueyama, S.;<br />

Matsumoto, K.; Kuroda, A.; Mutai,<br />

M. Effects of administration of TOS<br />

and Bifidobacterium breve 4006<br />

on the human fecal flora. Bifidobacteria<br />

Microflora. v. 2, n. 1, p.<br />

17-24, 1983.<br />

Taniguchi, H. Carbohydrate Research<br />

and Industry in Japan and the Japanese<br />

Society of Applied Glycoscience.<br />

Starch. v. 56, p. 1-5, 2004.<br />

Toba, T.; Yokota, A. E.; Adachi, S.<br />

Oligosaccharide structures formed<br />

during the hydrolysis of lactose by<br />

Aspergillus oryzae β-galactosid<strong>as</strong>e.<br />

Food Chemistry. v. 16, p.<br />

147-162, 1985.<br />

Tomomatsu, H. Health effects of oligosaccharides.<br />

Food Technology.<br />

v.48, n. 10, p.61-65, 1994.<br />

Voragen, A.G.J. Technological <strong>as</strong>pects<br />

of functional food-related carbohydrates.<br />

Trends in Food Science<br />

& Technology. v.9, p. 328-<br />

335, 1998.<br />

Zaraté S.; López-Leiva, M. H. Oligosaccharide<br />

formation during enzymatic<br />

lactose hydrolysis: a literature<br />

review. J. Food Prot. v. 53, p.<br />

262-268, 1990.<br />

14 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Pesquisa<br />

<strong>Aprendendo</strong><br />

<strong>com</strong> <strong>as</strong> Agrobactéri<strong>as</strong><br />

D<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> aos mecanismos de crescimento e desenvolvimento vegetal<br />

Leila Maria Gomes Barros<br />

PhD.Biologia Molecular<br />

Pesquisadora<br />

Embrapa – Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong><br />

leila@cenargen.embrapa.br<br />

Antônio Américo Barbosa Viana<br />

M.Sc. em Biologia Molecular<br />

Consultor<br />

Embrapa – Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong><br />

aamerico@cenargen.embrapa.br<br />

Mauro Carneiro<br />

Ph.D. Biologia Molecular<br />

Pesquisador<br />

Embrapa – Recursos Genéticos e <strong>Biotecnologia</strong><br />

mauro@cenargen.embrapa.br<br />

As agrobactéri<strong>as</strong> e a colonização<br />

genética<br />

Os mecanismos de interação planta-patógeno<br />

são extremamente <strong>com</strong>plexos<br />

e diversificados. Entre os diferentes<br />

tipos de par<strong>as</strong>itismo, o que<br />

utiliza a transferência de material genético<br />

<strong>com</strong>o estratégia de colonização<br />

é um dos mais intrigantes, tendo sido<br />

descritos nos vírus e agrobactéri<strong>as</strong>. Os<br />

vírus utilizam o sistema de transcrição<br />

e tradução da célula hospedeira para<br />

produzir su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>, o<br />

que permite a sua multiplicação, debilitando<br />

o hospedeiro e culminando,<br />

geralmente, em sua morte. As<br />

agrobactéri<strong>as</strong>, por sua vez, transferem<br />

parte de seu material genético para o<br />

genoma da planta hospedeira, mecanismo<br />

este denominado de Coloniza-<br />

Figura 1. Plant<strong>as</strong> de Nicotiana tabacum infectad<strong>as</strong> <strong>com</strong> (A) Agrobacterium tumefaciens,<br />

onde pode ser vista uma galha de coroa, e (B) A.rhizogenes, <strong>com</strong> raízes em<br />

cabeleira in vitro.<br />

ção Genética (Schell et al., 1979). Os<br />

genes transferidos são replicados, transcritos<br />

e traduzidos <strong>com</strong>o se fossem da<br />

própria célula vegetal, resultando no<br />

desenvolvimento de tumores ou raízes<br />

adventíci<strong>as</strong> no sítio de infecção, conhecidos<br />

<strong>com</strong>o galha de coroa (“crown<br />

gall”) ou raízes em cabeleira (“hairy<br />

root”), respectivamente (Figura 1). As<br />

célul<strong>as</strong> neoplásic<strong>as</strong> sintetizam e<br />

excretam <strong>com</strong>postos derivados de<br />

aminoácidos e açúcares, denominados<br />

opin<strong>as</strong>, que servem de nutrientes apen<strong>as</strong><br />

para a agrobactéria (Petit et al.,<br />

1983). Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, a célula<br />

vegetal é “subjugada” para produzir<br />

nutrientes para a agrobactéria inv<strong>as</strong>ora<br />

que, desta forma, obtém carbono e<br />

nitrogênio sem <strong>com</strong>petir <strong>com</strong> <strong>as</strong> demais<br />

bactéri<strong>as</strong> do solo.<br />

Os primeiros estudos sobre<br />

agrobactéria datam do início do século<br />

XX quando Smith e Townsend (1907)<br />

isolaram uma bactéria de galha de<br />

coroa de Chrysanthemum frutescens<br />

(margarida) e demonstraram que ela<br />

também causa tumores em vários outros<br />

vegetais, sendo denominada de<br />

Bacterium tumefaciens. Riker e colaboradores<br />

(1930) demonstraram que<br />

a proliferação de raízes em cabeleira,<br />

também é causada por uma bactéria,<br />

por eles nomeada Phytomon<strong>as</strong><br />

rhizogenes. Mais tarde, Conn (1942)<br />

agrupou <strong>as</strong> du<strong>as</strong> espécies em<br />

um novo gênero denominado<br />

Agrobacterium.<br />

Hoje, o gênero Agrobacterium<br />

encontra-se agrupado na família<br />

Rhizobiaceae, juntamente <strong>com</strong> o gênero<br />

Rhizobium, que são bactéri<strong>as</strong> de<br />

solo, Gram-negativ<strong>as</strong>, causador<strong>as</strong> de<br />

neopl<strong>as</strong>i<strong>as</strong> em plant<strong>as</strong> (Buchanan &<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 15


Gibbons, 1975). O gênero Rhizobium<br />

é <strong>com</strong>posto por bactéri<strong>as</strong> fixador<strong>as</strong> de<br />

nitrogênio que estimulam nódulos n<strong>as</strong><br />

raízes de leguminos<strong>as</strong>, diferentemente<br />

d<strong>as</strong> neopl<strong>as</strong>i<strong>as</strong> causad<strong>as</strong> por<br />

agrobactéri<strong>as</strong>.<br />

As agrobactéri<strong>as</strong> infectam inúmer<strong>as</strong><br />

dicotiledône<strong>as</strong> e algum<strong>as</strong><br />

monocotiledône<strong>as</strong> (De Cleene & De<br />

Ley, 1976; Porter,1991) apresentam<br />

temperatura ótima de crescimento<br />

entre 25-30 ºC e somente se estabelecem,<br />

em condições naturais, em locais<br />

injuriados da planta (Buchanan &<br />

Gibbons, 1975). Devido a est<strong>as</strong> característic<strong>as</strong>,<br />

<strong>as</strong> galh<strong>as</strong> de coroa e raízes<br />

em cabeleira são doenç<strong>as</strong> importantes<br />

em regiões de clima temperado, especialmente<br />

em viveiros de fruteir<strong>as</strong><br />

(parreir<strong>as</strong>, amendoeir<strong>as</strong>, ameixeir<strong>as</strong>,<br />

macieir<strong>as</strong> e pessegueiros) que são<br />

propagad<strong>as</strong> vegetativamente ou por<br />

enxertia. Os ferimentos, resultantes da<br />

manipulação d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>, favorecem a<br />

instalação da agrobactéria (Hildebrand,<br />

1934; Kerr, 1969a).<br />

No Br<strong>as</strong>il, segundo Beriam e colaboradores<br />

(1996), os primeiros trabalhos<br />

sobre infecção de plant<strong>as</strong> por<br />

agrobactéria foram feitos por Costa<br />

Neto em 1937, que relata ser a galha<br />

bacteriana do pessegueiro (Prunus<br />

persica) uma doença <strong>com</strong>um no Estado<br />

do Rio Grande do Sul. Nos anos<br />

seguintes, <strong>as</strong> galh<strong>as</strong> de coroa foram<br />

citad<strong>as</strong> em muit<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> tais <strong>com</strong>o<br />

c<strong>as</strong>tanheiro (C<strong>as</strong>tanea sativa), videira<br />

(Vitis vinifera), ameixeira (Prunus<br />

domestica), alface (Lactuca sativa),<br />

chuchu (Sechium edule), mandioca<br />

(Manihot esculenta), urucum (Bixa<br />

orellana), etc. (Beriam et al., 1996).<br />

Romeiro e colaboradores (1994) reportam<br />

que n<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> de roseir<strong>as</strong><br />

(Rosa spp.) na região de Barbacena,<br />

Estado de Min<strong>as</strong> Gerais, <strong>as</strong> galh<strong>as</strong><br />

agrobacterian<strong>as</strong> são responsáveis pela<br />

queda de 20 a 100% da produção de<br />

botões florais <strong>com</strong>ercializáveis.<br />

O mecanismo molecular de<br />

interação Agrobacterium-Planta<br />

O fato de a agrobactéria alterar o<br />

programa de desenvolvimento d<strong>as</strong><br />

plant<strong>as</strong> hospedeir<strong>as</strong>, induzindo a formação<br />

de tumores ou raízes, atraiu a<br />

curiosidade dos cientist<strong>as</strong>, resultando<br />

em avanços do conhecimento nesta<br />

área. O primeiro grande p<strong>as</strong>so no<br />

sentido de elucidar o mecanismo de<br />

infecção foi dado quando White &<br />

Braun (1943) demonstraram que <strong>as</strong><br />

galh<strong>as</strong> de coroa poderiam crescer indefinidamente<br />

in vitro, na ausência<br />

da bactéria, lançando a hipótese da<br />

existência de um princípio indutor de<br />

tumor (“tumour-inducing principle -<br />

t.i.p.”). Desde então, vári<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> importantes<br />

descobert<strong>as</strong> somaram-se no<br />

sentido de solucionar este intrigante<br />

mecanismo de infecção. Kerr (1969b)<br />

observou que a virulência de uma<br />

cepa de Agrobacterium fitopatogênica<br />

poderia ser transferida para uma cepa<br />

saprofítica (A. radiobacter). Petit e<br />

colaboradores (1970) demonstraram<br />

que a cepa que induz a síntese da<br />

opina Octopina n<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> tumorais<br />

usa esse produto, seletivamente, <strong>com</strong>o<br />

fonte de carbono e nitrogênio, m<strong>as</strong><br />

não uma outra opina <strong>com</strong>o a Nopalina,<br />

sugerindo que a informação genética<br />

para a síntese da opina seja transferida<br />

da agrobactéria para a planta. Mais<br />

tarde, foi demonstrado que um elemento<br />

não cromossomal é responsável<br />

pela virulência d<strong>as</strong> agrobactéri<strong>as</strong>,<br />

sendo denominado de pl<strong>as</strong>mídeo Ti<br />

(“Tumor inducing”) em A.<br />

tumefaciens (Van Larebeke et al.,<br />

1974) e pl<strong>as</strong>mídeo Ri (“Root inducing”)<br />

em A. rhizogenes (Moore et al., 1979).<br />

Ess<strong>as</strong> descobert<strong>as</strong> culminaram na<br />

Figura 2. Pl<strong>as</strong>mídeo Ti ou Ri de Agrobacterium<br />

tumefaciens ou A. rhizogenes, respectivamente.<br />

T-DNA: região transferida, que<br />

pode se apresentar <strong>com</strong>o um único segmento<br />

ou em dois segmentos, T L<br />

e T R<br />

-DNA; tra e<br />

trb: regiões responsáveis pela conjugação<br />

bacteriana; OPC: região responsável pelo<br />

catabolismo de opin<strong>as</strong>, e vir: codifica proteín<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> ao processo de transferência<br />

do T-DNA para a célula hospedeira.<br />

elucidação do mecanismo de infecção:<br />

a transferência de um segmento<br />

do pl<strong>as</strong>mídeo Ti ou Ri (T-DNA) da<br />

Agrobacterium para o genoma vegetal<br />

(Chilton et al., 1977; Chilton et al.,<br />

1982; White et al., 1982).<br />

O Ti e o Ri são pl<strong>as</strong>mídeos grandes,<br />

variando de 200 a mais de 800Kb,<br />

apresentando estrutura modular, onde<br />

genes de função similar encontram-se<br />

agrupados, resultando em cinco regiões<br />

definid<strong>as</strong> (Zhu et al., 2000) (Figura<br />

2): (i) T-DNA (“transfer DNA”): região<br />

do pl<strong>as</strong>mídeo transferida para a planta,<br />

codifica os genes indutores de tumores<br />

ou raízes e genes responsáveis<br />

pela síntese d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong> (octopina,<br />

nopalina, manopina, agropina etc.).<br />

(ii) região vir: dirige o processamento<br />

e transferência do T-DNA para a célula<br />

hospedeira; (iii) região rep: responsável<br />

pela replicação do pl<strong>as</strong>mídeo; (iv)<br />

regiões tra e trb: dirigem o mecanismo<br />

de conjugação entre agrobactéri<strong>as</strong>;<br />

e (v) região opc: envolvida na absorção<br />

e catabolismo d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong>.<br />

O mecanismo de transferência do<br />

T-DNA para a célula vegetal já está<br />

qu<strong>as</strong>e totalmente elucidado. A Figura<br />

3 apresenta todos os p<strong>as</strong>sos para o<br />

estabelecimento da infecção. Quando<br />

um vegetal sofre uma injúria, um<br />

exudado <strong>com</strong>posto de fenóis e açucares<br />

é secretado, servindo de proteção<br />

e início da cicatrização do ferimento. A<br />

agrobactéria, atraída por estes <strong>com</strong>postos,<br />

chega ao local do ferimento.<br />

Os seus genes cromossomais conhecidos<br />

<strong>com</strong>o chvA, chvB, chvD, chvE,<br />

chvG, chvI, pscA, att, miaA, ros, e acvB<br />

codificam proteín<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong> no reconhecimento<br />

do exudado e no contato<br />

entre a agrobactéria e a célula<br />

hospedeira (Matthysse et al., 1981;<br />

Dougl<strong>as</strong> et al., 1982; Tzfira et al.,<br />

2000). Os <strong>com</strong>postos fenólicos presentes<br />

no exudado, principalmente a<br />

acetosseringona, também ativam a região<br />

de virulência “vir” através da<br />

estimulação da proteína VirA, uma<br />

quin<strong>as</strong>e localizada na membrana da<br />

agrobactéria que fosforila outra proteína<br />

bacteriana, a VirG que, por sua vez,<br />

estimula a transcrição d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> de<br />

todos os seis operons Vir (A, B, C, D,<br />

E e G) (Stachel et al., 1986b; Winans et<br />

al., 1989; Joubert et al., 2002). Sugerese,<br />

ainda, que a transferência do T-<br />

DNA para a célula vegetal ocorra por<br />

16 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Figura 3. Interação molecular agrobactéria-planta. A planta que sofreu injúria produz <strong>com</strong>postos fenólicos e açúcares que são<br />

captados pela proteína VirA, que fosforila a VirG que, por sua vez, ativa os demais genes vir. A VirD2 cliva <strong>as</strong> bord<strong>as</strong> do T-DNA<br />

e o direciona para a célula hospedeira através de canais formados pela VirB. Já na célula vegetal, <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> VirE2 se ligam à<br />

fita-T formando o <strong>com</strong>plexo T. Este <strong>com</strong>plexo, então, entra no núcleo da célula vegetal <strong>com</strong> o auxílio d<strong>as</strong> carioferin<strong>as</strong> e cicloferin<strong>as</strong><br />

do próprio hospedeiro, e integra no genoma da planta. Desta forma, a planta p<strong>as</strong>sa a produzir fitormônios e opin<strong>as</strong> que servem<br />

de nutriente para a agrobactéria.<br />

Adaptada de Zhu et al., 2000, por Marlene T. De-Souza e Antônio Américo B.Viana.<br />

mecanismo semelhante à conjugação<br />

bacteriana. Inicia-se <strong>com</strong> a clivagem<br />

d<strong>as</strong> bord<strong>as</strong> de uma d<strong>as</strong> fit<strong>as</strong> do T-DNA<br />

pel<strong>as</strong> endonucle<strong>as</strong>es sítio específic<strong>as</strong><br />

VirD1 e VirD2 (Wang et al., 1987).<br />

Subseqüentemente, uma nova fita de<br />

DNA é sintetizada, iniciando na borda<br />

direita e prosseguindo na direção da<br />

borda esquerda (Stachel et al., 1986a;<br />

Yanofsky et al., 1986). Um T-DNA de<br />

fita simples, chamado de fita T, é<br />

liberado no processo, no qual a proteína<br />

VirD2 permanece covalentemente<br />

ligada até seu destino final, que é o<br />

núcleo da célula vegetal (Herrera-<br />

Estrella et al., 1988). A fita T, <strong>com</strong> a<br />

proteína VirD2 e outra proteína a VirE2,<br />

são translocados da agrobactéria para a<br />

célula vegetal através de um canal<br />

semelhante ao “pilus” conjugativo estabelecido<br />

entre a agrobactéria e a<br />

célula vegetal por proteín<strong>as</strong> codificad<strong>as</strong><br />

no operon VirB (Baron & Zambryski,<br />

1996; Christie PJ, 1997). No citopl<strong>as</strong>ma<br />

da célula vegetal, vári<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> VirE2<br />

juntam-se à fita T formando um <strong>com</strong>plexo<br />

T-DNA/proteín<strong>as</strong> (<strong>com</strong>plexo T)<br />

que é transportado para o núcleo, <strong>com</strong><br />

ajuda d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> da célula vegetal<br />

carioferina alfa e cicloferin<strong>as</strong> (Zupan<br />

et al., 1996; Gelvin, 2000). Uma vez<br />

no núcleo, o T-DNA é integrado no<br />

genoma vegetal por re<strong>com</strong>binação<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 17


Tabela 1. Exemplos de pl<strong>as</strong>mídeos Ti e Ri<br />

DNA não integrativo (White et al.,<br />

1985), dependendo da linhagem<br />

bacteriana. A Tabela 1 mostra alguns<br />

exemplos de pl<strong>as</strong>mídeos Ti e Ri especificando<br />

o tipo de T-DNA e a principal<br />

opina resultante.<br />

Cada Região T é delimitada em<br />

amb<strong>as</strong> extremidades por uma seqüência<br />

de 25 pb, disposta na mesma<br />

orientação, chamada de borda esquerda<br />

e borda direita (“LB e RB”) (Wang<br />

et al., 1984). Embora os genes do T-<br />

DNA sejam provenientes de um organismo<br />

procarioto, eles contêm seqüênci<strong>as</strong><br />

regulatóri<strong>as</strong> eucariótic<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o<br />

TATA box , CAAT box , “enhancers” e<br />

um sítio para adição da seqüência de<br />

poliadenina, que são reconhecidos pela<br />

RNA polimer<strong>as</strong>e II da célula vegetal<br />

(Willmitzer et al., 1981). Desta maneira,<br />

a agrobactéria pode utilizar a maquinaria<br />

de expressão gênica do hospedeiro<br />

para expressar seus genes e,<br />

conseqüentemente, manipular a fisiologia<br />

d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> em seu favor.<br />

A exata organização dos genes<br />

dentro do pl<strong>as</strong>mídeo Ti somente foi<br />

conhecida após seu <strong>com</strong>pleto<br />

seqüenciamento, realizado por Zhu e<br />

colaboradores (2000). Este trabalho<br />

mostrou que o T L<br />

-DNA e T R<br />

-DNA do<br />

pl<strong>as</strong>mídeo Ti da família octopina, possui<br />

13 e 7,8 Kb, respectivamente,<br />

codificando um total de 13 prováveis<br />

genes. Esses genes são responsáveis<br />

pela proliferação d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

neoplásic<strong>as</strong> e produção de opin<strong>as</strong>.<br />

No T L<br />

-DNA foi caracterizado o<br />

locus tms (“tumour morphology<br />

shoot”), que, quando inativado, provoca<br />

o aparecimento de brotos nos<br />

tumores (Garfinkel et al., 1981; Ooms<br />

et al., 1981). Este locus possui dois<br />

genes, o gene iaaM também chamado<br />

de gene1, tms1, aux1 ou shi<br />

(Thom<strong>as</strong>how et al., 1986; Van<br />

Onckelen et al., 1986) e o iaaH também<br />

conhecido <strong>com</strong>o gene2, tms2,<br />

aux2 ou shi (Schröder et al., 1984;<br />

Thom<strong>as</strong>how et al., 1984). Eles codificam<br />

enzim<strong>as</strong> responsáveis pela conversão<br />

do triptofano via indolacetamida<br />

em ácido indol-3-acético (AIA), resultando<br />

em uma nova rota de produção<br />

da auxina endógena mais abundante,<br />

envolvida em vários processos do<br />

desenvolvimento vegetal. No T L<br />

-DNA<br />

também foi caracterizado o locus tmr<br />

(“tumour morphology root”) que, quan-<br />

Pl<strong>as</strong>mídeo<br />

Ti<br />

Ri<br />

T-DNA<br />

T-DNA<br />

T-DNA<br />

ilegítima, preferencialmente em locais<br />

ativos do genoma (Mayerhofer et<br />

al., 1991; Thom<strong>as</strong>how et al., 1980).<br />

Os genes do T-DNA são então expressos<br />

pela planta. Aqueles que codificam<br />

enzim<strong>as</strong> responsáveis pela síntese<br />

de fitohormônios levam à diferenciação<br />

e proliferação celular e, os que<br />

codificam para <strong>as</strong> opin<strong>as</strong> sint<strong>as</strong>es produzem<br />

nutrientes para <strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong> colonizador<strong>as</strong>.<br />

Da agrobactéria, engenheira<br />

genética natural, às plant<strong>as</strong><br />

transgênic<strong>as</strong> atuais.<br />

Opina<br />

sintetizada<br />

A descoberta de que a<br />

agrobactéria é capaz de introduzir no<br />

genoma da célula vegetal um segmento<br />

do seu próprio pl<strong>as</strong>mídeo, que<br />

altera o programa de desenvolvimento<br />

e o metabolismo da célula vegetal<br />

em seu favor, em uma troca não convencional<br />

de material genético, lançou<br />

<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es da Transformação Genética<br />

Vegetal.<br />

O entendimento dos mecanismos<br />

de transferência do T-DNA para a<br />

célula vegetal, aliado a Tecnologia de<br />

DNA Re<strong>com</strong>binante e a Cultura de<br />

Tecidos Vegetais, resultou no desenvolvimento<br />

d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong>.<br />

O homem, observando <strong>as</strong><br />

agrobactéri<strong>as</strong>, tornou-se capaz de fazer<br />

<strong>com</strong> que <strong>as</strong> plant<strong>as</strong> produzam<br />

<strong>com</strong>postos do seu interesse. No entanto,<br />

modificações no T-DNA tiveram<br />

que ser feit<strong>as</strong>, de forma que os<br />

genes responsáveis pela síntese dos<br />

fitohormônios e d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong> fossem<br />

retirados, resultando no chamado<br />

pl<strong>as</strong>mídeo Ti desarmado. Neste local,<br />

genes de interesse podem ser inseridos,<br />

incluindo genes que conferem à<br />

célula transformada uma característica<br />

p<strong>as</strong>sível de seleção. Desta forma, o Ti<br />

<strong>com</strong> o T-DNA alterado é introduzido<br />

Referência Bibliográfica<br />

N opalin a Holsters et al., 1980 ,<br />

Manopina ou<br />

Cucumopina<br />

Hansen et al.,<br />

de volta na agrobactéria, que é utilizada<br />

no processo de transformação. O<br />

tecido alvo da transformação é colocado<br />

em contato <strong>com</strong> a agrobactéria<br />

contendo o novo Ti e, subseqüentemente,<br />

cultivado em meio que favoreça<br />

a regeneração de plant<strong>as</strong>, em presença<br />

do agente seletivo, de forma a<br />

permitir a regeneração apen<strong>as</strong> d<strong>as</strong><br />

célul<strong>as</strong> transformad<strong>as</strong>, ou seja, aquel<strong>as</strong><br />

que incorporaram o T-DNA. Deste<br />

modo, a planta regenerada contém<br />

em seu genoma uma ou mais cópi<strong>as</strong><br />

do T-DNA, que serão transmitid<strong>as</strong> para<br />

<strong>as</strong> futur<strong>as</strong> gerações por meiose, obedecendo<br />

às leis de Mendel (Tepfer,<br />

1984). As primeir<strong>as</strong> plant<strong>as</strong><br />

transgênic<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> utilizando-se A.<br />

tumefaciens <strong>com</strong>o vetor de transformação<br />

foram plant<strong>as</strong> de Nicotiana<br />

tabacum. Inicialmente, foram utilizados<br />

protopl<strong>as</strong>tos de célul<strong>as</strong> do mesófilo<br />

para a transformação (De Block et al.,<br />

1984; Horsch et al., 1984) e, em seguida,<br />

p<strong>as</strong>sou-se a utilizar discos foliares<br />

(Horsch et al., 1985). Protopl<strong>as</strong>tos ou<br />

discos foliares foram co-cultivados <strong>com</strong><br />

a agrobactéria, contendo no T-DNA o<br />

gene nptII, que confere resistência ao<br />

antibiótico canamicina. Depois de vári<strong>as</strong><br />

seman<strong>as</strong> de cultivo em meio propício<br />

à regeneração, contendo<br />

canamicina, foram obtid<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> transformad<strong>as</strong><br />

resistentes ao antibiótico.<br />

Atualmente, em experimentos de<br />

transformação, o co-cultivo <strong>com</strong> segmentos<br />

foliares é utilizado preferencialmente,<br />

devido à simplicidade da<br />

manipulação.<br />

O T-DNA<br />

1991<br />

Ti<br />

T L<br />

e T R<br />

-DNA<br />

Octopin<br />

a Ooms et al., 198 2<br />

Ri<br />

T L<br />

e T R<br />

-DNA<br />

Agropin<br />

a Jouanin, 198 4<br />

O T-DNA pode ser encontrado<br />

<strong>com</strong>o um único segmento de aproximadamente<br />

20 kb, ou dividido em<br />

dois segmentos, <strong>com</strong> até 20 kb cada,<br />

separados por pelo menos 15 kb de<br />

18 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Figura 4. T-DNA da A. tumefaciens (pTiAch5) e da A. rhizogenes (pRiA4). Ambos possuem genes codificadores de hormônios<br />

vegetais (iaaM, iaaH, ipt e tml) e de síntese de opin<strong>as</strong> (ocs, ags, m<strong>as</strong>1 e m<strong>as</strong>2). Somente a A. rhizogenes possui os genes responsáveis<br />

pela indução da formação de raízes (rolA, rolB, rolC e rolD).<br />

do inativado, produz tumores <strong>com</strong><br />

raízes. Este locus contém apen<strong>as</strong> um<br />

gene o ipt, também conhecido <strong>com</strong>o<br />

gene4, tmr ou roi que catalisa a síntese<br />

da citocinina iso-penteniladenosina 5`monofosfato<br />

a partir de dimetilalilpirofosfato<br />

e 5`AMP (Akiyoshi et<br />

al.,1984; Barry et al., 1984; Buchmann<br />

et al., 1985). Aparentemente, enzim<strong>as</strong><br />

da planta hospedeira convertem isopenteniladenosina<br />

5`-monofosfato na<br />

citocinina zeatina. As citocinin<strong>as</strong> são<br />

hormônios que regulam o desenvolvimento<br />

vegetal de forma antagônica às<br />

auxin<strong>as</strong>. Dois outros genes, encontrados<br />

no T L<br />

-DNA do pl<strong>as</strong>mídeo Ti, são<br />

também responsáveis pela formação<br />

da galha de coroa: o gene5 ou ila, que<br />

é responsável pela síntese do <strong>com</strong>posto<br />

indol-3-lactato, um antagonista<br />

da auxina (Körber et al., 1991) e, o<br />

gene6b ou tml, que confere <strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

transformad<strong>as</strong> um aumento de sensibilidade<br />

à auxina, por um mecanismo<br />

ainda não identificado (Hooyka<strong>as</strong> et<br />

al., 1988; Tinland et al., 1992). No T L<br />

-<br />

DNA também existem genes responsáveis<br />

pelo metabolismo d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong>.<br />

Um deles é o gene ocs, que codifica a<br />

enzima octopina sint<strong>as</strong>e, responsável<br />

pela condensação do piruvato <strong>com</strong><br />

quatro aminoácidos básicos, arginina,<br />

lisina, histidina ou ornitina, dando origem<br />

opin<strong>as</strong> octopina, lisopina,<br />

histopina ou ácido octopínico, respectivamente<br />

(De Greve et al., 1982).<br />

Outro gene caracterizado é o nos, que<br />

codifica uma proteína responsável pela<br />

secreção d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong> (Messens et al.,<br />

1985) (Figura4).<br />

No T R<br />

-DNA deste pl<strong>as</strong>mídeo Ti<br />

foram identificados três outros genes<br />

responsáveis pela produção d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong><br />

são eles o m<strong>as</strong>2’, cujo produto é o<br />

responsável pela condensação do ácido<br />

glutâmico <strong>com</strong> a glicose formando<br />

o precursor desoxifrutosilglutamina, e<br />

o m<strong>as</strong>1’, responsável pela redução do<br />

precursor, formando a opina manopina<br />

(Dessaux et al., 1998). O outro gene<br />

é o ags, cujo produto catalisa a<br />

lactonização da manopina resultando<br />

na agropina (Dessaux et al., 1998;<br />

Hong et al., 1997). Dois outros possíveis<br />

genes foram identificados no T L<br />

-<br />

DNA da família octopina, o gene 3 e o<br />

gene 4, cuj<strong>as</strong> funções ainda não foram<br />

determinad<strong>as</strong>. Portanto, os pl<strong>as</strong>mídeos<br />

do tipo octopina produzem diferentes<br />

tipos de opin<strong>as</strong>.<br />

No c<strong>as</strong>o da A. rhizogenes, em<br />

contr<strong>as</strong>te <strong>com</strong> o A. tumefaciens, ocorre<br />

a indução de um tecido neoplásico<br />

organizado na forma de raízes adventíci<strong>as</strong><br />

(Figura 1). Não obstante, existe<br />

uma significante homologia do T R<br />

-<br />

DNA do pl<strong>as</strong>mídeo Ri <strong>com</strong> o T-DNA<br />

do pl<strong>as</strong>mídeo Ti, <strong>com</strong>o por exemplo,<br />

os genes de síntese de auxina iaaM e<br />

iaaH e, os genes m<strong>as</strong>1’, m<strong>as</strong>2’ e ags,<br />

responsáveis pela síntese d<strong>as</strong> opin<strong>as</strong><br />

(White et al., 1985). Em contr<strong>as</strong>te, o<br />

T L<br />

-DNA do pl<strong>as</strong>mídeo RiA4, possui 18<br />

regiões abert<strong>as</strong> para leitura (ORFs)<br />

(Slightom et al., 1986) <strong>com</strong> baixa<br />

homologia <strong>com</strong> o pl<strong>as</strong>mídeo Ti da<br />

família octopina (Nilsson & Olsson,<br />

1997). Quatro destes genes, específicos<br />

dos pl<strong>as</strong>mídeos Ri, são considerados<br />

responsáveis pela indução d<strong>as</strong><br />

raízes em cabeleira (White et al.,1985,<br />

Spena et al., 1987) (Figura 4). Esse<br />

locus foi denominado de locus de raiz<br />

(root locus) cujos genes foram designados<br />

de rolA, rolB, rolC e rolD (White<br />

et al.,1985), correspondendo <strong>as</strong> ORFs<br />

10, 11, 12 e 15, respectivamente<br />

(Slightom et al., 1986).<br />

Diferentemente dos tumores, <strong>as</strong><br />

raízes neoplásic<strong>as</strong> provêm de uma<br />

única célula transformada e podem<br />

regenerar plant<strong>as</strong> férteis, quando<br />

cultivad<strong>as</strong> in vitro. Ess<strong>as</strong> plant<strong>as</strong><br />

apresentam fenótipo alterado, cujos<br />

principais sintom<strong>as</strong> são: nanismo,<br />

enrugamento foliar, formação de raízes<br />

adventíci<strong>as</strong> e plagiotrópic<strong>as</strong>,<br />

dominância apical reduzida, alteração<br />

na morfologia floral, redução do<br />

número de sementes, entre outros<br />

(Tepfer, 1984). Assim <strong>com</strong>o a<br />

descoberta da transferência do T-DNA<br />

para a célula vegetal levou ao<br />

desenvolvimento d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong><br />

transgênic<strong>as</strong>, o entendimento dos<br />

mecanismos pelos quais <strong>as</strong><br />

agrobactéri<strong>as</strong> alteram a morfologia da<br />

planta pode ser útil nos estudos de<br />

Biologia do Desenvolvimento e<br />

Fisiologia Vegetal, bem <strong>com</strong>o na<br />

manipulação de característic<strong>as</strong><br />

agronômic<strong>as</strong> de interesse.<br />

Os oncogenes rolA, rolB,<br />

rolC e rolD<br />

Como os genes rol participam da<br />

estratégia de colonização, estabelecida<br />

no decorrer da evolução planta/<br />

patógeno? Qual é o papel de cada<br />

gene na síndrome de raiz em cabeleira?<br />

As respost<strong>as</strong> para est<strong>as</strong> pergunt<strong>as</strong><br />

ainda não são totalmente conhecid<strong>as</strong>.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 19


No entanto, sabemos que os genes rol<br />

atuam de maneira sinergística e que,<br />

quando expressos em pares, provocam<br />

efeitos mais acentuados do que<br />

quando expressos isoladamente<br />

(Spena et al., 1987). Isto sugere uma<br />

certa redundância funcional, que pode<br />

ser interpretada <strong>com</strong>o um modo de<br />

garantir o sucesso no processo de<br />

infecção.<br />

O gene rolB (ORF11) é o mais<br />

eficiente na indução d<strong>as</strong> raízes e o<br />

único gene do T-DNA que, quando<br />

inativado, suprime a indução de raízes<br />

n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> infectad<strong>as</strong> pela A.<br />

rhizogenes, exceto em plant<strong>as</strong> de<br />

fumo (White et al., 1985). De fato, A.<br />

rhizogenes contendo apen<strong>as</strong> o gene<br />

rolB é capaz de induzir raízes tão bem<br />

quanto cep<strong>as</strong> selvagens (Spena et al.,<br />

1987; Capone et al., 1989). O gene<br />

rolB expresso em plant<strong>as</strong> promove<br />

alterações na morfologia d<strong>as</strong> folh<strong>as</strong> e<br />

flores, o desenvolvimento de raízes<br />

adventíci<strong>as</strong> no caule (Schumülling et<br />

al., 1988)e a indução de raízes em<br />

segmentos foliares cultivados, in vitro,<br />

na ausência de auxina. Ess<strong>as</strong> observações<br />

levaram a conclusão de que plant<strong>as</strong><br />

transformad<strong>as</strong> <strong>com</strong> rolB apresentam<br />

um estado hiperauxínico (Capone<br />

et al., 1989).<br />

A proteína RolB contém 259<br />

aminoácidos <strong>com</strong> m<strong>as</strong>sa molecular de<br />

30KDa, não possuindo nenhum motivo<br />

típico ou similar a proteín<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong>.<br />

Primeiramente, foi sugerido que<br />

RolB provocaria um aumento da concentração<br />

de auxina, resultado da<br />

hidrólise dos conjugados inativos do<br />

ácido indol acético (AIA), liberando<br />

auxina ativa na célula (Estruch et al.,<br />

1991b). Porém, plant<strong>as</strong> de fumo expressando<br />

o gene rolB sob controle<br />

do promotor 35S do vírus do mosaico<br />

da couve-flor (CaMV35S) (Odell et<br />

al.,1985) não apresentam níveis alterados<br />

de AIA ou AIA-conjugado (Nilsson<br />

et al., 1993). A segunda hipótese é<br />

que RolB aumentaria a sensibilidade<br />

da célula para o AIA, e não a sua<br />

disponibilidade, <strong>com</strong>o sugerido anteriormente.<br />

Protopl<strong>as</strong>tos de plant<strong>as</strong><br />

transgênic<strong>as</strong> de fumo expressando<br />

RolB são até 100000 vezes mais sensíveis<br />

à auxina do que plant<strong>as</strong> controle<br />

(Maurel et al., 1991). Corroborando<br />

este resultado, foi observado que preparações<br />

de membrana pl<strong>as</strong>mática de<br />

célul<strong>as</strong> transformad<strong>as</strong> <strong>com</strong> rolB são<br />

capazes de ligar mais auxina do que<br />

membran<strong>as</strong> de plant<strong>as</strong> controle, e que<br />

esta ligação é <strong>com</strong>pletamente abolida<br />

na presença de anticorpos anti-RolB<br />

(Filippini et al., 1994). Além disso,<br />

protopl<strong>as</strong>tos 35S::rolB se dividem e<br />

formam calos na ausência de auxina<br />

(Walden et al., 1993), e calos gerados<br />

a partir de raiz de plant<strong>as</strong> 35S::RolB<br />

tornam-se necróticos em um terço da<br />

concentração de auxina necessária para<br />

induzir a mesma resposta em calos<br />

controle (Schmülling et al., 1993). Os<br />

efeitos de rolB na organogênese foram<br />

estudados utilizando cultura de<br />

camada fina de célul<strong>as</strong> (TCL), onde foi<br />

observado que rolB não somente induz<br />

a formação meristem<strong>as</strong> radiculares,<br />

m<strong>as</strong> também meristem<strong>as</strong> florais<br />

(Altamura et al., 1994). Recentemente,<br />

Altamura (2004) propôs um modelo<br />

no qual rolB induziria a formação de<br />

meristem<strong>as</strong>, sendo que o tipo de<br />

meristema resultante depende do balanço<br />

hormonal local. Apesar dos efeitos<br />

da proteína RolB serem bem conhecidos,<br />

ainda existem controvérsi<strong>as</strong><br />

quanto ao seu modo de ação. Filippini<br />

e colaboradores (1994) demonstraram<br />

que a proteína RolB possui atividade<br />

tirosina fosfat<strong>as</strong>e, e a localizaram<br />

em membrana pl<strong>as</strong>mática d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

transformad<strong>as</strong>, sugerindo uma função<br />

de receptor ou transdutor de sinal da<br />

via do hormônio AIA. No entanto,<br />

Moriuchi e colaboradores (2004) localizaram<br />

a proteína quimérica GFP::RolB<br />

no núcleo de célul<strong>as</strong> transformad<strong>as</strong>, o<br />

que favorece a função de transdutor<br />

de sinais.<br />

O gene rolC (ORF 12), cuja proteína<br />

possui 180 aminoácidos <strong>com</strong><br />

m<strong>as</strong>sa molecular de 20 KDa, também<br />

não possui homologia <strong>com</strong> proteín<strong>as</strong><br />

conhecid<strong>as</strong>. A proteína RolC foi<br />

imunolocalizada no citosol d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

transformad<strong>as</strong> (Estruch et al., 1991a;<br />

Oono et al., 1987). As plant<strong>as</strong><br />

transgênic<strong>as</strong> de fumo expressando<br />

RolC são menores, ramificad<strong>as</strong>, <strong>com</strong><br />

folh<strong>as</strong> afilad<strong>as</strong> e redução do conteúdo<br />

de clorofila. A floração ocorre mais<br />

cedo <strong>com</strong> flores pequen<strong>as</strong> e redução<br />

do número de grãos de pólen (Oono<br />

et al., 1987; Schmülling et al., 1988). A<br />

função da proteína RolC ainda não foi<br />

determinada, tendo sido descrito um<br />

aumento de citocinina ZR n<strong>as</strong> regiões<br />

apicais (Nilsson et al., 1996), sugerindo<br />

que RolC influencia positivamente<br />

a síntese de citocinina em folh<strong>as</strong> jovens.<br />

Foi observado, ainda, uma diminuição<br />

dos níveis de giberilina (GA)<br />

em plant<strong>as</strong> expressando o gene rolC<br />

devido, provavelmente, à inibição da<br />

conversão do GA 19<br />

para o GA 20<br />

(Nilsson<br />

et al., 1993, 1996). No entanto, a<br />

aplicação de GA exógeno em plant<strong>as</strong><br />

expressando a proteína RolC reflete<br />

somente no aumento do tamanho d<strong>as</strong><br />

plant<strong>as</strong>, não revertendo os outros<br />

fenótipos, tornando evidente que o<br />

decréscimo de GA é um efeito secundário<br />

(Schmülling et al., 1993).<br />

O gene rolD (ORF15) codifica<br />

uma proteína de 344 aminoácidos<br />

(Slightom et al., 1986). A. rhizogenes<br />

contendo no locus rol apen<strong>as</strong> o gene<br />

rolD é incapaz de induzir a formação<br />

de raízes em plant<strong>as</strong> de fumo (Mauro<br />

et al.,1996). Por outro lado, A.<br />

rhizogenes contendo mutações apen<strong>as</strong><br />

no gene rolD induz o desenvolvimento<br />

de raízes, porém, <strong>as</strong> raízes<br />

resultantes são pequen<strong>as</strong> (White et<br />

al., 1985). A proteína RolD provoca a<br />

floração precoce em plant<strong>as</strong> de fumo<br />

e a potenciação da organogenese floral<br />

em cultur<strong>as</strong> de célul<strong>as</strong> (Mauro et al.,<br />

1996; Altamura, 2004). Em 2001,<br />

Trovato e colaboradores demonstraram<br />

que o produto protéico deste<br />

gene é a enzima ornitina<br />

ciclodesamin<strong>as</strong>e (OCD), que converte<br />

ornitina em prolina. Existem evidênci<strong>as</strong><br />

de que a prolina atue <strong>com</strong>o<br />

um indutor da floração.<br />

O gene rolA (ORF10) é, entre os<br />

genes rol, o que causa maiores alterações<br />

morfológic<strong>as</strong> em plant<strong>as</strong>, sendo<br />

este objeto de estudo em nosso laboratório.<br />

A. rhizogenes contendo apen<strong>as</strong><br />

o gene rolA é capaz de induzir<br />

raízes em N. tabacum, m<strong>as</strong> não em<br />

outr<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> testad<strong>as</strong> (Spena et al.,<br />

1987). Plant<strong>as</strong> de fumo transformad<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> o gene rolA apresentam redução<br />

do porte, folh<strong>as</strong> enrugad<strong>as</strong>, arredondad<strong>as</strong><br />

e verdes escur<strong>as</strong>, atr<strong>as</strong>o na floração,<br />

(Figura 5), sistema radicular pobre,<br />

reduzido número de flores e retardo<br />

na senescência (Schmülling et al.,<br />

1988; Sinkar et al., 1988; Slightom et<br />

al.,1986; Carneiro & Vilaine, 1993). Da<br />

mesma forma, foram observad<strong>as</strong> alterações<br />

fisiológic<strong>as</strong> tais <strong>com</strong>o redução<br />

de giberilina GA 1<br />

(Dehio et al., 1993;<br />

20 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Moritz & Schmülling 1998) e redução<br />

da síntese de poliamin<strong>as</strong>, através de<br />

interferência na via da ornitina (Burtin<br />

et al., 1991; Sun et al., 1991; Ben-<br />

Hayyim et al.,1996). Plant<strong>as</strong> de fumo<br />

expressando rolA, quando tratad<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

giberilina, não revertem <strong>com</strong>pletamente<br />

o fenótipo (Dehio et al., 1993;<br />

Schmülling et al., 1993), o que sugere<br />

que esta redução de giberelina represente<br />

um efeito secundário. Curiosamente,<br />

plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> <strong>com</strong> reduzido<br />

nível de AIA apresentam<br />

fenótipo semelhante a plant<strong>as</strong> rolA<br />

(Romano et al., 1991), sendo especulado<br />

que o fenótipo rolA seja o resultado<br />

de um aumento da relação<br />

citocinina/auxina. Em consonância <strong>com</strong><br />

esta hipótese, nanismo, folh<strong>as</strong><br />

enrugad<strong>as</strong> e verdes escur<strong>as</strong> são<br />

fenótipos típicos de plant<strong>as</strong> <strong>com</strong> alta<br />

produção de citocinin<strong>as</strong> (Eklöf et al.,<br />

1996).<br />

A expressão do gene rolA em<br />

plant<strong>as</strong> transgênci<strong>as</strong> mostrou que seu<br />

promotor é ativo, essencialmente, em<br />

todos os órgãos (Schmülling et al.,<br />

1989). Carneiro & Vilaine (1993) mostraram<br />

que o nível do RNA mensageiro<br />

é maior no caule, cinco vezes menor<br />

na folha e cinqüenta vezes menor na<br />

raiz, e que, além disso, o promotor do<br />

gene é <strong>com</strong>posto por módulos que<br />

determinam a expressão tecido específica.<br />

A proteína RolA possui 100<br />

aminoácidos <strong>com</strong> m<strong>as</strong>sa molecular estimada<br />

em torno de 11,4 KDa e ponto<br />

isoelétrico de 11,2 (Slightom et al.,<br />

1986). Análises <strong>com</strong>putacionais mostraram<br />

que não existe similaridade da<br />

RolA <strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong>. Devido<br />

à sua natureza extremamente básica<br />

e à presença do motivo SPXX encontrado<br />

em proteín<strong>as</strong> regulatóri<strong>as</strong>, a<br />

possibilidade de interação <strong>com</strong> ácidos<br />

nucléicos foi proposta (Levesque et<br />

al.,1988; Hansen et al., 1994). Alternativamente,<br />

foi sugerido uma função de<br />

receptor ou transdutor de sinal de<br />

auxin<strong>as</strong> na membrana pl<strong>as</strong>mática<br />

(Maurel et al.,1991; Vansuyt et<br />

al.,1992). Experimentos de<br />

fracionamento celular de plant<strong>as</strong> de<br />

fumo transformad<strong>as</strong> <strong>com</strong> o gene<br />

rolA::gus indicam que a proteína RolA<br />

estaria <strong>as</strong>sociada, preferencialmente,<br />

à fração da membrana pl<strong>as</strong>mática, embora<br />

a atividade do gene repórter gus<br />

tenha sido detectada em outr<strong>as</strong> frações<br />

celulares (Vilaine et al.,1998).<br />

Sendo <strong>as</strong>sim, <strong>as</strong> informações quanto à<br />

localização da proteína RolA na célula<br />

vegetal e sua provável função são<br />

contraditóri<strong>as</strong>, e, apesar d<strong>as</strong> alterações<br />

hormonais detectad<strong>as</strong> n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> rolA<br />

explicarem parcialmente os fenótipos<br />

resultantes, faz-se necessário um<br />

aprofundamento d<strong>as</strong> investigações<br />

para se chegar a sua verdadeira função<br />

biológica.<br />

Estratégia adotada para estudar<br />

a função da proteína RolA<br />

em plant<strong>as</strong><br />

A capacidade de RolA alterar vários<br />

<strong>as</strong>pectos do crescimento e desenvolvimento<br />

de plant<strong>as</strong> tem atraído a<br />

atenção dos cientist<strong>as</strong>, pois decifrar a<br />

função de RolA pode levar ao entendimento<br />

de <strong>com</strong>o os fenótipos baixo<br />

porte, enrugamento foliar, crescimento<br />

deficiente de raízes, retardo na<br />

floração e senescência são gerados.<br />

Est<strong>as</strong> informações podem resultar em<br />

avanços na Fisiologia Vegetal e Biologia<br />

do Desenvolvimento, possibilitando<br />

ainda, o controle de característic<strong>as</strong><br />

agronômic<strong>as</strong> desejáveis em uma determinada<br />

cultura.<br />

Tendo <strong>com</strong>o b<strong>as</strong>e <strong>as</strong> hipóteses<br />

existentes na literatura, de localização<br />

da proteína RolA na membrana<br />

pl<strong>as</strong>mática ou no núcleo, desenhamos<br />

algum<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> <strong>com</strong> o objetivo de<br />

testar ess<strong>as</strong> du<strong>as</strong> hipóteses.<br />

Estudos de modelagem molecular<br />

da proteína RolA, realizados por Rigden<br />

e Carneiro (1999) culminaram <strong>com</strong> a<br />

proposição de um modelo para a proteína<br />

RolA, no qual esta estaria atuando<br />

na forma dimérica e interagindo<br />

<strong>com</strong> seqüênci<strong>as</strong> de DNA em dois pontos<br />

específicos de sua estrutura, os<br />

resíduos lisina 24 e arginina 27, via<br />

pontes de hidrogênio. Para testar este<br />

modelo, experimentos de mutação<br />

sítio-dirigida foram realizados, substituindo<br />

os aminoácidos lisina 24 e<br />

arginina 27 por <strong>as</strong>paragina 24 e 27 e<br />

por glutamina 24 e 27 (Assis, 2003).<br />

Asparagina e glutamina foram escolhidos<br />

por apresentarem tamanhos similares<br />

aos aminoáciodos lisina e arginina,<br />

m<strong>as</strong> diferentes quanto às característic<strong>as</strong><br />

físico-químic<strong>as</strong>, o que poderia alterar<br />

a especificidade de ligação de RolA<br />

<strong>com</strong> os promotores, sem alterações<br />

consideráveis na estrutura da proteína.<br />

Os genes rolA mutados foram inseridos<br />

em plant<strong>as</strong> de fumo, e análises<br />

fenotípic<strong>as</strong> estão sendo realizad<strong>as</strong> em<br />

nosso laboratório.<br />

Para testar a hipótese de que<br />

Figura 5. (A) Planta de N. tabacum expressando o gene rolA sob controle do seu<br />

próprio promotor, à esquerda, e uma planta não transformada, à direita. Amb<strong>as</strong><br />

possuem a mesma idade. (B) Detalhe da planta expressando o gene rolA.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 21


Figura 6. Perfil de hidrofobicidade e seqüência primária de RolA. Destacada em verde, a região hidrofóbica<br />

<strong>com</strong> 22 resíduos de aminoácidos, e em vermelho, uma região hidrofílica de 14 resíduos. As cores representam<br />

<strong>as</strong> propriedades físico-químic<strong>as</strong> dos resíduos de aminoácidos: verde – apolares, e vermelho – carregados<br />

positivamente.<br />

RolA atue <strong>com</strong>o regulador da expressão<br />

de genes, DNA de Arabdopsis<br />

thaliana foi digerido <strong>com</strong> enzim<strong>as</strong> de<br />

restrição de corte freqüente, gerando,<br />

<strong>as</strong>sim, um banco de fragmentos de<br />

DNA. Estes fragmentos foram então<br />

incubados <strong>com</strong> a proteína de fusão<br />

GST::RolA (Santos, 2002) e,<br />

con<strong>com</strong>itantemente, <strong>com</strong> a proteína<br />

GST isolada. A A. thaliana foi escolhida<br />

<strong>com</strong>o modelo experimental, dado<br />

à disponibilidade da seqüência do seu<br />

genoma <strong>com</strong>pleto em bancos de dados,<br />

o que facilita os estudos posteriores.<br />

Por análise diferencial, foi possível<br />

isolar trinta fragmentos de DNA <strong>com</strong><br />

os quais RolA se ligou. Para verificar se<br />

esses fragmentos são promotores de<br />

genes regulados pela proteína RolA,<br />

eles foram clonados adjacentes à seqüência<br />

codante do gene repórter<br />

uidA (gus), que codifica a enzima β-<br />

Glucuronid<strong>as</strong>e (Jefferson et al., 1986),<br />

em vetores de planta, de forma a<br />

tornar possível a verificação da capacidade<br />

dos fragmentos de promover a<br />

expressão da Gus. Esses vetores foram<br />

então transferidos por<br />

eletroporação para protopl<strong>as</strong>tos de<br />

fumo, onde foi observada atividade<br />

promotora em alguns fragmentos<br />

(Barreto et al.,1998). Dois destes fragmentos,<br />

quando expressos em plant<strong>as</strong><br />

de fumo, foram capazes de promover<br />

a expressão de Gus nos grãos de<br />

pólen de plant<strong>as</strong> de fumo (Viana,<br />

2003).<br />

Alternativamente, uma outra estratégia<br />

foi estabelecida para possibili-<br />

22 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


tar a localização subcelular e evidenciar<br />

a existência de domínios funcionais<br />

na proteína RolA. O perfil de<br />

hidrofobicidade da RolA foi determinado,<br />

utilizando o programa ProtScale<br />

disponível no endereço (http://<br />

www.exp<strong>as</strong>y.ch/). Du<strong>as</strong> regiões bem<br />

definid<strong>as</strong> ficaram evidentes no N-terminal<br />

da proteína RolA: uma região<br />

hidrofóbica seguida de outra hidrofílica<br />

(Figura 6). A região hidrofóbica possui<br />

23 resíduos de aminoácidos, dos quais<br />

16 são resíduos apolares (em verde) e<br />

a região básica corresponde a 14 resíduos<br />

de aminoácidos, sendo que 9 são<br />

resíduos básicos (em vermelho) e 5<br />

apolares (em verde) (Figura 6). Em<br />

acordo <strong>com</strong> a hipótese da RolA ser<br />

uma proteína reguladora da expressão<br />

gênica, foi observado dentro da região<br />

básica, uma região homologa ao sinal<br />

de endereçamento nuclear da proteína<br />

antígeno “large T” do vírus SV40.<br />

Por outro lado, os 23 primeiros resíduos<br />

de aminoácidos, presentes no N-<br />

terminal, essencialmente hidrofóbicos,<br />

seguidos de resíduos básicos,<br />

hidrofílicos, configuram um possível<br />

motivo conhecido <strong>com</strong>o “Reversesignal-ancor”,<br />

que, n<strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong>, permitem<br />

o ancoramento em membran<strong>as</strong><br />

(Barros et al., 2003). Os resíduos básicos<br />

interagem <strong>com</strong> <strong>as</strong> porções<br />

hidrofílic<strong>as</strong> dos lipídeos d<strong>as</strong> membran<strong>as</strong><br />

promovendo o ancoramento d<strong>as</strong><br />

proteín<strong>as</strong> na membrana de maneira<br />

estável (van Heijne e Manoil, 1990).<br />

Com b<strong>as</strong>e ness<strong>as</strong> informações<br />

experimentos foram desenhados para<br />

estudar estes motivos putativos encontrados<br />

no N-terminal da proteína<br />

RolA. Foram construíd<strong>as</strong> fusões<br />

traducionais da proteína RolA inteira,<br />

ou apen<strong>as</strong> segmentos do seu N ou C-<br />

terminal, <strong>com</strong> a enzima repórter Gus<br />

(RolA::Gus). Os genes quiméricos foram<br />

inseridos no pl<strong>as</strong>mídeo Ti desarmado,<br />

sob o controle do promotor<br />

CaMV35S. Plant<strong>as</strong> de fumo transformad<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> ess<strong>as</strong> construções foram<br />

regenerad<strong>as</strong>, sendo que o fenótipo<br />

característico de plant<strong>as</strong> rolA está presente<br />

apen<strong>as</strong> n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> que contém<br />

o gene rolA <strong>com</strong>pleto. Surpreendentemente,<br />

a atividade específica desta<br />

proteína de fusão aumentou mais de<br />

50 vezes, devido ao acúmulo da fusão,<br />

em torno de 36 vezes maior que a<br />

proteína Gus isolada (Barros, 2003). É<br />

possível, que o acúmulo da proteína<br />

de fusão observado possa estar relacionado<br />

<strong>com</strong> a função biológica da proteína<br />

RolA (Barros et al., 2003). Curiosamente,<br />

ensaios preliminares de<br />

citoquímica e imunocitoquímica sugerem<br />

a presença da proteína RolA::Gus<br />

em cloropl<strong>as</strong>tos, em vez de membrana<br />

celular ou núcleo, <strong>com</strong>o previsto<br />

(Barros, 2003). Desta maneira, é possível<br />

que a função da proteína RolA<br />

esteja relacionada <strong>com</strong> esta organela,<br />

que tem um papel central no metabolismo<br />

vegetal.<br />

Considerações finais<br />

O conhecimento dos mecanismos<br />

moleculares de interação<br />

Agrobacterium-planta permitiu ao<br />

homem manipular geneticamente espécies<br />

vegetais, introduzindo genes<br />

de interesse agronômico, resultando<br />

em variedades mais produtiv<strong>as</strong>, resistentes<br />

a estresses bióticos e abióticos,<br />

e <strong>com</strong> aumento no seu valor nutricional.<br />

Por outro lado, os genes rol são<br />

ferrament<strong>as</strong> importantes para o entendimento<br />

dos mecanismos de crescimento<br />

e desenvolvimento vegetal.<br />

Porém, apesar dos esforços de diversos<br />

grupos de pesquisa, a função primária<br />

de vários desses genes ainda é<br />

controversa. Serão necessários, ainda,<br />

estudos para se alcançar o <strong>com</strong>pleto<br />

conhecimento do modo de ação de<br />

cada um dos genes rol em plant<strong>as</strong><br />

transgênic<strong>as</strong>, e seus papéis na interação<br />

Agrobacterium-planta.<br />

Bibliografia<br />

Akiyoshi DE, Klee H, Am<strong>as</strong>ino RM,<br />

Nester EW, Gordon MP (1984). T-<br />

DNA of Agrobacterium tumefaciens<br />

encodes an enzyme of cytokinin<br />

biosynthesis. Proc. Natl. Acad.<br />

Sci. USA, 81: 5994-5998.<br />

Altamura MM (2004). Agrobacterium<br />

rhizogenes rolB and rolD genes:<br />

regulation and involvement in<br />

plant development. Plant Cell Tiss.<br />

Org., 77: 89-101.<br />

Altamura MM, Capitani F, Gazza L,<br />

Capone I, Constantino P (1994).<br />

The plant oncogene rolB stimulates<br />

the formation of flower and root<br />

meristemoids in tobacco thin cell<br />

layers. New Phytol., 126: 283-293.<br />

Assis CM (2003). Teste do modelo de<br />

interação da proteína RolA de<br />

Agrobacterium rhizogenes <strong>com</strong> o<br />

DNA em plant<strong>as</strong> de tabaco. Dissertação<br />

de Mestrado – Departamento<br />

de Biologia Celular, Universidade<br />

de Br<strong>as</strong>ília (UnB).<br />

Baron C & Zambryski C (1996). Plant<br />

transformation: A pilus in<br />

Agrobacterium T-DNA transfer.<br />

Curr. Biol., 6: 1567-1569.<br />

Barreto CC, Rodrigues CA, Carneiro M<br />

(1998). Isolamento de promotores<br />

de plant<strong>as</strong> por afinidade pela<br />

proteína RolA de Agrobacterium<br />

rhizogenes. Comunicado Técnico<br />

– Embrapa Recursos Genéticos<br />

e <strong>Biotecnologia</strong>, 29: 1-5.<br />

Barros LMG (2003). Estudos<br />

moleculares da proteína RolA de<br />

Agrobacterium rhizogenes em<br />

plant<strong>as</strong> de Nicotiana tabacum.<br />

Tese de Doutorado – Departamento<br />

de Biologia Celular, Universidade<br />

de Br<strong>as</strong>ília (UnB).<br />

Barros LMG, Curtis RH, Viana AAB,<br />

Campos L, Carneiro M (2003).<br />

Fused RolA protein enhances b-<br />

glucuronid<strong>as</strong>e activity 50-fold:<br />

implication for RolA mechanism<br />

of action. Protein Peptide Lett., 10<br />

(3): 303-311.<br />

Barry GF, Rogers SG, Fraley RT, Brand<br />

L (1984). Identification of a cloned<br />

cytokinin biosynthetic gene. Proc.<br />

Natl. Acad. Sci. USA, 81: 4776-<br />

4780.<br />

Ben-Hayyim G, Martin-Tanguy J,<br />

Tepfer D (1996). Changing root<br />

and shoot architecture with the<br />

rolA gene from Agrobacterium<br />

rhizogenes: Interactions with<br />

gibberellic acid and polyamine<br />

metabolism. Physiol. Plantarum,<br />

96: 237-243.<br />

Beriam LOS, Malavolta Jr VA, Robbs CF<br />

(1996). Considerações sobre o<br />

gênero Agrobacterium. Revisão<br />

Anual de Patologia de Plant<strong>as</strong>, 4:<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 23


51-74<br />

Buchanan RE, Gibbons NE (1975).<br />

Bergey’s Manual of Determinative<br />

Bacteriology. 8 a edição. Williams<br />

& Wilkins Co.<br />

Buchmann I, Marner FJ, Schröder G,<br />

Waffenschmidt S, Schröder J<br />

(1985). Tumor genes in plants: T-<br />

DNA encoded cytokinin<br />

biosynthesis. EMBO J., 4: 853-859.<br />

Burtin D, Martin-Tanguy J, Tepfer D<br />

(1991) a-DL<br />

Difluoromethylornithine, a<br />

specific, irreversible inhibitor of<br />

putrescine biosynthesis, induces a<br />

phenotype in tobacco similar to<br />

that <strong>as</strong>cribed to the root-inducing,<br />

left-hand transferred DNA of<br />

Agrobacterium rhizogenes. Plant<br />

Physiol., 95: 461-468.<br />

Capone I, Spanò L, Cardarelli M,<br />

Bellincampi D, Petit A, Constantino<br />

P (1989). Induction and growth<br />

properties of carrot roots with<br />

different <strong>com</strong>plements of<br />

Agrobacterium rhizogenes T-<br />

DNA. Plant Mol. Biol., 13: 43-52.<br />

Carneiro M, Vilaine F (1993).<br />

Differential expression of the rolA<br />

plant oncogene and its effect on<br />

tobacco development. Plant J., 3:<br />

785-792.<br />

Chilton MD, Drummond MH, Merlo<br />

DJ, Sciaky D, Montoya AL, Gordon<br />

MP, Nester EW (1977). Stable<br />

incorporation of Pl<strong>as</strong>mid DNA into<br />

higher plant cells: the molecular<br />

b<strong>as</strong>es of crown gall tumorigenesis.<br />

Cell, 11:263-271.<br />

Chilton MD, Tepfer DA, Petit A, David<br />

C, C<strong>as</strong>se-Delbart F, Tempé J<br />

(1982). Agrobacterium rhizogenes<br />

inserts T-DNA into the genomes<br />

of the host plant root cells. Nature,<br />

295: 432-434.<br />

Christie PJ (1997). Agrobacterium<br />

tumefaciens T-<strong>com</strong>plex transport<br />

apparatus: a paradigm for a new<br />

family of multifunctional<br />

transporters in eu-bacteria. J.<br />

Bacteriol., 179: 3085-3094.<br />

Conn HJ (1942). Validity of the genus<br />

Alcaligenes. J. Bacteriol., 44: 353-<br />

360.<br />

De Block M, Herrera-Estrella L, Van<br />

Montagu M, Schell J, Zambryski P<br />

(1984). Expression of foreign<br />

genes in regenerated plants and in<br />

their progeny. EMBO J., 3: 1681-<br />

1690.<br />

De Cleene M, De Ley J (1976). The<br />

host range of crown gall. Bot.<br />

Rev., 42: 389-466.<br />

De Greve H, Dhaese P, Seurinck J,<br />

Lemmers M, Van Montagu M,<br />

Schell J (1982). Nucleotide<br />

sequence and transcript map of<br />

the Agrobacterium tumefaciens<br />

Ti pl<strong>as</strong>mid-encoded octopine<br />

synth<strong>as</strong>e gene. J. Mol. Appl. Genet.,<br />

1: 499-511.<br />

Dehio C, Grossmann K, Schell J,<br />

Schmülling T (1993). Phenotype<br />

and hormonal status of transgenic<br />

tobacco plants overexpressing the<br />

rolA gene of Agrobacterium<br />

rhizogenes T-DNA. Plant Mol.<br />

Biol., 23: 1199-1210.<br />

Dessaux Y, Petit A, Farrand SK, Murphy<br />

PJ (1998). Opines and opine-like<br />

molecules involved in plant-<br />

Rhizobiaceae interactions, p. 173-<br />

197. In Spaink HP, Kondorosi A,<br />

Hooyka<strong>as</strong> PJJ (ed.). The<br />

Rhizobiaceae: molecular biology<br />

of model plant-<strong>as</strong>sociated bacteria.<br />

Kluwer Academic Publishers,<br />

Dordrecht, The Netherlands.<br />

Dougl<strong>as</strong> CJ, Walter H, Nester EW<br />

(1982). Agrobacterium<br />

tumefaciens mutants affected in<br />

attachment to plants. J. Bacteriol.,<br />

152: 1265-1275.<br />

Eklöf S, Åstot C, Moritz T, Blackwell J,<br />

Olsson O, Sandberg G (1996).<br />

Cytokinin metabolites and<br />

gradients in wild type and<br />

transgenic tobacco with moderate<br />

cytokinin over-production.<br />

Physiol. Plantarum, 98: 333-344.<br />

Estruch JJ, Chriqui D, Grossmann K,<br />

Schell J, Spena A (1991a) The<br />

plant oncogene rolC is responsible<br />

for the rele<strong>as</strong>e of cytokinins from<br />

glucoside conjugates. EMBO J., 10:<br />

2889-2895<br />

Estruch JJ, Schell j, Spena A (1991b).<br />

The protein encoded by the rolB<br />

plant oncogene hydrolyses indole<br />

glucosides. EMBO J., 10: 3125-<br />

3128<br />

Filippini F, Lo Schiavo F, Terzi M,<br />

Costantino P, Trovato M (1994).<br />

The plant oncogene rolB alters<br />

binding of auxin to plant cell<br />

membranes. Plant Cell Physiol.,<br />

35: 767-771.<br />

Garfinkel DJ, Simpson RB, Ream LW,<br />

White FF, Gordon MP, Nester EW,<br />

(1981). Genetic analysis of crown<br />

gall: Fine structure map of the T-<br />

DNA by site-directed mutagenesis.<br />

Cell, 27: 143-153.<br />

Gelvin SB (2000). Agrobacterium and<br />

plant genes involved in T-DNA<br />

transfer and integration. Annu.<br />

Rev. Plant Phys., 51: 223-256.<br />

Hansen G, Larribe M, Vaubert D,<br />

Tempé J, Biermann BJ, Montoya<br />

AL, Chilton MD, Brevet J (1991).<br />

Agrobacterium rhizogenes,<br />

pRi8196 T-DNA: Mapping and<br />

DNA sequence of functions<br />

involved in mannopine synthesis<br />

and hairy root differentiation. Proc.<br />

Natl. Acad. Sci. USA, 88: 7763-<br />

7767.<br />

Hansen G, Vaubert D, Clérot D, Tempé<br />

J, Brevet J (1994). A new open<br />

reading frame, encoding a putative<br />

regulatory protein, in<br />

Agrobacterium rhizogenes T-<br />

DNA. CR Acad Sci, 317: 49-53.<br />

Herrera-Estrella A, Chen Z, Van<br />

Montagu M, Wang K (1988). VirD<br />

proteins of Agrobacterium<br />

tumefaciens are required for the<br />

formation of a covalent DNA<br />

protein <strong>com</strong>plex at the 5´terminus<br />

of the T-strand molecules. EMBO<br />

J., 7: 4055-4062.<br />

Hildebrand EM (1934). Life history of<br />

24 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


the hairy-root organism in relation<br />

to its pathogenesis on nursery<br />

apple trees. J. Agr. Sci., 48: 857-<br />

885.<br />

Holsters M, Silva B, Van Vliet F,<br />

Genetello C, De Block M, Dhaese<br />

P, Depicker A, Inzé D, Engler G,<br />

Villarroel R, Van Montagu M, Schell<br />

J (1980). The functional<br />

organization of the nopaline A.<br />

tumefaciens pl<strong>as</strong>mid pTiC58.<br />

Pl<strong>as</strong>mid, 3: 212-230.<br />

Hong SB, Hwang I, Dessaux Y, Guyon<br />

P, Kim KS, Farrand SK (1997). A T-<br />

DNA gene required for agropine<br />

biosynthesis by transformed plants<br />

is functionally and evolutionarily<br />

related to a Ti pl<strong>as</strong>mid gene<br />

required for catabolism of agropine<br />

by Agrobacterium strains. J.<br />

Bacteriol., 179: 4831-4840.<br />

Hooyka<strong>as</strong> PJJ, den Dulk-R<strong>as</strong> H,<br />

Schilperoort RA (1988). The<br />

Agrobacterium tumefaciens T-<br />

DNA gene 6b is an onc gene.<br />

Plant Mol. Biol., 11: 791-794.<br />

Horsch RB, Fraley RT, Rogers SG,<br />

Sanders PR, Lloyd A,Hoffmann M<br />

(1984). Inheritance of functional<br />

foreign genes in plants. Science,<br />

223: 496-498.<br />

Horsch RB, Fry JE, Hoffmann NL,<br />

Eichholtz D, Rogers SG, Fraley RT<br />

(1985). A simple and general<br />

method for transferring genes into<br />

plants, Science, 227:1229-1231.<br />

Jefferson RA, Burgess SM, Hirsh D<br />

(1986). b-Glucuronid<strong>as</strong>e from<br />

Escherichia coli <strong>as</strong> a gene-fusion<br />

marker. Proc. Natl. Acad. Sci.<br />

USA, 83: 8447-8451.<br />

Jouanin L (1984). Restriction map of<br />

an agropine-type Ri pl<strong>as</strong>mid and<br />

its homologies with Ti pl<strong>as</strong>mids.<br />

Pl<strong>as</strong>mid, 12: 91-102.<br />

Joubert P, Beaupère D, Lelièvre P,<br />

Wadouachi A, Sangwan RS,<br />

Sangwan-Norreel BS (2002).<br />

Effects of phenolic <strong>com</strong>pounds on<br />

Agrobacterium vir genes and gene<br />

transfer induction – a plausible<br />

molecular mechanism of phenol<br />

binding protein activation. Plant<br />

Sci., 162: 733-743.<br />

Kerr A (1969a). Crown gall on stone<br />

fruit. I Isolation of Agrobacterium<br />

tumefaciens and related species.<br />

Aust. J. Biol. Sci., 22: 111-116.<br />

Kerr A (1969b). Transfer of virulence<br />

between isolates of<br />

Agrobacterium. Nature, 223:<br />

1175-1176.<br />

Körber H, Strizhov N, Staiger D,<br />

Feldwisch J, Olsson O, Sandberg<br />

G, Palme K, Schell J, Koncz C<br />

(1991). T-DNA gene 5 of<br />

agrobacterium modulates auxin<br />

response by autoregulated<br />

synthesis of a growth hormone<br />

antagonist in plants. EMBO J., 10:<br />

3983-3991.<br />

Levesque H, Delepelaire P, Rouze P,<br />

Slightom J, Tepfer D (1988).<br />

Common evolutionary origin of<br />

the central portions of the Ri TL-<br />

DNA of Agrobacterium rhizogenes<br />

and the Ti T-DNAs of<br />

Agrobacterium tumefaciens.<br />

Plant. Mol. Biol., 11, 731-744.<br />

Matthysse AG, Homes KV, Gurlitz RH,<br />

(1981). Elaboration of cellulose<br />

fibrils by Agrobacterium<br />

tumefaciens during to attachment<br />

to carrot cells. J. Bacteriol., 145:<br />

583-595.<br />

Maurel C, Barbier-Brygoo H, Spena A,<br />

Tempe J, Guem J (1991). Single<br />

rol genes from Agrobacterium<br />

rhizogenes TL-DNA alter some of<br />

the cellular responses to auxin in<br />

Nicotiana tabacum. Plant<br />

Physiol., 97: 212-216.<br />

Mauro ML, Trovato M, De Palois A,<br />

Gallelli A, Constantino P, Altamura<br />

MM (1996) The plant oncogene<br />

rolD stimulates flowering in<br />

transgenic tobacco plants. Dev.<br />

Biol., 180: 693-700<br />

Mayerhofer R, Koncz-Kalman Z,<br />

Nawrath C, Bakkeren G, Crameri<br />

A, Angelis K, Redei GP, Schell J,<br />

Hohn B, Koncz (1991). T-DNA<br />

integration: a model of illegitimate<br />

re<strong>com</strong>bination in plants. EMBO J.,<br />

10: 697-704.<br />

Messens F, Lenaerts A, Van Montagu<br />

M, Hedges RW (1985). Genetic<br />

b<strong>as</strong>is for opine secretion from<br />

crown gall tumor cells. Mol. Gen.<br />

Genet., 199: 344-348.<br />

Moore J, Warren G, Strobel G (1979).<br />

Involvement of a pl<strong>as</strong>mid in the<br />

hairy root dise<strong>as</strong>e of plants caused<br />

by Agrobacterium rhizogenes.<br />

Pl<strong>as</strong>mid, 2: 617-626.<br />

Moritz T, Schmülling (1998) The<br />

Gibberellin content of rolA<br />

transgenic tobacco plants is<br />

specifically altered. J. Plant<br />

Physiol., 153: 774-776.<br />

Moriuchi H, Okamoto C, Nishihama R,<br />

Yam<strong>as</strong>hita I, Machida Y, Tanaka N<br />

(2004). Nuclear localization and<br />

interaction of RolB with plant 14-<br />

3-3 proteins correlates with<br />

induction of adventitious roots by<br />

the oncogene rolB. Plant J., 38:<br />

260-275.<br />

Nilsson O, Moritz T, Imbault N, ,<br />

Sundberg G, Olsson O<br />

(1993).Hormonal characterization<br />

of transgenic tobacco plants<br />

expressing the rolC gene of<br />

Agrobacterium rhizogenes TL-<br />

DNA. Plant Physiol., 102: 363-<br />

371.<br />

Nilsson O, Moritz T, Sundberg B,<br />

Sundberg G, Olsson O (1996).<br />

Expression of the Agrobacterium<br />

rhizogenes rolC gene in a<br />

deciduous forest tree alters growth<br />

and development and leads to<br />

stem f<strong>as</strong>ciation. Plant Physiol., 112:<br />

493-502.<br />

Nilsson O, Olsson O (1997). Getting to<br />

the root: The role of the<br />

Agrobacterium rhizogenes rol<br />

genes in the formation of hairy<br />

roots. Physiol. Plantarum, 100:<br />

463-473.<br />

Odell JT, Nagy F, Chua N-H (1985).<br />

Identification of DNA sequences<br />

required for the activity of the<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 25


cauliflower mosaic virus 35S<br />

promoter. Nature, 313: 810-812.<br />

Ooms G, Hooyka<strong>as</strong> PJJ, Moolenaar G,<br />

Schilperoort RA (1981). Crown gall<br />

tumors of abnormal morphology,<br />

induced by Agrobacterium<br />

tumefaciens carrying mutated<br />

octopine Ti pl<strong>as</strong>mids: Analysis of<br />

T-DNA functions. Gene, 14: 33-<br />

50.<br />

Ooms G, Hooyka<strong>as</strong> PJJ, Van Veen<br />

RJM, Van Beelen P, Regensburg-<br />

Tuïnk TJG, Schilperoort RA (1982).<br />

Octopine Ti-pl<strong>as</strong>mid deletion<br />

mutants of Agrobacterium<br />

tumefaciens with emph<strong>as</strong>is on the<br />

right side of the T-region. Pl<strong>as</strong>mid,<br />

7: 15-29.<br />

Oono Y, Handa T, Kanaya K, Uchimiya<br />

H (1987). TL-DNA gene of Ri<br />

pl<strong>as</strong>mids responsible for dwarfness<br />

of tobacco plants. Jpn. J. Genet.,<br />

62: 501-505.<br />

Petit A, David C, Dahl GA, Ellis JG,<br />

Guyon P, C<strong>as</strong>seDelbart F, Tempé<br />

J (1983). Further extension of the<br />

opine concept: pl<strong>as</strong>mids in<br />

Agrobacterium rhizogenes<br />

cooperate for opine degradation.<br />

Mol. Gen. Genet., 190: 204-214.<br />

Petit A, Delhaye S, Tempé J, Morel G<br />

(1970). Recherches sur les<br />

guanidines des tissus de crowngall.<br />

Mise en évidence d’une<br />

relation biochimique spécifique<br />

entre les souches d’Agrobacterium<br />

tumefaciens et les tumeurs qu’elles<br />

induisent. Physiol. Veg., 8: 205-<br />

213.<br />

Porter, JR (1991). Host range and<br />

implication of plant infection by<br />

Agrobacterium rhizogenes. – CRC<br />

Crit. Rev. Plant Sci., 10: 387-421.<br />

Riker AJ, Banfield WM, Wright WH,<br />

Keitt GW, Sagen HE (1930).<br />

Studies on infectious hairy root of<br />

nursery apple trees. J. Agr. Res.,<br />

41: 507-540.<br />

Rigden DJ, Carneiro M (1999) A<br />

structural model for the RolA<br />

protein and its interaction with<br />

DNA. Proteins, 37: 697-708.<br />

Romano C, Hein M, Klee HJ (1991).<br />

Inactivation of auxin in tobacco<br />

transformed with the indoleacetic<br />

acid-lysine synth<strong>as</strong>e gene of<br />

Pseudomon<strong>as</strong> sav<strong>as</strong>tanoi. Genes<br />

Dev., 5: 438-446.<br />

Romeiro RS, Barbosa JG, Oliveira JR,<br />

Napoleão RL (1994). Galha da<br />

roseira (Agrobacterium<br />

tumefaciens) na microrregião de<br />

Barbacena (Min<strong>as</strong> Gerais, Br<strong>as</strong>il) e<br />

su<strong>as</strong> implicações fitopatológic<strong>as</strong> e<br />

econômic<strong>as</strong>. Fitopatologia Br<strong>as</strong>ileira,<br />

19 (suplemento): 320.<br />

Santos MMB (2002). Expressão do<br />

gene rolA de Agrobacterium<br />

rhizogenes em bactéria e produção<br />

de anticorpos anti-RolA. Dissertação<br />

de Mestrado – Departamento<br />

de Biologia Celular, Universidade<br />

de Br<strong>as</strong>ília (UnB).<br />

Schell J, Van Montagu M, DE Beuckeleer<br />

M, De Block M, Depicker A, De<br />

Wilde M, Engler G, Genetello C,<br />

Hernalsteens JP, Holsters M,<br />

Seurinck J, Silva B, Van Vliet F,<br />

Villaroel R (1979). Interaction and<br />

DNA transfer between<br />

Agrobacterium tumefaciens, the<br />

Ti-pl<strong>as</strong>mid and the plant host. P.<br />

Roy. Soc. Lond. B Bio., 204: 251-<br />

266.<br />

Schmülling T, Schell J, Spena A (1988).<br />

Single genes from Agrobacterium<br />

rhizogenes influence plant<br />

development. EMBO J., 7 (9):<br />

2621-2629.<br />

Schmülling T, Schell J, Spena A (1989)<br />

Promoters of the rolA, B and C<br />

genes of Agrobacterium<br />

rhizogenes are differentially<br />

regulated in transgenic plants.<br />

Plant Cell, 1: 665-670.<br />

Schmülling T, Fladung M, Grossmann<br />

K, Schell J (1993). Hormonal<br />

content and sensitivity of<br />

transgenic tobacco and potato<br />

plants expressing single rol genes<br />

of Agrobacterium rhizogenes T-<br />

DNA. Plant J., 3: 371-382.<br />

Schröder G, Waffenschmidt S, Weiler<br />

EW, Schröder J (1984). The T-<br />

region of Ti pl<strong>as</strong>mids codes for an<br />

enzyme synthesizing indole-3-<br />

acetic acid. Eur. J. Biochem., 138:<br />

387-391.<br />

Sinkar VP, Pythoud F, White FF, Nester<br />

EW, Gordon MP (1888). rolA locus<br />

of the Ri pl<strong>as</strong>mid directs<br />

developmental abnormalities in<br />

transgenic tobacco plants. Genes<br />

Dev., 2: 688-697.<br />

Slightom JL, Durand-Tardif M, Jouanin<br />

L, Tepfer D (1986). Nucleotide<br />

sequence analysis of TL-DNA of<br />

Agrobacterium rhizogenes<br />

agropine type pl<strong>as</strong>mid. J. Biol.<br />

Chem., 261: 108-121.<br />

Smith EF; Townsend CO (1907). A<br />

plant-tumor of bacterial origin.<br />

Science, 25: 671-673.<br />

Spena A, Schmulling T, Konez C, Schell<br />

JS (1987) Independent and<br />

synergistic activity of rol A, B and<br />

C loci in stimulating abnormal<br />

growth in plants. EMBO J., 6: 3891-<br />

3899.<br />

Stachel SE, Timmerman B, Zambryski<br />

P (1986) Generation of singlestranded<br />

T-DNA molecules during<br />

the initial stages of T-DNA transfer<br />

from Agrobacterium tumefaciens<br />

to plant cells. Nature, 322: 706-<br />

712.<br />

Stachel SE, Zambryski PC (1986). virA<br />

and virG control the plant-induced<br />

activation of the T-DNA transfer<br />

process of A. tumefaciens. Cell,<br />

46: 325-333.<br />

Sun JY, Monneuse MO, Martin-Tanguy<br />

J, Tepfer D (1991). Changes in<br />

flowering and the accumulation of<br />

polyamines and hydroxycinnamic<br />

acid-polyamine conjugates in<br />

tobacco plants transformed by the<br />

rolA locus from the Ri TL-DNA of<br />

Agrobacterium rhizogenes. Plant<br />

Sci., 80: 145-156.<br />

Tepfer D (1984). Transformation of<br />

several species of higher plants by<br />

Agrobacterium rhizogenes: sexual<br />

26 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


transmission of the transformed<br />

genotype and phenotype. Cell,<br />

37: 959-967.<br />

Thom<strong>as</strong>how MF, Nutter R, Montoya<br />

AL, Gordon MP, Nester EW (1980).<br />

Integration and organization of Ti<br />

pl<strong>as</strong>mid sequences in crown gall<br />

tumors. Cell, 19: 729-739.<br />

Thom<strong>as</strong>how LS, Reeves S, Thom<strong>as</strong>how<br />

MF (1984). Crown gall<br />

oncogenesis: Evidence that a T-<br />

DNA gene from the Agrobacterium<br />

Ti pl<strong>as</strong>mid pTiA6 encodes an<br />

enzyme that catalyses synthesis<br />

of indoleacetic acid. Proc. Natl.<br />

Acad. Sci. USA , 81: 5071-5075.<br />

Thom<strong>as</strong>how MF, Hughly S, Buchholtz<br />

WG, Thom<strong>as</strong>how LS (1986).<br />

Molecular b<strong>as</strong>is for the auxinindependent<br />

phenotype of crown<br />

gall tumor tissue. Science, 231:<br />

616-618.<br />

Tinland B Fournier P, Heckel T, Otten<br />

L (1992). Expression of a chimaeric<br />

heat-shock-inducible<br />

Agrobacterium 6b oncogene in<br />

Nicotiana rustica. Plant Mol. Biol.,<br />

18: 921-930.<br />

Trovato M, Mar<strong>as</strong> B, Linhares F,<br />

Costantino P (2001). The plant<br />

oncogene rolD encodes a<br />

functional ornithine<br />

cyclodeamin<strong>as</strong>e. Proc. Natl. Acad.<br />

Sci. USA, 98: 13449-13453.<br />

Tzfira T, Rhee Y, Chem MH, Kunik T,<br />

Citovsky V (2000). Nucleic acid<br />

transport in plant-microbe<br />

interactions: the molecules that<br />

walk through the walls. Annu.<br />

Rev. Microbiol., 54: 187-219.<br />

Van Heijne G, Manoil C (1990).<br />

Membrane proteins: from sequence<br />

to structure. Protein Eng., 4: 109-<br />

112.<br />

Van Larebeke N, Engler G, Holsters M,<br />

van den Elsack D, Zaenen I,<br />

Schilperoort RA; Schell J (1974).<br />

Large Pl<strong>as</strong>mid in Agrobacterium<br />

tumefaciens essential for crowngall<br />

inducing activity. Nature,<br />

255:742-743<br />

Van Onckelen H, Prinsen E, Inés d,<br />

Rüdelsheim P, van Lijsebettens M,<br />

Follin A, Schell J, van Montagu M,<br />

De Greef J (1986). Agrobacterium<br />

T-DNA gene 1 codes for<br />

tryptophan 2-monooxygen<strong>as</strong>e<br />

activity in tobacco crown gall cells.<br />

FEBS Lett., 198: 357-360.<br />

Vansuyt G, Vilaine F, Tepfer M,<br />

Rossignol M (1992). rolA<br />

modulates the sensitivity to auxin<br />

of the proton translocation<br />

catalyzed by the pl<strong>as</strong>ma<br />

membrane H + -ATP<strong>as</strong>e in<br />

transformed tobacco. FEBS Lett,<br />

298: 89-92.<br />

Viana AAB (2003). Seqüênci<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

afinidade pela proteína RolA de<br />

Agrobacterium rhizogenes promovem<br />

expressão pólen-específica<br />

em plant<strong>as</strong> de tabaco. Dissertação<br />

de Mestrado – Departamento<br />

de Biologia Celular, Universidade<br />

de Br<strong>as</strong>ília (UnB).<br />

Vilaine F, Rembur J, Chriqui D, Tepfer<br />

(1998). M. Modified Development<br />

in transgenic tobacco plants<br />

expressing a rolA::GUS<br />

translational fusion and subcellular<br />

localization of the fusion protein.<br />

Mol. Plant Microbe In., 11 (9),<br />

855-859.<br />

Walden R, Czaja I, Schmülling T, Schell<br />

J (1993). rol genes alter hormonal<br />

requirements for protopl<strong>as</strong>t<br />

growth and modify the expression<br />

of an auxin responsive promoter.<br />

Plant Cell Rep., 12: 551-554.<br />

Wang K, Herrera-Estrella L, Van<br />

Montagu M, Zambrisky P (1984).<br />

Right 25 bp terminus sequence of<br />

the nopaline T-DNA is essential<br />

for and determines direction of<br />

DNA transfer from Agrobacterium<br />

to the plant geneome. Cell, 38:<br />

455-462.<br />

Wang K, Stachel SE, Timmerman B,<br />

Van Montagu M, Zambryski P<br />

(1987). Site-specific nick occurs<br />

within the 25 bp transfer promoting<br />

border sequence following<br />

induction of vir gene expression<br />

in of Agrobacterium tumefaciens.<br />

Science, 235: 587-591.<br />

White PR, Braun AC (1943). Crown<br />

gall production by bacteria-free<br />

tumor tissues. Science, 94: 239-<br />

241.<br />

White FF, Ghidossi G, Gordon MP,<br />

Nester EW (1982). Tumor<br />

induction by Agrobacterium<br />

rhizogenes involves the transfer<br />

of pl<strong>as</strong>mid DNA to the plant<br />

genome. Proc. Natl. Acad. Sci.<br />

USA, 79: 3193-3197.<br />

White FF, Taylor BH, Huffman GA,<br />

Gordon MP, Nester EW (1985).<br />

Molecular and genetic analysis of<br />

the transferred DNA regions of the<br />

root-inducing pl<strong>as</strong>mid of<br />

Agrobacterium rhizogenes. J.<br />

Bacteriol., 164: 33-44.<br />

Willmitzer L, Schmalenbach W, Schell<br />

J (1981). Transcription of T-DNA<br />

in octopine and nopaline crown<br />

gall tumours is inhibited by low<br />

concentration of á-amanitin.<br />

Nucleic Acids Res., 9: 4801-4812.<br />

Winans SC, Kerstetter RA, Ward JE,<br />

Nester EW (1989). A protein<br />

required for transcriptional<br />

regulation o Agrobacterium<br />

virulence genes spans the<br />

cytopl<strong>as</strong>mic membrane. J.<br />

Bacteriol., 171: 1616-1622.<br />

Yanofsky MF, Porter SG, Young C,<br />

Albright LM, Gordon MP, Nester<br />

EW (1986). The virD operon of<br />

agrobacterium tumefaciens<br />

encodes a site-specific<br />

endonucle<strong>as</strong>e. Cell, 7: 471-477.<br />

Zhu J, Oger PM, Schrammeijer B,<br />

Hooyka<strong>as</strong> PJJ, Farrand SK, Winans<br />

SC (2000). The b<strong>as</strong>es of crown gall<br />

tumorigenesis. J. Bacteriol., 182:<br />

3885-3895.<br />

Zupan JR, Citovsky V, Zambryski P<br />

(1996). Agrobacterium Vir E2<br />

protein mediates nuclear uptake<br />

of single-stranded DNA in plant<br />

cells. Proc. Natl. Acad. Sci. USA,<br />

93: 2392-2397.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 27


As ômic<strong>as</strong>:<br />

Pesquisa<br />

Integrando a bioinformação<br />

O papel da bioinformática em expansão<br />

Dr. Eliseu Binneck<br />

Consultor/Pesquisador na área de Bioinformática<br />

Embrapa Soja, Londrina – PR.<br />

binneck@cnpso.embrapa.br<br />

Imagens cedid<strong>as</strong> pelo autor<br />

Como resultado dos crescentes<br />

investimentos na área da genômica nos<br />

últimos anos, a lista de sequênci<strong>as</strong> de<br />

genom<strong>as</strong> <strong>com</strong>pletos vem crescendo<br />

a uma velocidade cada vez maior e<br />

contribuindo <strong>com</strong> a disposição de um<br />

volume de dados para acesso público<br />

sem precedentes na história. Hoje<br />

(maio de 2004) são 190 genom<strong>as</strong> <strong>com</strong>pletos<br />

publicados, dos quais, 145 de<br />

procariotos, 18 de archaea e 27 de<br />

eucariotos. Além disso, existem 900<br />

genom<strong>as</strong> sendo seqüenciados; 460 de<br />

procariotos, 26 de archaea e 414 eucariotos<br />

(http://www.genomesonline.org).<br />

A Figura 1 apresenta a evolução na<br />

obtenção de sequênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>plet<strong>as</strong> de organismos de vida livre.<br />

Um forte <strong>com</strong>ponente que tem (Mewes et al, 2004), são de domínio<br />

auxiliado tremendamente essa público e possibilitam a obtenção de<br />

evolução da informação genômica são informações organizad<strong>as</strong>, além de integrarem<br />

<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> de bioinformática.<br />

ferrament<strong>as</strong> poderos<strong>as</strong>, pos-<br />

Atualmente os dados de sequênci<strong>as</strong> sibilitando, por exemplo, a análise<br />

podem ser explorados <strong>com</strong> o uso de <strong>com</strong>parativa entre dados de diferentes<br />

poderos<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> de busca, genom<strong>as</strong>.<br />

acessando fontes de informação Entretanto, em meio a esse clima<br />

eletrônica <strong>as</strong>sociada e integrada de um de novidade e excitação, parece ter<br />

modo inconcebível há menos de uma se estabelecido uma expectativa<br />

década, quando, em 1995, foi seqüenciado<br />

excessiva sobre a aplicação de dados<br />

o primeiro genoma de um orga-<br />

de sequênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong> em busca<br />

nismo de vida livre, Haemophilus influenzae<br />

de inferênci<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong>. Por outro<br />

(Fleischmann et al, 1995). lado, existe um crescente<br />

Muit<strong>as</strong> dess<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o Ensembl<br />

reconhecimento e entendimento de<br />

Genome Browser (http:// que tais metodologi<strong>as</strong> b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> na<br />

www.ensembl.org/) (Stalker et al, seqüência de DNA terão que ser<br />

2004), KEGG (http://www.genome.ad.jp/ <strong>com</strong>plementad<strong>as</strong> pela análise direta<br />

kegg/kegg2.html) (Kanehisa et al, dos produtos codificados pelos genes;<br />

2004), GeneQuiz (http:// os RNAs e <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>. Sabe-se que<br />

www.sander.ebi.ac.uk/gqsrv/submit/) conhecer a seqüência de um genoma<br />

(Hoersch et al, 2000) e MIPS (http:// não garante que <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

www.mips.biochem.mpg.de/) codificad<strong>as</strong> por esse genoma possam<br />

Fig.1: Plântula de café cv Rubi, crescida in vitro e obtida a partir<br />

de 28 gema <strong>Biotecnologia</strong> axilar de Ciência uma & Desenvolvimento outra plântula n.32 similar - janeiro/junho a ela. Assim 2004 por<br />

diante, outros clones podem ser obtidos<br />

Figura 1. Evolução no número de genom<strong>as</strong><br />

sequenciados desde 1995 até abril de 2004.<br />

Gráfico produzido <strong>com</strong> permissão a partir de<br />

informações disponíveis no banco de dados<br />

GOLD (http://www.genomesonline.org) (Bernal<br />

& Kyrpides, 2001).<br />

ser imediatamente determinad<strong>as</strong> (por<br />

exemplo, por homologia <strong>com</strong><br />

proteín<strong>as</strong>, já conhecid<strong>as</strong>, de outros<br />

organismos). Há uma estimativa,<br />

b<strong>as</strong>eada em genom<strong>as</strong> recém<strong>com</strong>pletos,<br />

que cerca de 30% do<br />

conteúdo gênico de um organismo seja<br />

de proteín<strong>as</strong> específic<strong>as</strong> deste (Rubin<br />

et al, 2000). É claro que esse número<br />

tende a diminuir à medida que mais e<br />

mais genom<strong>as</strong> vão sendo<br />

seqüenciados, m<strong>as</strong> mostra a<br />

dificuldade em proceder-se a uma<br />

anotação automatizada [confiável e<br />

<strong>com</strong>pleta] dos genom<strong>as</strong>.<br />

As predições <strong>com</strong>putacionais a<br />

partir de dados de seqüênci<strong>as</strong> são <strong>com</strong>plicad<strong>as</strong><br />

e nem sempre geram resultados<br />

confiáveis, principalmente no c<strong>as</strong>o<br />

de genom<strong>as</strong> mais <strong>com</strong>plexos <strong>com</strong>o o<br />

genoma humano. Embora o término<br />

do Projeto Genoma Humano tenha<br />

sido <strong>com</strong>emorado em abril de 2003


(Collins et al, 2003; Pennisi, 2003a), o<br />

número exato de genes codificados<br />

pelo genoma é ainda desconhecido e<br />

podem ser necessários anos ainda até<br />

que tenhamos uma contagem confiável<br />

do número de genes no genoma<br />

humano.<br />

A razão para tanta incerteza é que<br />

<strong>as</strong> predições são derivad<strong>as</strong> a partir de<br />

diferentes métodos <strong>com</strong>putacionais e<br />

program<strong>as</strong> de predição gênica. Alguns<br />

program<strong>as</strong> detectam genes<br />

procurando por parâmetros diferentes<br />

que definem onde um gene <strong>com</strong>eça<br />

e termina (predição “ab initio”).<br />

Outros program<strong>as</strong> procuram por genes<br />

pela <strong>com</strong>paração de segmentos de<br />

sequência <strong>com</strong> homologia <strong>com</strong> genes<br />

e proteín<strong>as</strong> conhecidos (predição<br />

<strong>com</strong>parativa). Enquanto a predição ab<br />

initio tende a sobrestimar o número<br />

de genes pela contagem de qualquer<br />

segmento que pareça um gene, o<br />

método de predição <strong>com</strong>parativa<br />

tende a subestimar este número, já que<br />

é limitado por reconhecer somente os<br />

genes similares aos já conhecidos. A<br />

definição de gene é problemática<br />

porque pequenos genes podem ser<br />

difíceis de detectar, um gene pode<br />

codificar para vários produtos<br />

protéicos, alguns genes codificam para<br />

RNA, dois genes podem se sobrepor,<br />

e há muit<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> <strong>com</strong>plicações<br />

(Pennisi, 2003b). Sendo <strong>as</strong>sim,<br />

métodos <strong>com</strong>putacionais por si só não<br />

são suficientes para gerar o número<br />

real e o conhecimento de todos os<br />

genes de um genoma eucariótico<br />

<strong>com</strong>plexo; pelo menos <strong>com</strong> <strong>as</strong><br />

informações existentes atualmente.<br />

Até que se gere um conjunto de dados<br />

b<strong>as</strong>tante informativo para <strong>as</strong> predições<br />

<strong>com</strong>parativ<strong>as</strong>, ess<strong>as</strong> precisarão ser<br />

verificad<strong>as</strong> por trabalho intensivo de<br />

laboratório antes de se chegar a um<br />

consenso real.As últim<strong>as</strong> estimativ<strong>as</strong> a<br />

partir de program<strong>as</strong> de predição<br />

gênica sugerem que no genoma<br />

humano devem existir 24500 ou<br />

menos genes que codificam para<br />

proteín<strong>as</strong> (Pennisi, 2003c). A<br />

estimativa do Ensembl (versão<br />

20.34c.1, de 08-02-2004) é de 23531<br />

genes, incluindo 1744 pseudogenes<br />

(http://www.ensembl.org/Homo_sapiens/)<br />

(Stalker, 2004). Essa estimativa é<br />

muito menor do que aquel<strong>as</strong> d<strong>as</strong><br />

anotações iniciais, que contavam mais<br />

de 70.000 genes (Write et al, 2001).<br />

Considerando que os genes no<br />

genoma humano apresentam um<br />

tamanho médio de 3000 pares de<br />

b<strong>as</strong>es, menos de 2% do genoma<br />

codificam para proteín<strong>as</strong>. Assim<br />

mesmo, atualmente é desconhecida<br />

a função de mais de 50% dos genes<br />

descobertos.<br />

Observando a inesperada<br />

equidade relativa no número de genes<br />

de organismos b<strong>as</strong>tante diferentes em<br />

termos de <strong>com</strong>plexidade (Quadro 1),<br />

sugere-se que o fator que determina<br />

a <strong>com</strong>plexidade de um organismo não<br />

está no número de genes, m<strong>as</strong> em<br />

<strong>com</strong>o <strong>as</strong> partes gênic<strong>as</strong> são usad<strong>as</strong><br />

para construir diferentes produtos em<br />

um processo chamado splicing<br />

alternativo. Outra razão para essa<br />

maior <strong>com</strong>plexidade são <strong>as</strong> milhares<br />

de modificações químic<strong>as</strong> pós<br />

traducionais que ocorrem n<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

e o repertório de mecanismos de<br />

regulação que controlam esses<br />

processos (Genomics and Its Impact<br />

on Science and Society: The Human<br />

Genome Project and Beyond, 2003).<br />

A versão 34.00 do banco de dados<br />

RESID (http://pir.georgetown.edu/<br />

pirwww/dbinfo/resid.html) (Garavelli,<br />

2003) apresenta 339 modificações<br />

pós ou co-traducionais conhecid<strong>as</strong> em<br />

proteín<strong>as</strong>, modificações ess<strong>as</strong> que não<br />

podem ser evidenciad<strong>as</strong> diretamente<br />

a partir da seqüência gênica.<br />

Informação versus ação<br />

Em qualquer sistema biológico, se<br />

um trabalho é realizado, qu<strong>as</strong>e sempre<br />

a molécula responsável por essa<br />

ação é uma proteína. A vida depende<br />

de milhares de proteín<strong>as</strong> diferentes,<br />

cuj<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> são ajustad<strong>as</strong> para que<br />

molécul<strong>as</strong> individuais de proteín<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>binem, numa precisão impressionante,<br />

<strong>com</strong> outr<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong>. Reações<br />

químic<strong>as</strong> na célula dependem da <strong>com</strong>binação<br />

de enzim<strong>as</strong> <strong>com</strong> substratos e<br />

ess<strong>as</strong> são geralmente controlad<strong>as</strong> por<br />

outr<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> <strong>com</strong>binando <strong>com</strong> sítios<br />

específicos da proteína. Estrutur<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>o os músculos dependem da<br />

interação proteína-proteína, o controle<br />

da expressão gênica depende da<br />

<strong>com</strong>binação proteína-DNA, o controle<br />

hormonal depende da interação do<br />

hormônio <strong>com</strong> receptores protéicos,<br />

o transporte através da membrana<br />

envolve interações soluto-proteína,<br />

proteções imunes requerem a interação<br />

antígeno-anticorpo, atividades<br />

neuronais requerem a interação substância<br />

transmissora-proteína. Estes<br />

são apen<strong>as</strong> alguns exemplos do<br />

universo qu<strong>as</strong>e infindável de interações<br />

específic<strong>as</strong> em que <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

são envolvid<strong>as</strong>. Tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> interações<br />

dependem do reconhecimento<br />

exato de estrutur<strong>as</strong> específic<strong>as</strong> n<strong>as</strong><br />

molécul<strong>as</strong> d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong><br />

(Goodsell, 1991). Neste contexto,<br />

bancos de dados <strong>com</strong>o o LIGAND<br />

(http://www.genome.ad.jp/ligand/)<br />

(Goto, 2002) possibilitam visualizar<br />

cada uma entre o universo de reações<br />

químic<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong> envolvendo a<br />

interação de enzim<strong>as</strong> <strong>com</strong> metabólitos<br />

e outros <strong>com</strong>postos. Interações<br />

proteína-proteína, proteína-DNA e<br />

proteína-RNA podem ser encontrad<strong>as</strong><br />

em bancos de dados <strong>com</strong>o BIND –<br />

Biomolecular Interaction Network<br />

datab<strong>as</strong>e (http://www.bind.ca/) (Bader<br />

et al, 2003), DIP – Datab<strong>as</strong>e of Interacting<br />

Proteins (http://dip.doe-<br />

Quadro 1 – Tamanho do genoma e número estimado de genes de diferentes organismos.<br />

Organismo Tamanho do Genoma (pares de b<strong>as</strong>es) N° Estimado de Genes<br />

Homem (Homo sapiens) 3 bilhões 30.000<br />

Rato (M. musculus) 2,6 bilhões 30.000<br />

Mostarda (A. thaliana) 100 milhões 25.000<br />

Roundworm (C. elegans) 97 milhões 19.000<br />

Mosca d<strong>as</strong> frut<strong>as</strong> (D. melanog<strong>as</strong>ter) 137 milhões 13.000<br />

Levedura (S. cerevisiae) 12,1 milhões 6.000<br />

Bactéria (E. coli) 4,6 milhões 3.200<br />

Virus da AIDS (HIV) 9700 9<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 29


mbi.ucla.edu/) (Salwinski et al, 2004)<br />

e MINT – Molecular INTeractions<br />

(http://cbm.bio.uniroma2.it/mint/)<br />

(Zanzoni, et al, 2002). Informações<br />

sobre interação antígeno-anticorpo são<br />

disponíveis no IMGT – International<br />

Immunogenetics Datab<strong>as</strong>e<br />

(imgt.cines.fr) (Lefranc, 2004).<br />

Cada vez mais se torna evidente<br />

que a aplicação de dados de seqüênci<strong>as</strong><br />

de DNA, utilizando informações<br />

sobre a relação entre a seqüência de<br />

DNA do gene e a função protéica, não<br />

sustenta a atribuição infalível de função<br />

para <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>. Muit<strong>as</strong> evidênci<strong>as</strong><br />

mostram a fragilidade d<strong>as</strong> constatações<br />

feit<strong>as</strong> puramente a partir de<br />

seqüênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong>, sugerindo que<br />

(i) embora a seqüência genômica possa<br />

ser usada para predizer “open reading<br />

frames” (ORFs), tais predições são<br />

ainda muito grosseir<strong>as</strong> e p<strong>as</strong>síveis de<br />

erro, principalmente em eucariotos.<br />

(ii) O processamento do mRNA tem<br />

uma influência importante no produto<br />

final da expressão gênica; o proteoma.<br />

É o c<strong>as</strong>o do splicing alternativo,<br />

em que, pela montagem de diferentes<br />

<strong>com</strong>binações de exons, um prémRNA<br />

dá origem a dois ou mais mR-<br />

NAs diferentes, que codificam para<br />

produtos protéicos diferentes. Como<br />

resultado, <strong>as</strong> modificações advind<strong>as</strong> do<br />

processamento do mRNA permitem<br />

que seja produzida uma variedade de<br />

proteín<strong>as</strong> superior ao número de genes<br />

do genoma. (iii) Existe uma enorme<br />

diversidade de modificações pós-traducionais<br />

que uma proteína pode sofrer,<br />

influenciando a sua função, localização<br />

celular e atividade. A informação<br />

da seqüência de DNA ainda não<br />

dá um discernimento claro sobre modificações<br />

pós-traducionais a que cada<br />

produto protéico está sujeito, sendo<br />

difícil, se não impossível, estabelecer<br />

um número de proteín<strong>as</strong> produtos<br />

que cada gene codifica. (iv) Os mecanismos<br />

de controle da expressão gênica<br />

envolvem uma rede <strong>com</strong>plexa e<br />

variável de interações moleculares,<br />

cujo entendimento é ainda b<strong>as</strong>tante<br />

rudimentar. Esses mecanismos não são<br />

prontamente evidentes a partir do<br />

conhecimento da seqüência de DNA<br />

Fig.5: Fruto de mamão<br />

do genoma, havendo ainda grandes<br />

(Carica papaya L. cv tainung<br />

limitações em se utilizar a informação<br />

1) mostrando <strong>as</strong>pectos e<br />

da seqüência de DNA <strong>com</strong> o intuito<br />

quantidade de sementes por<br />

de conhecer o conteúdo e a dimani-<br />

fruto<br />

cidade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> codificad<strong>as</strong> por<br />

um determinado genoma.<br />

Fotografia versus filme<br />

Certos grupos de proteín<strong>as</strong> interagem<br />

entre si para realizar determinados<br />

trabalhos celulares. Um exemplo<br />

bem típico são <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> organizad<strong>as</strong><br />

em vi<strong>as</strong> metabólic<strong>as</strong> <strong>com</strong>o a<br />

glicólise, o ciclo de Krebs, e outr<strong>as</strong>,<br />

em que os produtos gênicos chamados<br />

enzim<strong>as</strong> precisam trabalhar em<br />

harmonia. Outro exemplo bem conhecido<br />

é o c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> estruturais<br />

que devem estar junt<strong>as</strong> e organizad<strong>as</strong><br />

precisamente para exercer a<br />

sua função, <strong>com</strong>o exemplo, os <strong>com</strong>ponentes<br />

de uma unidade ribossomal,<br />

<strong>as</strong> histoproteín<strong>as</strong> que são essenciais<br />

para manter a estrutura da cromatina<br />

etc. Desse modo, em estudos de<br />

expressão gênica é habitual <strong>as</strong>sumir<br />

que grupos de genes cujos modelos<br />

de expressão são similares entre si,<br />

sejam provavelmente funcionalmente<br />

relacionados.<br />

Um problema <strong>com</strong> <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> de<br />

agrupamento de dados de expressão<br />

gênica (ESTs, SAGE, Microarrays), no<br />

entanto, é que el<strong>as</strong> são b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> na<br />

suposição de que os genes que apresentam<br />

modelos de expressão similares<br />

são de fato relacionados funcionalmente,<br />

isto é, eles têm funções que<br />

são relacionad<strong>as</strong>. Essa interpretação<br />

geralmente leva a erros na tentativa<br />

de entender a relação real entre os<br />

genes [através dos seus produtos].<br />

Existem razões para pôr em dúvida<br />

essa suposição: primeiro, ainda é<br />

muito inconsistente o conhecimento<br />

de quão discretamente trabalham os<br />

grupamentos funcionais de genes na<br />

maquinaria celular. Pode ser que<br />

produtos gênicos individuais tenham<br />

tantos papéis diferentes em diferentes<br />

circunstânci<strong>as</strong>, que vários deles participem<br />

de papéis essenciais em mais<br />

de uma função. Por exemplo, os processos<br />

de defesa contra estresses bióticos<br />

(originados do ataque de agentes<br />

patogênicos), ou estresses ambientais,<br />

podem ser extremamente <strong>com</strong>plexos<br />

e envolverem diferentes mecanismos<br />

atuando em conjunto. Segundo,<br />

o termo “relacionados funcionalmente”<br />

é por si só mal especificado.<br />

Se o modelo de expressão de um<br />

gene é similar ao de um outro gene,<br />

isso pode significar vários tipos de relacionamento,<br />

desde “dois genes tendo<br />

produtos que interagem fisicamente”,<br />

“um gene que codifica para<br />

um fator de transcrição para outro<br />

gene”, “dois genes ambos <strong>com</strong> seqüênci<strong>as</strong><br />

promotor<strong>as</strong> ligad<strong>as</strong> por repressores<br />

que são liberados quando<br />

um receptor nuclear é ativado, mesmo<br />

que os dois genes tenham funções<br />

muito distantes”. É claro que existe um<br />

nível de abstração no qual todos os<br />

genes são funcionalmente relacionados<br />

no trabalho de manter a célula viva<br />

e produzindo todos os <strong>com</strong>ponentes<br />

necessários para o organismo <strong>com</strong>o um<br />

todo. M<strong>as</strong> abaixo desse nível de abstração<br />

existem muitos alternativos,<br />

pela sua natureza, favorecendo a<br />

definição de agrupamento. Portanto,<br />

é perfeitamente questionável a atribuição<br />

indistinta de que similaridade<br />

em expressão corresponde à similaridade<br />

em função.<br />

Além disso, o que constitui realmente<br />

um modelo de expressão similar<br />

é ainda pouco preciso, ou pelo<br />

menos existem múltipl<strong>as</strong> definições<br />

alternativ<strong>as</strong>. Por exemplo, similaridade<br />

poderia significar ter um modelo de<br />

mudança similar ao longo do tempo.<br />

Pode significar também níveis absolutos<br />

de expressão a qualquer dado<br />

momento, ou pode significar a perfeita<br />

oposição, m<strong>as</strong> bem coreografada<br />

no modelo de expressão. Pensando<br />

em métodos <strong>com</strong>parativos, qual<br />

medida de discrepância exatamente<br />

escolhida para medir os modelos de<br />

expressão influenciará o tipo de agrupamento<br />

funcional esperado. Métodos<br />

confiáveis e exeqüíveis em escala<br />

genômica para medição absoluta da<br />

expressão gênica precisam ainda ser<br />

desenvolvidos.<br />

Corretamente interpretados ou<br />

não, dados de expressão gênica vêm<br />

sendo acumulados em volume e variedade<br />

cada vez maior. Um ensaio isolado<br />

de hibridação <strong>com</strong> DNA Microarrays,<br />

por exemplo, fornece na melhor<br />

d<strong>as</strong> hipóteses uma visão estática<br />

do nível de expressão <strong>com</strong>parativo entre<br />

os genes amostrados. Seria <strong>com</strong>o<br />

a fotografia do evento. M<strong>as</strong> dificilmente<br />

uma fotografia consegue mostrar<br />

todo o panorama. Uma nova fotografia,<br />

tomada de um outro ângulo,<br />

30 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


pode mostrar nuances que não haviam<br />

sido captad<strong>as</strong> anteriormente, e<br />

<strong>as</strong>sim por diante. Conhecer <strong>as</strong><br />

mudanç<strong>as</strong> é diferente de percorrer o<br />

caminho que leva aos estados diferenciados.<br />

Por exemplo, entender a<br />

trajetória da ocorrência de vários RNAs<br />

mensageiros em vez de conhecer<br />

apen<strong>as</strong> valores absolutos ou <strong>com</strong>parativos<br />

em um dado momento, proporciona<br />

muito mais informação sobre<br />

a operacionalidade do sistema.<br />

A vida é essencialmente dinâmica.<br />

Apen<strong>as</strong> o filme, isto é, a análise<br />

dinâmica do sistema, pode dar suporte<br />

para o entendimento <strong>com</strong>pleto dos<br />

processos biológicos. E aí está o<br />

grande desafio da bioinformática. A<br />

integração <strong>com</strong>parativa dos dados<br />

precisa ser realizada in silico, transformando<br />

o conjunto de imagens estátic<strong>as</strong><br />

no filme da vida.<br />

As ômic<strong>as</strong><br />

larga escala, deu campo para o surgimento<br />

de uma lista de novos termos,<br />

Antes da era da bioinformática, que não pára de crescer. Estamos entrando<br />

somente du<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong> de fazer experimentação<br />

na era d<strong>as</strong> ômic<strong>as</strong> (Pals-<br />

em biologia eram disponíveis:<br />

son,2002). Com centen<strong>as</strong> de milhares<br />

utilizando um organismo vivo de proteín<strong>as</strong> para identificar, correl<strong>as</strong>on,2002).<br />

(também chamado in vivo) ou em cionar e entender, por exemplo, não<br />

um sistema artificial (também chamado<br />

é suficiente estudar um gene, um<br />

in vitro). Seguindo essa analogia, produto gênico ou um processo de<br />

podemos dizer que a bioinformática cada vez. Por outro lado, estudar em<br />

é de fato a biologia in silico. A bioinformática<br />

larga escala um conjunto de molécu-<br />

veio para facilitar o uso de l<strong>as</strong> <strong>com</strong> o objetivo de entender mecan-<br />

<strong>com</strong>putadores no sentido de organizar ismos celulares, dificilmente podem<br />

e analisar integradamente uma montanha<br />

responder questões interessantes sem<br />

Fig.6:<br />

de<br />

Germinação<br />

dados <strong>com</strong>plexos<br />

de sementes<br />

e variados,<br />

de mamão<br />

a <strong>as</strong>sistência<br />

sob condições<br />

da informação<br />

in vitro,<br />

gerada<br />

após<br />

pela<br />

ter-se retirado a sarcotesta e realizado sua <strong>as</strong>sepsia<br />

possibilitando enfrentar o desafio de<br />

decifrar <strong>com</strong>ponentes importantes<br />

dentro de um universo crescente de<br />

informações. Isso somado ao desenvolvimento<br />

de equipamentos poderosos<br />

para a miniaturização e automação<br />

da aquisição de dados biológicos em<br />

pesquisa tradicional dirigida por hipóteses.<br />

Por isso, os dois tipos de ciência<br />

atualmente disponíveis, <strong>as</strong> ômic<strong>as</strong><br />

e <strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> dirigid<strong>as</strong> por hipóteses<br />

(Weinstein, 2001), são sinérgic<strong>as</strong> e<br />

devem ser utilizad<strong>as</strong> de modo a se<br />

<strong>com</strong>plementarem.<br />

Genômica<br />

A genômica se caracteriza pelo estudo dos genes e su<strong>as</strong> funções. A sua chegada, <strong>com</strong> o projeto genoma humano<br />

no final da década de 1980, alavancou toda a revolução atual no campo da biologia. Muit<strong>as</strong> expectativ<strong>as</strong> e investimentos<br />

têm sido empregad<strong>as</strong> na genômica, visando aplicações n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> da indústria farmacêutica, agricultura, produção de<br />

energia e proteção do meio ambiente. M<strong>as</strong> a determinação da seqüência <strong>com</strong>pleta de vários genom<strong>as</strong> não é o final da<br />

história. É apen<strong>as</strong> o <strong>com</strong>eço, principalmente pelo fato de que mecanismos biológicos não podem ser inferidos simplesmente<br />

a partir do conhecimento da seqüência sem o auxílio de outr<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> de estudo, <strong>as</strong> ômic<strong>as</strong> em geral.<br />

Genômica <strong>com</strong>parativa. Esse novo ramo da genômica, que vem se tornando cada vez mais <strong>com</strong>um dada a<br />

quantidade de seqüênci<strong>as</strong> de genom<strong>as</strong> sendo produzid<strong>as</strong>, tem o objetivo de <strong>com</strong>parar todo o conteúdo de DNA do<br />

genoma de um organismo particular <strong>com</strong> outros genom<strong>as</strong> já conhecidos. Através dessa análise pode ser possível<br />

identificar diferenç<strong>as</strong>, tanto no conteúdo gênico quanto não-gênico, que podem ser responsáveis por importantes<br />

propriedades fenotípic<strong>as</strong> ou evolutiv<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o patogenicidade, reações a condições ambientais advers<strong>as</strong>, proximidade<br />

taxonômica entre grupos e até mesmo a aquisição (ou manifestação?) de determinados <strong>com</strong>portamentos individuais.<br />

Transcriptômica (ou genômica funcional)<br />

O produto inicial da expressão gênica em um organismo é conhecido <strong>com</strong>o transcriptoma e se caracteriza por<br />

uma coleção de molécul<strong>as</strong> de RNA mensageiro cuja informação biológica é requerida pela célula em um determinado<br />

momento. Ess<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> de mRNA são sintetizad<strong>as</strong> a partir de genes que codificam proteín<strong>as</strong> e, <strong>as</strong>sim, direcionam a<br />

síntese do produto final da expressão gênica, o proteoma, que especifica a natureza d<strong>as</strong> reações bioquímic<strong>as</strong> que a<br />

célula está apta a realizar. Um ponto importante a notar é que o transcriptoma nunca é sintetizado de novo, isto é, não<br />

<strong>com</strong>eça do zero. Cada célula recebe parte de seu transcriptoma materno quando é formada pela divisão celular, e<br />

depois é responsável pela manutenção e adaptação do transcriptoma conforme os diferentes estágios de sua vida e o<br />

tipo de diferenciação tomado.<br />

Como regra geral, RNAs mensageiros bacterianos têm mei<strong>as</strong>-vid<strong>as</strong> de não mais de poucos minutos e em eucariotos<br />

a maioria dos mRNAs são degradados pouc<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> após a sua síntese. O “turnover” rápido significa que a <strong>com</strong>posição<br />

do transcriptoma não é fixa e pode ser rapidamente reestruturada pela mudança no nível de síntese de mRNAs<br />

específicos. Assim, a transcrição não resulta na síntese do transcriptoma, m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> o mantém pela reposição de<br />

mRNAs que foram degradados, e promove mudanç<strong>as</strong> na <strong>com</strong>posição do transcriptoma ligando ou desligando os diferentes<br />

genes ou conjuntos de genes.<br />

Avanços tecnológicos b<strong>as</strong>eados na PCR, intenso sequenciamento de cDNA e síntese de novo de ácidos nucléicos,<br />

têm contribuído para o desenvolvimento de técnic<strong>as</strong> de quantificação de mRNA em larga escala, em muitos c<strong>as</strong>os em<br />

escala genômica, possibilitando que centen<strong>as</strong> ou milhares de genes sejam estudados em paralelo em vez de um gene<br />

de cada vez. Métodos <strong>com</strong>o Differential Display (DD), Serial Analysis of Gene Expression (SAGE) e DNA array<br />

hibridization ou DNA microarray, todos trouxeram benefícios significativos em relação ao Northern blotting em<br />

termos de sensibilidade e número de ensaios. Entre ess<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong>, a que vem ganhando preferência para estudar a<br />

<strong>com</strong>posição de um transcriptoma, e fazer <strong>com</strong>parações entre diferentes transcriptom<strong>as</strong>, é a técnica de DNA microarray,<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 31


que se b<strong>as</strong>eia na hibridação em paralelo de ácidos nucléicos. Experimentos de expressão gênica <strong>com</strong> DNA microarrays<br />

vêm sendo largamente utilizados para explorar o modelo de expressão simultânea e em paralelo de milhares de genes.<br />

Isso requer ferrament<strong>as</strong> poderos<strong>as</strong> de correlação <strong>com</strong>putacional.<br />

Um DNA microarray consiste de uma coleção de sequênci<strong>as</strong> parciais de genes (normalmente cDNAs) que são<br />

espotados individualmente em locais específicos de uma lâmina. Ess<strong>as</strong> sequênci<strong>as</strong> geralmente variam de 500 a 4000<br />

b<strong>as</strong>es (idealmente 500 a 2000 b<strong>as</strong>es) e podem ser escolhid<strong>as</strong> a partir de diferentes regiões do gene dependendo do<br />

objetivo do projeto. Uma variação da técnica, chamada DNA chip, é b<strong>as</strong>eada na deposição ou síntese in situ de<br />

oligonucleotídeos para a geração de alvos. Esses chips contêm oligômeros curtos variando de 25 a 80 b<strong>as</strong>es <strong>com</strong>o<br />

seqüênci<strong>as</strong>-alvo. Enquanto ess<strong>as</strong> sequênci<strong>as</strong> curt<strong>as</strong> podem conferir alta sensibilidade, el<strong>as</strong> podem apresentar baixa<br />

especificidade de ligação <strong>com</strong>parada <strong>com</strong> DNA microarrays, uma vez que <strong>as</strong> seqüênci<strong>as</strong> são curt<strong>as</strong> e usualmente não<br />

representam genes conhecidos.<br />

O uso de DNA microarrays para o estudo do modelo de expressão gênica b<strong>as</strong>eia-se em dois princípios. Primeiro,<br />

considera-se que cada gene é expresso ou não e <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> no seu nível de expressão em uma célula ou tecido, em<br />

determinado momento, são um reflexo de quais mRNAs estão presentes e a sua abundância, e; segundo, <strong>as</strong> fit<strong>as</strong> de<br />

DNA podem hibridar-se <strong>com</strong> seqüênci<strong>as</strong> <strong>com</strong>plementares formando uma molécula estável em fita dupla.<br />

Tipicamente, a primeira face dos dados experimentais de DNA microarrays é uma lista de genes/sequênci<strong>as</strong> ou<br />

números de identificação e o seu perfil de expressão. Modelos de correlação dentro do conjunto m<strong>as</strong>sivo de dados de<br />

pontos não são óbvios por uma inspeção visual. Diferentes algoritmos de agrupamento <strong>com</strong>putacional precisam ser<br />

usados simultaneamente para reduzir a <strong>com</strong>plexidade dos dados e para encurtar a relação entre genes de acordo <strong>com</strong><br />

o seu nível de expressão ou mudanç<strong>as</strong> nos níveis de expressão. Problem<strong>as</strong> relacionados <strong>com</strong> <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> de agrupamento<br />

são considerados na seção anterior.<br />

Uma d<strong>as</strong> maiores vantagens da utilização da técnica de DNA microarray, <strong>com</strong>parando-a <strong>com</strong> outros métodos, é<br />

a facilidade da análise simultânea e em paralelo de um grande número de genes e de um grande número de amostr<strong>as</strong>.<br />

Deve ser notado, entretanto, que tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> usad<strong>as</strong> para a quantificação de mRNA proporcionam um nível de<br />

informação empírica e não uma condição estável absoluta. Além disso, sabe-se que a detecção de uma diferença na<br />

abundância de um mRNA específico entre du<strong>as</strong> amostr<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong> não é necessariamente refletida por uma diferença<br />

quantitativa equivalente no nível de abundância da proteína, o que muit<strong>as</strong> vezes está implícito nos estudos.<br />

Existem, portanto, limitações intrínsec<strong>as</strong> da técnica, entre <strong>as</strong> quais (i) a abundância do mRNA nem sempre é bem<br />

correlacionada <strong>com</strong> a abundância da proteína, (ii) a sensibilidade e variação dinâmica dos métodos existentes são tais<br />

que os mRNAs menos abundantes, potencialmente codificando <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> regulatóri<strong>as</strong> mais importantes, não são<br />

facilmente medidos <strong>com</strong>o acontece <strong>com</strong> os mRNAs mais abundantes, e (iii) a atividade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> codificad<strong>as</strong> pelos<br />

mRNAs é regulada a vários níveis após a sua expressão. Por exemplo, a localização subcelular e/ou a extensão em que<br />

<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> são pós-traducionalmente modificad<strong>as</strong>, não são revelad<strong>as</strong> pela medição da abundancia do mRNA.<br />

Proteômica<br />

Para entender a função de todos os genes em um organismo, é necessário conhecer não só quais genes são<br />

expressos, quando e onde, m<strong>as</strong> também quais são os produtos da expressão e em que condições esses produtos<br />

(proteín<strong>as</strong>) são sintetizados em certos tecidos. A proteômica tenta descrever o conjunto <strong>com</strong>pleto de proteín<strong>as</strong> produto<br />

da expressão do genoma (James, 1997), e fornece informações importantes para <strong>com</strong>plementar os estudos de transcriptômica<br />

e metabolômica.<br />

Os organismos podem sintetizar muitos milhares de proteín<strong>as</strong> ao mesmo tempo, e a diversidade potencial de<br />

tipos de proteín<strong>as</strong> no proteoma certamente excede o número estimado de genes no genoma. Isso ocorre porque os<br />

produtos de um gene podem diferir devido a splicing alternativo e uma variedade de modificações pós-traducionais<br />

possíveis, <strong>com</strong>o apresentado acima. O crescente interesse no campo da proteômica vem concentrando esforços para<br />

acelerar o desenvolvimento e implementação de estratégi<strong>as</strong> mais apropriad<strong>as</strong> para a análise de expressão e função de<br />

proteín<strong>as</strong> em escala genômica.<br />

Esse interesse tem ocorrido, em parte substancial, devido ao sucesso dos projetos de sequenciamentos genômicos,<br />

considerando que a realização bem sucedida desses projetos tem resultado em uma apreciação mais extensa de<br />

que, por si só, eles revelam menos do que se esperava sobre a biologia do organismo. Os dados de sequênci<strong>as</strong><br />

genômic<strong>as</strong> proporcionam uma plataforma essencial para um conhecimento mais amplo d<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> experimentais<br />

<strong>com</strong>plementares que darão suporte à caracterização dos genes contidos nos genom<strong>as</strong>. A utilização integrada dess<strong>as</strong><br />

ferrament<strong>as</strong> possibilitará o entendimento de <strong>com</strong>o os produtos desses genes atuam conjuntamente para regular <strong>as</strong><br />

atividades do organismo.<br />

A proteômica depende da extração, separação, visualização, identificação e quantificação d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> presentes<br />

em um organismo ou tecido, em um determinado momento. Todos esses estágios têm limitações. Portanto, atualmente,<br />

é impossível descrever o proteoma <strong>com</strong>pleto de um organismo.<br />

Atualmente, o ponto de partida para muit<strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong> na investigação d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na expressão protéica<br />

envolve a resolução d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> de uma mistura <strong>com</strong>plexa por eletroforese 2-D e a sua subsequente identificação<br />

usando métodos analíticos cada vez mais precisos e poderosos. Eletroforese 2-D, <strong>com</strong>plementada <strong>com</strong> HPLC, permite<br />

32 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


separar e purificar vários milhares de proteín<strong>as</strong> extraíd<strong>as</strong> de um tecido ou célul<strong>as</strong>, em um determinado momento ou<br />

condição. Embora a eletroforese 2-D apresente significantes limitações, parece ser o melhor método até o momento<br />

para resolver um grande número de proteín<strong>as</strong> de uma mistura, ao mesmo tempo em que permite acessar <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong><br />

no nível de expressão e a purificação de proteín<strong>as</strong> chave para subsequente caracterização.<br />

Avanços relativamente recentes na caracterização de proteín<strong>as</strong> têm surgido da automatização de métodos <strong>com</strong>o<br />

matrix-<strong>as</strong>sisted l<strong>as</strong>er desortion-ionization (MALDI) e eletrospray ionization (ESI) m<strong>as</strong>s spectrocopy (MS) para se<br />

obter o fingerprinting de m<strong>as</strong>sa e sequenciamento de peptídeos.<br />

Metabolômica<br />

A metabolômica é uma área da genômica funcional que estuda <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> na expressão de pequen<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong><br />

orgânic<strong>as</strong>, conhecid<strong>as</strong> <strong>com</strong>o metabólitos, em sistem<strong>as</strong> biológicos. Ela promete <strong>com</strong>plementar a genômica por permitir<br />

avaliações objetiv<strong>as</strong> do fenótipo (Weckwerth, et al, 2004).<br />

Grande importância vem sendo dada para a <strong>com</strong>binação de dados de metabolômica <strong>com</strong> dados de expressão<br />

gênica e proteômica. A metabolômica ajudará na revelação de <strong>com</strong>o os genótipos são <strong>as</strong>sociados <strong>com</strong> os fenótipos e<br />

fazer simulações de mecanismos celulares em larga escala. Em uma escala maior, o fenomenoma (Schilling et al, 1999;<br />

Palsson, 2000) ajudará a materializar métodos de análise <strong>com</strong> a melhor tecnologia para estudos [e interpretações] do<br />

metaboloma.<br />

O fenomenoma requer uma organização de descobert<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong>, quantificando e identificando todos os<br />

metabólitos em um <strong>com</strong>plexo de amostr<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong>, rápida e simultaneamente. Isso deve ser obtido sem qualquer<br />

seleção a priori dos metabólitos de interesse, para evitar tendenciosidades. Softwares de bioinformática são necessários<br />

para organizar e facilitar a visualização dos dados de modo a auxiliar na sua interpretação (Steuer et al, 2003; Covert et<br />

al, 2004). Os softwares devem <strong>com</strong>binar dados obtidos por DNA microarrays, proteômica e metabolômica numa<br />

mesma visualização.<br />

Essa tecnologia permitirá, em última instância, a integração e correlação d<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> globais no metabolismo e<br />

expressão gênica. Uma análise quantitativa de todos os metabólitos em uma célula pode ajudar no entendimento de<br />

problem<strong>as</strong> <strong>com</strong>o, por exemplo, os efeitos pleiotrópicos, em que um único gene determina um número de característic<strong>as</strong><br />

não relacionad<strong>as</strong>. Problem<strong>as</strong> <strong>as</strong>sim podem ser mais bem entendidos se uma alteração detectada no conteúdo de um<br />

metabólito, utilizado em vi<strong>as</strong> metabólic<strong>as</strong> diferentes, estiver relacionado <strong>com</strong> uma mutação no gene ou a sua sobreexpressão<br />

ou inibição.<br />

O Quadro 2 mostra a evolução<br />

d<strong>as</strong> principais nov<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> da pesquisa<br />

biológica no últimos anos, b<strong>as</strong>eada no<br />

número de ocorrênci<strong>as</strong> de termos relacionados<br />

na literatura científica.<br />

Além dess<strong>as</strong>, uma variedade de<br />

ômic<strong>as</strong> vem surgindo e uma sobreposição<br />

de propósito é inevitável.<br />

Entre outr<strong>as</strong> tant<strong>as</strong>, a farmacogenômica<br />

(Marshall, 1997) visa entender<br />

a interação da constutuição<br />

genética de um indivíduo <strong>com</strong> a resposta<br />

a drog<strong>as</strong>.<br />

A fisiômica (Sanford et al, 2002)<br />

se dedica a fazer uma descrição quantitativa<br />

d<strong>as</strong> funções fisiológic<strong>as</strong> de um<br />

organismo intacto. É necessário predi-<br />

zer o fenótipo a partir do genótipo,<br />

m<strong>as</strong> isso é difícil por causa d<strong>as</strong> influênci<strong>as</strong><br />

do ambiente e <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong><br />

do crescimento, desenvolvimento<br />

e doenç<strong>as</strong>. O objetivo é obter o<br />

um discernimento de toda a fisiologia<br />

de um organismo, incluindo <strong>as</strong> vi<strong>as</strong><br />

metabólic<strong>as</strong> e tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> e<br />

su<strong>as</strong> interações, que fazem o organismo<br />

<strong>com</strong>pleto. Uma d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong><br />

nesse campo é o Projeto Fisioma<br />

(http://physiome.org/), cujo<br />

principal objetivo é entender o organismo<br />

humano, descrevendo quantitativamente<br />

a sua fisiologia e patofisiologia,<br />

utilizando inclusive informações<br />

provenientes dos fisiom<strong>as</strong> de outros<br />

organismos, para melhorar a saúde<br />

humana (B<strong>as</strong>singthwaighte, 2000).<br />

A regulômica (Werner, 2004) é<br />

o estudo d<strong>as</strong> instruções bioquímic<strong>as</strong><br />

da rede de interação gênica que controla<br />

os mecanismos de regulação da<br />

expressão dos genes para fazer todos<br />

os tipos de célula necessários para<br />

construir organismos <strong>com</strong>pletos (Kondro,<br />

2004; Gao et al 2004; Roven &<br />

Bussemaker, 2004).<br />

A peptidômica se dedica a estudar<br />

peptídeos pequenos (0,5 a 15<br />

kDa), <strong>com</strong>o hormônios, citoquin<strong>as</strong>,<br />

fatores de crescimento, venenos, toxin<strong>as</strong>,<br />

peptídeos antimicrobianos etc.<br />

Ess<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> têm papel fundamental<br />

em muitos processos biológicos<br />

(Schulz-Knappe et al, 2001; Prates &<br />

Bloch, 2002).<br />

A degradômica é a aplicação de<br />

dados gerados pela genômica e proteômica<br />

para identificar <strong>as</strong> prote<strong>as</strong>es<br />

Quadro 2 – Número de ocorrênci<strong>as</strong> de referênci<strong>as</strong> no PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih/) em algum<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> da pesquisa<br />

biológica, desde 1998. Busca limitada para os campos Título e Abstract.<br />

Palavra chave 1988 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Abril2004<br />

“Genomics” 3 12 23 38 52 64 90 130 208 386 678 1263 2081 3104 4199 4660<br />

“Comparative genomics” — — — — — — 4 8 18 37 69 126 192 291 427 503<br />

“Functional genomics” — — — — — — — — 10 46 131 277 480 736 1016 1127<br />

“Transcriptomics” — — — — — — — — — — 1 3 7 23 41 63<br />

“Proteomics” — — — — — — — — 1 20 67 277 631 1254 2022 2444<br />

“Pharmacogenomics” — — — — — — — — 1 11 37 136 249 472 702 795<br />

“Metabolomics” — — — — — — — — — — — 2 7 28 59 81<br />

“Peptidomics” — — — — — — — — — — — — 5 8 18 23<br />

“Bioinformatics” — — — — 3 12 20 44 78 144 230 420 657 1058 1604 1852<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 33


e os seus substratos em escala genômica,<br />

para descobrir novos papéis para<br />

prote<strong>as</strong>es in vivo. O objetivo é facilitar<br />

a identificação de novos alvos para<br />

o desenvolvimento de fármacos visando<br />

o tratamento de doenç<strong>as</strong> (Lopez-<br />

Otin & Overall, 2002).<br />

A epigenômica busca esclarecer<br />

<strong>com</strong>o o genoma funciona <strong>com</strong>o um<br />

PESQUISA<br />

todo. Ela <strong>com</strong>bina a genética <strong>com</strong> o<br />

ambiente para buscar uma <strong>com</strong>preensão<br />

dos sistem<strong>as</strong> biológicos <strong>com</strong>plexos<br />

<strong>com</strong>o a pl<strong>as</strong>ticidade do genoma.<br />

Embora tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> nuclead<strong>as</strong> de<br />

um organismo levem o mesmo<br />

genoma, el<strong>as</strong> expressam diferentes<br />

genes em diferentes momentos e<br />

condições. Esses mecanismos de regulação<br />

da expressão gênica são <strong>com</strong>plexos,<br />

e um dos principais fatores<br />

envolvidos são <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> epigenétic<strong>as</strong><br />

resultantes da metilação<br />

diferencial do genoma. Daí, diz-se que<br />

resultam diferentes epigenom<strong>as</strong>. Alguns<br />

estudos têm demonstrado o envolvimento<br />

da metilação do DNA num<br />

processo chamado imprinting<br />

genômico, que controla a expressão<br />

de alguns genes em mamíferos, podendo<br />

ter efeito no surgimento de<br />

doenç<strong>as</strong>, especialmente o câncer.<br />

Novik et al (2002) apresenta uma revisão<br />

sobre o <strong>as</strong>sunto.<br />

A toxicogenômica (Kramer &<br />

Kolaja, 2002 e Guerreiro et al, 2003)<br />

marca um novo paradigma no desenvolvimento<br />

de drog<strong>as</strong> e análise de<br />

risco, que promete gerar uma enorme<br />

quantidade de informação na direção<br />

de aumentar o entendimento do<br />

mecanismo molecular que leva à toxicidade<br />

da droga e eficiência. É esperado<br />

que a toxigenômica seja mais e<br />

mais integrada <strong>com</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> f<strong>as</strong>es do<br />

processo de desenvolvimento de drog<strong>as</strong>,<br />

particularmente na toxicologia<br />

mecanística e preditiva, e descobrimento<br />

de biomarcadores, buscando<br />

identificar polimorfismos no DNA relacionados<br />

<strong>com</strong> a suscetibilidade individual<br />

à toxicidade em relação a uma<br />

determinada droga. O objetivo é a<br />

seleção de candidatos no sentido de<br />

ajudar a desenvolver e utilizar drog<strong>as</strong><br />

que produzam menor toxicidade.<br />

Antes e depois da genômica:<br />

a velha e a nova biologia<br />

Depois do descobrimento da<br />

dupla fita de DNA, do código genético,<br />

enzim<strong>as</strong> de restrição, PCR e tantos<br />

avanços na biologia molecular durante<br />

a segunda metade do século<br />

p<strong>as</strong>sado, na última década experienciamos<br />

uma nova revolução no campo<br />

da biologia <strong>com</strong> a era da genômica,<br />

e <strong>com</strong> ela muit<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> ômic<strong>as</strong>,<br />

<strong>com</strong>o apresentado acima. Nesse contexto,<br />

muit<strong>as</strong> pergunt<strong>as</strong> surgiram e<br />

permanecem ainda sem respost<strong>as</strong><br />

satisfatóri<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o: quais os impactos<br />

da genômica nos projetos de<br />

pesquisa n<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong><br />

biológic<strong>as</strong>? o método científico<br />

Figura 2. Ilustração do processo<br />

de obtenção de nov<strong>as</strong><br />

descobert<strong>as</strong> nos diversos<br />

campos da ciência.<br />

ainda é relevante? a bioinformática é<br />

uma disciplina separada? <strong>com</strong>o pode<br />

ser melhorada a <strong>com</strong>unicação entre<br />

<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> científic<strong>as</strong> atuais e a tecnologia<br />

da informação (IT) para solucionar<br />

a necessidade da integração<br />

dos dados disponíveis, que apresentam-se<br />

em fontes e formatos tão variados?<br />

pergunt<strong>as</strong> <strong>com</strong>o ess<strong>as</strong> são<br />

chaves para <strong>as</strong> ações futur<strong>as</strong> n<strong>as</strong> biociênci<strong>as</strong>.<br />

Fazendo um paralelo entre a<br />

velha biologia e a situação atual, podemos<br />

notar que o predomínio de<br />

pesquisadores mais ou menos independentes<br />

e profundamente especializados<br />

em um domínio estreitamente<br />

focado, não é adequado para<br />

a nova ciência cada vez mais integrada<br />

e ampla. Os estudos voltados para<br />

um gene ou uma função de cada vez<br />

dão lugar para a análise quantitativa<br />

de centen<strong>as</strong> de milhares de genes, e<br />

não mais focalizando apen<strong>as</strong> uma espécie,<br />

m<strong>as</strong> <strong>com</strong> uma abordagem de<br />

integração <strong>com</strong>parativa de dados interespecíficos.<br />

Os grandes investimentos<br />

voltados para enfoques<br />

científicos muit<strong>as</strong> vezes pouco<br />

abrangentes e hipóteses dirigid<strong>as</strong> pela<br />

pesquisa são substituídos pela automação<br />

e miniaturização, reduzindo<br />

o custo e aumentando a velocidade<br />

da coleta de dados. A necessidade da<br />

busca de ferrament<strong>as</strong> <strong>com</strong>putacionais<br />

básic<strong>as</strong> e somente para analisar conjuntos<br />

de dados é suplantada pela rápida<br />

disponibilidade de bancos de dados,<br />

grandes demais para um pesquisador<br />

conseguir analisar os dados<br />

sozinho. E, <strong>as</strong>sim, onde estão <strong>as</strong> hipóteses?<br />

poderíamos caracterizar essa<br />

revolução <strong>com</strong>o uma grande expedição<br />

para o acabamento da ciência<br />

da vida? quais são os impactos para a<br />

sociedade?<br />

Embora se tenha observado uma<br />

grande mudança no tipo e quantidade<br />

de dados obtidos, e a validade do<br />

método científico ser colocado em<br />

xeque, o plano clássico no curso da<br />

ciência continua sendo válido. Os dados<br />

geram informação, que gera novos<br />

conhecimentos, que proporcionam<br />

o caminho para nov<strong>as</strong> descobert<strong>as</strong>.<br />

No final, algum<strong>as</strong> vezes, paradigm<strong>as</strong><br />

são transpostos (Figura 2). A principal<br />

diferença é que até algum<strong>as</strong><br />

décad<strong>as</strong> atrás, esse processo requeria<br />

somente poder de raciocínio, lápis e<br />

papel. Agora requer tecnologia <strong>com</strong>putacional<br />

sofisticada. Para isso, os<br />

centros de pesquisa e universidades<br />

cada vez mais terão que ter seus próprios<br />

grupos de bioinformática, mantendo<br />

equipes multidisciplinares <strong>com</strong> atividades<br />

que de um lado promovam<br />

uma melhor exploração dos dados biológicos<br />

através de ferrament<strong>as</strong> de<br />

bioinformática e, por outro lado, <strong>as</strong><br />

questões gerad<strong>as</strong> pelos dados biológicos<br />

obtidos possibilitem melhorar <strong>as</strong><br />

ferrament<strong>as</strong> de bioinformática. A bioinformática<br />

será cada vez mais importante<br />

em termos de integração da informação,<br />

buscando impulsionar a<br />

aquisição de conhecimento sobre os<br />

sistem<strong>as</strong> biológicos para a geração de<br />

nov<strong>as</strong> saíd<strong>as</strong> para problem<strong>as</strong> na agricultura,<br />

medicina, produção de energia<br />

e conservação do meio ambiente.<br />

O papel da bioinformática<br />

em expansão<br />

Os projetos genoma transformaram<br />

a biologia em muitos sentidos, m<strong>as</strong><br />

34 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


o mais impressionante avanço foi a<br />

emergência da bioinformática e o treinamento<br />

dos cientist<strong>as</strong> em tecnologi<strong>as</strong><br />

modern<strong>as</strong> de pesquisa. Inicialmente<br />

a bioinformática teve <strong>com</strong>o<br />

aplicação principal facilitar o manuseio<br />

da grande quantidade de dados gerados<br />

pelos projetos genoma, <strong>com</strong>o a<br />

montagem de contigs e fechamento<br />

de seqüênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong>, além de dar<br />

suporte para outr<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> experimentais<br />

no campo da biologia molecular.<br />

De lá para cá, muit<strong>as</strong> informações<br />

foram disponibilizad<strong>as</strong> em bancos de<br />

dados públicos de seqüênci<strong>as</strong> gênic<strong>as</strong>,<br />

proteín<strong>as</strong>, estrutur<strong>as</strong> de macromolécul<strong>as</strong>,<br />

perfil metabólico, filogenia e outros,<br />

cujo valor ainda não pode sequer<br />

ser estimado. Hoje não é mais possível<br />

avançar em biotecnologia sem a<br />

integração da tecnologia da informação<br />

<strong>com</strong> a tecnologia experimental.<br />

As abordagens de estudos biotecnológicos<br />

atualmente buscam resolver<br />

questões específic<strong>as</strong>, optando-se<br />

normalmente por fazer uma análise<br />

<strong>com</strong>putacional inicial <strong>com</strong> a utilização<br />

dess<strong>as</strong> informações para direcionar e<br />

selecionar <strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> experimentais,<br />

<strong>com</strong> considerável economia financeira<br />

e de tempo, sem considerar a<br />

efetividade de tais procedimentos na<br />

aceleração da obtenção dos resultados<br />

e descobert<strong>as</strong> científic<strong>as</strong>.<br />

Além disso, muit<strong>as</strong> descobert<strong>as</strong><br />

estão sendo feit<strong>as</strong> simplesmente pela<br />

análise sistematizada dess<strong>as</strong> fontes de<br />

dados, que não param de crescer tanto<br />

em volume <strong>com</strong>o em <strong>com</strong>plexidade<br />

e variabilidade. A tendência atual<br />

é para descobert<strong>as</strong> científic<strong>as</strong> e síntese<br />

sendo dirigid<strong>as</strong> pela informação<br />

emergindo intrinsecamente a partir da<br />

biologia em si e a partir da diversidade<br />

e heterogeneidade d<strong>as</strong> observações<br />

experimentais. Um projeto típico de<br />

pesquisa pode <strong>com</strong>eçar <strong>com</strong> a coleção<br />

de sequênci<strong>as</strong> genômic<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong><br />

ou não conhecid<strong>as</strong>. Para sequênci<strong>as</strong><br />

não conhecid<strong>as</strong>, pode-se conduzir uma<br />

busca em bancos de dados por sequênci<strong>as</strong><br />

similares ou usar algoritmos <strong>com</strong>putacionais<br />

procurando predizer <strong>as</strong><br />

su<strong>as</strong> possíveis identidades e funções.<br />

Isso requer o acesso à versão mais<br />

atual da coleção de dados, em bancos<br />

de dados mundiais, e <strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong><br />

fundamentais da bioinformática agora<br />

são cada vez mais parte dos métodos<br />

experimentais. Entretanto, ess<strong>as</strong> informações<br />

estão espalhad<strong>as</strong> em múltipl<strong>as</strong><br />

fontes, impossibilitando que os cientist<strong>as</strong><br />

obtenham direta e eficientemente<br />

a informação requerida para<br />

converter os dados <strong>com</strong>plexos e heterogêneos<br />

em dados úteis, informação<br />

organizada e sistematizada conforme<br />

<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> de pesquisa específic<strong>as</strong>.<br />

Nesse ambiente, para responder<br />

uma simples questão pode ser<br />

necessário acessar vári<strong>as</strong> fontes de<br />

dados e utilizar ferrament<strong>as</strong> de análise<br />

sofisticad<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o alinhamento de<br />

sequênci<strong>as</strong>, agrupamento, modelagem<br />

molecular etc. Enquanto a integração<br />

dos dados é uma área de pesquisa<br />

dinâmica, necessidades específic<strong>as</strong><br />

dos biocientist<strong>as</strong> têm levado ao<br />

desenvolvimento de numerosos sistem<strong>as</strong><br />

que acabam desconectando o<br />

acesso aos dados em um ambiente<br />

direcionado por resultados. O resultado<br />

é o crescente número de bancos<br />

de dados e web sites representando<br />

uma coleção confinada de dados, governada<br />

por sistem<strong>as</strong> próprios de gerenciamento<br />

e formatos particulares de<br />

input e output dos dados, apresentações<br />

gráfic<strong>as</strong> dos resultados, e problem<strong>as</strong><br />

sérios de <strong>com</strong>patibilidade e<br />

interoperabilidade <strong>com</strong> outros sistem<strong>as</strong>.<br />

Uma evidência disso é o número<br />

crescente de novos bancos de dados<br />

relatados a cada ano na edição de<br />

janeiro da Nucleic Acids Research<br />

(http://nar.oupjournals.org/). A edição<br />

atual lista 548 bancos de dados, 162 a<br />

mais em relação ao ano anterior (Galperin,<br />

2004). Boa parte desses bancos<br />

ainda são construídos <strong>com</strong> enfoques<br />

extremamente limitados para<br />

aplicações restrit<strong>as</strong>, sem a preocupação<br />

<strong>com</strong> relação à <strong>com</strong>patibilidade<br />

e troca de informações <strong>com</strong> outros<br />

sistem<strong>as</strong>. Adaptações são lent<strong>as</strong> e<br />

muit<strong>as</strong> vezes difíceis de implementar<br />

quando a filosofia básica do banco precisa<br />

ser mantida.<br />

O acesso a esses dados precisa<br />

melhorar em termos de eficiência,<br />

velocidade e facilidade. Para facilitar<br />

o entendimento dos processos biológicos,<br />

é necessário fazer novos arranjos<br />

aos recursos de dados disponíveis. Por<br />

exemplo, o que se faz inicialmente<br />

em uma rota metabólica, uma rede de<br />

interações moleculares etc., é<br />

necessário generalizar para outros<br />

sistem<strong>as</strong> biológicos; a partir de E. coli<br />

para levedura, e chegar à biologia de<br />

organismos mais <strong>com</strong>plexos, <strong>com</strong>o o<br />

homem, animais e plant<strong>as</strong> economicamente<br />

importantes. Trabalhar toda<br />

essa informação conjuntamente é fundamental<br />

para a geração de novos insights.<br />

O rápido crescimento do volume<br />

de dados é um desafio para cada<br />

um, e <strong>com</strong> a produção de dados mais<br />

diversos e em larga escala (por e-<br />

xemplo, dados de DNA microarrays)<br />

esse crescimento está apen<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>eçando.<br />

As atividades de bancos de dados<br />

e desenvolvimento de algoritmos<br />

<strong>com</strong>putacionais precisam estar integrad<strong>as</strong><br />

para produzir uma infra-estrutura<br />

de informação coesiva delimitando<br />

toda a biologia. Para isso é necessário<br />

o desenvolvimento de ferrament<strong>as</strong><br />

para disseminar e analisar m<strong>as</strong>siv<strong>as</strong><br />

quantidades de dados, inclusive literatura,<br />

e a construção de <strong>com</strong>unidades<br />

de bancos de dados b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> em<br />

princípios operacionais padronizados<br />

e <strong>com</strong> padrões interoperacionais.<br />

Muitos dos problem<strong>as</strong> da bioinformática<br />

são genéricos, por isso<br />

soluções em um domínio podem ser<br />

naturalmente aplicáveis para outros.<br />

O entendimento da informação molecular<br />

até a célula, órgão e o sistema<br />

biológico do organismo será o maior<br />

desafio (fenomenoma). A p<strong>as</strong>sagem<br />

do genótipo para o fenótipo requererá<br />

um novo conjunto de ferrament<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>putacionais altamente robust<strong>as</strong>. O<br />

principal enfoque da bioinformática<br />

para os próximos anos será integrar<br />

esses dados de modo a permitir busc<strong>as</strong><br />

transparentes através dos dados.<br />

Fazer isso de forma robusta abrangendo<br />

todo o conjunto de dados é um<br />

desafio real.<br />

Apesar do avanço já feito, é<br />

necessário continuar a pesquisa no<br />

campo da genômica, principalmente<br />

para microrganismos <strong>as</strong>sociados a<br />

plant<strong>as</strong> economicamente importantes,<br />

incluindo fungos, e buscar entender<br />

<strong>as</strong> interações hospedeiro-microrganismo<br />

ou planta-patógeno. No c<strong>as</strong>o da<br />

medicina, a necessidade atual é por<br />

dados clínicos bem estruturados e consistentes<br />

sobre grandes populações.<br />

Tais dados, que são difíceis de coletar<br />

e caros, serão críticos para ligar os<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 35


dados moleculares <strong>com</strong> o fenótipo.<br />

Embora exista um crescente número<br />

de centros de bioinformática, a maior<br />

tendência é que ela esteja presente<br />

nos centros de pesquisa e n<strong>as</strong> universidades,<br />

em cada departamento de<br />

biologia ou biotecnologia, em cada<br />

faculdade na área d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong><br />

em todo o mundo. Todos os<br />

grandes centros de pesquisa terão que<br />

ter profissionais especializados em bioinformática/biologia<br />

<strong>com</strong>putacional.<br />

Hoje é consenso geral que ess<strong>as</strong> instituições<br />

necessitam de pesso<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

esse entendimento em seus departamentos<br />

de biologia e necessitarão formar<br />

os seus estudantes de graduação<br />

em biologia quantitativa em vez de<br />

somente biologia experimental. Os<br />

experimentos precisam ser feitos no<br />

contexto do conhecimento corrente,<br />

e os dados gerados precisam ser rapidamente<br />

armazenados e explorados<br />

<strong>com</strong>putacionalmente juntamente <strong>com</strong><br />

o universo de informação disponível.<br />

Nunca na história da ciência <strong>as</strong><br />

informações foram tão democraticamente<br />

acessíveis <strong>com</strong>o hoje. Especialmente<br />

<strong>as</strong> informações e ferrament<strong>as</strong><br />

disponibilizad<strong>as</strong> pela bioinformática.<br />

Não importa quem e onde. O mesmo<br />

tipo de informação pode ser acessada<br />

por qualquer pessoa, em qualquer<br />

lugar do mundo. Praticamente tod<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> de bioinformática e<br />

bancos de dados disponíveis podem<br />

ser dispostos de modo que possam<br />

ser acessad<strong>as</strong> e utilizad<strong>as</strong> na web. B<strong>as</strong>ta<br />

fazer a pergunta correta e buscar a<br />

resposta.<br />

Conclusão<br />

O debate que está emergindo<br />

atualmente é se existe uma pletora<br />

ou esc<strong>as</strong>sez de dados experimentais<br />

proveitosos derivados pala plataforma<br />

d<strong>as</strong> ômic<strong>as</strong>. O grande desafio, no entanto,<br />

é o que se pode fazer <strong>com</strong> esses<br />

dados. Não há dúvida de que a<br />

tecnologia da informação precisa ser<br />

tomada <strong>com</strong>o parte integral do processo<br />

de descoberta pelos pesquisadores<br />

no campo da biologia. Este é o<br />

problema fundamental que precisa ser<br />

resolvido pela bioinformática, promovendo<br />

um profundo impacto no processo<br />

de descobert<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong>. É<br />

necessário que ocorram discussões<br />

freqüentes entre todos os especialist<strong>as</strong><br />

participantes de estudos relacionados,<br />

visando um emprego mais adequado<br />

da cultura científica dos participantes,<br />

já que, de modo simplificado,<br />

os biólogos querem entender<br />

<strong>com</strong>o os organismos funcionam e os<br />

cientist<strong>as</strong> da <strong>com</strong>putação querem fazer<br />

ferrament<strong>as</strong> que resolvam problem<strong>as</strong>.<br />

O estabelecimento de uma linguagem<br />

<strong>com</strong>um entre os especialist<strong>as</strong> em diferentes<br />

áre<strong>as</strong>, o monitoramento de quais<br />

ferrament<strong>as</strong> são mais usad<strong>as</strong> e importantes<br />

para o escopo do estudo, uma<br />

filosofia orientada para nov<strong>as</strong><br />

descobert<strong>as</strong>, não orientada por dogm<strong>as</strong>,<br />

são re<strong>com</strong>endações importantes<br />

para o sucesso dos empreendimentos<br />

científicos. Treinamentos constantes<br />

e workshops devem fazer parte<br />

dos investimentos previstos nos projetos.<br />

O bom entendimento entre os<br />

pesquisadores de diferentes áre<strong>as</strong> é<br />

fundamental. Por exemplo, os cientist<strong>as</strong><br />

da <strong>com</strong>putação devem ser pacientes<br />

<strong>com</strong> o biólogo, já que este<br />

geralmente não sabe exatamente<br />

onde quer chegar ou o que espera dos<br />

dados (o que é natural nos estudos<br />

biológicos). Deve ensinar pelo menos<br />

os conceitos básicos de <strong>com</strong>putação<br />

para estabelecer uma plataforma <strong>com</strong>um<br />

de <strong>com</strong>unicação, encorajar os<br />

biólogos a mostrar <strong>com</strong>o eles estão<br />

realmente usando <strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> disponibilizad<strong>as</strong><br />

e buscar sempre proporcionar<br />

o máximo de acesso aos dados.<br />

A retenção longa dos dados inibe<br />

o espírito de <strong>com</strong>unidade. Por parte<br />

do biólogo, espera-se que não espere<br />

muito ou tente fazer <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> sozi -<br />

nho, fale <strong>com</strong> uma variedade de cientist<strong>as</strong><br />

da <strong>com</strong>putação, encontre aqueles<br />

mais interessados no seu problema,<br />

encontre aqueles <strong>com</strong> quem gosta<br />

de trabalhar, faça pergunt<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

freqüência e logo que surjam, use uma<br />

variedade de nov<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong>, fazendo<br />

<strong>com</strong>entários/sugestões <strong>as</strong>sim<br />

que puder e busque entender os desafios<br />

da <strong>com</strong>putação para solucionar<br />

problem<strong>as</strong> novos. A obtenção de novos<br />

conhecimentos acelera quando<br />

todos contribuem.<br />

Agradecimentos<br />

Aos coleg<strong>as</strong> Dr. Francisco Prosdocimi,<br />

Dr. Newton Portilho Carneiro<br />

e Dr. Alexandre Lima Nepomuceno<br />

pela revisão crítica deste artigo.<br />

Referênci<strong>as</strong><br />

B<strong>as</strong>singthwaighte JB. Strategies for the<br />

physiome project. Ann Biomed<br />

Eng. 2000, 28(8):1043-58. PMID:<br />

11144666<br />

Bernal A, Ear U, Kyrpides N. Genomes<br />

OnLine Datab<strong>as</strong>e (GOLD): a<br />

monitor of genome projects worldwide.<br />

Nucleic Acids Res. 2001,<br />

29(1):126-127. PMID: 11125068<br />

Collins FS, Green ED, Guttmacher AE,<br />

Guyer MS; US National Human<br />

Genome Research Institute. A vision<br />

for the future of genomics research.<br />

Nature. 2003, 422(6934):835-<br />

47. PMID: 12695777<br />

Covert MW, Knight EM, Reed JL,<br />

Herrgard MJ, Palsson BO.<br />

Integrating high-throughput and<br />

<strong>com</strong>putational data elucidates<br />

bacterial networks. Nature. 2004,<br />

429(6987):92-6. PMID: 15129285<br />

Fleischmann RD, Adams MD, White O,<br />

Clayton RA, Kirkness EF, Kerlavage<br />

AR, Bult CJ, Tomb JF, Dougherty<br />

BA, Merrick JM, et al. Wholegenome<br />

random sequencing and<br />

<strong>as</strong>sembly of Haemophilus<br />

influenzae Rd. Science. 1995,<br />

269(5223):496-512. PMID:<br />

7542800<br />

Galperin MY. The Molecular Biology<br />

Datab<strong>as</strong>e Collection: 2004 update.<br />

Nucleic Acids Res. 2004, 1;32<br />

Datab<strong>as</strong>e issue:D3-22. PMID:<br />

14681349<br />

Gao F, Foat BC, Bussemaker HJ.<br />

Defining transcriptional networks<br />

through integrative modeling of<br />

mRNA expression and transcription<br />

factor binding data. BMC<br />

Bioinformatics. 2004, 18;5(1):31.<br />

PMID: 15113405<br />

Garavelli JS. The RESID Datab<strong>as</strong>e of<br />

Protein Modifications: 2003<br />

developments. Nucleic Acids Res.<br />

2003, 31(1):499-501. PMID:<br />

12520062<br />

Genomics and Its Impact on Science<br />

and Society: The Human Genome<br />

Project and Beyond. U.S.<br />

Department of Energy Human<br />

Genome Program. 2003. Disponível<br />

http://www.ornl.gov/sci/<br />

techresources/Human_Genome/<br />

36 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


publicat/primer2001/index.shtml<br />

Goodsell DS. Inside a living cell. Trends<br />

Biochem Sci. 1991, 16(6):203-<br />

206. PMID: 1891800<br />

Goto S, Okuno Y, Hattori M, Nishioka<br />

T, Kanehisa M. LIGAND: datab<strong>as</strong>e<br />

of chemical <strong>com</strong>pounds and reactions<br />

in biological pathways. Nucleic<br />

Acids Res. 2002, 30(1):402-4.<br />

PMID: 11752349<br />

Guerreiro N, Staedtler F, Grenet O,<br />

Kehren J, Chibout SD. Toxicogenomics<br />

in drug development. Toxicol<br />

Pathol. 2003, 31(5):471-9.<br />

PMID: 14692614<br />

Hoersch S, Leroy C, Brown NP, Andrade<br />

MA, Sander C. The GeneQuiz<br />

web server: protein functional<br />

analysis through the Web. Trends<br />

Biochem Sci. 2000, 25(1):33-35.<br />

PMID: 10637611<br />

James P. Protein identification in the<br />

post-genome era: the rapid rise of<br />

proteomics. Q Rev Biophys. 1997,<br />

30(4):279-331. PMID: 9634650<br />

Kanehisa M, Goto S, Kaw<strong>as</strong>hima S,<br />

Okuno Y, Hattori M. The KEGG<br />

resource for deciphering the genome.<br />

Nucleic Acids Res. 2004, 32<br />

Datab<strong>as</strong>e issue:D277-D280. PMID:<br />

14681412<br />

Kramer JA, Kolaja KL. Toxicogenomics:<br />

an opportunity to optimise<br />

drug development and safety evaluation.<br />

Expert Opin Drug Saf. 2002,<br />

1(3):275-86. PMID: 12904143<br />

Kondro W. MOLECULAR BIOLOGY:<br />

Consortium Tackles Mouse Regulome.<br />

Science. 2004,<br />

304(5673):942A. PMID: 15143247<br />

Lefranc MP. IMGT, The International<br />

ImMunoGeneTics Information System,<br />

http://imgt.cines.fr. Methods<br />

Mol Biol. 2004, 248:27-49. PMID:<br />

14970490<br />

Lopez-Otin C, Overall CM. Prote<strong>as</strong>e<br />

degradomics: a new challenge for<br />

proteomics. Nat Rev Mol Cell Biol.<br />

2002, 3(7):509-19. PMID:<br />

12094217<br />

Marshall A. Genset-Abbott deal heralds<br />

pharmacogenomics era. Nat Biotechnol.<br />

1997, 15(9):829-30. PMID:<br />

9306389<br />

Mewes HW, Amid C, Arnold R, Frishman<br />

D, Guldener U, Mannhaupt<br />

G, Munsterkotter M, Pagel P, Strack<br />

N, Stumpflen V, Warfsmann J,<br />

Ruepp A. MIPS: analysis and annotation<br />

of proteins from whole<br />

genomes.Nucleic Acids Res. 2004,<br />

32 Datab<strong>as</strong>e issue:D41-D44. PMID:<br />

14681354<br />

Novik KL, Nimmrich I, Genc B, Maier S,<br />

Piepenbrock C, Olek A, Beck S.<br />

Epigenomics: genome-wide study<br />

of methylation phenomena. Curr<br />

Issues Mol Biol. 2002, 4(4):111-28.<br />

PMID: 12432963<br />

Palsson B. In silico biology through<br />

“omics”. Nat Biotechnol. 2002,<br />

20(7):649-50. PMID: 12089538<br />

Palsson B. The challenges of in silico<br />

biology. Nat Biotechnol. 2000,<br />

18(11):1147-50. PMID: 11062431<br />

Pennisi E. Human genome. Reaching<br />

their goal early, sequencing labs<br />

celebrate. Science. 2003a,<br />

300(5618):409. PMID: 12702850<br />

Pennisi E. Human genome. A low number<br />

wins the GeneSweep Pool.<br />

Science. 2003b, 300(5625):1484.<br />

PMID: 12791949<br />

Pennisi E. Bioinformatics. Gene counters<br />

struggle to get the right answer.<br />

Science. 2003c, 301(5636):1040-<br />

1. PMID: 12933991<br />

Prates MV, Bloch C. Peptídeos antimicrobianos.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência e<br />

Desenvolvimento. 2002, 29: 30-<br />

36.<br />

Roven C, Bussemaker HJ. REDUCE:<br />

An online tool for inferring cisregulatory<br />

elements and transcriptional<br />

module activities from microarray<br />

data. Nucleic Acids Res.<br />

2003, 31(13):3487-90. PMID:<br />

12824350<br />

Rubin GM, Yandell MD, Wortman JR,<br />

Gabor Miklos GL, Nelson CR, Hariharan<br />

IK, Fortini ME, Li PW, Apweiler<br />

R, Fleischmann W, Cherry JM,<br />

Henikoff S, Skupski MP, Misra S,<br />

Ashburner M, Birney E, Boguski<br />

MS, Brody T, Brokstein P, Celniker<br />

SE, Chervitz SA, Coates D, Cravchik<br />

A, Gabrielian A, Galle RF,<br />

Gelbart WM, George RA, Goldstein<br />

LS, Gong F, Guan P, Harris NL,<br />

Hay BA, Hoskins RA, Li J, Li Z,<br />

Hynes RO, Jones SJ, Kuehl PM,<br />

Lemaitre B, Littleton JT, Morrison<br />

DK, Mungall C, O’Farrell PH, Pickeral<br />

OK, Shue C, Vosshall LB,<br />

Zhang J, Zhao Q, Zheng XH, Lewis<br />

S. Comparative genomics of the<br />

eukaryotes. Science. 2000,<br />

287(5461):2204-2215. PMID:<br />

10731134<br />

Sanford K, Soucaille P, Whited G, Chotani<br />

G. Genomics to fluxomics and<br />

physiomics - pathway engineering.<br />

Curr Opin Microbiol. 2002,<br />

5(3):318-22. PMID: 12057688<br />

Schilling CH, Edwards JS, Palsson BO.<br />

Toward metabolic phenomics:<br />

analysis of genomic data using flux<br />

balances. Biotechnol Prog. 1999,<br />

15(3):288-95. PMID: 10356245<br />

Schulz-Knappe P, Zucht HD, Heine G,<br />

Jurgens M, Hess R, Schrader M.<br />

Peptidomics: the <strong>com</strong>prehensive<br />

analysis of peptides in <strong>com</strong>plex<br />

biological mixtures. Comb Chem<br />

High Throughput Screen. 2001,<br />

4(2):207-17. PMID: 11281836<br />

Stalker J, Gibbins B, Meidl P, Smith J,<br />

Spooner W, Hotz HR, Cox AV. The<br />

Ensembl web site: mechanics of a<br />

genome browser. Genome Res.<br />

2004, 14(5):951-955. PMID:<br />

15123591<br />

Steuer R, Kurths J, Fiehn O, Weckwerth<br />

W. Observing and interpreting<br />

correlations in metabolomic networks.<br />

Bioinformatics. 2003,<br />

19(8):1019-26. PMID: 12761066<br />

Weckwerth W, Loureiro ME, Wenzel<br />

K, Fiehn O. Differential metabolic<br />

networks unravel the effects of<br />

silent plant phenotypes. Proc Natl<br />

Acad Sci U S A. 2004. PMID:<br />

15136733<br />

Weinstein JN. Searching for pharmacogenomic<br />

markers: the synergy<br />

between omic and hypothesis-driven<br />

research. Dis Markers. 2001,<br />

17(2):77-88. PMID: 11673654<br />

Werner T. Proteomics and regulomics:<br />

the yin and yang of functional<br />

genomics. M<strong>as</strong>s Spectrom Rev.<br />

2004, 23(1):25-33. PMID:<br />

14625890<br />

Wright FA, Lemon WJ, Zhao WD, Sears<br />

R, Zhuo D, Wang JP, Yang HY,<br />

Baer T, Stredney D, Spitzner J,<br />

Stutz A, Krahe R, Yuan B. A draft<br />

annotation and overview of the<br />

human genome. Genome Biol.<br />

2001, 2(7):RESEARCH0025. PMID:<br />

11516338<br />

Zanzoni A, Montecchi-Palazzi L, Quondam<br />

M, Ausiello G, Helmer-Citterich<br />

M, Cesareni G. MINT: a Molecular<br />

INTeraction datab<strong>as</strong>e. FEBS Lett.<br />

2002, 513(1):135-40. PMID:<br />

11911893<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 37


BIODIESEL<br />

Pesquisa<br />

Produção de biodiesel por transesterificação de óleos vegetais<br />

Gabriela Alves Macedo<br />

Dra. em Ciência de Alimentos<br />

Professora da Faculdade de Eng. de Alimentos<br />

UNICAMP<br />

gmacedo@fea.unicamp.br<br />

Juliana Alves Macedo<br />

Graduanda em Engenharia de Alimentos<br />

UNICAMP<br />

macedo@fea.unicamp.br<br />

Resumo<br />

biodiesel (ésteres de ácidos<br />

graxos), que é derivado de<br />

triglicerídeos por transesterificação<br />

<strong>com</strong> metanol ou<br />

etanol, tem atraído considerável atenção<br />

<strong>com</strong>o <strong>com</strong>bustível renovável, biodegradável<br />

e não-tóxico. Muitos processos<br />

têm sido desenvolvidos para<br />

produção de biodiesel, m<strong>as</strong> a transesterificação<br />

usando álcali <strong>com</strong>o catalisador<br />

tem gerado altos níveis de conversão<br />

de triglicerídeos em ésteres<br />

metílicos em curto tempo de reação.<br />

Por essa razão, este processo tem sido<br />

adotado para produção de biodiesel<br />

em muitos países da Europa e América<br />

do Norte. Recentemente, a tran-<br />

Figura 01. Transesterificação de triglicerídeos <strong>com</strong> álcool. (a) Equação<br />

geral; (b) Três reações consecutiv<strong>as</strong> e reversíveis. R1, R2, R3 e R’<br />

representam os grupos alquila.<br />

sesterificação enzimática, empregando<br />

lip<strong>as</strong>es, tornou-se mais atrativa para<br />

a produção de biodiesel, uma vez que<br />

o glicerol produzido <strong>com</strong>o subproduto<br />

pode ser facilmente recuperado e<br />

a purificação dos ésteres é <strong>com</strong>pleta.<br />

A maior dificuldade da <strong>com</strong>ercialização<br />

deste sistema ainda é o custo da<br />

produção de lip<strong>as</strong>es. O custo de produção<br />

d<strong>as</strong> lip<strong>as</strong>es pode ser reduzido<br />

através da aplicação de genética molecular<br />

produzindo lip<strong>as</strong>es de alta produtividade,<br />

seletividade e estabilidade<br />

e da imobilização d<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong>, viabilizando<br />

a reutilização seguida em<br />

reações.<br />

Introdução<br />

Combustíveis alternativos para<br />

motores a diesel são cada vez mais<br />

importantes devido à esc<strong>as</strong>sez d<strong>as</strong><br />

reserv<strong>as</strong> de petróleo e aos problem<strong>as</strong><br />

de poluição ambiental. Um grande<br />

número de estudos tem mostrado que<br />

os triglicerídeos são uma alternativa<br />

promissora ao diesel (Bartholomeu,<br />

1981-Ziejewski and Kaufman, 1983).<br />

Contudo, o uso direto de óleos vegetais<br />

e/ou mistur<strong>as</strong> de óleos são considerados<br />

insatisfatórios e não práticos<br />

tanto para motores de injeção direta<br />

<strong>com</strong>o indireta, movidos a diesel. Dentre<br />

os principais problem<strong>as</strong> apresentados<br />

estão: a <strong>com</strong>posição de ácidos<br />

graxos dos óleos vegetais, a alta viscosidade,<br />

a acidez, a presença de gom<strong>as</strong><br />

formad<strong>as</strong> por oxidação e polimerização<br />

durante a estocagem e a deposição<br />

de carbonos, entre outros (Ma<br />

and Hanna, 1999). Conseqüentemente,<br />

um grande número de estudos têm<br />

sido conduzidos a fim de desenvolver<br />

derivados de óleos vegetais, cuj<strong>as</strong> propriedades<br />

e performance se aproxi-<br />

38 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


mem do tridiocarboneto óleo diesel.<br />

Os principais problem<strong>as</strong> encontrados<br />

são a viscosidade muito alta, baixa<br />

volatilidade e caráter polinsaturado<br />

dos óleos vegetais (Sriv<strong>as</strong>tava and<br />

Heyes, 1962).<br />

São três os processos mais investigados<br />

a fim de sobrepor os problem<strong>as</strong><br />

encontrados na substituição do<br />

diesel por óleos vegetais: a pirólise, a<br />

micro-emulsificação e a transesterificação.<br />

Pirólise é a conversão química<br />

causada pela aplicação de energia térmica,<br />

na presença de nitrogênio. Muitos<br />

estudos foram realizados <strong>com</strong> a<br />

pirólise de triglicerídeos <strong>com</strong> o objetivo<br />

de obter produtos adequados aos<br />

motores a diesel (Grossley et al.,<br />

1962- Billaud et al., 1995). A de<strong>com</strong>posição<br />

térmica dos triglicerídeos produz<br />

diferentes tipos de <strong>com</strong>postos,<br />

incluindo alcanos, alcenos, alcadienos,<br />

ácidos carbonílicos e aromáticos, dependendo<br />

da fonte do óleo vegetal<br />

de<strong>com</strong>posto. A pirólise do óleo de soja,<br />

por exemplo, contém 79% de carbonos<br />

e 12% de hidrogênio (Schwab et<br />

al., 1988), apresentando baixa viscosidade<br />

e alto número de cetano <strong>com</strong>parado<br />

ao óleo puro. Contudo, apesar<br />

de os óleos vegetais pirolisados possuírem<br />

concentrações de enxofre,<br />

água, sedimentos e cobre satisfatórios,<br />

são inaceitáveis os níveis de cinz<strong>as</strong>,<br />

resíduos de carbono e o ponto de<br />

ignição alcançado. Embora o produto<br />

da pirólise seja quimicamente similar<br />

ao diesel proveniente do petróleo, a<br />

remoção do oxigênio durante o processo<br />

térmico elimina qualquer benefício<br />

ambiental do produto (Ma and<br />

Hanna, 1999).<br />

O uso de microemulsões <strong>com</strong><br />

solventes <strong>com</strong>o metanol, etanol e 1-<br />

butanol é outro processo que vem<br />

sendo estudado <strong>com</strong> o objetivo de<br />

resolver o problema da viscosidade<br />

dos óleos vegetais (Schwab et al.,<br />

1987- Ziejewski et al., 1984).<br />

Microemulsões são dispersões<br />

isotrópic<strong>as</strong>, termodinamicamente estáveis,<br />

de óleo, água, sulfactante e<br />

geralmente uma molécula pequena<br />

amfifílica, chamada cosurfactante<br />

(Schwab et al., 1987). Ziejeuski et al.,<br />

1984, prepararam uma emulsão de<br />

53,3% (v/v) de óleo de gir<strong>as</strong>sol, 13,3%<br />

(v/v) de etanol e 33,4% (v/v) de 1-<br />

butanol. Esta emulsão não-iônica apresentou<br />

viscosidade de 6,31.10 -6 m 2 /s<br />

a 40ºC, número de cetano de 25,<br />

0,01% de enxofre e 0,01% ácidos graxos<br />

livres e cinz<strong>as</strong> inferior a 0,01%. A<br />

Tabela 1. Propriedades físic<strong>as</strong> e químic<strong>as</strong> do biodiesel.<br />

viscosidade obtida foi ainda menor<br />

quando se aumentou a concentração<br />

de 1-butanol.<br />

Schwab et al, 1987, reportaram<br />

que o 2-octanol foi efetivo na solubilização<br />

micelar de metanol em trioleína<br />

e óleo de soja. Contudo, foram<br />

observados, em escala laboratorial,<br />

depósitos de carbono e aumento da<br />

viscosidade.<br />

A transesterificação, também<br />

chamada alcóolise, é a troca de um<br />

álcool de um éster por outro álcool<br />

em um processo similar ao da hidrólise,<br />

exceto o fato de que não se trata<br />

de um álcool no lugar da água. Os álcoois<br />

que podem ser utilizados são o<br />

metanol, etanol, propanol, butanol ou<br />

álcool amílico. Metanol e etanol são<br />

utilizados mais freqüentemente. Nos<br />

estudos publicados, o metanol tem<br />

sido o mais empregado devido a seu<br />

baixo custo e grande disponibilidade<br />

na Europa, Japão e EUA. O etanol<br />

pode também ser utilizado e visto que,<br />

no Br<strong>as</strong>il existe grande disponibilidade<br />

deste produto a baixo custo, provavelmente<br />

será este o substrato para<br />

o biodiesel br<strong>as</strong>ileiro.<br />

A transesterificação tem sido<br />

largamente utilizada para diminuição<br />

da viscosidade dos triglicerídeos, me-<br />

Óleo vegetal<br />

metil éster<br />

a<br />

Clark et al., 1984<br />

b<br />

Smith, 1949.<br />

c<br />

Sprules and Price, 1950.<br />

Viscosidade<br />

2<br />

cinemática<br />

(mm /s)<br />

Número<br />

de cetano<br />

Poder<br />

calorífico<br />

inferior (MJ/l)<br />

Ponto de<br />

n évoa ( º C)<br />

Ponto de<br />

f l<strong>as</strong>h ( º C)<br />

Densidade (g/l)<br />

a<br />

Amendoim<br />

4 .9(37. 8º C)<br />

54<br />

33.<br />

6<br />

5 176<br />

0.88<br />

3<br />

-<br />

Soja<br />

ª<br />

4 .5(37. 8 º C)<br />

45<br />

33.<br />

5<br />

1 178<br />

0.88<br />

5<br />

-<br />

b<br />

Soja<br />

4 .0(4 0º) 45.7-56<br />

32.<br />

7<br />

- - 0 .880 (15º C)<br />

-<br />

a<br />

Babaçu<br />

3 .6(37. 8º C)<br />

63<br />

31.<br />

8<br />

4 127<br />

0.87<br />

9<br />

-<br />

a<br />

Palma<br />

5 .7(37. 8º C)<br />

62<br />

33.<br />

5<br />

13<br />

164<br />

0.88<br />

0<br />

-<br />

b<br />

Palma<br />

4 .3-4.5(4 0º C)<br />

64.3-70<br />

32.<br />

4<br />

- - 0 .872-0.877 (15º C)<br />

-<br />

a<br />

Gir<strong>as</strong>sol<br />

4 .6(37. 8º C)<br />

49<br />

33.<br />

5<br />

1 183<br />

0.86<br />

0<br />

-<br />

a<br />

Gordura<br />

vegetal - - - 12<br />

96<br />

- -<br />

b<br />

Semente<br />

de colza 4 .2(4 0º C)<br />

51-59.<br />

7 32.<br />

8<br />

- - 0 .882 (15º C)<br />

-<br />

c<br />

Óleo de colza usado 9 .48(3 0º C)<br />

53<br />

36.<br />

7<br />

- 192<br />

0.89<br />

5<br />

0.00 2<br />

Sulfur.<br />

(wt%)<br />

c<br />

Óleo de milho usado 6 .23(3 0º C)<br />

63.<br />

9 42.<br />

3<br />

- 166<br />

0.88<br />

4<br />

0.001 3<br />

Óleo diesel<br />

c<br />

JIS-2D<br />

(g<strong>as</strong>olina)<br />

b<br />

12-3.5(40<br />

º C)<br />

2 .8 (30º C)<br />

51<br />

58<br />

35.5<br />

42.7<br />

-<br />

-<br />

-<br />

59<br />

0.830-0.840<br />

( 15º C)<br />

0.833<br />

-<br />

0.05<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 39


lhorando <strong>as</strong> propriedades físic<strong>as</strong> dos<br />

<strong>com</strong>bustíveis para o motor a diesel<br />

(Clark et al., 1984). Assim, ésteres etílicos<br />

ou metílicos de ácidos graxos<br />

(conhecidos por biodiesel) obtidos por<br />

alcóolise de óleos vegetais podem ser<br />

usados <strong>com</strong>o <strong>com</strong>bustíveis alternativos<br />

para os motores a diesel.<br />

As propriedades do biodiesel e<br />

diesel são <strong>com</strong>parad<strong>as</strong> na tabela 1 (Sriv<strong>as</strong>tava<br />

and Pr<strong>as</strong>ad, 2000; Yamane et<br />

al., 2001; Varese and Varese, 1996).<br />

O biodiesel produzido a partir<br />

de vários óleos vegetais possui viscosidade<br />

próxima ao do diesel convencional.<br />

Os valores de poder calorífico<br />

inferior são menores, m<strong>as</strong> possuem<br />

número de cetano e ponto de fl<strong>as</strong>h<br />

altos. Uma vez que <strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />

do biodiesel são geralmente similares<br />

às do diesel, teoricamente, este é um<br />

forte candidato a substituir parcialmente<br />

o diesel, c<strong>as</strong>o sua produção a se<br />

viabilizar economicamente.<br />

Dentre <strong>as</strong> vantagens da utilização<br />

do biodiesel podem ser citad<strong>as</strong>:<br />

(I)<br />

(II)<br />

(III)<br />

(IV)<br />

É um <strong>com</strong>bustível nãoderivado<br />

do petróleo,<br />

m<strong>as</strong> proveniente de plant<strong>as</strong>,<br />

portanto sua <strong>com</strong>bustão<br />

não aumenta o nível<br />

atual de CO 2<br />

na atmosfera,<br />

Pode ser produzido localmente<br />

e em pequen<strong>as</strong><br />

escal<strong>as</strong>, reduzindo importação<br />

de petróleo,<br />

É biodegradável,<br />

Comparativamente, sua<br />

<strong>com</strong>bustão produz reduzidos<br />

níveis de CO, NO<br />

e material particulado.<br />

Trata-se de um fato estabelecido<br />

que a queima de biodiesel reduz<br />

substancialmente a emissão de SO x<br />

óxidos de enxofre e hidrocarbonetos.<br />

Existe um pequeno aumento atribuído<br />

à adaptação dos motores a diesel<br />

(Yamane et al., 2001-Sams, 1998).<br />

Yamane et al., 2001; recentemente<br />

publicaram que um biodiesel<br />

<strong>com</strong> boa taxa de ignição, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o<br />

alta concentração de metil oleato, gera<br />

menores níveis de NO, hidrocarbonetos,<br />

HCHO, CH 3<br />

CHO e HCOOH. Sheehan<br />

et al, 1998, publicaram um estudo<br />

mostrando que o benefício ambiental<br />

de utilizar o biodiesel é proporcional<br />

ao nível de mistura <strong>com</strong> o diesel<br />

<strong>com</strong>um.A queima do biodiesel<br />

(100%) pode reduzir em 78,45% <strong>as</strong><br />

emissões de CO 2<br />

. Misturado na faixa<br />

de 20% ao diesel <strong>com</strong>um, reduz<br />

15,66% a emissão de CO 2<br />

.<br />

As conseqüênci<strong>as</strong> disto podem<br />

ser vantajos<strong>as</strong> tanto do ponto de vista<br />

ambiental <strong>com</strong>o do ponto de vista<br />

econômico, o que justifica o crescente<br />

interesse no desenvolvimento d<strong>as</strong><br />

tecnologi<strong>as</strong> referentes à produção de<br />

biodiesel.<br />

Este trabalho busca sintetizar os<br />

processos de transesterificação de óleos<br />

existentes para a produção de biodiesel,<br />

enfatizando a importância da<br />

transesterificação enzimática.<br />

A reação de transesterificação<br />

Como já foi mencionado, o biodiesel<br />

pode ser produzido por pirólise,<br />

microemulsões ou transesterificação.<br />

A transesterificação (também<br />

chamada de alcóolise) é a reação de<br />

formação de ésteres a partir de óleos<br />

e álcoois, resultando em glicerol.<br />

Dentre os álcoois que podem<br />

ser empregados neste tipo de reação<br />

o metanol e o etanol são os mais empregados,<br />

principalmente pelo custo<br />

e su<strong>as</strong> propriedades físico-químic<strong>as</strong><br />

(menor cadeia carbônica). Estes podem<br />

reagir rapidamente <strong>com</strong> os triglicerídeos<br />

e o catalisador NaOH é facilmente<br />

dissolvido. Para <strong>com</strong>pleta transesterificação<br />

estequiométrica é necessário<br />

ter uma relação molar de 3:1,<br />

no mínimo, entre o álcool e triglicerídeos.<br />

A reação de transesterificação<br />

pode ser catalisada por álcalis, ácidos<br />

ou enzim<strong>as</strong>, e é o processo usado para<br />

produção de biodiesel nos Estados<br />

Unidos e na Europa. Essa reação também<br />

é usada na produção de ésteres<br />

metílicos para outr<strong>as</strong> aplicações <strong>com</strong>o<br />

detergentes e cosméticos. Os parâmetros<br />

importantes na reação de transesterificação<br />

são:<br />

a) A concentração de ácidos graxos<br />

livres nos óleos é fator<br />

importante na reação quando<br />

catalisada por NaOH, pois<br />

será maior seu requerimento<br />

para a neutralização. O conteúdo<br />

de água nos reagentes<br />

deve ser baixo, pois podem<br />

ser formados sabões no processo,<br />

o que aumenta a viscosidade<br />

final do produto e<br />

dificulta a separação do glicerol.<br />

(Bradshaw and Meuly,<br />

1944; Freedman et al., 1984;<br />

Feuge and Grose, 1949).<br />

b) O efeito da relação molar<br />

entre os reagentes é outro<br />

fator importante no rendimento<br />

da reação. Este fator<br />

está <strong>as</strong>sociado ao tipo de catalisador<br />

utilizado, por exemplo:<br />

Na catálise ácida necessita<br />

de 30:1 de butanol e óleo<br />

de soja, enquanto na alcalina<br />

só foi requerido 6:1 para atingir<br />

a mesma taxa de esterificação,<br />

por exemplo (Freedman<br />

et al., 1986).<br />

c) Os tipos de catalisadores possíveis<br />

são os ácidos (H 2<br />

SO 4<br />

,<br />

HCL, derivados H 2<br />

PO 4<br />

), alcalinos<br />

(KOH, NaOH) ou enzim<strong>as</strong><br />

(lip<strong>as</strong>es). A catálise alcalina<br />

é muito mais rápida do<br />

que a ácida, contudo, quando<br />

se utilizam óleos usados<br />

<strong>com</strong> alto teor de água e ácidos<br />

graxos livres, a catálise<br />

ácida é mais indicada (Sprules<br />

and Price, 1950- Freedman<br />

et al., 1986). Os estudos<br />

empregando lip<strong>as</strong>es<br />

<strong>com</strong>o biocatalizadores <strong>com</strong>eçaram<br />

a ser publicados no<br />

início da década de 90.<br />

d) O efeito do tempo de reação:<br />

normalmente o grau de<br />

esterificação aumenta <strong>com</strong> o<br />

tempo. As reações são rápid<strong>as</strong><br />

se a dispersão é boa, duram<br />

até 15 minutos n<strong>as</strong> catálises<br />

químic<strong>as</strong>.<br />

e) O efeito da temperatura é<br />

variável em função dos tipos<br />

de óleos e do catalisador. A<br />

metanólise alcalina de óleo<br />

de mamona ocorreu bem<br />

entre 20-35ºC (Smith, 1949).<br />

Cinética d<strong>as</strong> reações de<br />

transesterificação<br />

Existem muitos estudos relatados<br />

na literatura sobre a cinética da<br />

40 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Catálise<br />

Alcalina<br />

Catálise Enzimática<br />

Temperatura<br />

de reação<br />

60-70ºC 30-40ºC<br />

Ácidos graxos livres no óleo não<br />

refinado<br />

Água<br />

na matéria-prima<br />

Rendimento de<br />

metil ésteres<br />

Recuperação do glicerol<br />

Purificação de<br />

metil ésteres<br />

Produtos saponificados<br />

Interferência<br />

na reaçã o<br />

Norma<br />

l<br />

difíci<br />

l<br />

Lavagens consecutiva s<br />

Tabela 2. Comparação entre catálise alcalina e catálise enzimática <strong>com</strong> lip<strong>as</strong>es para<br />

a produção de biodiesel<br />

Metil éstere s<br />

Sem influênci a<br />

Alto<br />

Fáci l<br />

Nenhum a<br />

catálise ácida (Freedman et al., 1986-<br />

Eckey, 1956) e básica (Freedman et<br />

al., 1986; Noureddini and Zhu, 1997)<br />

d<strong>as</strong> reações de transesterificação. Dufek<br />

et al., 1972; estudaram a esterificação<br />

e transesterificação por catálise<br />

ácida do ácido 9(10)-carboniesterático<br />

e seus mono e di ésteres metílicos.<br />

Freedam et al., 1986; relatam a reação<br />

de transesterificação de óleo de<br />

soja e outros vegetais <strong>com</strong> álcoois,<br />

examinando o efeito do tipo de álcool,<br />

a relação molar entre os reagentes,<br />

tipo e concentração do catalisador e<br />

temperatura de reação na ordem e<br />

curso da reação. Tanto na presença<br />

de ácido, quanto na presença de b<strong>as</strong>e<br />

<strong>com</strong>o catalisadores, a reação apresentou-se<br />

<strong>com</strong>o sendo de pseudo-primeira<br />

ordem para o butanol e óleo de soja<br />

na proporção de 30:1. Na proporção<br />

de 6:1 de butanol e óleo de soja <strong>com</strong><br />

catalisador alcalino, a reação apresentou<br />

cinética de segunda ordem. Para<br />

metanol e óleo de soja (6:1) <strong>com</strong><br />

0,5% de metóxido de sódio, a cinética<br />

foi <strong>com</strong>binada de segunda e quarta<br />

ordem. Serão discutidos brevemente<br />

a seguir os efeitos da presença de ácidos<br />

graxos livres, da relação molar<br />

entre os reagentes e do tipo de catalisador<br />

no processo de transesterificação.<br />

Efeito da relação molar entre os<br />

reagentes: Uma variável importante na<br />

taxa de esterificação é a relação molar<br />

entre o álcool e o óleo. A<br />

estequiometria da reação de<br />

transesterificação requer 3 moles de<br />

álcool por mol de triglicerídeos, para<br />

render 3 moles de éster e um mol de<br />

glicerol (veja a Fig.1a). Alta relação<br />

molar resulta em maior obtenção de<br />

ésteres em menor tempo de reação.<br />

Na reação de alcóolise de óleo de<br />

amendoim <strong>com</strong> etanol, na proporção<br />

de (6:1), foi liberada maior quantidade<br />

de glicerol do que na proporção<br />

(3:1). Freedman et al.1984, estudaram<br />

ainda, o efeito da relação molar (de<br />

1:1 para 6:1) na conversão de óleos<br />

vegetais em ésteres metílicos. Os óleos<br />

de soja, gir<strong>as</strong>sol, amendoim e algodão<br />

apresentaram <strong>com</strong>portamento similar,<br />

<strong>com</strong> maior taxa de conversão atingida<br />

na proporção 6:1. Krisnangkura e<br />

Simamaharunop, 1992, estudaram a<br />

transesterificação de óleo de palma a<br />

70ºC em presença de solvente orgânico<br />

<strong>com</strong> metóxido de sódio <strong>com</strong>o<br />

catalisador. Observaram que a taxa de<br />

conversão aumentou <strong>com</strong> o aumento<br />

da relação molar entre o metanol e o<br />

óleo de palma. Assim, a relação molar<br />

de 6:1 é geralmente a mais empregada<br />

em processos industriais para obter<br />

ésteres metílicos em tax<strong>as</strong> de 98%<br />

de conversão (Feuge and Grose,<br />

1949; Fillieres and Delm<strong>as</strong>, 1995).<br />

Efeito do tipo de catalisador: O<br />

metóxido de sódio tem se mostrado<br />

mais efetivo do que o hidróxido de<br />

sódio, provavelmente por produzir<br />

menor concentração de água durante<br />

a reação, do que NaOH e MeOH<br />

(Freedman et al., 1984; Hartman,<br />

1956). Alcântara et al., 2000; reagiram<br />

três óleos – óleo de soja, óleo de<br />

fritura, e gordura de porco - <strong>com</strong><br />

metóxido de sódio em dois tipos diferentes<br />

de reação: a transesterificação<br />

e a amidação, <strong>com</strong> metanol e<br />

dietilamina, respectivamente. As<br />

amid<strong>as</strong> aumentam <strong>as</strong> propriedades de<br />

ignição do óleo diesel. Como, tanto o<br />

hidróxido de sódio, quanto o de potássio<br />

são capazes de catalisar a<br />

transesterificação, e sendo ambos<br />

muito baratos, são extensivamente<br />

aplicados na produção de biodiesel<br />

industrialmente.<br />

Catalisador químico: A reação de transesterificação<br />

<strong>com</strong> álcool pode ser representada<br />

pela equação geral ilustrada<br />

na Figura 1a. A Figura 1b mostra <strong>as</strong><br />

reações consecutiv<strong>as</strong> e reversíveis que<br />

sofrem os triglicerídeos na transesterificação.<br />

O primeiro p<strong>as</strong>so é a conversão<br />

dos triglicerídeos em diglicerídeos,<br />

que é seguida pela conversão<br />

dos últimos em monoglicerídeos e finalmente<br />

em glicerol, rendendo uma<br />

molécula de éster etílico em cada p<strong>as</strong>so<br />

(Freedman et al., 1986; Noureddini<br />

and Zhu, 1997).<br />

Catalisador enzimático: A cinética de<br />

transesterificação de triglicerídeos <strong>com</strong><br />

metanol (metanólise) catalisada por<br />

lip<strong>as</strong>e de Rhyzopus oryzal parece<br />

estar de acordo <strong>com</strong> o modelo teórico<br />

proposto (Kaieda et al.,2001), ou<br />

seja, inicialmente os triglicerídeos são<br />

hidrolisados pela lip<strong>as</strong>e em glicerídeos<br />

parciais e ácidos graxos livres, e depois<br />

são sintetizados os ésteres<br />

metílicos <strong>com</strong> metanol e os ácidos<br />

graxos livres (veja Fig. 1b). Isso sugere<br />

que, diferentemente da catálise alcalina,<br />

ácidos graxos livres contidos<br />

em óleos usados podem ser convertidos<br />

facilmente em ésteres na catálise<br />

enzimática.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 41


Transesterificação catalisada<br />

por ácidos in situ<br />

Os ácidos utilizados para transesterificação<br />

incluem sulfúrico, fosfórico,<br />

hidroclórico e ácidos sulfônicos<br />

orgânicos. Embora a transesterificação<br />

por catálise ácida seja mais lenta que<br />

a alcalina (Ma and Hanna, 1999; Sriv<strong>as</strong>tava<br />

and Pr<strong>as</strong>ad, 2000; Freedman<br />

et al., 1984), a transesterificação ácido<br />

é melhor quando o óleo usado tem<br />

alta concentração de ácidos graxos livres<br />

e água, <strong>com</strong>o é o c<strong>as</strong>o de óleos<br />

já utilizados para fritur<strong>as</strong> e etc. (Freedman<br />

et al., 1984; Aksoy et al., 1988).<br />

Aksoy et al. 1988, relatam que foi<br />

necessário realizar a reação de transesterificação<br />

em catálise ácida quando<br />

o óleo utilizado foi de oliva <strong>com</strong><br />

muitos <strong>com</strong>postos de enxofre. Em<br />

geral, os ésteres etílicos de ácidos graxos<br />

monossaturados ou de cadeia curta,<br />

<strong>com</strong> 2% de ácido sulfúrico podem<br />

ser bons <strong>com</strong>bustíveis alternativos<br />

(Klopfenstein, 1983).<br />

Transesterificação in situ difere<br />

do processo convencional porque<br />

se utiliza de óleo cru, diretamente <strong>com</strong><br />

álcool acidificado, em vez de óleo e<br />

álcool purificados. Ou seja, a extração<br />

e transesterificação ocorrem no mesmo<br />

processo <strong>com</strong> o álcool atuando<br />

em dois papéis: o de solvente extrator<br />

e na esterificação. A transesterificação<br />

in situ do óleo de gir<strong>as</strong>sol <strong>com</strong><br />

metanol acidificado produz ésteres<br />

metílicos <strong>com</strong> rendimento maior do<br />

que os obtidos <strong>com</strong> óleo pré-extraído<br />

(Harrington and D’Arey-Evans, 1985;<br />

Harrington and D’Arey-Evans, 1985).<br />

Kildiran et al., 1996; propuseram a<br />

transesterificação in situ do óleo de<br />

soja, enquanto Özgul e Türkay, 1993,<br />

relataram a esterificação in situ de óleo<br />

de arroz <strong>com</strong> diferentes álcoois monohidratados,<br />

explorando a vantagem<br />

de extração simultânea dos lipídeos<br />

neutros de sementes, quando a transesterificação<br />

in situ é empregada.<br />

Transesterificação catalisada<br />

por alcalina.<br />

As b<strong>as</strong>es empregad<strong>as</strong> na catálise<br />

do processo de transesterificação<br />

incluem NaOH, KOH, carbonatos e<br />

alcóxidos <strong>com</strong>o metóxido de sódio e<br />

butóxido de sódio. A transesterificação<br />

alcalina ocorre, aproximadamente,<br />

4000 vezes mais rápido do que a<br />

ácida (Formo, 1954), e é a mais empregada<br />

<strong>com</strong>ercialmente.<br />

No c<strong>as</strong>o da transesterificação<br />

alcalina, os glicerídeos e o álcool devem<br />

ser anidros, pois a presença de<br />

água favorece a reação de saponificação<br />

dos ácidos <strong>com</strong> o sal, formando<br />

sabões (Wright et al., 1944). O sabão<br />

consome o catalisador reduzindo a<br />

eficiência catalítica e aumentando a<br />

viscosidade. As conseqüênci<strong>as</strong> são a<br />

formação de gel e a dificuldade de<br />

separação do glicerol.<br />

Ma et al. 1998, sugeriram que<br />

a concentração livre de ácidos graxos<br />

no óleo refinado deve ser a menor<br />

possível, abaixo de 0,5%. Feuge e<br />

Grose, 1949, também reforçaram a<br />

importância dos óleos estarem livres<br />

de água e de ácidos graxos. Freedman<br />

et al. 1984, reportam que <strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de<br />

transesterificação são significativamente<br />

reduzid<strong>as</strong> se os reagentes não seguirem<br />

os requerimentos acima.<br />

Transesterificação utilizando<br />

fluidos supercríticos<br />

Com o objetivo de desenvolver<br />

um novo processo de metanólise<br />

de óleos sem qualquer catalisador,<br />

Saka e Kusdiana, 2001, fizeram um<br />

estudo fundamental para produção de<br />

biodiesel em metanol supercrítico.<br />

Demonstraram que o pré-aquecimento<br />

a 350ºC por 240s em metanol supercrítico,<br />

foi suficiente para converter<br />

óleo de semente de colza em ésteres<br />

metílicos. Os ésteres metílicos<br />

produzidos em metanol supercrítico<br />

foram os mesmos obtidos em catálise<br />

alcalina, m<strong>as</strong> <strong>com</strong> taxa de conversão<br />

maior. As análises cinétic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> reações<br />

demonstraram que a conversão de<br />

ésteres metílicos é muito mais rápida<br />

em condições supercrític<strong>as</strong>. As melhores<br />

condições foram a 350ºC e relação<br />

molar de 42:1 entre metanol e óleo<br />

(Kusdiana and Saka, 2001).<br />

Uma hipótese para a aceleração<br />

da reação é que metanol supercrítico<br />

tenha natureza hidrofílica <strong>com</strong><br />

baixa constante dielétrica, dessa forma,<br />

os triglicerídeos não polares podem<br />

ser bem solvatados pelo metanol<br />

supercrítico, formando um sistema<br />

unifásico de metanol/óleo. Além<br />

disso, o metanol líquido é um solvente<br />

polar e apresenta pontes de hidrogênio<br />

entre o OH-oxigênio e OH-hidrogênio<br />

formando clusters de metanol,<br />

dificultando o acesso do triglicerídeo.<br />

Est<strong>as</strong> podem ser algum<strong>as</strong> razões<br />

para a transesterificação supercrítica<br />

apresentar maior velocidade de reação.<br />

Assim <strong>com</strong>o na transesterificação<br />

enzimática, e ao contrário da<br />

alcalina, os ácidos graxos livres contidos<br />

no óleo também podem ser esterificados<br />

em metanol supercrítico.<br />

Além deste <strong>as</strong>pecto positivo, adiciona-se<br />

o fato de não utilizar catalisadores<br />

químicos, o que torna mais fácil a<br />

separação dos produtos dessa reação<br />

em relação à catálise alcalina. Devese<br />

observar que neste novo processo<br />

são requerid<strong>as</strong> alt<strong>as</strong> temperatur<strong>as</strong><br />

(350ºC) e pressões (45 MPa), além de<br />

grandes quantidades de metanol, e<br />

que, para aplicação industrial, são necessári<strong>as</strong><br />

mais investigações do processo.<br />

Transesterificação enzimática<br />

de óleos vegetais<br />

Nelson et al., 1996; foram os<br />

primeiros a estudar a alcóolise enzimática<br />

de triglicerídeos <strong>com</strong> o objetivo<br />

de produzir biodiesel. Quando a<br />

alcóolise de vários óleos e gordur<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> metanol e etanol foi conduzida<br />

usando lip<strong>as</strong>e imobilizada de R. michei<br />

na presença de hexano, mais de<br />

95% dos triglicerídeos foram convertidos<br />

em metil ou etil ésteres. A metanólise<br />

de gordura de carne atingiu<br />

65% de conversão, sem adição de solventes<br />

orgânicos. Foi observado que,<br />

quanto maior a cadeia carbônica do<br />

álcool empregado, maior foi a conversão<br />

da gordura de carne.<br />

Embora a transesterificação química,<br />

empregando catálise alcalina,<br />

resulte em alt<strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de conversão<br />

de triglicerídeos em seus respectivos<br />

ésteres, quando se trata de curtos tempos<br />

de reação, existem alguns inconvenientes<br />

ou desvantagens:<br />

1) tem altos g<strong>as</strong>tos energéticos,<br />

2) a recuperação do glicerol é<br />

difícil e demorada,<br />

3) remoção do catalisador é necessária,<br />

42 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


4) tratamento da água alcalina<br />

residual é requerida,<br />

5) Os substratos/reagentes devem<br />

ter baixa concentração<br />

de água e ácidos graxos livres.<br />

As lip<strong>as</strong>es extracelulares e <strong>as</strong><br />

intracelulares são também capazes de<br />

catalisar efetivamente a transesterificação<br />

de triglicerídeos em sistem<strong>as</strong><br />

aquosos ou não-aquosos. Isto pode ser<br />

observado na Tabela 2, que <strong>com</strong>para<br />

qualitativamente a catálise alcalina e<br />

enzimática em relação às característic<strong>as</strong><br />

do substrato e dos produtos obtidos.<br />

Em particular, deve ser observado<br />

que o subproduto glicerol pode ser<br />

facilmente recuperado, sem processos<br />

<strong>com</strong>plexos, e que os ácidos graxos<br />

livres nos óleos também são convertidos<br />

em seus ésteres correspondentes.<br />

Por outro lado, o custo de produção<br />

d<strong>as</strong> lip<strong>as</strong>es é significativamente<br />

maior do que dos catalisadores químicos.<br />

Transesterificação utilizando<br />

lip<strong>as</strong>es extracelulares:<br />

Vários tipos de álcoois podem ser<br />

empregados na transesterificação ca-<br />

talisada por lip<strong>as</strong>es. Linko et al., 1998,<br />

demonstraram a viabilidade da produção<br />

de diferentes ésteres biodegradáveis<br />

e poliésteres empregando lip<strong>as</strong>e.<br />

Na transesterificação de óleo de<br />

colza <strong>com</strong> 2-etil-1-hexanol, foi obtida<br />

uma taxa de 97% de conversão <strong>com</strong><br />

lip<strong>as</strong>e de cândida rugosa. De et al.,<br />

1999, estudaram a conversão de álcoois<br />

graxos em ésteres (C4-C18:1)<br />

empregando lip<strong>as</strong>e imobilizada de<br />

Mucor miehei (Lipozyme IM-20) em<br />

sistema livre de solventes orgânicos.<br />

A percentagem de conversão molar<br />

foi entre 86,8-99,2%. Estes resultados,<br />

entre outros, estão sintetizados na<br />

Tabela 3.<br />

Macedo et al., 2004; estudaram a<br />

esterificação direta de ácido acético,<br />

butírico e propiônico <strong>com</strong> álcool<br />

isoamílico para produção de ésteres<br />

de aroma. As lip<strong>as</strong>es empregad<strong>as</strong> foram<br />

microbian<strong>as</strong> não-<strong>com</strong>erciais de<br />

Geotrichum e Rhyzopus sp, e atingiram<br />

até 90% de conversão após 48h<br />

em meio aquoso.<br />

A transesterificação de<br />

triglicerídeos dos óleos de peixe, gir<strong>as</strong>sol<br />

e gordura vegetal <strong>com</strong> etanol,<br />

ou, etanólise, também foi estudada. Em<br />

todos os c<strong>as</strong>os, foram observad<strong>as</strong> tax<strong>as</strong><br />

de conversão acima de 80%, empregando<br />

lip<strong>as</strong>es de M. miehei (Selmi<br />

and Thom<strong>as</strong>, 1998), Cândida<br />

antartica (Breivk and Kriatinsson,<br />

1997), Pseudomon<strong>as</strong> cepacia (Wu et<br />

al., 1999) respectivamente.<br />

Nelson et al., 1996, investigaram<br />

<strong>as</strong> habilidades de lip<strong>as</strong>es<br />

transesterificarem triglicerídeos <strong>com</strong><br />

álcoois de cadeia curta. A lip<strong>as</strong>e de M.<br />

miehei foi a mais eficiente na conversão<br />

de triglicerídeos em su<strong>as</strong> alquil<strong>as</strong><br />

e ésteres <strong>com</strong> álcoois primários, enquanto<br />

a líp<strong>as</strong>e de C. antartica foi a<br />

mais eficiente na transesterificação de<br />

triglicerídeos <strong>com</strong> álcoois secundários<br />

na produção de ésteres ramificados.<br />

As tax<strong>as</strong> máxim<strong>as</strong> de conversão para<br />

os álcoois primários: metanol, etanol,<br />

propanol, butanol, isobutanol, foram<br />

de 94,8-98,5% e para os álcoois secundários:<br />

isopropanol e 2butanol, de<br />

61,2-83,8%, sempre na presença de<br />

hexano. N<strong>as</strong> reações livres de hexano,<br />

contudo, <strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de conversão para<br />

etanol e metanol decresceram até<br />

19,4%.<br />

Mittelbach, 1990, reportou a<br />

transesterificação dos álcoois<br />

primários: metanol, etanol e 1butanol,<br />

<strong>com</strong> e sem éter de petróleo <strong>com</strong>o<br />

solvente. Os resultados mostram que<br />

<strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de conversão obtid<strong>as</strong> para<br />

Tabela 3. Transesterificação enzimática utilizando diferentes tipos de álcoois e lip<strong>as</strong>es<br />

Óleo<br />

Álcool<br />

L ip<strong>as</strong>e<br />

Conversão(%<br />

)<br />

S olvente<br />

Ref.<br />

Semente<br />

de colza<br />

2-etil-1-hexano<br />

l C.<br />

rugos a<br />

97<br />

n enhu m Linko, at al, 1998 .<br />

Mowrah,<br />

Manga, Kernel<br />

Gir<strong>as</strong>sol<br />

álcooi<br />

s<br />

4-<br />

C . miehei (Lipozyme IM-20)<br />

C 18:<br />

1<br />

M 86.8-99.<br />

2 Nenhu m<br />

E tano l<br />

M.<br />

miehei (Lipozyme ) 83<br />

Nenhu m<br />

De and Bandhu,<br />

1999<br />

Selmi and<br />

Thom<strong>as</strong>, 1998<br />

Peixe<br />

Etano<br />

l<br />

C.<br />

antartic a<br />

100<br />

Nenhu m<br />

Breivik at al.,<br />

1997<br />

Gordura reciclada<br />

restaurantes<br />

de<br />

Etanol<br />

P. cepacia (Lip<strong>as</strong>e OS-30)+ C.<br />

antártica (Lip<strong>as</strong>e SP435)<br />

85.4<br />

Nenhu<br />

m Wu at al., 199 9<br />

Sebo, soja, óleo de<br />

semente de colza<br />

a<br />

Álcoois primários<br />

álcoois secundários<br />

metanol etanol<br />

b<br />

M.miehei (LipozymeIM60)<br />

C. antartica (SP435)<br />

M.miehei (LipozymeIM60)<br />

M.miehei (LipozymeIM60)<br />

94.8-98.5<br />

61.2-83.8<br />

19.4<br />

65.5<br />

Hexano<br />

Hexano<br />

Nenhum<br />

Nenhum<br />

Nelson at al.,<br />

1996<br />

Gir<strong>as</strong>sol<br />

Metanol<br />

Metanol<br />

Etanol<br />

P. fluorescens<br />

3<br />

79<br />

82<br />

Nenhum<br />

Éter de petróleo<br />

Nenhum<br />

Mittelbach, 1990<br />

Palma<br />

M etanolEtano l P.<br />

cepacia (Lip<strong>as</strong>e PS-30)<br />

157<br />

2<br />

NenhumNenhu<br />

m Abigor at al., 200 0<br />

a<br />

Metanol, etanol, propanol, butanol e isobutanol.<br />

b<br />

Isopropanol e 2-butanol.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 43


Tabela 4. Processos de metanólise efetivos tanto <strong>com</strong> lip<strong>as</strong>es intracelulares quanto <strong>com</strong> lip<strong>as</strong>es extracelulares.<br />

Lip<strong>as</strong>e<br />

Regioespecifidade<br />

Processo<br />

e operação<br />

Metil éster<br />

Tempo de<br />

reação(h)<br />

Ref.<br />

a<br />

C.<br />

antártica<br />

(Novozym 435)<br />

Nenhuma<br />

Processo semi-contínuo<br />

Operação contínua<br />

Processo em batelada<br />

96-98<br />

92-94<br />

87<br />

48<br />

7 h<br />

3. 5<br />

Shimada at al., 1999<br />

Watanabe at al., 2000<br />

Samukawa at al., 2000<br />

b<br />

C.<br />

rugosa , P. cepaci a b<br />

,<br />

b<br />

Nenhum<br />

a<br />

P.<br />

fluorescence<br />

Processo em batelad a 80-100<br />

80-90<br />

Kaieda at al., 2001<br />

b<br />

R.<br />

oryzae (F-AP15) 1(3)-regioespecificidad e<br />

Processo em batelada<br />

Processo em batelada<br />

80-90<br />

80-90<br />

70<br />

72<br />

Kaieda at al., 1999<br />

Ban at al., 2001<br />

c<br />

R.<br />

oryzae IFO4697 1(3)-regioespecificidad<br />

e Processo semi-contínu o 70-80<br />

72<br />

Ban at al., 200 2<br />

a<br />

Lip<strong>as</strong>e extracelular imobilizada em resina de troca iônica.<br />

b<br />

Lip<strong>as</strong>e extracelular em pó.<br />

c<br />

Célul<strong>as</strong> de lip<strong>as</strong>e intracelular imobilizada.<br />

d<br />

Adição de metanol em três p<strong>as</strong>sos; mistura de reagentes óleo/metanol (1:1, mol/mol) alimentada a cada p<strong>as</strong>so.<br />

e<br />

Reação contínua <strong>com</strong> alimentação de metanol em três etap<strong>as</strong>.<br />

f<br />

Pré-tratamento da líp<strong>as</strong>e imobilizada <strong>com</strong> metil oleato e óleo de soja.<br />

g<br />

Tratamento de célul<strong>as</strong> imobilizad<strong>as</strong> utilizando glutaraldeido.<br />

h<br />

Tempo de residência total.<br />

etanol e 1butanol foram relativamente<br />

alt<strong>as</strong>, tanto na presença, quanto na<br />

ausência de solvente orgânico. No<br />

entanto, na reação <strong>com</strong> metanol,<br />

somente traços de ésteres metílicos<br />

foram obtidos.<br />

Abigor et al., 2000; também<br />

observou que na conversão de óleo<br />

de palma por lip<strong>as</strong>e P. cepacia, o<br />

etanol atingiu melhores tax<strong>as</strong> de conversão<br />

(72%) que o metanol (15%).<br />

As lip<strong>as</strong>es são conhecid<strong>as</strong> por<br />

terem a propensão a agir mais efetivamente<br />

em molécul<strong>as</strong> de cadeia<br />

carbônica longa do que de cadei<strong>as</strong><br />

carbônic<strong>as</strong> curt<strong>as</strong> (Shimada et al.,<br />

1997; Shimada et al., 1998). Assim, de<br />

modo geral, a eficiência da<br />

transesterificação dos triglicerídeos<br />

<strong>com</strong> metanol parece ser muito menos<br />

favorecida do que <strong>com</strong> etanol,<br />

tanto em sistem<strong>as</strong> <strong>com</strong>, <strong>com</strong>o em sistem<strong>as</strong><br />

sem solventes orgânicos.<br />

Recentemente, uma série de<br />

trabalhos de pesquisa foram publicados<br />

a respeito da alcóolise de óleos<br />

por lip<strong>as</strong>es, a síntese dos resultados<br />

principais destes trabalhos encontr<strong>as</strong>e<br />

na Tabela 4. Shimada et al., 1999;<br />

observaram que a lip<strong>as</strong>e imobilizada<br />

de C. antartica (Novozym 435) mostrou-se<br />

mais efetiva na metanólise do<br />

que outr<strong>as</strong> lip<strong>as</strong>es testad<strong>as</strong>. O grupo<br />

desenvolveu um processo de adição<br />

do metanol em etap<strong>as</strong>, o que se mostrou<br />

necessário, uma vez que a enzima<br />

foi inativada pela agitação em sistem<strong>as</strong><br />

contendo mais de 1,5 moles de<br />

metanol por mol de óleo. Como resultado,<br />

foi mantida uma taxa de mais<br />

de 95% de conversão após 50 ciclos<br />

de reação, em processo de adição<br />

contínua de metanol.<br />

Watanabe et al.,2000; demonstrou<br />

um processo de metanólise efetivo,<br />

utilizando um sistema em<br />

batelada, <strong>com</strong> 2 e 3 etap<strong>as</strong> e a<br />

Novozym 435. A taxa de conversão<br />

molar no final do último estágio foi de<br />

90-93%, e a lip<strong>as</strong>e pode ser reutilizada<br />

por 100 ciclos, sem perder atividade.<br />

O efeito do pré-tratamento da<br />

lip<strong>as</strong>e 435 em metanol para<br />

metanólise de óleos foi investigada por<br />

Samukaiva et al.2000.<br />

A metanólise progrediu muito<br />

mais rápido quando a Novozym 435<br />

foi pré-incubada em metiloleato por<br />

0,5 hor<strong>as</strong> e subseqüentemente em<br />

óleo soja por 12h. Como resultado, a<br />

taxa de conversão atingiu 97% em<br />

3,5hor<strong>as</strong> de reação, <strong>com</strong> adição contínua<br />

de 0,33 moles de metanol após<br />

cada 0,25-0,4h de reação.<br />

Kaieda et al., 2001; estudaram<br />

a metanólise de óleo de soja <strong>com</strong><br />

lip<strong>as</strong>es não regioseletiva e 1(3)-<br />

regioespecífica em sistema aquoso. As<br />

lip<strong>as</strong>es não regioespecífic<strong>as</strong> de C. rugosa,<br />

P. cepacia e P. fluorescens mostraram<br />

alta atividade catalítica <strong>com</strong><br />

presença de 4-30% de água no sistema.<br />

A lip<strong>as</strong>e de R. oryzae, que exibe<br />

1(3)-regioseletividade (Okumura et<br />

al., 1976; Scheib et al., 1998) também<br />

foi efetiva na metanólise do óleo de<br />

soja atingindo 80% de conversão.<br />

Os principais resultados dos<br />

estudos mencionados (entre outr<strong>as</strong><br />

publicações) podem ser sintetizados<br />

da seguinte forma (Shimada et al.,<br />

2002):<br />

a) <strong>as</strong> lip<strong>as</strong>es catalisam a<br />

alcóolise de triglicerídeos e <strong>as</strong><br />

reações ocorrem mais eficientemente<br />

se a cadeia<br />

carbônica for maior do que a<br />

do etanol e metanol;<br />

b) a alcóolise de metanol e<br />

etanol ocorre mais eficientemente<br />

na presença de<br />

solvente orgânico do que em<br />

meio aquoso;<br />

c) a não ser que a lip<strong>as</strong>e seja<br />

imobilizada e permita a<br />

reutilização, o processo pode<br />

ser muito dispendioso;<br />

d) <strong>as</strong> vantagens ambientais do<br />

processo enzimático são<br />

evidentes: menor g<strong>as</strong>to<br />

energético <strong>com</strong> temperatura<br />

e pressão alta, mais fácil<br />

recuperação dos produtos e<br />

menor quantidade de glicerol<br />

<strong>com</strong>o subproduto.<br />

44 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Conclusão<br />

Os estudos de transesterificação<br />

enzimática ainda são muito recentes,<br />

m<strong>as</strong> já demonstram o potencial desta<br />

tecnologia na transesterificação de<br />

óleos vegetais. As vantagens da reação<br />

enzimática frente às tecnologi<strong>as</strong><br />

químic<strong>as</strong> são evidentes, e justificam o<br />

investimento em pesquis<strong>as</strong> e desenvolvimento<br />

de tecnologia nacional para<br />

implantação no Br<strong>as</strong>il.<br />

Tomando <strong>com</strong>o exemplo o<br />

que ocorreu <strong>com</strong> a indústria de gordur<strong>as</strong><br />

e óleos na década de oitenta,<br />

tendo sido substituído o processo de<br />

hidrólise química pelo enzimático<br />

<strong>com</strong> aumento de qualidade e de produtividade,<br />

a indústria do biodiesel<br />

deve conhecer e testar <strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong><br />

enzimátic<strong>as</strong> para este processo.<br />

Referênci<strong>as</strong> bibliográfic<strong>as</strong><br />

Abigor, R., Uadia, P., Foglia, T.,<br />

Ha<strong>as</strong>, M., Jones, K., Okpefa,<br />

E., Obibuzor, J., and Bafor, M.:<br />

Lip<strong>as</strong>e-catalysed production of<br />

biodiesel fuel from Nigerian lauric<br />

oils. Biochem. Soc. Trans., 28, 979-<br />

981 (2000).<br />

Aksoy, H. A., Kahraman, I.,<br />

Karaosmanoglu, F., and<br />

Civelekoglu, H.: Evaluation of<br />

Turkish sulphur olive oil <strong>as</strong> an<br />

alternative diesel fuel. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 65, 936-938 (1988).<br />

Alcantara, R., Amores, J., Canoira,<br />

L., Fidalgo, E., Franco, M. J.,<br />

and Navarro, A.: Catalytic production<br />

of biodiesel from soy-bean<br />

oil, used frying oil to diesel and<br />

tallow. Biom<strong>as</strong>s Bioenerg., 18, 515-<br />

527 (2000).<br />

Ban, K., Hama, S., Nishizuka, K.,<br />

Kaieda, M., Matsumoto, T.,<br />

Kondo, A., Noda, H., Fukuda,<br />

H.: Repeated use of whole cell<br />

biocatalysts immobilized within<br />

biom<strong>as</strong>s support particles for<br />

Biodiesel fuel production. J. Mol.<br />

Catal. B: Enz, 2002.<br />

Ban, K., Kaieda, M., Matsumoto,<br />

T., Kondo, A., and Fukuda, H.:<br />

Whole cell biocatalysts for<br />

Biodiesel fuel production utilizing<br />

Rhizopus oryzae cells immobilized<br />

within biom<strong>as</strong>s support particles.<br />

Biochem. Eng. J., 8, 39-43,<br />

2001.<br />

Bartholomew, D.: Vegetable oil fuel.<br />

J. Am. Oil Chem. Soc., 58, 286A-<br />

288A (1981).<br />

Billaud, F., Dominguez, V., Broutin,<br />

P., and Busson, C.: Production<br />

of hydrocarbons by pyrolyses of<br />

methyl esters from rapeseed oil. J.<br />

Am. Oil Chem. Soc., 72, 1149-<br />

1154 (1995).<br />

Bradshaw, G. B. and Meuly, W. C.:<br />

Preparation of detergents. US<br />

Patent 2, 360-844, 1944.<br />

Breivik, H., Haraldsson, G. G., and<br />

Kristinsson, B.: Preparation of<br />

highly purified concentrates of<br />

eicosapentaenoic acid and<br />

docosahexaenoic acid. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 74, 1425-1429 (1997).<br />

Clark, S. J., Wangner, L., Schrock,<br />

M. D., and Piennaar, P. G.:<br />

Methyl and ethyl soybean esters<br />

<strong>as</strong> renewable fuels for diesel engines.<br />

J. Am. Oil Chem. Soc., 61,<br />

1632-1638 (1984).<br />

De, B. K., Bhattacharyya, D. K.,<br />

and Bandhu, C.: Enzymatic synthesis<br />

of fatty alcohol esters by<br />

alcoholysis. J. Am. Oil Chem. Soc.,<br />

76, 451-453 (1999).<br />

Dufek, E. J., Butterfield, R. O., and<br />

Frankel, E. N.: Esterification and<br />

transesterification of 9(10)-<br />

carboxystearic acid and its methyl<br />

esters. Kinetic studies. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 49, 302-319 (1972).<br />

Eckey, E. W.: Esterification and<br />

interesterification. J. Am. Oil Chem.<br />

Soc., 33, 575-579 (1956).<br />

Feuge, R. O. and Grose, T.: Modification<br />

of vegetable oils. VII. Alkali<br />

catalyzed interesterification of<br />

peanut oil with ethanol. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 26, 97-102 (1949).<br />

Fillieres, R., Benjelloun-Mlayah,<br />

B., and Delm<strong>as</strong>, M.: Ethanolysis<br />

of rapeseed oil: quantitation of<br />

ethyl esters, mono-, di-, and triglycerides<br />

and glycerol by high<br />

performance size-exclusion chromatography.<br />

J. Am. Oil Chem. Soc.,<br />

72, 427-432 (1995).<br />

Formo, M. W.: Ester reactions of fatty<br />

materials. J. Am. Oil Chem. Soc.,<br />

31, 548-559 (1954).<br />

Freedman, B., Butterfield, R. O.,<br />

and Pryde, E. H.:<br />

Transesterification kinetics of soybean<br />

oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 63,<br />

1375-1380 (1986).<br />

Freedman, B., Pryde, E. H., and<br />

Mounts, T. L.: Variables affecting<br />

the yields pf fatty esters from<br />

transesterified vegetable oils. J.<br />

Am. Oil Chem. Soc., 61, 1638-<br />

1643 (1984).<br />

Grossley, T. D., Heyes, T. D., and<br />

Hudson, B. J. F.: The effect of<br />

heat on pure triglycerides. J. Am.<br />

Oil. Chem. Soc., 39, 9-14 (1962).<br />

Harrington, K. J. and D’Arey-<br />

Evans, C.: A <strong>com</strong>parison of conventional<br />

and in situ methods of<br />

transesterification of seed oil from<br />

a series of sunflower cultivars. J.<br />

Am. Oil Chem. Soc., 62, 1009-<br />

1013 (1985).<br />

Harrington, K. J. and D’Arey-<br />

Evans, C.: Transesterification in<br />

situ of sunflower seed oil. Ind.<br />

Eng. Chem. Prod. Res. Dev., 24,<br />

314-318 (1985).<br />

Hartman, L.: Methanolysis of triglycerides.<br />

J. Am. Oil Chem. Soc., 33,<br />

129-132 (1956).<br />

Kaieda, M., Samukawa, T., Kondo,<br />

A., and Fukuda, H.: Effect of<br />

methanol and water contents on<br />

production of biodiesel fuel from<br />

plant oil catalyzed by various lip<strong>as</strong>es<br />

in a solvent-free system. J.<br />

Biosc. Bioeng., 91, 12-15 (2001).<br />

Kaieda, M., Samukawa, T.,<br />

Matsumoto, T., Ban, K., Kondo,<br />

A., Shimada, Y., Noda, H.,<br />

Nomoto, F., Ohtsuka, K.,<br />

Izumoto, E., and Fukuda, H.:<br />

Biodiesel fuel production from<br />

plant oil catalyzed by Rhizopus<br />

oryzae lip<strong>as</strong>e in a water-containing<br />

system without an organic solvent.<br />

J. Biosci. Bioeng., 88, 627-<br />

631, 1999.<br />

Kildiran, G., Özgül, S., and Türkay,<br />

S.: In-situ alcoholysis of soybean<br />

oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 73, 225-<br />

228 (1996).<br />

Klopfenstein, W. E. and Walker,<br />

H. S.: Efficiencies of various esters<br />

of fatty acids <strong>as</strong> diesel fuels. J. Am.<br />

Oil Chem. Soc., 60, 1595-1598<br />

(1983).<br />

Krisnangkura, K. And<br />

Simamaharunop, R.: Continuous<br />

transmethylation of palm oil in<br />

an organic solvent. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 69, 166-169 (1992).<br />

Kusdiana, D., and Saka, S.: Kinet-<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 45


ics of transesterification in rapeseed<br />

oil to biodiesel fuel treated in<br />

supercritical methanol. Fuel, 80,<br />

693-698 (2001).<br />

Linko, Y.-Y., Lämsä, M., Wu, X.,<br />

Uosukaineu, W., Sappälä, J.,<br />

and Linko, P.: Biodegradable<br />

products by lip<strong>as</strong>e biocatalysis. J.<br />

Biotechnol., 66, 41-50 (1998).<br />

Ma, F. and Hanna, M. A.: Biodiesel<br />

production: a review. Bioresour.<br />

Technol., 70, 1-15 (1999).<br />

Ma, F., Clements, L. D., and Hanna,<br />

M. A.: Biodiesel fuel from animal<br />

fat. Ancillary studies on<br />

transesterification of beef tallow.<br />

Ind. Eng. Chem. Soc., 37, 3768-<br />

3771 (1998).<br />

Mittelbach, M.: Lip<strong>as</strong>e catalyzed alcoholysis<br />

of sunflower oil. J. Am.<br />

Oil Chem. Soc., 67, 168-170<br />

(1990).<br />

Nelson, L.A., Foglia, A., and<br />

Marmer, W. N.: Lip<strong>as</strong>e-catalyzed<br />

production of biodiesel. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 73, 1191-1195 (1996).<br />

Noureddini, H. and Zhu, D.: Kinetics<br />

of transesterification of soybean<br />

oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 74,<br />

1457-1463 (1997).<br />

Okumura, S., Iwai, M., and<br />

Tsujikawa, T.: Positional specificities<br />

of four kinds of microbial<br />

lip<strong>as</strong>es. Agr. Biol. Chem., 40, 655-<br />

660 (1976).<br />

Özgül, S., and Türkay, S.: In situ<br />

esterification of rice bran oil with<br />

methanol and ethanol. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 70, 145-147 (1993).<br />

Saka, S., and Kusdiana, D.: Biodiesel<br />

fuel from rapeseed oil <strong>as</strong> prepared<br />

in supercritical methanol. Fuel, 80,<br />

225-231 (2001).<br />

Sams, T.: Exhaust <strong>com</strong>ponents of<br />

biofuels under real world engine<br />

conditions, p. 64-77. In Martini, N.<br />

and Schell, J. S. (ed.), Plant oils <strong>as</strong><br />

fuels. Springer-Verlag, Heidelberg<br />

(1998).<br />

Samukawa, T., Kaieda, M.,<br />

Matsumoto, T., Ban, K., Kondo,<br />

A., Shimada, Y., Noda, H., and<br />

Fukuda, H.: Pretreatment of immobilized<br />

Candida antarctica lip<strong>as</strong>e<br />

for biodiesel fuel production<br />

from plant oil. J. Biosci. Bioeng.,<br />

90, 180-183 (2000).<br />

Scheib, H., Pleiss, J., Stadler, P.,<br />

Kovac, A., Potthoff, A. P.,<br />

Haalck, L., Spener, F., Paltauf,<br />

F., and Schmid, R. D.: Rational<br />

design of Rhizopus oryzae lip<strong>as</strong>e<br />

with modified steleoselectivity<br />

toward triadylglycerols. Protein<br />

Eng., 11, 675-682 (1998).<br />

Schwab, A. W., Bagby, M. O., and<br />

Feedman, B.: Preparation and<br />

properties of diesel fuels from<br />

vegetable oils. Fuel, 66, 1372-1378<br />

(1987).<br />

Schwab, A. W., Dykstra, G. J.,<br />

Selke, E., Sorenson, S. C., and<br />

Pryde, E. H.: Diesel fuel from<br />

thermal de<strong>com</strong>position of soybean<br />

oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 65,<br />

1781-1786 (1988).<br />

Selmi, B. and Thom<strong>as</strong>, D.: Immobilized<br />

lip<strong>as</strong>e-catalyzed ethanolysis<br />

of sunflower oil in solvent-free<br />

medium. J. Am. Oil Chem. Soc.,<br />

75, 691-695 (1998).<br />

Sheehan, J., Camobresco, V.,<br />

Duffield, J., Graboski, M., and<br />

Shapouri, H.: An overview of<br />

biodiesel and petroleum diesel life<br />

cycles. Report of National Renewable<br />

Energy Laboratory (NREL)<br />

and US-Department of Energy<br />

(DOE). T<strong>as</strong>k No. BF886002, May<br />

(1998).<br />

Shimada, Y., Sugihara, A.,<br />

Minamigawa,<br />

Y.,<br />

Hig<strong>as</strong>hiyamna, K., Akimoto,<br />

K., Fujikawa, S., Komemushi,<br />

S., and Tominaga, Y.: Enzymatic<br />

enrichment of arachdonic<br />

acid from Mortierella single-cell<br />

oil. J. Am. Oil Chem. Soc., 75,<br />

1213-1217 (1998).<br />

Shimada, Y., Sugihara, A., Nakano,<br />

H., Kuramoto, T., Nagno, T.,<br />

Gemba, M., and Tominaga, Y.:<br />

Purification of docosahexaenoic<br />

acid by selective esterification of<br />

fatty acids from tuna oil with Rhizopus<br />

delemar lip<strong>as</strong>e. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 74, 97-101 (1997).<br />

Shimada, Y., Watanabe, Y.,<br />

Samukawa, T., Sugihara, A.,<br />

Noda, H., Fukuda, H., and<br />

Tominaga, Y.: Convertion of<br />

vegetable oil to biodiesel using<br />

immobilized Candida antarctica<br />

lip<strong>as</strong>e. J. Am. Oil Chem. Soc., 76,<br />

789-793 (1999).<br />

Shimada, Y., Watanabe, Y.,<br />

Sugihara, A., Tominaga, Y.:<br />

Enzymatic alcoholysis for Biodiesel<br />

fuel production and application of<br />

the reaction to oil processing. J. of<br />

Molecular Catalysis B: Enzymatic,<br />

17, 133-142, 2002.<br />

Smith, M.K.: Process of producing<br />

esters. US Patent 2, 444-486, 1949.<br />

Sprules, F. J. and Price, D.: Production<br />

of fatty esters. US Patent 2,<br />

366-494, 1950.<br />

Sriv<strong>as</strong>tava, A. and Pr<strong>as</strong>ad, R.: Triglycerides-b<strong>as</strong>ed<br />

diesel fuels. Renew.<br />

Sust. Energ. Rev., 4, 111-133<br />

(2000).<br />

Varese, R. and Varese, M.: Methyl<br />

ester biodiesel: opportunity or<br />

necessity? Inform, 7, 816-824<br />

(1996).<br />

Watanabe, Y., Shimada, Y.,<br />

Sugihara, A., Noda, H., Fukuda,<br />

H., and Tominaga, Y.: Continuous<br />

production of biodiesel fuel<br />

from vegetable oil using immobilized<br />

Candida antarctica lip<strong>as</strong>e. J.<br />

Am. Oil Chem. Soc., 77, 355-360<br />

(2000).<br />

Wright, H. J., Segur, J. B., Clark, H.<br />

V., Cobura, S. K., Langdon, E.<br />

E., and DuPuis, R. N.: A report<br />

on ester interchange. Oil Soap, 21,<br />

145-148 (1944).<br />

Wu, W. H., Foglin, T. A., Marmer,<br />

W. N., and Phillips, J. G.: Optimizing<br />

production of ethyl esters<br />

of gr<strong>as</strong>e using 95% ethanol by<br />

response surface methodology. J.<br />

Am. Oil Chem. Soc., 76, 517-521<br />

(1999).<br />

Yamane, K., Ueta, A., and<br />

Shimamoto, Y.: Influence of<br />

physical and chemical properties<br />

of biodiesel fuel on injection, <strong>com</strong>bustion<br />

and exhaust emission characteristics<br />

in a DI-CI engine. Proc.<br />

5 th Int. Symp. On Diagnostics and<br />

Modeling of Combustion in Internal<br />

Combustion Engines<br />

(COMODIA 2001). Nagoya, p. 402-<br />

409 (2001).<br />

Ziejewski, M. and Kaufman, K. R.:<br />

Laboratory endurance test of a<br />

sunflower oil blend in a diesel<br />

engine. J. Am. Oil Chem. Soc., 60,<br />

1567-1573 (1983).<br />

Ziejewski, M., Kaufman, K. R.,<br />

Schwab, A. W., and Pryde, E.<br />

H.: Diesel engine evaluation of a<br />

nonionic sunflower oil – aqueous<br />

ethanol microemulsion. J. Am. Oil<br />

Chem. Soc., 61, 1620-1626 (1984).<br />

46 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


<strong>Biotecnologia</strong> aplicada ao valor<br />

Pesquisa<br />

nutricional dos alimentos<br />

Biofortificação<br />

Neuza Maria Brunoro Costa<br />

PhD em Nutrição Humana, professora do<br />

Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade<br />

Federal de Viçosa, Viçosa, MG<br />

nmbc@ufv.br<br />

Fotos cedid<strong>as</strong> pela autora<br />

biotecnologia b<strong>as</strong>eia-se na<br />

habilidade de introduzir,<br />

<strong>com</strong> precisão, construções<br />

gênic<strong>as</strong> em um organismo,<br />

usando a tecnologia<br />

do DNA re<strong>com</strong>binante ou técnic<strong>as</strong> de<br />

engenharia genética para alterar os<br />

seus processos metabólicos favoravelmente.<br />

A maioria d<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> de melhoramento<br />

de plant<strong>as</strong> d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> últim<strong>as</strong><br />

décad<strong>as</strong> tem sido direcionada para<br />

aumentar a produtividade e resistência<br />

a doenç<strong>as</strong> e prag<strong>as</strong>. Atualmente, a<br />

aplicação de biotecnologia às plant<strong>as</strong><br />

tem sido direcionada para aumentar<br />

sua qualidade nutricional (Zimmermann<br />

e Hurrel, 2002).<br />

Segundo Kishore e Shewmaker<br />

(1999), o desenvolvimento da biotecnologia<br />

pode ser dividido em três f<strong>as</strong>es.<br />

A primeira f<strong>as</strong>e consistiu na introdução<br />

de característic<strong>as</strong> agronômic<strong>as</strong>.<br />

Desde 1995, alguns produtos <strong>com</strong><br />

melhores <strong>as</strong>pectos culturais têm sido<br />

lançados no mercado, <strong>com</strong> a soja Roundup<br />

Ready, tolerante ao glifosato, um<br />

ingrediente ativo do herbicida Roundup.<br />

Outro exemplo de produto <strong>com</strong><br />

melhores <strong>as</strong>pectos culturais é o milho<br />

YieldGard. Este milho possui um gene<br />

que codifica para uma proteína inseticida<br />

que ocorre naturalmente na bactéria<br />

Bacillus thuringiensis e confere<br />

resistência à broca no milho, inseto que<br />

infesta a cultura e reduz sua produção<br />

de 6% a 20%.<br />

A segunda f<strong>as</strong>e da biotecnologia<br />

visa à produção de cultur<strong>as</strong> de melhor<br />

qualidade. O melhoramento genético<br />

clássico tem produzido alimentos diferenciados,<br />

<strong>com</strong>o a canola <strong>com</strong> alto teor<br />

de ácido erúcico e glicosinolato, milho<br />

ceroso <strong>com</strong> alto teor de amilose, arroz<br />

<strong>com</strong> grão longo e trigo durrun. Vários<br />

produtos para ração animal estão sendo<br />

desenvolvidos, entre os quais aqueles<br />

<strong>com</strong> grãos <strong>com</strong> alta densidade calórica,<br />

devido ao elevado conteúdo de<br />

óleo; e os de grãos <strong>com</strong> alta densidade<br />

de nutrientes, principalmente teor de<br />

proteína, aminoácidos essenciais ou<br />

micronutrientes. O milho <strong>com</strong> alto teor<br />

de óleo (6% ou mais) e/ou alto teor de<br />

proteína é resultado do melhoramento<br />

molecular. Outro exemplo da biotecnologia,<br />

introduzindo genes que alteram<br />

vi<strong>as</strong> metabólic<strong>as</strong>, é a produção de<br />

gordura sólida ou semi-sólida sem ácidos<br />

graxos trans n<strong>as</strong> sementes oleaginos<strong>as</strong>.<br />

Isso é possível, inibindo-se a<br />

conversão de ácido esteárico para oléico<br />

em soja e canola. A melhoria de<br />

atributos <strong>com</strong>o flatulência, flavor do<br />

feijão, propriedades de textura e emulsificação<br />

da soja também são exemplos<br />

de novos produtos da biotecnologia<br />

da segunda f<strong>as</strong>e.<br />

A terceira f<strong>as</strong>e da biotecnologia<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 47


objetiva o uso de plant<strong>as</strong> <strong>com</strong>o<br />

“biofábric<strong>as</strong>” produzindo alimentos<br />

nutricionalmente fortificados<br />

e substituindo a adição<br />

de constituintes sintéticos aos<br />

alimentos. Um exemplo é o<br />

óleo de canola rico em caroteno.<br />

Desse modo, a biotecnologia<br />

pode ser utilizada para suprir<br />

<strong>as</strong> deficiênci<strong>as</strong> nutricionais,<br />

<strong>com</strong>o a vitamina A. A biotecnologia<br />

também pode ser usada<br />

para reduzir o conteúdo de fatores<br />

antinutricionais, <strong>as</strong>sim<br />

<strong>com</strong>o para fornecer novos nutrientes<br />

nos grãos, <strong>com</strong>o os fitoesteróis,<br />

os quais têm o potencial de reduzir<br />

de 10% a 15% os níveis de colesterol<br />

em humanos. Outr<strong>as</strong> aplicações da<br />

biotecnologia para um futuro próximo<br />

incluem a modulação de doenç<strong>as</strong> pela<br />

manipulação de <strong>com</strong>postos antioxidantes,<br />

antiinflamatórios e estimulantes<br />

do sistema imune nos alimentos.<br />

Proteín<strong>as</strong><br />

A melhoria do valor nutricional de<br />

plant<strong>as</strong>, enfocando a <strong>com</strong>posição de<br />

aminoácidos d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>, tem sido<br />

objeto de program<strong>as</strong> de melhoramento<br />

de plant<strong>as</strong> há vári<strong>as</strong> décad<strong>as</strong>. As<br />

proteín<strong>as</strong> dos cereais são normalmente<br />

pobres em certos aminoácidos essenciais.<br />

Em milho, lisina é o primeiro<br />

aminoácido limitante e triptofano, o<br />

segundo. Metionina e cisteína também<br />

estão presentes em pequen<strong>as</strong> concentrações,<br />

o que pode prejudicar a absorção<br />

de ferro e zinco no intestino<br />

(Graham et al., 1999).<br />

A lisina é sintetizada junto <strong>com</strong><br />

outros aminoácidos essenciais, <strong>com</strong>o<br />

treonina, metionina e isoleucina, a partir<br />

do <strong>as</strong>partato. A introdução dos genes<br />

que codificam <strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> <strong>as</strong>partato<br />

quin<strong>as</strong>e e diidrodipicolinato sint<strong>as</strong>e<br />

de bactéri<strong>as</strong> menos sensíveis à inibição<br />

por lisina dentro da batata resultou em<br />

aumentos de 6, 8 e 2 x nos teores de<br />

lisina, treonina e metionina, respectivamente.<br />

O nível de lisina chegou a<br />

15% do aminoácido total, enquanto<br />

n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> não transformad<strong>as</strong> esse<br />

nível foi de 1% (Sévenier et al., 2002).<br />

A soja, embora seja uma d<strong>as</strong> melhores<br />

fontes protéic<strong>as</strong> de origem vegetal,<br />

contém proteín<strong>as</strong> inferiores às<br />

de origem animal, por apresentarem<br />

Lipídios<br />

deficiência em aminoácidos sulfurados.<br />

Portanto, a melhoria do valor nutricional<br />

e d<strong>as</strong> propriedades funcionais<br />

da soja tem sido importante objetivo<br />

da indústria de alimentos. A metionina<br />

é o aminoácido limitante da soja e,<br />

devido à sua hidrofobicidade, sua inserção<br />

resulta na melhoria do valor<br />

nutricional e funcional dessa oleaginosa.<br />

O aumento da hidrofobicidade aumenta<br />

a formação de gel induzido pelo<br />

calor e a capacidade emulsificante da<br />

soja.<br />

O gene que codifica uma proteína<br />

específica da semente, rica em aminoácidos<br />

essenciais e não-alergênica,<br />

AmA1, albumina do amarantos (Amaranthus<br />

hipochondriacus), foi introduzido<br />

na batata, resultando na melhoria<br />

de seu valor nutricional, <strong>com</strong> aumento<br />

do conteúdo total de proteín<strong>as</strong><br />

e, principalmente, de aminoácidos essenciais.<br />

Um aumento de 2,5 a 4 vezes<br />

no teor de lisina, metionina, cisteína e<br />

tirosina foi observado em batat<strong>as</strong> contendo<br />

o gene AmA1 (Chakraborty et<br />

al., 2000). Portanto, a introdução desse<br />

gene possibilita aumento do valor protéico<br />

da batata, <strong>com</strong> perfil de aminoácidos<br />

essenciais semelhante ao padrão<br />

estabelecido pela FAO/OMS, e, ao<br />

contrário do que ocorreu <strong>com</strong> o gene<br />

da c<strong>as</strong>tanha-do-br<strong>as</strong>il, não apresenta<br />

alergenicidade.<br />

As plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> podem<br />

ser uma fonte alternativa viável de<br />

hemoglobina, uma vez que el<strong>as</strong> constituem<br />

uma fonte de biom<strong>as</strong>sa barata,<br />

e <strong>as</strong> produções de cultur<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong><br />

têm sido disponíveis <strong>com</strong>ercialmente<br />

em alguns países. As proteín<strong>as</strong><br />

α e β-globin<strong>as</strong> da hemoglobina humana<br />

foram express<strong>as</strong> em tabaco transgênico<br />

(Nicotiana tabacum var. Xanthi),<br />

transformad<strong>as</strong> usando Agrobacterium<br />

tumefaciens.<br />

Embora o tabaco tenha sido<br />

usado <strong>com</strong>o planta-modelo,<br />

outr<strong>as</strong> espécies podem fornecer<br />

maiores produções<br />

<strong>com</strong> etap<strong>as</strong> de purificação e<br />

esterilização mais simples.<br />

As plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> oferecem<br />

consideráveis vantagens<br />

para produção em larga<br />

escala de hemoglobina<br />

re<strong>com</strong>binante e poderiam<br />

aliviar a dependência de limitados<br />

suprimentos de resíduos<br />

de sangue humano, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o<br />

eliminando a contaminação de origens<br />

bacteriana e animal (Dieryck et al.,<br />

1997).<br />

Plant<strong>as</strong> transgênic<strong>as</strong> podem expressar<br />

vári<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> do leite humano.<br />

Por exemplo, tem sido demonstrado<br />

que o gene que codifica a β-c<strong>as</strong>eína<br />

pode ser introduzido na batata, de<br />

forma que essa proteína possa ser<br />

detectada n<strong>as</strong> folh<strong>as</strong> e nos tubérculos<br />

na proporção de 0,01% d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

solúveis. Da mesma forma, α-lactoalbumina<br />

e lactoferrina podem ser express<strong>as</strong><br />

em tabaco. Ess<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong><br />

poderão, num futuro breve, possibilitar<br />

o uso de plant<strong>as</strong> na produção de<br />

alimentos infantis, <strong>com</strong> os benefícios<br />

dess<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> do leite humano (Dunwell,<br />

1999).<br />

Lipídios<br />

A manipulação do perfil de ácidos<br />

graxos por meio da biotecnologia pode<br />

trazer benefícios nutricionais. O melhoramento<br />

convencional tem produzido<br />

óleos de gir<strong>as</strong>sol e amendoim<br />

ricos em ácido oléico, os quais são<br />

normalmente ricos em ácido linoléico.<br />

Por meio de mutações, em gir<strong>as</strong>sol, o<br />

conteúdo de ácido oléico aumentou<br />

de 29% para 84%. Mutantes da soja<br />

<strong>com</strong> menores teores de ácido palmítico<br />

e maiores teores de ácido esteárico<br />

têm sido obtidos (Liu et al., 2002).<br />

Ess<strong>as</strong> alterações no perfil de ácidos<br />

graxos, aumentando o teor de ácidos<br />

graxos monoinsaturados e reduzindo o<br />

teor de ácido palmítico, têm implicações<br />

na redução do risco de doenç<strong>as</strong><br />

cardiov<strong>as</strong>culares.<br />

Ácidos graxos trans<br />

48 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Os ácidos graxos trans têm sido<br />

<strong>as</strong>sociados a efeitos indesejáveis nos<br />

lipídios sangüíneos, o que tem levado<br />

a indústria a reexaminar o uso de<br />

gordura hidrogenada na produção de<br />

margarin<strong>as</strong> e molhos. Através da biotecnologia,<br />

foi desenvolvida canola <strong>com</strong><br />

elevado teor de ácido esteárico (18:0),<br />

pela supressão da enzima ∆9 dessatur<strong>as</strong>e.<br />

O ácido esteárico, embora seja<br />

saturado, tem menos implicações no<br />

perfil lipídico, uma vez que pode ser<br />

convertido em ácido oléico no organismo.<br />

O óleo requer menor ou nenhuma<br />

hidrogenação e, portanto, não são produzidos<br />

ácidos graxos trans.<br />

Outra forma de evitar a hidrogenação<br />

e a geração de ácidos graxos<br />

trans é aumentando a expressão do<br />

ácido oléico (18:1 n-9) no lugar do<br />

ácido linoléico (18:2 n-6) e α-linolênico<br />

(18:3 n-3), pela supressão da enzima<br />

∆12 dessatur<strong>as</strong>e. O óleo <strong>com</strong> mais<br />

ácido oléico é menos suscetível à oxidação.<br />

Ácido γ-linolênico (GLA)<br />

Os ácidos graxos ∆6-dessaturados<br />

são de grande importância para <strong>as</strong><br />

Arroz Dourado<br />

célul<strong>as</strong> animais, por desempenharem<br />

papel na manutenção da estrutura e<br />

função da membrana, na regulação da<br />

síntese e transporte de colesterol e na<br />

prevenção da perda de água pela pele<br />

e <strong>com</strong>o precursores de eicosanóides,<br />

incluindo prostaglandin<strong>as</strong> e leucotrienos.<br />

Em animais, esses ácidos graxos<br />

são sintetizados a partir do ácido graxo<br />

essencial linoléico (C18:2 ∆9,12), sendo<br />

a primeira etapa a dessaturação<br />

para ácido γ-linolênico (GLA; C18:3<br />

∆6,9,12), catalisada pela ∆6-dessatur<strong>as</strong>e.<br />

A atividade reduzida dessa enzima<br />

pode ser observada no envelhecimento,<br />

estresse, diabetes, eczema e<br />

em algum<strong>as</strong> doenç<strong>as</strong> infeccios<strong>as</strong>, ou<br />

no catabolismo aumentado do GLA<br />

pela oxidação ou aumento da divisão<br />

celular (<strong>com</strong>o exemplo, no câncer ou<br />

inflamação). Óleos contendo GLA são<br />

amplamente usados <strong>com</strong>o suplementos<br />

e têm sido relatados <strong>com</strong>o de uso<br />

farmacêutico. No reino vegetal, o GLA<br />

não é <strong>com</strong>umente produzido, entretanto,<br />

<strong>com</strong> o uso da biotecnologia, o<br />

DNA que expressa a enzima ∆6-dessatur<strong>as</strong>e<br />

foi introduzido no tabaco a partir<br />

de Borago officinalis L., cuj<strong>as</strong> sementes<br />

contêm cerca de 20% a 25% de<br />

GLA. Com isso, outr<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

maior produtividade podem se tornar<br />

fontes e GLA (Sayanova et al., 1997).<br />

Zinco<br />

As principais fontes de zinco em<br />

populações pobres, que têm acesso<br />

limitado a alimentos de origem animal,<br />

são cereais, tubérculos e leguminos<strong>as</strong>,<br />

os quais têm baixa quantidade ou biodisponibilidade<br />

de zinco. O principal<br />

fator que reduz a biodisponibilidade de<br />

zinco em cereais e leguminos<strong>as</strong> é o<br />

ácido fítico (Ruel e Bouis, 1998).<br />

As estratégi<strong>as</strong> do melhoramento<br />

de plant<strong>as</strong> para controlar deficiênci<strong>as</strong><br />

de zinco incluem o aumento da concentração<br />

de zinco n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>, redução<br />

da quantidade de ácido fítico e<br />

aumento da concentração de aminoácidos<br />

sulfurados (metionina e cisteína),<br />

os quais aumentam a absorção de zinco<br />

pel<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>.<br />

Ferro<br />

A alta prevalência de anemia ferropriva<br />

nos países em desenvolvimento<br />

tem sido <strong>as</strong>sociada ao consumo de<br />

ferro de baixa biodisponibilidade. O<br />

consumo de alimentos que aumentam<br />

a absorção de ferro não-heme, <strong>com</strong>o<br />

frut<strong>as</strong> e vegetais, é freqüentemente<br />

limitado. Além disso, os grãos e leguminos<strong>as</strong><br />

são ricos em ácido fítico, que<br />

é um potente inibidor da absorção de<br />

ferro (Lucca et al., 2002).<br />

O enriquecimento <strong>com</strong> ferro, através<br />

do melhoramento genético ou da<br />

biotecnologia (biofortificação), tem sido<br />

uma alternativa <strong>com</strong> perspectiv<strong>as</strong> sustentáveis<br />

para alimentos que fazem<br />

parte da dieta básica de populações,<br />

substituindo os suplementos dietéticos<br />

ou a fortificação de alimentos.<br />

Oferece, ainda, a possibilidade de aumentar<br />

a produtividade, que geralmente<br />

é limitada pela deficiência mineral<br />

da planta (Grotz e Guerinot,<br />

2002).<br />

O conteúdo de ferro nos tecidos<br />

da planta pode ser aumentado pela<br />

maior captação de ferro do solo. Na<br />

deficiência de ferro, <strong>as</strong> plant<strong>as</strong> liberam<br />

prótons, os quais reduzem o pH em<br />

torno da raiz, aumentando o teor de<br />

Fe 3+ livre e estabelecendo um gradiente<br />

eletroquímico que direciona o transporte<br />

de ferro para dentro da raiz.<br />

Além disso, na deficiência de ferro, a<br />

enzima Fe 3+ quelato redut<strong>as</strong>e, que reduz<br />

o Fe 3+ para a forma Fe 2+ mais<br />

solúvel, é induzida e, finalmente, o<br />

Fe 2+ é captado por transportadores.<br />

Essa redução do Fe 3+ é uma etapalimite<br />

para a maioria d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>. Gene<br />

que induz a superexpressão da redut<strong>as</strong>e-oxid<strong>as</strong>e<br />

2 férrica (FRO2) de levedura<br />

tem sido expressa em tabaco, aumentando<br />

a atividade da Fe 3+ quelato<br />

redut<strong>as</strong>e (Grotz e Guerinot, 2002).<br />

Proteín<strong>as</strong> transportador<strong>as</strong> de ferro,<br />

<strong>com</strong>o a Nramp (natural resistance<strong>as</strong>sociated<br />

macrophage protein) e IRT1<br />

(iron regulated transporter 1), podem<br />

ser superexpress<strong>as</strong>, aumentando a<br />

concentração de ferro n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>.<br />

Cultur<strong>as</strong> de milho, trigo e arroz usam da<br />

quelação <strong>com</strong> <strong>com</strong>postos de baixo<br />

peso molecular <strong>com</strong>o estratégia para<br />

obter ferro do solo. Esses <strong>com</strong>postos<br />

da família dos fitossideróforos são liberados<br />

no solo, onde se ligam ao Fe 3+ ,<br />

transportando-o para a planta. A superexpressão<br />

do gene NAAT (nicotinamide<br />

aminotransfer<strong>as</strong>e) leva ao au-<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 49


mento de fitossideróforos, que por sua<br />

vez eleva o conteúdo de ferro ness<strong>as</strong><br />

plant<strong>as</strong>.<br />

Para aumentar o conteúdo mineral<br />

em algum tecido específico d<strong>as</strong><br />

plant<strong>as</strong> através da manipulação transgênica,<br />

é necessário não somente aumentar<br />

a absorção do mineral pela raiz,<br />

m<strong>as</strong> também conduzi-lo aos diversos<br />

órgãos da planta (Grusak, 2002).<br />

Com o objetivo de elevar o teor<br />

de ferro do arroz branco ou polido, foi<br />

realizada a inserção de genes que expressam<br />

três proteín<strong>as</strong> no endosperma<br />

central: fitoferrina de Ph<strong>as</strong>eolus,<br />

proteína semelhante à metalotioneína,<br />

rica em cisteína endógena, e uma fit<strong>as</strong>e<br />

de Aspergillus fumigatus termorresistente.<br />

A proteína semelhante à metalotioneína,<br />

rica em cisteína, superexpressa<br />

em arroz aumentou o conteúdo<br />

de resíduos de cisteína sete vezes e o<br />

nível de fit<strong>as</strong>e 130 vezes. Isso possibilita<br />

uma atividade da fit<strong>as</strong>e suficiente<br />

para degradar o ácido fítico <strong>com</strong>pletamente.<br />

Entretanto, a proteína fit<strong>as</strong>e do<br />

fungo perde sua atividade após a cocção<br />

do arroz. A expressão de fitoferrina<br />

pode dobrar o conteúdo de ferro do<br />

endosperma do arroz, variando de 1,15<br />

a 2,21 mg/100 g, em <strong>com</strong>paração <strong>com</strong><br />

arroz-controle, que apresenta de 1,0 a<br />

1,1 mg/100 g.<br />

Os peptídios ricos em cisteína<br />

melhoram a absorção de ferro no intestino,<br />

pois são considerados os principais<br />

contribuidores na absorção de ferro.<br />

Outra opção para aumentar o conteúdo<br />

de ferro em plant<strong>as</strong> é a introdução<br />

de ácido <strong>as</strong>córbico, hemoglobina e<br />

peptídeos contendo cisteína no tecido<br />

vegetal (Zimmermann e Hurrel, 2002).<br />

O consumo extra de ferro no arroz<br />

transgênico parece ser de significância<br />

nutricional, considerando-se um consumo<br />

diário de 300 g de arroz por um<br />

adulto, o que representaria elevar de<br />

3mg para 6 mg de ferro provenientes<br />

do arroz, o equivalente a 20% d<strong>as</strong><br />

re<strong>com</strong>endações diári<strong>as</strong> de ferro.<br />

Beta caroteno e vitamina A<br />

A deficiência de vitamina A é<br />

problema de saúde pública em mais<br />

de 70 países. Duzentos e cinqüenta<br />

milhões de crianç<strong>as</strong> são deficientes de<br />

vitamina A, e a cada ano três milhões<br />

de crianç<strong>as</strong> desenvolvem xeroftalmia<br />

(FAO/WHO, 1998).<br />

A vitamina A é requerida para<br />

visão, crescimento, reprodução, proliferação<br />

e diferenciação celular e integridade<br />

do sistema imune. É fornecida<br />

na dieta <strong>com</strong>o retinol pré-formado,<br />

principalmente <strong>com</strong>o éster de retinol,<br />

pelos alimentos de origem animal e<br />

pelos carotenóides, pró-vitamina A,<br />

presentes em alimentos de origem<br />

vegetal.<br />

O consumo de micronutrientes<br />

deve ser suficiente para prevenir deficiênci<strong>as</strong><br />

e manter boa saúde. Em condições<br />

normais, uma dieta bem balanceada<br />

fornece quantidades suficientes<br />

de todos os nutrientes para o funcionamento<br />

adequado do organismo. Em<br />

condições fisiológic<strong>as</strong> específic<strong>as</strong>, o<br />

consumo de nutrientes por meio de<br />

alimentos naturais pode, entretanto,<br />

ser inadequado. Em tais c<strong>as</strong>os, suplementos<br />

ou produtos fortificados podem<br />

prevenir a inadequação. A aplicação<br />

da biotecnologia em alimentos<br />

para aumentar o teor de β-caroteno<br />

(biofortificação) tem sido considerada<br />

uma opção atrativa (Winter e Rodrigues,<br />

1997).<br />

Em mandioca, o conteúdo de b-<br />

caroteno atinge mais de 20 mg/kg em<br />

algum<strong>as</strong> variedades. A intensidade da<br />

cor da raiz está altamente correlacionada<br />

<strong>com</strong> a concentração de caroteno, a<br />

qual parece ser determinada por dois<br />

genes, um que controla o transporte<br />

de intermediários para a raiz e outro<br />

responsável pelo processo de estocagem.<br />

O cultivar de tomate Caro-Red<br />

possui 10 vezes mais caroteno que<br />

cultivares normais, entretanto ele teve<br />

problem<strong>as</strong> de aceitação devido a cor<br />

menos vermelha (Graham et al., 1999).<br />

Nos países tropicais, o arroz é<br />

beneficiado para remover a camada de<br />

aleuroma rica em óleo, para reduzir a<br />

rancificação durante a estocagem. Na<br />

porção restante, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o no farelo,<br />

50 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


a provitamina A é deficiente (Zimmermann<br />

e Hurrel, 2002). A engenharia<br />

genética foi usada para produzir grãos<br />

de arroz ricos em β-caroteno. O endosperma<br />

de arroz imaturo pode sintetizar<br />

o <strong>com</strong>posto intermediário geranilgeranil<br />

difosfato, uma molécula isoprenóide<br />

de 20 carbonos. A condensação de<br />

du<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> de geranilgeranil difosfato<br />

produz o fitoeno, uma molécula<br />

<strong>com</strong> 40 carbonos. O fitoeno é o primeiro<br />

carotenóide precursor na via biossintética<br />

para a produção de β-caroteno,<br />

pela expressão da enzima fitoeno<br />

sint<strong>as</strong>e. Entretanto, alterando o precursor<br />

geranilgeranil difosfato para a produção<br />

de β-caroteno, pode reduzir os<br />

níveis de outros <strong>com</strong>postos.<br />

A síntese de β-caroteno a partir do<br />

fitoeno requer <strong>com</strong>plementação <strong>com</strong><br />

três enzim<strong>as</strong>: a dessatur<strong>as</strong>e fitoeno, a<br />

dessatur<strong>as</strong>e β-caroteno e a licopeno β-<br />

cicl<strong>as</strong>e (Zimmermann e Hurrel, 2002).<br />

O fitoeno é precursor do licopeno, o<br />

qual é convertido a caroteno (Dunwell,<br />

1999).<br />

A introdução simultânea desses<br />

genes foi um dos maiores avanços<br />

tecnológicos, e 1,6 a 2 µg de β-caroteno/g<br />

de arroz fresco foram expressos<br />

(Zimmermann e Hurrel, 2002). O Goden<br />

rice, o arroz-dourado e geneticamente<br />

modificado para expressar alto<br />

conteúdo de carotenóide, tem recebido<br />

atenção da mídia pelo seu potencial<br />

em suprir provitamina A para milhões<br />

de indivíduos. Foi desenvolvido em<br />

1990 por pesquisadores alemães e<br />

suíços, <strong>com</strong> financiamento da Fundação<br />

Rockefeller, e tende a ser cruzado<br />

<strong>com</strong> variedades locais de arroz. Três<br />

genes tirados do narciso-silvestre e da<br />

bactéria Erwinia sp foram introduzidos<br />

no arroz para produzir um grão amarelo,<br />

<strong>com</strong> altos níveis de β-caroteno, que<br />

é convertido em vitamina A no organismo.<br />

Esforços iniciais <strong>com</strong> o Golden<br />

rice têm-se concentrado na Índia, m<strong>as</strong><br />

esta tecnologia deverá se estender a<br />

outros países da Ásia, África e América<br />

do Sul.<br />

O arroz <strong>com</strong> vitamina A produzido<br />

geneticamente tem sido indicado<br />

<strong>com</strong>o importante alternativa no <strong>com</strong>bate<br />

à cegueira. Mais de dois milhões<br />

de crianç<strong>as</strong> estão sob o risco de cegueira<br />

devido à deficiência de vitamina A.<br />

Trata-se, portanto, de um esforço para<br />

melhorar a saúde de milhões de pesso<strong>as</strong>,<br />

a maioria na Ásia, visto que é difícil<br />

obter uma grande abrangência aos malnutridos<br />

do mundo inteiro <strong>com</strong> o uso<br />

de pílul<strong>as</strong>.<br />

Projeto similar ao Golden rice está<br />

sendo realizado para introduzir a enzima<br />

fitoene sint<strong>as</strong>e na canola (Br<strong>as</strong>sica<br />

napus). A concentração de caroteno<br />

obtida foi de 1.000 a 1.500 µg/g de<br />

semente. Essa tecnologia foi também<br />

transferida para a mostarda (Br<strong>as</strong>sica<br />

juncea), cultivada em muit<strong>as</strong> partes do<br />

mundo, incluindo Índia, Nepal e Bangladesh,<br />

sendo o segundo maior óleo<br />

consumido na Índia. O óleo de mostarda<br />

deverá conter β-caroteno suficiente<br />

para reduzir a deficiência de vitamina<br />

A na população indiana e, visto tratarse<br />

de óleo, é esperado que tenha alta<br />

biodisponibilidade (Mackey, 2002).<br />

Vitamina C<br />

Vitamina C, cujos nomes químicos<br />

são ácido <strong>as</strong>córbico ou <strong>as</strong>corbato, é um<br />

doador de elétrons, antioxidante ou<br />

agente redutor. A vitamina C promove<br />

a absorção de ferro não-heme, reduzindo,<br />

<strong>as</strong>sim, a anemia.<br />

As pesso<strong>as</strong> que possuem estoques<br />

máximos (20 mg/kg) de vitamina<br />

C podem viver durante dois meses,<br />

sem o consumo de vitamina C, sem<br />

que os sinais clínicos de deficiência<br />

apareçam. Com um consumo abaixo<br />

de 30 mg/dia, <strong>as</strong> concentrações pl<strong>as</strong>mátic<strong>as</strong><br />

ficam em 11 µmol/L. Acima<br />

desse consumo, <strong>as</strong> concentrações aumentam<br />

rapidamente para 60 µmol/L<br />

(FAO/WHO, 1998).<br />

Uma justificativa para o aumento<br />

do teor de vitamina C em alimentos é<br />

o fato de esta conferir proteção contra<br />

catarat<strong>as</strong>, câncer e lesões oxidativ<strong>as</strong> no<br />

DNA do esperma. Segundo Ames<br />

(2001), os fumantes deveriam ingerir<br />

muito mais vitamina C que os nãofumantes<br />

para alcançar o mesmo nível<br />

de vitamina C no pl<strong>as</strong>ma. O risco de<br />

câncer para descendentes de pais fumantes<br />

é maior quando o consumo de<br />

antioxidante da dieta é baixo.<br />

O nível de vitamina C pode ser<br />

aumentado, expressando-se o gene<br />

que codifica a enzima L-galactona-αlactona<br />

desidrogen<strong>as</strong>e (Dunwell,<br />

1999). Em plant<strong>as</strong> e alguns animais,<br />

m<strong>as</strong> não no homem, o ácido <strong>as</strong>córbico<br />

é sintetizado a partir da glicose.<br />

Genes codificando sorbose desidrogen<strong>as</strong>e<br />

e sorbosone desidrogen<strong>as</strong>e<br />

de Gluconobacter oxydans inserid<strong>as</strong><br />

no mesmo organismo possibilitam a<br />

conversão de sorbitol a 2-ceto-L-gulonato.<br />

Erwinia herbicola contendo o<br />

gene de Corynebacterium sp. converte<br />

glicose em ácido 2-cetogulônico, o<br />

qual pode ser facilmente convertido<br />

em ácido <strong>as</strong>córbico (Demain, 2000).<br />

Fitato<br />

O fitato, uma molécula de açúcar/<br />

álcool ligado a seis grupos fosfato, é<br />

uma fonte de fósforo para a semente,<br />

necessária para a germinação (Raboy,<br />

2001). Uma redução no teor de fitato<br />

pode ser inaceitável, já que reduziria o<br />

teor de fósforo total. Além disso, altos<br />

conteúdos de fitato estão <strong>as</strong>sociados<br />

<strong>com</strong> altos conteúdos de ferro e zinco<br />

(Grahan et al., 1999). Entretanto, na<br />

alimentação, o fitato é um fator antinutricional<br />

porque quela ferro, cálcio,<br />

zinco e outros íons divalentes, tornando-os<br />

indisponíveis para absorção. Tal<br />

efeito negativo do ácido fítico tem<br />

maior impacto em países em desenvolvimento,<br />

onde grande parte da<br />

população tem <strong>com</strong>o principais fontes<br />

de zinco os cereais, tubérculos e <strong>as</strong><br />

leguminos<strong>as</strong> e acesso limitado a alimentos<br />

de origem animal. Os efeitos<br />

benéficos do mioinositol na saúde,<br />

<strong>com</strong>o agente anticancerígeno e antioxidante,<br />

têm maior impacto nos países<br />

desenvolvidos, onde a maior preocupação<br />

é <strong>com</strong> patologi<strong>as</strong> <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> ao<br />

envelhecimento, <strong>com</strong>o dano oxidativo<br />

e câncer (Brinch-Pedersen et al.,<br />

2002).<br />

A adição de fit<strong>as</strong>e de Aspergillus<br />

ninger em soja e canola, via transgênese,<br />

levou a uma menor excreção de<br />

fósforo n<strong>as</strong> fezes de frangos e de<br />

suínos, indicando maior biodisponibilidade<br />

de fósforo e de outros minerais<br />

normalmente quelados ao fitato, <strong>com</strong>o<br />

ferro e zinco. Além disso, a menor<br />

liberação de fósforo no ambiente reduz<br />

seu arr<strong>as</strong>te pela água, reduzindo o<br />

impacto ambiental. O uso de fit<strong>as</strong>e em<br />

vez da remoção do fitato do alimento<br />

tem a vantagem de não reduzir o teor<br />

de fósforo do alimento, além de aumentar<br />

a sua biodisponibilidade (Brinch-Pederson<br />

et al., 2002).<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 51


Para melhorar o valor nutritivo<br />

mineral, a biotecnologia (biofortificação)<br />

pode ser aplicada de três form<strong>as</strong>:<br />

para elevar a concentração de minerais<br />

em tecidos apropriados, <strong>com</strong>o endosperma<br />

de cereais; para elevar os<br />

níveis de <strong>com</strong>postos que aumentam o<br />

uso do mineral e reduzir os fatores<br />

antinutricionais, <strong>com</strong>o mioinositol. Em<br />

humanos, milho <strong>com</strong> baixo teor de<br />

fitato, contendo 73% do fosfato disponível,<br />

teve a absorção de zinco aumentada<br />

em 76% (Raboy, 2001).<br />

Produtos de origem animal<br />

O melhoramento genético, <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />

de reprodução e a manipulação<br />

da alimentação animal têm levado a<br />

melhori<strong>as</strong> na produção e valor nutritivo<br />

da carne de suínos, aves, peixes e<br />

ruminantes em geral.<br />

A manipulação da <strong>com</strong>posição da<br />

carne de suínos tem possibilitado alterações.<br />

Por exemplo, o aumento do<br />

teor de ácidos graxos monoinsaturados,<br />

a redução da relação de ácidos<br />

graxos ω-6/ω-3 de 7 a 10 para 4 a 5 e<br />

o aumento do conteúdo de ácidos<br />

graxos polinsaturados de cadeia longa<br />

(EPA e DHA), elevando, <strong>as</strong>sim, a sua<br />

qualidade nutricional e propiciando<br />

maiores benefícios à saúde.<br />

A qualidade da carcaça e a homogeneidade<br />

dos animais quando abatidos<br />

poderiam ser melhorad<strong>as</strong> <strong>com</strong> o<br />

uso da clonagem ou da produção in<br />

vitro de embriões em larga escala. Em<br />

médio prazo, é possível a integração<br />

da biotecnologia da reprodução <strong>com</strong> a<br />

genética quantitativa e molecular. No<br />

longo prazo, a <strong>com</strong>petitividade d<strong>as</strong><br />

carnes de ovelha e cabrito poderia ser<br />

amplamente aumentada pel<strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />

técnic<strong>as</strong> reprodutiv<strong>as</strong> e genétic<strong>as</strong>. Entretanto,<br />

ainda não está claro se esses<br />

avanços serão bem aceitos pelos consumidores<br />

nos países desenvolvidos.<br />

Pesquisa no Reino Unido apontou os<br />

organismos geneticamente modificados<br />

(OGM) <strong>com</strong>o a principal preocupação<br />

do consumidor, entretanto técnic<strong>as</strong><br />

de manipulação na criação de<br />

peixes, <strong>com</strong>o a ginogênese, a androgênese<br />

e a transgênese, têm sido usad<strong>as</strong><br />

rotineiramente. Existem previsões<br />

de uso de carnes <strong>com</strong> baixos teores de<br />

gordura e de colesterol obtid<strong>as</strong> de<br />

animais transgênicos. Questiona-se,<br />

entretanto, se a obtenção dess<strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />

desejáveis só será possível<br />

por meio da modificação genética,<br />

utilizando-se transgênicos.<br />

O papel da biotecnologia será,<br />

num primeiro momento, limitada à<br />

preservação da biodiversidade e à autenticidade<br />

do produto, m<strong>as</strong> desempenhará<br />

um papel importante em termos<br />

de desenvolvimento sustentável<br />

da produção animal extensiva.<br />

O número e <strong>as</strong> condições d<strong>as</strong><br />

fibr<strong>as</strong> musculares são parâmetros fisiológicos<br />

importantes no animal vivo e<br />

determinantes-chave da qualidade e<br />

quantidade da carne. A interação entre<br />

genes e fisiologia pode determinar a<br />

qualidade e quantidade da carne. Isso<br />

pode beneficiar a indústria da carne<br />

pelo aumento da quantidade de tecido<br />

magro da matéria-prima, <strong>com</strong> ótim<strong>as</strong><br />

característic<strong>as</strong> de qualidade e menor<br />

variabilidade do produto final (Garnier<br />

et al., 2002).<br />

A aceitação da biotecnologia animal<br />

encontra-se nos di<strong>as</strong> de hoje apoiada<br />

em preocupações de ordem ética,<br />

segurança alimentar e ambiental, bemestar<br />

dos animais, benefícios para os<br />

consumidores, produtores e agroindústria<br />

e impacto socioeconômico. A<br />

biotecnologia pode ser aplicada para<br />

melhorar a performance dos animais<br />

<strong>com</strong> uma melhor nutrição, aumento do<br />

potencial de produção, melhoria do<br />

estado de saúde e redução dos resíduos<br />

pela melhor utilização dos recursos<br />

(Bonneau e Laarveld, 1999).<br />

A adição de enzim<strong>as</strong> pode melhorar<br />

a disponibilidade de nutrientes de<br />

alimentos, diminuir custos de alimentação<br />

e reduzir os dejetos de produção<br />

no ambiente. Pré e probióticos ou<br />

suplementos imunes podem inibir<br />

microrganismos intestinais patogênicos<br />

ou tornar o animal mais resistente<br />

a eles. A biotecnologia pode melhorar<br />

o valor nutricional d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>, ou incorporar<br />

vacin<strong>as</strong> ou anticorpos na alimentação,<br />

o que protegerá o animal<br />

mais eficientemente contra doenç<strong>as</strong>.<br />

A administração de somatotropina<br />

re<strong>com</strong>binante acelera o crescimento<br />

e proporciona carcaça mais magra e<br />

aumenta a produção de leite. Entretanto,<br />

quando administrada em longo prazo,<br />

aumenta a incidência de osteocondrose,<br />

cartilagem macia, úlcera estomacal,<br />

resistência à insulina e estresse.<br />

Pode também reduzir a capacidade de<br />

detoxicação do fígado, reduzindo a<br />

eliminação de xenobióticos pelos animais<br />

(Bonneau e Laarveld, 1999).<br />

A expressão do gene somatotropina<br />

em peixes e porcos proporciona<br />

crescimento mais rápido, melhor eficiência<br />

alimentar e carcaça mais magra.<br />

A expressão do hormônio IGF-1 (fator<br />

de crescimento semelhante à insulina)<br />

no músculo aumenta o crescimento<br />

muscular em porcos. O gene c-ski em<br />

porcos e gado resulta em hipertrofia<br />

muscular (Bonneau e Laarveld, 1999).<br />

Os avanços da engenharia genética<br />

podem ser aplicados para melhorar<br />

a produção e sua eficiência, alterar a<br />

<strong>com</strong>posição do leite e auxiliar na prevenção,<br />

diagnóstico e tratamento de<br />

doenç<strong>as</strong>. Algum progresso já foi alcançado,<br />

<strong>com</strong>o o desenvolvimento de<br />

bactéri<strong>as</strong> que produzem grandes quantidades<br />

de proteína e são importantes<br />

regulador<strong>as</strong> do metabolismo; seleção<br />

mais rápida e melhoria no cruzamento<br />

de animais e plant<strong>as</strong> pela transferência<br />

de genes; desenvolvimento de testes<br />

de DNA no diagnóstico de doenç<strong>as</strong><br />

infeccios<strong>as</strong>; e produção de anticorpos<br />

monoclonais para o tratamento de<br />

doenç<strong>as</strong>, dentre outr<strong>as</strong>. A biologia<br />

molecular tem ainda o potencial de<br />

produzir animais transgênicos capazes<br />

de produzir leite <strong>com</strong> diferente <strong>com</strong>posição;<br />

a concentração de c<strong>as</strong>eína<br />

poderá ser aumentada ou modificada,<br />

visando à produção de queijo; a proteína<br />

β-lactoglobulina, que causa problem<strong>as</strong><br />

na manufatura do leite, poderia<br />

ser suprimida; a concentração de gordura<br />

no leite poderia ser reduzida pela<br />

supressão da enzima CoA carboxil<strong>as</strong>e,<br />

<strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o a concentração de lactose<br />

poderia ser reduzida pela remoção da<br />

α-lactoalbumina ou pela introdução de<br />

uma enzima capaz de quebrar a lactose<br />

em glicose e galactose; e outr<strong>as</strong><br />

modificações de interesse da indústria<br />

e do consumidor (Chalupa et al., 1996).<br />

Embora sejam muit<strong>as</strong> <strong>as</strong> aplicações<br />

da biotecnologia para a produção<br />

animal, sua aceitação é pequena. Os<br />

benefícios podem ser grandes para a<br />

indústria de alimentos, <strong>com</strong>o a melhoria<br />

na carcaça dos animais. Também<br />

pode beneficiar tanto a indústria <strong>com</strong>o<br />

a população, pela redução dos custos<br />

de tratamentos medicamentosos dos<br />

animais, menor produção de resíduos,<br />

52 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


menor resistência a antibióticos, menor<br />

impacto ambiental e melhor saúde<br />

animal (Bonneau e Laarveld, 1999).<br />

Considerações finais<br />

Diversos <strong>com</strong>postos, <strong>com</strong>o vitamin<strong>as</strong><br />

e minerais, antioxidantes, ácidos<br />

graxos insaturados, fibr<strong>as</strong> alimentares,<br />

flavonóides, prebióticos e probióticos,<br />

são reconhecidos por prevenir ou retardar<br />

o aparecimento de doenç<strong>as</strong> <strong>com</strong>o<br />

aterosclerose e câncer, dentre outr<strong>as</strong>, e<br />

podem ter seus teores aumentados<br />

nos alimentos pela biotecnologia.<br />

A biotecnologia apresenta grande<br />

potencial para a produção de alimentos<br />

<strong>com</strong> melhores propriedades nutricionais<br />

e funcionais, entretanto o baixo<br />

acesso à literatura científica atualizada<br />

acerca d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> possíveis aplicações<br />

tem gerado insegurança e resistência<br />

de certos indivíduos na aceitação dos<br />

seus produtos.<br />

Segundo Roberts et al. (2001), o<br />

conhecimento do genoma e <strong>as</strong> possíveis<br />

modificações na <strong>com</strong>posição nutricional<br />

e funcional dos alimentos podem<br />

ser uma perspectiva futura para a<br />

manipulação de doenç<strong>as</strong> <strong>com</strong>o fenilcetonúria,<br />

enteropati<strong>as</strong> induzid<strong>as</strong> pelo<br />

glúten e intolerância à lactose. Ainda<br />

doenç<strong>as</strong> crônico-degenerativ<strong>as</strong> nãotransmissíveis,<br />

<strong>com</strong>o doenç<strong>as</strong> cardiov<strong>as</strong>culares,<br />

câncer, obesidade, diabetes<br />

mellitus, doença de Parkinson e de<br />

Alzheimer poderão ser melhores conhecid<strong>as</strong>,<br />

diagnosticad<strong>as</strong>, prevenid<strong>as</strong> e<br />

tratad<strong>as</strong>.<br />

O uso do genoma na prevenção<br />

dietética de doenç<strong>as</strong> está por ser estabelecido,<br />

e o campo da nutrição tem<br />

que se tornar mais ativo na demonstração<br />

de mecanismos que direcionem a<br />

conexão entre dieta e fenótipo de<br />

acordo <strong>com</strong> variações genétic<strong>as</strong> específic<strong>as</strong>.<br />

Referênci<strong>as</strong> Bibliográfic<strong>as</strong><br />

Ames, B.N. 2001. DNA damage from<br />

micronutrient deficiencies is likely<br />

to be a major cause of cancer.<br />

Mutation Research. Fundamental<br />

and Molecular Mechanisms of<br />

Mutagenesis, 475: 7-20.<br />

Barbosa, M.C.A. 1997. Determinação<br />

de inibidores de prote<strong>as</strong>es em soja<br />

e em seus derivados protéicos.<br />

Viçosa, MG: UFV, Impr. Univ. 61 p.<br />

Dissertação (Mestrado em Ciência<br />

e Tecnologia de Alimentos) – Universidade<br />

Federal de Viçosa.<br />

Barkovich, R.; Liao, J.C. 2001. Metabolic<br />

engineering of isoprenoids.<br />

Metabolic Engineering, 3: 27-39.<br />

Berg, R.D. 1998. Probiotics, prebiotics<br />

or conbiotics? Trends in<br />

Microbiology, 6: 89-92.<br />

Bonneau, M.; Laarveld, B. 1999.<br />

Biotechnology in animal nutrition,<br />

physiology and health. Livestock<br />

Production Science, 59: 223–241.<br />

Bostid, F.R.R. 1988. Quality-protein<br />

maize. W<strong>as</strong>hington: National<br />

Academic Press. 100 p.<br />

Bouis, H.E. 1999. Economics of<br />

enhanced micronutrient density in<br />

food staples. Field Crops Research,<br />

60: 65-173.<br />

Brinch-Pedersen, H.; Sørensen, L.D.;<br />

Holm, P.B. 2002. Engineering crop<br />

plants: getting a handle on<br />

phosphate. Trends in Plant Science,<br />

7: 118-125.<br />

Chakraborty, S.; Chakraborty, N.; Datta,<br />

A. 2000. Incre<strong>as</strong>ed nutritive<br />

value of transgenic potato by expressing<br />

a nonallergenic seed albumin<br />

gene from Amaranthus<br />

hypochondriacus. PNAS, 97: 3724-<br />

3729.<br />

Chaleff, R.S. 1984. Applications of plant<br />

cell culture to crop improvement,<br />

177-192. In: Puett, D. Human<br />

fertility, health and food. Impact of<br />

molecular biology and<br />

biotechnology. New York: United<br />

Nations Fund for Population<br />

Activities. 254 p.<br />

Chalupa, W.; Galligan, D.T.; Ferguson,<br />

J.D. 1996. Animal nutrition and<br />

management in the 21 st century:<br />

dairy cattle. Animal Feed Science<br />

Technology, 58: 1-18.<br />

Ch<strong>as</strong>sy, B.M. 2002. Food safety<br />

evaluation of crops produced<br />

through biotechnology. Journal of<br />

the American College of Nutrition,<br />

21:166S-173S.<br />

Demain, A.L. 2000. Small bugs, big<br />

business: the economic power of<br />

the microbe. Biotechnology<br />

Advances, 18: 499-514.<br />

Dieryck, W.; Paginier, J.; Poyart, C.;<br />

Marden, M.C. 1997. Human<br />

haemoglobin from transgenic<br />

tobacco. Nature, 386: 29-30.<br />

Dunwell, J.M. 1999. Transgenic crops:<br />

the next generation, or an example<br />

of 2020 vision. Annals of Botany,<br />

84: 269-277.<br />

FAO/WHO. 1998. Human vitamin and<br />

mineral requirements. Report of a<br />

joint FAO/WHO expert<br />

consultation. Food and Agriculture<br />

Organization of the United Nations,<br />

Rome, Italy. 286 p. www.fao.org/<br />

HumanVitaminandMineralRequirements.htm<br />

Forkmann, G.; Martens, S. 2001.<br />

Metabolic engineering and<br />

applications of flavonoids. Current<br />

Opinion in Biotechnology, 12: 155–<br />

160.<br />

Friedrich, M. J. 1999. Genetically<br />

enhanced rice to help fight<br />

malnutrition. JAMA, 282: 1508-<br />

1509.<br />

Garnier, J.P.; Klont, R.; Pl<strong>as</strong>tow, G.<br />

2002. The potential impact of<br />

current animal research on the meat<br />

industry and consumer attitudes<br />

towards meat. Meat Science. Article<br />

In Press, 9p.<br />

Graham, R.; Senadhira, D.; Beebe, S.;<br />

Iglesi<strong>as</strong>, C.; Mon<strong>as</strong>terio, I. 1999.<br />

Breeding for micronutrient density<br />

in edible portions of staple food<br />

crops: conventional approaches.<br />

Field Crops Research, 60: 57-80.<br />

Grotz, N.; Guerinot, M.L. 2002. Limiting<br />

nutrients: an old problem with new<br />

solutions? Current Opinion in Plant<br />

Biology, 5: 158–163.<br />

Grusak, M.A. 2002 Enhancing mineral<br />

content in plant food products.<br />

Journal of the American College of<br />

Nutrition, 21: 178S–183S.<br />

Heyer, A.G.; Lloyd, J.; Kossmann, J.<br />

1999. Production of modified<br />

polymeric carbohydrates. Current<br />

Opinion in Biotechnology, 10: 169–<br />

174.<br />

Hirschberg, J. 1999. Production of highvalue<br />

<strong>com</strong>pounds: carotenoids and<br />

vitamin E. Current Opinion in<br />

Biotechnology, 10: 186–191.<br />

Jensen, L.G.; Olsen, O.; Kops, O.; Wolf,<br />

N.; Thomsen, K.K.; Wettstein, D.<br />

1996. Transgenic barley expressing<br />

a protein-engineered, thermostable<br />

(1,3-1,4)-b-glucan<strong>as</strong>e during<br />

germination. Proc. Natl. Acad. Sci.<br />

USA, 93: 3487-3491.<br />

Kemper, E.L. 1999. Estudo da Modulação<br />

e do Papel Funcional da Enzima<br />

Lisina-Cetoglutarato redut<strong>as</strong>e em<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 53


milho. Joinville, – SC: UNICAMP.<br />

142 p. Tese (Doutorado)-Universidade<br />

Estadual de Campin<strong>as</strong><br />

Kishore, G.M.; Shewmaker, C. 1999.<br />

Biotechnology: enhancing human<br />

nutrition in developing and developed<br />

worlds. Proc. Natl. Acad. Sci.<br />

USA, 96: 5968–5972.<br />

Kuipers, O.P. 1999. Genomics for food<br />

biotechnology: prospects of the<br />

use of high-throughput technologies<br />

for the improvement of food<br />

microorganisms. Current Opinion<br />

in Biotechnology, 10: 511–516.<br />

Liu, Q.; Singh, S.; Green, A. 2002. Higholeic<br />

and high-stearic cottonseed<br />

oils: Nutritionally improved cooking<br />

oils developed using gene silencing.<br />

Journal of the American College<br />

of Nutrition, 21: 205S–211S.<br />

Lönnerdal, B. 2002. Expression of human<br />

milk proteins in plants. Journal<br />

of the American College of<br />

Nutrition, 21: 218S–221S.<br />

Lucca, P.; Hurrell, R.; Potrykus, I. 2002.<br />

Fighting iron deficiency anemia<br />

with iron-rich rice. Journal of the<br />

American College of Nutrition, 21:<br />

184S–190S.<br />

Mackey, M. 2002. The application of<br />

biotechnology to nutrition: An overview.<br />

Journal of the American College<br />

of Nutrition, 21: 157S–160S.<br />

Marzzoco, A; Torres, B.B. 1999. Bioquímica<br />

básica. 2. ed. São Paulo: Guanabara.<br />

360 p.<br />

M<strong>as</strong>on, H.S.; Haq, T.A.; Clements, J.D.;<br />

Arntzen, C.J. 1998. Edible vaccine<br />

protects mice against Escherichia<br />

coli heat-labile enterotoxin (LT):<br />

potatoes expressing a synthetic<br />

LT-B gene. Vaccine, 16: 1336-1346.<br />

Monteiro, M.R.P. 2001. Avaliação da<br />

digestibilidade e da qualidade<br />

protéica de linhagens de soja <strong>com</strong><br />

ausência do inibidor de tripsina<br />

Kunitz e d<strong>as</strong> isoenzim<strong>as</strong><br />

lipoxigen<strong>as</strong>es. Viçosa, MG: UFV,<br />

Impr. Univ. 69 p. Tese (Doutorado<br />

em Ciência e Tecnologia de Alimentos)<br />

– Universidade Federal<br />

de Viçosa.<br />

Murphy, D.J. 1999. Production of novel<br />

oils in plants. Current Opinion<br />

in Biotechnology, 10: 175- 180.<br />

Raboy, V. 2001. Seeds for a better<br />

future: ‘low phytate’ grains help to<br />

over<strong>com</strong>e malnutrition and reduce<br />

pollution. Trends in Plant Science,<br />

6: 458-462.<br />

Reilly, C. 1996. Biotechnology: Science<br />

and the consumer. Trends in<br />

Food Science & Technology, 7:<br />

336-338.<br />

Roberts, M.A.; Mutch, D.M.; German,<br />

J.B., 2001. Genomics: food and<br />

nutrition. Current Opinion in Biotechnology,<br />

12: 516–522.<br />

Rocheford, T.R.; Wong, J.C.; Egesel,<br />

C.O.; Lambert, R.J. 2002. Enhancement<br />

of vitamin E levels in corn.<br />

Journal of the American College of<br />

Nutrition, 21: 191S–198S.<br />

Ruel, M.T.; Bouis, H.E. 1998. Plant<br />

breeding: a long-term strategy for<br />

the control of zinc deficiency in<br />

vulnerable populations. American<br />

Journal of Clinical Nutrition, 68:<br />

488S-494S.<br />

Sayanova, O.; Smith, M.A.; Lapinsk<strong>as</strong>,<br />

P.; Stobart, A.K.; Dobson, G.;<br />

Christie, W.W.; Shewry, P.R.; Napier,<br />

J.A. 1997. Expression of a borage<br />

desatur<strong>as</strong>e cDNA containing an N-<br />

terminal cytochrome b 5<br />

domain<br />

results in the accumulation of high<br />

levels of r 6 -desaturated fatty acids<br />

in transgenic tobacco. Proc. Natl.<br />

Acad. Sci., USA, 94: 4211-4216.<br />

Schiffrin, E.J.; Blum, S. 2001. Food processing:<br />

probiotic microorganisms<br />

for beneficial foods. Current Opinion<br />

in Biotechnology, 12: 499–502.<br />

Sévenier, R.; Meer, I.M.V.D.; Bino, R.;<br />

Koops, A.J. 2002. Incre<strong>as</strong>ed<br />

production of nutriments by<br />

genetically engineered crops.<br />

Journal of the American College of<br />

Nutrition, 21: 199S–204S.<br />

Silva, M.V. 1989. Influência de<br />

lipoxigen<strong>as</strong>es 1 e 3 no sabor de<br />

extratos hidrossolúveis de soja.<br />

Viçosa, MG: UFV, Impr. Univ. 47 p.<br />

Dissertação (Mestrado em Ciência<br />

e Tecnologia de Alimentos) – Universidade<br />

Federal de Viçosa.<br />

Speirs, J.; Lee, E.; Holt, K.; Young-Duk,<br />

K.; Scott, N.S.; Loveys, B.; Schuch,<br />

W. 1998. Genetic manipulation of<br />

alcohol dehydrogen<strong>as</strong>e levels in<br />

ripening tomato fruit affects the<br />

balance of some flavor aldehydes<br />

and alcohols. Plant Physiology, 117:<br />

1047-1058.<br />

Tak<strong>as</strong>e, K.; Hagiwara, K. 1998. Expression<br />

of human alpha-lactalbumin<br />

in transgenic tobacco. Journal of<br />

Biochemistry, Tokyo, 123: 440-<br />

444.<br />

UNICEF. 1996. Nutrition. 18 nations<br />

fortify foods site: www.unicef.org/<br />

pon96/nutortif.htm. consultado em<br />

07/2002.<br />

Utsumi, S.; Katsube, T.; Ishige, T.; Takawa,<br />

F. 1997. Molecular design of<br />

soybean glycinins with enhaced<br />

food qualities and development of<br />

crop producing such glycinins.<br />

Advances in Experimental Medicine<br />

and Biology, 115: 1-15.<br />

Vaughan, E.E.; Mollet, B.; Vos, W.M.<br />

1999. Functionality of probiotics<br />

and intestinal lactobacilli: light in<br />

the intestinal tract tunnel. Current<br />

Opinion in Biotechnology, 10: 505–<br />

510.<br />

Verpoorte, R.; Memelink, J.,2002. Engineering<br />

secondary metabolite<br />

production in plants. Current Opinion<br />

in Biotechnology, 13: 181–<br />

187.<br />

Verrips, C.T.; Warmoeskerken, MMCG;<br />

Post, J.A. 2001. General<br />

introduction to the importance of<br />

genomics in food biotechnology<br />

and nutrition. Current Opinion in<br />

Biotechnology, 12: 483–487.<br />

Willen, M.V. 2001. Advances in<br />

genomics for microbial food<br />

fermentations and safety. Current<br />

Opinion in Biotechnology, 12: 493-<br />

498.<br />

Winter, K.; Rodriguez, G. 1997.<br />

Consumers’ views on nutrition and<br />

public health. Proceedings of the<br />

Nutrition Society, 56: 879-888.<br />

Wiseman, A.; Woods, L.; Ridgeway, T.<br />

2001. Bioprocessing to generate<br />

‘multifunctional’ foods? Trends in<br />

Biotechnology, 19, 89-90.<br />

Worrall, D.; Eli<strong>as</strong>, L.; Ashford, D.;<br />

Smallwood, M.; Sidebottom, C.; Lillford,<br />

P.; Telford, J.; Holt, C.; Bowles,<br />

D. 1998. A carrot leucine-richrepeat<br />

protein that inhibits ice recrystallization.<br />

Science: 282: 115-<br />

117.<br />

Zhao, F.J.; Hawkesford, M.J.; McGrath,<br />

S.P. 1999. Sulphur <strong>as</strong>similation and<br />

effects on yield and quality of<br />

wheat. Journal of Cereal Science,<br />

30: 1-17.<br />

Zimmermann, M.B.; Hurrell, R.F. 2002.<br />

Improving iron, zinc and vitamin A<br />

nutrition through plant biotechnology.<br />

Current Opinion in Biotechnology,<br />

13: 142–145.<br />

54 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Pesquisa<br />

Criptosporidiose<br />

em camundongos imunodeficientes<br />

Dinâmica da eliminação de oocistos de Cryptosporidium sp em linhagens de camundongos imunodeficientes<br />

Delma Pegolo Alves<br />

Doutoranda do Depto de Par<strong>as</strong>itologia<br />

IB - Unicamp<br />

Diretora Associada do CEMIB<br />

Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica<br />

delma@cemib.unicamp.br<br />

Maria Helena Seabra Soares de Britto<br />

Mestre em Imunologia - Unicamp<br />

Doutoranda do Depto de Par<strong>as</strong>itologia<br />

IB - Unicamp<br />

Professora do Depto de Farmácia da<br />

Universidade Federal do Maranhão<br />

mhssb@elo.<strong>com</strong>.br<br />

Ana Maria Aparecida Guaraldo<br />

Prof a Dr a do Instituto de Biologia<br />

Departamento de Par<strong>as</strong>itologia - Unicamp<br />

Diretora do CEMIB - Centro Multidisciplinar para<br />

Investigação Biológica<br />

guaraldo@cemib.unicamp.br<br />

Fotos cedid<strong>as</strong> pelos autores<br />

1. Introdução<br />

Em 1907, TYZZER descreveu<br />

Cryptosporidium muris para designar<br />

um pequeno protozoário coccídio,<br />

encontrado n<strong>as</strong> glândul<strong>as</strong> gástric<strong>as</strong> de<br />

camundongo. Posteriormente, em<br />

1912, TYZZER descreveu uma nova<br />

espécie Cryptosporidium parvum.<br />

Por meio de infecção experimental em<br />

camundongos, ele demonstrou que C.<br />

parvum desenvolvia somente no intestino<br />

delgado, e os oocistos eram<br />

menores em relação aos oocistos do<br />

C. muris. (FAYER et al, 1997).<br />

Somente em 1976 foram relatados<br />

os dois primeiros c<strong>as</strong>os de<br />

criptosporidiose humana, sugerindo<br />

um <strong>com</strong>portamento oportunista do<br />

par<strong>as</strong>ito em indivíduos imuno<strong>com</strong>prometidos<br />

(NIME et al, 1976).<br />

Em indivíduos imuno<strong>com</strong>petentes<br />

e <strong>com</strong> sistema imunólogico<br />

<strong>com</strong>prometido, a criptosporidiose é<br />

reconhecida <strong>com</strong>o uma importante<br />

doença diarréica. Geralmente a infecção<br />

pode ser <strong>as</strong>sintomática em indivíduos<br />

imuno<strong>com</strong>petentes, enquanto<br />

nos indivíduos portadores de HIV<br />

ou outr<strong>as</strong> desordens imunológic<strong>as</strong>,<br />

freqüentemente a infecção se torna<br />

crônica (TZIPORI et al, 1986).<br />

As característic<strong>as</strong> clínic<strong>as</strong> da<br />

criptosporidiose são bem descrit<strong>as</strong>. A<br />

doença pode apresentar quatro form<strong>as</strong>:<br />

<strong>as</strong>sintomática, importante por<br />

causar a transmissão endêmica, transitória<br />

ocorrendo em indivíduos imuno<strong>com</strong>petentes,<br />

<strong>com</strong> período de incubação<br />

de 6 di<strong>as</strong> e uma duração de 2 a<br />

30 di<strong>as</strong>. Na forma sintomática são<br />

freqüentes a anorexia, diarréia aquosa,<br />

desconforto abdominal e febre. A forma<br />

crônica é <strong>com</strong>um nos pacientes<br />

HIV positivos, levando à desidratação<br />

e agravamento clínico em indivíduos<br />

desnutridos. A forma fulminante é<br />

exclusiva de pacientes HIV positivos<br />

ou imunossuprimidos devido à terapêutica,<br />

apresentando-se <strong>com</strong>o uma<br />

doença semelhante ao cólera (GRIF-<br />

FITHS, 1998).<br />

Morgan-Ryan et al, 2002,<br />

descreveram uma nova espécie de<br />

Cryptosporidium, designando a de<br />

genótipo humano de C. parvum,<br />

genótipo 1 ou genótipo H.<br />

Considerando <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong><br />

e moleculares, esta nova espécie foi<br />

denominada:Cryptosporidium<br />

hominis.<br />

Alguns estudos consideram que<br />

esta nova espécie não infecta camundongos,<br />

ratos, cães e bezerros. Porém,<br />

a infecção <strong>com</strong> o C. hominis foi reportada<br />

em mamífero marinho Dugong<br />

dugon e ovelh<strong>as</strong>, experimentalmente<br />

foi demonstrada em ovelh<strong>as</strong>,<br />

gado e leitões (XIAO et al., 2004).<br />

Os surtos de criptosporidiose têm<br />

ocorrido devido a transmissão do C.<br />

parvum pela água, pois os oocistos<br />

não são retidos pelos sistem<strong>as</strong> de filtros<br />

no tratamento da água e são resistentes<br />

aos produtos desinfetantes<br />

(SMITH & ROSE, 1998).<br />

Um dos maiores surtos de<br />

criptosporidiose já registrado ocorreu<br />

em abril de 1993, nos Estados Unidos,<br />

na cidade de Milwaukee, onde<br />

aproximadamente 400.000 pesso<strong>as</strong><br />

foram infectad<strong>as</strong> <strong>com</strong> oocistos de<br />

Cryptosporidium parvum veiculados<br />

pela água (MCKENZIE et al, 1994).<br />

Franco et al, 2001, realizaram uma<br />

investigação sobre a ocorrência de<br />

oocistos de Cryptosporidium e cistos<br />

de Giardia, na Região Sudeste do Bra-<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 55


Figura1: Oocistos da linhagem humana MMC de Cryptosporidium sp em esfregaço de suspensão fecal de camundongos<br />

neonatos da linhagem BALB/c/Uni. Coloração Ziehl-Neelsen. Aumento 40X<br />

sil, em água superficial do rio Atibaia.<br />

Os autores relataram que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

amostr<strong>as</strong> examinad<strong>as</strong> foram positiv<strong>as</strong><br />

para ambos os protozoários.<br />

Experimentalmente a criptosporidiose<br />

ocorre em animais de laboratório<br />

que são imunologicamente<br />

imaturos, ratos tratados <strong>com</strong> drog<strong>as</strong><br />

imunossupressor<strong>as</strong>, camundongos<br />

atímicos, camundongos tratados <strong>com</strong><br />

anticorpos anti-CD4, camundongos<br />

NIH-III (bg/nu/xid) e camundongos<br />

bg (TZIPORI & GRIFFITHS, 1998).<br />

Um problema <strong>as</strong>sociado <strong>com</strong> o<br />

estudo experimental da criptosporidiose<br />

em mamíferos é que muit<strong>as</strong> espécies<br />

de hospedeiros são susceptíveis<br />

à infecção <strong>com</strong> C. parvum durante<br />

<strong>as</strong> três primeir<strong>as</strong> seman<strong>as</strong> de vida<br />

(UNGAR et al, 1990). Os camundongos<br />

imuno<strong>com</strong>petentes d<strong>as</strong> linhagens<br />

BALB/c e C57BL/6 infectados ao n<strong>as</strong>cer,<br />

apresentam resolução da infecção<br />

no decorrer da maturação do sistema<br />

imunológico e da colonização da microbiota<br />

<strong>as</strong>sociada (HARP et al, 1988).<br />

ENRIQUEZ & STERLING (1991)<br />

se propuseram a identificar um modelo<br />

animal <strong>com</strong> potencial de uso para<br />

o estudo da infecção pelo C. parvum.<br />

Para tanto, avaliaram 19 linhagens<br />

diferentes de camundongos adultos e<br />

uma de gerbil (Meriones unguiculatus).<br />

Os resultados mostraram que<br />

somente os camundongos beige<br />

(C57BL/6J-bg j ), apresentaram<br />

números significantes de oocistos no<br />

7 o dia após a infecção.<br />

O modelo scid torna-se importante<br />

por se infectar cronicamente<br />

<strong>com</strong> C. parvum e desenvolver sintom<strong>as</strong><br />

similares aos apresentados por<br />

pacientes <strong>com</strong> imunodeficiência<br />

(MEAD, et al, 1991). Camundongos<br />

scid tratados <strong>com</strong> anti-interferon-gama<br />

são usados para o estudo da infecção<br />

pelo C. parvum, na f<strong>as</strong>e aguda durante<br />

os vinte primeiros di<strong>as</strong> após o<br />

desafio <strong>com</strong> o C. parvum, quando a<br />

infecção é limitada ao trato g<strong>as</strong>trointestinal.<br />

Na f<strong>as</strong>e crônica da doença, do<br />

32 o ao 47 o di<strong>as</strong> após a infecção pelo<br />

C. parvum, ocorre <strong>com</strong>prometimento<br />

hepatobiliar e dos ductos pancreáticos<br />

(TZIPORI et al, 1995).<br />

Os camundongos knockout (KO)<br />

para IFN-γ (interferon-gama), são utilizados<br />

para o estudo da criptosporidiose,<br />

devido ao desenvolvimento de<br />

sinais clínicos e perda de peso. Estes<br />

animais se infectam <strong>com</strong> baix<strong>as</strong> doses<br />

de oocistos de C. parvum, <strong>com</strong> apen<strong>as</strong><br />

10 oocistos o animal desenvolve<br />

a infecção, tornando-se um modelo<br />

importante para avaliação de drog<strong>as</strong><br />

terapêutic<strong>as</strong> (GRIFFITHS et al, 1998).<br />

Com b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> imunológic<strong>as</strong><br />

entre <strong>as</strong> linhagens de camundongos<br />

C57BL/6 KO para IFN-γ,<br />

C.B-17 scid, C57BL/6 bg e C3H nu, o<br />

presente estudo tem <strong>com</strong>o objetivo a<br />

avaliação da dinâmica da eliminação<br />

de oocistos da linhagem MMC de<br />

Cryptosporidium sp em animais adultos.<br />

2. Material e métodos<br />

O protocolo experimental nº428/<br />

1 referente a esta pesquisa foi aprovado<br />

pela CEEA (Comissão de Ética<br />

em Experimentação Animal) do Instituto<br />

de Biologia da UNICAMP - Universidade<br />

Estadual de Campin<strong>as</strong>.<br />

2.1 Manutenção<br />

“in vivo” da linhagem MMC de<br />

Cryptosporidium sp<br />

Conforme relatado por Britto et<br />

al, 2000, a linhagem MMC foi isolada<br />

a partir de fezes human<strong>as</strong> de um único<br />

paciente HIV positivo <strong>com</strong><br />

criptosporidiose, do Hospital d<strong>as</strong> Clínic<strong>as</strong><br />

da Unicamp. A manutenção desta<br />

linhagem foi realizada em camundongos<br />

neonatos S.P.F. (Specific<br />

56 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Tabela I – Mortalidade de camundongos imunodeficientes e imuno<strong>com</strong>petentes<br />

infectados <strong>com</strong> 10 5 oocistos de Cryptosporidium sp.<br />

L inhagens de Camundongos Mortalidade (%)<br />

C.B-17/Uni<br />

scid<br />

0<br />

BALB/c/Uni<br />

0<br />

2.3 Análise morfométrica de<br />

oocistos de Cryptosporidium sp<br />

Para a análise morfométrica dos<br />

oocistos da linhagem MMC, foi utilizado<br />

o material obtido do intestino e<br />

fezes dos animais sacrificados no 7º<br />

dia após a infecção, conforme metodologia<br />

descrita (item 2.1). Foram<br />

feitos esfregaços durante <strong>as</strong> primei-<br />

C57BL/6 KO para IFN- γ 40<br />

C57BL/6/Uni<br />

bg<br />

20<br />

C3H/Uni<br />

nu<br />

40<br />

C57BL/6/Uni<br />

0<br />

Pathogen Free), imuno<strong>com</strong>petentes<br />

isogênicos d<strong>as</strong> linhagens BALB/c/Uni,<br />

C57BL/6/Uni, CBA/Uni, C.B-17/Uni e<br />

heterogênico da linhagem Swiss/Uni<br />

no período de dezembro/1999 a julho/2002.<br />

A partir de novembro/2002<br />

a fevereiro/2004, a linhagem MMC foi<br />

mantida em camundongos de 04 a 06<br />

seman<strong>as</strong> de idade da linhagem C57BL/<br />

6 KO para IFN-γ. A manutenção “in<br />

vivo” do Cryptosporidium sp foi realizada<br />

em ambiente controlado, no isolador,<br />

<strong>com</strong> manejo preconizado por<br />

P<strong>as</strong>sos & Alves (1996). Os oocistos<br />

foram obtidos do intestino dos animais<br />

sacrificados no 7º dia após a infecção.<br />

Foi realizada a maceração do intestino<br />

em homogeneizador de Biozzi,<br />

<strong>com</strong> solução salina tamponada 0,01M<br />

pH 7.2. Em seguida foi realizada a<br />

filtração em malh<strong>as</strong> de nylon e centrifugação<br />

2 a 3 vezes a 1500g, por<br />

10 minutos a 4ºC. A camada superior<br />

do precipitado foi recolhida para determinação<br />

do número de oocistos<br />

(PEETERS & VILLACORTA, 1995). Foi<br />

feita a diluição da suspensão dos oocistos<br />

(20 µL) em solução de verde<br />

de malaquita (80 mL), contendo SDS.<br />

O nº de oocistos foi determinado em<br />

câmara de Neubauer, <strong>com</strong> microscopia<br />

de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e, utilizando<br />

objetiva de 40X.<br />

2.2 Infecção de camundongos<br />

imunodeficientes <strong>com</strong> oocistos<br />

de Cryptosporidium sp<br />

Fême<strong>as</strong> SPF <strong>com</strong> 4 a 6 seman<strong>as</strong><br />

de vida , provenientes do CEMIB,<br />

foram infectad<strong>as</strong> <strong>com</strong> 10 5 oocistos de<br />

Cryptosporidium sp por tubagem<br />

esofágica. Foram utilizados 10 animais<br />

de cada uma d<strong>as</strong> seguintes linhagens<br />

imunodeficientes:<br />

- C.B-17/Uni scid; linhagem imuno<strong>com</strong>petente<br />

controle BALB/c/Uni<br />

- C57BL/6 KO para IFN-γ, C3H/<br />

Uni nu, C57BL/6/Uni bg; linhagem<br />

imuno<strong>com</strong>petente controle C57BL/6/<br />

Uni.<br />

A colônia d<strong>as</strong> linhagens citad<strong>as</strong><br />

foram monitorizad<strong>as</strong> pela Seção de<br />

Controle de Qualidade Sanitária do<br />

CEMIB, <strong>com</strong> metodologia descrit<strong>as</strong><br />

por Gilioli et al, 1996 e Gilioli et al,<br />

2000).<br />

Os ensaios experimentais foram<br />

realizados no Departamento de Par<strong>as</strong>itologia<br />

da UNICAMP, em unidade isoladora<br />

de PVC flexível tipo Trexler.<br />

Após os experimentos, os materiais<br />

retirados do isolador foram tratados<br />

antes do descarte, <strong>com</strong>o padrão de<br />

biossegurança. Para a descontaminação,<br />

os materiais de laboratório foram<br />

submetidos a fervura durante 15<br />

minutos, antes da lavagem. Os dejetos<br />

retirados do equipamento foram<br />

enviados para inativação em equipamento<br />

para tratamento de resíduo de<br />

serviço de saúde mediante ond<strong>as</strong><br />

eletromagnétic<strong>as</strong>.<br />

Foram considerados resistentes os<br />

animais que apresentaram liberação<br />

de oocistos de Cryptosporidium sp na<br />

f<strong>as</strong>e aguda da doença e não apresentaram<br />

mortalidade no período de 15<br />

di<strong>as</strong>.<br />

r<strong>as</strong> 28 p<strong>as</strong>sagens da infecção, no<br />

período de dezembro/1999 a julho/<br />

2000. Os esfregaços foram corados<br />

pela técnica de Ziehl-Neelsen modificada<br />

(HENRIKSEN & POHLENZ,<br />

1981). As medid<strong>as</strong> de 35 oocistos foram<br />

realizad<strong>as</strong> <strong>com</strong> auxílio de ocular<br />

micrométrica, em microscópio Zeiss<br />

acoplado à câmara clara, <strong>com</strong> aumento<br />

de 1000X. Os resultados foram expressos<br />

<strong>com</strong>o índice de forma, conforme<br />

XIAO et al, (2004).<br />

2.4 Dinâmica da eliminação de<br />

oocistos de Cryptosporidium sp<br />

As fezes dos animais adultos infectados<br />

foram colhid<strong>as</strong> diariamente,<br />

durante 15 di<strong>as</strong>, individualmente e<br />

armazenad<strong>as</strong> em dicromato de potássio<br />

na concentração final de 2,5%,<br />

mantid<strong>as</strong> a 4ºC. Posteriormente, <strong>as</strong><br />

amostr<strong>as</strong> de fezes foram centrifugad<strong>as</strong><br />

a 1500 g durante 15 minutos. Em<br />

seguida, retirou-se a camada superior,<br />

para a contagem dos oocistos adicionando-se<br />

solução de verde de malaquita<br />

a 0,16%, contendo 0,1% de SDS. O<br />

número de oocistos foi determinado<br />

em câmara de Neubauer, sob microscopia<br />

de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e<br />

(PEETERS & VILLACORTA, 1995). O<br />

peso corporal individual dos camundongos,<br />

devidamente identificados<br />

por marcação auricular, foi registrado<br />

em balança semi-analítica, no início e<br />

ao final do experimento.<br />

2.5 Metodologia estatística<br />

O estudo estatístico da eliminação<br />

de oocistos de Cryptosporidium sp.<br />

foi realizado mediante a <strong>com</strong>paração<br />

d<strong>as</strong> médi<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong> em cada uma d<strong>as</strong><br />

amostr<strong>as</strong>, referente aos 6 o , 9 o , 12 o e<br />

15 o di<strong>as</strong> após a infecção. Este período<br />

está <strong>as</strong>sociado <strong>com</strong> a mortalidade dos<br />

animais e eliminação dos oocistos n<strong>as</strong><br />

fezes. Foi utilizado o procedimento de<br />

Análise de Variância (ANOVA) e <strong>com</strong>parações<br />

paread<strong>as</strong> pelo método de<br />

Tukey, <strong>com</strong> nível de confiança de<br />

95%. As análises foram realizad<strong>as</strong> no<br />

software estatístico Minitab – Versão<br />

13.<br />

3. Resultados<br />

A dimensão de 35 oocistos de<br />

Cryptosporidium sp (média e desvio<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 57


padrão), foram <strong>as</strong><br />

seguintes: <strong>com</strong>primento<br />

4,91 ±0,44µm e largura<br />

5,85 ±0,35µm. O índice<br />

de forma (C/L) obtido<br />

foi 0,84.<br />

Foi possível estabelecer<br />

a manutenção<br />

do cultivo “in vivo” da<br />

linhagem humana MMC<br />

de Cryptosporidium sp<br />

em camundongos neonatos<br />

imuno<strong>com</strong>petentes,<br />

e camundongos<br />

adultos C57BL/6 KO<br />

para IFN-g. Esta linhagem<br />

de Cryptosporidium<br />

sp encontra-se na<br />

67º p<strong>as</strong>sagem da infecção e mantém<br />

alta infectividade .<br />

Para a implantação e manutenção<br />

do cultivo “in vivo” do<br />

Cryptosporidium sp, correspondente<br />

ao período de Dezembro/1999 a fevereiro/2004,<br />

foram utilizados 1265<br />

animais, entre camundongos neonatos<br />

d<strong>as</strong> linhagens BALB/c/Uni, C57BL/6/<br />

Uni, CBA/Uni, C.B-17 /Uni, Swiss/Uni,<br />

e camundongos adultos C57BL/6 KO<br />

para IFN-γ, em ambiente controlado<br />

(Fig.1).<br />

Considerando a taxa de mortalidade<br />

nos animais imunodeficientes<br />

e imuno<strong>com</strong>petentes (Tabela I), não<br />

houve morte na linhagem scid, <strong>as</strong>sim<br />

<strong>com</strong>o no controle. Os camundongos<br />

nude, KO e bg apresentaram mortalidade<br />

no 11º dia após infecção.<br />

O <strong>com</strong>portamento d<strong>as</strong> linhagens<br />

imunodeficientes e imuno<strong>com</strong>petentes,<br />

quanto a liberação de oocistos<br />

n<strong>as</strong> fezes, foi avaliado a partir do 6º<br />

dia até o 15º dia após a infecção<br />

(Figura 2).<br />

4. Discussão<br />

A manutenção da linhagem de<br />

origem humana de Cryptosporidium<br />

sp em camundongos SPF ainda não<br />

foi descrita no Br<strong>as</strong>il e tornou-se uma<br />

fonte de antígeno para diagnóstico da<br />

criptosporidiose.<br />

Um dos fatores limitantes para<br />

entender a biologia do C. parvum é<br />

a dificuldade de obtenção de amostr<strong>as</strong><br />

purificad<strong>as</strong> de vários estágios de<br />

desenvolvimento intracelular do par<strong>as</strong>ito.<br />

Conseqüentemente, muit<strong>as</strong><br />

Figura 2 - Dinâmica da eliminação de oocistos de Cryptosporidium sp em<br />

camundongos imunodeficientes: KO, nude, scid, bg e imuno<strong>com</strong>petentes<br />

BALB/c/Uni e C57BL/6/Uni no 6º, 9º, 12º e 15º dia após a infecção (d.a.i.)<br />

<strong>com</strong> 10 5 oocistos.<br />

pesquis<strong>as</strong> <strong>com</strong> o par<strong>as</strong>ito procuram<br />

caracterizar e identificar os antígenos<br />

expressos na superfície d<strong>as</strong> form<strong>as</strong><br />

inv<strong>as</strong>iv<strong>as</strong>, tais <strong>com</strong>o esporozoítos e<br />

merozoítos (WIDMER et al, 2002).<br />

O isolamento da linhagem<br />

MMC de Cryptosporidium sp em camundongo<br />

propicia a padronização<br />

de um genótipo, possivelmente humano<br />

<strong>com</strong>o fonte de antígenos para<br />

diagnóstico e infecção de cultura de<br />

célul<strong>as</strong>.<br />

Atualmente são reconhecid<strong>as</strong><br />

treze espécies de Cryptosporidium<br />

(XIAO et al, 2004). As medid<strong>as</strong> obtid<strong>as</strong><br />

dos oocistos da linhagem MMC,<br />

<strong>com</strong>primento 4,91 ±0,44µm e largura<br />

5,85 ±0,35µm sugerem que a<br />

linhagem MMC, de origem humana<br />

se enquadra dentro da espécie<br />

Cryptosporidium hominis, conforme<br />

CAREY et al, 2004. No entanto, o<br />

índice de forma (C/L) obtido foi de<br />

0,84, divergindo d<strong>as</strong> observações de<br />

XIAO et al, 2004, que indica para C.<br />

hominis índice de forma 1,15. Porém,<br />

a análise morfométrica não pode ser<br />

usada <strong>com</strong>o ferramenta para cl<strong>as</strong>sificação<br />

d<strong>as</strong> espécies de Cryptosporidium,<br />

pois além dos parâmetros biológicos,<br />

deve-se considerar principalmente<br />

<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> genétic<strong>as</strong> (MOR-<br />

GAN-RYAN et al, 2002; FALL et al,<br />

2003).<br />

A hipótese de se tratar de<br />

Cryptosporidium hominis, pode ser<br />

sustentada pelos resultados de<br />

Mclauchlin et al, 1999, quando <strong>com</strong>parado<br />

<strong>com</strong> C. parvum.<br />

Outra diferença entre C. hominis<br />

e C. parvum é quanto a liberação<br />

de oocistos. O estudo<br />

conduzido por Mclauchlin<br />

et al, 1999, em 218<br />

pacientes, <strong>com</strong> diagnóstico<br />

de diarréia,<br />

demonstrou que os pacientes<br />

que apresentaram<br />

infecção pelo C.<br />

hominis liberaram<br />

maior quantidade de oocistos,<br />

em relação aos<br />

pacientes que se infectaram<br />

pelo C. parvum.<br />

Todos os camundongos<br />

utilizados neste<br />

estudo foram cl<strong>as</strong>sificados<br />

na categoria VAF (Virus<br />

Antibody Free), pelos<br />

resultados de monitorização sanitária.<br />

Desta forma foi <strong>as</strong>segurada a infecção<br />

“in vivo” sem a interferência<br />

de outros patógenos murinos. Poucos<br />

são os relatos de interferência do<br />

Cryptosporidium na pesquisa experimental<br />

<strong>as</strong>sociado a outros patógenos<br />

em camundongos. Há autores que relataram<br />

o efeito sinérgico do<br />

Cryptosporidium parvum, isolado<br />

CPB-0, <strong>com</strong> rotavírus em leitões SPF<br />

(Enemark et al, 2003).<br />

Dentre <strong>as</strong> linhagens de camundongos<br />

imunodeficientes estudad<strong>as</strong>, a<br />

linhagem scid apresentou resistência<br />

à infecção pelo Cryptosporidium sp,<br />

quando <strong>com</strong>parada <strong>com</strong> <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> linhagens<br />

imunodeficentes. Os nossos<br />

resultados corroboram <strong>com</strong> Hayard et<br />

al, 2000, que <strong>com</strong>provaram a importância<br />

do IFN-γ para a sobrevida<br />

do scid .<br />

Mead & You, 1998, investigaram<br />

à susceptibilidade frente a infecção<br />

pelo C. parvum entre du<strong>as</strong> linhagens<br />

diferentes de camundongos, amb<strong>as</strong><br />

KO para interferon-gama (BALB/c-<br />

Ifg (m)@ e C57BL/6J-Ifg (m)@ ). Os camundongos<br />

BALB/c-Ifg (m)@ desenvolveram<br />

infecção moderada <strong>com</strong> média de<br />

eliminação de oocistos 100 vezes<br />

menor em relação ao camundongo<br />

C57BL/6J-Ifg (m)@ .<br />

O estudo da ação de citocin<strong>as</strong><br />

durante a infecção pelo<br />

Cryptosporidium parvum em<br />

camundongos knockout (KO) para IL-<br />

4, IL-10, IL12 e CCR5, <strong>com</strong> background<br />

de BALB/c, evidenciou <strong>as</strong><br />

diferenç<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> linhagens, pois os<br />

animais KO mostraram-se resistentes<br />

58 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


(CAMPBELL et al, 2002). Os autores<br />

também observaram que o KO para<br />

IL-12, <strong>com</strong> “background” de C57BL/<br />

6, quando infectado <strong>com</strong> 100 oocistos,<br />

apresentou alta susceptibilidade,<br />

liberando grandes quantidades de<br />

oocistos, em relação às outr<strong>as</strong><br />

linhagens knockout. Após du<strong>as</strong><br />

seman<strong>as</strong> o KO para IL-12 foi capaz<br />

de controlar a infecção, sugerindo que<br />

a IL-12 é um importante indutor de<br />

IFN-γ.<br />

Os camundongos nude<br />

mostraram controle parcial da infecção.<br />

Nossos resultados encontram respaldo<br />

nos trabalhos de R<strong>as</strong>mussen & Healey,<br />

1992, foi demonstrado que a ausência<br />

de linfócitos T em modelos animais<br />

estabelece a infecção pelo<br />

Cryptosporidum parvum. Conforme<br />

descrito pelos autores, os<br />

camundongos CD4 - apresentam<br />

perfil de infecção semelhante aos<br />

camundongos nude.<br />

Ungar et al, 1991, avaliaram o<br />

papel de INF-γ, célul<strong>as</strong> CD4 e CD8<br />

em camundongos adultos BALB/c<br />

nude submetidos a tratamento <strong>com</strong><br />

anticorpo monoclonal. Os autores<br />

demonstraram que o controle da<br />

infecção requer a produção de IFN-γ<br />

e contribuição do linfócito CD4. Na<br />

defesa do hospedeiro contra a<br />

infecção pelo Criptosporidium sp,<br />

também é acionado um mecanismo<br />

independente de linfócitos T, no qual<br />

os macrófagos ativados induzem a<br />

secreção de IFN-γ, pel<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> NK<br />

(BANCROFT & KELLY, 1994).<br />

A análise estatística da eliminação<br />

de oocistos no decorrer da infecção<br />

evidenciou que a linhagem KO para<br />

IFN-γ apresentou significativamente<br />

maior liberação de oocistos em todos<br />

os períodos. A linhagem nude superou<br />

a linhagem controle apen<strong>as</strong> no 6º<br />

dia após infecção, apresentando diferenç<strong>as</strong><br />

significativ<strong>as</strong> em relação à linhagem<br />

scid. No 15º dia após infecção,<br />

houve diferença significativa<br />

entre <strong>as</strong> linhagens de camundongos<br />

bg e scid <strong>com</strong>parada aos respectivos<br />

controles. É importante destacar que<br />

a linhagem imuno<strong>com</strong>petente mais<br />

refratária à infecção foi C57BL/6/Uni,<br />

que apresentou oocistos apen<strong>as</strong> no 9º<br />

dia, enquanto a linhagem BALB/c/Uni<br />

apresentou oocistos no 6º, 9º e 12º<br />

di<strong>as</strong> após a infecção.<br />

A literatura relata que <strong>as</strong> linhagens<br />

de Cryptosporidium sp estudad<strong>as</strong> até<br />

o momento, mesmo <strong>as</strong> de origem<br />

humana, são mantid<strong>as</strong> em bezerros,<br />

por vários anos. No estudo de Griffiths<br />

et al, 1998, utilizando o camundongo<br />

KO para IFN-γ <strong>com</strong> “background”<br />

C57BL/6, o pico de eliminação<br />

de oocistos aconteceu no 9º dia<br />

após a infecção. Em nossos resultados,<br />

a linhagem MMC de Cryptosporidium<br />

sp, no mesmo modelo evidenciou<br />

maior eliminação de oocistos no 6º dia<br />

após a infecção, uma característica que<br />

sugere tratar-se genótipo humano.<br />

Foi possível constatar que não<br />

houve controle da infecção pela linhagem<br />

KO, enquanto a linhagem bg<br />

apresentou uma resposta tardia quanto<br />

à eliminação dos oocistos <strong>as</strong>sociada<br />

a significativa perda de peso no 15º<br />

dia após a infecção (dados não mostrados).<br />

A análise conjunta da mortalidade<br />

dos camundongos imunodeficientes<br />

infectados pelo Cryptosporidium sp<br />

e da eliminação de oocistos (Fig.2)<br />

indica que o perfil de resistência à<br />

infecção n<strong>as</strong> linhagens estudad<strong>as</strong> obedece<br />

o seguinte padrão: C57BL/6/Uni<br />

> BALB/c/Uni > scid >bg > nude > KO.<br />

Os resultados indicam a importância<br />

do interferon-gama, linfócitos T e<br />

célul<strong>as</strong> NK na resistência à infecção<br />

pelo Cryptosporidium sp.<br />

5. Referênci<strong>as</strong> Bibliográfic<strong>as</strong><br />

BANCROFT, G.J. & KELLY, J.P. Macrophage<br />

activation and innate resistance<br />

to infection in SCID mice.<br />

Immunobiology, v.191, p.424-<br />

31, 1994.<br />

BRITTO, M.H.S, ALVES, D.P. FREITAS,<br />

F.F.T. & GUARALDO, A.M.A. Isolamento<br />

de Cryptosporidium parvum<br />

de fezes de paciente HIV<br />

positivo e manutenção do isolado<br />

humano em camundongos. IN:<br />

Congresso Br<strong>as</strong>ileiro da Ciência de<br />

Animais de Laboratório, VII, 3-6/<br />

12/2000, Campin<strong>as</strong>.<br />

CAMPBELL, L.D., STEWART, J.N. &<br />

MEAD, J.R. Susceptibility to Cryptosporidium<br />

parvum infections in<br />

cytokine and chemokine-receptor<br />

knockout mice. The Journal<br />

of Par<strong>as</strong>itology, v.88, p.1014-<br />

16, 2002.<br />

CAREY, C.M., LEE, H. & TREVORS, J.T.<br />

Biology persistence and detection<br />

of Cryptosporidium parvum and<br />

Cryptosporidium hominis oocyst.<br />

Water Research. v.38, p.818-<br />

862, 2004.<br />

ENEMARK, H.L., BILLE-HANSEN,V. ,<br />

LIND P., HEEGAARD P.M., VI-<br />

GRE, H., AHRENS, P. & THAMS-<br />

BORG, S M. Pathogenicity of Cryptosporidium<br />

parvum- evaluation<br />

of an animal infection model. Veterinary<br />

Par<strong>as</strong>itology, v. 113<br />

p.35-37, 2003.<br />

ENRIQUEZ, F.J., & STERLING, C.R.<br />

Cryptosporidium Infections in<br />

inbred strains of mice. Journal<br />

Protozoology, v.38, p.100-02,<br />

1991.<br />

FALL, A., THOMPSON, R.C., HOBBS,<br />

R.P., MORGAN-RYAN, U. Morphology<br />

is not a reliable tool for delineating<br />

species within Cryptosporidium.<br />

The Journal of Par<strong>as</strong>itology,<br />

vol.89, p.399-402, 2003.<br />

FAYER, R., SPEER, C. & DUBEY, J. The<br />

general biology of Cryptosporidium,<br />

p.1-41. IN: R. Fayer ( ed),<br />

Cryptosporidium and Cryptosporidiosis.<br />

CRC Press, Inc., Boca<br />

Taton, Fla. 1997.<br />

FRANCO, R.B., ROCHA-EBERHARDT,<br />

R. & CANTUSIO NETO, R. Ocurrence<br />

of Cryptosporidium oocysts<br />

and Giardia cysts in raw water<br />

from the Atibaia River, Campin<strong>as</strong>,<br />

Brazil. Revista do Instituto de<br />

Medicina Tropical do Estado<br />

de São Paulo, v.43, p.109-111,<br />

2001.<br />

GILIOLI, R., SAKURADA, J.K., ANDRA-<br />

DE, L. A.G., KRAFT, V., MEYER, B.<br />

& RANGEL, H.A. Virus infection in<br />

rat and mouse colonies reared in<br />

Brazilian animal facilities. Laboratory<br />

Animal Science, v.46,<br />

p.582-84, 1996.<br />

GILIOLI, R., ANDRADE, L.A.G., PAS-<br />

SOS, L.A.C., SILVA, F.A., RODRI-<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 59


GUES, D.M., GUARALDO, A.M.A.<br />

Par<strong>as</strong>ite survey in mouse and rat<br />

colonies of Brazilian laboratory<br />

animal houses kept under different<br />

sanitary barrier conditions.<br />

Arquivo Br<strong>as</strong>ileiro de Medicina<br />

Veterinária e Zootecnia,<br />

v.52, p.33-37, 2000.<br />

GRIFFTHS, J.K. Human<br />

Cryptosporidiosis: epidemiology,<br />

transmission, clinical dise<strong>as</strong>e,<br />

treatment and diagnosis. Advances<br />

in Par<strong>as</strong>itology.<br />

v.40, p. 37-85, 1998.<br />

GRIFFITHS, J.K., THEODOS, C., PA-<br />

RIS, M., & TZIPORI, S. The gamma<br />

interferon gene Knockout mouse:<br />

a highly sensitive model for<br />

evaluation of therapeutic agents<br />

against Cryptosporidium parum.<br />

Journal of Clinical<br />

Microbiology. v.36, p. 2503-<br />

2508, 1998.<br />

HARP, J.A., WANNEMUEHLER, M.W.,<br />

WOODMANSEE, D.B. & MOON,<br />

H.W. Susceptibility of germ-free<br />

or antibiotic-treated adult mice to<br />

Cryptosporidium parvum.<br />

Infection And Immunity, v.56,<br />

p. 2006-2010,1988.<br />

HENRIKSEN, S.A., POHLENZ, J.F.L.<br />

Staining of Cryptosporidia by a<br />

modified Ziehl-Neelsen technique.<br />

Acta Veterinary Scanddinavian,<br />

v.22, p.594-596, 1981.<br />

MACKENZIE, W.R., N.J. HOXIE, M.E.<br />

PROCTOR, M.S. GRADUS, K.A.<br />

BLAIR, D.E. PETERSON, J.J. KAZ-<br />

MIERCZAK, D.G. ADDISS, K.R.<br />

FOX, J. B. ROSE, ET AL. A m<strong>as</strong>sive<br />

outbreak in Milwaukee of Cryptosporidium<br />

infection transmitted<br />

through the public water supply.<br />

The New England Journal of<br />

Medicine, v.331, p.161-167,<br />

1994.<br />

McLAUCHLIN, J., S. PEDRAZA-DIAZ,<br />

C. AMAR-HOETZENEDER & G.L.<br />

NICHOLS. Genetic characterization<br />

of Cryptosporidium strains<br />

from 218 patients with diarrhea<br />

diagnosed <strong>as</strong> having sporadic cryptosporidiosis.<br />

Journal of Clinical<br />

Microbiology, v.37, p.3153-<br />

3158, 1999.<br />

MEAD, J.R., ARROWOOD, M.J., SI-<br />

DWELL, R.W. & HEALEY, M.C.<br />

Chronic Cryptosporidium parvum<br />

infections in congenitally immunodeficient<br />

SCID and nude mice.<br />

The Journal Of Infectious Dise<strong>as</strong>es,<br />

v.163, p.1297-1304, 1991.<br />

MEAD, J.R. & YOU, X. Susceptibility<br />

differences to Cryptosporidium<br />

parvum infection in two strains of<br />

gamma interferon knockout mice.<br />

The Journal Of Par<strong>as</strong>itology, v.<br />

84, p.1045-1048, 1998.<br />

MORGAN-RYAN, U.M., FALL, A.,<br />

WARD, L.A., HIJJAWI, N., SULAI-<br />

MAN, I., FAYER, R., THOMPSON,<br />

R.C., OLSON, M., LAL, A., XIAO L.,<br />

Cryptosporidium hominis n. sp.<br />

(Api<strong>com</strong>plexa: Cryptosporidiidae)<br />

from Homo sapiens Journal Eukaryotic<br />

Microbiology, v.49, p.<br />

433-440, 2002.<br />

NIME, F., BUREK, J., PAGE, D., HOLS-<br />

CHER, M. & YARDLEY, J. Acute<br />

enterocolitis in a human infected<br />

with the protozoan Cryptosporidium<br />

G<strong>as</strong>troenterology, v.70,<br />

p.592-598, 1976.<br />

PASSOS, L.A.C. & ALVES, D.P. Isoladores.<br />

IN: Manual para Técnicos em<br />

Bioterismo. De Luca, RR., Alexandre,<br />

SR., Marques, T., Souza, NL.,<br />

Merusse, JLB. e Neves, S. P. (eds)<br />

2 a ed. São Paulo, p.27-34, 1996.<br />

PEETERS, J. & VILLACORTA, I. Cryptosporidium.<br />

IN: EUR 16602 –<br />

Guidelines on Techniques in coccidiosis<br />

research. J. Eckert, R. Braun,<br />

M.W. Shirley, P. Coudert Ed. Luxembourg.<br />

p. 202-240, 1995.<br />

RASMUSSEN, K. & HEALEY, M. Experimental<br />

Cryptosporidium parvum<br />

infections in immunosuppressed<br />

adult mice. Infection And Immunity,<br />

v.60, p. 1648-1652, 1992.<br />

SMITH, H.V. & ROSE, J.B. Waterborne<br />

Cryptosporidiosis: Current status.<br />

Par<strong>as</strong>itology Today, v.14, p.14-<br />

22, 1998.<br />

TZIPORI, S., ROBERTON, D., CHAP-<br />

MAN, C., - Remission of diarrhoea<br />

due to cryptosporidiosis in an immunodeficient<br />

child treated whith<br />

hyperimmune bovine colostrum.<br />

British Medical Journal, v.293,<br />

p.1276, 1986.<br />

TZIPORI, S., RAND, W. & THEODOS,<br />

C. Evaluation of a two-ph<strong>as</strong>e a scid<br />

mouse model preconditioned with<br />

anti-interferon-gamma monoclonal<br />

antibody for drug testing against<br />

Cryptosporidium parvum. The<br />

Journal of Infectious Dise<strong>as</strong>es,<br />

v.172, p. 1160-1164, 1995.<br />

TZIPORI , S. & GRIFFITHS, J. Natural<br />

history and biology of Cryptosporidium<br />

parvum . IN: Advances in<br />

Par<strong>as</strong>itology – Opportunistic Protozoa<br />

in Humans. Baker, J.R., Mullrt,<br />

R., Rollinson, D. & Tzipori, S. eds.<br />

Academic Press Ltd. London, v.40,<br />

p.6-36, 1998.<br />

UNGAR, B.L, BURRIS, J., QUINN, C. &<br />

FINKELMAN, F. New mouse models<br />

for chronic Cryptosporidium<br />

infection in immunodeficient hosts.<br />

Infection and Immunity, v.58,<br />

p. 961-969, 1990.<br />

UNGAR, B.L., KAO, T.C., BURRIS, J.A.<br />

& FINKELMAN, F.D. Cryptosporidium<br />

infection in an adult mouse<br />

model. Independent roles for IFNgamma<br />

and CD4+ T lymphocytes<br />

in protective immunity. The Journal<br />

of Immunology, v.3, p.1014-<br />

1022, 1991.<br />

WIDMER, G., LIN, L., KAPUR, V., FENG,<br />

X. & ABRAHAMSEN, M. S.<br />

Genomics and genetics of Cryptosporidium<br />

parvum: the key to<br />

understanding cryptosporidiosis.<br />

Microbes and Infections v4, p.<br />

1081-1090, 2002.<br />

XIAO, L., FAYER, R., RYAN, U. &<br />

UPTON, S. J. Cryptosporidium<br />

Taxonomy: Recent Advances and<br />

Implications for Public Health.<br />

Clinical Microbiology Reviews,<br />

v.17, p.72-97, 2004.<br />

60 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Pesquisa<br />

Cultivares e genes<br />

Pesquisa<br />

Entidades distint<strong>as</strong> e essenciais à agricultura<br />

Aluízio Borém<br />

Eng. Agrônomo, M.S. Ph.D., Professor da<br />

Universidade Federal de Viçosa e Presidente da<br />

Sociedade Br<strong>as</strong>ileira de Melhoramento de Plant<strong>as</strong><br />

borem@ufv.br<br />

Imagens cedid<strong>as</strong> pelo autor<br />

Figura 01<br />

Até por volta do ano 1900 não se<br />

entendia a razão da semelhança entre<br />

pais e filhos ou entre parentes. Alguns<br />

acreditavam que o sangue era responsável<br />

pela semelhança entre indivíduos<br />

aparentados. Intrigado por esta<br />

questão Gregor Mendel, em 1865, realizou<br />

uma série de cruzamentos entre<br />

ervilh<strong>as</strong> <strong>com</strong> diferentes tipos de grãos<br />

e cor de flor. Estudando os resultados<br />

dos seus trabalhos Mendel concluiu<br />

que uma determinada estrutura presente<br />

nos órgãos reprodutivos eram<br />

responsáveis pela hereditariedade, os<br />

genes. Gene é a unidade física e<br />

funcional da hereditariedade que codifica<br />

uma proteína funcional ou molécula<br />

de RNA. Os botânicos e em geral<br />

a <strong>com</strong>unidade cientifica da época consideraram<br />

a argumentação de Mendel<br />

sem consistência e ele morreu sem ter<br />

seus trabalhos reconhecidos. Somente<br />

em 1900 que seus trabalhos foram<br />

descobertos, dando origem a ciência<br />

que hoje conhecemos <strong>com</strong>o genética.<br />

Gene é, portanto, uma seqüência<br />

de ácidos desoxirribonucléicos (DNA),<br />

que codifica <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> herdáveis<br />

dos seres vivos. Cada gene sozinho, ou<br />

em muito c<strong>as</strong>os, <strong>as</strong>sociados a um ou<br />

mais genes determinam se uma variedade<br />

de milho apresenta elevado teor<br />

de proteína ou se é de ciclo precoce.<br />

Os genes encontram-se na estrutura<br />

constituída de uma hélice dupla denominada<br />

cromossomo. Cada espécie<br />

possui um número típico de<br />

cromossomos e, o conjunto de todos<br />

os genes, distribuídos nos<br />

cromossomos, constituem o genoma<br />

do indivíduo.<br />

As célul<strong>as</strong> não podem produzir uma<br />

proteína pelo simples alinhamento de<br />

aminoácidos ao longo do gene (DNA),<br />

e para isso usam o RNA; os aminoácidos<br />

não se aderem ao DNA. Adicionalmente,<br />

o uso de um molde intermediário<br />

(RNA) na síntese protéica reduz o risco<br />

de danos ao DNA. Novamente, o<br />

dogma central da genética postula que<br />

a molécula intermediária RNAm, uma<br />

cópia do DNA, é utilizada repetidamente<br />

para a síntese protéica,utilizando<br />

a maquinaria celular e resultando na<br />

expressão d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> dos indivíduos<br />

(Figura 01).<br />

Os genes são, portanto, a receita de<br />

cada indivíduo ser <strong>com</strong>o é. Neste<br />

sentido, os genes em seu conjunto, o<br />

genoma, são a receita de cada indivíduo.<br />

Embora um indivíduo não possa<br />

existir sem os genes, cada gene isoladamente<br />

não possui capacidade autônoma<br />

de reprodução e não pode se<br />

multiplicar por si só. A perpetuação de<br />

um gene só é possível se ele estiver<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 61


inserido em um indivíduo ou uma de<br />

su<strong>as</strong> partes, a exemplo d<strong>as</strong> sementes<br />

ou estrutur<strong>as</strong> vegetativ<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o os<br />

bulbos, estolons, rizom<strong>as</strong> etc. A estrutura<br />

mínima de reprodução de uma<br />

planta é uma célula, que no seu núcleo<br />

possui pelo menos um exemplar de<br />

cada gene da espécie. A replicação<br />

gênica ocorre dentro do núcleo da<br />

célula, <strong>com</strong> o envolvimento da enzima<br />

DNA polimer<strong>as</strong>e, presente na celula<br />

(Figura 02).<br />

Para a funcionalidade do gene, ele<br />

precisa apresentar outr<strong>as</strong> regiões além<br />

da região codificadora, denominada<br />

éxon. O esquema da figura abaixo<br />

ilustra um gene típico de organismos<br />

eucarióticos: animais e plant<strong>as</strong>. Nessa<br />

figura está evidenciado o promotor,<br />

que é a região do DNA que regula o<br />

local, momento e intensidade da expressão<br />

do gene. A região à direita do<br />

promotor constitui a sua seqüência<br />

codificadora <strong>com</strong> seus éxons e íntrons,<br />

os quais são transcritos, ou seja, são<br />

convertidos em uma molécula de RNA<br />

durante a expressão do gene. Os íntrons<br />

funcionam <strong>com</strong> o preenchimento do<br />

loco gênico (região do DNA onde se<br />

encontra o gene), os quais, embora<br />

sejam transcritos, são eliminados no<br />

Figura 02<br />

processamento do RNAm, antes de<br />

ocorrer a tradução (produção da proteína).<br />

Os éxons contêm a seqüência<br />

codificadora da proteína a ser sintetizada<br />

(Figura 03).<br />

Variedade geneticamente modificada<br />

é aquela na qual foi inserido um<br />

gene isolado de um outro indivíduo,<br />

via técnic<strong>as</strong> do DNA re<strong>com</strong>binante,<br />

também conhecida <strong>com</strong>o engenharia<br />

genética. O gene <strong>as</strong>sim transferido,<br />

tem sido designado de transgene e<br />

possui <strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> propriedades característica<br />

dos genes, qual sejam, são<br />

essenciais para a formação do ser vivo<br />

porém não se perpetuam autonomamente,<br />

isto é, independentemente do<br />

indivíduo.<br />

Variedade é um grupo de plant<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> característic<strong>as</strong> distint<strong>as</strong>, homogêne<strong>as</strong><br />

e estáveis, <strong>com</strong> identidade própria,<br />

que a distingue d<strong>as</strong> demais. Os<br />

descritores varietais que conferem identidade<br />

às variedades podem ser: ciclo,<br />

cor d<strong>as</strong> sementes, caracteres<br />

morfológicos, reação a doenç<strong>as</strong>, produção<br />

de grãos, padrões isoenzimáticos<br />

ou de ácidos nucléicos. A estabilidade<br />

da variedade é importante para sua<br />

identificação, geração após geração.<br />

O termo cultivar, que tem sido<br />

usado <strong>com</strong>o sinônimo de variedade,<br />

foi cunhado a partir da contração d<strong>as</strong><br />

palavr<strong>as</strong> ingles<strong>as</strong> cultivated variety (variedade<br />

cultivada). Há uma discussão<br />

sobre o gênero do termo cultivar. Alguns<br />

periódicos científicos nacionais<br />

consideram-no feminino, <strong>com</strong>o a Revista<br />

da Pesquisa Agropecuária Br<strong>as</strong>ileira,<br />

PAB, enquanto a Revista Ceres<br />

considera-o m<strong>as</strong>culino.<br />

Tipos de variedade<br />

Vários são os tipos de variedades<br />

que o melhorista desenvolve para que<br />

o agricultor possa explorar <strong>com</strong>ercialmente<br />

<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>. Embora <strong>as</strong> variedades<br />

só possam ser multiplicad<strong>as</strong> se<br />

seus genes estiverem presentes na<br />

unidade de reprodução, sementes ou<br />

partes vegetativ<strong>as</strong>, os genes por sua<br />

vez não podem se reproduzir isoladamente,<br />

isto é, autonomamente.<br />

Linh<strong>as</strong> pur<strong>as</strong><br />

As linh<strong>as</strong> pur<strong>as</strong> são constituíd<strong>as</strong> por<br />

um grupo de indivíduos em<br />

homozigose que apresentam b<strong>as</strong>icamente<br />

a mesma constituição genética,<br />

o que <strong>as</strong> torna homozigótic<strong>as</strong> e homogêne<strong>as</strong>.<br />

Estatisticamente, Kempthorne<br />

(1957) definiu uma linha pura <strong>com</strong>o<br />

um grupo de indivíduos homozigóticos<br />

<strong>com</strong> um coeficiente de parentesco<br />

superior ou igual a 0,87.<br />

Híbridos<br />

Os híbridos são resultantes do cruzamento<br />

entre indivíduos geneticamente<br />

distintos, visando à utilização<br />

prática da heterose. São heterozigóticos<br />

e homogêneos e primariamente utilizados<br />

em espécies alógam<strong>as</strong>. Híbridos<br />

de algum<strong>as</strong> espécies autógam<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o<br />

tomate e berinjela e, de forma menos<br />

representativa, trigo e cevada, estão<br />

disponíveis em diferentes países<br />

(Carlsson e Leijon, 1986; Lehmann,<br />

1986).<br />

Os híbridos podem ser obtidos do<br />

cruzamento de du<strong>as</strong> linhagens<br />

Figura 03<br />

62 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


endogâmic<strong>as</strong>, (P 1<br />

x P 2<br />

), híbrido simples;<br />

de três linhagens endogâmic<strong>as</strong>,<br />

[(P 1<br />

x P 2<br />

) x P 3<br />

], híbrido triplo; ou de<br />

quatro linhagens endogâmic<strong>as</strong>, [(P 1<br />

x<br />

P 2<br />

) x (P 3<br />

x P 4<br />

)], híbrido duplo. Além d<strong>as</strong><br />

linhagens endogâmic<strong>as</strong>, podem-se utilizar<br />

variedades de polinização aberta,<br />

clones ou linh<strong>as</strong> pur<strong>as</strong> na obtenção dos<br />

híbridos.<br />

Clone<br />

O clone é constituído por um grupo<br />

de indivíduos que descendem, por<br />

propagação <strong>as</strong>sexuada, de um único<br />

genitor. Os clones são heterozigóticos<br />

e, em geral, homogêneos. Os indivíduos<br />

de um mesmo clone são geneticamente<br />

idênticos.<br />

N<strong>as</strong> espécies de propagação<br />

<strong>as</strong>sexuada, há uma correlação positiva<br />

entre grau de heterozigose e vigor.<br />

Por isso, <strong>as</strong> variedades clonais são em<br />

geral altamente heterozigótic<strong>as</strong>.<br />

Outros tipos de cultivares <strong>com</strong>o<br />

multilinh<strong>as</strong>, sintéticos, variedades de<br />

polinização aberta e outr<strong>as</strong> podem<br />

eventualmente ser utilizad<strong>as</strong> pelos<br />

agricultores.<br />

Conclusões<br />

Genes convencionais ou transgenes<br />

não possuem capacidade autônoma<br />

de reprodução ou de multiplicação por<br />

si só. Para a perpetuação de um gene<br />

ele precisa estar inserido em uma planta<br />

ou em uma de su<strong>as</strong> partes, que<br />

possua viabilidade, a exemplo d<strong>as</strong> sementes.<br />

Referênci<strong>as</strong> bibliográfic<strong>as</strong><br />

ADAMS, M.W., SHANK, D.B.<br />

The relationship of heterozigosity<br />

to homeost<strong>as</strong>is in maize hybrids.<br />

Genetics, 44:777-787.<br />

BOREM, A. 2003. Melhoramento<br />

de plant<strong>as</strong>. Viçosa Editora UFV.<br />

500p.<br />

BOREM, A. 1999. Melhoramento<br />

de especies cultivad<strong>as</strong>. Viçosa<br />

Editora UFV. 816p.<br />

BORLANG, N.E. 1959. The use<br />

of multilineal or <strong>com</strong>posite varieties<br />

to control airborne epidemic<br />

dise<strong>as</strong>es of self-pollinated crop<br />

plants. In: INT. WHEAT GENET.<br />

SYMP. UNIVERSITY OF<br />

MANITOBA, 1. Proceedings...<br />

Winnipeg, University of Manitoba.<br />

p. 12-26.<br />

BROWNING, J.A., FREY, K.J.<br />

1969. Multiline cultivars <strong>as</strong> a means<br />

of dise<strong>as</strong>e control. Annu. Rev.<br />

Phytopathol., 7:355-382.<br />

DICKERSON, G.E. 1963.<br />

Biological interpretations of the<br />

genetic parameters of populations<br />

pp. 95-107. In: HANSON, W.D.,<br />

ROBINSON, H.F. (Eds.). Statistical<br />

genetics and plant breeding. W<strong>as</strong>hington,<br />

D.C. (Pub. 982. NAS-<br />

NRC).<br />

EBERHART, S.A., RUSSEL, W.A.<br />

1969. Yield and stability for a 10-<br />

line diallel of single-cross and<br />

double-cross maize hybrids. Crop<br />

Sci., 9:357-361.<br />

FREY, K.J., CHANDHANA-<br />

MUTTA, P. 1975. Spontaneous<br />

mutations <strong>as</strong> a source of variation<br />

in diploid, tetraploid and hexaploid<br />

oats (Avena spp.) Egypt. J.<br />

Genet. Cyto., 4:238-249.<br />

HARLAN, H.V., MARTINI, M.L.,<br />

HARLAN, S. 1940. A study of<br />

methods in barley breeding. W<strong>as</strong>hington:<br />

USDA.<br />

HARLAN, J.R. 1971. Agricultural<br />

origins: Centers and noncenters.<br />

Science, 174:468-474.<br />

HARLAN, J.R., WET de, J.M.J.<br />

1971. Toward a rational cl<strong>as</strong>sification<br />

of cultivated plants. Taxon,<br />

20:509-517.<br />

INTERNATIONAL CODE OF<br />

NOMENCLATURE FOR CULTIVA-<br />

TED PLANTS. 1980. Reg. Veget.,<br />

4:7-32.<br />

KEMPTHORNE, O. 1957. An<br />

introduction to genetic statistics.<br />

New York: John Wiley Sons.<br />

NATIONAL ACADEMY OF SCI-<br />

ENCE, 1972. Genetic vulnerability<br />

of major crops. W<strong>as</strong>hington, D.C.<br />

PFEIFFER, T.W., SURYATI, D.,<br />

EGLI, D.B. 1991. Soybean plant<br />

introductions selected for seed<br />

filling period or yield: performance<br />

of parents. Crop Sci., 1:1418-1421.<br />

SCHNELL, F.W. 1975. Type of<br />

variety and average performance<br />

in hibrid maize Z. Pflanzenzucht,<br />

74:177-184.<br />

SCHOENER, C.S., FEHR, W.R.<br />

1979. Utilization of plant<br />

introductions in soybean<br />

populations. Crop Sci., 19:185-188.<br />

SHANDS, H.L., WIESNER, L.E.<br />

1991. Use of plant introductions in<br />

cultivar development: proceedings<br />

of a symposium. (CSSA publicação<br />

especial, 17).<br />

SPRAGUE, G.F., JENKINS, M.T.<br />

1943. A <strong>com</strong>parison of synthetic<br />

varieties, multiple crosses, and<br />

double crosses in corn. J. Am. Soc.<br />

Agron., 35:137-147.<br />

SPRAGUE, G.F. 1967. Plant<br />

breeding. Annu. Rev. Genet.,<br />

1:196-294.<br />

SUNESON, C.A. 1956.<br />

Evolutionary plant breeding. Agron.<br />

J., 48:188-190.<br />

VAVILOV, N.I. 1951. The origin,<br />

variation, immunity, and breeding<br />

of cultivated plants. Translated<br />

from Russian by K. Starr Chester.<br />

(Chronica Botanica, 1/6.).<br />

WEATHERSPOON, J.H. 1970.<br />

Comparative yield of single, threeway,<br />

and double-crosses of maize.<br />

Crop Sci., 10:157-159.<br />

WHEAT, J.G., FREY, K.J. 1961.<br />

Number of lines needed in oatvariety<br />

purification. Crop Sci.,<br />

53:39-41.<br />

ZEVEN, A.C. 1980. The spread<br />

of bread wheat over the old world<br />

since the neolithicum <strong>as</strong> indicated<br />

by its genotype for hybrid necrosis.<br />

J. Agric. Trad. Bota. Appl., 27:19-<br />

45.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 63


Pesquisa<br />

Malária em camundongos<br />

imunodeficientes<br />

A malária experimental por Pl<strong>as</strong>modium chabaudichabaudi em camundongo scid<br />

Fabiana Martins Batista Motta<br />

Mestre em Par<strong>as</strong>itologia (Unicamp).<br />

fabiana@cemib.unicamp.br<br />

Ana Maria Aparecida Guaraldo<br />

Profa. Dra. Do Instituto de Biologia –<br />

Departamento de Par<strong>as</strong>itologia (Unicamp);<br />

Diretora do CEMIB (Centro Multidisciplinar<br />

para Investigação Biológica).<br />

guaraldo@cemib.unicamp.br<br />

Imagens cedid<strong>as</strong> pelos autores<br />

1. Introdução<br />

malária é um dos<br />

maiores desafios de<br />

saúde pública que afeta<br />

o desenvolvimento dos<br />

países mais pobres. Segundo<br />

a OMS, a cada ano são registrados<br />

aproximadamente 300-500 milhões<br />

de c<strong>as</strong>os e 1 milhão de mortes<br />

por malária, a<strong>com</strong>etendo principalmente<br />

crianç<strong>as</strong> menores de cinco anos<br />

e mulheres grávid<strong>as</strong>. Deste número<br />

alarmante, 90% se concentram na África<br />

e os outros 10% estão distribuídos<br />

n<strong>as</strong> Améric<strong>as</strong> Central e do Sul, Sudeste<br />

Asiático e Ilh<strong>as</strong> da Oceania (RBM –<br />

OMS).<br />

Na América Latina, 99% ocorrem<br />

na Amazônia br<strong>as</strong>ileira, dos quais<br />

78% dos c<strong>as</strong>os relatados referem-se ao<br />

Pl<strong>as</strong>modium vivax e 22% ao Pl<strong>as</strong>modium<br />

falciparum (Fun<strong>as</strong>a-2002).<br />

A malária murina é útil na pesquisa<br />

científica, pois a escolha de linhagem<br />

do hospedeiro e do par<strong>as</strong>ita<br />

pode simular a doença humana. O P.<br />

chabaudi chabaudi tem sido adotado<br />

pelos pesquisadores <strong>com</strong>o modelo<br />

para estudar imunidade adquirida para<br />

o estágio eritrocítico, pois é um par<strong>as</strong>ita<br />

de roedor equivalente ao P. falciparum.<br />

Estudos demonstraram que a<br />

imunidade na malária depende de linfócitos<br />

T e B malária-específica e seus<br />

respectivos anticorpos, onde célul<strong>as</strong> T<br />

regulam a f<strong>as</strong>e inicial da infecção e <strong>as</strong><br />

célul<strong>as</strong> B e anticorpos se encarregam<br />

de finalizar a infecção (Meding & Langhorne,<br />

1991).<br />

A importância d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> T<br />

CD4+ na resolução do estágio sangüíneo<br />

da infecção por P. chabaudi linhagem<br />

AS tem sido estabelecida <strong>com</strong><br />

b<strong>as</strong>e na incapacidade do camundongo<br />

nude, camundongo scid e camundongo<br />

deficiente de célula T CD4+<br />

para controlar a infecção. O mecanismo<br />

pelo qual <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> T CD4+<br />

fornecem proteção imune tem sido<br />

alvo de recentes e intensiv<strong>as</strong> investigações.<br />

Com b<strong>as</strong>e no padrão de<br />

produção de citocin<strong>as</strong> e na habilidade<br />

em promover ajuda para <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> B,<br />

foi demonstrado que célul<strong>as</strong> T CD4+<br />

correspondem ao tipo inflamatório ou<br />

subconjunto Th1, que predominam<br />

durante a f<strong>as</strong>e aguda ou inicial da<br />

malária, seguida pelo aparecimento,<br />

durante a f<strong>as</strong>e crônica ou tardia da infecção,<br />

d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> Th2, que são capazes<br />

de induzir a produção de anticorpos<br />

Pl<strong>as</strong>modium-específico e citocin<strong>as</strong>,<br />

<strong>com</strong>o IL-4 e IL-10 (Larghorne<br />

et al. 1998). Conclusões similares foram<br />

alcançad<strong>as</strong> por Taylor-Robinson<br />

em 1996.<br />

Além dos linfócitos T CD4+, linfócitos<br />

T CD8+ também contribuem<br />

para o desenvolvimento de imunidade<br />

adquirida para infecção por P. chabaudi<br />

AS. Nos estudos realizados por Podoba<br />

& Stevenson, 1991, a depleção de<br />

célul<strong>as</strong> T CD4+ provocou significativo<br />

aumento da par<strong>as</strong>itemia já no 7º dia<br />

da infecção. Em contr<strong>as</strong>te, na ausência<br />

de linfócitos T CD8+, a infecção<br />

aguda <strong>com</strong> P. chabaudi AS foi definitivamente<br />

resolvida. No entanto, du<strong>as</strong><br />

crises recorrentes de par<strong>as</strong>itemia foram<br />

observad<strong>as</strong> durante a f<strong>as</strong>e de eliminação,<br />

que requisitou mais de 5 seman<strong>as</strong><br />

em vez de 4 seman<strong>as</strong> , característica<br />

dessa infecção em C57BL/<br />

6, demonstrando então a contribuição<br />

que o linfócito T CD8+ exerce para a<br />

imunidade adquirida na malária.<br />

As célul<strong>as</strong> NK, definid<strong>as</strong> <strong>com</strong>o<br />

célul<strong>as</strong> citotóxic<strong>as</strong> , dotad<strong>as</strong> de<br />

64 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


morfologia predominante de grande<br />

linfócito granular, possuem a habilidade<br />

de secretar <strong>as</strong> citoquin<strong>as</strong> INF-gama e<br />

TNF-alfa, em resposta à infecção por<br />

par<strong>as</strong>it<strong>as</strong> intracelulares e ainda<br />

respondem à indução pela IL-12. As<br />

célul<strong>as</strong> NK são célul<strong>as</strong> efetor<strong>as</strong> da<br />

resistência inata contra agentes<br />

infecciosos (Scott et al 1995).<br />

Seix<strong>as</strong> et al. (2001), <strong>com</strong>provaram<br />

a capacidade de célul<strong>as</strong> dendrític<strong>as</strong><br />

produzirem TNF-alpha dentro<br />

de 30 minutos da exposição aos esquizontes<br />

de P. chabaudi chabaudi, independentemente<br />

de célul<strong>as</strong> T ou NK.<br />

Portanto, o estágio eritrocítico deste<br />

par<strong>as</strong>ita ativa célul<strong>as</strong> dendrític<strong>as</strong> diretamente,<br />

propiciando a rápida ativação<br />

de célul<strong>as</strong> Th1 e indução de imunidade.<br />

Apesar de estudos <strong>com</strong>provarem<br />

que <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> NK e su<strong>as</strong> citocin<strong>as</strong><br />

exercem papel importante no controle<br />

imunológico da malária, sabe-se que<br />

fatores genéticos representam um dos<br />

maiores determinantes da resistência<br />

do hospedeiro contra a malária. Estudos<br />

sobre o modelo P. chabaudi AS,<br />

usando análise genética,<br />

mostraram que a<br />

atividade da célula NK<br />

e a resistência a esse<br />

par<strong>as</strong>ita segregam independentemente<br />

(Skamene et al 1983).<br />

De acordo <strong>com</strong> Fortin<br />

et al (2002), <strong>as</strong> linhagens<br />

A/J, BALB/c,<br />

AKR, DBA/1, C3H/<br />

HeJ, SJL e 129/ICR são<br />

susceptíveis ao P. chabaudi,<br />

enquanto que<br />

<strong>as</strong> linhagens C57BL/6,<br />

B10. A, CBA, DBA/2 e<br />

C57L são resistentes ao<br />

P. chabaudi.<br />

A linhagem P.<br />

chabaudi chabaudi<br />

CR, não-letal, representa a malária experimental<br />

de autocontrole, apropriada<br />

para estudos de imunidade em estágio<br />

sangüíneo (Garnica et al., 2002).<br />

Esta linhagem propicia o estudo da f<strong>as</strong>e<br />

crônica da infecção em linhagens imunodeficientes.<br />

O objetivo deste trabalho é<br />

estudar a importância d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> NK<br />

no controle do P. chabaudi em camundongos<br />

mediante a <strong>com</strong>paração<br />

Figura 01<br />

da par<strong>as</strong>itemia, após inoculação do<br />

par<strong>as</strong>ita n<strong>as</strong> linhagens de camundongos<br />

scid e C57BL/6 Knockout para interfero-gama.<br />

2. Material e Métodos<br />

Camundongos. Quatro linhagens de<br />

camundongos machos livres de<br />

patógenos específicos (SPF), <strong>com</strong> 6 a<br />

8 seman<strong>as</strong> de idade, provenientes do<br />

CEMIB/Unicamp foram adotad<strong>as</strong> :<br />

C.B17 scid/Uni (12 animais); BALB/c/<br />

Uni (48 animais); C57BL/6 knockout<br />

(KO) para interferon gama (4 animais);<br />

e C57BL/6/Uni (3 animais) .<br />

Pl<strong>as</strong>modium chabaudi chabaudi<br />

CR. A linhagem de P. chabaudi chabaudi<br />

(CR) foi cedida pelo Prof. Dr.<br />

Heitor F. Andrade Junior, do Instituto<br />

de Medicina Tropical de São Paulo. Um<br />

camundongo da linhagem C57BL/6 foi<br />

a fonte de P. chabaudi. Os par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />

foram mantidos mediante p<strong>as</strong>sagens<br />

semanais sucessiv<strong>as</strong> no camundongo<br />

BALB/c Uni por 12 seman<strong>as</strong> antes da<br />

infecção do scid e KO. Após este<br />

período um “pool” de célul<strong>as</strong><br />

sangüíne<strong>as</strong> foi coletado da veia da cauda<br />

dos animais, para o preparo do i-<br />

noculo em solução NaCl 0,15 M. A<br />

contagem dest<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> foi realizada<br />

em câmara de Neubauer sob microscopia<br />

de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e.<br />

A manutenção do P. chabaudi<br />

chabaudi CR foi realizada mediante<br />

repiques semanais do inoculo de 10 7<br />

hemáci<strong>as</strong> par<strong>as</strong>itad<strong>as</strong> em camundongos<br />

macho BALB/c/Uni mantidos em<br />

isoladores. Amostr<strong>as</strong> de esfregaços também<br />

foram corad<strong>as</strong> pelo Giemsa, para<br />

avaliação d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de Pl<strong>as</strong>modium.<br />

Manutenção dos animais em isolador<br />

de PVC. Os camundongos infectados<br />

foram mantidos em isolador<br />

de plástico flexível (LNF – Ind. & Com.<br />

Ltda.), de pressão positiva, <strong>com</strong> 16 a<br />

18 troc<strong>as</strong> de ar por hora, no Departamento<br />

de Par<strong>as</strong>itologia da UNICAMP.<br />

O material necessário para a manutenção<br />

dos animais (gaiol<strong>as</strong>, tamp<strong>as</strong>,<br />

ração, água, maravalha, bebedouros,<br />

pinç<strong>as</strong> etc.) foi devidamente submetido<br />

a processos de esterilização em autoclave,<br />

conforme norm<strong>as</strong> de procedimentos<br />

adotados pelo CEMIB.<br />

Determinação da Par<strong>as</strong>itemia.<br />

Amostr<strong>as</strong> de 20 ml de sangue foram<br />

coletad<strong>as</strong> <strong>com</strong> micropipeta da cauda<br />

do camundongo infectado. A coleta<br />

aconteceu a intervalos semanais até a<br />

6 ª semana de infecção. Após este<br />

período, os intervalos para determinação<br />

da par<strong>as</strong>itemia<br />

foram de 15 di<strong>as</strong>. Para<br />

a contagem de par<strong>as</strong>it<strong>as</strong>,<br />

o sangue foi diluído<br />

1000 x em NaCl<br />

0,15 M. As hemáci<strong>as</strong><br />

par<strong>as</strong>itad<strong>as</strong> e os par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />

livres foram contados<br />

em câmara de<br />

Neubauer sob microscopia<br />

de f<strong>as</strong>e (Figura<br />

1). Os valores foram<br />

expressos em<br />

número de hemáci<strong>as</strong><br />

par<strong>as</strong>itad<strong>as</strong> x 10 8 /mL.<br />

Os camundongos do<br />

experimento foram infectados<br />

<strong>com</strong> 10 6 par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />

(hemáci<strong>as</strong> par<strong>as</strong>itad<strong>as</strong><br />

+ par<strong>as</strong>it<strong>as</strong><br />

livres) mediante injeção intraperitoneal.<br />

No decorrer do experimento foi<br />

registrada a morta-lidade dos animais.<br />

Monitoramento imunológico da<br />

linhagem C.B-17 scid/Uni. A cl<strong>as</strong>sificação<br />

dos animais homozigotos ou<br />

heterozigotos da linhagem C.B-17 scid/<br />

Uni foi realizada pelo teste Dot-Elisa<br />

para imunoglobulin<strong>as</strong>. (Alves et al.,<br />

2002).<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 65


Figura 2 - Média e erro padrão dos valores de par<strong>as</strong>itemia em camundongos C.B-<br />

17 SCID, BALB/c/Uni, C57BL/6 KO para interferon gama durante 6 seman<strong>as</strong> de<br />

infecção <strong>com</strong> Pl<strong>as</strong>modium chabaudi chabaudi (CR) e durante <strong>as</strong> seman<strong>as</strong> 1, 2, 3 e<br />

4 nos camundongos C57BL/6/Uni.<br />

Mouse Antibody Production (MAP<br />

– teste). Considerando que a linhagem<br />

do Pl<strong>as</strong>modium chabaudi chabaudi<br />

(CR) foi proveniente de manutenção<br />

“in vivo” em animais <strong>com</strong> padrão sanitário<br />

desconhecido, tornou-se<br />

necessário avaliar os patógenos <strong>as</strong>sociados<br />

ao par<strong>as</strong>ita. Desta forma, os camundongos<br />

imuno<strong>com</strong>petentes foram<br />

avaliados quanto à presença de 11<br />

antígenos de patógenos murinos<br />

(MHV-3, TMEV-GDVII, SENDAI, MVM,<br />

LCM, Ectromelia, Adenovirus, Rotavirus,<br />

Reovirus tipo 3, Mycopl<strong>as</strong>ma pulmonis<br />

e Toxopl<strong>as</strong>ma gondii). Os camundongos<br />

SPF inoculados <strong>com</strong> o Pl<strong>as</strong>modium<br />

foram mantidos em isoladores<br />

por mais de 60 di<strong>as</strong> e o respectivo soro<br />

coletado para análise sorológica de<br />

patógenos murinos pelo Laboratório<br />

de Controle de Qualidade do CEMIB.<br />

Estatística. Os valores da par<strong>as</strong>itemia<br />

dos três grupos de animais (BALB/c/<br />

Uni, C.B-17 scid/Uni, C57BL/6 KO) no<br />

intervalo d<strong>as</strong> seis primeir<strong>as</strong> seman<strong>as</strong><br />

foram submetidos a Análise de Variância<br />

de Medid<strong>as</strong> Repetid<strong>as</strong> e o teste<br />

de Duncan, executados pelo programa<br />

estatístico SAS (SAS Institute 1987).<br />

3. Resultados<br />

A maior par<strong>as</strong>itemia da linhagem<br />

C.B-17 scid aconteceu por volta<br />

da 6 ª semana e uma recrudescência<br />

foi observada na 12 ª semana. No controle<br />

correspondente, BALB/c/Uni , a<br />

maior par<strong>as</strong>itemia aconteceu na 10 ª<br />

semana.<br />

A análise estatística <strong>com</strong>parativa<br />

entre <strong>as</strong> linhagens BALB/c e scid<br />

n<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> 6 seman<strong>as</strong> de infecção<br />

permitiu constatar a capacidade do<br />

animal <strong>com</strong>petente em controlar a<br />

par<strong>as</strong>itemia na 6 ª semana (Figura 2).<br />

Os camundongos C57BL/6 KO<br />

para INF-g atingiram níveis mais elevados<br />

de par<strong>as</strong>itemia quando <strong>com</strong>parados<br />

<strong>com</strong> o seu controle C57BL/6 (Figura<br />

2) e também em relação ao modelo<br />

scid (Figura 2). A maior par<strong>as</strong>itemia<br />

em KO ocorreu na 10 ª semana.<br />

Foi feita a <strong>com</strong>paração estatística<br />

entre os valores médios de par<strong>as</strong>itemia<br />

durante <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> seis seman<strong>as</strong><br />

no grupo de animais C.B-17 scid,<br />

BALB/c/Uni e KO para INF-γ . Os resultados<br />

evidenciaram o aumento marcante<br />

de par<strong>as</strong>itemia em animais KO<br />

e scid, resultando em diferença significativa<br />

entre a 1 ª e 6 ª seman<strong>as</strong> de infecção<br />

(Figura 2).<br />

Durante o período máximo de<br />

observação, correspondente a 23 seman<strong>as</strong><br />

para <strong>as</strong> linhagens KO e scid,<br />

não foi observada mortalidade em KO.<br />

Entretanto, do grupo de doze scid,<br />

quatro morreram: um, na segunda semana;<br />

um, na décima semana; um, na<br />

décima terceira semana; e, outro, na<br />

décima sexta.<br />

É importante ressaltar que<br />

houve mortalidade dos camundongos<br />

BALB/c/Uni (2/48), linhagem de manutenção<br />

do P. chabaudi: um, na décima<br />

primeira semana; e, outro, na décima<br />

nona semana após infecção.<br />

Os camundongos scid são considerados<br />

homozigotos quando os<br />

níveis de imunoglobulina sérica forem<br />

inferiores a 5 mg/ml. O critério de<br />

seleção dos animais homozigotos scid/<br />

scid foi adotado para seleção d<strong>as</strong> matrizes<br />

na colônia do CEMIB/Unicamp,<br />

<strong>com</strong> o objetivo de minimizar e retardar<br />

a expressão do fenótipo “leaky”<br />

(capacidade de alguns camundongos<br />

scid desenvolver um limitado número<br />

de célul<strong>as</strong> T e B entre 3 e 9 meses de<br />

idade) (Bosma et al 1988).<br />

Todos os animais scid adotados<br />

nos experimentos apresentaram-se<br />

homozigotos.<br />

Todos os soros testados d<strong>as</strong><br />

linhagens de camundongos imuno<strong>com</strong>petentes<br />

do experimento, <strong>as</strong>sim<br />

<strong>com</strong>o o soro do animal infectado no<br />

Instituto de Medicina Tropical de São<br />

Paulo (fonte do P. chabaudi chabaudi<br />

linhagem CR), que foi mantido durante<br />

65 seman<strong>as</strong>, revelaram-se negativos<br />

para os 11 antígenos de patógenos<br />

murinos avaliados (MHV-3,<br />

TMEV-GDVII, SENDAI, MVM, LCM, Ectromelia,<br />

Adenovirus, Rotavirus, Reovirus<br />

tipo 3, Mycopl<strong>as</strong>ma pulmonis e<br />

Toxopl<strong>as</strong>ma gondii).<br />

4. Discussão<br />

O ambiente controlado – isoladores<br />

– onde são mantidos os animais<br />

SPF (Specific Pathogen Free) permitiu<br />

o controle dos fatores externos<br />

evitando riscos de contaminação dos<br />

animais experimentais, o que poderia<br />

influenciar e <strong>com</strong>prometer os resultados<br />

da pesquisa. Em se tratando de<br />

camundongos da linhagem C.B-17 scid,<br />

o fato de a colônia ser mantida em<br />

condições ambiente e sanitária controlad<strong>as</strong><br />

colabora para o nível baixo de<br />

animais <strong>com</strong> o fenótipo “leaky”. Os<br />

últimos levantamentos sorológicos<br />

detectaram o fenótipo “leaky” em 9%<br />

da colônia <strong>com</strong> idade de 40 seman<strong>as</strong><br />

(Alves et al 2002). Camundongos scid<br />

são desprovidos de resposta imune<br />

dependentes de linfócitos T e B. Desta<br />

maneira, são muito susceptíveis a<br />

patógenos oportunist<strong>as</strong> que podem<br />

ser bactéri<strong>as</strong>: (Proteus mirabilis, Streptococcus<br />

viridans e Escherichia coli)<br />

e vírus (vírus da hepatite murina<br />

(MHV), vírus Sendai e vírus respiratório<br />

66 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


murino), e ainda o Pneumocystis carinii.<br />

(Percy & Barta 1993).<br />

Um exemplo de co-infecção<br />

<strong>com</strong> P. chabaudi e a respectiva interferência<br />

no desempenho de resposta<br />

imune foi estudado por Yoshida et al<br />

(2000) onde constataram que camundongos<br />

A/J susceptíveis à malária, infectados<br />

<strong>com</strong> P. chabaudi e coinfectados<br />

<strong>com</strong> Schistosoma mansoni desenvolveram<br />

resistência ao Pl<strong>as</strong>modium.<br />

Os resultados desse estudo mostraram<br />

que, apesar de o S. mansoni na f<strong>as</strong>e<br />

de oviposição, induzir resposta Th2,<br />

dentro de cert<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>, a coinfecção<br />

Schistosoma/Pl<strong>as</strong>modium promoveu<br />

resposta imune tipo Th1 no<br />

camundongo A/J, tornando-o resistente<br />

ao Pl<strong>as</strong>modium.<br />

Célul<strong>as</strong> tipo Th1 são responsáveis<br />

por mediar o controle da par<strong>as</strong>itemia<br />

aguda através da ativação de<br />

mecanismos imune mediados por célula,<br />

enquanto que <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> tipo Th2<br />

mediam o crescimento e diferenciação<br />

de célul<strong>as</strong> B para controlar a infecção<br />

através de mecanismos dependentes<br />

de anticorpos (Yap et al 1994).<br />

Skamene et al (1983) descreveram<br />

a inexistência de relação<br />

entre resistência na infecção <strong>com</strong> Pl<strong>as</strong>modium<br />

chabaudi e atividade de célul<strong>as</strong><br />

NK. Em seu experimento mostraram<br />

que camundongo C57BL/6 bg/<br />

bg deficiente de célula NK obteve a<br />

resolução da infecção por P. chabaudi<br />

da mesma forma que o seu camundongo<br />

parental +/+.<br />

Kitaguchi et al (1996) injetaram<br />

célul<strong>as</strong> NK de camundongo C57BL/6<br />

infectado <strong>com</strong> P. chabaudi em outro<br />

camundongo que também seria<br />

infectado. Essa transferência não<br />

conferiu proteção, pois o curso desta<br />

infecção foi similar ao do camundongo<br />

controle. Entretanto, tratamento de<br />

camundongos <strong>com</strong> anticorpos<br />

monoclonais anti-NK resultou no<br />

aumento da morta- lidade. Concluíram,<br />

então, que célul<strong>as</strong> NK podem não<br />

impedir o aumento da par<strong>as</strong>itemia,<br />

m<strong>as</strong> el<strong>as</strong> podem exibir um papel<br />

importante na recuperação da par<strong>as</strong>itemia,<br />

provavelmente por secretar<br />

INF-γ, e conseqüentemente diminuir<br />

a mortalidade em infecções por P.<br />

chabaudi.<br />

O tratamento de camundongo<br />

susceptível A/J <strong>com</strong> IL-12 murina<br />

reduziu muito a par<strong>as</strong>itemia e<br />

melhorou a sobrevida do hospedeiro.<br />

Essa proteção induzida por IL-12 é<br />

mediada por INFγ- e TNF-α secretados<br />

por célul<strong>as</strong> NK durante infecção inicial<br />

(Stevenson et al 1995; Mohan et al<br />

1997). Além disso, foi observado que<br />

em camundongos deficientes de receptor<br />

para INF-γ (Balmer et al 2000;<br />

Favre et al 1997) e camundongo KO<br />

para INF-γ (Su & Stevenson 2000),<br />

infectados <strong>com</strong> P. chabaudi AS,<br />

ocorreu incapacidade para reduzir a<br />

par<strong>as</strong>itemia primária e alta<br />

mortalidade. Batchelder et al 2003,<br />

<strong>com</strong>provaram também em seus<br />

estudos, a importância que o INF-γ<br />

exerce na imunidade celular contra P.<br />

chabaudi adami.<br />

Camundongos KO para IL-12<br />

(gene p 40) infectados <strong>com</strong> P.<br />

chabaudi AS, tiveram os níveis de INFg<br />

diminuídos bem <strong>com</strong>o IgG2a e IgG3<br />

Th1-dependente. Com esses<br />

resultados concluiu-se que a citocina<br />

IL-12 produzida na f<strong>as</strong>e inicial do<br />

estágio sangüíneo da infecção por P.<br />

chabaudi AS é importante para indução<br />

de resposta imune INF-γ-dependente<br />

tipo Th1 responsável pelo controle da<br />

f<strong>as</strong>e aguda da infecção e sobrevivência<br />

do hospedeiro, influenciando<br />

fortemente a imunidade tipo Th2<br />

mediada por anticorpo necessária para<br />

resolução da f<strong>as</strong>e crônica (Su &<br />

Stevenson, 2002; B<strong>as</strong>tos et al, 2002).<br />

Os resultados obtidos em<br />

animais KO para INF-γ corroboram os<br />

de Su & Stevenson (2000) no que se<br />

refere à incapacidade de reduzir a par<strong>as</strong>itemia.<br />

Por se tratar de linhagem<br />

distinta de P. chabaudi, a mortalidade<br />

observada em nossos animais KO foi<br />

zero. Não foi possível observar o clearance<br />

do par<strong>as</strong>ita.<br />

Os modelos animais utilizados<br />

em nosso trabalho, scid, KO para IFNγ<br />

e BALB/c são considerados<br />

geneticamente susceptíveis por Fortin<br />

et al (2002).<br />

A linhagem scid, cuja única<br />

fonte de resposta imune é a célula NK,<br />

revelou-se extremamente suceptível<br />

ao P. chabaudi CR, <strong>com</strong> 25% de morte<br />

em 12 animais.<br />

Em C57BL/6 não se observou a<br />

par<strong>as</strong>itemia além d<strong>as</strong> quatro seman<strong>as</strong><br />

porque trata-se de linhagem resistente<br />

ao Pl<strong>as</strong>modium.<br />

As célul<strong>as</strong> NK sozinh<strong>as</strong> não controlam<br />

a par<strong>as</strong>itemia. Entretanto, em<br />

camundongos C57BL/6 KO para INFγ,<br />

os picos par<strong>as</strong>itêmicos foram muito<br />

altos, levando à conclusão de que, <strong>as</strong><br />

célul<strong>as</strong> NK, provavelmente devido à<br />

produção de inrterferon gama, contribuem<br />

para a redução da par<strong>as</strong>itemia.<br />

Estudos (Prak<strong>as</strong>h et al, 2003)<br />

demonstram correlação entre falência<br />

renal aguda e c<strong>as</strong>os de malária severa<br />

por P. falciparum (79,6%), o que conduz<br />

à necessidade de avaliar a ocorrência<br />

de lesões histopatológic<strong>as</strong> renais<br />

provocad<strong>as</strong> por P. chabaudi CR em<br />

camundongos, o que possivelmente<br />

contribuiria para <strong>com</strong> a mortalidade<br />

desses animais.<br />

Referênci<strong>as</strong> Bibliográfic<strong>as</strong><br />

ALVES, D P; SAKURADA, J K;<br />

ZANFOLIN, M; SCARELLI, C A A;<br />

EDIVANIA, V; PASSOS, L A C;<br />

GIGLIOLI, R; GUARALDO, A M A.<br />

Leaky phenotype frequency<br />

among CB-17 scid/Uni mice reared<br />

in pl<strong>as</strong>tic isolator. Abstract P137<br />

on 53 rd. AALAS National Meeting.<br />

October 27-31, San Antônio –<br />

Tex<strong>as</strong> (USA), p. 135, 2002.<br />

BALMER, P; ALEXANDER, J; PHILLIPS,<br />

R S. Protective immunity to<br />

erythrocytic Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />

AS infection involves INFg-mediated<br />

responses and a celular infiltrate<br />

to the liver. Par<strong>as</strong>itology,v.<br />

121, p. 473-482, 2000.<br />

BASTOS, K. R.; BARBOZA, R.; ELIAS, R.<br />

M.; SARDINHA, L. R.; GRISOTTO,<br />

M. G.; MARINHO, C. R.;<br />

AMARANTE-MENDES, G. P.;<br />

ALVAREZ, J. M.; LIMA, M. R. Impaired<br />

macrophage responses may<br />

contribute to exacerbation of bloodstage<br />

Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />

chabaudi malaria in interleukin-<br />

12-deficient mice. Journal of<br />

Interferon Cytokine Research,<br />

v. 22, n. 12, p. 1191-1199, 2002.<br />

BATCHELDER, J. M.; BURNS, J. M. Jr.;<br />

CIGEL, F. K.; LIEBERG, H.; MAN-<br />

NING, D. D.; PEPPER, B. J.; YANEZ,<br />

D. M.; van der HEYDE, H.;<br />

WEIDANZ, W. P. Pl<strong>as</strong>modium<br />

chabaudi adami: inteferon-gamma<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 67


ut not IL-12 is essential for the<br />

expression of cell-mediated immunity<br />

against blood-stage par<strong>as</strong>ite<br />

in mice. Experimental Par<strong>as</strong>itology,<br />

v. 105, n. 2, p. 159-166,<br />

2003.<br />

BOSMA, G C; FRIED, M; CUSTER, R P;<br />

CARROL, A; GIBSON, D M; BOS-<br />

MA, M J. Evidence of funcional<br />

lymphocytes in some (leaky) scid<br />

mice. Journal Exp Med. v. 167,<br />

n.3, p. 1016-1033. Março, 1988.<br />

FAVRE, N; RYFFEL, B; BORDMANN,<br />

G; RUDIN, W.The course of Pl<strong>as</strong>modium<br />

chabaudi chabaudi infection<br />

interferon-gamma receptor<br />

deficient mice. Par<strong>as</strong>ite Immunology,<br />

v.19, n. 8, p. 375-383,<br />

Agosto 1997.<br />

FORTIN, A; STEVENSON, M M; GROS,<br />

P.Complex genetic control of susceptibility<br />

to malaria in mice. Genes<br />

and Immunity. n. 3, p. 177-<br />

186, 2002.<br />

GARNICA, M R; SOUTO, J T; SILVA, J S;<br />

JR, H F A. Stromaal cell deved<br />

factor 1 synthesis by spleen cells in<br />

rodent malaria, and the effects of<br />

in vivo supplementation of SDF-<br />

1a and CXCR4 receptor blocker.<br />

Immunnology Letters, v. 83, n.1,<br />

p. 47-53, Agosto 2002.<br />

KITAGUSHE, T; NAGOYA, M; AMA-<br />

NO, T; SUZUKI, M; MINAMI, M.<br />

Analysis of roles of natural killer<br />

cells in defense against Pl<strong>as</strong>modium<br />

chabaudi chabaudi in mice.<br />

Par<strong>as</strong>itology Research. n. 82, p.<br />

352-357, 1996.<br />

LANGHORNE, J; CROSS, C; SEIXAS, E;<br />

LI, C; VON DER WEID, T. A role for<br />

cells in the development of T cell<br />

helper function in a malaria infection<br />

in mice. Immunology, v.95,<br />

p.1730-1734, 1998.<br />

MEDING, S J & LANGHORNE, J.<br />

CD4 + T cells and B cells are necessary<br />

for the transfer of protective<br />

immunity to Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />

chabaudi. Europe Journal<br />

Immunology. n. 21, p. 1433-<br />

1438, 1991.<br />

MINISTÉRIO DA SAÚDE: GOVERNO DO BRASIL.<br />

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (FU-<br />

NASA). Disponível em: http://<br />

www.fun<strong>as</strong>a.gov.br. Acesso em 24<br />

junho 2003.<br />

MOHAN, K; MOULIN, P; STEVENSON,<br />

M M. Natural killer cell cytokine<br />

production, not cytotoxity, contributes<br />

to resistance against bloodstage<br />

Pl<strong>as</strong>modium chabaudi AS<br />

infection. The Journal of Immunology,<br />

v.159, n. 10, p. 4990-<br />

4998, Novembro 1997.<br />

PERCY, D H & BATA, J R. Spontaneous<br />

and experimental infections in scid<br />

and scid/beige mice. Laboratory<br />

Animal Science. v. 43, n. 2, p.<br />

127-132, Abril, 1993.<br />

PODOBA, J E; STEVENSON, M M. CD4+<br />

and CD8+ T Lymphocytes both<br />

contribute to acquired immunity<br />

to blood-stage Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />

AS. Infection and Immunity,<br />

v. 59, n.1, p. 51-58, Janeiro<br />

1991.<br />

PRAKASH, J.; SINGH, A. K.; KUMAR,<br />

N. S.; SAXENA, R. K. Acute Renal<br />

Failure in Pl<strong>as</strong>modium vivax malaria.<br />

J. Assoc. Physicians India,<br />

v. 51, p. 265-267, 2003.<br />

SAS INSTITUTE, INC. 1987. S. A. S. User’s<br />

Guide: Satistics, 6 ª ed., Cary, N. C.<br />

ROLL BACK MALARIA, WORLD HEALTH ORGA-<br />

NIZATION. (RBM – OMS). Disponível<br />

em: http://www.rbm.who.int/<br />

cmc_upload/0/000/015/372/<br />

RBMInfosheet_1.htm. Acesso em<br />

24 de junho de 2003.<br />

SCOTT, P. TRINCHIERI, G. The role of<br />

natural killer cells in host-par<strong>as</strong>ite<br />

interactions. Current opinion in<br />

Immunology, v. 7, p. 34-40, 1995.<br />

SEIXAS, E; CROSS, C; QUIN, S; LAN-<br />

GHORNE, J. Direct activation of<br />

dendritic cells by the malaria par<strong>as</strong>ite,<br />

Pl<strong>as</strong>modium chabaudi chabaudi.<br />

Europe Journal Immunology,<br />

v. 31, n. 10, p. 2970-<br />

2978, Outubro 2001.<br />

SKAMENE, E; STEVENSON, M M; LE-<br />

MIEUX, S. Murine malaria: dissociation<br />

of natural killer (NK) cell<br />

activity and resistance to Pl<strong>as</strong>modium<br />

chabaudi. Par<strong>as</strong>ite Immunology,<br />

v. 5, p. 557-565, Abril<br />

1983.<br />

STEVENSON, M M; TAM, M; WOLF, S F;<br />

SHER, A. IL-12-Induced protection<br />

against blood-stage Pl<strong>as</strong>modium<br />

chabaudi AS requires INF-g and<br />

INF-a and occurs via a Nitric Oxide-dependent<br />

mechanism. The<br />

Journal of Immunology, n. 155,<br />

p. 2545-2556, 1995.<br />

SU, Z & STEVENSON, MM. Central role<br />

of endogenous gamma interferon<br />

in protective immunity against<br />

blood-stage Pl<strong>as</strong>modium chabaudi<br />

AS infection. Infection and<br />

Immunity, v. 68, n. 8, p. 4399-<br />

4406, Agosto, 2000.<br />

SU, Z; STEVENSON, M M. IL-12 is<br />

required for antibody-mediated<br />

protective immunity against bloodstage<br />

Pl<strong>as</strong>modium chabaudi AS<br />

malaria infection in mice.The Journal<br />

of Immunology, v. 168, n.3,<br />

p. 1348-1355, Fevereiro 2002.<br />

TAYLOR-ROBINSON, A. W. & PHI-<br />

LLIPS, STEPHEN R. Reconstitution<br />

of B-cell-depleted mice with B<br />

cells restores Th2-Type immune<br />

responses during Pl<strong>as</strong>modium<br />

chabaudi chabaudi infection. Infection<br />

and Immunity, v. 64, n.<br />

1, p. 366-370, 1996.<br />

YAP, G S; JACOBS, P; STEVENSON, M<br />

M. Th cell regulation of host resistance<br />

to blood-stage Pl<strong>as</strong>modium<br />

chabaudi AS. Resource Immunology,<br />

v.145, n.6, p. 419-422,<br />

1994.<br />

YOSHIDA, A; MARUYAMA, H;<br />

KUMAGAL, T; AMANO, T;<br />

KOBAYASHI, F; ZHANG, M;<br />

HIMENO, K; OHTA, N.<br />

Schistosoma mansoni infection<br />

cancels the susceptibility to<br />

Plsamodium chabaudi through<br />

induction of type 1 immune<br />

responses in A/J mice.<br />

International Immunology, v.<br />

12, n. 8, p. 117-1125, 2000.<br />

68 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Pesquisa<br />

Micotoxin<strong>as</strong><br />

em alimentos<br />

Progressos na imunodetecção<br />

Elisabete Yurie Sataque Ono<br />

Dra., Prof., Departamento de Bioquímica e<br />

<strong>Biotecnologia</strong> - Centro de Ciênci<strong>as</strong> Exat<strong>as</strong><br />

Universidade Estadual de Londrina<br />

eysono@uel.br<br />

Aline Maísa Mendes<br />

Especialista em Bioquímica Aplicada<br />

Departamento de Bioquímica e <strong>Biotecnologia</strong><br />

Centro de Ciênci<strong>as</strong> Exat<strong>as</strong>,<br />

Universidade Estadual de Londrina<br />

alinempinheiro@yahoo.<strong>com</strong>.br<br />

Paula Garcia Meirelles<br />

Pós-graduanda do Programa de Mestrado em<br />

<strong>Biotecnologia</strong>, Departamento de Bioquímica e<br />

<strong>Biotecnologia</strong>, Centro de Ciênci<strong>as</strong> Exat<strong>as</strong>,<br />

Universidade Estadual de Londrina<br />

paulag@uel.br<br />

Elisa Yoko Hirooka<br />

Doutora, Professora, Depto. de Tecnologia de<br />

Alimentos e Medicamentos<br />

Centro de Ciênci<strong>as</strong> Agrári<strong>as</strong><br />

Universidade Estadual de Londrina<br />

hirooka@uel.br<br />

Mario Augusto Ono<br />

Doutor, Professor, Departamento de Ciênci<strong>as</strong><br />

Patológic<strong>as</strong> - Centro de Ciênci<strong>as</strong> Biológic<strong>as</strong><br />

Universidade Estadual de Londrina<br />

marioono@uel.br<br />

Fotos cedid<strong>as</strong> pelos autores<br />

Introdução<br />

Micotoxin<strong>as</strong> são metabólitos secundários<br />

tóxicos produzidos por fungos<br />

que freqüentemente contaminam<br />

produtos agrícol<strong>as</strong>, no campo, durante<br />

a colheita, transporte e estocagem.<br />

Estes <strong>com</strong>postos apresentam estrutur<strong>as</strong><br />

químic<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> e são produzidos<br />

por fungos de campo e de estocagem,<br />

incluindo muit<strong>as</strong> espécies de Fusarium,<br />

Aspergillus e Penicillium (Figura<br />

1) (Ayres, 1979).<br />

Muit<strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong> são capazes<br />

de apresentar uma ampla gama de<br />

efeitos biológicos em vári<strong>as</strong> espécies<br />

animais, incluindo o homem, em concentrações<br />

relativamente baix<strong>as</strong> (i.e.,<br />

na faixa de mg/kg [ppm] a µg/kg<br />

[ppb]).<br />

A ocorrência natural de micotoxin<strong>as</strong><br />

em grãos de cereais pode, além<br />

dos problem<strong>as</strong> de saúde, ter implicações<br />

econômic<strong>as</strong> importantes para diversos<br />

setores <strong>com</strong>erciais incluindo<br />

produtores de grãos, criadores de animais<br />

e aves, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o processadores<br />

de alimentos e rações (Pestka et<br />

al., 1995). As perd<strong>as</strong> acarretad<strong>as</strong> podem<br />

advir da baixa qualidade dos<br />

grãos (Figura 2), baixa produtividade,<br />

baixa performance animal e/ou necessidade<br />

de descontaminação dos<br />

grãos.<br />

Segundo uma estimativa da FAO<br />

(Food and Agriculture Organization)<br />

anualmente cerca de 25% do suprimento<br />

alimentar mundial é contaminado<br />

por micotoxin<strong>as</strong>. Os riscos à<br />

saúde humana <strong>as</strong>sociada à ocorrência<br />

natural de determinad<strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong><br />

resultaram na adoção de medid<strong>as</strong> de<br />

controle em alguns países (FAO, 1997).<br />

O principal meio de eliminar<br />

micotoxin<strong>as</strong> consiste em detectar e<br />

desviar <strong>as</strong> matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> contaminad<strong>as</strong><br />

de produtos destinados ao consumo<br />

humano e animal. A vigilância<br />

analítica permite identificar regiões<br />

geográfic<strong>as</strong> onde <strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong> constituem<br />

um problema recorrente, além<br />

de fornecer uma b<strong>as</strong>e de dados sobre<br />

a exposição humana em estudos epidemiológicos<br />

(Pestka et al. 1995).<br />

Uma vez que o problema relacionado<br />

às micotoxin<strong>as</strong> é difícil de ser<br />

evitado, <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> mais efetiv<strong>as</strong> de<br />

controle dependem de um rigoroso<br />

programa para monitorar a contaminação<br />

em alimentos e rações (Chu, 1984).<br />

Os métodos para análise de<br />

micotoxin<strong>as</strong> incluem cromatografia de<br />

camada delgada (Stockenström et al.,<br />

1994), cromatografia g<strong>as</strong>osa (Sydenham<br />

et al., 1990), cromatografia g<strong>as</strong>osa-espectroscopia<br />

de m<strong>as</strong>sa (Plattner<br />

et al., 1990) e cromatografia líquida<br />

de alta eficiência (CLAE) (Shephard<br />

et al., 1990). Embora a CLAE tenha<br />

sido adotada <strong>com</strong>o um método oficial<br />

Figura 1. Colôni<strong>as</strong> de Fusarium spp. (a),<br />

Aspergillus spp. (b) e Penicillium spp. (c)<br />

em ágar batata dextrose<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 69


Recentemente, foi desenvolvido<br />

um novo método de produção de<br />

anticorpos <strong>com</strong> grande potencial. O<br />

método é b<strong>as</strong>eado em técnic<strong>as</strong> de<br />

biologia molecular e consiste no isolamento<br />

e re<strong>com</strong>binação dos genes que<br />

codificam a região variável dos anticorpos<br />

(Lee & Morgan, 1993). Esta<br />

técnica apresenta vantagens <strong>com</strong>o<br />

baixo custo e possibilidade de manipulação<br />

do DNA que codifica para o<br />

anticorpo a fim de melhorar característic<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>o afinidade e especificidade<br />

(Yau et al., 2003).<br />

Princípios de imunoensaio<br />

Figura 2. Grãos de milho de boa qualidade (a) e de baixa qualidade (b)<br />

para análise de micotoxin<strong>as</strong> (Sydenham<br />

et al., 1996a,b), requer instrumentação<br />

de alto custo, pessoal altamente<br />

treinado, uma pré-limpeza extensiva<br />

da amostra, tornando cada análise<br />

muito demorada.<br />

Nos últimos anos, ocorreu um<br />

grande avanço no uso de imunoensaios<br />

na análise de micotoxin<strong>as</strong> devido à<br />

especificidade, sensibilidade e simplicidade<br />

aliad<strong>as</strong> à rapidez e a possibilidade<br />

de análise de um grande número<br />

de amostr<strong>as</strong> simultaneamente (Hefle,<br />

1995).<br />

Em seguida serão descritos os<br />

princípios básicos de imunoensaios e<br />

alguns dos desenvolvimentos mais recentes<br />

na aplicação de técnic<strong>as</strong> imunoquímic<strong>as</strong><br />

para a determinação de<br />

micotoxin<strong>as</strong> (aflatoxin<strong>as</strong> e fumonisin<strong>as</strong>).<br />

Conceitos básicos<br />

Os imunoensaios são procedimentos<br />

analíticos b<strong>as</strong>eados na ligação<br />

não covalente entre antígeno e anticorpo,<br />

e podem ser desenvolvidos<br />

para detectar o antígeno ou o anticorpo.<br />

Os imunoensaios utilizados na área<br />

de alimentos são b<strong>as</strong>eados na pesquisa<br />

de antígenos.<br />

Os imunoensaios podem ser realizados<br />

<strong>com</strong> anticorpos policlonais,<br />

anticorpos monoclonais e anticorpos<br />

re<strong>com</strong>binantes.<br />

Anticorpos policlonais<br />

Os anticorpos policlonais são obtidos<br />

pela imunização de um animal<br />

(coelho, carneiro, cabra, cavalo) e purificados<br />

posteriormente a partir do<br />

soro imune.<br />

A estimulação de linfócitos B induz<br />

a produção de anticorpos. Cada<br />

clone de linfócito produz anticorpo de<br />

uma determinada especificidade, portanto<br />

a estimulação de muitos linfócitos<br />

do organismo determina a produção<br />

de muitos anticorpos diferentes,<br />

<strong>com</strong> diferentes especificidades e afinidades.<br />

O soro obtido de um animal<br />

imunizado contém anticorpos produzidos<br />

por diferentes clones de linfócitos<br />

B e, portanto, é denominado anticorpo<br />

policlonal (Abb<strong>as</strong>, 2000).<br />

Os anticorpos policlonais são<br />

relativamente fáceis de produzir e<br />

apresentam alta afinidade, porém podem<br />

apresentar reações cruzad<strong>as</strong>.<br />

Anticorpos monoclonais<br />

Os anticorpos monoclonais são<br />

produzidos por hibridom<strong>as</strong>, que são<br />

obtidos pela fusão de linfócito B <strong>com</strong><br />

célula tumoral (mieloma). O hibridoma<br />

tem a capacidade de proliferar,<br />

produzindo anticorpos monoclonais em<br />

grandes quantidades (Abb<strong>as</strong>, 2000).<br />

Os anticorpos monoclonais oferecem<br />

vantagens <strong>com</strong>o afinidade e<br />

especificidade de ligação, homogeneidade<br />

e capacidade de serem produzidos<br />

em quantidades ilimitad<strong>as</strong><br />

(Deshpande, 1996).<br />

Anticorpos re<strong>com</strong>binantes<br />

Inicialmente o radioimunoensaio<br />

foi o método mais utilizado para quantificação<br />

de micotoxin<strong>as</strong>, porém, devido<br />

a problem<strong>as</strong> relacionados à manipulação<br />

de material radioativo e o<br />

reduzido tempo de prateleira dos reagentes<br />

foi substituído pelos ensaios<br />

imunoenzimáticos (Pestka et al., 1995).<br />

Imunoensaios que utilizam antígeno<br />

ou anticorpo marcado <strong>com</strong> uma<br />

enzima são denominados ensaios imunoenzimáticos,<br />

entre os quais o mais<br />

empregado é o método de ELISA<br />

(Enzyme-linked Immunosorbent Assay).<br />

O ensaio imunoenzimático é um<br />

método em que a reação antígenoanticorpo<br />

é monitorada pela medida<br />

da atividade enzimática, utilizando a<br />

conversão de um substrato (cromogênico,<br />

fluorescente ou quimioluminescente)<br />

por um antígeno ou anticorpo<br />

marcado <strong>com</strong> a enzima <strong>com</strong>o meio de<br />

detecção/quantificação do analito<br />

(Gazzaz et al., 1992). Os imunoensaios<br />

apresentam alta sensibilidade, especificidade<br />

e facilidade na execução<br />

e permitem a quantificação do analito<br />

em níveis de ng ou pg.<br />

A enzima utilizada no ELISA deve<br />

apresentar alta atividade específica e<br />

o produto da reação enzimática deve<br />

ser estável, de fácil quantificação, facilmente<br />

conjugada a vários antígenos,<br />

anticorpos e haptenos, sem perda<br />

da atividade e ter custo acessível (Sanchez,<br />

1998).<br />

Vári<strong>as</strong> enzim<strong>as</strong> podem ser utilizad<strong>as</strong><br />

no ELISA, <strong>com</strong>o peroxid<strong>as</strong>e, fosfat<strong>as</strong>e<br />

alcalina, β-galactosid<strong>as</strong>e, entre outr<strong>as</strong><br />

(Gazzaz et al., 1992).<br />

Tipos de ELISA<br />

Atualmente, os tipos de ELISA<br />

mais empregados para análise de substânci<strong>as</strong><br />

biologicamente ativ<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o<br />

70 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Figura 3. ELISA <strong>com</strong>petitivo direto (dc-ELISA)<br />

<strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong>, são ELISA <strong>com</strong>petitivo<br />

direto e ELISA <strong>com</strong>petitivo indireto.<br />

ELISA <strong>com</strong>petitivo direto<br />

(dc-ELISA)<br />

No dc-ELISA, <strong>as</strong> microplac<strong>as</strong> são<br />

sensibilizad<strong>as</strong> <strong>com</strong> anticorpo específico<br />

para a micotoxina, incubad<strong>as</strong> <strong>com</strong> o<br />

conjugado micotoxina-enzima, na presença<br />

da amostra em que se deseja<br />

pesquisar a micotoxina (Figura 3). Após<br />

a obtenção do equilíbrio da reação<br />

antígeno-anticorpo é adicionado o substrato<br />

da enzima. Há uma relação inversamente<br />

proporcional entre a concentração<br />

de micotoxina na amostra e a<br />

intensidade da cor desenvolvida (Sanchez,<br />

1998).<br />

O dc-ELISA é um método fácil e<br />

rápido para detecção de micotoxin<strong>as</strong>,<br />

visto que a amostra e o conjugado<br />

(micotoxina conjugada à enzima) podem<br />

ser adicionados ao mesmo tempo<br />

(Gazzaz et al, 1992).<br />

ELISA <strong>com</strong>petitivo indireto<br />

(ic-ELISA)<br />

No ic-ELISA o anticorpo específico<br />

(anticorpo primário) para a micotoxina<br />

é incubado <strong>com</strong> a amostra em<br />

uma microplaca sensibilizada <strong>com</strong> a<br />

micotoxina (Figura 4). Quanto maior a<br />

concentração de micotoxina na amostra,<br />

menos anticorpo livre estará disponível<br />

para ligar-se à micotoxina fixada<br />

à microplaca. A quantidade de<br />

anticorpo primário ligado à placa pode<br />

ser estimada pela incubação <strong>com</strong> anticorpo<br />

secundário marcado <strong>com</strong> enzima,<br />

específico para o anticorpo primário,<br />

seguida de adição do substrato. A<br />

concentração de micotoxina na amostra<br />

é inversamente proporcional à intensidade<br />

da cor desenvolvida (Hefle,<br />

1995).<br />

Aplicação de técnic<strong>as</strong><br />

imunoquímic<strong>as</strong><br />

Diversos métodos imunoquímicos<br />

têm sido aplicados na detecção de<br />

micotoxin<strong>as</strong>, incluindo ELISA, colun<strong>as</strong><br />

de imunoafinidade, métodos que empregam<br />

membran<strong>as</strong>, imunofiltração e<br />

biosensores (Tabela 1).<br />

As técnic<strong>as</strong> de ELISA são amplamente<br />

utilizad<strong>as</strong> na análise de lotes de<br />

amostr<strong>as</strong> e podem fornecer resultados<br />

qualitativos b<strong>as</strong>eados no desenvolvimento<br />

de cor pela reação enzimática<br />

<strong>com</strong> um substrato cromogênico, ou<br />

semiquantitativo/quantitativo pela determinação<br />

espectrofotométrica. A<br />

principal desvantagem do ELISA resulta<br />

d<strong>as</strong> interações inespecífic<strong>as</strong> de <strong>com</strong>ponentes<br />

alimentares (proteín<strong>as</strong>, ácidos<br />

graxos) <strong>com</strong> o anticorpo, que<br />

podem causar reações falso-positiv<strong>as</strong><br />

ou superestimação da concentração<br />

de micotoxin<strong>as</strong> (Hefle, 1995; Barna-<br />

Vetró et al., 1996). As interferênci<strong>as</strong><br />

podem ser minimizad<strong>as</strong> pela diluição<br />

d<strong>as</strong> amostr<strong>as</strong> antes do ensaio, ou pela<br />

inclusão de uma etapa de pré-limpeza<br />

(Pestka et al., 1994; Barna-Vetro et al.,<br />

1996; Ono et al., 2000).<br />

Recentemente a “Association of<br />

Official Analytical Chemists” (AOAC)<br />

validou diversos métodos analíticos<br />

b<strong>as</strong>eados na pré-limpeza do extrato<br />

alimentar por coluna de imunoafinidade<br />

antes da análise por CLAE (Burd<strong>as</strong>pal<br />

et al., 2001; Dragacci et al., 2001;<br />

Entwisle et al., 2001; Visconti et al.,<br />

2001). A utilização de cromatografia<br />

em camada delgada (CCD) <strong>as</strong>sociada<br />

a colun<strong>as</strong> de imunoafinidade é um<br />

procedimento promissor <strong>com</strong> desempenho<br />

<strong>com</strong>parável à CLAE (Stroka &<br />

Anklam, 2002), principalmente se a<br />

CCD de alta performance for utilizada<br />

(Valenta, 1998). A desvantagem em<br />

relação ao elevado custo d<strong>as</strong> colun<strong>as</strong><br />

de afinidade <strong>com</strong>erciais tende a ser<br />

minimizada pelo processo de regeneração<br />

da coluna (Scott & Trucksess,<br />

1997; Fazek<strong>as</strong> & Tar, 2001; Watanabe<br />

et al., 2001; Kondo et al., 2002).<br />

Os limites regulatórios cada vez<br />

mais rigorosos sobre os níveis de contaminação<br />

de micotoxin<strong>as</strong> por países<br />

importadores de grãos aumentaram a<br />

demanda por métodos rápidos e confiáveis<br />

para condições de campo. Diversos<br />

métodos que empregam membran<strong>as</strong><br />

(“dip-sticks”, tir<strong>as</strong> imunocromatográfic<strong>as</strong>,<br />

dispositivos de fluxo)<br />

foram desenvolvidos para aplicação<br />

no campo (De Saeger & Van Peteghem,<br />

1996; Sibanda et al., 2000; Ho<br />

& Wauchope, 2002). Entretanto, geralmente<br />

esses métodos apresentam<br />

baixa sensibilidade e são inadequados<br />

para a análise de grande número de<br />

amostr<strong>as</strong>. Ultimamente, houve um<br />

progresso expressivo em bio-sensores<br />

tais <strong>com</strong>o “surface pl<strong>as</strong>mon resonance”<br />

(SPR), sond<strong>as</strong> de fibra óptica e<br />

ensaios b<strong>as</strong>eados em micropartícul<strong>as</strong><br />

(Carlson et al., 2000; Daly et al., 2000;<br />

Maragos, 2002; N<strong>as</strong>ir & Jolley, 2002),<br />

m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> uma amostra pode ser<br />

avaliada de cada vez. As principais<br />

limitações desses métodos consistem<br />

na baixa reutilização da imunosuperfície<br />

e elevado consumo de reagentes<br />

(Gonzalez-Martinez et al., 1999).<br />

Aflatoxin<strong>as</strong><br />

As aflatoxin<strong>as</strong>, <strong>com</strong>postos heterocíclicos<br />

consistindo de diidrofurano<br />

ou tetraidrofurano ligado a uma cumarina<br />

substituída (Figura 5), são produzid<strong>as</strong><br />

por Aspergillus flavus e A. par<strong>as</strong>iticus<br />

(Stoloff, 1976). Os principais<br />

membros deste grupo de micotoxin<strong>as</strong><br />

consistem de quatro toxin<strong>as</strong> que ocorrem<br />

naturalmente, AFB 1<br />

, AFB 2<br />

, AFG 1<br />

e<br />

AFG 2<br />

, juntamente <strong>com</strong> seus produtos<br />

metabólicos (AFM 1<br />

, AFM 2<br />

, AFP 1<br />

, AFQ 1<br />

e aflatoxicol) produzidos pelos sistem<strong>as</strong><br />

metabólicos microbianos e animais<br />

(Bradburn et al., 1993).<br />

As aflatoxin<strong>as</strong> são encontrad<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>o contaminantes de milho, aveia,<br />

cevada, amendoim e outr<strong>as</strong> nozes,<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 71


especialmente em regiões tropicais e<br />

subtropicais, onde <strong>as</strong> condições de<br />

temperatura e umidade são ótim<strong>as</strong><br />

para o crescimento do fungo e para a<br />

produção da toxina (Rustom, 1997).<br />

As aflatoxin<strong>as</strong> provocam sintom<strong>as</strong><br />

tóxicos agudos em vári<strong>as</strong> espécies<br />

de animais, e o fígado é o alvo<br />

principal (Wogan, 1969). A AFB 1<br />

apresenta<br />

atividade teratogênica, mutagênica<br />

e hepatocarcinogênica, por meio<br />

da ativação metabólica para a forma<br />

epóxido, que pode se ligar covalentemente<br />

ao DNA. Devido à <strong>as</strong>sociação<br />

<strong>com</strong> o câncer hepático primário foi<br />

cl<strong>as</strong>sificada pela “International Agency<br />

for Research on Câncer” (IARC)<br />

<strong>com</strong>o carcinógeno do grupo 1 (IARC,<br />

2002).<br />

Dentre <strong>as</strong> micotoxin<strong>as</strong><br />

para <strong>as</strong> quais os limites legais<br />

de contaminação já foram<br />

estabelecidos, <strong>as</strong><br />

aflatoxin<strong>as</strong> são <strong>as</strong> mais amplamente<br />

regulad<strong>as</strong>. A<br />

“Food and Agriculture<br />

Organization” (FAO, 1997)<br />

relatou 77 países onde existe<br />

alguma forma de controle<br />

para aflatoxin<strong>as</strong>. Em países<br />

onde o regulamento<br />

especifica apen<strong>as</strong> o nível<br />

de AFB 1<br />

, os níveis permitidos<br />

se encontram numa faixa<br />

de zero detectável a 50<br />

µg/kg , sendo que a maioria<br />

é de 5 µg/kg. Além dos níveis de AFB 1<br />

,<br />

alguns países regulam os níveis de<br />

aflatoxin<strong>as</strong> totais dentro da mesma<br />

faixa de concentração.<br />

A aflatoxina M 1<br />

é um derivado<br />

hidroxilado da AFB 1<br />

, sendo produzida<br />

e excretada no leite de animais que<br />

consomem ração contaminada <strong>com</strong><br />

AFB 1<br />

. A preocupação existente acerca<br />

da AFM 1<br />

advém de sua semelhança<br />

estrutural <strong>com</strong> a AFB 1<br />

e também do<br />

fato d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> estarem entre os<br />

maiores consumidores de leite (Gremmels,<br />

1999). A AFM 1<br />

foi cl<strong>as</strong>sificada<br />

<strong>com</strong>o carcinógeno do grupo 2B (possivelmente<br />

carcinogênico para seres<br />

humanos) (IARC, 2002).<br />

Anticorpos policlonais e monoclonais<br />

para aflatoxin<strong>as</strong> foram desenvolvidos<br />

para utilização em ic-ELISA e<br />

dc-ELISA (Morgan et al., 1983; Chu et<br />

al., 1987; Kawamura et al., 1988; Li et<br />

al., 1994; Aldao et al., 1995, Devi et al.,<br />

1999; Thirumala-Devi et al., 2002;<br />

Lipigorngoson et al., 2003).<br />

Lipigorngoson et al. (2003) desenvolveram<br />

um dc-ELISA b<strong>as</strong>eado<br />

em anticorpos monoclonais para<br />

detecção de AFB 1<br />

<strong>com</strong> um limite de<br />

detecção de 4 µg/kg, recuperação de<br />

88,1% a 99,5%. Os coeficientes de<br />

correlação <strong>com</strong> kit de ELISA <strong>com</strong>ercial<br />

e CCD foram 0,912 e 0,802 para<br />

milho, 0,941 e 0,832 para amendoim,<br />

respectivamente (p


Figura 5. Estrutur<strong>as</strong> químic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> principais aflatoxin<strong>as</strong><br />

Figura 6. Estrutur<strong>as</strong> químic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> principais fumonisin<strong>as</strong><br />

utilizada <strong>com</strong>o b<strong>as</strong>e para detecção de<br />

< 20 ng de AFB 1<br />

marcada <strong>com</strong> lipossomos<br />

contendo um corante (Ho &<br />

Wauchope, 2002). Neste método, a<br />

amostra migra ao longo da tira por<br />

capilaridade em uma área contendo<br />

anticorpos imobilizados, então a AFB 1<br />

marcada <strong>com</strong> lipossomos contendo<br />

corante migra pela mesma área <strong>com</strong> a<br />

subseqüente ligação <strong>com</strong> os anticorpos<br />

que não se ligaram à AFB 1<br />

da<br />

amostra, desenvolvendo uma coloração<br />

intensa.<br />

Um imunoensaio colorimétrico<br />

para detecção de AFB 1<br />

b<strong>as</strong>eado na<br />

injeção seqüencial de amostr<strong>as</strong> (SIIA),<br />

utilizando uma célula de fluxo circular<br />

empacotada em uma f<strong>as</strong>e sólida de<br />

polimetilmetacrilato, apresentou um<br />

limite de detecção de 0,2 ng/mL em<br />

amostr<strong>as</strong> de alimentos artificialmente<br />

contaminados (Garden & Strachan,<br />

2001). Esta sensibilidade é <strong>com</strong>parável<br />

à sensibilidade do ELISA em microplaca,<br />

<strong>com</strong> a vantagem de ser realizado<br />

em apen<strong>as</strong> dez minutos, enquanto<br />

o ELISA demora 2 hor<strong>as</strong>. A desvantagem<br />

do novo sistema é a realização de<br />

análises seqüenciais de no máximo 15<br />

amostr<strong>as</strong>, enquanto o ELISA permite a<br />

análise de dezen<strong>as</strong> de amostr<strong>as</strong> ao<br />

mesmo tempo.<br />

Diversos trabalhos sobre a performance<br />

de kits para determinação de<br />

aflatoxin<strong>as</strong> foram realizados (Dorner &<br />

Cole, 1989; Koeltzow & Tanner, 1990;<br />

Beaver et al., 1991; Sabino et al.; 1997;<br />

Oliveira et al., 2000). Hongyo et al.<br />

(1992) <strong>com</strong>parando a análise de extratos<br />

de milho por dc-ELISA b<strong>as</strong>eado<br />

em anticorpos monoclonais <strong>com</strong> CCD<br />

e CLAE, encontraram coeficientes de<br />

correlação de 0,93 e 0,95, respectivamente,<br />

quando o nível de contaminação<br />

era até 200 µg/kg.<br />

Oliveira et al. (2000) <strong>com</strong>pararam<br />

<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> de CCD <strong>com</strong> quantificação<br />

visual e densitométrica e ELISA,<br />

para análise de aflatoxin<strong>as</strong> em amostr<strong>as</strong><br />

de milho naturalmente contaminad<strong>as</strong>.<br />

As concentrações de aflatoxin<strong>as</strong><br />

totais encontrad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />

de CCD e ELISA apresentaram maior<br />

freqüência na faixa de 0-30 µg/kg e<br />

acima de 300 µg/kg. Os coeficientes<br />

de correlação entre os métodos foram<br />

altamente significativos para <strong>as</strong> relações<br />

entre <strong>as</strong> quantificações visual e<br />

densitométrica (r= 0,92), ELISA e visual<br />

(r= 0,83), ELISA e densitometria (r=<br />

0,74), na determinação de aflatoxin<strong>as</strong><br />

totais em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> amostr<strong>as</strong> de milho<br />

pesquisad<strong>as</strong>, confirmando haver equivalência<br />

d<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> estudad<strong>as</strong>.<br />

Sabino et al. (1997) avaliaram a<br />

eficiência de dois kits de ELISA (Cite<br />

Probe Aflatoxin Test Kit-Idexx) para<br />

detecção de AFB 1<br />

em níveis de 5 e 20<br />

ng/g em <strong>com</strong>paração à CCD. Os kits<br />

de ELISA apresentaram resultados falsopositivos<br />

indicando que o método de<br />

ELISA pode superestimar os níveis de<br />

aflatoxin<strong>as</strong>, demonstrando a<br />

necessidade de confirmar resultados<br />

positivos. Resultados falso-negativos<br />

foram encontrados em amostr<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

traços de aflatoxin<strong>as</strong> e, portanto, abaixo<br />

do limite de detecção dos kits. Os<br />

resultados obtidos permitiram concluir<br />

que os kits mostraram-se adequados<br />

para testes de triagem de AFB 1<br />

em<br />

amostr<strong>as</strong> de milho, ração, amendoim e<br />

seus derivados.<br />

Diversos estudos colaborativos<br />

sobre kits de ELISA e colun<strong>as</strong> de imunoafinidade<br />

têm sido relatados desde<br />

1988 (Mortimer et al., 1988; Park et al.,<br />

1989; Trucksess et al., 1989; Patey et<br />

al., 1992; Trucksess & Stack, 1994;<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 73


Tabela 1. Limites de detecção de diferentes tipos de imunoensaios para aflatoxin<strong>as</strong> e fumonisin<strong>as</strong><br />

Micotoxina Tipo de imunoensaio Limite de detecção Referência<br />

AFB 1<br />

ELISA (Cite Probe) 5 ng/g Sabino et al. (1997)<br />

AFB 1<br />

dc-ELISA 4 ng/g Lipigorngoson et al. (2003)<br />

AFB 1<br />

Imunofiltração 0,01 ng/mL Pal & Dhar (2004)<br />

AFB 1<br />

SIIA b 0,2 ng/mL Garden & Strachan (2001)<br />

AFM 1<br />

Ensaio imunoenzimático<br />

de análise em fluxo 0,05 ng/mL Sibanda et al. (1999)<br />

AFM 1<br />

cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen) 0,01 ng/mL López et al. (2003)<br />

FB 1<br />

cd-ELISA 7,6 ng/g Barna-Vetró et al. (2000)<br />

FB 1<br />

FILIA c 1 ng/mL Ho & Durst (2000)<br />

FB 1<br />

Polarização de fluorescência 500 ng/g Maragos et al. (2001)<br />

FB 1<br />

Biosensor (SPR) d 50 ng/mL Mullet et al. (1998)<br />

FBs totais a ic-ELISA 93 ng/g Ono et al. (2000)<br />

FBs totais a cd-ELISA 1000 ng/g Desjardins et al. (2000)<br />

FBs totais a cd-ELISA 5 ng/g Kim et al. (2002)<br />

FBs totais a cd-ELISA (Veratox) 200 ng/g C<strong>as</strong>telo et al. (1998)<br />

FBs totais a cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen) 3 ng/mL Torres et al. (1998)<br />

FBs totais a cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen) 3,4 ng/g Danielsen & Funck-Jensen (1998)<br />

a<br />

FBs totais: Fumonisin<strong>as</strong> totais<br />

b<br />

SIIA: Imunoensaio de injeção seqüencial<br />

c<br />

FILIA: “Flow-injection liposome immunoanalysis”<br />

d<br />

SPR: “Surface Pl<strong>as</strong>mon Resonance”<br />

Patey et al., 1991; Trucksess et al.,<br />

1990, 1991; Barmark & Larsson, 1994).<br />

A coluna de imunoafinidade Aflatest-P<br />

acoplada à fluorimetria ou CLAE foi<br />

adotada <strong>com</strong>o método oficial pela<br />

AOAC para aflatoxin<strong>as</strong> totais em milho,<br />

amendoim e p<strong>as</strong>ta de amendoim<br />

em concentrações > 10 µg/kg (Trucksess<br />

et al., 1991).<br />

Souza et al. (1999) avaliaram um<br />

kit de cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen, R-Biopharm)<br />

na detecção e quantificação<br />

de AFM 1<br />

em leite e relataram uma<br />

eficiência qualitativa, sensibilidade elevada<br />

e especificidade considerável.<br />

Na faixa de contaminação de 0,019 a<br />

0,090 µg/L o kit apresentou exatidão e<br />

precisão, porém para níveis de contaminação<br />

de 0,200 a 0,970 µg/L não foi<br />

observada a mesma eficiência.<br />

López et al. (2003) analisaram<br />

AFM 1<br />

em 77 amostr<strong>as</strong> de leite da<br />

Argentina, empregando o kit <strong>com</strong>ercial<br />

dc-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen, R-Biopharm)<br />

e observaram que 23% d<strong>as</strong> amostr<strong>as</strong><br />

estavam contaminad<strong>as</strong> <strong>com</strong> AFM 1<br />

em<br />

níveis de 0,01 a 0,03 µg/L. Sarimehmetoglu<br />

et al. (2003) também empregaram<br />

o kit de dc-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen,<br />

R-Biopharm) para a detecção de AFM 1<br />

em 400 amostr<strong>as</strong> de queijos consumidos<br />

na província de Ankara (Turquia)<br />

e relataram contaminação de 81,75%,<br />

sendo que 27,5% apresentaram níveis<br />

que excediam os limites legais de 250<br />

ng/kg.<br />

Sibanda et al. (1999) desenvolveram<br />

um novo ensaio imunoenzimático<br />

b<strong>as</strong>eado em um sistema de fluxo<br />

através de membrana, que foi acoplado<br />

a uma coluna de imunoafinidade. O<br />

limite de detecção visual foi de 0,05<br />

ng/mL de AFM 1<br />

no leite e o tempo<br />

total de ensaio foi de 30 minutos. A<br />

reatividade cruzada dos anticorpos<br />

monoclonais anti-AFM 1<br />

foi de 100, 20,<br />

74 e 57% contra AFM 1<br />

, AFM 2<br />

, AFB 1<br />

e<br />

AFB 2<br />

, respectivamente.<br />

Um ic-ELISA b<strong>as</strong>eado em anticorpos<br />

policlonais foi desenvolvido<br />

para detecção de AFM 1<br />

em leite e<br />

derivados. O ensaio apresentou resultados<br />

precisos em concentrações de<br />

AFM 1<br />

superiores a 0,25 ng/mL, e a<br />

reação cruzada foi de 5% para AFB 1<br />

e<br />

menor que 5% para AFB 2<br />

, AFG 1<br />

e<br />

AFG 2<br />

; não houve reação cruzada <strong>com</strong><br />

a ocratoxina A (Thirumala-Devi et al.,<br />

2002).<br />

Fumonisin<strong>as</strong><br />

As fumonisin<strong>as</strong> constituem um<br />

grupo de metabólitos secundários produzidos<br />

por Fusarium verticillioides,<br />

F. proliferatum e outr<strong>as</strong> espécies relacionad<strong>as</strong><br />

morfologicamente. Vinte e<br />

oito análogos de fumonisin<strong>as</strong> foram<br />

caracterizados, porém fumonisina B 1<br />

(FB 1<br />

), FB 2<br />

e FB 3<br />

são os principais<br />

contaminantes naturais de milho e<br />

derivados (Rheeder et al., 2002).<br />

As fumonisin<strong>as</strong> causam leucoencefalomalacia<br />

em eqüinos (Kellerman<br />

et al., 1990) e edema pulmonar<br />

em suínos (Harrison et al., 1990). Em<br />

seres humanos, altos níveis de fumonisin<strong>as</strong><br />

em derivados de milho têm sido<br />

<strong>as</strong>sociados <strong>com</strong> câncer esofágico na<br />

África do Sul e China (Rheeder et al.,<br />

1992; Chu & Li, 1994). As toxin<strong>as</strong> de F.<br />

verticillioides foram cl<strong>as</strong>sificad<strong>as</strong> pela<br />

“International Agency for Research on<br />

Cancer” <strong>com</strong>o possivelmente carcinogênic<strong>as</strong><br />

para seres humanos (IARC,<br />

2002).<br />

Embora os limites legais para <strong>as</strong><br />

fumonisin<strong>as</strong> não tenham sido estabelecidos,<br />

o “Mycotoxin Committee of<br />

the American Association of Veterinary<br />

Laboratory Diagnosticians” re<strong>com</strong>enda<br />

5, 10, 50 e 50 µg/g para ração de<br />

eqüinos, suínos, bovinos e aves, respectivamente<br />

(Munkvold & Desjardins,<br />

1997). A Suíça re<strong>com</strong>enda o<br />

limite de 1 µg/g para derivados de<br />

milho destinados ao consumo humano<br />

(Visconti & Boenke, 1995)<br />

Anticorpos policlonais e mono-<br />

74 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


clonais para fumonisin<strong>as</strong> foram produzidos<br />

para aplicação em dc-ELISA e ic-<br />

ELISA (Azcona-Olivera et al. 1992a, b;<br />

Usleber et al., 1994; Iijima et al., 1996;<br />

Yeung et al., 1996; Yu & Chu, 1996;<br />

Barna-Vetró et al., 2000; Christensen<br />

et al., 2000).<br />

Um dc-ELISA b<strong>as</strong>eado em anticorpos<br />

monoclonais desenvolvido para<br />

detecção de FB 1<br />

em cereais (Barna-<br />

Vetró et al., 2000) apresentou um<br />

limite de detecção de 7,6 ng/g FB 1<br />

e<br />

uma reatividade cruzada média de<br />

100%, 91,8%, e 209% para FB 1<br />

, FB 2<br />

, e<br />

FB 3<br />

, respectivamente. A recuperação<br />

da toxina a partir de cereais artificialmente<br />

contaminados em níveis de 50-<br />

200 ng/g FB 1<br />

variou de 61% a 84%.<br />

Kulisek & Hazebroek (2000) desenvolveram<br />

um cd-ELISA empregando<br />

anticorpos policlonais para a triagem<br />

rápida de contaminação por FB 1<br />

.<br />

Esse ensaio foi aplicado num estudo<br />

<strong>com</strong>parativo para determinar a eficiência<br />

de extração de FB 1<br />

em água<br />

deionizada, tampão fosfato salina (PBS),<br />

PBS-Tween e em solventes orgânicos<br />

(70% metanol, 50% acetonitrila) utilizando<br />

16 amostr<strong>as</strong> de milho. O tampão<br />

fosfato mostrou-se adequado para<br />

a extração de FB 1<br />

. As determinações<br />

realizad<strong>as</strong> por ELISA apresentaram boa<br />

correlação (r = 0,94) <strong>com</strong> CLAE em<br />

amostr<strong>as</strong> artificialmente contaminad<strong>as</strong><br />

entre 1 e 50 mg/mL de extrato.<br />

Desjardins et al. (2000) avaliaram<br />

a ocorrência de fumonisin<strong>as</strong> em milho<br />

nepalense por dc-ELISA b<strong>as</strong>eado em<br />

anticorpos monoclonais e os níveis de<br />

fumonisin<strong>as</strong> foram >1 µg/g em 22% de<br />

74 amostr<strong>as</strong>. O limite de detecção do<br />

método foi de 1 µg/g.<br />

Danielsen & Funck Jensen (1998)<br />

avaliaram 35 amostr<strong>as</strong> de milho proveniente<br />

de três regiões geográfic<strong>as</strong><br />

de Costa Rica, e detectaram<br />

fumonisin<strong>as</strong> em níveis de 4 a 16.000<br />

ng/g, <strong>com</strong> uma média de 2500 ng/g,<br />

utilizando um cd-ELISA <strong>com</strong>ercial b<strong>as</strong>eado<br />

em anticorpos monoclonais<br />

(Rid<strong>as</strong>creen Fumonisin F<strong>as</strong>t, R-<br />

Biopharm). Os anticorpos apresentaram<br />

reatividade cruzada <strong>com</strong> FB 2<br />

(40%)<br />

e FB 3<br />

(100%), resultando em uma<br />

superestimação média de


Torres et al. (1998) avaliaram a<br />

ocorrência de fumonisin<strong>as</strong> em 32 amostr<strong>as</strong><br />

de cerveja da Espanha, empregando<br />

cd-ELISA (Rid<strong>as</strong>creen, R-Biopharm).<br />

O limite de detecção do kit foi<br />

de 3 ng de fumonisin<strong>as</strong>/mL de cerveja.<br />

D<strong>as</strong> 32 amostr<strong>as</strong> analisad<strong>as</strong>, 14 (43,8%)<br />

estavam contaminad<strong>as</strong> por fumonisin<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> concentrações variando de<br />

4,76 ng/mL a 85,53 ng/mL.<br />

Outra variante de métodos imunoquímicos<br />

consiste na detecção de<br />

fumonisin<strong>as</strong> por imunosensor de “surface<br />

pl<strong>as</strong>mon ressonance” (SPR). Neste<br />

método, anticorpos policlonais de alta<br />

afinidade específicos para FB 1<br />

são<br />

imobilizados em uma película de ouro,<br />

que é acoplada a um prisma de vidro.<br />

Um raio de luz é focalizado através do<br />

prisma para excitar a SPR na película<br />

de ouro. Quando uma amostra contendo<br />

FB 1<br />

é adicionada a uma célula na<br />

parte externa da película de ouro, o<br />

perfil angular da intensidade da luz<br />

refletida é alterado, provocando mudança<br />

no ângulo de ressonância que é<br />

proporcional à concentração de FB 1<br />

. O<br />

limite de detecção deste método é de<br />

50 ng/mL <strong>com</strong> um tempo de análise<br />

inferior a 10 minutos (Mullett et al.,<br />

1998).<br />

Os trabalhos relatados demonstraram<br />

que <strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> imunoquímic<strong>as</strong><br />

preenchem os requisitos de rapidez e<br />

eficiência na triagem de micotoxin<strong>as</strong>,<br />

devendo-se concentrar os esforços na<br />

redução da reatividade cruzada.<br />

Considerações finais<br />

A ocorrência de micotoxin<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>o contaminantes alimentares, bem<br />

<strong>com</strong>o o impacto desses <strong>com</strong>postos na<br />

saúde humana e animal, resultaram no<br />

desenvolvimento e no aperfeiçoamento<br />

de vários métodos de imunodetecção<br />

para monitorar os níveis de contaminação<br />

em alimentos. Atualmente<br />

existem kits de ELISA para análise d<strong>as</strong><br />

principais micotoxin<strong>as</strong>, porém <strong>as</strong> reações<br />

falso-positiv<strong>as</strong> dificultam ainda, a<br />

sua utilização <strong>com</strong>o alternativa aos<br />

métodos reconhecidos pela AOAC,<br />

sendo necessária a confirmação por<br />

métodos químicos <strong>com</strong>o a CLAE. As<br />

colun<strong>as</strong> de imunoafinidade proporcionam<br />

especificidade e eficiência <strong>com</strong>o<br />

técnica de pré-limpeza e concentração<br />

antes da análise por CLAE e têm<br />

sido amplamente utilizad<strong>as</strong> na determinação<br />

de micotoxin<strong>as</strong>. Recentemente<br />

foram desenvolvidos métodos<br />

rápidos b<strong>as</strong>eados em biosensores, “surface<br />

pl<strong>as</strong>mon resonance”, “dipstick”,<br />

imuno-análise b<strong>as</strong>eada em lipossoma,<br />

que podem ser utilizados na análise<br />

rápida de um grande número de amostr<strong>as</strong>.<br />

Os imunoensaios desempenharão<br />

um papel cada vez mais importante<br />

na análise de alimentos, principalmente<br />

de micotoxin<strong>as</strong>, pois disponibilizam<br />

uma gama de métodos que<br />

podem ser utilizados tanto nos laboratórios<br />

<strong>com</strong>o ensaios quantitativos, <strong>com</strong>o<br />

no campo, para a triagem. Considerando<br />

que os kits, bem <strong>com</strong>o grande<br />

parte dos insumos para realização de<br />

imunoensaios são importados, elevando<br />

os custos, é de extrema importância<br />

alcançar a auto-suficiência na produção<br />

e desenvolvimentos de kits e<br />

reagentes imunológicos.<br />

Agradecimentos<br />

Os autores agradecem o apoio<br />

financeiro recebido pelo Conselho<br />

Nacional de Desenvolvimento Científico<br />

e Tecnológico (CNPq) e Fundação<br />

Araucária.<br />

Referênci<strong>as</strong> bibliográfic<strong>as</strong><br />

Abb<strong>as</strong> A.K., Lichtman A.H., Pober, J.S.<br />

(2000) Cellular an Molecular<br />

Immunology. W.B. Saunders<br />

Company, Philadelphia.<br />

Aldao M.A.J., Carpinella M.C., Corelli<br />

M., Herrero G.G. (1995). Competitive<br />

ELISA for quantifying small<br />

amounts of aflatoxin B 1<br />

, Food and<br />

Agricultural Immunology<br />

7(4):307-314.<br />

Ayres J.C. (1979). Significance of food<br />

mycology - an overview. In: Food<br />

mycology, Rhodes M.E. Ed., G.K.<br />

Hall & Co., M<strong>as</strong>sachussetts, 3-10.<br />

Azcona-Oliveira J. I., Abouzied M. M.,<br />

Plattner R. D., Norred W. P., Pestka<br />

J.J. (1992a). Generation of antibodies<br />

reactive with fumonisins B 1<br />

,<br />

B 2<br />

and B 3<br />

by using cholera toxin <strong>as</strong><br />

the carrier-adjuvant, Applied and<br />

Environmental Microbiology<br />

58(1):169-173.<br />

Azcona-Olivera J. I., Abouzied M. M.,<br />

Plattner R. D., Pestka J. J. (1992b).<br />

Production of monoclonal antibodies<br />

to the mycotoxins fumonisins<br />

B 1<br />

, B 2<br />

and B 3<br />

, Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry<br />

40(3):531-534.<br />

Barmark A. L., Larsson K. (1994). Immunoaffinity<br />

column clean-up/liquid<br />

chromatography determination<br />

of aflatoxins: An interlaboratory<br />

study, Journal of AOAC<br />

International 77:46-53.<br />

Barna-Vetró I., Solti L., Téren J., Gyöngyösi<br />

A., Szabó E., Wölfling A.<br />

(1996). Sensitive ELISA Test for<br />

determination of ochratoxin A,<br />

Journal of Agricultural and<br />

Food Chemistry 44: 4071-4074.<br />

Barna-Vetró I., Szabo E., Fazek<strong>as</strong> B.,<br />

Solti L. (2000). Development of a<br />

sensitive ELISA for the determination<br />

of fumonisin B 1<br />

in cereals,<br />

Journal of Agricultural and<br />

Food Chemistry 48:2821-2825.<br />

Beaver R.W., James M.A., Lin T.Y.<br />

(1991). Comparison of an ELISAb<strong>as</strong>ed<br />

screening test with liquid<br />

chromatography for the determination<br />

of aflatoxins in corn, Journal<br />

of the Association of Official<br />

Analytical Chemists 74:827-<br />

829.<br />

Bird C.B., Malone B., Rice L.G., Ross<br />

P.F., Eppley R., Abouzied M.M.<br />

(2002). Determination of total fumonisins<br />

in corn by <strong>com</strong>petitive<br />

direct enzyme-linked immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say: collaborative study,<br />

Journal of AOAC International<br />

85(2):404-410.<br />

Bradburn N., Blunden G., Coker R.D.,<br />

Jewers K. (1993). Aflatoxin contamination<br />

of maize, Tropical Science<br />

33:418-428.<br />

Burd<strong>as</strong>pal P., Ma Legarda T., Gilbert J.<br />

(2001). Immunoaffinity column<br />

clean-up with liquid chromatography<br />

for the determination of ochratoxin<br />

A in baby food: collaborative<br />

study, Journal of AOAC Inter-<br />

76 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


national 84:1445-1452.<br />

Carlson M.A., Bargeron C.B., Benson<br />

R.C., Fr<strong>as</strong>er A.B., Phillips T.E., Velky<br />

J.T., Groopman J.D., Strickland<br />

P.T., Ko H.W. (2000). An automated,<br />

handheld biosensor for aflatoxin,<br />

Biosensors and Bioelectronics<br />

14:841-848.<br />

C<strong>as</strong>telo M.M., Sumner, S.S., Bullerman<br />

L.B. (1998) Occurrence of fumonisins<br />

in corn-b<strong>as</strong>ed food products,<br />

Journal of Food Protection,<br />

61(6): 704-707.<br />

Christensen H.R., Yu F-Y., Chu F.S.<br />

(2000). Development of a polyclonal<br />

antibody-b<strong>as</strong>ed sensitive<br />

enzyme-linked immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say for fumonisin B 4<br />

, Journal of<br />

Agricultural and Food Chemistry<br />

48:1977-1984.<br />

Chu F.S. (1984). Immuno<strong>as</strong>says for<br />

analysis of mycotoxins, Journal<br />

of Food Protection 47: 562-569.<br />

Chu F.S., Fan T.S.L., Zhang G.S., Xu<br />

Y.C., Faust S., McMahon P.L. (1987).<br />

Improved enzyme-linked immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say for aflatoxin B 1<br />

in<br />

agricultural <strong>com</strong>modities, Journal<br />

of the Association of Official<br />

Analytical Chemists 70:854-857.<br />

Chu F.S., Li G.Y. (1994) Simultaneous<br />

occurrence of fumonisin B 1<br />

and<br />

other mycotoxins in moldy corn<br />

collected from the Peoples’ Republic<br />

of China in regions with high<br />

incidences of esophageal cancer,<br />

Applied and Environmental<br />

Microbiology 60:847-852.<br />

Daly S.J., Keating G.J., Dillon P.P.,<br />

Manning B.M., O’Kennedy R., Lee<br />

H.A., Morgan M.R. (2000). Development<br />

of surface pl<strong>as</strong>mon resonance-b<strong>as</strong>ed<br />

immuno<strong>as</strong>say for aflatoxin<br />

B 1<br />

, Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry<br />

48(11):5097-5104.<br />

Danielsen S., Funck Jensen D. (1998).<br />

Relationships between seed germination,<br />

fumonisin content, and<br />

Fusarium verticillioides infection<br />

in selected maize samples from<br />

different regions of Costa Rica,<br />

Plant Pathology 47:609–614.<br />

De Saeger S., Van Peteghem C. (1996).<br />

Dipstick enzyme immuno<strong>as</strong>say to<br />

detect Fusarium T-2 toxin in wheat,<br />

Applied and Environmental<br />

Microbiology 62:1880-1884.<br />

Deshpande, S. S. (1996) Immuno<strong>as</strong>says<br />

Cl<strong>as</strong>sification and Commercial<br />

Technologies. In: Enzyme<br />

Immuno<strong>as</strong>says: From Concept<br />

to Product Development, Chapman<br />

& Hall, New York, 231-259.<br />

Desjardins A.E., Manandhar G., Plattner<br />

R.D., Maragos C.M., Shrestha<br />

K., McCormick S.P. (2000). Occurrence<br />

of Fusarium species and<br />

mycotoxins in Nepalese maize and<br />

wheat and the effect of traditional<br />

processing methods on mycotoxin<br />

levels, Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry<br />

48:1377-1383.<br />

Devi K.T., Mayo M.A., Reddy K.L.N.,<br />

Delfosse P., Reddy G., Reddy S.V.,<br />

Reddy D.V.R. (1999). Production<br />

and characterization of monoclonal<br />

antibodies for aflatoxin B 1<br />

, Letters<br />

in Applied Microbiology<br />

29:284–288.<br />

Dorner J.W., Cole R.J. (1989). Comparison<br />

of two ELISA screening tests<br />

with liquid chromatography for<br />

determination of aflatoxins in raw<br />

peanuts, Journal of the Association<br />

of Official Analytical<br />

Chemists 72(6):962-964.<br />

Dragacci S., Grosso F., Gilbert J. (2001).<br />

Immunoafinity column clean-up<br />

with liquid chromatography for<br />

determination of aflatoxin M 1<br />

in<br />

liquid milk: collaborative study,<br />

Journal of AOAC International<br />

84:437-443.<br />

Entwisle A.C., Williams A.C., Mann P.J.,<br />

Russel J., Slack P.T., Gilbert J.<br />

(2001). Combined phenyl silane<br />

and immunoaffinity column cleanup<br />

with liquid chromatography for<br />

the determination of ochratoxin A<br />

in ro<strong>as</strong>ted coffee: collaborative<br />

study, Journal of AOAC<br />

International 84:444-450.<br />

Fazek<strong>as</strong> B., Tar A. (2001). Determination<br />

of zearalenone content in cereals<br />

and feedstuffs by immunoaffinity<br />

column coupled with liquid<br />

chromatography, Journal of the<br />

Association of Official Analytical<br />

Chemists International<br />

84(5):1453-1459.<br />

Food and Agriculture Organization of<br />

the United Nations (FAO). (1997).<br />

Application of risk management<br />

to food safety matters.Report of<br />

the joint FAO/WHO consultation,<br />

FAO Food and Nutrition paper no.<br />

65, Rome: FAO.<br />

Garden S.R., Strachan N.J.C. (2001).<br />

Novel colorimetric immuno<strong>as</strong>say<br />

for the detection of aflatoxin B 1,<br />

Analytica Chimica Acta<br />

444:187-191.<br />

Gathumbi JK, Usleber E, Ngatia TA,<br />

Kangethe EK, Martlbauer E. (2003).<br />

Application of immunoaffinity<br />

chromatography and enzyme immuno<strong>as</strong>say<br />

in rapid detection of<br />

aflatoxin B 1<br />

in chicken liver tissues,<br />

Poultry Science 82:585-590.<br />

Gazzaz S.S., R<strong>as</strong>co B.A., Dong F.M.<br />

(1992). Application of immunochemical<br />

<strong>as</strong>says to food analysis,<br />

Critical Reviews in Food Science<br />

and Nutrition 32(3):197-<br />

229.<br />

Gonzalez-Martinez M.A., Puchades R.,<br />

Maquieira A. (1999). On-line immunoanalysis<br />

for environmental<br />

pollutants: from batch <strong>as</strong>says to<br />

automated sensors, Trends in<br />

Analytical Chemistry 18:204-<br />

218.<br />

Gremmels, J. F. (1999) Mycotoxins:<br />

Their Implications for Human and<br />

Animal Health. The Veterinary<br />

Quarterly 21(4):115-120.<br />

Harrison L.R., Colvin B.M., Green J.T.,<br />

Newman L.E., Cole J.R. (1990).<br />

Pulmonary edema and hydrothorax<br />

in swine produced by fumonisin<br />

B 1<br />

, a toxic metabolite of Fusarium<br />

moniliforme, Journal of<br />

Veterinary Diagnostic Investigation<br />

2:217-221.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 77


Hefle S.L. (1995). Immuno<strong>as</strong>say fundamentals,<br />

Food Technology<br />

49(2):102-107.<br />

Ho J.-A.A, Durst R.A. (2000). Development<br />

of a flow-injection liposome<br />

immunoanalysis system for<br />

fumonisin B 1<br />

, Analytica Chimica<br />

Acta 414:61-69.<br />

Ho J.-A.A., Durst R.A. (2003). Detection<br />

of fumonisin B 1<br />

: <strong>com</strong>parison of<br />

flow-injection liposome immunoanalysis<br />

with high-performance liquid<br />

chromatography, Analytical<br />

Biochemistry 312:7-13.<br />

Ho J.-A.A., Wauchope R.D. (2002). A<br />

strip liposome immuno<strong>as</strong>say for<br />

aflatoxin B 1<br />

, Analytical Chemistry<br />

74:1493-1496.<br />

Hongyo K., Itoh Y., Hifumi E., Takey<strong>as</strong>u<br />

A. (1992). Comparison of monoclonal<br />

antibody-b<strong>as</strong>ed enzymelinked<br />

immunosorbent <strong>as</strong>say with<br />

thin-layer chromatography and liquid<br />

chromatography for aflatoxin<br />

B 1<br />

determination in naturally contaminated<br />

corn and mixed feed,<br />

Journal of AOAC International<br />

75:307-312.<br />

Iijima K., Kawamura O, Wang D.-S.,<br />

Manabe M., Tanaka K., Chen G.,<br />

Yu S.Z., Ueno W. (1996). Development<br />

of highly sensitive immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say for fumonisins and<br />

its application for contaminated<br />

corn, Mycotoxins 42:63-66.<br />

International Agency for Research on<br />

Cancer. (2002) IARC Monographs<br />

on the Evaluation of Carcinogenic<br />

Risks to Humans and Their<br />

Supplements: A Complete List. Vol.<br />

82, Some Traditional Herbal Medicines,<br />

Some Mycotoxins, Naphthalene<br />

and Styrene; International<br />

Agency for Research on Cancer,<br />

World Health Organization:<br />

Lyon, France, http://<br />

monographs.iarc.fr/htdocs/ monographs/vol82/82-05.html.<br />

Kawamura O., Nagayama S., Sato S.,<br />

Ohtani K., Ueno I., Ueno Y. (1988)<br />

A monoclonal antibody-b<strong>as</strong>ed enzyme-linked<br />

immunosorbent <strong>as</strong>say<br />

for aflatoxin B 1<br />

in peanut products.<br />

Mycotoxin Research 4:75-<br />

88.<br />

Kellerman T.S., Mar<strong>as</strong><strong>as</strong> W.F.O., Thiel<br />

P.G., Gelderblom W.C.A., Cawood<br />

M., Coetzer J.A.W. (1990). Leukoencephalomalacia<br />

in two horses<br />

induced by oral dosing of fumonisin<br />

B1, Onderstepoort Journal<br />

Veterinary Research 57:269-<br />

275.<br />

Kim E.K., Shon D.H., Chung S.H., Kim<br />

Y.B. (2002). Survey for fumonisin<br />

B 1<br />

in Korean corn-b<strong>as</strong>ed food products,<br />

Food Additives Contaminants<br />

19(5):459-464.<br />

Koeltzow D.E., Tanner S.N. (1990).<br />

Comparative evaluation of <strong>com</strong>mercially<br />

available aflatoxin test<br />

methods, Journal of the Association<br />

of Official Analytical<br />

Chemists 73:584-589.<br />

Kondo F., Ito Y., Yamada S., Tsuji K.,<br />

Imokawa M., Niimi Y., Harada K.-<br />

I., Ueno Y., Miyazaki Y. (2002).<br />

Determination of microcystins in<br />

lake water using reusable immunoaffinity<br />

column, Toxicon<br />

40:893-899.<br />

Kulisek E.S., Hazebroek J.P. (2000).<br />

Comparison of extraction buffers<br />

for the detection of fumonisin B 1<br />

in<br />

corn by immuno<strong>as</strong>say and highperformance<br />

liquid chromatography,<br />

Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry 48:65-69.<br />

Lee, H. A.; Morgan, M. R. A. (1993)<br />

Food immuno<strong>as</strong>says: applications<br />

of polyclonal, monoclonal and re<strong>com</strong>binant<br />

antibodies. Trends in<br />

Food Science and Technology<br />

4:129-134<br />

Li S., Marquardt R.R., Frohlich A.A.,<br />

Xiao H., Clarke J.R. (1994). The<br />

development of a quantitative<br />

ELISA for aflatoxin B 1<br />

in ground<br />

peanuts using antibodies isolated<br />

from the yolk of a laying hen,<br />

Journal of Food Protection<br />

57:1022-1024.<br />

Lipigorngoson S., Limtrakul P., Suttajit<br />

M., Yoshizawa T. (2003). In-house<br />

direct ELISA for determining aflatoxin<br />

B 1<br />

in Thai corn and peanuts,<br />

Food Additives Contaminants<br />

20 (9): 838-845.<br />

López, C. E.; Ramos, L. L.; Ramadán, S.<br />

S., Bulacio, L. C. (2003) Presence<br />

of aflatoxin M 1<br />

in milk for human<br />

consumption in Argentina. Food<br />

Control, 14: 31-34.<br />

Maragos C.M. (2002). Novel <strong>as</strong>says<br />

and sensor platforms for the detection<br />

of aflatoxins, Advances<br />

in Experimental Medicine and<br />

Biology 504:85-93.<br />

Maragos C.M, Jolley M.E., Plattner R.D.,<br />

N<strong>as</strong>ir M.S. (2001). Fluorescence<br />

polarization <strong>as</strong> a means for determination<br />

of fumonisins in maize,<br />

Journal of Agricultural and<br />

Food Chemistry 49:596-602.<br />

Morgan M.R.A., McNerney R., Chan<br />

H.W.S. (1983). Enzyme-linked<br />

immunosorbent <strong>as</strong>say of ochratoxin<br />

A in barley, Journal of the<br />

Association of Official Analytical<br />

Chemists 66:1481-1484.<br />

Mortimer D.N., Shepherd M.J., Gilbert<br />

J., Clark C. (1988). Enzyme-linked<br />

immunosorbent (ELISA) determination<br />

of aflatoxin B 1<br />

in peanut<br />

butter: collaborative trial, Food<br />

Additives and Contaminants<br />

5:601-608.<br />

Mullett W., Lai E.P.C., Yeung J.M.<br />

(1998). Immuno<strong>as</strong>say of fumonisins<br />

by a surface pl<strong>as</strong>mon resonance<br />

biosensor, Analytical Biochemistry<br />

258:161-167<br />

Munkvold G.P., Desjardins A.E. (1997)<br />

Fumonisins in maize: Can we reduce<br />

their occurrence? Plant Dise<strong>as</strong>e<br />

81:556-565.<br />

N<strong>as</strong>ir M.S., Jolley M.E. (2002). Development<br />

of a fluorescence polarization<br />

<strong>as</strong>say for the determination of<br />

aflatoxins in grains, Journal of<br />

Agricultural and Food Chemistry<br />

50:3116-3121.<br />

78 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Nilüfer D., Boyacioglu D. (2002). Comparative<br />

study of three different<br />

methods for the determination of<br />

aflatoxins in tahini, Journal of<br />

Agricultural and Food Chemistry<br />

50(12):3375-3379.<br />

Oliveira M.S., Prado G., Junqueira R.G.<br />

(2000) Comparação d<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />

de cromatografia em camada delgada<br />

e ELISA na quantificação de<br />

aflatoxin<strong>as</strong> em amostr<strong>as</strong> de milho.<br />

Ciência e Tecnologia de Alimentos<br />

20(3):369-374.<br />

Ono E.Y.S., Kawamura O., Ono M.A.,<br />

Ueno Y., Hirooka E.Y. (2000). A<br />

<strong>com</strong>parative study of indirect <strong>com</strong>petitive<br />

ELISA and HPLC for fumonisin<br />

detection in corn of the State<br />

of Paraná, Brazil, Food and Agricultural<br />

Immunology 12(1):5-<br />

14.<br />

Ono E.Y.S., Ono M.A., Funo F.Y., Medina<br />

A.E., Oliveira T.C.R.M., Kawamura<br />

O., Ueno Y., Hirooka E.Y.<br />

(2001). Evaluation of fumonisinaflatoxin<br />

co-occurrence in Brazilian<br />

corn hybrids by ELISA, Food<br />

Additives and Contaminants<br />

18:719-729.<br />

Pal A., Dhar T.K. (2004). An analytical<br />

device for on-site immuno<strong>as</strong>say:<br />

Demonstration of its applicability<br />

in semiquantitative detection of<br />

aflatoxin B 1<br />

in a batch of samples<br />

with ultrahigh sensitivity, Analytical<br />

Chemistry 76:98-104.<br />

Park D.L., Miller B.M., Nesheim S.,<br />

Trucksess M.W., Vekich A., Bigigare<br />

B., McVey J.L., Brown L.H.<br />

(1989). Visual and semiquantitative<br />

spectrophotometric ELISA screening<br />

method for aflatoxin B 1<br />

in<br />

corn and peanut products: followup<br />

collaborative study, Journal<br />

of the Association of Official<br />

Analytical Chemists 72(4):638-<br />

643.<br />

Patey A.L., Sharman M., Gilbert J.<br />

(1991). Liquid chromatographic<br />

determination of aflatoxin levels<br />

in peanut butters using na immunoaffinity<br />

column cleanup method:<br />

international collaborative<br />

trial, Journal of the Association<br />

of Official Analytical Chemists<br />

74:76-81.<br />

Patey A.L., Sharman M., Gilbert J.<br />

(1992). Determination of total aflatoxin<br />

levels in peanut butter by<br />

enzyme-linked immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say: collaborative study, Journal<br />

of AOAC International<br />

75:693-697.<br />

Pestka J.J., Azcona-Oliveira J.I., Plattner<br />

R.D., Minervini F., Doko M.B.,<br />

Visconti A. (1994). Comparative<br />

<strong>as</strong>sessment of fumonisin in grain<br />

b<strong>as</strong>ed foods by ELISA, GC-MS, and<br />

HPLC, Journal of Food Protection<br />

57(2):169-172<br />

Pestka J.J., Abouzied M.N., Sutikno.<br />

(1995). Immunological <strong>as</strong>says for<br />

mycotoxin detection, Food Technology<br />

2:120-128.<br />

Plattner R.D., Norred W.P., Bacon C.W.,<br />

Voss K.A., Peterson R., Shackelford<br />

D.D., Weisleder D. (1990) A<br />

method of detection of fumonisins<br />

in corn samples <strong>as</strong>sociated<br />

with field c<strong>as</strong>es of equine leukoencephalomalacia.<br />

Mycologia 82:<br />

698-702.<br />

Rheeder J.P., Mar<strong>as</strong><strong>as</strong> W.F.O, Thiel<br />

P.G., Sydenham E.W., Shephard<br />

G.S., Van Schalkwyk D.J. (1992).<br />

Fusarium moniliforme and fumonisins<br />

in corn in relation to human<br />

esophageal cancer in Transkei,<br />

Phytopathology 82:353-357.<br />

Rheeder J.P., Mar<strong>as</strong><strong>as</strong> W.F.O., Vismer<br />

H.F. (2002). Production of fumonisin<br />

analogs by Fusarium species,<br />

Applied and Environmental.<br />

Microbiology 68:2101-2105.<br />

Rustom, I.Y.S. (1997) Aflatoxin in<br />

food and feed: occurrence, legislation<br />

and inactivation by physical<br />

methods. Food Chemistry<br />

59(1):57-67.<br />

Sabino M., Milanes T.V., Lamardo L.C.A.,<br />

Nav<strong>as</strong> S.A., Stofer M., Garcia C.B.<br />

(1997) Avaliação da eficiência de<br />

dois kits <strong>com</strong>erciais para detecção<br />

de AFB 1<br />

em amostr<strong>as</strong> de milho,<br />

ração e amendoim e seus produtos.<br />

Ciência e Tecnologia de<br />

Alimentos, 17(2): 107-110.<br />

Sánchez, M. C. A. (1998) Testes Sorológicos.<br />

In: Abb<strong>as</strong>, A.K.; Lichtman,<br />

A. H.; Pober, J. S. Imunologia<br />

Celular e Molecular. Revinter,<br />

Rio de Janeiro, 19-22.<br />

Scott P.M., Trucksess M.W. (1997).<br />

Application of immunoaffinity columns<br />

to mycotoxin analysis, Journal<br />

of the Association of Official<br />

Analytical Chemists International<br />

80(5):941-949.<br />

Scott P.M., Yeung J.M., Lawrence G.A.,<br />

Prelusky D.B. (1997). Evaluation<br />

of enzyme-linked immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say for analysis of beer for fumonisins,<br />

Food Additives and Contaminants<br />

14(5):445-450.<br />

Shephard G. S., Sydenham E.W., Thiel<br />

P.G., Gelderblom W.C.A. (1990)<br />

Quantitative determination of fumonisins<br />

B 1<br />

and B 2<br />

by high-performance<br />

liquid chromatography<br />

with fluorescence detection. Journal<br />

of Liquid Chromatography<br />

13: 2077-2087.<br />

Sibanda L., De Saeger S., Van Peteghem<br />

C. (1999). Development of<br />

a portable field immuno<strong>as</strong>say for<br />

the detection of aflatoxin M 1<br />

in<br />

milk, International Journal of<br />

Food Microbiology 48:203-209.<br />

Sibanda L., De Saeger S., Van Peteghem<br />

C., Grabarkiewicz-Szczesna<br />

J., Tomczak M. (2000). Detection<br />

of T-2 Toxin in different cereals by<br />

flow-through enzyme immuno<strong>as</strong>say<br />

with a simultaneous internal<br />

reference, Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry<br />

48:5864-5867.<br />

Souza S.V. C., Varg<strong>as</strong> E.A., Junqueira<br />

R.G. (1999) Eficiência de um kit<br />

de ELISA na detecção e<br />

quantificação de aflatoxina M 1<br />

em<br />

leite e investigação da ocorrência<br />

no Estado de Min<strong>as</strong> Gerais. Ciência<br />

e Tecnologia de Alimentos,<br />

19(3):401-405.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 79


Stockenström S., Sydenham E.W., Thiel<br />

P.G. (1994) Determination of<br />

fumonisins in corn: Evaluation of<br />

two purification procedures. Mycotoxin<br />

Research, 10: 9-14.<br />

Stoloff, L. (1976) Occurrence of mycotoxins<br />

in foods and feeds. In: Mycotoxins<br />

and other fungal related<br />

food problems, Rodricks,<br />

J.V, American Chemical Society,<br />

W<strong>as</strong>hington D.C., 23-50.<br />

Stroka J., Anklam E. (2002). New strategies<br />

for screening and determination<br />

of aflatoxins and for detection<br />

of aflatoxin producing mould<br />

in food and feed, Trends in<br />

Analytical Chemistry, 21:90-95.<br />

Sutikno, Abouzied M.M., Azcona-Olivera<br />

J.I., Hart L.P., Pestka J. (1996).<br />

Detection of fumonisins in Fusarium<br />

cultures, corn, and corn products<br />

by polyclonal antibody-b<strong>as</strong>ed<br />

ELISA: relation to fumonisin B 1<br />

detection by liquid chromatography,<br />

Journal of Food Protection<br />

59(6):645-651.<br />

Sydenham E.W, Gelderblom W.C.A.,<br />

Thiel P.G., Mar<strong>as</strong><strong>as</strong> W.F.O. (1990)<br />

Evidence for the natural occurrence<br />

of fumonisin B 1<br />

, a mycotoxin<br />

produced by Fusarium moniliforme,<br />

in corn. Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry,<br />

38(1): 285-290.<br />

Sydenham E.W., Shephard G.S., Thiel<br />

P.G., Bird C., Miller B.M. (1996a).<br />

Determination of fumonisins in<br />

corn: evaluation of <strong>com</strong>petitive<br />

immuno<strong>as</strong>say and HPLC techniques,<br />

Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry 44(1):159-<br />

164.<br />

Sydenham E.W., Stockenstrom S., Thiel<br />

P.G., Rheeder J.P., Doko M.B.,<br />

Bird C., Miller B.M. (1996b). Polyclonal<br />

antibody-b<strong>as</strong>ed ELISA and<br />

HPLC methods for the determination<br />

of fumonisins in corn: a <strong>com</strong>parative<br />

study, Journal of Food<br />

Protection 59(8):893- 897.<br />

Thirumala-Devi K., Mayo M.A., Hall<br />

A.J., Craufurd P.Q., Wheeler T.R.,<br />

Waliyar F., Subrahmanyam A., Reddy<br />

D.V.R. (2002). Development<br />

and application of an indirect <strong>com</strong>petitive<br />

enzyme-linked immuno<strong>as</strong>say<br />

for aflatoxin M 1<br />

in milk and<br />

milk-b<strong>as</strong>ed confectionery, Journal<br />

of Agricultural and Food<br />

Chemistry 50:933-937.<br />

Torres M. R., Sanchis V., Ramos A. J.<br />

(1998) Occurrence of fumonisins<br />

in spanish beers analyzed by an<br />

enzyme-linked immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say method. International<br />

Journal of Food Microbiology,<br />

39:139-143.<br />

Trucksess M.W., Stack M.E. (1994).<br />

Enzyme-linked immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say of total aflatoxins B 1<br />

, B 2<br />

and<br />

G 1<br />

in corn: follow-up collaborative<br />

study, Journal of AOAC International<br />

77(3):655-658.<br />

Trucksess M.W., Stack M.E., Nesheim<br />

S., Park D.L., Pohland A.E. (1989).<br />

Enzyme-linked immunosorbent<br />

<strong>as</strong>say of aflatoxins B 1<br />

, B 2<br />

, and G 1<br />

in<br />

corn, cottonseed, peanuts, peanut<br />

butter, and poultry feed: collaborative<br />

study, Journal of the Association<br />

of Official Analytical<br />

Chemists 72(6):957-962.<br />

Trucksess M.W., Stack M.E., Nesheim<br />

S., Page S.W., Albert R.H., Hansen<br />

T.J., Donahue K.F. (1991). Immunoaffinity<br />

column coupled with<br />

solution fluorometry or liquid chromatography<br />

postcolumn derivatization<br />

for determination of aflatoxins<br />

in corn, peanuts, and peanut<br />

butter: collaborative study, Journal<br />

of the Association of Official<br />

Analytical Chemists<br />

74(1):81-88.<br />

Trucksess M.W., Young K., Donahue<br />

K.F., Morris D.K., Lewis E. (1990).<br />

Comparison of two immunochemical<br />

methods with thin-layer chromatographic<br />

methods for determination<br />

of aflatoxins, Journal of<br />

the Association of Official<br />

Analytical Chemists 73(3):425-<br />

428.<br />

Usleber E., Straka M., Terplan G.<br />

(1994). Enzyme immuno<strong>as</strong>say for<br />

fumonisin B 1<br />

applied to corn-b<strong>as</strong>ed<br />

food, Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry<br />

42(6):1392-1396<br />

Valenta H. (1998). Chromatographic<br />

methods for the determination of<br />

ochratoxin A in animal and human<br />

tissues and fluids, Journal of<br />

Chromatography A, 815:75–92.<br />

Visconti A., Boenke A. (1995). Improvement<br />

of the determination of<br />

fumonisins (FB 1<br />

and FB 2<br />

) in maize<br />

and maize-b<strong>as</strong>ed feeds, European<br />

Commission BCR Information<br />

- Chemical Analysis. Brussels,<br />

Belgium.<br />

Visconti A., Solfrizzo M., De Girolamo<br />

A. (2001). Determination of fumonisin<br />

B 1<br />

and B 2<br />

in corn and corn<br />

flakes by high performance liquid<br />

chromatography and immunoaffinity<br />

column clean-up: collaborative<br />

study, Journal of AOAC International<br />

84(6):1828-1837.<br />

Watanabe E., Yosimura Y., Yu<strong>as</strong>a Y.,<br />

Nakazawa, H. (2001). Immunoaffinity<br />

column clean-up for the<br />

determination of imazalil in citrus<br />

fruits, Analytica Chimica Acta<br />

433:199-206.<br />

Wogan G.N. (1969) Metabolism and<br />

biochemical effects of aflatoxins.<br />

In: Aflatoxin, Goldblatt L.A. Academic<br />

Press Inc., London, 152-<br />

186.<br />

Yau K.Y.F., Lee H., Hall J.C. (2003).<br />

Emerging trends in the synthesis<br />

and improvement of hapten-specific<br />

re<strong>com</strong>binant antibodies, Biotechnology<br />

Advances 21:599–<br />

637.<br />

Yeung J.M., Prelusky D.B., Savard M.E.,<br />

Dang B.D.M., Robinson L.A.<br />

(1996). Sensitive immuno<strong>as</strong>say for<br />

FB 1<br />

in corn, Journal of Agricultural<br />

and Food Chemistry<br />

44:3582-3586.<br />

Yu F.-Y., Chu F.S. (1996). Production<br />

and characterization of antibodies<br />

against fumonisin B 1,<br />

Journal of<br />

Food Protection 59:992-997.<br />

80 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Produção de fator FVIII<br />

Pesquisa<br />

por engenharia genética<br />

Produção de fator FVIII da coagulação por tecnologia do DNA re<strong>com</strong>binante<br />

Virginia Proenca Picanco<br />

Doutoranda em Cienci<strong>as</strong> Biomédic<strong>as</strong>-FMRP-<br />

USP e participante do programa de doutorado<br />

sanduiche DAAD/Cnpq <strong>com</strong> a Universidade<br />

de Frankfurt<br />

v.picanco@peg<strong>as</strong>us.fmrp.usp.br<br />

Prof. Dr Dim<strong>as</strong> Tadeu Cov<strong>as</strong><br />

Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto<br />

Hemocentro de Ribeirao Preto<br />

dim<strong>as</strong>@fmrp.usp.br<br />

Dr. Sven Becker<br />

Institute for Transfusion Medicine and<br />

Immunohematology<br />

Red Cross Blood Bonor Service Baden-<br />

Wuerttemberg / Hessen<br />

Frankfurt am Main<br />

Alemanha<br />

sbecker@bsdhessen.de<br />

Dr. Torsten Tonn<br />

Institute for Transfusion Medicine and<br />

Immunohematology Red Cross Blood Bonor<br />

Service - Baden-Wuerttemberg / Hessen<br />

Frankfurt am Main<br />

Alemanha<br />

ttonn@bsbhessen.de<br />

Imagem cedida pelos autores<br />

Hemofilia A no Br<strong>as</strong>il<br />

hemofilia é uma doença<br />

hemorrágica hereditária<br />

resultante da deficiência<br />

de uma d<strong>as</strong> vári<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

do sangue envolvid<strong>as</strong> no processo<br />

de coagulação. Cerca de 350.000<br />

pesso<strong>as</strong> em todo o mundo sofrem de<br />

hemofilia A em que o fator VIII não é<br />

produzido, não funciona ou existe em<br />

quantidades reduzid<strong>as</strong>.<br />

No Br<strong>as</strong>il, estima-se que existam<br />

cerca de 7000 hemofílicos que<br />

são tratados, na sua maioria, <strong>com</strong> concentrados<br />

de fator VIII obtidos a partir<br />

do pl<strong>as</strong>ma humano. Este tipo de tratamento<br />

é caro e muit<strong>as</strong> vezes não disponível<br />

na quantidade necessária. No<br />

mercado br<strong>as</strong>ileiro cada unidade internacional<br />

(UI) de fator VIII é <strong>com</strong>ercializada<br />

ao preço médio de US $ 0,50.<br />

A dispensação anual média por<br />

hemofílico é de 30.000 UI, aproximadamente<br />

US $ 15.000,00/ paciente/<br />

ano, totalizando cerca de 100 milhões<br />

de dólares por ano. O tratamento atual<br />

para a hemophilia A é b<strong>as</strong>eado na<br />

infusão intravenosa de concentrados<br />

de FVIII, profilaticamente ou na ocorrência<br />

de um sangramento. Os problem<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> estes concentrados, incluindo<br />

o alto custo, a inconveniência, e<br />

o risco da transmissão de doenç<strong>as</strong> virais,<br />

tais <strong>com</strong>o, hepatitis e HIV, aumentaram<br />

o interesse em expressar este<br />

fator em sistem<strong>as</strong> celulares in vitro ou<br />

in vivo.<br />

Gene do fator VIII<br />

O gene do fator VIII foi clonado<br />

e caracterizado em 1984. Seu locus<br />

situa-se na região 28 do braço longo<br />

do cromossomo X (Xq28). É<br />

constituído por 26 exons cujo tamanho<br />

varia entre 69 e 3106 pb e 25 íntrons<br />

que podem atingir o tamanho<br />

de 32,4 kb, pertencendo a um dos<br />

maiores genes humano (0,1% do cromossomo<br />

X) 1-3 .<br />

Estrutura e função<br />

A proteína deduzida da seqüência<br />

de nucleotídeos do cDNA<br />

contém 2351 aminoácidos. A análise<br />

da estrutura primária mostrou a organização<br />

em domínios: A1- a1- A2- a2-<br />

B- a3- A3- C1- C2 , sendo a cadeia<br />

pesada constituída pelos domínios A1-<br />

a1-A2-a2-B e a cadeia leve pelos<br />

domínios a3-A3-C1-C2.<br />

O fator VIII é uma glicoproteína<br />

que ativa o fator X no processo da<br />

coagulação sangüínea. É sintetizada<br />

<strong>com</strong>o um polipeptídeo de cadeia única<br />

de cerca de 330 kDa e é clivada,<br />

gerando a cadeia pesada de 210 kDa<br />

e a cadeia leve de 80 kDa que se <strong>as</strong>sociam<br />

por interaçoes eletrostátic<strong>as</strong> e<br />

hidrofóbic<strong>as</strong>. O domínio B, o maior<br />

domínio, não participa da atividade<br />

coagulante da proteína e sua função<br />

ainda permanece desconhecida. 4<br />

Expressão do fator VIII em<br />

sistem<strong>as</strong> in vitro<br />

Vários experimentos testaram<br />

a transfecção do gene do fator VIII,<br />

na sua forma inteira ou sem o dominio<br />

B, em sistem<strong>as</strong> celulares, seguida<br />

da avaliação de sua atividade funcional.<br />

Os estudos iniciais mostraram<br />

níveis muito baixos de expressão<br />

em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> linhagens celulares<br />

2, 4-7<br />

estudad<strong>as</strong>.<br />

Em princípio, três seriam os<br />

fatores limitantes para a obtenção de<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 81


A<br />

B<br />

Figura 1: A. Construções Lentivirais. As construções lentivirais foram realizad<strong>as</strong> no<br />

vetor 1054 (cedido gentilmente por Naldini L), onde o FVIII sem o dominio B foi<br />

clonado sob controle dos promotores CMV, HAAT, FVIIIp e EF1-alpha B. Construcoes<br />

pl<strong>as</strong>midiais. N<strong>as</strong> construções pl<strong>as</strong>midiais o vetor utilizado foi o pCDNA3.1 e<br />

diferentes promotores (CMV, HAAT, FVIIIp e EF1-alpha) foram clonados juntamente<br />

<strong>com</strong> o FVIII sem o domínio B.<br />

níveis elevados de expressão da proteína<br />

do fator VIII: 1) o tamanho do<br />

gene; 2) o seu baixo nível de expressão<br />

de mRNA; e, 3) a secreção<br />

ineficiente do produto deste gene.<br />

É conveniente destacar que,<br />

apesar de mais elevados, os níveis de<br />

expressão obtidos <strong>com</strong> o fator VIII são<br />

muito baixos quando <strong>com</strong>parados aos<br />

obtidos para divers<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>.<br />

Informações adicionais sobre <strong>as</strong> modificações<br />

pós-traducionais e o mecanismo<br />

de secreção do fator VIII tornam-se<br />

primordiais para maior entendimento<br />

deste <strong>as</strong>pecto.<br />

Terapia gênica para hemofilia A<br />

A hemofilia A é uma doença<br />

que se presta para a terapia gênica,<br />

uma vez que se sabe muito sobre a<br />

sua transmissão, sobre a localização<br />

do gene defeituoso e sobre a estrutura<br />

e função do fator produzido por este<br />

gene. É de se salientar que a concentração<br />

sanguínea de fator VIII obtida<br />

não é crítica, sendo que um pequeno<br />

aumento da concentração pl<strong>as</strong>mática<br />

de FVIII pode converter um quadro<br />

de hemofilia grave em hemofilia moderada.<br />

O desenvolvimento da terapia<br />

gênica para a hemofilia A tem sido<br />

extensivamente explorado, utilizando<br />

estratégi<strong>as</strong> <strong>com</strong> vetores adenovirais e<br />

retrovirais ex vivo e in vivo. Na terapia<br />

ex vivo tem sido utilizada uma<br />

variedade de célul<strong>as</strong> transduzid<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

retro ou adenovirus e transplantad<strong>as</strong><br />

em camundongos hemofílicos. Apesar<br />

de níveis terapeuticos de FVIII<br />

serem detectados na circulação, a expressão<br />

declina gradualmente devido<br />

ao tempo limitado de sobrevivência<br />

d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> transplantad<strong>as</strong> ou devido<br />

ao silenciamento da transcrição do<br />

transgene. 8-12<br />

O uso de vetores retrovirais<br />

é dificultado pelo baixo título do vetor<br />

e por baixos níveis de expressão do<br />

FVIII. Recentemente, modificações<br />

nos vetores retrovirais permitiu a<br />

produção de altos títulos do vetor 13-15 ,<br />

apesar da incapacibilidade destes<br />

vetores retrovirais de transduzir célul<strong>as</strong><br />

quiescentes, limitando o seu uso<br />

na terapia gênica in vivo.<br />

Vetores adenovirais podem<br />

transduzir uma variedade de célul<strong>as</strong>,<br />

incluindo célul<strong>as</strong> quiescentes e foi<br />

observada eficiente produção de FVIII<br />

em transdução in vivo. 16 Esta expressão<br />

do FVIII foi gradualmente<br />

perdida devido á resposta imune contra<br />

o vetor ou contra o produto do<br />

transgene.<br />

Vetores lentivirais, b<strong>as</strong>eados<br />

no HIV, são uma ferramenta promissora<br />

para terapia gênica, diferentemente<br />

do retrovirus MLV (Moloney<br />

murine leukemia b<strong>as</strong>ed), os lentivirus<br />

são capazes de transduzir estavelmente<br />

célul<strong>as</strong> quiescente em vários<br />

órgaos 15, 17 . Contudo, a resposta i-<br />

mune do hospedeiro contra o produto<br />

transgênico expresso pode resultar<br />

na perda da expressão da proteína na<br />

circulação 18 .<br />

Resultados obtidos no Instituto<br />

de Medicina Transfusional de<br />

Frankfurt mostram que célul<strong>as</strong> endoteliais<br />

progenitor<strong>as</strong> derivad<strong>as</strong> de<br />

cordão umbilical (CBECs) 19 e célul<strong>as</strong><br />

Hematopoiétic<strong>as</strong> 20 transduzid<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

vetor lentiviral contendo o cDNA do<br />

FVIII mantêm a expressão estável do<br />

FVIII por vári<strong>as</strong> gerações, indicando<br />

que est<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> podem ser usad<strong>as</strong><br />

futuramente na terapia gênica. Além<br />

disso, um estudo detalhado da via de<br />

secrecão do FVIII mostra que do FVII<br />

re<strong>com</strong>binante, <strong>com</strong> ou sem o domínio<br />

B, expresso em célul<strong>as</strong> que não secretam<br />

o FVIII fisiologicamente fica retido<br />

em <strong>com</strong>partimentos celulares,<br />

<strong>com</strong>o o retículo endopl<strong>as</strong>mático, limitando<br />

a secrecão deste fator 21 . Análise<br />

de fatores envolvidos na secrecão<br />

do FVIII, linhagens celulares adequad<strong>as</strong><br />

à expressão e secrecão, <strong>as</strong>sim<br />

<strong>com</strong>o a utilizacão de determinados<br />

promotores poderão facilitar a expressão<br />

do FVIII re<strong>com</strong>binate.<br />

Objetivos<br />

O objetivo principal deste<br />

projeto é produzir o fator VIII de coagulação<br />

em sistem<strong>as</strong> celulares in vitro,<br />

por técnic<strong>as</strong> de engenharia re<strong>com</strong>binante.<br />

Este objetivo se justifica <strong>com</strong><br />

b<strong>as</strong>e no pressuposto de menor custo<br />

e maior segurança, visto que seriam<br />

produtos praticamente isentos de<br />

agentes patogênicos, ao contrário do<br />

produto obtido do pl<strong>as</strong>ma humano.<br />

Em colaboração <strong>com</strong> o Instituto<br />

de Medicina Transfusional de<br />

Frankfurt objetivamos obter altos<br />

níveis de fator VIII em linhagens celulares<br />

de mamífero e também a construção<br />

de vetores lentivirais para uma<br />

futura aplicação em estudos in vivo<br />

(terapia gênica).<br />

Construções<br />

Estudos usando a primeira<br />

geração de vetores adenovirais<br />

82 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


mostraram que promotores específicos<br />

para fígado, em vez de promotores<br />

celulares fortes, podem aliviar a<br />

ativação do sistema imune do<br />

hospedeiro, sugerindo que a resposta<br />

imune está relacionada <strong>com</strong> a<br />

transdução de célul<strong>as</strong> apresentador<strong>as</strong><br />

de antígeno 16 . B<strong>as</strong>eado nesses<br />

resultados, foram construídos vetores<br />

contendo, além dos promotores<br />

universais CMV e EF-1a, promotores<br />

específicos de fígado, HAAT e F8p<br />

(Figura 1).<br />

Vetores lentivirais e<br />

pl<strong>as</strong>midiais foram construídos <strong>com</strong><br />

diferentes tipos de promotores, para<br />

observar a especificidade dos<br />

promotores em linhagens celulares de<br />

fígado. Em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> construções<br />

realizad<strong>as</strong> foram utilizado o cDNA do<br />

FVIII sem o dominio B (Figura 1).<br />

No momento, estes vetores<br />

estão sendo testados em cultur<strong>as</strong><br />

celulares para posteriormente serem<br />

aplicados em estudos in vivo.<br />

Considerações finais<br />

O crescente interesse em se<br />

entender os mecanismos de regulação<br />

da secreção e função do fator VIII<br />

leva à realização de experimentos<br />

engenhosos que <strong>com</strong>binam<br />

abordagens de bioquímica e<br />

engenharia genética, trazendo<br />

informações inusitad<strong>as</strong> sobre esse fator<br />

de coagulação sanguínea. Apesar<br />

dos avanços no desenvolvimento de<br />

vetores mais seguros e n<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />

de transferência gênica, a resposta<br />

imunológica do hospedeiro contra o<br />

transgene, <strong>as</strong> dificuldades de<br />

produção em larga escala e sua<br />

padronização, ainda são grandes<br />

barreir<strong>as</strong> para seu uso clínico.<br />

Estabelecer linhagens celulares<br />

de mamíferos transformad<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> construções re<strong>com</strong>binantes contendo<br />

o FVIII que expressem a proteína<br />

em níveis elevados será um p<strong>as</strong>so<br />

fundamental para novos avanços<br />

na terapêutica da hemofilia e na caracterização<br />

dos processos envolvidos na<br />

biossíntese do fator VIII. Isto permitirá<br />

também estabelecer, no Br<strong>as</strong>il, a<br />

metodologia para a produção de<br />

fatores de coagulação através de tecnologia<br />

de DNA re<strong>com</strong>binante.<br />

Referênci<strong>as</strong> bibliográfic<strong>as</strong><br />

1- Gitschier J et al (1984). Characterization<br />

of the human factor VIII gene.<br />

Nature 312:326-330.<br />

2- Toole J.J. et al (1984) Molecular<br />

cloning of a cDNA encoding human<br />

antihaemophilic factor. Nature<br />

312:342-347.<br />

3- Vehar G.A. et al (1984) Structure of<br />

active human factor VIII. Nature<br />

312:3 3 7-342.<br />

4- Kaufman R.J et al (1989) Effect of<br />

von Willebrand Factor Coexpression<br />

on the Synthesis and Secretion of<br />

Factor VIII in Chinese Hamster<br />

Ovary Cells. Mol. Cell Biol. 9:1233-<br />

1242.<br />

5- Yonemura et al., 1993. Efficient production<br />

of re<strong>com</strong>binant human factor<br />

VIII by co-expression of the<br />

heavy and light chains. Protein Eng.<br />

1993 Aug;6(6):669-74.<br />

6- Kjalke et al., 1995. Amino acid<br />

residues 721-729 are required for<br />

full factor VIII activity. Eur J Biochem.<br />

1995 Dec 15;234(3):773-9.<br />

7- Burke et al (1986) The functional<br />

domains of coagulation factor VIII:C.<br />

J. Biol. Chem. 261:12574-12578<br />

8- Hoeben et al (1993). Toward gene<br />

therapy in haemophilia A:<br />

retrovirus-mediated transfer of a<br />

factor VIII gene into murine<br />

haematopoietic progenitor cells.<br />

Thromb Haemost. 1992 Mar<br />

2;67(3):341-5.<br />

9- Zatloukal K et al, 1994. In vivo<br />

production of human factor VII in<br />

mice after intr<strong>as</strong>plenic implantation<br />

of primary fibrobl<strong>as</strong>ts transfected<br />

by receptor-mediated, adenovirusaugmented<br />

gene delivery. Proc Natl<br />

Acad Sci U S A. 1994 May<br />

24;91(11):5148-52<br />

10- Chuah et al, 2000,<br />

11- VandenDriessche et al, 1999. Longterm<br />

expression of human coagulation<br />

factor VIII and correction<br />

of hemophilia A after in vivo<br />

retroviral gene transfer in factor<br />

VIII-deficient mice. Proc Natl<br />

Acad Sci U S A. 1999 Aug<br />

31;96(18):10379-84.<br />

12- Dwarki VJ et al, 1995. Gene therapy<br />

for hemophilia A: production of<br />

therapeutic levels of human factor<br />

VIII in vivo in mice. Proc Natl Acad<br />

Sci U S A. 1995 Feb 14;92(4):<br />

1023-7.<br />

13- Chuah MK, et al, 2000. Long-term<br />

persistence of human bone marrow<br />

stromal cells transduced with factor<br />

VIII-retroviral vectors and transient<br />

production of therapeutic levels of<br />

human factor VIII in<br />

nonmyeloablated immunodeficient<br />

mice. Hum Gene Ther. 2000 Mar<br />

20;11(5):729-38<br />

14- Gallo-Penn AM et al, 2001. Systemic<br />

delivery of an adenoviral vector<br />

encoding canine factor VIII results<br />

in short-term phenotypic correction,<br />

inhibitor development, and<br />

biph<strong>as</strong>ic liver toxicity in hemophilia<br />

A dogs. Blood. 2001 Jan 1;97(1):107-<br />

13.<br />

15- Naldini L et al, 1996. Efficient transfer,<br />

integration, and sustained<br />

long-term expression of the<br />

transgene in adult rat brains injected<br />

with a lentiviral vector. Proc<br />

Natl Acad Sci U S A. 1996 Oct<br />

15;93(21):11382-8.<br />

16- P<strong>as</strong>tore L at al, 1999. Use of a<br />

liver-specific promoter reduces<br />

immune response to the transgene<br />

in adenoviral vectors. Hum Gene<br />

Ther. 1999 Jul 20;10(11):1773-81.<br />

17- Naldini L et al (1996). In vivo<br />

gene delivery and stable transduction<br />

of nondividing cells by a<br />

lentiviral vector. Science. 1996 Apr<br />

12;272(5259):263-7.<br />

18- Park F et al (2000). Therapeutic<br />

levels of human factor VIII and<br />

IX using HIV-1-b<strong>as</strong>ed lentiviral<br />

vectors in mouse liver. Blood. 2000<br />

Aug 1;96(3):1173-6.<br />

19- Herder et al (2003). Sustained Expansion<br />

and Transgene Expression<br />

of Coagulation Factor VIII- Transduced<br />

Cord Blood- Derived Endothelial<br />

Progenitor Cells. Arterioscler<br />

Thromb V<strong>as</strong>c Biol. Dec 23 (12)<br />

2266-72.<br />

20- Tonn T et al. Generation and<br />

characterization of human hematopoietic<br />

cell lines expressing factor<br />

FVIII. Journal of Hematotherapy<br />

& Stem Cell. 2002 Aug. 11(4) ; 695-<br />

704<br />

21- Becker S et al. Confocal microscopy<br />

analylis of native, full lengh and<br />

B-domain deleted coagulation factor<br />

VIII trafficking in mammalian<br />

cells. Artigo aceito pela revista<br />

Thromb. Hemost.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 83


Pesquisa<br />

Receptores de Bacillus<br />

thuringiensis em insetos<br />

Análises in vitro de receptores membranares de proteín<strong>as</strong> Cry em larv<strong>as</strong> de lepidópteros<br />

Lídia Mariana Fiuza<br />

Drª em Ciênci<strong>as</strong> Agronômic<strong>as</strong> pela ENSAM -<br />

Montpellier (França)<br />

Profª Adjunta do PPG-Biologia: Diversidade e<br />

Manejo de Vida Silvestre, Líder do Grupo de Pesquisa:<br />

Manejo de Populações de Insetos, Coordenadora do<br />

Laboratório de Microbiologia, Universidade do Vale<br />

do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS<br />

Pesquisadora Consultora da Fitotecnia, EEA/<br />

Instituto Rio-Grandense do Arroz, Cachoeirinha, RS.<br />

fiuza@bios.unisinos.br<br />

Bacillus thuringiensis<br />

1. Introdução<br />

bactéria ubíqua, Bacillus<br />

thuringiensis tem ação<br />

entomopatogênica relacionada<br />

ao corpo de inclusão<br />

paraesporal, que se<br />

forma durante a esporulação, sendo<br />

este constituído de proteín<strong>as</strong> Cry codificad<strong>as</strong><br />

por genes cry (Höfte & Whiteley,<br />

1989; Schnepf et al., 1998). As<br />

proteín<strong>as</strong> Cry têm mostrado atividade<br />

inseticida altamente específica entre<br />

<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> ordens de insetos, <strong>com</strong>o:<br />

Lepidoptera, Diptera, Coleoptera<br />

(Zhong et al., 2000); Hymenoptera,<br />

Hemiptera, Orthoptera, Isoptera e<br />

Malophaga (Feitelson et al., 1992; De<br />

Maagd et al., 2001; C<strong>as</strong>tilhos-Fortes et<br />

al., 2001), além de Nematóides (Marroquin<br />

et al., 2000), Ácaros, Protozoários<br />

e Fitopatógenos.<br />

Os dados atuais, na escala mundial,<br />

revelam mais de 60.000 isolados de<br />

B. thuringiensis, correspondentes a<br />

82 subespécies descrit<strong>as</strong> até 1999,<br />

<strong>com</strong> cerca de 300 genes cry distribuídos<br />

em 34 cl<strong>as</strong>ses (Pinto & Fiuza,<br />

2002). A revisão da nomenclatura dos<br />

genes cry de B. thuringiensis foi publicada<br />

por Crickmore et al. (1998), a<br />

qual vem sendo atualizada no Web<br />

Site: http://biols.susx.ac.uk/Home/<br />

Neil_Crickmore/Bt/index.html.<br />

Como mecanismo de ação, entre<br />

a ingestão d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry de B.<br />

thuringiensis e a morte d<strong>as</strong> larv<strong>as</strong> dos<br />

insetos suscetíveis, destacam-se <strong>as</strong> seguintes<br />

f<strong>as</strong>es:<br />

* solubilização do corpo de inclusão<br />

paraesporal em pH alcalino no<br />

intestino médio dos insetos, liberando<br />

<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry <strong>com</strong> m<strong>as</strong>sa molecular<br />

de 130-140 kDa a 70 kDa (Schnepf et<br />

al., 1998). Essa f<strong>as</strong>e é determinante à<br />

especificidade do isolado de B. thuringiensis<br />

e à espécie-alvo, tanto pela<br />

alcalinidade do sistema digestivo quanto<br />

pela <strong>com</strong>posição dos cristais (Aronson<br />

et al., 1991).<br />

* ativação d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry pel<strong>as</strong><br />

enzim<strong>as</strong> digestiv<strong>as</strong> formando fragmentos<br />

tóxicos de 60-65 kDa (Schnepf<br />

et al., 1998). Nessa f<strong>as</strong>e tanto a<br />

<strong>com</strong>posição proteolítica quanto à estrutura<br />

protéica do cristal são importantes<br />

(Choma et al., 1990).<br />

* ligação d<strong>as</strong> toxin<strong>as</strong> aos receptores<br />

específicos às microvilosidades<br />

d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> epiteliais do intestino médio<br />

d<strong>as</strong> larv<strong>as</strong> suscetíveis. Os estudos<br />

realizados <strong>com</strong> Brush Border Membrane<br />

Vesicles (BBMV) isolad<strong>as</strong> de larv<strong>as</strong><br />

de lepidópteros mostram que ligações<br />

de forte afinidade entre <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> e<br />

os receptores são considerad<strong>as</strong> fatores<br />

determinantes do espectro inseticida<br />

(Hofmann et al., 1988; Van Rie et al.,<br />

1989 e 1990; Fiuza et al., 1996). Esses<br />

autores mostram que há uma correlação<br />

positiva entre a ligação, in vitro, da<br />

toxina no receptor intestinal e a toxicidade,<br />

in vivo. Por outro lado, outros<br />

estudos descrevem que o reconhecimento<br />

do receptor é necessário, m<strong>as</strong><br />

não é suficiente para provocar a toxicidade,<br />

sugerindo a existência de outros<br />

fatores relacionados ao modo de<br />

ação d<strong>as</strong> delta-endotoxin<strong>as</strong> (Wolfersberger,<br />

1990). Em 1994, Knight et al.<br />

isolaram, d<strong>as</strong> BBMVs de larv<strong>as</strong> de Manduca<br />

sexta (Lep., Sphingidae), uma<br />

aminopeptid<strong>as</strong>e N implicada na interação<br />

da toxina Cry1Ac. Os modelos de<br />

receptores atualmente descritos mostram<br />

que um inseto pode apresentar<br />

quantidade variável de divers<strong>as</strong> cl<strong>as</strong>ses<br />

de receptores, os quais podem ser<br />

reconhecidos por diferentes toxin<strong>as</strong><br />

(Hua et al., 2001). Diversos autores<br />

84 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


sugerem que estes modelos podem<br />

explicar a especificidade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

Cry de B. thuringiensis.<br />

* indução à formação de poros na<br />

membrana celular do epitélio intestinal<br />

(Höfte & Witeley, 1989; Schnepf et<br />

al., 1998).<br />

* desequilíbrio iônico entre o citopl<strong>as</strong>ma<br />

e o meio externo à célula<br />

(Gill et al., 1992; Knowles & Bow,<br />

1993). As análises histopatológic<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong><br />

após a intoxicação dos insetos<br />

mostram a destruição d<strong>as</strong> microvilosidades,<br />

hipertrofia d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> epiteliais,<br />

vacuolização do citopl<strong>as</strong>ma e lise celular,<br />

levando o inseto à paralisia e morte<br />

(Endo & Nishiitsuji-Uwo, 1981; Bravo<br />

et al., 1992a,b; Denolf et al., 1993a,b).<br />

Considerando a especificidade<br />

inseticida d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry de B. thuringiensis,<br />

de acordo <strong>com</strong> Meadows<br />

(1993), até o momento não foram<br />

descritos c<strong>as</strong>os de intoxicações de<br />

mamíferos através dos alimentos. Por<br />

outro lado, em estudos <strong>com</strong> toxin<strong>as</strong> de<br />

B. thuringiensis israelensis, administrad<strong>as</strong><br />

via parenteral, foi observada a<br />

atividade citolítica para divers<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

de mamíferos (Thom<strong>as</strong> & Ellar,<br />

1983; Armstrong et al., 1985; Meadows,<br />

1993). Face aos referidos dados,<br />

esse entomopatógeno tem sido considerado<br />

seguro ao homem e ao ecossistema.<br />

Na seleção d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> inseticid<strong>as</strong>,<br />

sintetizad<strong>as</strong> por essa bactéria, <strong>as</strong><br />

análises in vitro dos receptores membranares<br />

podem viabilizar uma rápida<br />

determinação do espectro de ação d<strong>as</strong><br />

proteín<strong>as</strong> Cry contra <strong>as</strong> espécies alvo,<br />

sendo em seguida efetuada a avaliação<br />

da toxicidade in vivo, apen<strong>as</strong> para os<br />

isolados pré-selecionados <strong>com</strong>o ativos<br />

in vitro. Sendo <strong>as</strong>sim, o presente trabalho<br />

trata de diferentes métodos de<br />

análise de receptores de proteín<strong>as</strong> de<br />

B. thuringiensis em form<strong>as</strong> imatur<strong>as</strong><br />

de lepidópteros.<br />

2. Material e métodos<br />

2.1. Tecidos dos insetos<br />

As larv<strong>as</strong> de lepidópteros (Chilo<br />

suppressalis, Heliothis armigera e Plutella<br />

xylostella) foram obtid<strong>as</strong> da criação<br />

m<strong>as</strong>sal de insetos mantida em<br />

laboratório, a 25±1ºC, 70±5ºC e 12h de<br />

fotof<strong>as</strong>e. Os tubos digestivos foram<br />

dissecados e fixados durante 24h em<br />

BHS a 10%, sendo em seguida lavados<br />

por 12h em água destilada e desidratados<br />

em séries crescentes de etanol, 70<br />

a 100% (Brandtzaeg, 1982). Os tecidos<br />

foram impregnados em banhos mistos<br />

(etanol/tolueno/parapl<strong>as</strong>to) e incluídos<br />

em parapl<strong>as</strong>to 100% a 58ºC. Os<br />

cortes longitudinais de 7 µm de espessura,<br />

preparados <strong>com</strong> micrótomo LKB,<br />

foram montados em lâmin<strong>as</strong> de vidro,<br />

tanad<strong>as</strong> <strong>com</strong> poly-l-lysina (Sigma) a<br />

10%, e conservad<strong>as</strong> a 4ºC.<br />

2.2. Purificação d<strong>as</strong><br />

proteín<strong>as</strong> Cry<br />

As proteín<strong>as</strong> Cry1Aa, Cry1Ac e<br />

Cry1Ba foram obtid<strong>as</strong> de B. thuringiensis<br />

dendrolimus HD 37, B. thuringiensis<br />

kurstaki HD 73 e B. thuringiensis<br />

thuringiensis 4412, respectivamente.<br />

Ess<strong>as</strong> cep<strong>as</strong> contêm apen<strong>as</strong><br />

um gene cry que codifica a referida<br />

proteína Cry inseticida, <strong>as</strong> quais foram<br />

cedid<strong>as</strong> para essa pesquisa pelo Instituto<br />

P<strong>as</strong>teur (IEBC-Paris, França) e a<br />

Pant Genetics Systems (PGS-Ghent,<br />

Bélgica). As cep<strong>as</strong> de B. thuringiensis<br />

foram cultivad<strong>as</strong> conforme o método<br />

de Mahillon & Delcour (1984). Após a<br />

lise bacteriana foram centrifugad<strong>as</strong> e<br />

lavad<strong>as</strong> <strong>com</strong> tampão fosfato (100 mM<br />

NaH 2<br />

PO 4<br />

; 100 mM NaCl; 0,01 % Triton<br />

X-100; pH 6).<br />

Os cristais foram separados dos<br />

esporos e d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong> bacterian<strong>as</strong> em<br />

gradiente de renografina por ultracentrifugação,<br />

conforme metodologia descrita<br />

por Sharpe et al. (1975). As band<strong>as</strong>,<br />

contendo os cristais puros, foram<br />

lavad<strong>as</strong> e diluíd<strong>as</strong> em água milli-Q<br />

esterilizada, contendo 0,1 mM phenylmethylsulfonyl<br />

(PMSF). As proteín<strong>as</strong><br />

Cry foram solubilizad<strong>as</strong> em tampão<br />

fosfato (50 mM Na 2<br />

, CO 3<br />

; 10 mM dithiothreitol;<br />

0,1 mM PMSF; pH 10). O<br />

pH foi ajustado a 8,6 por diálise contra<br />

o tampão 20 mM Tris e <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

Cry foram clivad<strong>as</strong> por bovine pancreatic<br />

trypsin (Type I; Sigma), sendo a<br />

reação inativada <strong>com</strong> trypsin inhibitor<br />

(Type II-S; Sigma).<br />

A pureza e a integridade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

foram avaliad<strong>as</strong> por eletroforese<br />

em gel de poliacrilamida a 10%,<br />

SDS-PAGE (Laemmli, 1970). A concentração<br />

foi determinada pelo método<br />

Bradford (1976), usando a bovine<br />

serum albumin (BSA) <strong>com</strong>o proteína<br />

padrão.<br />

2.3. Proteín<strong>as</strong> Cry biotinilad<strong>as</strong><br />

As proteín<strong>as</strong> Cry foram preliminarmente<br />

biotinilad<strong>as</strong> conforme o<br />

método descrito por Bayer & Wilcheck<br />

(1990), onde a incorporação da biotina<br />

na parte N-terminal da proteína é feita<br />

usando o BNHS (biotinyl-N-hydroxysuccinimide<br />

éster - Amersham) em<br />

tampão de bicarbonato de sódio<br />

(100 mM NaHCO 3<br />

; 150 mM NaCl; pH<br />

9). O produto da reação foi purificado<br />

em sephadex G-25 (Sigma) e <strong>as</strong> frações<br />

biotinilad<strong>as</strong> identificad<strong>as</strong> por dotblot,<br />

onde foi utilizada membrana de<br />

nitrocelulose, o conjugado de estreptavidina-fosfat<strong>as</strong>e-alcalina<br />

diluída no<br />

tampão Tris-Saline-Triton (10 mM<br />

Tris; 150 mM NaCl; 0,1% Triton X-100;<br />

pH 7;6) e o substrato de revelação (5-<br />

bromo-4-chloro-3-indolyl phosphate e<br />

nitroblue tetrazolium, diluídos no tampão<br />

100 mM Tris; 100 mM NaCl; 5 mM<br />

MgCl 2<br />

; pH 9,5). A concentração d<strong>as</strong><br />

proteín<strong>as</strong> Cry biotinilad<strong>as</strong> foi determinada<br />

pelo método Bradford (1976),<br />

usando a BSA <strong>com</strong>o proteína padrão. A<br />

pureza e a integridade d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

marcad<strong>as</strong> foi avaliada em western-blot,<br />

usando membrana de nitrocelulose<br />

(Sigma) e o tampão Towbin (12.5 mM<br />

Tris, 96 mM glycine; pH 8,3 <strong>com</strong> 10%<br />

ethanol). As membran<strong>as</strong> foram revelad<strong>as</strong><br />

usando a mesma técnica descrita<br />

no dot-blot.<br />

2.4. Anticorpos policlonais<br />

As proteín<strong>as</strong>, Cry1Aa, Cry1Ac e<br />

Cry1Ba, foram preparad<strong>as</strong> conforme<br />

descrito anteriormente na purificação.<br />

Os anticorpos foram produzidos em<br />

coelhos (Eurogentec – Bélgica), sendo<br />

<strong>as</strong> imunoglobulin<strong>as</strong> (IgGs) separad<strong>as</strong><br />

em colun<strong>as</strong> de sepharose protein-A e<br />

<strong>as</strong> frações purificad<strong>as</strong> por afinidade<br />

incubando os IgGs e <strong>as</strong> membran<strong>as</strong> de<br />

nitrocelulose, contendo os antígenos<br />

previamente transferidos por westernblot<br />

conforme descrito por Burke et al.<br />

(1982). A especificidade e sensibilidade<br />

dos anticorpos policlonais foi determinada<br />

pelo método de ELISA (Enzyme-linked<br />

immunosorbent <strong>as</strong>say) e<br />

dot-blot.<br />

2.5. Detecção in vitro dos<br />

receptores membranares<br />

O estudo in vitro dos receptores<br />

foi efetuado sobre cortes histológicos<br />

do intestino dos insetos, utilizando <strong>as</strong><br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 85


toxin<strong>as</strong> sintetizad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> cep<strong>as</strong> de B.<br />

thuringiensis em estudo. A detecção<br />

propriamente dita corresponde a incubação<br />

dos tecidos, previamente desparafinados<br />

e reidratados, <strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

Cry.<br />

N<strong>as</strong> análises <strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> Cry<br />

biotinilad<strong>as</strong>, os cortes histológicos foram<br />

incubados à temperatura ambiente,<br />

durante 1h, <strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> biotinilad<strong>as</strong><br />

(10 µg/ml). As proteín<strong>as</strong> não<br />

ligad<strong>as</strong> aos sítios receptores foram removid<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> TST (10 mM Tris; 150<br />

mM NaCl; 0,1% Triton X-100; pH 7,6).<br />

Em seguida, os tecidos foram tratados<br />

<strong>com</strong> estreptavidina conjugada a uma<br />

enzima (peroxid<strong>as</strong>e ou fosfat<strong>as</strong>e<br />

alcalina) ou fluorocromo<br />

(fluoresceína ou ficoeritrina),<br />

diluídos em tampão TST. O<br />

<strong>com</strong>plexo da reação “proteína-receptor”,<br />

usando o conjugado<br />

<strong>com</strong> enzim<strong>as</strong> foi revelado<br />

<strong>com</strong> substrato DAB para<br />

peroxid<strong>as</strong>e e BCIP/NBT para<br />

fosfat<strong>as</strong>e alcalina, sendo <strong>as</strong><br />

secções montad<strong>as</strong> <strong>com</strong> Pertex,<br />

entre lâmina e lamínula<br />

de vidro. N<strong>as</strong> revelações <strong>com</strong><br />

a fluoresceína ou ficoeritrina,<br />

<strong>as</strong> secções foram montad<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> Mowiol e conservad<strong>as</strong> a<br />

4ºC.<br />

N<strong>as</strong> análises imunohistoquímic<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> nativ<strong>as</strong> (não<br />

biotinilad<strong>as</strong>), os receptores foram revelados<br />

<strong>com</strong> o <strong>com</strong>plexo anticorpo<br />

primário (AC 1<br />

, específico contra a proteína<br />

Cry) e anticorpo secundário (AC 2<br />

,<br />

dirigido contra o AC 1<br />

) conjugado a uma<br />

enzima ou fluorocromo, os quais foram<br />

revelados e montados de acordo <strong>com</strong><br />

o método descrito anteriormente. Na<br />

imunodetecção, os cortes histológicos<br />

foram incubados <strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> nativ<strong>as</strong><br />

e na imunolocalização, <strong>as</strong> lagart<strong>as</strong><br />

foram previamente tratad<strong>as</strong> in vivo<br />

<strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry e posteriormente<br />

foram preparados os tecidos e <strong>as</strong> reações<br />

imunohistoquímic<strong>as</strong>.<br />

Em ambos os métodos, <strong>as</strong> testemunh<strong>as</strong><br />

foram preparad<strong>as</strong> pela omissão<br />

alternada de cada etapa da reação,<br />

a fim de eliminar a hipótese de reações<br />

falso-positiv<strong>as</strong>. As amostr<strong>as</strong> revelad<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> enzim<strong>as</strong>, tipo peroxid<strong>as</strong>e e fosfat<strong>as</strong>e<br />

alcalina, foram avaliad<strong>as</strong> em microscopia<br />

óptica de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e<br />

Nomarski (Leitz DMRB). Para <strong>as</strong> análises<br />

onde foram utilizados os fluorocromos<br />

foi utilizada a microscopia de<br />

varredura l<strong>as</strong>er (ACAS 570, Meridian).<br />

3. Resultados<br />

3.1. Localização de receptores<br />

<strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> Cry biotinilad<strong>as</strong><br />

Os cortes histológicos d<strong>as</strong> lagart<strong>as</strong><br />

de Chilo suppressalis, tratados <strong>com</strong><br />

proteín<strong>as</strong> biotinilad<strong>as</strong> de Cry1Aa e<br />

Cry1Ac (Fig. 1A), revelaram uma marcagem<br />

uniforme ao longo d<strong>as</strong> microvilosidades<br />

intestinais. Na mesma espécie<br />

a marcagem de Cry1Ba (Fig. 1B)<br />

também foi intensa. Os tecidos de<br />

Figura 1: Detecção de receptores de proteína Cry1 de Bacillus<br />

thuringiensis em cortes longitudinais de lagart<strong>as</strong> de Chilo<br />

suppressalis (A e B), Heliothis armigera (C) e Plutella xylostella<br />

(D), analisados em microscopia óptica de contr<strong>as</strong>te de f<strong>as</strong>e<br />

Nomarski e Fluorescência.<br />

Heliothis armigera também apresentaram<br />

marcagem uniforme n<strong>as</strong> microvilosidades<br />

intestinais para a proteína<br />

Cry1Ac (Fig. 1C), sendo os mesmos<br />

resultados obtidos nos ensaios <strong>com</strong> <strong>as</strong><br />

lagart<strong>as</strong> de Plutella xylostella, quando<br />

tratad<strong>as</strong> <strong>com</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry1Aa e<br />

Cry1Ac (Fig. 1D).<br />

No c<strong>as</strong>o dos tecidos tratados <strong>com</strong>o<br />

controle, representantes da omissão<br />

alternada dos diferentes <strong>com</strong>ponentes<br />

da reação, observou-se a ausência de<br />

coloração n<strong>as</strong> microvilosidades d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

do epitélio intestinal dos insetos<br />

em estudo. As marcagens detectad<strong>as</strong><br />

na região d<strong>as</strong> microvilosidades d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

do epitélio intestinal revelam a<br />

presença de receptores membranares<br />

às proteín<strong>as</strong> Cry, em estudo, n<strong>as</strong> referid<strong>as</strong><br />

espécies de insetos alvo.<br />

3.2. Imunodetecção de receptores<br />

<strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> Cry nativ<strong>as</strong><br />

Os resultados d<strong>as</strong> análises de<br />

imunohistoquímica, utilizando os anticorpos<br />

policlonais, confirmam a detecção<br />

dos receptores membranares intestinais<br />

n<strong>as</strong> lagart<strong>as</strong> de: Chilo suppressalis<br />

às proteín<strong>as</strong> nativ<strong>as</strong> Cry1Aa,<br />

Cry1Ac e Cry1Ba; Heliothis armigera à<br />

proteína Cry1Ac; Plutella xylostella às<br />

proteín<strong>as</strong> Cry1Aa e Cry1Ac (Fig. 2).<br />

3.3. Imunolocalização de receptores<br />

<strong>com</strong> proteín<strong>as</strong> Cry nativ<strong>as</strong><br />

Ness<strong>as</strong> análises apen<strong>as</strong> a espécie<br />

Chilo suppressalis foi avaliada, demonstrando<br />

a localização de receptores<br />

intestinais às proteín<strong>as</strong> Cry1Aa,<br />

Cry1Ac e Cry1Ba nos tecidos d<strong>as</strong> lagart<strong>as</strong><br />

previamente intoxicad<strong>as</strong> in vivo,<br />

confirmando <strong>as</strong>sim os dados<br />

obtidos n<strong>as</strong> análises in vitro<br />

de receptores por imunodetecção<br />

e biotinilação de proteín<strong>as</strong>.<br />

3.4. Receptores membranares<br />

em microscopia<br />

de varredura<br />

l<strong>as</strong>er<br />

As amostr<strong>as</strong> de imunodetecção<br />

(Fig. 2) e biotinilação<br />

de proteín<strong>as</strong>, revelad<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> fluorocromos, foram<br />

avaliad<strong>as</strong> em microscopia de<br />

varredura l<strong>as</strong>er, que permite<br />

uma análise semiquantitativa<br />

dos receptores através da<br />

varredura da totalidade d<strong>as</strong> secções<br />

longitudinais dos tubos digestivos d<strong>as</strong><br />

lagart<strong>as</strong>, podendo-se obter imagens:<br />

bidimensional (Fig. 2A), tridimensional<br />

(Fig. 2B) ou um gráfico que representa<br />

o pico de fluorescência numa linha<br />

imaginária do epitélio intestinal (Fig.<br />

2C).<br />

Nos estudos <strong>com</strong> Chilo suppressalis<br />

foi avaliada a distribuição dos<br />

receptores d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry1Aa e<br />

Cry1Ac ao longo do epitélio intestinal,<br />

cujos dados foram convertidos em valores<br />

numéricos correspondentes à intensidade<br />

de fluorescência e analisados<br />

estatisticamente pelo teste de homogeneidade<br />

de variância de Bartlett<br />

(Dagnelie, 1970), sendo <strong>as</strong> du<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong>parad<strong>as</strong> pelo teste de Student–Neuwman-Keuls<br />

em três porções<br />

intestinais. Os resultados revelaram<br />

uma diferença significativa na intensidade<br />

de fluorescência detectada<br />

para Cry1Aa e Cry1Ac (Fig. 3), sendo<br />

a primeira mais intensa, representando<br />

86 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


<strong>com</strong>petição de du<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o<br />

por exemplo Cry1Aa e Cry1Ba, revelad<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> fluorocromos detectados em<br />

diferentes <strong>com</strong>primentos de onda, sobre<br />

a mesma porção intestinal da lagarta<br />

(Chilo suppressalis), revelando <strong>as</strong>sim<br />

que a fluorescência pode ser sobreposta<br />

(Fig. 4) e que ess<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

se ligam aos mesmos receptores membranares<br />

intestin<strong>as</strong>.<br />

4. Discussão<br />

Figura 2: Imunodetecção de receptores de proteína Cry1A de Bacillus thuringiensis<br />

em cortes longitudinais de lepidópteros, analisados em microscopia de varredura<br />

l<strong>as</strong>er (barra = 35 µm).<br />

Figura 3: Distribuição de receptores de proteín<strong>as</strong> Cry1 ao longo intestino médio de<br />

lagart<strong>as</strong> de Chilo suppressalis, avaliad<strong>as</strong> em microscopia de varredura l<strong>as</strong>er.<br />

uma maior concentração de receptores<br />

intestinais na espécie em estudo.<br />

Por outro lado, amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

revelaram uma maior quantidade de<br />

receptores na porção anterior (Fig. 3A)<br />

e posterior (Fig. 3C) do intestino mé-<br />

dio, quando <strong>com</strong>parad<strong>as</strong> à porção central<br />

(Fig. 3B).<br />

A microscopia de varredura l<strong>as</strong>er<br />

permite a leitura simultânea de dois<br />

fluorocromos (fluoresceína e ficoeritrina),<br />

permitindo <strong>as</strong>sim a análise da<br />

Figura 4: Competição de proteín<strong>as</strong> Cry1 biotinilad<strong>as</strong>, revelad<strong>as</strong> <strong>com</strong> fluoresceína<br />

(Cry1Aa - detector1) e ficoeritrina (Cry1Ba - detector 2), na análise de receptores<br />

membranares intestinais de Chilo suppressalis, em microscopia de varredura l<strong>as</strong>er.<br />

As análises de receptores membranares<br />

intestinais, através de técnic<strong>as</strong><br />

de imunohistoquímica e detecções<br />

de proteín<strong>as</strong> Cry biotinilad<strong>as</strong>, foram<br />

realizad<strong>as</strong> por diversos autores em larv<strong>as</strong><br />

de diferentes espécies de lepidópteros<br />

(Bravo et al., 1992a; Denolf et al.,<br />

1993a; Estada e Ferre, 1994; Fiuza,<br />

1995), dípteros (Ravoahangimalala et<br />

al., 1993) e coleópteros (Bravo et al.<br />

1992a; Boets et al., 1994). Esses autores<br />

<strong>com</strong>provaram que <strong>as</strong> ligações d<strong>as</strong><br />

proteín<strong>as</strong> Cry n<strong>as</strong> microvilosidades do<br />

intestino médio d<strong>as</strong> larv<strong>as</strong> de insetos<br />

correspondem à existência de um receptor<br />

específico à referida proteína<br />

no inseto-alvo.<br />

As análises in vitro de receptores<br />

de proteín<strong>as</strong> Cry de B. thuringiensis<br />

revelad<strong>as</strong> <strong>com</strong> enzim<strong>as</strong> mostram<br />

que em geral os receptores estão distribuídos<br />

uniformemente ao longo do<br />

intestino médio dos lepidópteros (Bravo<br />

et al., 1992b; Denolf et al., 1993a),<br />

porém Bravo et al. (1992b) revelaram<br />

que ess<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> se ligam preferencialmente<br />

n<strong>as</strong> microvilosidades da porção<br />

posterior do intestino médio d<strong>as</strong><br />

larv<strong>as</strong> dos coleópteros. No presente<br />

estudo, <strong>as</strong> semiquantitativ<strong>as</strong> dos receptores,<br />

avaliad<strong>as</strong> em microscopia de<br />

varredura l<strong>as</strong>er, em larv<strong>as</strong> de lepidópteros,<br />

também revelaram que a distribuição<br />

desses receptores membranares<br />

intestinais foi diferenciada ao longo<br />

do epitélio, sendo mais concentrada<br />

n<strong>as</strong> porções anteriores e posteriores<br />

do intestino médio.<br />

N<strong>as</strong> avaliações de <strong>com</strong>petição<br />

d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> de B. thuringiensis, <strong>as</strong><br />

toxin<strong>as</strong> Cry1Aa e Cry1Ba mostraramse<br />

em <strong>com</strong>petição pelos receptores<br />

celulares de Chilo suppressalis, cujos<br />

dados também foram demonstrados<br />

em outr<strong>as</strong> espécies de lepidópteros.<br />

Por outro lado, os estudos desenvolvi-<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 87


dos por Denolf et al. (1993a,b), utilizando<br />

<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> Cry1Ac e Cry1Ba<br />

(marcad<strong>as</strong> <strong>com</strong> molécul<strong>as</strong> de biotina e<br />

de iodo radioativo), em larv<strong>as</strong> de Ostrinia<br />

nubilalis, revelaram que ess<strong>as</strong> toxin<strong>as</strong><br />

se ligam a diferentes receptores<br />

intestinais, sugerindo que a utilização<br />

simultânea dess<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> pode apresentar<br />

um efeito inseticida sinérgico<br />

contra O. nubilalis.<br />

Relacionando o estudo dos receptores<br />

in vitro e a análise da toxicidade<br />

in vivo, pode-se inferir que os métodos<br />

de detecção de receptores membranares<br />

podem ser aplicados na seleção<br />

d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> ativ<strong>as</strong> contra insetos,<br />

havendo uma correlação positiva entre<br />

<strong>as</strong> análises in vitro e in vivo. Porém,<br />

para determinar a Concentração Letal<br />

Média (CL 50<br />

) de uma proteína Cry fazse<br />

necessário o bioensaio uma vez que<br />

<strong>as</strong> ligações d<strong>as</strong> proteín<strong>as</strong> aos receptores<br />

podem variar em concentração e<br />

afinidade, <strong>com</strong>o já descrito por diversos<br />

autores, para diferentes espécies<br />

de insetos (Denolf et al., 1993a; Van<br />

Rie et al., 1990; Fiuza et al., 1996; Lee<br />

et al., 1996; Hua et al., 2001). Também<br />

há estudos demonstrando que <strong>as</strong> proteín<strong>as</strong><br />

Cry tóxic<strong>as</strong> aos insetos correspondem<br />

àquel<strong>as</strong> que se ligam de forma<br />

irreversível aos receptores d<strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

epiteliais do inseto-alvo (Liang et<br />

al., 1995).<br />

No contexto, controle microbiano<br />

de insetos, a espécie Bacillus thuringiensis<br />

oferece <strong>as</strong> melhores alternativ<strong>as</strong><br />

à produção de biopesticid<strong>as</strong> e à<br />

engenharia genética de plant<strong>as</strong>. Sendo<br />

<strong>as</strong>sim, é fundamental avaliar o espectro<br />

de ação e a especificidade d<strong>as</strong><br />

proteín<strong>as</strong> potencialmente inseticid<strong>as</strong><br />

e, nesse sentido, a análise in vitro dos<br />

receptores membran<strong>as</strong> pode ser considerada<br />

uma ferramenta indispensável<br />

face ao grande número de isolados,<br />

cep<strong>as</strong> e proteín<strong>as</strong> de B. thuringiensis<br />

já identificados, que representam um<br />

potencial no manejo de insetos-praga.<br />

5. Agradecimentos<br />

À equipe Biotrop do Centre Internationale<br />

de Recherche Agronomique<br />

pour le Dévélopement (Montpellier,<br />

França), especialmente a Drª Nicole<br />

Michaux-Ferriere, <strong>as</strong>sim <strong>com</strong>o aos pesquisadores<br />

Dr. Jeroen Van Rie (Plant<br />

Genetic Systems, Ghent, Bélgica) e ao<br />

Dr. Jean-François Charles (Institut P<strong>as</strong>teur,<br />

Paris, França), por su<strong>as</strong> contribuições<br />

nessa pesquisa.<br />

6. Referênci<strong>as</strong><br />

Bibliográfic<strong>as</strong><br />

ARMSTRONG, J. L.; ROHRMANN, G. F.<br />

& BEAUDREAU, G. S. 1985. Deltaendotoxins<br />

of Bacillus thuringiensis<br />

subspecies israelensis. Journal<br />

Bacteriology, 161: 39-46.<br />

ARONSON, A.; HAN, E.; McGAUGHEY,<br />

W. & JOHNSON, D. 1991. The<br />

solubility of inclusion proteins from<br />

Bacillus thuringiensis is depend<br />

upon protoxin <strong>com</strong>position and is<br />

a factor in toxicity to insects. Applied<br />

Environmental Microbiology,<br />

57:981-986.<br />

BAYER, E. & WILCHECK, M. 1990.<br />

Protein biotinylation. Methods in<br />

Enzymology. 184: 138-159.<br />

BOETS, A.; JANSENS, S.; DENOLF, P.;<br />

PEFEROEN, M.; DEGHEELE, D.;<br />

VAN RIE, J. 1994. Sequential<br />

observations of toxin distribution<br />

and histopathological effects of<br />

CryIIIA in the gut of intoxicated<br />

Leptinotarsa decemlineata larvae.<br />

XXVIIth Annual Meeting of the<br />

Society for Invertebrate Pathology,<br />

p. 377.<br />

BRADFORD, M. 1976. A rapid and<br />

sensitive method for the<br />

quantitation of microgram<br />

quantities of protein utilizing the<br />

principle of protein-dye binding.<br />

Analytical Biochemistry. 72 : 248-<br />

254.<br />

BRANDTZAEG, P. 1982. Tissue preparation<br />

methods for imunocytochemistry.<br />

In: Bullock G. & Petruz<br />

P., Techniques in imunocytochemistry.<br />

Academic Press, London.<br />

pp. 49-51.<br />

BRAVO, A.; JANSENS, S.; PEFEROEN,<br />

M. 1992a. lmmunocytochemical<br />

localization of Bacillus thuringiensis<br />

insecticidal crystal proteins in<br />

intoxicated insects. J. Invertebr.<br />

Pathol 60:237-246.<br />

BRAVO, A.; HENDRICKX, K.; JANSENS,<br />

S.; PEFEROEN, M. 1992b.<br />

Immunocytochemical analysis of<br />

specific binding of Bacillus<br />

thuringiensis insecticidal crystal<br />

proteins to lepidopteran and<br />

coleopteran midgut membranes.<br />

J. Invertebr. Pathol 60:247-253.<br />

BURKE, B.; GRIFFIHS, G.; REGGIO,<br />

H.; LOUVARD, D. & WARREN, G.<br />

1982. A monoclonal antibody<br />

against a 135-K Golgi membrane<br />

protein. European Molecular<br />

Biology Organization Journal, 1:<br />

1621-1628.<br />

CASTILHOS-FORTES, R.;<br />

MATSUMURA, A. T. S.; DIEHL, E. &<br />

FIUZA, L. M. 2002. Susceptibility<br />

of N<strong>as</strong>utitemes ehrhadti (Isoptera:<br />

Termitidae) to Bacillus<br />

thuringiensis. Brazilian Journal<br />

of Microbiology, 33: 221-224.<br />

CHOMA, C. T. & KAPLAN, H. 1990.<br />

Folding and unfolding of the<br />

protoxin from Bacillus<br />

thuringiensis: Evidence that the<br />

Toxic Moiety is present in a Active<br />

Conformation. Biochemistry, 29:<br />

10971-10977.<br />

CRICKMORE, N.; ZEIGLER, D.R.;<br />

FEITELSON, J.; SCHENEPF, E; VAN<br />

RIE, J.; LERECLUS, D.; BAUM, J.;<br />

DEAN, D. 1998. Revision of the<br />

nomenclature for the Bacillus<br />

thuringiensis pesticidal crystal<br />

proteins. Microbiol. and Mol. Biol.<br />

Rev. 62(3):807-813.<br />

DAGNELIE, P. 1975. Théorie et<br />

Méthodes statistiques, applications<br />

agronomiques. Les Presses<br />

Agronomiques de Gembloux, vol.<br />

II, pp. 56-57.<br />

DE MAAG, R.; BOSCH, D. ; STIEKEMA,<br />

W. 1999. Bacillus thuringiensis<br />

toxin-mediated insect resistance<br />

in plants. Trends Plant Sci. 4: 9-13.<br />

DENOLF, P.; JANSENS, S.; PEFEROEN,<br />

M.; DEGHEELE, D.; VAN RIE, J.<br />

1993a. Two different Bacillus<br />

thuringiensis delta-endotoxin<br />

receptors in the midgut brush<br />

border membrane of the European<br />

corn borer, Ostrinia nubilalis. Appl.<br />

Environ. Microbiol 59(6):1828-<br />

1837.<br />

DENOLF, P.; JANSENS, S.; VAN HOUDT,<br />

S.; PEFEROEN, M.; DEGHEELE, D.;<br />

VAN RIE, J. 1993b. Biotinylation of<br />

Bacillus thuringiensis insecticidal<br />

crystal proteins. Appl. Environ.<br />

Microbiol. 59(6):1821-1827.<br />

ENDO, Y. & NISHIITSUTSUJI-UWO, J.<br />

1980. Mode of Action of Bacillus<br />

thuringiensis delta-endotoxin:<br />

Histopathological Changes in the<br />

Silkworm Midgut. Journal<br />

88 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004


Invertebrate Pathology, 36:90-103.<br />

ESTADA, U.; FERRE, J. 1994. Binding<br />

of insecticidal crystals proteins of<br />

Bacillus thuringiensis to the midgut<br />

brush border of the Cabbage<br />

Looper, Trichoplusia ni and selection<br />

for resistance to one of the<br />

crystal proteins. Appl. Environ.<br />

Microbiol. 60(10):3840-3846.<br />

FEITELSON, J.; SPAYNE, J. & KIM, L.<br />

1992. Bacillus thuringiensis: insects<br />

and beyond. Bio/Technology,<br />

10: 271–275.<br />

FIUZA, L. M. 1995. Etude des sites<br />

récepteurs et de la toxicité des<br />

delta-endotoxines de Bacillus thuringiensis<br />

Berliner chez les larves<br />

de la Pyrale du riz, Chilo suppressalis<br />

Walker. Thèse de doctorat en<br />

Sciences Agronomiques, ENSA-M,<br />

Montpellier, France. 180p.<br />

FIUZA, L. M.; NIELSEN-LEROUX, C.;<br />

GOZE, E.; FRUTOS, R.; CHARLES,<br />

J-F 1996. Binding of Bacillus<br />

thuringiensis Cry1 toxins to the<br />

midgut brush border membrane<br />

vesicles of Chilo suppressalis<br />

(Lepidoptera, Pyralidae): evidence<br />

of shared binding sites. Appl.<br />

Environ. Microbiol. 62:1544-1549.<br />

GILL, S.; COWLES, E. &<br />

PIETRANTONIO, P. 1992. The<br />

mode of action of Bacillus<br />

thuringiensis endotoxins. Annual<br />

Reviews Entomology, 37:615-636.<br />

HOFMANN, C.; VANDERBRUGGEN,<br />

H.; HOFTE, H.; VAN RIE, J.;<br />

JANSENS, S.; VAN MELLAERT, H.<br />

1988. Specificity of Bt deltaendotoxins<br />

is correlated with the<br />

presence of high-affinity binding<br />

sites in the brush border membrane<br />

of target insect midguts.<br />

Proceedings of the National<br />

Academic Sciences of U.S.A., 85:<br />

7844-7848.<br />

HÖFTE, H. & WHITELEY, H.R. 1989.<br />

Insecticidal crystal proteins of Bt.<br />

Microbiological Reviews, 53: 242-<br />

255.<br />

HUA, G.; MASSON, L.; JURAT-FUENTES,<br />

J. L.; SCHWAB, G.; ADANG, M. J.<br />

2001. Binding Analyses of Bacillus<br />

thuringiensis Cry delta-endotoxins<br />

using brush border membrane<br />

vesicles of Ostrinia nubilalis. Appl.<br />

Environ. Microbiol. 67(2):872-879.<br />

KNIGHT, P.; CRICKMORE, N. & ELLAR,<br />

D. 1994. The receptor for Bacillus<br />

thuringiensis CryIAc deltaendotoxin<br />

in the brush border<br />

membrane of the lepidopteran<br />

Manduca sexta is aminopeptid<strong>as</strong>e<br />

N. Molecular Microbiology, 11:<br />

429-436.<br />

KNOWLES, B.H. & BOW, J.T. 1993.<br />

The delta-endotoxins of Bacillus<br />

thuringiensis: models for their<br />

mechanism of action on the insect<br />

gut. BioEssays, 15: 469-476.<br />

LAEMMLI, U. 1970. Cleavage of<br />

structural proteins during the<br />

<strong>as</strong>sembly of the head of<br />

bacteriophage T4. Nature<br />

(London). 227: 680-685.<br />

LEE, M. K.; YOU, T. H.; YOUNG, B. A.;<br />

COTRILL, J. A.; VALATIS, A. P.;<br />

DEAN, D. H. 1996.<br />

Aminopeptid<strong>as</strong>e N purified from<br />

Gypsy moth brush border<br />

membrane vesicles is a specific<br />

receptor for Bacillus thuringiensis<br />

Cry1Ac toxin. Appl. Environ.<br />

Microbiol. 62:2845-2849.<br />

LIANG, Y., PATEL, S. S.; DEAN, D. H.<br />

1995. Irreversible binding kinetics<br />

of Bacillus thuringiensis Cry1A<br />

delta-endotoxins to Gypsy moth<br />

brush border membrane vesicles is<br />

directly correlated to toxicity. J.<br />

Biol. Cheml. 270:24719-24724.<br />

MAHILLON, J. & DELCOUR, J. A. 1984.<br />

A convenient procedure for the<br />

preparation of highly purified<br />

par<strong>as</strong>poral crystal of Bacillus<br />

thuringiensis. J. Microbiol.<br />

Methods, 3:69-76.<br />

MARROQUIN, L.D., ELYASSNIA, D.,<br />

GRIFFITTS, J.S., FEITELSON, J.S.,<br />

& AROIAN R.V. 2000. Bacillus<br />

thuringiensis toxin susceptibility<br />

and isolation of resistance mutants<br />

in the nematode Caenorhabditis<br />

elegans. Genetics, 155: 1693-1699.<br />

MEADOWS, M. P. 1993. Bacillus thuringiensis<br />

in the Environment:<br />

Ecology and Risk Assessment. p.<br />

193-213. In.: ENTWISTLE P. (ed.).<br />

Bacillus thuringiensis, An Environmental<br />

Biopesticide : Theory<br />

and Practice. John Wiley & Sons,<br />

New York, USA.<br />

PINTO, L. M. N. & FIUZA, L. M. 2002.<br />

Genes cry de Bacillus thuringiensis:<br />

uma alternativa biotecnológica<br />

aplicada ao manejo de insetos.<br />

Biociênci<strong>as</strong>, 10 (2): 03-13.<br />

RAVOAHANGIMALALA, O.; CHARLES,<br />

J-F.; SCHOELLER-RACCAUD, J.<br />

1993. Immunological localization<br />

of Bacillus thuringiensis serovar israelensis<br />

toxins in midgut cells of<br />

intoxicated Anopheles gambie larvae<br />

(Diptera: Culicidae). Res. Microbiol.<br />

144:271-278.<br />

SCHNEPF, E.; CRICKMORE, N.; VAN-<br />

RIE, J; LERECLUS, D.; BAUM, J.;<br />

FEITELSON, J.; ZEIGLER, D. R.;<br />

DEAN, D. H. 1998. Bacillus thuringiensis<br />

and its Pesticidal Crystal<br />

Proteins. Microbiology and Molecular<br />

Biology Reviews. 62(3):775-<br />

806.<br />

SHARPE, E.; NICKERSON, K.; BULLA,<br />

L. & ARONSON, J. 1975. Separation<br />

of spores and par<strong>as</strong>poral crystals of<br />

Bacillus thuringiensis in gradients<br />

of certain x-ray contr<strong>as</strong>ting agents.<br />

Applied Microbiology, 30(6): 1052-<br />

1053.<br />

THOMAS, W. & ELLAR, D. 1983. Bacillus<br />

thuringiensis var. israelensis<br />

crystal delta-endotoxin: effects on<br />

insect and mammalian cells in vitro<br />

and in vivo. Journal of Cell<br />

Science, 60:181-197.<br />

VAN RIE, J.; JANSENS, S.; HÖFTE, H.;<br />

DEGHEELE, D.; VAN MELLAERT,<br />

H. 1989. Specificity of Bacillus thuringiensis<br />

delta-endotoxins. Importance<br />

of specific receptors on the<br />

brush border membrane of the<br />

midgut of target insects. Eur. J.<br />

Biochem. 186:239-247.<br />

VAN RIE, J; JANSENS, S.; HÖFTE, H.;<br />

DEGHEELE, D.; VAN MELLAERT,<br />

H. 1990. Receptors on the brush<br />

border membrane insect midgut<br />

<strong>as</strong> determinants of the specificity<br />

of Bacillus thuringiensis deltaendotoxins.<br />

Appl. Environ.<br />

Microbiol. 56:1378-1385<br />

WOLFERSBERGER, M. 1990. Specificity<br />

and mode of action of Bacillus<br />

thuringiensis insecticidal crystal<br />

proteins toxic to lepidopteran larvae:<br />

recent insights from studies<br />

utilizing midgut brush border membrane<br />

vesicles. Vth Int. Coll Invertebrate<br />

Pathology, pp.278-282.<br />

ZHONG, C.; ELLAR, D.J.; BISHOP, A.;<br />

JOHNSON, C.; LIN, S. & HART, E.R.<br />

2000. Characterization of a Bacillus<br />

thuringiensis d-endotoxin<br />

which is toxic to insects in three<br />

orders. J. Invertebr. Pathol.,76:<br />

131–139.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 89


Nanotecnologia é arma na luta contra o câncer<br />

O Instituto do Câncer dos Estados<br />

Unidos (NCI) anunciou um plano de<br />

cinco anos para desenvolver a utilização<br />

da nanotecnologia no <strong>com</strong>bate ao<br />

câncer. A área, que abrange a criação<br />

de aparelhos microscópicos, é considerada<br />

promissora para a obtenção de<br />

nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de diagnóstico e tratamento<br />

da doença em estágio inicial e<br />

<strong>com</strong> poucos efeitos colaterais.<br />

“Se pudermos alcançar esses objetivos,<br />

seremos capazes de eliminar a<br />

doença”, previu Richard Smalley, professor<br />

de nanotecnologia da Rice<br />

University. O plano de US$ 144,3 milhões<br />

incluirá a Aliança para a<br />

Nanotecnologia no Câncer, uma iniciativa<br />

que reunirá pesquisadores, médicos,<br />

empres<strong>as</strong> e grupos sem fins lucrativos.<br />

A medicina já emprega dispositivos<br />

do tamanho de molécul<strong>as</strong> na forma<br />

de proteín<strong>as</strong> - <strong>com</strong>o os anticorpos -<br />

naturais ou criad<strong>as</strong> artificialmente. “A<br />

novidade é que podemos construir<br />

nano-objetos que nunca existiram”,<br />

<strong>com</strong>entou Smalley. Esses dispositivos<br />

seriam cobertos de substânci<strong>as</strong> que<br />

encontrariam <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> canceros<strong>as</strong>.<br />

Os nano-objetos também poderão<br />

levar drog<strong>as</strong> para matar <strong>as</strong> célul<strong>as</strong><br />

ou agentes de obtenção de imagens<br />

para ajudar a detectar o câncer, explicou<br />

o médico Mauro Ferrari, consultor<br />

do NCI e professor de engenharia<br />

biomédica da Ohio State University.<br />

“Ao realizar isso em uma escala<br />

muito pequena, haverá efeitos distintos.<br />

As possibilidades são enormes para<br />

se encontrar tumores muito pequenos,<br />

muito antes do que conseguimos hoje,<br />

e tratá-los <strong>com</strong> drog<strong>as</strong> poderos<strong>as</strong>, ao<br />

mesmo tempo reduzindo os efeitos<br />

colaterais. A iniciativa permitirá que<br />

exploremos o uso dessa tecnologia em<br />

seu pleno potencial”, disse Samuel<br />

Wickline, da W<strong>as</strong>hington University.<br />

técnica possibilita tratamento preciso<br />

Uma droga conduzida por um<br />

equipamento nanométrico poderia, por<br />

exemplo, atingir célul<strong>as</strong> canceros<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

uma precisão que não existe na<br />

quimioterapia e na radioterapia. Segundo<br />

os especialist<strong>as</strong>, isso já é possível<br />

<strong>com</strong> os anticorpos monoclonais,<br />

m<strong>as</strong> essa área seria ampliada de maneira<br />

significativa.<br />

Os lipossomos, cápsul<strong>as</strong> minúscul<strong>as</strong><br />

usad<strong>as</strong> para carregar drog<strong>as</strong>, podem<br />

ser considerados a primeira geração de<br />

dispositivos desse tipo. A médica Janet<br />

Woodcock, <strong>com</strong>issária-adjunta da FDA,<br />

disse que a agência tem se preparado<br />

para aprovar novos dispositivos médicos<br />

em escala nanométrica - um<br />

nanômetro corresponde a um<br />

bilionésimo do metro. “Vemos um grande<br />

potencial em nov<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de administração<br />

de remédios”, disse.<br />

Qualquer produto novo, porém,<br />

terá de p<strong>as</strong>sar pel<strong>as</strong> etap<strong>as</strong> normais de<br />

aprovação nos quesitos segurança e<br />

eficácia. Janet Woodcock lembrou que<br />

Especialist<strong>as</strong> aprofundam pesquis<strong>as</strong> sobre a Amazônia<br />

também haverá algum<strong>as</strong> questões burocrátic<strong>as</strong>,<br />

principalmente se os produtos<br />

forem cl<strong>as</strong>sificados ao mesmo tempo<br />

<strong>com</strong>o dispositivos e drog<strong>as</strong>.<br />

A diretora-adjunta do NCI, Anna<br />

Barker, informou que o plano incluirá<br />

US$ 90 milhões para pelo menos cinco<br />

centros de excelência em cinco anos,<br />

US$ 16 milhões para treinamento e<br />

US$ 38 milhões em bols<strong>as</strong> para projetos<br />

específicos.<br />

Primeir<strong>as</strong> aplicações >> Os<br />

lipossomos, a primeira geração de dispositivos<br />

nanométricos para administração<br />

de remédios, foram desenvolvidos<br />

para levar tratamentos anticâncer<br />

diretamente aos tumores. A<br />

doxorubicina lipossômica é usada para<br />

tratar alguns tipos de câncer, enquanto<br />

a anfotericina lipossômica B <strong>com</strong>bate<br />

infecções por fungos, freqüentemente<br />

<strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> a tratamentos anticâncer<br />

agressivos. >>Recentemente, uma formulação<br />

de nanopartícul<strong>as</strong> do conhecido<br />

<strong>com</strong>posto anticâncer taxol foi submetida<br />

ao FDA <strong>com</strong>o um novo tratamento<br />

para câncer de mama em estágio<br />

avançado. >> Outr<strong>as</strong> aplicações<br />

clínic<strong>as</strong> da nanotecnologia têm <strong>com</strong>o<br />

foco a identificação do câncer em estágios<br />

iniciais; a visualização do desenvolvimento<br />

da doença; a administração<br />

de tratamentos melhorados para<br />

aumentar a eficácia e reduzir os efeitos<br />

colaterais d<strong>as</strong> drog<strong>as</strong>; e a detecção de<br />

sinais de eficácia de medicamentos.<br />

Jornal do Commercio - RJ<br />

Durante três di<strong>as</strong>, entre amanhã<br />

(28/09) e a próxima quinta-feira (30/<br />

09), especialist<strong>as</strong> e pesquisadores de<br />

prestígio internacional discutem, em<br />

Rio Branco (AC), questões relativ<strong>as</strong> à<br />

ciência e tecnologia, experiênci<strong>as</strong> e<br />

resultados concretos na Amazônia,<br />

exploração florestal, genética, ecologia,<br />

mercado e organização <strong>com</strong>unitária.<br />

A programação é parte do seminário<br />

Manejo Florestal para Pequen<strong>as</strong> Propriedades:<br />

a Experiência do Projeto de<br />

Colonização Pedro Peixoto.<br />

O seminário será uma oportunidade<br />

para sintetizar a experiência acumulada<br />

no projeto de <strong>as</strong>sentamento Pedro<br />

Peixoto, onde 25 produtores estão<br />

envolvidos <strong>com</strong> manejo florestal <strong>com</strong>unitário<br />

há qu<strong>as</strong>e 10 anos sob orientação<br />

de pesquisadores da Embrapa<br />

Acre.<br />

O modelo desenvolvido no local<br />

tornou-se referência para o Estado e o<br />

Instituto Nacional de Colonização e<br />

Reforma Agrária (Incra) já manifestou<br />

interesse em adotá-lo em projetos de<br />

<strong>as</strong>sentamentos florestais na Amazônia.<br />

90 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />

90 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


Pedro Peixoto foi um dos primeiros<br />

trabalhos de manejo articulado <strong>com</strong><br />

produtores rurais que, tradicionalmente,<br />

viam a floresta <strong>com</strong>o um entrave ao<br />

desenvolvimento da propriedade.<br />

Entre os pesquisadores de maior<br />

expressão, está Milton Kan<strong>as</strong>hiro, da<br />

unidade Amazônia Oriental da Empresa<br />

Br<strong>as</strong>ileira de Pesquisa Agropecuária<br />

(Embrapa), vinculada ao Ministério da<br />

Agricultura, Pecuária e Ab<strong>as</strong>tecimento.<br />

Kan<strong>as</strong>hiro é líder do Projeto<br />

Dendrogene, que busca os pontos de<br />

Célul<strong>as</strong> mort<strong>as</strong> por raios<br />

Tratamento <strong>com</strong> radiação<br />

ultravioleta artificial é usado para<br />

linfoma cutâneo<br />

Trabalho sobre o uso da radiação<br />

ultravioleta artificial para o tratamento<br />

do câncer linfoma cutâneo será apresentado<br />

no Simpósio de Imunologia<br />

Clínica e Experimental (ImunoRio),<br />

que acontece di<strong>as</strong> 16 e 17 na Santa<br />

C<strong>as</strong>a de Misericórdia, no Centro. A<br />

doença se manisfesta na pele, m<strong>as</strong><br />

pode se al<strong>as</strong>trar para órgãos <strong>com</strong>o<br />

pulmão e fígado. ´<br />

Durante quatro anos, o professor<br />

Luiz Werber Bandeira, chefe do Serviço<br />

de Imunologia Clínica e Experimental<br />

da Santa C<strong>as</strong>a, realizou pesquisa<br />

<strong>com</strong> nove pacientes portadores do<br />

linfoma. A radiação foi aplicada três<br />

vezes por semana, durante quatro<br />

equilíbrio ente o uso e conservação da<br />

floresta e a exploração madeireira, geradora<br />

de 600 mil empregos e R$ 3<br />

bilhões de renda ao Br<strong>as</strong>il. O projeto<br />

desenvolve meios de avaliar os impactos<br />

da exploração florestal sobre a<br />

biodiversidade. Trata dos impactos sobre<br />

a capacidade da floresta de se<br />

regenerar e garantir, por meio de processos<br />

de reprodução, a continuidade<br />

d<strong>as</strong> diferentes espécies. O Dendrogene<br />

conquistou o Prêmio Ford de Conservação<br />

Ambiental 2003 e o Super Ecologia<br />

2004, concedido pela revista<br />

Super Interessante.<br />

O seminário é uma iniciativa da<br />

Embrapa Acre, Instituto Br<strong>as</strong>ileiro do<br />

Meio Ambiente (Ibama), Pro-Manejo e<br />

Associação dos Produtores Rurais em<br />

Manejo Florestal e Agricultura<br />

(Apruma). O encontro conta <strong>com</strong> patrocínio<br />

da KfW Group e apoio do<br />

Sebrae e Governo do Estado do Acre.<br />

A programação <strong>com</strong>pleta pode<br />

ser vista em www.cpafac.embrapa.br.<br />

Fonte: www.agricultura.<strong>com</strong>.br<br />

meses. No fim do estudo, concluiu-se<br />

que <strong>as</strong> célul<strong>as</strong> cancerígen<strong>as</strong> diminuíam<br />

consideravelmente. Não houve efeitos<br />

colaterais.<br />

Colocados em uma câmara <strong>com</strong><br />

lâmpad<strong>as</strong> que emitem raios ultraviolet<strong>as</strong><br />

artificiais, os pacientes tomaram<br />

psoraleno, substância imunomoduladora<br />

que previne <strong>com</strong>plicações<br />

Fonte: O Dia - RJ<br />

Biorremédio é mais eficiente na degradação de herbicid<strong>as</strong> no solo<br />

Uma forma de remediar solos contaminados<br />

pelo herbicida atrazina, utilizando<br />

técnic<strong>as</strong> da indústria farmacêutica,<br />

está sendo desenvolvida pela professora<br />

Julieta Mieko Ueta, da Faculdade<br />

de Ciênci<strong>as</strong> Farmacêutic<strong>as</strong> de Ribeirão<br />

Preto (FCFRP) da USP. Ela conseguiu<br />

isolar microrganismos redutores<br />

de atrazina e condensá-los em<br />

microcápsul<strong>as</strong>, formando uma espécie<br />

de biomedicamento - em que o princípio<br />

ativo, ao invés de uma substância<br />

química, é um ser vivo.<br />

Em parceria <strong>com</strong> o CNPMA (unidade<br />

Meio Ambiente da Embrapa, localizada<br />

em Jaguariúna), Ueta coletou<br />

mensalmente, durante dois anos, amostr<strong>as</strong><br />

de solo de fazend<strong>as</strong> da região de<br />

Ribeirão Preto. “Escolhemos uma propriedade<br />

monocultora, produtora de<br />

cana-de-açúcar - cultivo que demanda<br />

larga aplicação de atrazina”, explica a<br />

pesquisadora. Em laboratório, ela mediu<br />

o impacto do uso do herbicida<br />

sobre a biodiversidade bacteriana do<br />

solo. “As bactéri<strong>as</strong>, além de<br />

metabolizarem materiais orgânicos e<br />

contribuírem para a fertilidade do terreno,<br />

conseguem biodegradar substânci<strong>as</strong><br />

xenobiótic<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o pesticid<strong>as</strong><br />

e herbicid<strong>as</strong>. No entanto, quando a<br />

aplicação do herbicida é exagerada, a<br />

capacidade biorremediadora da população<br />

microbiana é reduzida, <strong>com</strong> conseqüente<br />

prejuízo à qualidade do solo<br />

e do ambiente”, diz.<br />

A atrazina é um herbicida triazínico,<br />

empregado largamente na agricultura<br />

para o controle de erv<strong>as</strong> daninh<strong>as</strong>.<br />

“Estima-se que a cultura canavieira no<br />

Br<strong>as</strong>il vem consumindo acima de 20<br />

mil tonelad<strong>as</strong> desse tipo de substância<br />

por ano”, afirma Ueta. O dado é<br />

preocupante na medida em que a<br />

atrazina, graç<strong>as</strong> ao seu alto potencial<br />

de escoamento e elevada persistência<br />

nos solos, é um potencial contaminador<br />

da água. Ess<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> ganham<br />

maiores proporções na região de Ribeirão<br />

Preto, onde se localiza um dos<br />

pontos de afloramento do Aqüífero<br />

Guarani. “Durante o processo de poluição,<br />

a atrazina infiltra-se no solo,<br />

podendo atingir lençóis freáticos”, explica<br />

a pesquisadora. “Analisamos amostr<strong>as</strong><br />

da água do Aqüífero e não encontramos<br />

indícios concretos de contaminação.<br />

No entanto, <strong>com</strong>o a atrazina é<br />

amplamente usada n<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> de canade-açúcar<br />

da região, o risco existe.”<br />

Biorremédio<br />

Foi justamente <strong>com</strong> o objetivo de<br />

evitar possíveis contaminações do solo<br />

e, principalmente, da água que Ueta<br />

vem desenvolvendo microcápsul<strong>as</strong><br />

<strong>com</strong> microrganismos do gênero<br />

Pseudomon<strong>as</strong> - que conseguem degradar<br />

a atrazina <strong>com</strong> grande eficiência.<br />

O biorremédio para o solo é <strong>com</strong>posto<br />

utilizando técnic<strong>as</strong> da fabricação<br />

de medicamentos pela indústria farmacêutica.<br />

“Os princípios ativos dos<br />

‘<strong>com</strong>primidos’ são <strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong>. Porém,<br />

na formulação d<strong>as</strong> microcápsul<strong>as</strong>, adicionamos<br />

alguns nutrientes cujo papel<br />

é facilitar o desenvolvimento dos microrganismos<br />

de forma que eles degradem<br />

mais rapidamente a atrazina”,<br />

esclarece Ueta.<br />

91 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 91


Biodiesel ganha status de fonte alternativa de energia<br />

92 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />

92 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004<br />

Pesquisadores, professores, estudantes,<br />

especialist<strong>as</strong> de órgãos públicos<br />

e parlamentares participam amanhã<br />

(28/09), às 8h15, no auditório da<br />

Reitoria da Universidade de Br<strong>as</strong>ília<br />

(UnB), do 5º Encontro do Projeto Café<br />

<strong>com</strong> Ciência, cujo tema será “Biodiesel:<br />

Uma alternativa de Energia Renovável”.<br />

Promovido pelo Decanato de<br />

Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, o<br />

encontro mostrará <strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> desenvolvid<strong>as</strong><br />

pela universidade sobre o<br />

bio<strong>com</strong>bustível. A palestra dos pesquisadores<br />

Kleber Carlos Mundim e João<br />

Nildo de Sousa Vianna abordará os<br />

<strong>as</strong>pectos fundamentais do uso do<br />

biodiesel no Br<strong>as</strong>il, <strong>com</strong>o a caracterização,<br />

produção, utilização e<br />

sustentabilidade da cadeia produtiva.<br />

O trabalho envolve o Instituto de<br />

Química, onde são estudados os processos<br />

tecnológicos da utilização dos<br />

diversos óleos vegetais, <strong>com</strong>o os derivados<br />

da soja, gir<strong>as</strong>sol e mamona, além<br />

do Departamento de Engenharia Mecânica<br />

e o Centro de Desenvolvimento<br />

Sustentável, que investigam o desempenho<br />

do biodiesel e <strong>as</strong> questões<br />

de sustentabilidade.<br />

Emprego - O governo federal<br />

pretende autorizar a entrada do biodiesel<br />

no mercado nacional de <strong>com</strong>bustíveis<br />

até o final deste ano. O produto poderá<br />

ser adicionado ao óleo diesel mineral<br />

Resina para imobilização da invert<strong>as</strong>e apresenta vantagens em relação ao carvão ativo<br />

Pesquisadores do Departamento<br />

de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica,<br />

da Faculdade de Ciênci<strong>as</strong> Farmacêutic<strong>as</strong><br />

(FCF) da USP, patentearam<br />

um novo método de imobilização de<br />

invert<strong>as</strong>e - enzima usada no processo<br />

de produção do açúcar invertido. “Desenvolvemos<br />

uma nova maneira de<br />

reaproveitar vári<strong>as</strong> vezes a invert<strong>as</strong>e”,<br />

<strong>com</strong>enta o professor Michele Vitolo,<br />

que juntamente <strong>com</strong> sua orientanda,<br />

Ester Junko Tomotani, patentearam o<br />

produto.<br />

O açúcar invertido é uma mistura<br />

de frutose <strong>com</strong> glicose, e resulta da<br />

quebra d<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> da sacarose - o<br />

açúcar <strong>com</strong>um, obtido da cana-de-açúcar.<br />

É muito utilizado pela indústria de<br />

alimentos, uma vez que a frutose tem<br />

mais capacidade de adoçar do que a<br />

sacarose.<br />

“Nós imobilizamos a invert<strong>as</strong>e em<br />

uma resina de troca iônica (tipo<br />

DOWEX®)”, explica o professor. Essa<br />

resina é um polímero orgânico, insolúvel<br />

em água, capaz de adsorver<br />

macromolécul<strong>as</strong> (no c<strong>as</strong>o, a invert<strong>as</strong>e)<br />

por meio de interação eletrostática.<br />

“Dizemos que <strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> de invert<strong>as</strong>e<br />

pres<strong>as</strong> ao polímero (chamado de suporte<br />

ou carreador) encontram-se na<br />

forma imobilizada”, conta Vitolo. “Com<br />

a invert<strong>as</strong>e imobilizada, podemos<br />

utilizá-la vári<strong>as</strong> vezes, sem nenhum<br />

tipo de perda”.<br />

Vantagens<br />

A invert<strong>as</strong>e imobilizada já é conhecida<br />

desde 1916 - e usada regularmente<br />

na indústria. Só que a fórmula<br />

<strong>com</strong>ercial atual de maior uso traz<br />

invert<strong>as</strong>e imobilizada em carvão ativo.<br />

“É um método eficiente, m<strong>as</strong> acreditamos<br />

que a imobilização em DOWEX®<br />

apresenta vantagens”, <strong>com</strong>enta o professor.<br />

Uma del<strong>as</strong> é a facilidade em<br />

separar após a reação, geralmente por<br />

filtração, a invert<strong>as</strong>e imobilizada do<br />

restante da mistura, sem deixar vestígios<br />

de resina no produto final (açúcar<br />

invertido). “Como <strong>as</strong> partícul<strong>as</strong> de carvão<br />

ativo têm dimensões extremamente<br />

reduzid<strong>as</strong>, para evitar a presença<br />

del<strong>as</strong> no produto final torna-se necessário<br />

o uso de microfiltros - muito<br />

caros - ou realizar vári<strong>as</strong> filtrações sucessiv<strong>as</strong>,<br />

quando se empregam filtros<br />

<strong>com</strong>uns”, diz Vitolo.<br />

Para desenvolver esse método, o<br />

Nos testes em laboratório, a<br />

biorremediação obteve sucesso. No<br />

entanto, ela ainda não foi aplicada em<br />

campo “porque deve-se estudar a fundo<br />

<strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong> que a introdução<br />

de seres vivos estranhos ao ambiente<br />

pode provocar. C<strong>as</strong>o contrário, ao invés<br />

de melhorar a situação, podemos<br />

causar um desequilíbrio ambiental”, alerta<br />

a pesquisadora. Segundo ela, <strong>as</strong><br />

melhores ferrament<strong>as</strong> biológic<strong>as</strong> são<br />

aquel<strong>as</strong> que, quando lançad<strong>as</strong> na natureza,<br />

cumprem seu papel e morrem,<br />

“<strong>com</strong>o <strong>as</strong> bactéri<strong>as</strong> utilizad<strong>as</strong> em derrames<br />

de petróleo no oceano”. Por isso,<br />

conclui Ueta, o ideal é mesmo não<br />

poluir.<br />

Tadeu Breda<br />

Mais informações:<br />

(0XX16) 602-4158 ou jueta@usp.br<br />

Fone: Agência USP de Notíci<strong>as</strong><br />

na proporção de até 2%, sem <strong>com</strong>prometer<br />

a garantia dos motores dos veículos.<br />

O Br<strong>as</strong>il dispõe de um grande<br />

número de matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> para a produção<br />

de biodiesel, <strong>com</strong>o soja, gir<strong>as</strong>sol,<br />

mamona e dendê. O governo federal<br />

espera que a entrada do novo <strong>com</strong>bustível<br />

no mercado nacional permita a<br />

redução da importação do diesel, que<br />

hoje corresponde a 9% do consumo.<br />

Além disso, o biodiesel deve apoiar o<br />

desenvolvimento econômico do meio<br />

rural <strong>com</strong> a geração de empregos e<br />

renda e incrementar o desenvolvimento<br />

da indústria nacional de pesquisa e<br />

equipamentos.<br />

Fonte: www.agricultura.gov.br<br />

professor Vitolo e Ester Tomotani testaram<br />

vários tipos de resin<strong>as</strong> de troca<br />

iônica. “Foram testad<strong>as</strong> mais de vinte<br />

resin<strong>as</strong> <strong>com</strong> característic<strong>as</strong> distint<strong>as</strong>.<br />

Quatro ou cinco variedades de resina<br />

se mostraram favoráveis, m<strong>as</strong> a<br />

DOWEX® (tipos 1X2, 1X4 e 1X8)<br />

adsorveu 100% d<strong>as</strong> molécul<strong>as</strong> de<br />

invert<strong>as</strong>e”, explica. “As vantagens dessa<br />

resina são a não toxicidade, o baixo<br />

custo, o amplo uso e a plena disponibilidade<br />

no mercado”.<br />

Márcia Bl<strong>as</strong>ques, especial para a Agência<br />

USP<br />

Mais informações:<br />

(0XX11)091-2382, <strong>com</strong> o professor<br />

Michele Vitolo, ou pelo e-mail<br />

michenzi@usp.br<br />

Fonte: Agência USP de Notíci<strong>as</strong>


<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento n.32 - janeiro/junho 2004 93

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!