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Monografia - cecimig - UFMG

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO<br />

O PAPEL DA INVESTIGAÇÃO NO CONTEÚDO DE<br />

SOLUÇÕES<br />

<strong>Monografia</strong> de conclusão do curso de especialização latu sensu em<br />

Ensino de Ciências por Investigação.<br />

Orientadora Kátia Pedroso Silveira<br />

BIANCA DE SOUZA VALE<br />

BELO HORIZONTE – MG<br />

JULHO/ 2007


RESUMO<br />

Este trabalho discute uma abordagem diferenciada do ensino de ciências<br />

considerando a importância da participação do aluno no processo de ensino e<br />

aprendizagem, do papel do professor como mediador desse processo e da<br />

contextualização. Discute ainda a relevância de todos estes fatores para a<br />

promoção da construção do conhecimento.<br />

Apresenta uma proposta de atividade investigativa para o conteúdo de<br />

soluções, partindo de exemplos do cotidiano, abordando o conteúdo em produtos<br />

encontrados em supermercados e farmácias. Os aspectos de concentrações de<br />

soluções são discutidos a partir de tais produtos. O caráter investigativo é o<br />

diferencial na proposta de tais atividades.<br />

2


SUMÁRIO<br />

1. Introdução ............................................................................... 04<br />

2. Fundamentação Teórica ......................................................... 05<br />

3. Uma proposta de atividade investigativa ............................... 13<br />

4. Estratégias de abordagem de atividade investigativa.............. 25<br />

5. Relato de sala de aula ........................................................... 27<br />

6. Considerações Finais ............................................................. 32<br />

7. Referências bibliográficas ...................................................... 33<br />

3


INTRODUÇÃO<br />

Esta monografia é o trabalho final do curso de especialização latu sensu em<br />

Ensino de Ciências por Investigação da Faculdade de Educação – <strong>UFMG</strong>. Como<br />

professora da rede pública estadual há mais de doze anos muitos são os anseios<br />

e desafios em minha profissão e essa é, antes de mais nada, uma tentativa de<br />

(re)elaboração da minha prática pedagógica.<br />

O trabalho apresenta atividades de caráter investigativo nas quais o<br />

conteúdo de soluções é trabalhado a partir de questões preliminares que visam<br />

reconhecer as concepções prévias dos alunos a respeito do assunto. As<br />

atividades seguintes trazem uma abordagem do conteúdo relacionando-o com o<br />

cotidiano e isso permite aos alunos uma identificação do conteúdo com a<br />

realidade.<br />

Ainda apresenta um relato de experiência de sala de aula com duas turmas<br />

do 2º ano do ensino médio, a partir do desenvolvimento das atividades propostas.<br />

A inovação na metodologia é o diferencial da atividade, pois promove a<br />

participação do aluno e concebe-o como sujeito do processo de aprendizagem na<br />

construção e apropriação do conhecimento.<br />

4


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

Em abordagens mais tradicionais a ciência escolar mostra-se como algo pronto<br />

e acabado, em que os conceitos são considerados verdades absolutas.<br />

Desconsidera-se que os cientistas trabalham com hipóteses e experimentação e<br />

que nem sempre confirmam tais hipóteses. Um bom exemplo disso é a descrição<br />

de método científico nos livros de ciências de 8ª série. Na tentativa de explicar a<br />

metodologia utilizada pelos cientistas dá-se a impressão de que é um processo<br />

isento de falhas, equívocos e intuição e mais, que qualquer pessoa que observar<br />

determinado fenômeno poderá chegar às mesmas conclusões (Pérez, 2001).<br />

Nessa concepção o conhecimento científico é algo infalível, desconsidera-se a<br />

dimensão histórica da ciência em que a teoria científica parte de um problema,<br />

uma questão e que nem sempre o novo paradigma é de imediato aceito, pois é um<br />

processo em evolução.<br />

Uma forma de buscar corrigir as distorções que existem entre a ciência escolar<br />

e a ciência “dos cientistas” é promover a aproximação desses dois universos. No<br />

entanto, as imagens da atividade prática escolar e dos experimentos científicos<br />

podem confundir-se o que é um equívoco, já que são atividades distintas com<br />

objetivos diferentes. É claro que, não é possível reproduzir os experimentos<br />

científicos em sala de aula, e nem deve ser esse o objetivo pedagógico, mas, é<br />

possível reproduzir o espírito do cientista quando se abre espaço para dúvidas e<br />

questionamentos ao invés de uma apresentação de conceitos prontos. Quando o<br />

aluno é questionado sobre determinado assunto ele se vê obrigado a pensar e<br />

elaborar uma resposta e isso pode ajudar na elaboração de significados ao<br />

conceito que está sendo abordado. De acordo com os PCN “(..) a experimentação<br />

na escola média tem a função pedagógica, diferentemente da experiência<br />

conduzida pelo cientista. A experimentação formal em laboratórios didáticos por si<br />

só não soluciona o problema de ensino-aprendizagem em Química.” (p.247)<br />

É inegável a contribuição dos trabalhos de pesquisa sobre o ensino de ciências<br />

mostrando que os estudantes aprendem melhor quando participam ativamente<br />

das atividades de ensino. Para que isso ocorra é necessário uma (re) elaboração<br />

5


dos processos de ensino-aprendizagem que vai desde uma mudança dos papéis:<br />

de professor (transmissor) e o aluno (receptor), até a utilização de novas<br />

metodologias que possibilitem o aluno a construir seu próprio conhecimento tendo<br />

o professor como mediador do processo.<br />

A visão sociointeracionista oferece uma possibilidade para a compreensão de<br />

processos envolvidos no ensino de ciências. Pesquisas realizadas consideram<br />

aspectos culturais e pessoais como dimensões não excludentes. A dimensão<br />

cultural refere-se à forma como a sociedade interpreta e valoriza certos saberes e<br />

indica que aprender ciências envolve um novo modo de pensar e questionar os<br />

acontecimentos do cotidiano. A dimensão pessoal refere-se ao sujeito do<br />

conhecimento e envolve disponibilidade, interesse e esforço para favorecer<br />

processos de construção de novos significados para a apropriação de um conceito<br />

científico (Lima, 2000). Ainda, segundo Lima (2000) “De um lado, aprender<br />

envolve uma liberdade de explorar e criar modelos explicativos; de outro, o ensino<br />

guarda um compromisso de convergir significados numa dada direção”.<br />

Muito se tem discutido sobre os objetivos do ensino de ciências. De acordo<br />

com os PCN “o ensino de ciências deve propiciar ao educando compreender as<br />

ciências como construções humanas, entendendo que elas se desenvolvem por<br />

acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas, relacionando o<br />

desenvolvimento científico com a transformação da sociedade”. (p.107)<br />

Ainda de acordo com os PCN deve-se considerar a formação para a<br />

cidadania. Para que isso ocorra faz-se necessária uma abordagem diferenciada<br />

considerando não apenas o conteúdo curricular, mas também as dimensões<br />

procedimentais e atitudinais.<br />

Nessa perspectiva deve-se vincular o ensino de ciências às discussões<br />

sobre os aspectos tecnológicos e sociais que essa ciência traz na modificação de<br />

nossa sociedade. É necessário também que se considere o entendimento da<br />

natureza da ciência, não como algo pronto e acabado, mas como um processo<br />

constante de construção e aprimoramento. “Essa proposta de ensino deve ser tal<br />

que leve os alunos a construir seu conteúdo conceitual participando do processo<br />

de construção e dando oportunidade de aprenderem a argumentar e exercitar a<br />

6


azão, em vez de fornecer-lhes respostas definitivas ou impor-lhes seus próprios<br />

pontos de vista transmitindo uma visão fechada das ciências” (Carvalho, 2004).<br />

O ensino de química, centrado em fórmulas, equações, classificações e<br />

nomenclatura de compostos, muitas vezes só obtêm como resultado a rejeição<br />

dos alunos, já que eles não conseguem relacionar as tais fórmulas ao seu<br />

cotidiano. A contextualização do conteúdo pode contribuir para o processo da<br />

aprendizagem. Segundo os PCN: “Contextualizar o conteúdo que se quer<br />

aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve<br />

uma relação entre sujeito e objeto”.<br />

A contextualização não deve ser compreendida como a exemplificação do<br />

conteúdo com notas de roda-pé, ou simplesmente mera ilustração. Contextualizar<br />

é pensar situações ou fenômenos do cotidiano e a partir deles estabelecer relação<br />

com o conteúdo e ainda inter-relações nos aspectos sociais, culturais e<br />

tecnológicos. Nessa concepção o conceito passa a ter relação com a vida e o<br />

cotidiano do aluno permitindo uma aprendizagem situada. O conhecimento é<br />

construído a partir dessas interações e um mesmo conteúdo pode ser<br />

apresentado em diferentes momentos e diferentes níveis até que o aluno<br />

consolide seu saber a respeito daquele conceito. Existem diferentes níveis de<br />

compreensão para um dado conceito e permitir que o aluno avance nesses níveis<br />

representa um ganho no processo de aprendizagem. É importante que “(...) os<br />

alunos se envolvam em trabalhos que estimulem o uso de sua compreensão<br />

dessas idéias e assim as consolidem ou reforce” (Millar,2003).<br />

Pensar no ensino de ciências por investigação implica mobilizar os alunos<br />

para a solução de um problema e a partir dessa necessidade que ele comece a<br />

produzir seu conhecimento por meio da interação entre pensar, sentir e fazer.<br />

Criar atividades investigativas para a construção de conceitos é uma forma de<br />

oportunizar ao aluno participar em seu processo de aprendizagem. “Uma atividade<br />

de investigação deve partir de uma situação problematizadora e deve levar o<br />

aluno a refletir, discutir, explicar, relatar, enfim, que ele comece a produzir seu<br />

próprio conhecimento por meio da interação entre o pensar, sentir e fazer. Nessa<br />

perspectiva, a aprendizagem de procedimentos e atitudes se torna, dentro do<br />

7


processo de aprendizagem, tão importante quanto a aprendizagem de conceitos<br />

e/ou conteúdos” (Azevedo, 2004).<br />

Uma atividade investigativa não tem que ser necessariamente de natureza<br />

experimental torna-se necessário desmistificar essa idéia. Podem-se realizar<br />

atividades de pesquisa, demonstrações, estudo de dados, visitas e resolução de<br />

problemas e manter o caráter investigativo em tais atividades (PCN, 1999 –<br />

p.247).<br />

Propor uma atividade de investigação é uma tarefa desafiadora para o<br />

professor uma vez que é de fundamental importância ter objetivos claros e<br />

discernimento entre o que é essencial e o que é desnecessário para que as<br />

discussões não se percam em questões sem relevância. Deve-se considerar a<br />

participação do aluno nesse processo de investigação de um determinado<br />

fenômeno e levar em conta outros aspectos como elaboração de hipóteses,<br />

análise e interpretação de resultados, considerando a dimensão coletiva do<br />

trabalho. Na análise dos dados é importante considerar se o resultado obtido<br />

responde à questão proposta bem como, quais fatores interferiram no resultado ou<br />

quais foram as fontes de erro. O mais importante do trabalho, no entanto, não é<br />

somente o desenvolvimento da atividade de investigação e sim a avaliação da<br />

capacidade dos estudantes de raciocinar e a habilidade para resolução de<br />

problemas e de proposição de soluções.<br />

Muito se tem discutido sobre a importância das aulas práticas no currículo e<br />

as opiniões são bastante divergentes. Há escolas que possuem laboratório e não<br />

o utilizam. E também, escolas que não possuem tal recurso. Considera-se um<br />

equívoco pensar na necessidade de um ambiente específico para a realização de<br />

tais atividades. Borges (2002) defende a idéia de que “o importante não é a<br />

manipulação de objetos e artefatos concretos, e sim o envolvimento<br />

compromissado com a busca de respostas/soluções bem articuladas para as<br />

questões colocadas, em atividades que podem ser puramente de pensamento”.<br />

Um equívoco é acreditar que o simples cumprimento de um roteiro em uma<br />

prática de laboratório ou ainda a aplicação do método científico, como observar<br />

um fenômeno, anotar dados ou manipular objetos e materiais garantisse a<br />

8


aprendizagem. O objetivo da atividade deve ser o de facilitar a aprendizagem e a<br />

compreensão de conceitos e propiciar a interferência do observador diante da<br />

mesma e uma maior interação entre o sujeito e o objeto do conhecimento e com<br />

isso a construção de significados para a formação do conceito que está sendo<br />

abordado.<br />

Segundo Mortimer (1999): “O papel da experimentação é o de promover<br />

uma integração entre teoria e prática no ensino, usando experimentos para<br />

interrogar a natureza e gerar discussões sobre os fenômenos de interesse da<br />

química. Ao expressar seu pensamento nas discussões das atividades práticas, o<br />

aluno terá oportunidade de aprimorar suas concepções e se aproximar cada vez<br />

mais do mundo da química”.<br />

Portanto, uma atividade pode ser considerada investigativa se prioriza a<br />

participação do aluno como ser pensante e ativo no processo de construção do<br />

conhecimento e se tem como objetivo o desenvolvimento de habilidades e não<br />

simplesmente uma atividade que se esgota em si mesma. Essa deve ser<br />

fundamentada para que faça sentido para o aluno, de modo que ele saiba o<br />

porquê de estar investigando determinado fenômeno, pois, como assinala<br />

Bachelard (1996) “todo conhecimento é resposta a uma questão”.<br />

A incorporação dessa forma de conceber a construção de conceitos exige<br />

mudanças no planejamento e no desenvolvimento do trabalho em sala de aula.<br />

Nessa abordagem, considera-se que o processo é tão ou mais importante que o<br />

fim da investigação propriamente dito. O conceito não é visto como fim do<br />

processo de aprendizagem e sim, como instrumento para a formação do aluno<br />

para que este desenvolva suas habilidades.<br />

Ainda é necessário reconhecer que a aprendizagem envolve relações<br />

pessoais sejam elas aluno/aluno ou aluno/professor além de habilidades<br />

intelectuais e cognitivas. A proposta curricular deve não só reconhecer todas<br />

essas interações como também facilitá-las. A contextualização do ensino de<br />

conceitos químicos passa pela constante revisão na seleção de conteúdos<br />

relevantes e pela necessária postura flexível do professor.<br />

9


Uma consideração importante é a visão que muitos professores têm do<br />

processo de ensino de ciências considerando-o como um processo de<br />

transmissão-recepção de conteúdo. É necessário que o professor tome<br />

consciência do que ele pretendeu ensinar e do que realmente ensinou. Só é<br />

possível uma mudança a partir da consciência e da vontade do professor e essa<br />

não é tranqüila, há um distanciamento entre o discurso e a prática de ensino.<br />

A metodologia utilizada pelo professor acaba, muitas vezes, sendo uma<br />

escolha subjetiva, uma vez que o professor é também um agente de sua história,<br />

sua experiência pessoal e profissional e sua interação com questões sociais,<br />

culturais e ambientais estarão presentes em seu discurso e prática pedagógica.<br />

É cada vez mais necessária a reflexão e a mudança de atitude para<br />

procurar soluções diante dos muitos problemas enfrentados pelos profissionais em<br />

educação. Uma boa idéia para que essas “mudanças didáticas” ocorram é<br />

experimentar uma nova metodologia, concebendo a investigação como prática<br />

cotidiana. As dificuldades não são poucas, os próprios alunos resistem à mudança<br />

do papel do professor, mas, é um caminho, é uma alternativa.<br />

Isso significa mudar o foco da dinâmica da aula que não é mais a mera<br />

transmissão de conteúdo. E, mudando o foco, outras atitudes serão necessárias,<br />

portanto há um novo direcionamento no sentir, agir, refletir sobre as estratégias<br />

metodológicas utilizadas em sala.<br />

Nessa concepção o papel do professor passa a ser de orientador, ele é o<br />

encarregado de introduzir as idéias da ciência e de fornecer apoio para que os<br />

alunos possam dar sentido a essas idéias. “Conferir significado é, portanto, um<br />

processo dialógico que envolve pessoas em conversação e a aprendizagem é<br />

vista como o processo pelo qual os indivíduos são introduzidos em uma cultura<br />

por seus membros mais experientes” (Mortimer, 1999). O professor deve<br />

acompanhar as discussões, provocar novas questões, questionar e conduzir o<br />

processo de ensino. Considera-se que seja fundamental para a construção de um<br />

conceito científico, a discussão realizada em sala de aula acerca de um<br />

determinado fenômeno com a participação dos estudantes expondo seu<br />

conhecimento informal sobre o assunto. E a partir daí busca-se a construção do<br />

10


conceito científico contrapondo as idéias que os estudantes têm de senso-comum<br />

com as teorias científicas. Nas palavras de Schnetzler (1995): “O professor precisa<br />

saber identificar as concepções prévias de seus alunos sobre o fenômeno ou<br />

conceito em estudo. Em função dessas concepções, precisa planejar, desenvolver<br />

e avaliar atividades e procedimentos de ensino que venham promover a evolução<br />

conceitual nos alunos em direção às idéias cientificamente aceitas. Enfim, ele<br />

deve atuar como professor-pesquisador”.<br />

Para que se tenha segurança em mudar de metodologia é importante rever<br />

os pressupostos teóricos que orientam a prática profissional bem como o<br />

planejamento de trabalho. É necessário que o professor aguce sua capacidade<br />

crítica e reflexiva e a busca de sua autonomia de trabalho. Nessa perspectiva o<br />

professor não é o objeto de planejamento e sim agente ativo e sujeito do processo<br />

de conhecimento.<br />

Segundo Lima (1996): “(...) O contínuo aperfeiçoamento e a busca de novas<br />

respostas para velhas questões exigem que, enquanto desempenharmos a função<br />

de professores, sejamos também pesquisadores e aprendizes.” Incorporar<br />

mudanças na metodologia não é uma tarefa fácil, é um processo que exige<br />

disponibilidade em realizar tarefas de rotina de um modo diferenciado, mas é<br />

também uma forma de crescimento profissional. Nesse sentido os cursos de<br />

capacitação e de formação continuada podem se tornar um aliado, tanto pela<br />

formação do grupo, uma vez que os pares dividem os mesmos anseios,<br />

questionamentos e dúvidas quanto pela possibilidade de troca de informações e<br />

experiências, o que sem dúvida é uma atividade enriquecedora.<br />

Aliar experiência profissional às novas possibilidades pedagógicas,<br />

exercitar a capacidade de aprender, de conhecer e de fazer algo novo é um<br />

exercício interessante, desde que o professor sinta-se incomodado a tal ponto que<br />

tenha a necessidade de buscar novos rumos para a sua prática profissional. O<br />

grande desafio torna-se agora descobrir como ensinar melhor as idéias sobre<br />

ciências e incorporar novas metodologias para a realização do trabalho. E isso é<br />

uma tarefa difícil, mas que pode se tornar compensadora.<br />

11


Torna-se necessária uma retomada de direção nas estratégias de ensino,<br />

planejamento das aulas, com a formulação de atividades diversificadas, utilizando,<br />

quando possível, os mais diversos recursos materiais e tecnológicos. E planejar e<br />

replanejar passam a ser uma constante na atividade pedagógica.<br />

Elaborar um currículo que leve em conta questões pedagógicas e também<br />

sociais e culturais em que o aluno está inserido é uma proposta bastante ousada e<br />

inovadora.<br />

A LDB em lugar de estabelecer conteúdos específicos, destaca as<br />

competências de caráter geral dentre as quais a capacidade de aprender é<br />

decisiva. E ainda aponta para o desenvolvimento pleno do educando com senso<br />

ético e crítico capaz de agir e interagir frente as mais diversas situações do mundo<br />

moderno. De acordo com os PCN uma organização curricular que responda a<br />

esses desafios requer, dentre outros: “(re)significar os conteúdos curriculares<br />

como meios para a constituição de competências e valores, e não como objetivos<br />

de ensino em si mesmos.”<br />

Enfim o currículo não pode ser compreendido como um “molde”. Nessa<br />

perspectiva ele não passa de um “esboço reforçado” (Millar, 2003). Deve-se<br />

sempre ter em mente os objetivos de forma bastante clara, para que o conteúdo<br />

também não se perca. Conceber um currículo que oportunize aos alunos<br />

relacionar-se com questões sociais, ambientais, entre outras que o cercam é um<br />

diferencial para o ensino de química.<br />

12


UMA PROPOSTA DE ATIVIDADE INVESTIGATIVA PARA O CONTEÚDO DE<br />

SOLUÇÕES<br />

Considerando-se os pressupostos teóricos e a relevância das questões<br />

abordadas até aqui e também na tentativa de (re)elaborar a prática pedagógica,<br />

serão apresentadas algumas atividades para o conteúdo de soluções. Tais<br />

atividades foram elaboradas dentro de uma perspectiva investigativa e a principal<br />

característica é uma abordagem do conteúdo de soluções dentro de uma<br />

perspectiva social, uma vez que é a partir de exemplos do cotidiano que as<br />

atividades foram construídas.<br />

Dentre os objetivos dessa atividade, estão:<br />

• Promover a participação dos alunos;<br />

• Incentivar as discussões em grupo;<br />

• Aproximar o conteúdo/conceito de soluções do cotidiano.<br />

UNIDADE DE ENSINO: SOLUÇÕES<br />

SÉRIE: 2º ANO – NÍVEL MÉDIO<br />

TEMA: SOLUÇÕES NO COTIDIANO<br />

Questões preliminares:<br />

1) É possível dissolver sal de cozinha em água? Considere um copo cheio de<br />

água é possível dissolver qualquer quantidade de sal nessa quantidade de<br />

água?<br />

2) O que pode ser feito para que se consiga dissolver o excesso de sal que<br />

fica no fundo do copo quando se coloca uma grande quantidade de sal em<br />

um copo de água?<br />

3) Qualquer substância é solúvel em água? Explique.<br />

13


4) Se você adiciona açúcar à água que vai ser utilizada para se fazer café,<br />

antes do aquecimento, imediatamente todo o açúcar se dissolve? O que<br />

ocorre após o aquecimento da água?<br />

5) É possível dissolver apenas sólido em líquido?<br />

Você seria capaz de dar um exemplo de:<br />

a) Um sistema líquido que contenha gás dissolvido?<br />

b) E de uma solução formada por dois líquidos?<br />

Recordando o conceito de solubilidade<br />

a) Em uma mistura de sal e água qual substância é o soluto e qual substância<br />

é o solvente?<br />

b) Em uma mistura de água e álcool qual substância é o soluto e qual<br />

substância é o solvente?<br />

c) Utilizando o modelo cinético molecular, represente a solução de água e<br />

álcool.<br />

d) Se a proporção entre água e álcool for alterada, muda também a relação<br />

entre soluto e solvente?<br />

e) E nesse caso muda também a representação do modelo cinético<br />

molecular? Discuta com seus colegas e se considerar necessário faça uma<br />

nova representação.<br />

Atividade 1 - Reconhecendo soluções no supermercado<br />

a) Observe os produtos que você compra no supermercado. Observe também,<br />

cada um dos seus rótulos. Qual (is) desses produtos pode ser considerado<br />

soluções?<br />

b) Complete o quadro:<br />

14


Nome do<br />

produto<br />

Utilização<br />

Doméstica<br />

Precauções no<br />

uso e possíveis<br />

riscos à saúde<br />

Composição<br />

química<br />

Atividade 2 - Preparando soluções<br />

PARTE A: Investigando o soro caseiro<br />

Você vai precisar de:<br />

1 copo com água<br />

Sal e açúcar<br />

Colher medida para soro caseiro<br />

Prepare o soro conforme indicado na receita abaixo:<br />

Em um copo de água filtrada ou fervida adicione uma medida*<br />

pequena de sal e duas medidas* grandes de açúcar.<br />

* Essa medida refere-se à colher distribuída gratuitamente nos centros de saúde.<br />

Agora, responda às seguintes questões:<br />

a) Qual é a finalidade da solução de soro caseiro? Qual é a vantagem da<br />

colher medida?<br />

b) É possível preparar um litro de soro caseiro utilizando essa colher como<br />

medida. Descreva um procedimento para isso.<br />

15


c) É possível estabelecer comparação entre essa colher medida e uma outra<br />

unidade, como por exemplo, o grama? Explique sua resposta.<br />

d) Considerando a massa de sal igual a 1,5 g e a de açúcar 3,5 g necessárias<br />

no preparo de um copo de 200 mL de soro, qual a quantidade necessária<br />

de sal e de açúcar para se obter 1 litro de soro caseiro?<br />

PARTE B: Comparando o soro caseiro com o soro industrializado<br />

Você vai precisar de<br />

1 envelope de soro<br />

Para essa atividade não será necessário preparar a solução de soro. O objetivo é<br />

investigar sua a composição e compará-lo ao soro caseiro.<br />

Agora, responda:<br />

a) A composição desse soro é igual ou diferente à composição do soro<br />

caseiro?<br />

b) Compare a receita desse soro com a de soro caseiro. Há alguma<br />

diferença?<br />

c) Analise as proporções de sal (cloreto de sódio) e de açúcar (glicose)<br />

indicadas na composição. O que você observa em relação ao soro caseiro.<br />

Atividade 3 - Compreendendo o conceito de soluções em medicamentos<br />

16


Os medicamentos são vendidos na forma de cápsulas, soluções líquidas ou<br />

ainda na forma de suspensões. Um mesmo medicamento, vendido sob a forma de<br />

solução pode apresentar diferentes concentrações.<br />

Questões preliminares:<br />

a) Qual é a diferença entre solução e suspensão?<br />

b) Você é capaz de exemplificar algum medicamento vendido sob a forma de<br />

suspensão?<br />

Compreendendo a concentração de um medicamento<br />

A dipirona sódica, medicamento utilizado como analgésico e antitérmico, é<br />

vendida em diferentes formas. Observe a tabela abaixo:<br />

Gotas<br />

Apresentação: frasco<br />

contendo 20 mL<br />

Concentração: 500 mg/mL<br />

Cada 1 mL = 20 gotas<br />

Solução<br />

(sabor morango)<br />

Apresentação: frasco<br />

contendo 100 mL<br />

Concentração: 50 mg/mL<br />

Comprimidos<br />

Apresentação: cartela<br />

com 20 comprimidos<br />

Conteúdo: 500 mg por<br />

comprimido<br />

A partir da análise dos dados da tabela, responda às seguintes questões:<br />

a) As três formas de apresentação da dipirona sódica podem ser consideradas<br />

soluções?<br />

b) Suponha que um indivíduo necessite ingerir 500 mg de dipirona sódica.<br />

Qual será a dose correta que ele deverá tomar em cada uma das<br />

apresentações do medicamento?<br />

17


c) Faça uma pesquisa dos preços das três formas de apresentação do<br />

medicamento e avalie qual delas é a mais interessante. Será que o preço é<br />

o único critério que se deve levar em consideração para a escolha do<br />

medicamento?<br />

Atividade 4 - Compreendendo rótulos<br />

PARTE A: Compreendendo um rótulo de ácido muriático:<br />

Leia atentamente as seguintes instruções:<br />

Composição: Ácido clorídrico em meio aquoso (HCl + H 2 O).<br />

Princípio ativo: 9,5 %<br />

PERIGO<br />

Causa queimaduras<br />

graves, contém produto<br />

fortemente ácido (HCl).<br />

Recomendações de segurança:<br />

Utilizar luvas de borracha, óculos e botas de proteção.<br />

Recomendações de uso: não misturar com água na embalagem original.<br />

Não aplicar em superfície aquecida.<br />

Conservar o produto em lugar fresco e ao abrigo do sol, sempre sob temperatura<br />

ambiente.<br />

Indicações para o uso: limpeza de ardósia, cimentos, alvenaria em geral. Para<br />

limpeza de sanitários, despeje 100 mL de ácido muriático e espere o produto agir<br />

por 10 minutos.<br />

Produto corrosivo: não utilizar em pisos de mármore, madeira, alumínio, metais,<br />

etc.<br />

Conteúdo: 1000 mL<br />

Responda as questões a seguir:<br />

18


1) Você considera importante a leitura do rótulo antes da utilização do<br />

produto? Justifique sua resposta.<br />

2) No rótulo está escrito: ”Princípio ativo 9,5%”. Em 1 litro do produto, quantos<br />

mL são de ácido e quantos mL são de água?<br />

3) Utilizando o modelo cinético molecular, represente a solução do item<br />

anterior.<br />

4) Quando você utiliza 100 mL do produto na limpeza de sanitários, quantos<br />

mL do princípio ativo estão sendo utilizados? O percentual de princípio ativo<br />

utilizado será maior, menor ou igual a 9,5%?<br />

5) Se você transferir do frasco original 100 mL de ácido muriático para outro<br />

recipiente e em seguida completar o volume com água até obter 1 litro de<br />

solução, qual das soluções será mais concentrada, a do frasco original ou a<br />

que você preparou?<br />

6) Qual dessas soluções é mais eficiente na limpeza? Tente explicar que<br />

relação existe entre concentração e eficiência do produto.<br />

7) A embalagem recomenda não utilizar o produto em mármore e alumínio. O<br />

que acontece quando esse produto é colocado sobre um pedaço de<br />

mármore ou de papel alumínio?<br />

PARTE B: Compreendendo o conceito de diluição<br />

Leia atentamente as instruções do rótulo do detergente especialmente elaborado<br />

para remover sujeiras e crostas em superfícies cerâmicas.<br />

19


Limpa cerâmica e azulejos<br />

Instruções de uso: Diluir em um balde plástico, na proporção de 1 parte do<br />

produto, para 15 partes de água. Esfregar até fazer bastante espuma. Deixar agir<br />

por alguns instantes e enxaguar.<br />

Importante: É recomendável o uso de luvas e botas ao manusear o produto e suas<br />

diluições.<br />

DILUA ANTES DE USAR – PRODUTO CONCENTRADO<br />

Agora responda às seguintes questões:<br />

1) Explique a recomendação: “DILUA ANTES DE USAR – PRODUTO<br />

CONCENTRADO”.<br />

2) O produto é vendido em embalagem de 1 litro. A diluição indicada no rótulo<br />

é de 1 parte do produto para 15 partes de água. Para preparar uma solução<br />

(A) com um litro do produto, conforme o indicado, quantos litros de água<br />

serão necessários?<br />

3) Se você for preparar 2 L de solução (B), quantos mL do produto você<br />

deverá utilizar?<br />

4) Considerando o item anterior, se você retirar uma alíquota de 100 mL dessa<br />

solução (B), para fazer uma nova diluição na proporção de uma parte da<br />

solução (B) para 15 partes de água, quantos litros de água serão<br />

necessários (solução C)?<br />

5) A concentração de uma solução é a relação entre as quantidades de soluto<br />

e solvente ou as quantidades de soluto e solução contidos no sistema. Uma<br />

das formas de se expressar a concentração de uma solução é a<br />

porcentagem v/v, % v/v, que corresponde ao volume de soluto contido em<br />

20


100 mL de solução. Expresse as concentrações das soluções A, B e C em<br />

% v/v. Qual delas é a mais diluída?<br />

6) Utilizando o modelo cinético molecular, represente as três soluções do item<br />

anterior.<br />

Atividade 5 – Como os químicos preparam soluções<br />

Um estudante de química precisa preparar duas soluções diferentes. Uma das<br />

soluções é de cloreto de sódio (NaCl) e a outra é de bicarbonato de sódio<br />

(NaHCO 3 ). O volume de ambas as soluções é de 100 mL e a quantidade de<br />

soluto utilizado em cada uma das soluções é de 25 g.<br />

Responda:<br />

a) Descreva o procedimento que o estudante deve realizar no preparo dessas<br />

soluções.<br />

b) Outra forma de expressar a concentração de uma solução é em g/L, que<br />

significa a quantidade em grama de soluto contida em 1 litro de solução.<br />

Calcule a concentração em g/L de cada uma das soluções. O que você<br />

observa?<br />

c) A quantidade de matéria, em mol, de cada um dos solutos é igual?<br />

Justifique sua resposta.<br />

21


d) Outra forma de expressar a concentração de uma solução é em mol/L, que<br />

significa a quantidade de matéria, em mol, de soluto contida em 1 litro de solução.<br />

Calcule a concentração em, mol/L, de cada uma das soluções.<br />

6 - Exercícios Complementares<br />

Questão 1<br />

Leia o texto:<br />

Alcoolismo e direção<br />

O álcool reduz a função cerebral proporcionalmente a sua concentração no<br />

sangue. A porcentagem de álcool no sangue indica o número de gramas de etanol<br />

existentes em 100 mL de sangue. No Brasil o limite legal é de 0,06%, nessas<br />

condições a quantidade de álcool ainda não afetou drasticamente os reflexos do<br />

condutor. Em quantidades maiores os reflexos serão afetados, podendo<br />

comprometer o bom motorista. Uma das formas de verificar o teor alcoólico é o<br />

teste do bafômetro.<br />

Fonte: CARVALHO & SOUZA, Química, de olho no mundo do trabalho. 2004.p.382.<br />

Considere uma pessoa adulta que tenha aproximadamente 60 mL de sangue por<br />

quilograma de peso circulando em seu corpo. Suponha que essa pessoa faça uso<br />

de cerveja que contém um teor alcoólico igual a 4º GL.<br />

Dados:<br />

- A fórmula molecular do etanol é C 2 H 6 O.<br />

- A densidade do álcool é aproximadamente 0,8 g/L.<br />

- A densidade do sangue humano é aproximadamente 1,3 g/L.<br />

Com base nessas informações e em seus conhecimentos, responda:<br />

a) O que significa a expressão 4º GL?<br />

22


) Qual é a massa molar do etanol?<br />

c) Tomando por base seu peso, qual é a quantidade dessa cerveja, em mL,<br />

que você pode ingerir e ainda assim pode dirigir?<br />

d) Considere que um copo americano tenha capacidade de aproximadamente<br />

200 mL. Quantos copos dessa bebida você pode ingerir?<br />

e) Qual será a concentração de álcool no seu sangue, em g/L?<br />

f) Qual será a concentração de álcool no seu sangue, em mol/L?<br />

g) Qual será a concentração %p/p de álcool no seu sangue?<br />

h) Qual será a concentração % v/v de álcool no seu sangue?<br />

i) Faça uma pesquisa sobre o número de pessoas que morreram no Brasil,<br />

nesse ano, vítimas de acidentes de trânsito, que envolveram motoristas<br />

alcoolizados. Desse total, qual é o percentual de jovens?<br />

j) Sugira uma medida que possa ser tomada para conscientizar os jovens do<br />

problema de beber e dirigir.<br />

Questão 2<br />

Um professor instruiu seu aluno a preparar 100 mL de solução de hidróxido de<br />

sódio contendo 46 g de soluto. Ele realizou o seguinte procedimento: Em 100 mL<br />

de água adicionou 46 g de NaOH.<br />

a) O estudante preparou corretamente a solução? Justifique sua resposta.<br />

b) Calcule a concentração em g/L dessa solução.<br />

23


c) A partir dessa solução, ele foi instruído a colocar mais 400 mL de água.<br />

Calcule a concentração em g/L dessa nova solução.<br />

d) Calcule a concentração, em mol/L, de ambas as soluções.<br />

Questão 3<br />

Um estudante realizou o seguinte experimento:<br />

I- Colocou um grão de permanganato de potássio em um béquer contendo um<br />

pouco de água, agitou e em seguida completou o volume com mais água até o<br />

volume atingir 50 mL (solução I).<br />

II- Depois ele transferiu 5 mL da solução I para outro béquer e adicionou água até<br />

completar 50 mL (solução II).<br />

III- Em seguida ele transferiu 5 mL da solução II para outro béquer e adicionou<br />

água até completar 50 mL (solução III).<br />

Ele observou que a cor das soluções variou:<br />

I- violeta intenso<br />

II- violeta claro<br />

III- incolor<br />

Dado:<br />

- A concentração da solução inicial é 0,01 mol/L.<br />

a) Calcule quantos gramas de permanganato de potássio foram adicionados<br />

ao béquer I e quantos gramas foram transferidos para os béqueres II e III?<br />

b) As concentrações, em mol/L, das soluções II e III são iguais a da solução<br />

inicial? Se forem diferentes, qual delas é a menos concentrada? Justifique<br />

sua resposta.<br />

24


ESTRATÉGIAS DE ABORDAGEM DAS ATIVIDADES INVESTIGATIVAS<br />

As atividades propostas no capítulo anterior foram elaboradas dentro de<br />

uma perspectiva investigativa buscando promover a participação do aluno,<br />

incentivar as discussões em grupo e aproximar o conteúdo de soluções do<br />

cotidiano.<br />

As questões preliminares objetivam reconhecer as concepções prévias<br />

dos alunos a respeito do conteúdo de soluções. É importante o professor perceber<br />

a compreensão que os alunos têm do assunto.<br />

No item recordando o conceito de solubilidade deve-se verificar o nível<br />

de compreensão que os alunos têm sobre solução e solubilidade. Trabalhar esse<br />

conceito em níveis macroscópico e microscópico possibilita um avanço na<br />

aprendizagem, pois nessa atividade o aluno cria um modelo para expressar sua<br />

compreensão do conceito abordado e, se necessário é interessante que o<br />

professor peça ao aluno para re-elaborar o modelo cinético-molecular. Uma<br />

sugestão é que essa atividade seja feita em grupo, seguida de uma discussão e<br />

uma retomada do professor para esclarecer possíveis equívocos e pontuar algum<br />

aspecto que possa ter passado despercebido.<br />

A atividade 1- Reconhecendo soluções em supermercado pode ser feita<br />

como tarefa de casa, o objetivo aqui é aproximar o conteúdo do cotidiano. É<br />

interessante abrir espaço para os comentários dos alunos.<br />

As atividades seguintes podem ser realizadas em grupo e o professor deve<br />

acompanhar o trabalho, orientando os alunos ajudando-os com as dúvidas que<br />

surgirem. A discussão em grupo é um elemento enriquecedor da atividade, cabe<br />

ao professor ser mediador nesse processo.<br />

A atividade 2- Preparando soluções (Parte A e B) tem como objetivo o<br />

reconhecimento do soro como solução, estabelecendo comparação entre os dois<br />

tipos de soro e ainda entre as quantidades de soluto e solvente utilizando<br />

diferentes unidades de medida. E também trabalhar a idéia de proporcionalidade<br />

nas diferentes quantidades de soro. Ao se questionar o aluno sobre a utilidade do<br />

25


soro e qual a finalidade da colher medida faz-se uma abordagem de questões<br />

sociais interessantes.<br />

A atividade 3- Reconhecendo o conceito de soluções em<br />

medicamentos busca-se uma análise crítica do aluno enquanto consumidor e é<br />

uma chance para o professor indagar sobre os riscos da auto-medicação e ainda<br />

trabalhar a questão da dosagem correta de um medicamento. Uma sugestão é a<br />

comparação com outros medicamentos como, por exemplo, os remédios para<br />

hipertensão.<br />

A atividade 4- Compreendendo rótulos (Parte A) é uma forma de<br />

incentivar a leitura do rótulo contribuindo para tornar o aluno um consumidor mais<br />

crítico. O objetivo principal é trabalhar a idéia de concentração, em % v/v, que é<br />

um conceito químico aplicado ao cotidiano e iniciar a construção da idéia de<br />

diluição.<br />

Na (Parte B) deve-se trabalhar o conceito de diluição nos níveis<br />

macroscópico e microscópico, além de outros objetivos citados anteriormente. A<br />

idéia de utilizar o modelo cinético-molecular para representar as soluções<br />

possibilita um avanço na construção do conhecimento químico.<br />

A atividade 5 e os exercícios complementares trabalham os cálculos das<br />

diferentes formas de expressar as concentrações das soluções. Uma sugestão é<br />

que esses cálculos sejam inicialmente resolvidos por regra de três e só depois por<br />

meio de fórmulas. A regra de três é uma importante ferramenta no cálculo de<br />

proporção que pode ser bem utilizada nesse caso, representando um ganho, pois,<br />

desenvolve o raciocínio e a compreensão da situação problema. A utilização de<br />

fórmulas sem a devida compreensão não contribui para a aprendizagem.<br />

26


RELATO DE SALA DE AULA<br />

Ao longo deste curso, muitas foram às discussões sobre a importância da<br />

atividade investigativa no currículo de ciências. Tais discussões vêem contribuindo<br />

para uma mudança em minha percepção da sala de aula e do meu papel como<br />

professora.<br />

Propor mudança na metodologia utilizada em sala é uma tarefa que exige<br />

disponibilidade e responsabilidade. Investir numa nova perspectiva para a<br />

dinâmica da sala de aula é um projeto desafiador.<br />

As atividades propostas no capítulo anterior foram desenvolvidas com duas<br />

turmas de 2º ano do ensino médio, uma diurna e outra noturna. Os perfis das<br />

turmas são bastante distintos o que permitiu uma análise diferenciada da situação<br />

de ensino. Na execução da atividade investigativa tornou-se necessário considerar<br />

essas diferenças, pois uma mesma atividade pode funcionar de várias formas e<br />

quando se trata de turnos distintos são ainda mais acentuadas as diferenças.<br />

Estabelecer comparação entre as duas realidades é praticamente impossível.<br />

A turma da manhã mostrou-se mais receptível às tarefas apresentadas, os<br />

alunos foram mais participativos e compreenderam melhor a dinâmica das<br />

atividades. Conseguiram interagir melhor com a atividade e a discussão em grupo<br />

foi bastante proveitosa.<br />

A turma da noite mostrou-se resistente. No primeiro momento, foi mais difícil<br />

envolvê-los. A participação dos alunos nas atividades foi diferente e percebi que<br />

questões que pareceram simples de serem resolvidas na outra turma, foram mais<br />

difíceis de serem compreendidas nesta. Dificuldades com cálculos matemáticos<br />

foram constantes nesse processo e também a compreensão de conceitos mais<br />

elementares.<br />

Os alunos do diurno têm uma preocupação maior com os estudos e com a<br />

escola em geral e também sofrem uma cobrança maior dos pais. Já os alunos do<br />

noturno estão em um momento diferente. A preocupação com o trabalho já é<br />

predominante e eles atribuem ao fato de trabalharem o dia todo o desinteresse<br />

27


pelos estudos. Esses não são os aspectos mais relevantes da minha análise, não<br />

pretendo aqui estabelecer comparações definitivas e julgar as atitudes dos alunos.<br />

Na avaliação do trabalho desenvolvido pude perceber que os alunos<br />

participaram mais e se interessaram pelas atividades, isso já é um resultado<br />

positivo, uma vez que é uma tarefa difícil motivá-los e fazê-los se interessarem<br />

pelas aulas de química. Esse é um elemento da atividade investigativa, despertar<br />

o interesse e a motivação. Outro elemento importante é estabelecer relação entre<br />

o conteúdo e o cotidiano, esse aspecto representa um ganho para o aluno e para<br />

o processo de aprendizagem. E por último e talvez a mais importante contribuição<br />

da atividade investigativa no conteúdo de química seja a possibilidade do aluno<br />

construir seu próprio conhecimento a partir de uma aprendizagem situada, uma<br />

vez que ele tem a possibilidade de elaborar significados mais ricos às questões<br />

que estão sendo abordadas.<br />

Foi feita uma entrevista com os alunos das duas turmas para que eles<br />

pudessem avaliar e opinar sobre as atividades propostas. No turno da manhã 32<br />

alunos responderam e no turno da noite 16 alunos. Os itens da entrevista foram os<br />

seguintes:<br />

1) Em relação ao nível de dificuldade das atividades?<br />

( ) Fácil ( ) Médio ( ) Difícil<br />

2) Em relação à proposta de atividades?<br />

( ) Pouco interessante ( ) Interessante ( ) Muito interessante<br />

3) Comentário<br />

Os gráficos a seguir referem-se ao resultado das questões objetivas abordadas<br />

na entrevista realizada.<br />

28


Nível de dificuldade das atividades<br />

Turno Manhã<br />

3%<br />

Fácil<br />

31%<br />

Difícil<br />

66%<br />

Médio<br />

Nível de dificuldade das atividades<br />

Turno da Noite<br />

Dificil<br />

25%<br />

13% Fácil<br />

Médio<br />

62%<br />

Avaliação das atividades propostas<br />

Turno da Manhã<br />

Muito interessante<br />

Pouco interessante<br />

6%<br />

41%<br />

53%<br />

Interessante<br />

29


Avaliação das atividades propostas<br />

Turno da Noite<br />

Interessante<br />

50%<br />

50%<br />

Muito interessnte<br />

Os comentários feitos pelos alunos enriqueceram o meu trabalho e mesmo os<br />

que não reconheceram diferenças na proposta contribuíram para a análise dos<br />

resultados. Apresento um relato de alguns comentários feitos pelos alunos de<br />

ambas as turmas:<br />

A 1 : “... percebi como a química está presente no nosso dia-a-dia”.<br />

A 2 : “A atividade explica de um jeito mais simples e direto conceitos de química<br />

que poderíamos achar inúteis no nosso dia-a-dia, mas que vemos que a química<br />

pode sim ser usada na nossa vida”.<br />

A 3 : “Achei interessante, devido ao motivo de abordar a matéria de um modo<br />

diferente, buscando exemplos no cotidiano e com isso facilitando a aprendizagem<br />

(pelo menos no meu caso)”.<br />

A 4 : “Em relação às atividades achei muito complicado de entender mas<br />

aprendi coisas que eu não sabia e gostei de ficar sabendo”.<br />

A 5 : “Dessa forma ficou mais fácil de aprender do que passar um tanto de<br />

atividade para fazer em casa e ninguém aprender”.<br />

A 6 :”Ficou muito melhor a atividade sendo assim acaba nos ajudando até no<br />

nosso dia-a-dia e também ficou melhor para aprender e a matéria e a aula já não<br />

ficou mais muito chata”.<br />

A 7 : “Gostei muito pois isso nos ajudou a desenvolver nosso conhecimento.”<br />

A 8 : “Essa atividade foi muito importante para a evolução do conhecimento<br />

sobre soluções.”<br />

A 9 : “A atividade fez diferença e vários alunos com dificuldade conseguiram<br />

acompanhar a matéria. Achei muito interessante”.<br />

30


Ao observar os relatos fica clara a percepção que os alunos tiveram da<br />

metodologia utilizada para o trabalho e que essa pode fazer diferença nas<br />

relações em sala de aula. E ainda a valorização da abordagem do conteúdo a<br />

partir de questões do cotidiano. Há alunos que relatam ter aprendido mais com a<br />

atividade.<br />

A análise dos gráficos feitos a partir das entrevistas é surpreendente,<br />

principalmente com os alunos do noturno, considerando minhas observações<br />

iniciais. Apesar do meu julgamento do nível de dificuldade, os alunos não<br />

revelaram esse dado. O percentual de alunos que considerou as atividades<br />

difíceis no turno da noite foi menor que o do turno da manhã e os que<br />

consideraram as atividades fáceis também foi maior. Outro dado relevante foi que<br />

nenhum aluno do noturno considerou as atividades pouco interessantes. No turno<br />

da noite as atividades foram mais orientadas e os alunos do diurno fizeram-nas de<br />

forma mais autônoma. Com isso posso inferir que esse seja o elemento que<br />

diferencia o resultado da avaliação realizada.<br />

O dado mais relevante é o fato de os alunos perceberem a diferença de<br />

abordagem das atividades e considerarem essa mais significativa para a<br />

aprendizagem. Esse fator serve de indício apontando para algumas mudanças<br />

que devem ser promovidas em sala de aula e ainda que é possível investir em<br />

uma metodologia diferenciada para melhorar o processo de ensino aprendizagem.<br />

31


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Ao pensar no ensino de ciências por investigação é necessário fazer uma<br />

profunda reflexão sobre o papel do professor e da escola na sociedade atual. O<br />

ensino hoje deve privilegiar o desenvolvimento de habilidades como o aprender a<br />

pensar, o aprender a fazer e o aprender a refletir. Uma abordagem investigativa<br />

auxilia e muito na formação dessas habilidades. A ação do professor deve ser a<br />

de facilitador do desenvolvimento de tais habilidades e para isso, as atividades<br />

desenvolvidas em sala de aula devem ser coerentes com essa proposta.<br />

O ensino por investigação permite uma mudança na dinâmica da sala de<br />

aula, pois, valoriza a participação do aluno com suas dúvidas e questionamentos<br />

não o considerando um receptor de informações. O papel do professor deixa de<br />

ser o de transmissor de conhecimento para se tornar um mediador e um facilitador<br />

da aprendizagem. E muda também a visão da ciência que deixa de ser pronta,<br />

acabada e cheia de verdades absolutas. O desafio dessa proposta é conciliar a<br />

questão do tempo de realização das atividades e o discernimento entre o que é<br />

essencial e o que pode ser descartado, para que o conteúdo não se perca em<br />

discussões sem relevância.<br />

A abordagem investigativa permite um redimensionamento do currículo que<br />

deve ter como foco a formação de conceitos ao invés de um acúmulo de<br />

definições e classificações que não costumam promover a aprendizagem. A<br />

aprendizagem deve ser situada e para que isso ocorra elementos do cotidiano<br />

devem ser abordados não simplesmente como ilustrações e sim como parte<br />

integrante do conteúdo.<br />

Enfim, as atividades de investigação podem contribuir para motivação dos<br />

alunos, despertando o interesse pela ciência, para a melhoria do raciocínio e da<br />

capacidade de fazer relações entre fatos, fenômenos e situações e com tudo isso<br />

elevar a qualidade de ensino oferecido pela escola.<br />

32


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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atividades em sala de aula. Ensino de Ciências; unindo a pesquisa e a prática.<br />

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aula. Química Nova na Escola. São Paulo: SBQ, 1999. n- 09. p.31-40.<br />

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contribuições de pesquisas para o ensino de química. Química Nova na Escola,<br />

São Paulo: SBQ, 1995. n.1<br />

34

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