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dentro de casa, a mulher é socialmente uma menor. Inversamente,<br />
nas épocas em que a sociedade se desagrega, a mulher<br />
se emancipa; mas, deixando de ser vassala do homem, perde seu<br />
feudo; tem uma liberdade exclusivamente negativa que só se<br />
traduz pela licenciosidade e pela dissipação: assim é durante a decadência<br />
romana, o Renascimento, o século XVIII e o Diretório.<br />
Ou ela consegue encontrar emprego, mas é então escravizada, ou<br />
se liberta e não tem o que fazer de si mesma. B notável, ademais,<br />
que a mulher casada tenha tido seu lugar na sociedade,<br />
mas sem gozar de nenhum direito, ao passo que a celibatária,<br />
honesta ou prostituta, tinha todas as capacidades do homem. Mas<br />
até o século atual sempre se achou mais ou menos excluída da<br />
vida social. Dessa oposição dos direitos aos costumes resultou,<br />
entre outros, este curioso paradoxo: o amor livre não é<br />
proibido pela lei, enquanto o adultério é um delito; muitas vezes,<br />
entretanto, a jovem que "erra" é desonrada, ao passo que a má<br />
conduta da mulher casada é considerada com indulgência: numerosas<br />
jovens, do século XVIII aos nossos dias, casavam-se<br />
para poder ter amantes livremente. Com esse engenhoso sistema,<br />
a grande maioria das mulheres é estreitamente controlada:<br />
são necessárias circunstâncias excepcionais para que entre essas<br />
duas séries de limitações, abstratas ou concretas, uma personalidade<br />
feminina consiga afirmar-se. As mulheres que realizaram<br />
obras comparáveis às dos homens são as que a força das<br />
instituições sociais exaltaram além de toda diferenciação sexual.<br />
Isabel, a Católica, Isabel da Inglaterra, Catarina da Rússia, não<br />
eram nem mulher nem homem: eram soberanas. É de observar<br />
que, uma vez abolida socialmente, sua feminilidade não<br />
mais tenha constituído uma inferioridade: a proporção de rainhas<br />
que realizaram grandes governos é infinitamente superior<br />
à dos grandes reis. A religião opera a mesma transformação:<br />
Catarina de Siena, Santa Teresa, são almas santas acima de<br />
qualquer condição fisiológica; suas vidas seculares e suas vidas<br />
místicas, suas ações e seus escritos situam-se em um nível<br />
que poucos homens alcançaram. Tem-se o direito de pensar que,<br />
se outras mulheres malograram em marcar profundamente o<br />
mundo, foi porque se acharam confinadas em sua condição. Quase<br />
que só puderam intervir de maneira negativa ou oblíqua.<br />
Judite, Charlotte Corday, Vera Zassulitch matam; as mulheres<br />
da Fronda conspiram. Durante a Revolução, durante a Comuna,<br />
mulheres lutam ao lado dos homens contra a ordem estabelecida;<br />
a uma liberdade sem direitos, sem poder, é permitido retesar-se<br />
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