Monografia - cecimig - UFMG
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Universidade Federal de Minas Gerais<br />
Faculdade de Educação<br />
CECIMIG<br />
Ademar Silveira Fulgêncio<br />
Gravidez na adolescência: falta de informação ou de conscientização?<br />
Belo Horizonte<br />
2007
2<br />
Universidade Federal de Minas Gerais<br />
Faculdade de Educação<br />
CECIMIG<br />
Ademar Silveira Fulgêncio<br />
Gravidez na adolescência: falta de informação ou de conscientização?<br />
<strong>Monografia</strong> apresentada ao Curso<br />
de Especialização do CECI-<br />
MIG/FaE/<strong>UFMG</strong>, como requisito<br />
parcial à obtenção do título de especialista<br />
em Ensino de Ciências<br />
por Investigação<br />
Orientadora: Profa. Sabine Madsen<br />
Ficker<br />
Belo Horizonte<br />
2007
3<br />
AGRADECIMENTOS<br />
À Maria Luiza, minha esposa; Andréia e Thaís, minhas filhas, pelo incentivo e<br />
compreensão pelos finais de semana mais dedicados ao curso.<br />
À Prof. Sabine, pela paciência, dedicação, carinho e boa vontade na orientação<br />
de meu trabalho.<br />
Às tutoras do Enci, professoras Vânia e Marina, pela dedicação no transcorrer<br />
do curso.
4<br />
RESUMO<br />
A prática sexual tem uma dimensão de relacionamento interpessoal e<br />
um sentido de prazer. Mas, apesar de os jovens terem informações sobre os<br />
riscos da prática do sexo sem preservativo e dos métodos de controle da gravidez,<br />
a taxa de adolescentes grávidas é alta. Possíveis causas explicativas para<br />
este fato são apontadas no presente trabalho. A experiência de uma gravidez<br />
afeta de modo profundo a vida das mães adolescentes que a vivenciam, comprometendo<br />
sua escolaridade e o nível de melhor emprego, de salário e de<br />
qualidade de vida. Uma vez que não é a falta de informações o principal fator<br />
que explique estas gestações precoces, salientamos a importância de trabalhos<br />
que visem possibilitar uma maior conscientização dos jovens, ocasionando<br />
uma mudança de concepção em vez de somente incorporação de informações<br />
transmitidas por aulas expositivas.<br />
Palavras-chaves: gravidez, orientação, adolescência
5<br />
Gravidez na adolescência: falta de informação ou de conscientização?<br />
INTRODUÇÃO<br />
Ao alcançar o amadurecimento sexual, os adolescentes adquirem a<br />
capacidade de se reproduzir além de sentir a necessidade de aumento de suas<br />
experiências sexuais. Porém, nossa sociedade impõe normas para o comportamento<br />
sexual. O jovem, muitas vezes, se encontra diante de situações ambíguas:<br />
de um lado, vê-se exposto a uma contínua estimulação sexual (revistas,<br />
cinema, teatro, televisão); de outro, não são permitidos a ele determinados tipos<br />
de relacionamento sexual.<br />
Satisfazer a curiosidade do adolescente em questões relacionadas à<br />
sexualidade é tão ou mais importante quanto fornecer a ele informações “técnicas”<br />
sobre o corpo, seu funcionamento, os perigos das doenças sexualmente<br />
transmissíveis e os métodos contraceptivos.<br />
Meninos e meninas se desenvolvem de modo diferente, mas possuem<br />
alguns aspectos em comum. Por exemplo: mostram as mesmas dúvidas e<br />
inseguranças quando o assunto é sexo. Ambos necessitam de uma orientação<br />
que os ajude a se entender e a entender o sentido que uma atividade sexual<br />
pode ter em suas vidas. Orientação, no presente trabalho, entendida no seguinte<br />
aspecto:<br />
Orientação: s.f. 1. Ato ou arte de orientar(-se). (...) Orientação e-<br />
ducacional – Educ.: Processo intencional e metódico destinado a<br />
acompanhar (...) o desenvolvimento intelectual e a formação da<br />
personalidade integral dos estudantes, sobretudo os adolescentes.<br />
(Novo Aurélio, p. 1.456)
6<br />
A prática sexual tem uma dimensão positiva de relacionamento interpessoal<br />
além de um sentido de prazer. Entretanto, pode também se transformar<br />
em um ato de alto risco, com possibilidade de gravidez acidental e ocorrência<br />
de doenças sexualmente transmissíveis, entre as quais a Aids.<br />
O fato de o corpo do adolescente estar pronto para o sexo não quer<br />
dizer que ele tem de fazê-lo imediatamente com alguém. Um relacionamento<br />
sexual requer, entre outros fatores, atração pessoal, confiança mútua, relaxamento<br />
e segurança. O medo, a inexperiência, o desconhecimento, as incertezas<br />
e a expectativa podem tornar a primeira relação muito delicada. Os adolescentes<br />
têm medo de não saber como agir e, ao mesmo tempo, querem causar<br />
boa impressão no(a) parceiro(a). Assim, é fundamental preparar o adolescente<br />
para o início da vida sexual, trabalhando a questão do respeito, da qualidade<br />
no relacionamento, e transformar tudo isso em momento de satisfação, onde<br />
ambos darão alegria e prazer um ao outro.<br />
Em nossa vida, percebem-se ocasiões nos quais as transformações<br />
em nosso corpo e nos nossos relacionamentos são importantes. Neles, certamente,<br />
situam-se a gravidez e a adolescência. A experiência de uma gravidez<br />
afeta de modo profundo e completo, como veremos a seguir, a vida das mães<br />
adolescentes que a vivenciam.<br />
Ser pai ou ser mãe é uma responsabilidade muito grande para qualquer<br />
pessoa. Mais ainda para adolescentes, que precisam amadurecer muito<br />
do ponto de vista social e, principalmente, emocional.
7<br />
METODOLOGIA<br />
Ao longo de minha prática profissional, trabalhando com adolescentes na faixa<br />
etária dos 13 aos 16 anos, tenho observado que em relação à sexualidade eles<br />
são muito inseguros e têm muitas dúvidas. Quase sempre, é registrado durante<br />
o ano pelo menos um caso de gravidez não planejada. Isso, então, me motivou<br />
a desenvolver um projeto pedagógico para orientá-los, contribuindo com sua<br />
formação. O presente trabalho foi direcionado em duas linhas de pesquisas<br />
teóricas. Na primeira, pesquisei que informações e orientações os adolescentes<br />
têm a respeito de sexualidade. Na segunda, procurei na literatura outras<br />
prováveis causas da gravidez na adolescência. Essas duas linhas de pesquisa<br />
foram norteadas pela questão: Por que ainda é alto o número de adolescentes<br />
grávidas?<br />
A EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA<br />
Os programas de educação sexual transmitidos pelas escolas (como,<br />
por exemplo, o Programa de Educação Afetivo-Sexual da Rede Estadual de<br />
Ensino – PEAS), vêm cumprindo um papel importante na formação dos jovens,<br />
uma vez que permitem o diálogo e a livre circulação de informações sobre a<br />
sexualidade.<br />
Por outro lado, o livro didático usado pelos professores trata o assunto<br />
somente do ponto de vista anátomo-fisiológico. O lado emocional da sexualidade<br />
não é abordado com profundidade. No livro Ciência e educação ambiental<br />
– O corpo humano (Cruz, 1995), por exemplo, fala-se sobre excitação e orgasmo,<br />
mas de uma maneira bastante superficial. Outras publicações (Luz,
8<br />
1999; Gewandsznajder, 2002; Valle, 2004; Bortolozzo, 2005) nem trazem a<br />
abordagem do assunto “relação sexual”, mas apenas a estrutura do sistema<br />
reprodutor.<br />
Uma vez que a maioria dos professores segue o livro didático, a orientação<br />
sexual de muitos alunos – e das alunas, em especial – fica aquém do<br />
desejado, com reflexos diretos no número assustador de gestações durante a<br />
adolescência.<br />
Entretanto, não é fácil tratar desse assunto em sala de aula. É preciso,<br />
primeiro, quebrar a barreira do constrangimento que os alunos sentem em<br />
fazer esse ou aquele questionamento, expondo sua intimidade. Perguntar aos<br />
pais, então, nem pensar! Muitos adolescentes escondem deles que já têm vida<br />
sexual ativa.<br />
Cabe, muitas vezes então, à escola dar um maior suporte à educação<br />
afetivo-sexual dos adolescentes, com abordagens que tratem das ansiedades<br />
e curiosidades dos alunos. Abrir espaço para os adolescentes discutirem<br />
emoções e valores representa uma forma de se estabelecer um diálogo objetivando<br />
esclarecer questões polêmicas que surgem no período da adolescência.<br />
Ao criar esse espaço de orientação sexual na grade escolar, com liberdade<br />
de expressão, a escola contribui de forma bastante positiva para que a<br />
liberdade sexual caminhe no sentido de que os adolescentes tenham consciência<br />
de saber escolher em que circunstâncias pretendem ter uma atividade sexual.<br />
A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
9<br />
A escola informa, mas ainda é alto o índice de gravidez. A Pesquisa<br />
Nacional em Demografia e Saúde, do Ministério da Saúde (1996), mostrou que<br />
entre as grávidas atendidas pelo Serviço Único de Saúde (SUS) no período de<br />
1993 a 1995 houve aumento de 31% nos casos de meninas grávidas na faixa<br />
etária dos 10 aos 14 anos.<br />
De acordo ainda com o Ministério da Saúde, aproximadamente 27%<br />
dos partos feitos no SUS no ano de 1999 foram em adolescentes na faixa etária<br />
dos 10 aos 19 anos. Isso significa que a cada 100 partos, 27 foram em adolescentes.<br />
Independentemente da informação na escola, é direito dos adolescentes<br />
tirarem suas dúvidas com um profissional especializado em qualquer<br />
centro de saúde, sendo garantido a eles total sigilo, além da disponibilidade de<br />
preservativos e pílulas anticoncepcionais.<br />
Entretanto, os centros de saúde, de um modo geral, não vão até os<br />
adolescentes, não realizando uma intervenção preventiva. Ficam à espera de<br />
partir deles a iniciativa. Constrangidos por fatores diversos (por exemplo, presença<br />
de vizinhos no posto de saúde; a funcionária é amiga da família ou, até<br />
mesmo, um membro da família), os jovens não vão a um local perto de casa<br />
nem procuram outro mais longe. Agravando ainda mais este fato, pesquisas<br />
mostram que as jovens, geralmente, não se preocupam com a utilização de<br />
métodos anticoncepcionais para o controle da natalidade nos primeiros 6 a 12<br />
meses depois de terem se tornado sexualmente ativas (Folha On Line, 2001).<br />
Apesar desse comportamento, os jovens têm informações sobre os riscos da<br />
prática do sexo sem preservativo e dos métodos de controle da gravidez.
10<br />
Entretanto, a alta taxa de gravidez precoce que acomete nossas adolescentes<br />
nos leva a questionar: onde está a falha?<br />
Se, além da escola, estão à disposição dos adolescentes outras fontes<br />
de informações, podemos considerar a hipótese de que essas informações<br />
que chegam aos adolescentes não têm sido suficientes. Hoje, qualquer pessoa<br />
tem acesso a livros didáticos e paradidáticos, revistas com todo tipo de informação<br />
sobre métodos anticoncepcionais, vídeos e a internet. Podemos incluir,<br />
também, a televisão, o cinema, o teatro, além dos cursos de educação sexual<br />
oferecidos à comunidade.<br />
Se a informação fosse suficiente não haveria índices tão altos de<br />
gravidez na adolescência. Então, a questão da falha não é, exclusivamente, de<br />
falta de informações, pois qualquer adolescente que já tenha vida sexual ativa<br />
– ou pretende iniciá-la – pode buscar, caso seja de seu interesse, informações<br />
a respeito.<br />
Neste trabalho, então, procuramos pontuar causas possíveis para este<br />
alarmante dado de altos índices de gravidez precoce.<br />
CAUSAS<br />
Talvez os jovens não estejam sendo capazes de assimilar todas as<br />
informações. Trindade e Bruns (1998) questionam se os adolescentes estão<br />
sabendo relacionar as informações sobre sexualidade com seu dia-a-dia, com<br />
suas relações afetivas. Sendo, então, o problema do alto índice de gravidez na<br />
adolescência originado não da falta de informações, várias podem ser as cau-
11<br />
sas, correlacionadas ao contexto em que vive a adolescente, para explicar esse<br />
fato:<br />
1. Causas correlacionadas ao meio. São os fatores culturais e sociais, ou<br />
seja, aspectos externos à jovem, do meio em que vive:<br />
Tem ocorrido uma crescente liberalização dos costumes, visto que<br />
a sociedade hoje aceita um relacionamento íntimo dos filhos, desde que realizado<br />
com segurança. Muitas famílias permitem que seus filhos namorem em<br />
casa, dormindo juntos. Elas preferem isso a que os namorados pernoitem em<br />
motéis, sujeitos a assaltos e outros tipos de violência. A sociedade também já<br />
não obriga adolescentes grávidos a se casarem apenas para formar uma família.<br />
Maior estímulo da mídia: os relacionamentos íntimos adquiriram<br />
uma vulgarização tal nos meios de comunicação – revistas, cinema, TV e teatro,<br />
principalmente –, que isso acaba aumentando a curiosidade dos<br />
adolescentes. Esses, deslumbrados com moças/rapazes bonitos, “sarados” e<br />
“malhados”, enxergam a atividade sexual apenas como um prazer imediato.<br />
Essa mesma mídia, no entanto, geralmente não alerta os jovens para as<br />
conseqüências de tal atitude;<br />
2. Causas inerentes à própria jovem, como crenças, fatores emocionais e<br />
biológicos. São os aspectos internos à jovem:<br />
Fatores emocionais podem ser apontados como causa da maternidade<br />
juvenil. Trabalhos de campo (Dadoorian, 2003) têm mostrado que a gravidez<br />
chega a ser uma forma de a adolescente resolver conflitos familiares. Por
12<br />
meio de uma gravidez, ela vislumbra um modo de satisfazer necessidades<br />
pessoais, tais como conquistar uma liberdade desejada ou, até mesmo, requerer<br />
atenção da família. É sabido que o nascimento de uma criança tende a a-<br />
grupar a família em torno da mãe e do bebê, e os familiares dispensam a ambos<br />
total atenção. Atenção essa que a adolescente, muitas vezes, não teve<br />
enquanto filha;<br />
Algumas garotas tendem a acreditar que uma gravidez pode tirá-la<br />
de sua condição de pobreza, e que ela poderá ter um lugar somente seu para<br />
viver com o filho e o pai do bebê. Em geral, ambos (mãe e pai) não têm como<br />
se manter e continuam na casa dos pais. Abandonam a escola e acabam por<br />
dar ao filho muitas privações;<br />
A gravidez também é usada como forma de contrariar os pais, principalmente<br />
aqueles que impõem a suas filhas uma educação mais rígida, limitando<br />
sua liberdade. A gravidez também pode representar uma alternativa para<br />
sair de casa, da escola ou da cidade onde mora, além de uma tentativa de se<br />
casar com o homem amado;<br />
A menarca mais precoce, observada nos últimos tempos (Souza,<br />
1996; Pelloso, 2002; Del Ciampo, 2004), leva a uma iniciação sexual também<br />
precoce. Além disso, algumas adolescentes iniciam sua vida sexual na ilusão<br />
de que, por serem muito jovens ainda, não é possível uma gravidez. Esse fato,<br />
aliado a uma resistência ao uso de preservativos, faz crescerem as estatísticas<br />
de gravidez na adolescência;<br />
3. Causas correlacionadas à inter-relação da jovem com o meio em que<br />
vive:
13<br />
A adolescente vê na gestação um marco de sua entrada na vida<br />
adulta. Muitas vezes, a mãe da adolescente também engravidou na adolescência,<br />
e sua filha tende a repetir o fato, estabelecendo uma equivalência sexual<br />
com sua mãe. Ao engravidar, a adolescente se auto-afirma perante seu grupo<br />
social, assumindo um status de mulher adulta, que tem a sua própria família.<br />
Ela passa a se sentir indispensável a alguém. Famílias que já tiveram outros<br />
casos tendem a ser mais acessíveis em aceitar essa situação. Porém, para<br />
aquelas com influências religiosas extremas e padrões rígidos de moral, essa<br />
situação se torna difícil de ser trabalhada. Devido a uma cultura de que quem<br />
cuida do filho é a mãe, o pai adolescente acaba por incorporar que a responsabilidade<br />
em relação a ter filhos e cuidar deles não é sua também, mas apenas<br />
de sua companheira. Muitas vezes, diante da gravidez inesperada da namorada,<br />
o pai adolescente a abandona e também ao filho;<br />
CONSEQÜÊNCIAS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA<br />
Gravidez e maternidade têm uma repercussão diferenciada entre as<br />
classes sociais. Nas famílias economicamente mais favorecidas, observa-se a<br />
valorização da formação acadêmica e profissional, devendo a maternidade<br />
e/ou constituição de uma família ser adiadas para não comprometer a futura<br />
inserção do(a) adolescente no mercado de trabalho. Já nas classes populares<br />
sem muita perspectiva ao mercado de trabalho, o reconhecimento para a mulher<br />
está ligado ao desempenho dos papéis de esposa e mãe.<br />
Percebe-se facilmente como deve ser difícil enfrentar a adolescência<br />
e a gravidez quando ambas ocorrem ao mesmo tempo. Como se complica a
14<br />
vida de uma adolescente que descobre estar grávida, justamente quando passa<br />
por todas as modificações inerentes a essa fase da vida. Também, vivenciar<br />
a paternidade aos 15, 16 anos não é fácil para o pai adolescente, caso ele assuma<br />
esta responsabilidade.<br />
Com certeza, a adolescência não é o melhor período da vida para<br />
uma gravidez. Grávida, a jovem tem que lidar com as tarefas de se tornar independente,<br />
já que agora tem uma pessoa sob sua responsabilidade. Como conseguir<br />
um emprego para se manter e o filho? Como ter acesso ao lazer, esporte<br />
e cultura? Sem falar nas atividades sociais das quais ela terá de se privar<br />
pela circunstância do bebê, atividades essas que também são importantes para<br />
seu desenvolvimento como pessoa e mãe.<br />
A gravidez precoce compromete a vivência saudável da adolescência,<br />
compromete a escolaridade e o nível melhor de emprego, de salário e de<br />
conseqüente qualidade de vida. Interrompe um processo de desenvolvimento<br />
próprio da idade, fazendo a jovem mãe assumir responsabilidades de adulta<br />
fora da hora, uma vez que terá de se dedicar aos cuidados maternais.<br />
A maternidade prematura continua sendo um obstáculo para o progresso<br />
educacional, econômico e social da mulher em todo o mundo. Em geral,<br />
o casamento e a maternidade prematuros podem reduzir drasticamente as<br />
possibilidades de emprego e prejudicar em longo prazo a qualidade de sua vida<br />
e de seus filhos.<br />
Ao descobrir que está grávida, a adolescente vê ruir seus sonhos<br />
pessoais, que vão de ter casa própria a um bom emprego, que lhe proporcione<br />
uma vida confortável. Com um filho para criar, ela tem de pensar no sustento<br />
da criança, quem vai olhá-la enquanto trabalha, e como conciliar emprego-
15<br />
estudo-educação do filho. Para o pai adolescente a situação é mais cômoda,<br />
principalmente se os adolescentes não se casam em virtude da gravidez. Cada<br />
um continua a morar na casa dos pais, e quem acaba ficando com a tarefa de<br />
educar e manter as despesas do filho – alimentação, escola, saúde, vestuário,<br />
lazer – é a própria mãe, ajudada, talvez, por seus pais e pelos avós paternos.<br />
Caso o jovem assuma sua responsabilidade de pai, acaba trocando os estudos<br />
pelo trabalho para manter sua nova família, comprometendo sua formação<br />
profissional.<br />
Além disso, a adolescente perde a possibilidade de convivência com<br />
seu grupo de amigos, além de perder, também, as chances de uma boa formação<br />
profissional, com reflexos diretos na qualidade do emprego obtido. Em decorrência<br />
de tudo isso, os estudos ficam em segundo plano, o que agrava, ainda<br />
mais, sua formação profissional.<br />
Essa mudança de papéis, ou seja, de mulher jovem para adulta, na<br />
maioria das vezes gera muitas dificuldades para os adolescentes e o que se<br />
nota é que elas não estão preparadas para tal, pois, após o impacto e a aceitação<br />
da gravidez, elas ainda se deparam com o cuidar do filho e ajudar na renda<br />
familiar.<br />
A maternidade na adolescência restringe as opções educacionais e<br />
profissionais das adolescentes, contribuindo, assim, para a manutenção de um<br />
estado socioeconômico carente.<br />
Quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez nãoplanejada,<br />
gera conseqüências a longo prazo para a adolescente, que poderá<br />
apresentar problemas emocionais e comportamentais, com queda no rendi-
16<br />
mento escolar (quando não abandona os estudos por completo), além de complicações<br />
na gravidez e no parto.<br />
CONCLUSÃO<br />
A gravidez vem interromper abruptamente um período tão importante,<br />
podendo transformar os adolescentes em adultos frustrados e imaturos. Esses<br />
jovens vão deixar de passear, namorar, se reunir em grupos e em festas<br />
com os amigos, comprometendo sua vida social. Assumem responsabilidades<br />
de adultos sem ter vivenciado uma adolescência plena.<br />
É preciso ressaltar a importância da prevenção da gravidez precoce.<br />
E essa só se faz com orientação, conhecimento e diálogo, não basta somente<br />
informação. E a partir daí iniciar um trabalho lento de orientações e<br />
esclarecimentos, para que o jovem possa viver intensamente esse período de<br />
sua vida e, assim, contribuir para que chegue a uma vida adulta mais feliz.<br />
Portanto, a questão que se evidencia não é falta de informação, mas<br />
de deficiência na formação do adolescente nessa fase da vida. Os adolescentes<br />
estão à mercê do despertar da sexualidade, mergulhados em um ambiente<br />
impregnado de erotismo e sensualidade e sem espaço adequado para construir<br />
seus próprios valores e desenvolver uma autonomia sobre o assunto de forma<br />
adequada.<br />
A família, o estado e a escola geralmente se omitem em orientá-los.<br />
Os pais não dão as informações necessárias; os centros de saúde não fazem<br />
um trabalho preventivo e ficam à espera de que os adolescentes procurem<br />
seus serviços; e na escola o assunto sexualidade não é trabalhado de maneira
17<br />
dinâmica, possibilitando conscientizar (e não somente informar) o adolescente<br />
acerca das conseqüências que podem advir da iniciação na vida sexual.<br />
Acredito que um importante passo no sentido de uma maternidade<br />
melhor planejada seja o desenvolvimento, nas escolas, de um trabalho multidisciplinar<br />
e multiprofissional para o acompanhamento do desenvolvimento das<br />
adolescentes.<br />
Apenas passar aos jovens informações técnicas a respeito de sexualidade<br />
e as conseqüências de uma vida sexual ativa não bastam. Eles precisam<br />
ser orientados, é essencial que possam fazer perguntas, que falem e sejam<br />
ouvidos. É preciso criar com eles um canal permanente de comunicação, de<br />
modo que, quando optarem por um início de sua vida sexual, estejam bem informados<br />
e preparados para as conseqüências que tal atividade pode trazer.<br />
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