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O SEGUNDO SEXO VOL 1 - SIMONE DE BEAUVOIR

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homem, para isso ordenado, retém os bastões dos que querem entrar<br />

e diz-lhes que, se quiserem entregar-lhe o dinheiro que tiverem<br />

êle o devolverá à saída honestamente sem perigo; e se porventura<br />

o têm e não o dão, sendo roubados à noite, não é o porteiro<br />

responsável. Nesse lugar há três ou quatro ruas cheias de<br />

casinhas, cada qual com mulheres bem alegres e vestidas de veludos<br />

e cetins. E há de duzentas a trezentas mulheres; têm suas casas<br />

mantidas e decoradas com bons panos. A tarifa oficial é de quatro<br />

dinheiros da moeda delas que valem um dos nossos<br />

gros. . . Há ali tavernas e cabarés. Por causa do calor, melhor<br />

se pode vê-las à noite ou a tarde, porque se acham então sentadas<br />

às suas janelas, uma bela lâmpada suspensa ao lado para<br />

que bem as vejam e à vontade. Dois médicos contratados pela<br />

cidade- cada semana as visitam a fim de verificar se têm alguma<br />

doença, decente ou secreta, e retirá-las do local. Se alguma das<br />

doentes é da cidade, determinam os senhores desta que à sua<br />

custa sejam amparadas e às estrangeiras que se expulsem para<br />

onde quiserem (1) ". O autor espanta-se, de resto, com um policiamento<br />

tão perfeito. Muitas prostitutas eram livres. Algumas<br />

ganhavam muito bem a vida. Como no tempo das hetairas,<br />

a alta galanteria oferecia maiores possibilidades ao individualismo<br />

feminino do que a vida da "mulher honesta".<br />

Condição singular é na França a da celibatária; a independência<br />

legal de que goza opõe-se de maneira chocante à servidão<br />

da esposa; é ela um personagem insólito; por isso mesmo,<br />

os costumes se apressam em retirar-lhe tudo o que lhe concedem<br />

as leis. Ela tem todas as capacidades civis, mas trata-se<br />

de direitos abstratos e vazios; ela não possui nem autonomia<br />

econômica, nem dignidade social. Geralmente, a solteirona permanece<br />

à sombra da família paterna ou vai encontrar-se com<br />

suas semelhantes no fundo dos conventos; aí quase não conhece<br />

outra forma de liberdade que não sejam a desobediência e o<br />

pecado. Da mesma forma, as romanas da decadência só se libertavam<br />

pelo vício. A negatividade continua sendo o destino das<br />

mulheres enquanto sua libertação permanece negativa.<br />

Em tais condições, vê-se como é raro que uma mulher tenha<br />

tido possibilidades de agir ou simplesmente de se manifestar:<br />

nas classes trabalhadoras, a opressão econômica anula a desigual-<br />

(1) Dict. de la conversation, Riffenberg, V.º Femmes et filies<br />

de folie vie.<br />

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