Os Bichos tipográficos de Fernanda Talavera - Universidade ...
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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />
materiais e os elementos <strong>de</strong>sses cartazes, transformando, porém, esses elementos, em outra coisa,<br />
mais especificamente em obras particulares, não reprodutíveis, individuais, feitas, projetadas e<br />
concebidas por uma única pessoa, sem nenhuma finalida<strong>de</strong> comercial ou utilitária, características<br />
habitualmente atribuídas a realizações artísticas. Entretanto, a presença <strong>de</strong>sses elementos<br />
emprestados traz ecos e traços daqueles cartazes, tornando-os, <strong>de</strong> algum modo, presentes. No<br />
momento em que essa presença é i<strong>de</strong>ntificada na peça <strong>de</strong> <strong>Talavera</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que os <strong>Bichos</strong><br />
estabelecem uma ligação com essas peças gráficas que, por sua vez, são, em geral, anônimas, sem<br />
autoria reivindicada ou assinatura; não possuem qualquer acabamento ou produção relacionada<br />
a um rigor artístico ou gráfico; não são, tampouco, bonitas no sentido usual do termo. Trata-se,<br />
<strong>de</strong>ste modo, <strong>de</strong> trazer, para o universo artístico, elementos <strong>de</strong> uma cultura urbana, do universo<br />
gráfico da cida<strong>de</strong>, o que caracteriza claramente a instauração <strong>de</strong> novas categorias conceituais,<br />
<strong>de</strong> novas abordagens do espaço, <strong>de</strong> novas configurações <strong>de</strong> linguagem e <strong>de</strong> novas relações da arte<br />
com a cultura e a socieda<strong>de</strong>.<br />
Imagem, <strong>de</strong>sign gráfico e arte<br />
A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser entendida como um universo formado por vozes distintas que têm traços<br />
em comum, tais como a predisposição para dissolver tribos, raças, credos e classes sociais em<br />
nome <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al capaz <strong>de</strong> libertar o ser humano das marcas da tradição, <strong>de</strong> fundar a consciência<br />
soberana do indivíduo e, contraditoriamente, legitimar o po<strong>de</strong>r invencível <strong>de</strong> sua representação<br />
coletiva, a massa (LÖWY, 2009). Nesse sentido, afirma Pevsner (1996), que<br />
o século XX é o século das massas: educação, lazer e transporte <strong>de</strong><br />
massa, universida<strong>de</strong>s com milhares <strong>de</strong> estudantes, escolas polivalentes<br />
para milhares <strong>de</strong> crianças, hospitais com milhares <strong>de</strong> leitos, estádios<br />
para centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> espectadores. Este é um aspecto. O outro<br />
é a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção, com cada cidadão dirigindo um “trem<br />
expresso particular” e alguns pilotos viajando mais <strong>de</strong>pressa do que<br />
o som. Ambos são expressões do fanatismo tecnológico da época, e a<br />
tecnologia é apenas uma aplicação da ciência (PEVSNER, 1996, p.7).<br />
Essa ascendência das massas faz acontecer e traz consigo o contexto do cenário urbano; com este<br />
vêm os cartazes e os impressos <strong>de</strong> todos os tipos que irão compor gran<strong>de</strong> parte do universo do<br />
que <strong>de</strong>nominamos, hoje, <strong>de</strong>sign gráfico. São peças gráficas elaboradas com o intuito <strong>de</strong> preencher<br />
o espaço urbano e informar o transeunte, por meio <strong>de</strong> texto, mas principalmente com imagens,<br />
quer sejam fotos ou ilustrações, sobre a última guerra, o último espetáculo ou o produto medicinal<br />
mais eficiente no combate aos males recém-adquiridos (HILLER, 1969). Pôsteres são fixados nas<br />
pare<strong>de</strong>s e, na sequência, novos pôsteres são colocados sobre os primeiros, formando uma espessa<br />
camada <strong>de</strong> papel capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar o reboco dos muros, o que frequentemente acontecia. À leveza<br />
Design, Arte, Moda e Tecnologia.<br />
São Paulo: Rosari, Universida<strong>de</strong> Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2012<br />
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