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Os Bichos tipográficos de Fernanda Talavera - Universidade ...

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

Roberto Carlos Sorima Mestrando em Design; Universida<strong>de</strong> Anhembi Morumbi.<br />

rcsorima@hotmail.com<br />

Gisela Belluzzo <strong>de</strong> Campos Profa. Dra.; Universida<strong>de</strong> Anhembi Morumbi.<br />

giselabelluzzo@uol.com.br<br />

Resumo<br />

O presente artigo aborda parte da produção artística <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong>, mais<br />

especificamente seus “<strong>Bichos</strong> Tipográficos”. Parte-se da hipótese <strong>de</strong> que o trabalho<br />

<strong>de</strong>sta artista traz uma série <strong>de</strong> elementos conceituais e formais que o alinham<br />

<strong>de</strong> maneira inequívoca à agenda <strong>de</strong> temas <strong>de</strong>batidos pela arte contemporânea,<br />

<strong>de</strong>ntre eles a colagem, a <strong>de</strong>sconstrução e o hibridismo. Para a fundamentação<br />

<strong>de</strong>sta pesquisa, foram consultados autores que, em suas obras, <strong>de</strong>screvem e discutem<br />

conceitos artísticos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e da contemporaneida<strong>de</strong>,<br />

bem como <strong>de</strong>poimentos da própria <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong>.<br />

Palavras-chave:<br />

<strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong>, bichos tipográficos, <strong>de</strong>sign gráfico, arte contemporânea.<br />

Design, Arte, Moda e Tecnologia.<br />

São Paulo: Rosari, Universida<strong>de</strong> Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2012<br />

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

Introdução<br />

<strong>Fernanda</strong> Salinas <strong>Talavera</strong> nasceu em São Paulo, em 1979. Filha <strong>de</strong> pais mexicanos, recebeu, em<br />

sua formação artística, fortes influências tanto da cultura brasileira quanto da cultura mexicana,<br />

dois focos privilegiados <strong>de</strong> mestiçagens e hibridismos culturais (GRUZINSKI, 2001). <strong>Talavera</strong> expôs,<br />

pela primeira vez, em São Paulo, na Galeria Choque Cultural, em 2005. Em 2006, viajou pela<br />

Europa e participou <strong>de</strong> mostras coletivas e individuais na Alemanha, Áustria, Espanha, Bélgica e<br />

Rússia. Rapidamente, consolidou sua reputação no campo artístico e hoje tem a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

trabalho reconhecida por pares, críticos e tipógrafos, expondo nas ruas, em galerias, em mostras<br />

em espaços públicos e também na internet.<br />

Apesar <strong>de</strong> haver recebido uma formação tradicional, ao cursar Artes Plásticas na Fundação Armando<br />

Álvares Penteado (FAAP), Fefê, como a artista também é conhecida, reconhece um processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sgaste e <strong>de</strong> “bloqueio” nesse período, provocado pelas restrições e pelo enraizamento excessivo<br />

das propostas artísticas acadêmicas em conceitos muitas vezes advindos <strong>de</strong> uma tradição que já<br />

não reflete mais os anseios do artista contemporâneo. Em entrevista a Moraes (2009) a artista<br />

afirma<br />

Aprendi que, para ser artista, você precisa ser livre, não precisa <strong>de</strong> uma<br />

faculda<strong>de</strong>. Ela me limitou muito, eu entrei lá livre e saí completamente<br />

bloqueada [...]. Já na rua é outra história, não existem regras. Se<br />

você quiser expor seu trabalho, você vai lá, faz e pronto, está lá, à<br />

disposição <strong>de</strong> quem quiser ver. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gente que vê o seu<br />

trabalho é enorme, e o mais legal é que não é só a galera que frequenta<br />

galerias <strong>de</strong> arte, mas o jornaleiro, a senhorinha que lava os banheiros<br />

do hospital, o porteiro, e até mesmo o curador da Bienal. Na rua, a<br />

gente tem mais possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aproveitar o espaço, <strong>de</strong> fazer cada<br />

vez maior e <strong>de</strong> experimentar diferentes tipos <strong>de</strong> superfícies (TALAVERA,<br />

apud MORAES, 2009).<br />

<strong>Fernanda</strong> apresenta alguns temas recorrentes ao longo <strong>de</strong> sua produção criativa, entre os quais<br />

<strong>de</strong>staca-se a figura do monstro, o animal limítrofe, a criatura que não po<strong>de</strong> ser nomeada e que,<br />

segundo autores como BELLEI (2000), serve, nas artes, como representação do <strong>de</strong>sconhecido e<br />

dos processos inconscientes que <strong>de</strong>sorganizam as certezas e os limites estabelecidos pela cultura.<br />

Dentre suas produções, <strong>de</strong>stacamos os <strong>Bichos</strong> Tipográficos, tema <strong>de</strong>ste artigo, que consistem em<br />

construções realizadas com recortes <strong>de</strong> lambe-lambe – cartazes <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> baixo custo,<br />

veiculados ao serem colados nos muros das cida<strong>de</strong>s. <strong>Talavera</strong> constrói painéis em tamanhos<br />

diversos com partes <strong>de</strong>sses cartazes em diferentes suportes, tais como muros e telas.<br />

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

Figura 1: Bicho Tipográfico. Capa da revista Tupigrafia n. 6, 2005.<br />

Fonte: http://www.flickr.com/photos/marinachaccur/page143/<br />

Figura2: Bicho Tipográfico. Colagem sobre muro.<br />

Fonte: http://atitu<strong>de</strong>artwalk.blogspot.com/2010/08/fefe-talavera-e-seus-monstros.html<br />

Por pintar nas ruas, seu trabalho costuma ser relacionado ao grafite; do mesmo modo, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua ascendência mexicana, muitas vezes sua obra é chamada <strong>de</strong> mural. <strong>Fernanda</strong>, porém, afirma,<br />

na mesma entrevista, preferir ser chamada <strong>de</strong> “artista” ao invés <strong>de</strong> “grafiteira” ou “muralista”,<br />

e diz não pintar apenas sobre muros, mas sobre quaisquer suportes que encontre. A respeito dos<br />

<strong>Bichos</strong> Tipográficos, a artista afirma, ainda, na mesma entrevista<br />

Fazer os bichos tipográficos para mim foi um gran<strong>de</strong> passo na minha<br />

carreira <strong>de</strong> artista. Comecei pintando em pôsteres velhos e colando na<br />

rua, daí percebi que esses pôsteres por si só já eram uma obra <strong>de</strong> arte.<br />

Aquelas letras tinham vida para mim, eram tão bonitas que eu comecei<br />

a recortá-las em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> e, como eu já fazia os monstros,<br />

resolvi tentar com a colagem, e <strong>de</strong>u certo (TALAVERA, apud MORAES,<br />

2009).<br />

Interessa-nos investigar o modo como essas realizações <strong>de</strong> <strong>Talavera</strong>, os <strong>Bichos</strong> Tipográficos¬,<br />

esvaziam o sentido original do signo tipográfico e usam seus aspectos gráficos para reconstruílo,<br />

numa plástica visual que possibilita pensar em várias questões importantes para a arte<br />

contemporânea. <strong>Talavera</strong> opera na fronteira entre aquilo que se costuma nomear e catalogar<br />

como arte e o que se costuma nomear e catalogar como “não arte”. <strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> Tipográficos ocupam<br />

espaços <strong>de</strong>stinados a peças gráficas, os citados cartazes lambe-lambe; mais do que isso, usam os<br />

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

materiais e os elementos <strong>de</strong>sses cartazes, transformando, porém, esses elementos, em outra coisa,<br />

mais especificamente em obras particulares, não reprodutíveis, individuais, feitas, projetadas e<br />

concebidas por uma única pessoa, sem nenhuma finalida<strong>de</strong> comercial ou utilitária, características<br />

habitualmente atribuídas a realizações artísticas. Entretanto, a presença <strong>de</strong>sses elementos<br />

emprestados traz ecos e traços daqueles cartazes, tornando-os, <strong>de</strong> algum modo, presentes. No<br />

momento em que essa presença é i<strong>de</strong>ntificada na peça <strong>de</strong> <strong>Talavera</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que os <strong>Bichos</strong><br />

estabelecem uma ligação com essas peças gráficas que, por sua vez, são, em geral, anônimas, sem<br />

autoria reivindicada ou assinatura; não possuem qualquer acabamento ou produção relacionada<br />

a um rigor artístico ou gráfico; não são, tampouco, bonitas no sentido usual do termo. Trata-se,<br />

<strong>de</strong>ste modo, <strong>de</strong> trazer, para o universo artístico, elementos <strong>de</strong> uma cultura urbana, do universo<br />

gráfico da cida<strong>de</strong>, o que caracteriza claramente a instauração <strong>de</strong> novas categorias conceituais,<br />

<strong>de</strong> novas abordagens do espaço, <strong>de</strong> novas configurações <strong>de</strong> linguagem e <strong>de</strong> novas relações da arte<br />

com a cultura e a socieda<strong>de</strong>.<br />

Imagem, <strong>de</strong>sign gráfico e arte<br />

A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser entendida como um universo formado por vozes distintas que têm traços<br />

em comum, tais como a predisposição para dissolver tribos, raças, credos e classes sociais em<br />

nome <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al capaz <strong>de</strong> libertar o ser humano das marcas da tradição, <strong>de</strong> fundar a consciência<br />

soberana do indivíduo e, contraditoriamente, legitimar o po<strong>de</strong>r invencível <strong>de</strong> sua representação<br />

coletiva, a massa (LÖWY, 2009). Nesse sentido, afirma Pevsner (1996), que<br />

o século XX é o século das massas: educação, lazer e transporte <strong>de</strong><br />

massa, universida<strong>de</strong>s com milhares <strong>de</strong> estudantes, escolas polivalentes<br />

para milhares <strong>de</strong> crianças, hospitais com milhares <strong>de</strong> leitos, estádios<br />

para centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> espectadores. Este é um aspecto. O outro<br />

é a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção, com cada cidadão dirigindo um “trem<br />

expresso particular” e alguns pilotos viajando mais <strong>de</strong>pressa do que<br />

o som. Ambos são expressões do fanatismo tecnológico da época, e a<br />

tecnologia é apenas uma aplicação da ciência (PEVSNER, 1996, p.7).<br />

Essa ascendência das massas faz acontecer e traz consigo o contexto do cenário urbano; com este<br />

vêm os cartazes e os impressos <strong>de</strong> todos os tipos que irão compor gran<strong>de</strong> parte do universo do<br />

que <strong>de</strong>nominamos, hoje, <strong>de</strong>sign gráfico. São peças gráficas elaboradas com o intuito <strong>de</strong> preencher<br />

o espaço urbano e informar o transeunte, por meio <strong>de</strong> texto, mas principalmente com imagens,<br />

quer sejam fotos ou ilustrações, sobre a última guerra, o último espetáculo ou o produto medicinal<br />

mais eficiente no combate aos males recém-adquiridos (HILLER, 1969). Pôsteres são fixados nas<br />

pare<strong>de</strong>s e, na sequência, novos pôsteres são colocados sobre os primeiros, formando uma espessa<br />

camada <strong>de</strong> papel capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar o reboco dos muros, o que frequentemente acontecia. À leveza<br />

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

pesada dos pôsteres somam-se os ca<strong>de</strong>rnos dos periódicos locais, regionais e internacionais, cada<br />

vez mais numerosos, lidos por um número cada vez maior <strong>de</strong> pessoas; os catálogos <strong>de</strong> produtos<br />

sem-fim, as brochuras <strong>de</strong> literatura pulp, livros cada vez menores, escritos por motivos cada vez<br />

menos relevantes, acarretando uma transformação conceitual que visa a aten<strong>de</strong>r um público<br />

cada vez mais <strong>de</strong>slumbrado pelas luzes elétricas dos parques <strong>de</strong> diversão (SEVCENKO, 2001), e<br />

incrementando a comunicação visual e o início do que hoje <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong>sign gráfico.<br />

A imagem – quadro, fotografia, colagem, ilustração – multiplica o acesso, a constituição <strong>de</strong><br />

olhares e os testemunhos mo<strong>de</strong>rnos sobre o que, cada vez mais, se po<strong>de</strong> ver. A era da imagem<br />

é também a era da “obra aberta” comentada por Benjamin (1989, p.12-13), a obra inacabada,<br />

que permite a incorporação <strong>de</strong> novas partes e vários modos <strong>de</strong> interpretação. Essa abertura seria<br />

potencializada pela imagem, pelo uso irrestrito <strong>de</strong> códigos ressignificados e traduzidos, pela perda<br />

da experiência comum, pelo <strong>de</strong>sinteresse na contextualização, pela ausência <strong>de</strong> uma referência<br />

que possa informar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> certos objetos e valores vieram e, finalmente, pela <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração<br />

<strong>de</strong> uma tradição.<br />

Ainda segundo Benjamin (Ibid, p.16-19), com a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a noção histórica <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> se<br />

per<strong>de</strong>, em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>vido ao acúmulo <strong>de</strong> comentários, notas, informações, compêndios<br />

complementares e imagens que rapidamente se somam à versão original. Essa perda da verda<strong>de</strong>,<br />

que se assenta numa única versão histórica consi<strong>de</strong>rada, é percebida e discutida, na literatura e<br />

nas artes visuais.<br />

Como uma resposta à constatação <strong>de</strong>sse fato e à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma retomada literal da<br />

tradição e do passado, a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> nasce com uma proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução mais ou<br />

menos sistemática da imagem em si e <strong>de</strong> todos os conceitos que sustentavam a dicotomia imagem<br />

“versus” coisa representada pela imagem. A pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e sua expressão, ainda presente na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>, problematizam o uso da imagem massificada, bem como as intenções por<br />

trás <strong>de</strong> seus usos, <strong>de</strong>sarticulando fronteiras e <strong>de</strong>finições tradicionais e reorganizando a própria<br />

noção <strong>de</strong> tempo e espaço a partir <strong>de</strong> um enquadramento em que tudo parece cada vez mais veloz,<br />

próximo, instável e lúdico, conforme <strong>de</strong>nunciam Debord (1997), Sennett (2004), Bauman (2001),<br />

Zizek (2003), Sevcenko (2001) e Cardoso (2000) entre outros autores. Esse novo enquadramento,<br />

capaz <strong>de</strong> provocar uma fratura no tempo, proporcionada pela ruptura nas memórias materializadas<br />

em registros, leis, tradições etc., ocorre durante a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e abre caminho para novas regras<br />

incorporadas na contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

Cardoso (2000) discorre sobre essa tendência no <strong>de</strong>sign gráfico ao afirmar que:<br />

o primeiro impacto das transformações conceituais se <strong>de</strong>u no campo<br />

do <strong>de</strong>sign gráfico, no qual vem se suce<strong>de</strong>ndo, ao longo dos últimos<br />

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

quinze a vinte anos, uma série <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong>dicadas explicitamente<br />

á substituição <strong>de</strong> preceitos funcionalistas do passado por uma visão<br />

eclética e híbrida. Sem medo <strong>de</strong> empregar em seus projetos a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m,<br />

o ruído e a poluição visuais (CARDOSO, 2000, p.213-214).<br />

Po<strong>de</strong>mos, aqui, levantar a hipótese <strong>de</strong> que esses <strong>de</strong>sdobramentos do comportamento, do uso e da<br />

interpretação das imagens, em situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> exposição – quer sejam imagens comerciais ou<br />

artísticas – fazem com que categorizar produções imagéticas como por exemplo, em artísticas e<br />

não artísticas, <strong>de</strong> massa ou exclusivas [1], perca, muitas vezes, sua razão <strong>de</strong> ser.<br />

Colagem, <strong>de</strong>sconstrução e hibridismo<br />

Colagem, <strong>de</strong>sconstrução e hibridismo são conceitos importantes não apenas para compreen<strong>de</strong>r a<br />

arte contemporânea, mas também outros fenômenos culturais relacionados ao uso da imagem.<br />

Usamos, aqui, o conceito <strong>de</strong> colagem em seu sentido mais usual no contexto das artes plásticas:<br />

o <strong>de</strong> uma composição configurada a partir do uso figuras, imagens e materiais <strong>de</strong> diversas<br />

procedências, superpostos ou colocados lado a lado.<br />

O termo “<strong>de</strong>sconstrução”, no contexto <strong>de</strong>ste artigo, é usado como processo crítico que visa à<br />

re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> conceitos baseados em oposições tradicionais, como “certo e errado”, “bonito<br />

e feio” etc. Trata-se, assim, <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sconstrução “crítica” da razão tradicional, conforme<br />

entendida por Vilalba (2006).<br />

O conceito <strong>de</strong> hibridismo, por sua vez, é trabalhado por vários autores; para Couchot (2005), por<br />

exemplo, hibridação ou hibridização, no campo da arte, consiste no cruzamento entre técnicas<br />

heterogêneas, elementos estéticos e semióticos. São exemplos <strong>de</strong> hibridização, na arte, a colagem,<br />

as combine paintings, as performances e os produtos resultantes das tecnologias que envolvem o<br />

uso da palavra, do texto e do som simultaneamente.<br />

A arte produzida por meio das técnicas da colagem cria, no campo conceitual, algumas novas<br />

categorias e sensações, a saber:<br />

• A criação do sample/simulacro, ou seja, o surgimento <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> objeto que, por suas<br />

características reprodutivas e estéticas, não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado novo ou velho, bonito ou feio,<br />

original ou cópia, real ou fantasioso nos termos tradicionais. Com a massificação que origina o<br />

sample/simulacro, ocorre também um apagamento do percurso técnico produtivo, que acaba por<br />

gerar, junto às multidões que consomem esses objetos, um reencantamento “mágico” pela obra,<br />

o que fica muito claro no caso <strong>de</strong> produções cinematográficas como “Avatar” (2010), que abusam<br />

dos efeitos especiais e <strong>de</strong> referências a outras obras. Em sentido inverso, a contemporaneida<strong>de</strong><br />

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

testemunha o surgimento <strong>de</strong> obras cada vez mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da conceituação expressa e <strong>de</strong> uma<br />

formação cada vez mais especializada para serem apreciadas conforme as expectativas <strong>de</strong> seus<br />

realizadores, o que confun<strong>de</strong> o apreciador leigo justamente porque tais obras não estabelecem<br />

fronteiras claras entre si mesmas e os comentários que lhes servem <strong>de</strong> legitimação. Como po<strong>de</strong><br />

facilmente ser compreendido, o sample estará, inevitavelmente, relacionado à produção artística<br />

baseada no conceito <strong>de</strong> colagem, uma vez que toda edição e ressignificação <strong>de</strong> referências é, em<br />

certo sentido, uma colagem.<br />

• A vertigem provocada por aquilo que não admite ser pensado nos cômodos termos das categorias<br />

conceituais tradicionais – estabilizadas pelos opostos, exatamente o que não existe nas novas<br />

categorias conceituais – e sua metáfora, a montanha-russa, usada por Sevcenko (2001, p.11-<br />

17), por exemplo, para comentar a construção e dissolução não só <strong>de</strong> certezas, mas também<br />

<strong>de</strong> uma visão progressista e certeira sobre os benefícios do progresso. A apropriação visual do<br />

cenário urbano apresentado na obra <strong>de</strong> muitos artistas gráficos que fazem uso <strong>de</strong> colagens em<br />

seus trabalhos, como <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong>, estaria <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse conceito <strong>de</strong> vertigem.<br />

• O primado da imagem e <strong>de</strong> sua abertura interpretativa, atuantes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />

mesmo quando a imagem se apropria <strong>de</strong> códigos em princípio mais fechados, como os da<br />

linguagem verbal. Neste sentido, a tipografia e seus usos como imagens são exemplares.<br />

Weingart (2004, p.9), em uma <strong>de</strong> suas palestras proferidas em 1972, afirma que “tipografia<br />

po<strong>de</strong> ser também algo que não precisa ser lido. Se você gosta <strong>de</strong> transformar partes <strong>de</strong>ssa<br />

informação em algo mais interessante, po<strong>de</strong> fazer algo ilegível para que o leitor <strong>de</strong>scubra a<br />

resposta”. Nesse sentido, arriscamo-nos a afirmar que a obra <strong>de</strong> <strong>Talavera</strong> expressa e realiza a<br />

opinião <strong>de</strong> Weingart.<br />

• A serialização e a reprodutibilida<strong>de</strong> incessantes, bem como o uso cada vez maior <strong>de</strong> referências<br />

multiculturais, híbridas e mestiças, segundo os dizeres <strong>de</strong> Gruzinski (2001) e Ginsburg (2001),<br />

que aos poucos apagam a autoria e a clareza quanto ao processo criativo envolvido na execução<br />

da obra.<br />

• A multiplicação dos espaços <strong>de</strong> execução e <strong>de</strong> exposição artística e a discussão sobre o papel do<br />

museu, da arte <strong>de</strong> rua e da cida<strong>de</strong> como suportes para representações simbólicas, a exemplo<br />

do que propõem autores como Canevacci (1993) e Denise Scott Brown (2003), e artistas como<br />

Stephan Doitschinoff, os Gêmeos e <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong>.<br />

• A apropriação artística no lugar da autoria artística, problematizada pelo sample/simulacro. O<br />

primeiro passo da apropriação artística é a nomeação. Dar um nome a algo é sempre uma forma<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ter o controle. Diante do novo, do inédito, <strong>de</strong> uma possibilida<strong>de</strong> ainda não explorada,<br />

a nomeação funciona como uma tentativa <strong>de</strong> ajuste àquilo que já é conhecido. Depois da<br />

nomeação, a referência artística é captada e ressignificada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> outro contexto, em<br />

que essa referência articula-se com outras referências, num arranjo (colagem) proposto pelo<br />

artista (GAYLOR, 2008; CREATIVE COMMOMS).<br />

• A reelaboração cronológica, baseada na reminiscência, o que, segundo Benjamin (1989, p.36-<br />

37), oferece possibilida<strong>de</strong> artística <strong>de</strong> explorar os infinitos caminhos da lembrança, num fluxo<br />

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

criativo muito mais fértil do que uma investigação apurada sobre o vivido (lembrado versus<br />

vivido) – a reconstrução minuciosa do lembrado, a apropriação artística do fluxo do tempo<br />

e, nessa apropriação, os fatores historiográficos, as certezas e as regras que mo<strong>de</strong>lam o<br />

comportamento social e que se misturam à própria variação da consciência.<br />

Seguindo essa proposta, o trabalho <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong> po<strong>de</strong> ser apreciado como uma experiência<br />

<strong>de</strong> reminiscência tipográfica em que se propõe que o tipo não seja pensado como algo vivido –<br />

seu uso, suas regras <strong>de</strong> aplicação, sua forma exata e a justificativa para essas formas, presentes<br />

no projeto do <strong>de</strong>signer – mas como algo lembrado, fragmentos <strong>de</strong> seu contorno, o que permite a<br />

abertura interpretativa <strong>de</strong> sua gestalt, a livre associação <strong>de</strong> sua forma com elementos concretos,<br />

tais como imagens <strong>de</strong> animais.<br />

A criatura gráfica <strong>de</strong> Fefê <strong>Talavera</strong> – complexa, nem animal nem letra – apresenta-se, sobretudo,<br />

pela <strong>de</strong>sconstrução seguida <strong>de</strong> hibridismo em vários níveis, como signo estético exemplar da pósmo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />

e presente na produção contemporânea. A <strong>de</strong>sconstrução e o hibridismo po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong>tectados em vários momentos, alguns dos quais são mencionados a seguir.<br />

• A <strong>de</strong>sconstrução da imagem que orienta suas <strong>de</strong>cisões criativas no nível formal resulta em<br />

hibridismo entre o figurativo e o abstrato, entre o sample e a produção autoral, entre a arte<br />

e a não arte.<br />

• A <strong>de</strong>sconstrução técnica da tipografia transforma a letra em signos icônicos, abertos a múltiplas<br />

interpretações.<br />

• A <strong>de</strong>sconstrução do espaço expositivo tradicional – a galeria, o museu, e a adoção da rua como<br />

espaço artístico.<br />

• A <strong>de</strong>sconstrução da categorização que legitima e hierarquiza produções <strong>de</strong> imagens e obras – o<br />

uso <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign gráfico em contextos artísticos.<br />

• O hibridismo temático – o obliteramento dos limites entre o folclore, a mitologia e a cultura<br />

popular.<br />

O caráter proposital <strong>de</strong>ssa orientação artística voltada à <strong>de</strong>sconstrução e à hibridação fica<br />

evi<strong>de</strong>nte, em outra resposta dada a Moraes (2009)<br />

A real é que eu nunca fui grafiteira, pintar com o spray para mim é<br />

só mais uma técnica como qualquer outra. As pessoas é que adoram<br />

classificar tudo, dizer que a Fefê é isso ou aquilo… Eu pinto junto<br />

com artistas que grafitam há anos, e nunca pensei em me tornar uma<br />

grafiteira, primeiro porque não faço bomb, segundo porque a minha<br />

técnica no graffiti é péssima! Também não sigo nenhuma doutrina do<br />

graffiti, acho muito pequeno se fechar num mundinho em que você só<br />

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<strong>Os</strong> <strong>Bichos</strong> tipográficos <strong>de</strong> <strong>Fernanda</strong> <strong>Talavera</strong><br />

pinta com essas pessoas ou só escuta esse tipo <strong>de</strong> música, ou só sai<br />

com essa galera… fica muito vazio. É tão mais interessante conhecer<br />

outras técnicas, outras culturas, outras i<strong>de</strong>ias, do que ficar nesse<br />

círculo vicioso que não ensina nada. Eu não só pinto muro como pinto<br />

qualquer suporte que eu encontre. Prefiro ser chamada <strong>de</strong> artista do<br />

que <strong>de</strong> muralista, ou grafiteira, ou qualquer outra coisa (TALAVERA,<br />

apud MORAES, 2009).<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Com a produção <strong>de</strong> monstros – “criaturas”, “bichos tipográficos”, “seres sem nome” –, a artista<br />

reconhece a importância <strong>de</strong> experimentar, na arte, novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significação, abordando<br />

o objeto (tema) que não permite ser completamente compreendido e que, justamente por esse<br />

caráter fugidio, representa muito bem as rupturas formais, espaciais, técnicas, e temáticas<br />

que <strong>de</strong>vem se processar no interior do campo artístico – e, por que não, em outros produtos<br />

culturais, como o <strong>de</strong>sign – para que esse não perca a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> provocar i<strong>de</strong>ntificação e<br />

<strong>de</strong>slumbramento no indivíduo.<br />

Diante <strong>de</strong>ssas diversas consi<strong>de</strong>rações sobre a imagem, seus usos e suas interpretações, diante<br />

<strong>de</strong>ssas imagens remexidas, transmutadas, interpretadas e reinterpretadas, pelas artes em suas<br />

diversas manifestações, não apenas as artes plásticas, mas todas as artes que trabalham com<br />

imagens, entre elas o <strong>de</strong>sign e as artes gráficas, enfim, <strong>de</strong> todos os usos da imagem nestes últimos<br />

120 anos, po<strong>de</strong>mos afirmar que, hoje, em pleno século XXI, um produção artística como os <strong>Bichos</strong><br />

Tipográficos ajuda-nos a pensar na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma não-categorização tão enfática, em uma<br />

zona fronteiriça entre o que chamamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign gráfico, arte gráfica e arte plástica.<br />

Notas<br />

[1] Não sabemos aqui, ao certo, qual é a oposição atual à categoria “massa”, já que tudo, hoje,<br />

é, <strong>de</strong> algum modo, massificado, sobretudo no sentido <strong>de</strong> banalizado.<br />

Referências<br />

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