Os Bichos tipográficos de Fernanda Talavera - Universidade ...
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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />
criativo muito mais fértil do que uma investigação apurada sobre o vivido (lembrado versus<br />
vivido) – a reconstrução minuciosa do lembrado, a apropriação artística do fluxo do tempo<br />
e, nessa apropriação, os fatores historiográficos, as certezas e as regras que mo<strong>de</strong>lam o<br />
comportamento social e que se misturam à própria variação da consciência.<br />
Seguindo essa proposta, o trabalho <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong> po<strong>de</strong> ser apreciado como uma experiência<br />
<strong>de</strong> reminiscência tipográfica em que se propõe que o tipo não seja pensado como algo vivido –<br />
seu uso, suas regras <strong>de</strong> aplicação, sua forma exata e a justificativa para essas formas, presentes<br />
no projeto do <strong>de</strong>signer – mas como algo lembrado, fragmentos <strong>de</strong> seu contorno, o que permite a<br />
abertura interpretativa <strong>de</strong> sua gestalt, a livre associação <strong>de</strong> sua forma com elementos concretos,<br />
tais como imagens <strong>de</strong> animais.<br />
A criatura gráfica <strong>de</strong> Fefê <strong>Talavera</strong> – complexa, nem animal nem letra – apresenta-se, sobretudo,<br />
pela <strong>de</strong>sconstrução seguida <strong>de</strong> hibridismo em vários níveis, como signo estético exemplar da pósmo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />
e presente na produção contemporânea. A <strong>de</strong>sconstrução e o hibridismo po<strong>de</strong>m ser<br />
<strong>de</strong>tectados em vários momentos, alguns dos quais são mencionados a seguir.<br />
• A <strong>de</strong>sconstrução da imagem que orienta suas <strong>de</strong>cisões criativas no nível formal resulta em<br />
hibridismo entre o figurativo e o abstrato, entre o sample e a produção autoral, entre a arte<br />
e a não arte.<br />
• A <strong>de</strong>sconstrução técnica da tipografia transforma a letra em signos icônicos, abertos a múltiplas<br />
interpretações.<br />
• A <strong>de</strong>sconstrução do espaço expositivo tradicional – a galeria, o museu, e a adoção da rua como<br />
espaço artístico.<br />
• A <strong>de</strong>sconstrução da categorização que legitima e hierarquiza produções <strong>de</strong> imagens e obras – o<br />
uso <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign gráfico em contextos artísticos.<br />
• O hibridismo temático – o obliteramento dos limites entre o folclore, a mitologia e a cultura<br />
popular.<br />
O caráter proposital <strong>de</strong>ssa orientação artística voltada à <strong>de</strong>sconstrução e à hibridação fica<br />
evi<strong>de</strong>nte, em outra resposta dada a Moraes (2009)<br />
A real é que eu nunca fui grafiteira, pintar com o spray para mim é<br />
só mais uma técnica como qualquer outra. As pessoas é que adoram<br />
classificar tudo, dizer que a Fefê é isso ou aquilo… Eu pinto junto<br />
com artistas que grafitam há anos, e nunca pensei em me tornar uma<br />
grafiteira, primeiro porque não faço bomb, segundo porque a minha<br />
técnica no graffiti é péssima! Também não sigo nenhuma doutrina do<br />
graffiti, acho muito pequeno se fechar num mundinho em que você só<br />
Design, Arte, Moda e Tecnologia.<br />
São Paulo: Rosari, Universida<strong>de</strong> Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2012<br />
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