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“Passando a Química a Limpo” - cecimig - Universidade Federal de ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG<br />

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS<br />

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA<br />

“Passando a Química a Limpo”<br />

Uma Abordagem <strong>de</strong> Detergentes e Sabões no<br />

Ensino Médio<br />

Cristiane <strong>de</strong> Carvalho Guimarães<br />

Orientador: Vinicius Caliman<br />

Co-orientadora: orientadora: Maria Emília C. <strong>de</strong> Castro Lima<br />

Belo Horizonte, novembro <strong>de</strong> 2007


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG<br />

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS<br />

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA<br />

“Passando a Química a Limpo”<br />

Uma Abordagem <strong>de</strong> Detergentes e Sabões no<br />

Ensino Médio<br />

Monografia orientada pelo professor Vinicius<br />

Caliman e co-orientada pela professora Maria<br />

Emília C. C. Lima, apresentada na disciplina<br />

Monografia em Ensino <strong>de</strong> Química, como<br />

requisito parcial à obtenção do título <strong>de</strong><br />

Licenciada em Química.<br />

Cristiane <strong>de</strong> Carvalho Guimarães<br />

Belo Horizonte, novembro <strong>de</strong> 2007<br />

2


Muito Obrigada!<br />

Aos meus pais, Branca e Paulo, aos quais eu <strong>de</strong>dico mais esta conquista, pelo<br />

amor, pelo incentivo e por compreen<strong>de</strong>rem a minha ausência em tantos<br />

momentos importantes.<br />

Ao meu querido irmão Filipe pelo carinho <strong>de</strong> sempre.<br />

Ao professor Vinicius Caliman por aceitar orientar a elaboração <strong>de</strong>ssa<br />

monografia tão cheia <strong>de</strong> intenções!<br />

À professora Maria Emília pelas valiosas idéias que nortearam este trabalho e<br />

à professora Andréa Horta Machado pela leitura atenciosa.<br />

Às minhas “irmãzinhas <strong>de</strong> república” Ana Paula, Fabrícia e Fernanda por<br />

serem minha família durante este último ano <strong>de</strong> graduação e pela enorme<br />

paciência que sempre tiveram comigo.<br />

Aos meus companheiros do laboratório <strong>de</strong> catálise, especialmente aos meus<br />

eternos amigos Aline, Glenda e Humberto, pelo carinho, pelo incentivo, pelos<br />

ensinamentos e pela ajuda durante toda a minha graduação.<br />

Ao Carlos Henrique por dividir comigo as dificulda<strong>de</strong>s e as alegrias na<br />

química.<br />

Ao Juninho pela amiza<strong>de</strong>, pela companhia, pelo afeto.<br />

A Deus, o maior amigo <strong>de</strong> todos, por sempre me fornecer coragem, vonta<strong>de</strong>,<br />

saú<strong>de</strong> e proteção.<br />

3


...tenho em mim todos<br />

os sonhos do mundo.<br />

Fernando Pessoa<br />

4


Sumário<br />

Justificativa e Apresentação...................................................................................06<br />

Formas <strong>de</strong> utilização do material............................................................................07<br />

Referencial Teórico<br />

A Contextualização no Ensino <strong>de</strong> Ciências.................................................... 08<br />

As Ativida<strong>de</strong>s Práticas no Ensino <strong>de</strong> Ciências...............................................10<br />

Introdução<br />

Detergentes, alguma dúvida?..........................................................................13<br />

Texto inicial : Sabão, um velho conhecido!............................................................14<br />

Ativida<strong>de</strong> Prática 1: Produção <strong>de</strong> sabão!................................................................15<br />

Texto auxiliar : De gorduras...a sabões!.................................................................18<br />

Ativida<strong>de</strong> Prática 2: Água dura?..............................................................................22<br />

Texto auxiliar: O Que é água dura?.........................................................................25<br />

Texto auxiliar: Entrem em cena os <strong>de</strong>tergentes sintéticos!..................................26<br />

Ativida<strong>de</strong> prática 3: Água X Óleo - Os <strong>de</strong>tergentes fazem a mistura!..................29<br />

Texto auxiliar: Os mistérios da solubilida<strong>de</strong>!.........................................................32<br />

Texto auxiliar: Detergentes como emulsificantes - Micelas ................................37<br />

Texto auxiliar: Colói<strong>de</strong>s............................................................................................39<br />

Ativida<strong>de</strong> prática 4: Efeito Tyndall...........................................................................41<br />

Texto auxiliar: Explicando o Efeito Tyndall............................................................42<br />

Ativida<strong>de</strong> prática 5: A função do surfactante.........................................................42<br />

Texto auxiliar: Detergentes como surfactantes- Tensão superficial....................44<br />

Texto auxiliar: Como os <strong>de</strong>tergentes limpam.........................................................46<br />

Conclusão..................................................................................................................49<br />

Referências Bibliográficas.......................................................................................50<br />

Apren<strong>de</strong>ndo um pouco mais<br />

Forças <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals.................................................................................52<br />

BI-O-DE-GRA-DA-BI-LI-DA-DE!!!....................................................................53<br />

Explicando as dispersões!...............................................................................56<br />

5


Justificativa e Apresentação<br />

O interesse pela apresentação do tema “Sabões e Detergentes” nasceu,<br />

principalmente, <strong>de</strong>vido a nossa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorar e compreen<strong>de</strong>r situações<br />

do dia-a-dia, <strong>de</strong> preparar um material que tratasse os conceitos químicos <strong>de</strong><br />

maneira contextualizada e aplicada e que favorecesse a autoconstrução e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento por parte dos alunos. Dessa maneira,<br />

pensamos que o aprendizado se torna mais prazeroso e efetivo.<br />

As aprendizagens escolares precisam ser mais associadas a<br />

contextos externos à escola, na constituição <strong>de</strong> conhecimentos<br />

específicos essenciais à promoção da vida, nos seus contextos<br />

sócio-culturais e ambientais. (Kinalski e Zanon, 1997, p.15)<br />

Entretanto, nosso <strong>de</strong>sejo não é o aprofundamento do conteúdo químico<br />

em si, mas, é uma tentativa <strong>de</strong> aproximar as vivências do aluno do saber<br />

científico fazendo com que aquilo que freqüentemente ele toma como simples e<br />

corriqueiro se torne alvo <strong>de</strong> sua curiosida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> entendimento científico.<br />

Os estudantes em geral, certamente pelo tipo <strong>de</strong> ensino a que são<br />

submetidos, concebem a química como uma disciplina difícil e sem relação<br />

com os fenômenos presentes em suas vidas. Além disso, em alguns casos,<br />

possuem alguns “pré” conceitos a respeito da química e <strong>de</strong> suas aplicações. É<br />

comum ouvirmos associações do tipo “esse produto não tem química” ou<br />

“natural é aquilo que não tem aditivos químicos”. Esse tipo <strong>de</strong> pensamento<br />

contribui para construção <strong>de</strong> conceitos incorretos que interferirão futuramente<br />

no estudo e na compreensão das ciências.<br />

A intenção <strong>de</strong>sse trabalho é mostrar aos alunos que, ao contrário do que<br />

muitos <strong>de</strong>les po<strong>de</strong>m pensar, existe intervenção da química em praticamente<br />

tudo que consumimos e utilizamos e não apenas em produtos nocivos ou<br />

tóxicos.<br />

6


Outro aspecto que justifica a escolha <strong>de</strong>sse assunto se refere à dinâmica<br />

envolvida no ensino <strong>de</strong> química. O tema “Sabões e Detergentes” é um contexto<br />

rico para a abordagem <strong>de</strong> conceitos como interações intermoleculares,<br />

solubilida<strong>de</strong>, tensão superficial, formação <strong>de</strong> micelas e dispersões coloidais.<br />

Além disso, é possível também explorar aspectos relacionados ao meio<br />

ambiente como a importância <strong>de</strong> se utilizar materiais que sejam<br />

bio<strong>de</strong>gradáveis. Ou, ainda, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se transformar certas<br />

substâncias nocivas ao solo e à água como, por exemplo, o óleo usado em<br />

frituras, em materiais passíveis <strong>de</strong> serem aproveitados pela população como é<br />

o caso do sabão.<br />

Formas <strong>de</strong> utilização do material<br />

Este trabalho foi escrito para professores <strong>de</strong> química <strong>de</strong> Ensino Médio e<br />

po<strong>de</strong> ser utilizado <strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong> acordo com o objetivo e necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cada leitor. Sua aplicação permite abordar não somente o assunto<br />

específico do qual ele trata, que é a química dos sabões e <strong>de</strong>tergentes, mas<br />

ele po<strong>de</strong> também ser utilizado em partes, como auxiliar ou como ilustrativo,<br />

para abordagem <strong>de</strong> alguns conceitos químicos relacionados ao tema.<br />

A presença <strong>de</strong> sabões e <strong>de</strong>tergentes em nossa vida diária, por exemplo,<br />

em nossas cozinhas, banheiros, lavan<strong>de</strong>rias, etc., contribui para que, partindose<br />

<strong>de</strong>sse tema, o conhecimento químico possa ser <strong>de</strong>senvolvido através <strong>de</strong><br />

abordagens que façam mais sentido para a vida dos estudantes. É possível,<br />

ainda, que sejam trabalhados experimentos que utilizem apenas materiais do<br />

cotidiano.<br />

É preciso <strong>de</strong>ixar claro, no entanto, que o leitor não encontrará aqui temas<br />

químicos tratados em profundida<strong>de</strong>. Depen<strong>de</strong>, pois, do professor utilizar seus<br />

7


conhecimentos químicos e buscar informações complementares para melhor<br />

aproveitamento do material e uso do mesmo <strong>de</strong> acordo com o nível <strong>de</strong><br />

complexida<strong>de</strong> que queira dar ao seu curso.<br />

Referencial Teórico<br />

A Contextualização no Ensino <strong>de</strong> Ciências<br />

Para po<strong>de</strong>rmos discutir a respeito <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> abordagem para o<br />

ensino é importante que façamos uma reflexão a respeito daquelas adotadas,<br />

nos últimos tempos, pela maioria das escolas <strong>de</strong> Ensino Médio e Fundamental.<br />

Tais abordagens, centradas no método tradicional <strong>de</strong> ensino, são<br />

caracterizadas por um conjunto <strong>de</strong> conhecimentos altamente prescritivos, pelo<br />

verbalismo dos professores e pela memorização do aluno.<br />

A prática atual, na maioria das vezes, trata aspectos formais do<br />

conhecimento <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>svinculada <strong>de</strong> suas origens científicas e <strong>de</strong><br />

qualquer contexto social. Nessa perspectiva, o ensino <strong>de</strong> ciências se distancia<br />

das realida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida dos estudantes e professores. Segundo os Parâmetros<br />

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM 2000) uma pesquisa<br />

realizada com jovens do Ensino Médio mostrou que estes não vêem nenhuma<br />

relação da Química com suas vidas nem com a socieda<strong>de</strong>.<br />

[...] como se o iogurte, os produtos <strong>de</strong> higiene pessoal e<br />

limpeza, os agrotóxicos ou as fibras sintéticas <strong>de</strong> suas roupas<br />

fossem questões <strong>de</strong> outra esfera <strong>de</strong> conhecimento, divorciadas<br />

da Química que estudam na escola (PCNEM, p.79).<br />

Enten<strong>de</strong>mos que esta abordagem está, portanto, equivocada sobre a<br />

natureza do conhecimento e sobre a natureza da aprendizagem e, a completa<br />

ausência <strong>de</strong> interação entre a ciência e a realida<strong>de</strong> cotidiana torna o<br />

8


aprendizado escolar algo <strong>de</strong>sinteressante e sem sentido para a maioria dos<br />

estudantes.<br />

Atualmente, enten<strong>de</strong>-se que o papel da escola e do professor é bem<br />

mais amplo que o <strong>de</strong> transmitir informações. Abordar conceitos relacionados<br />

aos contextos <strong>de</strong> aplicação é <strong>de</strong> suma importância para o processo <strong>de</strong> ensinoaprendizagem.<br />

Para LIMA, AGUIAR e BRAGA (1999) são os contextos que<br />

pren<strong>de</strong>m a atenção dos alunos, que exigem novas explicações e formulações e<br />

que <strong>de</strong> alguma maneira fazem parte <strong>de</strong> nossas vidas.<br />

O contexto que é mais próximo do aluno e mais facilmente explorável<br />

para dar significado aos conteúdos da aprendizagem é o da vida pessoal, isto<br />

é, do seu cotidiano ou convivência. O aluno vive num mundo <strong>de</strong> fatos regidos<br />

pelas leis naturais e está imerso num universo <strong>de</strong> relações sociais.<br />

Entretanto, contextualizar não significa trazer para sala <strong>de</strong> aula<br />

elementos conhecidos da realida<strong>de</strong> do aluno e ficar no senso comum, mas,<br />

iniciar o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem trabalhando as idéias ou as<br />

representações que a realida<strong>de</strong> gerou no aluno, em relação ao conceito<br />

científico que se preten<strong>de</strong> ensinar (ARNONI, KOIKE , BORGES, 2003).<br />

É assim que vamos ensinando química: ouvindo o que os alunos<br />

pensam sobre os fenômenos e apresentando a forma como a<br />

química fala <strong>de</strong>sses fenômenos. (Conteúdos Básicos Comuns,<br />

p.13).<br />

Transformar as vivências em objeto <strong>de</strong> investigação é o <strong>de</strong>safio<br />

apresentado no ensino <strong>de</strong> ciências. O que se preten<strong>de</strong> é ensinar outra forma<br />

<strong>de</strong> explicar o mundo cotidiano, indo além do senso comum.<br />

Assim, ensinar Química <strong>de</strong> forma contextualizada implica fornecer<br />

argumentos para que os alunos se encantem pela Ciência, <strong>de</strong> uma maneira<br />

9


geral, o que, conseqüentemente, fará com que o aprendizado científico faça<br />

sentido para eles.<br />

As Ativida<strong>de</strong>s Práticas no Ensino <strong>de</strong> Ciências<br />

Voltando à reflexão a respeito da abordagem <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> ciências<br />

adotada, nos últimos tempos, pela maioria das escolas, vale ressaltar o<br />

significado que se tem conferido às ativida<strong>de</strong>s práticas.<br />

Os trabalhos práticos realizados em sala <strong>de</strong> aula são, geralmente,<br />

separados da teoria e utilizados com o intuito verificacional, ou seja, o<br />

professor <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> apresentar uma <strong>de</strong>terminada “teoria” conduz seus alunos<br />

ao laboratório, para que eles possam “confirmar” a verda<strong>de</strong> daquilo que lhes foi<br />

ensinado. São, assim, utilizados para comprovar algum mo<strong>de</strong>lo científico<br />

quando <strong>de</strong>veriam ser usados para apoiar a exploração e manipulação <strong>de</strong><br />

conceitos a fim <strong>de</strong> torná-los evi<strong>de</strong>ntes, compreensíveis e úteis. Para HODSON<br />

(1987) esses currículos tradicionais vigentes, especialmente os que envolvem<br />

trabalhos práticos, são mal i<strong>de</strong>alizados, confusos e apresentam pouco valor<br />

educacional.<br />

LIMA, AGUIAR e BRAGA (1999) concordam que é atribuído a tais<br />

ativida<strong>de</strong>s um caráter puramente ilustrativo. Também para eles, o papel do<br />

ensino experimental, nesse caso, seria promover a memorização dos<br />

enunciados teóricos, e reforçar a convicção dos alunos quanto à veracida<strong>de</strong><br />

daqueles conhecimentos que já lhe haviam sido apresentados. Além disso, as<br />

práticas possuem roteiros rigidamente estruturados, nos quais o aluno tem<br />

poucas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interferir e/ou <strong>de</strong> exercer sua criativida<strong>de</strong>.<br />

Em vista disso, é interessante promover uma abordagem <strong>de</strong> trabalhos<br />

práticos que se afaste do sentido tradicionalmente atribuído à experimentação<br />

10


nos textos didáticos. As ativida<strong>de</strong>s práticas <strong>de</strong>vem valer-se <strong>de</strong> situações do<br />

cotidiano e <strong>de</strong> vivências dos estudantes experienciados em seus contextos<br />

socioculturais. Desse modo, acredita-se que se possa estabelecer maior<br />

relação entre os fenômenos investigados, os processos naturais que se<br />

preten<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e a interpretação que os alunos conferem a eles.<br />

Segundo PACHECO (1997) está claro que a teoria não nasce da<br />

experimentação, entretanto, é importante que os alunos se relacionem com os<br />

fenômenos sobre os quais os conceitos se referem. Dessa forma, a ativida<strong>de</strong><br />

experimental é consi<strong>de</strong>rada como recurso legítimo e necessário na mediação<br />

do ensino <strong>de</strong> ciências, pela própria natureza do conhecimento científico. A<br />

aprendizagem, nessa perspectiva, remete às construções que os alunos fazem<br />

e, portanto, ao dialogo que estabelecem com suas concepções prévias. Essas<br />

precisam ser tratadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas origens para permitir mudanças conceituais<br />

que aproximem a conhecimento <strong>de</strong> senso comum do saber científico atual.<br />

[...] o objetivo das ciências é a explicação e a predição. Pois<br />

façamos os alunos trabalharem nesta perspectiva. No estudo<br />

dos fenômenos <strong>de</strong>ve aparecer essa tentativa <strong>de</strong> explicação por<br />

parte dos alunos, dando-se oportunida<strong>de</strong> para que esta<br />

capacida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolva tendo em vista suas concepções<br />

alternativas (Pacheco, 1997, p.10).<br />

Os experimentos têm o papel <strong>de</strong> proporcionar um diálogo entre os<br />

conhecimentos prévios dos estudantes e as formas particulares <strong>de</strong><br />

entendimento consagradas pelo pensamento científico.<br />

Ao fazermos pães com os estudantes do Ensino Fundamental,<br />

preten<strong>de</strong>mos partir <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vivência <strong>de</strong>les,<br />

para educá-los para um outro olhar. A química vê a produção <strong>de</strong><br />

pães <strong>de</strong> maneira diferente da do pa<strong>de</strong>iro. Faz parte <strong>de</strong>ssa<br />

ativida<strong>de</strong> olhar com estranheza aquilo que fazemos com<br />

freqüência sem nos perguntarmos como ou por quê. (Lima,<br />

Aguiar e Braga, 1999, p.22).<br />

11


Com a proposta <strong>de</strong> experimentos que tenham um caráter investigativo<br />

preten<strong>de</strong>-se abrir espaço para contribuir na formação <strong>de</strong> um sujeito inventivo e<br />

capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver, produzir e interagir com o conhecimento.<br />

12


Introdução<br />

Detergentes, alguma dúvida?<br />

Detergente: do latim “<strong>de</strong>tergere”, que tem como<br />

significado limpar, fazer <strong>de</strong>saparecer...<br />

Estamos tão habituados com os produtos <strong>de</strong> limpeza e higiene pessoal<br />

<strong>de</strong>senvolvidos com o passar do tempo que nem sequer paramos para pensar o<br />

que são, <strong>de</strong> que são feitos e como agem.<br />

Um <strong>de</strong>tergente é alguma coisa que limpa, especialmente se remove<br />

sujeiras oleosas e gordurosas. Geralmente esta classe <strong>de</strong> substâncias é<br />

dividida em dois segmentos: <strong>de</strong> um lado estão os sabões – consi<strong>de</strong>rados<br />

<strong>de</strong>tergentes naturais – e <strong>de</strong> outro estão os chamados <strong>de</strong>tergentes sintéticos.<br />

Em nosso dia a dia estamos constantemente em contato com uma<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos pertencentes a essa classe <strong>de</strong> substâncias. Os xampus,<br />

os sabonetes, as espumas <strong>de</strong> barbear, os sabões em pó e os amaciantes <strong>de</strong><br />

roupas são alguns dos exemplos que po<strong>de</strong>mos citar.<br />

É fato que, quando pensamos nesse tema, existem algumas questões<br />

que po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>spertar a curiosida<strong>de</strong> dos alunos e que po<strong>de</strong>riam ser utilizadas<br />

para o esclarecimento <strong>de</strong> muitos conceitos químicos importantes, por exemplo:<br />

Quais serão as diferenças entre os sabões (<strong>de</strong>tergentes naturais) e os<br />

<strong>de</strong>tergentes sintéticos? De que são feitos os sabões e os <strong>de</strong>tergentes? Por que<br />

eles são usados na limpeza? Os sabões e <strong>de</strong>tergentes limpam da mesma<br />

maneira? Como eles limpam?...<br />

Estas e outras questões serão trabalhadas neste material e eu convido<br />

vocês a <strong>de</strong>scobrirem as respostas participando <strong>de</strong>sse estudo sobre a “Química<br />

dos Sabões e Detergentes”.<br />

13


Texto inicial : Sabão, um velho conhecido! 1<br />

Origem do sabão<br />

Origem do nome: Cita uma antiga lenda romana que o nome<br />

“sabão” teria origem no Monte Sapo, local on<strong>de</strong> se realizavam<br />

sacrifícios <strong>de</strong> animais. A água da chuva levava a mistura <strong>de</strong><br />

sebo animal <strong>de</strong>rretido com cinzas para as margens do rio Tibre,<br />

e as mulheres que lavavam roupas nas margens <strong>de</strong>ste rio<br />

<strong>de</strong>scobriram que elas ficavam mais limpas com menor esforço.<br />

Cada vez que usamos uma barra <strong>de</strong> sabão voltamos um longo caminho<br />

em uma história incerta. O sabão comum é, sem dúvida alguma, o mais antigo<br />

dos produtos <strong>de</strong> limpeza.<br />

Este material, na verda<strong>de</strong> nunca foi “<strong>de</strong>scoberto”, mas surgiu<br />

gradualmente <strong>de</strong> misturas brutas <strong>de</strong> materiais alcalinos e matérias graxas. O<br />

historiador romano Plínio, o Velho (23–79 d.C), já <strong>de</strong>screve a fabricação do<br />

sabão. Entretanto, embora não existam fatos documentados, tudo indica que o<br />

sabão já havia sido preparado ainda em tempos pré-históricos. As primeiras<br />

evidências registradas na história da produção <strong>de</strong> um material parecido com o<br />

sabão, datam <strong>de</strong> 2800 a.C. e foram encontradas em cilindros <strong>de</strong> barro em<br />

escavações da Antiga Babilônia. Inscrições revelaram que os habitantes do<br />

local ferviam gorduras misturadas a cinzas, mas não havia menção da<br />

finalida<strong>de</strong> do produto.<br />

A prova <strong>de</strong>finitiva da produção <strong>de</strong> sabão foi encontrada na história <strong>de</strong><br />

Roma segundo a qual, <strong>de</strong> acordo com a lenda contada no início <strong>de</strong>ste tópico, o<br />

nome sabão teria sua origem no monte Sapo. Com a evolução da civilização<br />

romana, evoluiu também o conceito <strong>de</strong> banho. As famosas termas <strong>de</strong> Roma -<br />

com água vinda <strong>de</strong> seus aquedutos - foram construídas por volta <strong>de</strong> 312 a.C e<br />

1<br />

Baseado no texto “A história do Sabão” <strong>de</strong> Maria Carlos Reis – consultado no sitio: http://<br />

www.naturlink.pt em 29 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007<br />

14


se tornaram símbolos <strong>de</strong> luxo. Já no século 2 d.C., o médico Galem<br />

recomendava sabão tanto para fins medicinais como para o banho<br />

A fabricação do sabão era uma ativida<strong>de</strong> estabelecida na Europa já no<br />

início da Ida<strong>de</strong> Média. As associações dos fabricantes <strong>de</strong> sabão guardavam<br />

seus segredos industriais a sete chaves. Óleos <strong>de</strong> origem vegetal e animal<br />

eram usados com cinzas <strong>de</strong> plantas e também fragrâncias. Gradativamente,<br />

uma maior varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sabão foi se tornando disponível para barbear e lavar<br />

a cabeça, bem como para o banho e lavagem <strong>de</strong> roupa.<br />

No entanto, até princípio do século XIX pensava-se que o sabão fosse<br />

uma mistura mecânica <strong>de</strong> gordura e álcali, até que Chevreul - químico francês -<br />

<strong>de</strong>svendou a estrutura das gorduras e mostrou que a formação <strong>de</strong> sabão era,<br />

na verda<strong>de</strong>, uma reação química.<br />

É preciso ressaltar que a obtenção <strong>de</strong> sabões, seja na antiguida<strong>de</strong> ou<br />

através dos mo<strong>de</strong>rnos métodos das fábricas do século XXI, é regida,<br />

basicamente, pela mesma “Química”. Sua obtenção é feita através <strong>de</strong> um<br />

processo muito simples chamado <strong>de</strong> Saponificação.<br />

Para enten<strong>de</strong>rmos melhor este processo vamos colocar a mão na massa<br />

e preparar nossa própria barra <strong>de</strong> sabão.<br />

Ativida<strong>de</strong> Prática 1: Produção <strong>de</strong> sabão!<br />

Preten<strong>de</strong>-se que com esta ativida<strong>de</strong> os alunos possam <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s como:<br />

• Descrever fenômenos observados;<br />

• Propor explicações teóricas para os fenômenos;<br />

• Participar e contribuir para o trabalho em grupo;<br />

• Estabelecer relação entre conteúdos <strong>de</strong> aula e fatos <strong>de</strong> sua vida.<br />

15


Comentários para o professor!<br />

• Um dos objetivos <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> é mostrar aos alunos que a preparação do<br />

sabão não é apenas uma mistura mecânica <strong>de</strong> substâncias mas uma reação química<br />

entre a gordura ou óleo e o hidróxido <strong>de</strong> sódio (reação <strong>de</strong> saponificação) e que<br />

existem teorias que explicam a<strong>de</strong>quadamente os fenômenos ocorridos.<br />

• Sugerimos que esta ativida<strong>de</strong> seja realizada em grupos, a fim <strong>de</strong> que os<br />

estudantes possam discutir entre si as ativida<strong>de</strong>s propostas.<br />

• Os alunos <strong>de</strong>vem ser alertados com antecedência <strong>de</strong> que <strong>de</strong>verão coletar em<br />

casa cerca <strong>de</strong> 100 mL <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> cozinha usado em frituras e que seria <strong>de</strong>scartado.<br />

Nesta ativida<strong>de</strong>, seria conveniente que fosse discutido com os alunos a importância<br />

<strong>de</strong> não se <strong>de</strong>scartar óleo usado na pia nem no solo <strong>de</strong>vido à alta toxi<strong>de</strong>z do mesmo<br />

para o meio ambiente. Uma das formas <strong>de</strong> minimizar o <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> cozinha<br />

no ambiente é sua utilização na fabricação <strong>de</strong> sabão. Inclusive, no Brasil, muitas<br />

escolas e comunida<strong>de</strong>s possuem projetos nos quais o óleo é recolhido nas<br />

residências e restaurantes e usado para fabricar o sabão. Este, posteriormente, é<br />

vendido a um custo acessível.<br />

• Atenção! O sabão preparado nesta ativida<strong>de</strong> serve apenas para <strong>de</strong>monstrar aos<br />

alunos os <strong>de</strong>talhes da produção. Não tivemos a preocupação <strong>de</strong> testar sua<br />

alcalinida<strong>de</strong>, portanto, é recomendável que o mesmo não seja utilizado para outros<br />

fins.<br />

• Para complementar a ativida<strong>de</strong>, conforme a disponibilida<strong>de</strong> do professor e <strong>de</strong><br />

materiais necessários, po<strong>de</strong>m ser preparados diferentes tipos <strong>de</strong> sabões utilizando,<br />

no lugar do óleo usado, óleo <strong>de</strong> milho, gordura <strong>de</strong> coco, margarina, manteiga e<br />

gordura animal em reação com hidróxido <strong>de</strong> sódio, visando a produção <strong>de</strong> sabões<br />

duros e hidróxido <strong>de</strong> potássio para a obtenção <strong>de</strong> sabões moles. Os produtos assim<br />

obtidos po<strong>de</strong>m ser comparados com produtos comerciais <strong>de</strong> modo a tornar a aula<br />

mais dinâmica. Uma outra iniciativa, igualmente interessante, consiste em pedir aos<br />

alunos para pesquisarem diferentes receitas artesanais <strong>de</strong> sabões. Essa ativida<strong>de</strong><br />

permite fazer um resgate da memória <strong>de</strong> nossa cultura, aproximando os costumes <strong>de</strong><br />

nosso povo dos saberes escolarizados. A comparação entre diferentes receitas<br />

permite inferir sobre os reagentes, produtos e, por conseqüência, a reação que <strong>de</strong>ve<br />

ocorrer na formação <strong>de</strong> um sabão.<br />

Você vai precisar <strong>de</strong>:<br />

Mãos à obra!<br />

• 90 mL (cerca <strong>de</strong> 3/4 <strong>de</strong> um copo americano) <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> cozinha usado e filtrado;<br />

• 16 mL água (1/4 <strong>de</strong> um copo americano – suficiente para dissolver o hidróxido);<br />

• 16 g <strong>de</strong> soda cáustica (hidróxido <strong>de</strong> sódio) em escamas (cerca <strong>de</strong> 2 colheres <strong>de</strong><br />

sopa rasas).<br />

• Chama para aquecimento do óleo.<br />

Atenção! Hidróxido <strong>de</strong> sódio po<strong>de</strong> ser encontrado em supermercados. É uma<br />

substância corrosiva e, portanto, sua manipulação exige cuidados e a constante<br />

supervisão do professor!<br />

O que fazer:<br />

1. Coloque o óleo em um recipiente fundo e aqueça até que fique morno (~60 o C);<br />

2. Transfira a soda em escamas para um recipiente cuidadosamente;<br />

16


3. Coloque, lentamente e com cuidado, a água;<br />

4. Mexa até que todas as escamas da soda <strong>de</strong>sapareçam; (Perceber o aquecimento!)<br />

Comentários para o professor!<br />

A dissolução da soda é um processo exotérmico. Por esse motivo no momento <strong>de</strong> sua<br />

dissolução haverá aquecimento do recipiente. Discutir com os alunos sobre a que se<br />

<strong>de</strong>ve este aquecimento seria interessante. Alguns <strong>de</strong>les po<strong>de</strong>riam pensar ter se<br />

tratado <strong>de</strong> uma reação química. Os alunos apresentam dificulda<strong>de</strong>s para compreen<strong>de</strong>r<br />

processos endo e exotérmicos pela própria falta <strong>de</strong> problematização do que é sistema<br />

e vizinhança. Essa discussão po<strong>de</strong> ser oportuna nesse momento, até mesmo como<br />

processo revisional <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong> termoquímica já trabalhados.<br />

5. Adicione a solução <strong>de</strong> soda ao óleo aquecido e mexa, sem parar, por<br />

aproximadamente 30 minutos, até engrossar;<br />

6. Coloque a mistura numa fôrma e espere secar aproximadamente 3 dias para<br />

<strong>de</strong>senformar;<br />

Comentários para o professor!<br />

• O i<strong>de</strong>al é usar utensílios <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou plástico para preparar a mistura.<br />

• A reação química entre o óleo e o hidróxido <strong>de</strong> sódio ocorre lentamente. É preciso<br />

mexer vigorosamente para que a mistura engrosse.<br />

• Como fôrma po<strong>de</strong>-se utilizar uma caixinha quadrada <strong>de</strong> papelão (8x8cm) <strong>de</strong><br />

aproximadamente 4 cm <strong>de</strong> altura forrada com um plástico. Esta dimensão <strong>de</strong> caixa<br />

cabe exatamente a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sabão preparada.<br />

Sugestões <strong>de</strong> questões para serem discutidas com os alunos<br />

Observação: As questões que proce<strong>de</strong>m as ativida<strong>de</strong>s práticas envolvidas neste<br />

material têm como objetivo problematizar os experimentos. Tratam-se apenas <strong>de</strong><br />

sugestões, po<strong>de</strong>ndo o professor acrescentar outras questões <strong>de</strong> seu interesse. Os<br />

alunos <strong>de</strong>vem ser incentivados a buscar as respostas e discutir entre si. Cada grupo<br />

<strong>de</strong>ve trabalhar as perguntas individualmente a fim <strong>de</strong> valorizar a troca <strong>de</strong> idéias e a<br />

comunicação entre seus membros. Em seguida, após cada ativida<strong>de</strong>, segue um texto<br />

que auxiliará o professor na discussão <strong>de</strong>ssas questões.<br />

1. A preparação do sabão é uma reação química chamada <strong>de</strong> saponificação. Na<br />

antiguida<strong>de</strong> o sabão era obtido através <strong>de</strong> gorduras animais e cinzas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

Compare a reação do experimento realizado com a produção <strong>de</strong> sabão realizada por<br />

povos antigos i<strong>de</strong>ntificando e comparando os reagentes em cada caso.<br />

17


Professor A obtenção do sabão no experimento é feita por meio da<br />

reação química entre o hidróxido <strong>de</strong> sódio e o óleo <strong>de</strong> frituras. Na<br />

antiguida<strong>de</strong> os povos utilizavam a gordura animal (quimicamente<br />

semelhante ao óleo) e a cinza da ma<strong>de</strong>ira que contém como substância<br />

alcalina o carbonato <strong>de</strong> potássio. Espera-se que os alunos atentem para o<br />

fato <strong>de</strong> as cinzas possuírem caráter alcalino, ou seja, substituírem o<br />

NaOH. Obviamente, não se espera que sejam capazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar o<br />

carbonato <strong>de</strong> potássio como substância ativa.<br />

2. Qual a importância econômica e ambiental <strong>de</strong> se utilizar óleo <strong>de</strong> frituras na obtenção<br />

<strong>de</strong> sabões?<br />

Professor A importância econômica está relacionada com a reutilização<br />

do óleo usado para fabricação <strong>de</strong> um produto amplamente utilizado<br />

pela população. A importância ambiental resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> não se<br />

<strong>de</strong>scartar óleo usado na pia, evitando a contaminação dos rios, e nem no<br />

solo, evitando que o mesmo seja impermeabilizado o que po<strong>de</strong>ria causar<br />

problemas como enchentes.<br />

3. Sabões são usados com a função <strong>de</strong> remover óleos e gorduras das superfícies.<br />

Como você explica o fato <strong>de</strong> um produto obtido a partir <strong>de</strong> gorduras realizar tão bem<br />

esta função?<br />

Professor Sabões são sais oriundos da reação entre óleos e gorduras e<br />

uma substância iônica. São, portanto, um material diferente <strong>de</strong><br />

gorduras e óleos. Aqui é interessante frisar o conceito <strong>de</strong> reação<br />

química. Quando ocorre uma reação química há um rearranjo dos<br />

átomos dos reagentes para formação <strong>de</strong> novas substâncias (produtos).<br />

Estas possuem características e proprieda<strong>de</strong>s diferentes das substâncias<br />

<strong>de</strong> partida. Sendo assim, sabões são obtidos através <strong>de</strong> gorduras mas não<br />

são gorduras e possuem a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> removê-las.<br />

Texto auxiliar : De gorduras...a sabões!<br />

Os sabões servem, principalmente, para nos livrar da incômoda sujeira.<br />

Mas, <strong>de</strong> que é composta a sujeira? Ela é constituída, na maioria das vezes, por<br />

óleos e gorduras. Partindo <strong>de</strong>sse mesmo tipo <strong>de</strong> gorduras e óleos que formam<br />

as sujeiras, são produzidos os sabões. Assim, para uma boa compreensão da<br />

química dos sabões, é preciso enten<strong>de</strong>r o que são as gorduras e os óleos,<br />

importantes componentes utilizados na produção do sabão. É interessante<br />

também conhecer um pouco das bases utilizadas no processo.<br />

18


Gorduras e óleos<br />

Tanto óleos quanto gorduras são substâncias formadas <strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong><br />

triacilgliceróis. Em uma molécula <strong>de</strong> triacilglicerol, três moléculas <strong>de</strong> ácidos<br />

graxos são ligadas a uma molécula <strong>de</strong> glicerina (figura 1).<br />

Existem muitos tipos <strong>de</strong> triacilgliceróis, cada tipo consiste <strong>de</strong> suas<br />

próprias combinações <strong>de</strong> ácidos graxos.<br />

Figura 1: Estrutura <strong>de</strong> um triacilglicerol.<br />

Oxigênio<br />

Hidrogênio<br />

Carbono<br />

Fonte: http://www.chandlerssoaps.com/chemistry-of-soap.html<br />

Ácidos graxos são moléculas orgânicas compostas por uma longa<br />

ca<strong>de</strong>ia formada por átomos <strong>de</strong> carbono e hidrogênio e que apresenta, em uma<br />

<strong>de</strong> suas extremida<strong>de</strong>s, um grupo “especial” composto por átomos <strong>de</strong> carbono e<br />

oxigênio <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> grupo carboxil (COO - ), como mostrado na figura 1.<br />

As gorduras e óleos usados na obtenção dos sabões são <strong>de</strong> origem<br />

animal ou vegetal. Embora não exista uma gran<strong>de</strong> distinção entre uma gordura<br />

e um óleo, po<strong>de</strong>-se dizer que “óleos” são comumente líquidos, à temperatura<br />

ambiente são fluidos escorregadios e lubrificantes. “Gorduras” normalmente<br />

constituem-se em um sebo - substância sólida escorregadia ao toque. Cada<br />

gordura ou óleo é composto <strong>de</strong> uma mistura diferente <strong>de</strong> triacilgliceróis<br />

distintos.<br />

19


Bases ou álcalis<br />

O sabão é produzido a partir <strong>de</strong> óleos e gorduras e <strong>de</strong> bases como<br />

hidróxidos <strong>de</strong> sódio (NaOH) e o hidróxido <strong>de</strong> potássio (KOH), que, ao reagirem,<br />

realizam o processo <strong>de</strong> saponificação. As características do sabão po<strong>de</strong>m<br />

variar <strong>de</strong> acordo com a base utilizada na sua preparação, entretanto,<br />

quimicamente, ele age da mesma maneira, não importando o tipo <strong>de</strong> hidróxido<br />

usado.<br />

O hidróxido <strong>de</strong> sódio é também conhecido como soda cáustica. Sua<br />

dissolução em água é exotérmica, portanto, libera certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor,<br />

aquecendo o recipiente no qual a dissolução é feita.<br />

O hidróxido <strong>de</strong> potássio é também conhecido como potassa cáustica.<br />

Sua dissolução em água também é um processo exotérmico.<br />

Os sabões obtidos a partir do NaOH são chamados <strong>de</strong> sabões duros.<br />

Formam barras que po<strong>de</strong>m ser cortadas. Já os sabões obtidos a partir do KOH<br />

são chamados moles e se apresentam líquidos ou na forma <strong>de</strong> pasta.<br />

Na antigüida<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> restrição para a produção <strong>de</strong> sabão foi a<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se produzir estas bases. Na Europa Central, a base utilizada<br />

para a produção <strong>de</strong> sabão era retirada das cinzas da ma<strong>de</strong>ira. Este foi,<br />

também, um processo muito utilizado pelos fenícios. A obtenção dos hidróxidos<br />

no nor<strong>de</strong>ste do mediterrâneo ocorreu através da cinza <strong>de</strong> plantas marinhas.<br />

Como os sabões são feitos<br />

Saponificação <strong>de</strong> gorduras e óleos é o processo <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> sabões<br />

mais amplamente utilizado. Este método envolve a reação <strong>de</strong> óleos e gorduras<br />

com solução aquosa <strong>de</strong> uma base forte (NaOH ou KOH). A equação química<br />

que representa o processo <strong>de</strong> saponificação está representada na figura 2.<br />

20


R1<br />

H 2<br />

C<br />

R2<br />

O<br />

H<br />

C<br />

O O O<br />

R3<br />

O<br />

Triacilglicerol<br />

(gordura)<br />

O<br />

CH 2<br />

(s)<br />

+ 3XOH (aq)<br />

3 R<br />

O-X+<br />

(aq) +<br />

O<br />

base<br />

Sais <strong>de</strong> ácidos<br />

graxos<br />

(sabões)<br />

H 2<br />

C<br />

H<br />

C CH 2<br />

OH OH OH<br />

glicerol<br />

On<strong>de</strong> X = Na ou K<br />

R1, R2 e R3 = ca<strong>de</strong>ias compostas <strong>de</strong> C e H<br />

(l)<br />

Figura 2: Equação química que representa a reação <strong>de</strong> saponificação<br />

Os produtos <strong>de</strong>sta reação são um sal (sabão) e glicerol. Sabe-se que os<br />

sais são substâncias que possuem, pelo menos, uma ligação com caráter<br />

tipicamente iônico. Os sabões, por serem sais, apresentam um ponto <strong>de</strong> forte<br />

polarização em sua molécula chamado <strong>de</strong> cabeça polar. Trata-se <strong>de</strong> uma das<br />

extremida<strong>de</strong>s da ca<strong>de</strong>ia carbônica na qual um átomo <strong>de</strong> oxigênio do grupo<br />

carboxil, muito eletronegativo, está ligado a um cátion (Na + ou K + ).<br />

Na figura 3 representamos uma molécula típica <strong>de</strong> um sabão <strong>de</strong> sódio:<br />

H 3<br />

C - CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

-CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- C<br />

O<br />

O-Na+<br />

Ca<strong>de</strong>ia Carbônica Apolar<br />

Cabeça Polar<br />

Figura 3: Representação <strong>de</strong> uma molécula <strong>de</strong> sabão <strong>de</strong> sódio<br />

O sabão é uma substância com muitas características vantajosas. É<br />

barato, não-tóxico, fácil <strong>de</strong> obter, além <strong>de</strong> ser fabricado a partir <strong>de</strong> matériasprimas<br />

renováveis (óleos e gorduras).<br />

Existe, entretanto, uma limitação característica dos sabões <strong>de</strong> sódio e<br />

potássio que é o seu comportamento na chamada “Água Dura”.<br />

Você já <strong>de</strong>ve ter percebido que em <strong>de</strong>terminadas situações não se<br />

consegue fazer espuma ao tentar lavar as mãos, as roupas ou a louça com<br />

21


sabão. Este fato ocorre <strong>de</strong>vido a uma característica da água <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />

regiões (água dura) que diminui a eficácia do sabão.<br />

Para enten<strong>de</strong>rmos melhor o que é água dura e como o sabão se<br />

comporta nessa água vamos fazer o experimento proposto abaixo:<br />

Ativida<strong>de</strong> Prática 2: Água dura? 2<br />

Preten<strong>de</strong>-se que nesta ativida<strong>de</strong> os alunos possam <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s como:<br />

• Descrever fenômenos observados;<br />

• Registrar dados <strong>de</strong> fenômenos observados;<br />

• Propor explicações teóricas para os fenômenos;<br />

• Participar e contribuir para o trabalho em grupo;<br />

• Estabelecer relação entre conteúdos <strong>de</strong> aula e fatos <strong>de</strong> sua vida.<br />

Comentários para o professor!<br />

• Muitos alunos certamente também já observaram que, em <strong>de</strong>terminadas<br />

situações, não conseguem fazer espuma ao tentarem lavar as mãos com sabão. Você<br />

<strong>de</strong>ve enfatizar que o problema aí não é o sabão e sim a água utilizada. O sabão não<br />

faz espuma em algumas situações pelo fato <strong>de</strong> a água utilizada na lavagem ser dura.<br />

• Como a dureza da água é uma questão regional, a ativida<strong>de</strong> que se segue tem<br />

como objetivo simular a água dura para mostrar aos alunos o efeito que a mesma tem<br />

sobre os sabões. É importante que se use água <strong>de</strong>stilada para não correr o risco <strong>de</strong> a<br />

água utilizada possuir certa dureza o que atrapalharia o experimento. Po<strong>de</strong>-se<br />

conseguir água <strong>de</strong>stilada em postos <strong>de</strong> gasolina, vendida como água <strong>de</strong> bateria, ou<br />

em farmácias.<br />

• O objetivo <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> é mostrar a diminuição da eficácia do sabão quando<br />

utilizado em água dura e enfatizar que embora os sabões apresentem tal<br />

característica os <strong>de</strong>tergentes sintéticos não apresentam. Os primeiros <strong>de</strong>tergentes<br />

sintéticos surgiram justamente para substituir os sabões em regiões nas quais a água<br />

é dura.<br />

2 Ativida<strong>de</strong> adaptada do artigo “Água dura em sabão mole” QNESC n o 3<br />

22


Mãos à obra!<br />

Você vai precisar <strong>de</strong>:<br />

• 1 frasco <strong>de</strong> refrigerante <strong>de</strong> 1L<br />

• 6 tubos <strong>de</strong> ensaio com suporte<br />

• 5 copos<br />

• 1 colher <strong>de</strong> café<br />

• 2 conta gotas<br />

• ~2 L <strong>de</strong> água <strong>de</strong>stilada<br />

• água <strong>de</strong> torneira<br />

• cal virgem ou qualquer sal solúvel<br />

<strong>de</strong> cálcio<br />

• pedaço <strong>de</strong> sabão<br />

• <strong>de</strong>tergente líquido sintético (usado<br />

para lavar louça)<br />

O que fazer:<br />

1. Dissolver, em um copo contendo água <strong>de</strong>stilada até a meta<strong>de</strong>, aproximadamente<br />

uma colher <strong>de</strong> café <strong>de</strong> cal virgem (CaO) ou <strong>de</strong> um sal solúvel <strong>de</strong> cálcio;<br />

2. Transferir para a garrafa <strong>de</strong> 1L e completar o volume com água. Rotular: ÁGUA<br />

DURA;<br />

3. Encher um copo com água <strong>de</strong>stilada. Rotular:ÁGUA MOLE;<br />

4. Encher uma segundo copo com água da torneira. Rotular: AMOSTRA;<br />

5. Enumere seis tubos <strong>de</strong> ensaio;<br />

6. Adicione aos tubos 1 e 2, um terço <strong>de</strong> seus volumes <strong>de</strong> água <strong>de</strong>stilada; aos tubos 3<br />

e 4, o mesmo volume da solução “água dura”; e aos tubos 5 e 6, igual volume <strong>de</strong> água<br />

da torneira “amostra”;<br />

7. Coloque um pedaço <strong>de</strong> sabão (aproximadamente 1 cm 3 ) em um copo com água<br />

<strong>de</strong>stilada (100 mL) e dissolva completamente. Aqueça para dissolver e trabalhe com a<br />

solução ainda morna ou logo após esfriar.<br />

8. Adicione, gota a gota, a solução <strong>de</strong> sabão ao tubo 1 e <strong>de</strong>termine quantas gotas são<br />

necessárias para produzir espuma;<br />

9. Repita o procedimento para os tubos 3 e 5;<br />

10. Anote os resultados no quadro abaixo.<br />

Tubo 1 – Água mole 3 – Água dura 5 - Amostra<br />

Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gotas<br />

11. Adicione a um copo aproximadamente um terço <strong>de</strong> sue volume <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente<br />

sintético e complete o volume com água <strong>de</strong>stilada.<br />

12. Adicione, gota a gota, esta solução aos tubos 2, 4 e 6 e <strong>de</strong>termine quantas gotas<br />

são necessárias para produzir espuma.<br />

13. Anote os resultados no quadro abaixo.<br />

Tubo 2 – Água mole 4 – Água dura 6 - Amostra<br />

Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gotas<br />

23


Sugestões <strong>de</strong> questões para serem discutidas com os alunos<br />

1. Houve diferença na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gotas necessárias para fazer espuma em cada<br />

tipo <strong>de</strong> água quando foi usado sabão? E quando foi usado o <strong>de</strong>tergente sintético?<br />

Professor Quando é utilizada a solução <strong>de</strong> sabão <strong>de</strong>ve haver diferença na<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gotas utilizadas, visto que, na água dura (contendo íons<br />

Ca 2+ ) parte das moléculas <strong>de</strong> sabão irá se precipitar, ou seja, formará um<br />

sal <strong>de</strong> cálcio insolúvel, sendo assim a eficácia do sabão será diminuída.<br />

Quando é utilizada solução <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente sintético será gasta a mesma<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gotas para todos os frascos, visto que <strong>de</strong>tergentes<br />

sintéticos não formam precipitados em água dura.<br />

2. Procure uma explicação para este fato.<br />

Professor Explicação <strong>de</strong>scrita no item 1. É importante levar os alunos a<br />

pensarem em termos dos tipos <strong>de</strong> água utilizados. Água <strong>de</strong>stilada gasta<br />

menos sabão para fazer espuma, água com cálcio gasta mais. Sabão<br />

usado em água com cálcio não espuma porque reage com cálcio e <strong>de</strong>ixa<br />

<strong>de</strong> ser sabão. Neste experimento a formação <strong>de</strong> precipitado do sabão<br />

com os íons cálcio po<strong>de</strong>rá ser visualizada pelos alunos.<br />

3. Afinal, o que é uma água dura?<br />

Professor É aquela na qual há presença <strong>de</strong> íons cálcio. Enfatizar que não<br />

é apenas a presença <strong>de</strong> íons cálcio mas também <strong>de</strong> íons magnésio.<br />

4. Como você classifica a água <strong>de</strong> sua torneira?<br />

Professor Esta classificação será baseada na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gotas que o<br />

aluno gastou para produzir espuma na água da torneira utilizando a<br />

solução <strong>de</strong> sabão.<br />

5. Qual o problema terá uma lavan<strong>de</strong>ria que utilize sabão e esteja situada numa região<br />

<strong>de</strong> solo rico em calcário?<br />

Professor Terá o problema da precipitação do sabão. Já que calcário<br />

CaCO 3<br />

é rico em cálcio o sabão utilizado terá sua ação diminuída e<br />

conseqüentemente a lavan<strong>de</strong>ria gastará mais sabão do que <strong>de</strong>veria para<br />

lavar a roupa. Além disso, o sabão precipitado gruda na roupa,<br />

estragando o tecido, e nas máquinas <strong>de</strong> lavar. Prejuízo na certa!<br />

6. Haveria algum problema em utilizar a água do mar nas lavan<strong>de</strong>rias? Por que?<br />

Professor Sim. Porque na água do mar além <strong>de</strong> NaCl há outros sais<br />

dissolvidos, inclusive sais <strong>de</strong> cálcio e magnésio que prejudicariam a<br />

limpeza quando utilizado sabão.<br />

24


Texto auxiliar: O Que é água dura?<br />

Explicando a dureza da água<br />

Águas ricas em sais, principalmente, <strong>de</strong> cálcio e magnésio são<br />

chamadas <strong>de</strong> águas duras. A água mole, em contrapartida, é aquela que está<br />

livre <strong>de</strong>sses minerais. Os cátions minerais da água dura se combinam com<br />

ânions dos sabões e os precipitam na forma <strong>de</strong> sais insolúveis, conforme<br />

mostra a figura 4.<br />

2<br />

Molécula <strong>de</strong> sabão<br />

Sal solúvel<br />

O<br />

ONa+<br />

(aq)<br />

+ Ca 2+ O<br />

2Ca 2+ + 2Na +<br />

(aq)<br />

(s)<br />

Sal <strong>de</strong> cálcio<br />

Insolúvel<br />

O<br />

(aq)<br />

Figura 4: Equação química que representa a reação <strong>de</strong> precipitação do sabão<br />

na presença <strong>de</strong> íons cálcio<br />

Devido à formação <strong>de</strong>sses precipitados, águas duras diminuem a<br />

concentração do sabão e, portanto, não espumam. Em adição, estes<br />

precipitados se <strong>de</strong>positam nas superfícies das roupas lavadas, das máquinas<br />

<strong>de</strong> lavar, banheiras, pias e vasos sanitários.<br />

Apesar <strong>de</strong> existirem regiões nas quais a água é extremamente “mole”,<br />

levando a pensar que não haveria problema com a utilização do sabão, sabese<br />

que íons cálcio e magnésio também estão presentes nas sujeiras que serão<br />

lavadas <strong>de</strong> roupas, banheiras, pias... e, assim, alguma precipitação po<strong>de</strong>rá<br />

ocorrer caso o sabão seja usado.<br />

Os problemas relacionados ao uso do sabão comum em água dura<br />

associados ao fato <strong>de</strong>le se <strong>de</strong>teriorar com o armazenamento, e <strong>de</strong> não<br />

enxaguar completamente levaram ao <strong>de</strong>senvolvimento dos chamados<br />

<strong>de</strong>tergentes sintéticos.<br />

25


Como observado na ativida<strong>de</strong> prática 2, os <strong>de</strong>tergentes sintéticos não<br />

formam precipitado com a água dura, ou seja, possuem praticamente a mesma<br />

ativida<strong>de</strong> em águas duras e moles. Sendo assim, são consi<strong>de</strong>rados ótimos<br />

substitutos para o sabão quando a água dura é utilizada.<br />

Texto auxiliar: Entrem em cena os <strong>de</strong>tergentes<br />

sintéticos!<br />

[...] Água e sabão bastaram à raça humana<br />

até Hitler aparecer, e a guerra tomar lugar.<br />

Nosso sabão foi racionado, óleos e gorduras ficaram escassos;<br />

E químicos malucos buscaram por alguma coisa nova.<br />

Agora, não algo que “limpe” a sarja.<br />

Nenhuma mulher “esfrega” ou “lava”. Elas “<strong>de</strong>tergeram”! 3<br />

Como uma alternativa para “amolecer” a água dura foi <strong>de</strong>senvolvido um<br />

<strong>de</strong>tergente que continua dissociado, mesmo na presença <strong>de</strong> cátions que<br />

precipitariam o sabão. Os <strong>de</strong>tergentes sintéticos são materiais produzidos a<br />

partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados do petróleo. Eles começaram a ser usados intensamente a<br />

partir da Segunda Guerra Mundial, quando houve escassez <strong>de</strong> óleos e<br />

gorduras para a fabricação <strong>de</strong> sabão comum.<br />

Assim como os ácidos graxos usados na fabricação do sabão, <strong>de</strong>rivados<br />

do petróleo contêm ca<strong>de</strong>ias carbônicas, ou seja, ca<strong>de</strong>ias formadas por átomos<br />

<strong>de</strong> carbono e hidrogênio, constituindo uma cauda apolar. Alguns compostos<br />

químicos, como o trióxido <strong>de</strong> enxofre e ácido sulfúrico, são usados para<br />

produzir a cabeça hidrofílica na molécula do <strong>de</strong>tergente.<br />

Como na fabricação do sabão, as bases utilizadas na obtenção dos<br />

<strong>de</strong>tergentes sintéticos são os hidróxidos <strong>de</strong> sódio e potássio.<br />

3 Traduzido do poema Foam <strong>de</strong> A.P. Herbert<br />

26


As moléculas <strong>de</strong>ssa nova classe <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergentes que fazem mais<br />

sucesso são os alquilbenzenosulfonatos e os alquilsulfatos. Nestas moléculas<br />

os grupos sulfonato (SO - 3 ) e sulfato (SO 2- 4 ), respectivamente, agem como<br />

estrutura hidrofílica no lugar do grupo carboxil (COO - ) (Figura 5).<br />

O<br />

H 3<br />

C - CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- O S O<br />

O<br />

Ca<strong>de</strong>ia Carbônica<br />

Apolar<br />

(1)<br />

Cabeça<br />

Iônica Polar<br />

H 3<br />

C - CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

- CH 2<br />

-<br />

O<br />

S<br />

O<br />

O<br />

Ca<strong>de</strong>ia Carbônica<br />

Apolar<br />

Figura 5: Estrutura <strong>de</strong> duas moléculas amplamente usadas como <strong>de</strong>tergentes<br />

sintéticos: o do<strong>de</strong>cilsulfato (1) e o do<strong>de</strong>cilbenzenosulfonato (2)<br />

(2)<br />

Cabeça<br />

Iônica Polar<br />

Diferentemente dos sabões comuns, cujo grupamento iônico presente na<br />

cabeça polar só po<strong>de</strong> ser grupo carboxil (COO - ), o que o torna um <strong>de</strong>tergente<br />

aniônico, os <strong>de</strong>tergentes sintéticos po<strong>de</strong>m ter diversos tipos <strong>de</strong> grupamentos<br />

polares. De acordo com o tipo <strong>de</strong> grupamento os <strong>de</strong>tergentes sintéticos po<strong>de</strong>m<br />

ser classificados em:<br />

Aniônicos: Assim como os sabões apresentam como cabeça polar um<br />

grupo com carga negativa que constituem a parte ativa em água. Como<br />

exemplo po<strong>de</strong>mos citar as moléculas da figura 5, o do<strong>de</strong>cilsulfato e o<br />

do<strong>de</strong>cilbenzenosulfonato.<br />

Catiônicos: Apresentam como cabeça polar um grupo com carga<br />

positiva que constitui a porção da molécula ativa em água. São sais<br />

quaternários <strong>de</strong> amônio, ou seja, há quatro átomos <strong>de</strong> carbono ligados a um<br />

27


átomo <strong>de</strong> nitrogênio por ligação covalente. Não são usados como <strong>de</strong>tergentes<br />

domésticos porque apresentam fraco po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>tergente. Os amaciantes <strong>de</strong><br />

roupas são baseados em quaternários <strong>de</strong> amônio. Por suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

germicidas também são bastante utilizados como <strong>de</strong>sinfetantes. Um exemplo é<br />

o cloreto <strong>de</strong> trimetil alquil amônio representado na figura 6.<br />

CH 3<br />

R N CH 3<br />

+Cl -<br />

CH 3<br />

Figura 6: Estrutura do cloreto <strong>de</strong> trimetil alquil amônio<br />

Não iônicos: Não apresentam nenhuma carga em suas moléculas, mas<br />

possuem uma parte hidrofílica que se solubiliza em água através <strong>de</strong> ligações<br />

<strong>de</strong> hidrogênio. No Brasil o mais utilizado é o éter nonil fenol poliglicólico (figura<br />

7) que é empregado na fabricação <strong>de</strong> xampus, pasta <strong>de</strong>ntal, etc...<br />

H 19<br />

C 9 O CH 2<br />

CH 2<br />

O H<br />

x<br />

Figura 7: Estrutura do éter nonil fenol poliglicólico<br />

Anfóteros: Possuem na estrutura tanto uma carga positiva (um átomo<br />

<strong>de</strong> nitrogênio na forma quaternária) quanto uma carga negativa (um ânion<br />

carboxil). São os <strong>de</strong>tergentes mais caros e são empregados, por exemplo, na<br />

formulação <strong>de</strong> xampus infantis e removedores <strong>de</strong> maquiagem. Exemplo:<br />

cocobetaína (figura 8).<br />

CH 3<br />

R N + CH 2 COO-<br />

CH 3<br />

Figura 8: Estrutura da cocobetaína<br />

28


Os <strong>de</strong>tergentes sintéticos, com uma ação efetiva, apareceram no<br />

mercado alemão em 1930 e foram introduzidos um pouco mais tar<strong>de</strong> nos<br />

Estados Unidos. Aos 20 anos <strong>de</strong> fabricação, nos Estados Unidos, já se<br />

vendiam mais <strong>de</strong>tergentes sintéticos que sabões. A sua solubilida<strong>de</strong> em água<br />

dura tem sido o fator mais importante na aceitação dos <strong>de</strong>tergentes sintéticos.<br />

Devido, principalmente, à ausência <strong>de</strong> precipitados, como o que se forma com<br />

sabão em água dura, os produtos sintéticos impuseram-se, em seguida, na<br />

limpeza caseira <strong>de</strong> tecidos finos, cabelos (xampus) e utensílios domésticos.<br />

Na ativida<strong>de</strong> a seguir falaremos um pouco a respeito da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sabões e <strong>de</strong>tergentes sintéticos <strong>de</strong> solubilizarem óleos e gorduras em água.<br />

Veremos que o <strong>de</strong>tergente sintético, bem como o sabão comum, permite tal<br />

solubilização e é essa proprieda<strong>de</strong> que faz <strong>de</strong>ssas substâncias tão importantes<br />

na limpeza.<br />

Ativida<strong>de</strong> prática 3: Água X Óleo<br />

Os <strong>de</strong>tergentes<br />

es 4 fazem a mistura! 5<br />

Preten<strong>de</strong>-se que nesta ativida<strong>de</strong> os alunos possam <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s como:<br />

• Descrever fenômenos observados;<br />

• Registrar dados <strong>de</strong> fenômenos observados;<br />

• Propor explicações teóricas para os fenômenos;<br />

• Participar e contribuir para o trabalho em grupo.<br />

Comentário para o professor!<br />

• O objetivo <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> é mostrar que os <strong>de</strong>tergentes agem no sentido <strong>de</strong><br />

permitir a solubilização <strong>de</strong> compostos orgânicos (apolares) em água (polar). Será<br />

discutido que a solubilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da afinida<strong>de</strong> eletrônica e das interações<br />

intermoleculares que se formam entre as moléculas. Como as moléculas dos<br />

<strong>de</strong>tergentes e dos sabões são formadas por uma longa ca<strong>de</strong>ia apolar que se comporta<br />

semelhantemente aos óleos e gorduras (repelindo a água) e uma cabeça polar com<br />

4 Lembrar que quando falamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergentes estamos nos referindo tanto aos <strong>de</strong>tergentes sintéticos<br />

quanto aos sabões que são os ditos <strong>de</strong>tergentes naturais.<br />

5 Ativida<strong>de</strong> adaptada da monografia “Dispersões coloidais – Um contexto para se discutir interações<br />

intermoleculares” - Ivana Marques.<br />

29


afinida<strong>de</strong> pela água semelhante a dos sais comuns, é interessante mostrar aos alunos<br />

as diferenças <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses dois compostos e o tipo <strong>de</strong> interação que se<br />

forma quando os mesmos são misturados a água. Dessa maneira po<strong>de</strong>rá ficar mais<br />

claro, posteriormente, aos alunos como os sabões e <strong>de</strong>tergentes agem durante o<br />

processo <strong>de</strong> limpeza (formação <strong>de</strong> micelas).<br />

Você vai precisar <strong>de</strong>:<br />

Mãos à obra!<br />

• Água<br />

• Óleo<br />

• Sal <strong>de</strong> cozinha (NaCl)<br />

• Detergente líquido sintético (usado para lavar louça)<br />

• 2 Copos <strong>de</strong> vidro, incolores<br />

• 2 Colheres <strong>de</strong> chá<br />

O que fazer:<br />

Sistema água-sal<br />

1. Coloque água em um copo <strong>de</strong> vidro (aproximadamente três quartos <strong>de</strong> seu volume);<br />

2. Adicione uma colher <strong>de</strong> chá <strong>de</strong> sal <strong>de</strong> cozinha (NaCl);<br />

3. Observe e represente o aspecto do sistema no quadro abaixo;<br />

4. Misture o sistema lentamente com a colher durante alguns minutos;<br />

5. Observe e represente no quadro abaixo;<br />

Sistema água/sal<br />

antes da agitação<br />

Sistema água/sal<br />

<strong>de</strong>pois da agitação<br />

Para o professor: Representação provável do aluno<br />

6. Formule uma explicação para o que você observou.<br />

Professor A explicação formal para o fenômeno é que o NaCl é uma<br />

substância iônica. Na presença <strong>de</strong> água os íons Na + e Cl - que compõem o<br />

sal são solvatados pelas moléculas <strong>de</strong> água resultando na dissolução do<br />

mesmo. Como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sal adicionada é menor que a quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> saturação da solução, houve a completa dissolução do mesmo.<br />

Provavelmente não será esta a resposta dada pelos alunos. A intenção<br />

aqui é <strong>de</strong>scobrir o que os alunos pensam a respeito para, posteriormente,<br />

aproximar sua explicação dos conceitos formais.<br />

30


Sistema água-óleo<br />

1. Coloque água até a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> um copo <strong>de</strong> vidro;<br />

2. Adicione algumas gotas <strong>de</strong> óleo;<br />

3. Observe e represente o aspecto do sistema no quadro abaixo;<br />

4. Misture o sistema lentamente com a colher;<br />

5. Observe e represente no quadro abaixo;<br />

Sistema água/óleo<br />

antes da agitação<br />

Sistema água/óleo<br />

<strong>de</strong>pois da agitação<br />

Para o professor: Representação provável do aluno<br />

6. Formule uma explicação para o que você observou no item anterior.<br />

Professor O óleo <strong>de</strong> cozinha é uma substância formada por uma longa<br />

ca<strong>de</strong>ia carbônica. É apolar e, portanto não é solúvel em água, uma<br />

substância polar. Verifica-se que inicialmente haverá formação <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s gotas <strong>de</strong> óleo na superfície da água. Após a agitação as gotas<br />

serão quebradas em gotas menores, que, entretanto, ainda não serão<br />

solubilizadas. Depois <strong>de</strong> algum tempo as gotinhas <strong>de</strong> óleo se reagrupam.<br />

Comentário para o professor !<br />

É conveniente explicar aos alunos, neste momento que a gotinhas <strong>de</strong> óleo se<br />

reagrupam após a agitação para minimizar a superfície <strong>de</strong> interface água-óleo. Isso<br />

acontece porque as interações entre as moléculas <strong>de</strong> água são mais intensas do que<br />

aquelas entre as moléculas <strong>de</strong> água e as moléculas <strong>de</strong> óleo. Sendo assim, as<br />

gotículas <strong>de</strong> óleo não ficam dispersas na água.<br />

Sistema água-óleo-<strong>de</strong>tergente<br />

1. Represente, novamente, os aspectos da mistura água + óleo no quadro abaixo;<br />

2. Adicione uma colher <strong>de</strong> chá <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente ao sistema água/óleo e misture com a<br />

colher;<br />

3. Observe o sistema por alguns minutos e, em seguida, represente os aspectos da<br />

mistura no quadro abaixo.<br />

31


Sistema água/óleo<br />

Sistema<br />

água/óleo/<strong>de</strong>tergente<br />

Para o professor: Representação provável do aluno<br />

4. Explique a função do <strong>de</strong>tergente no sistema água/óleo/<strong>de</strong>tergente.<br />

Professor A função do <strong>de</strong>tergente é fazer com que o óleo se solubilize em<br />

água.<br />

5. Houve reação química?<br />

Professor O alunos po<strong>de</strong>riam pensar que a solubilização do óleo em água<br />

é <strong>de</strong>vido a uma reação química entre o óleo e o <strong>de</strong>tergente. Porém, neste<br />

caso, não há reação química, a solubilida<strong>de</strong> se dá em função das<br />

interações intermoleculares.<br />

Texto auxiliar: Os mistérios da solubilida<strong>de</strong>!<br />

Explicando o sistema água/sal<br />

Misturando sal <strong>de</strong> cozinha (Na + Cl - ) em água percebemos que ocorre a<br />

sua completa dissolução. O sal <strong>de</strong> cozinha é um composto iônico e as forças<br />

que mantêm seus íons unidos em um arranjo cristalino são forças eletrostáticas<br />

intensas, que atuam entre os íons positivos e os negativos na estrutura<br />

cristalina or<strong>de</strong>nada. Cada átomo <strong>de</strong> sódio (positivo) está ro<strong>de</strong>ado por íons cloro<br />

(negativos). Uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia é necessária para quebrar a<br />

estrutura organizada do cristal e levá-la para a estrutura <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada.<br />

Quando um sólido – como o NaCl - é dissolvido em água há <strong>de</strong>struição<br />

<strong>de</strong> sua estrutura cristalina organizada resultando em um arranjo mais<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado dos íons em solução. No processo <strong>de</strong> dissolução os íons<br />

precisam ainda ser separados uns dos outros e esta separação necessita <strong>de</strong><br />

energia para ocorrer (figura 9). A energia necessária para compensar as<br />

32


atrações interiônicas é proveniente da formação <strong>de</strong> novas forças atrativas entre<br />

o soluto (NaCl) e o solvente (H 2 O).<br />

Somente a água e outros poucos solventes muito polares são capazes<br />

<strong>de</strong> dissolver compostos iônicos. Estes solventes dissolvem os compostos<br />

iônicos por hidratação ou solvatação dos íons.<br />

Fonte: <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, disponível em: www.ufpe.br/projeto_biológico<br />

Figura 9: Representação do processo <strong>de</strong> dissolução <strong>de</strong> um cristal <strong>de</strong> NaCl em<br />

água.<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong> polarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> seu tamanho muito pequeno e<br />

do formato muito compacto, as moléculas <strong>de</strong> água po<strong>de</strong>m ro<strong>de</strong>ar<br />

eficientemente os íons individuais assim que eles são libertados da superfície<br />

do cristal. Os íons positivos são cercados por moléculas <strong>de</strong> água com<br />

extremida<strong>de</strong> negativa do dipolo apontada na sua direção; os íons negativos são<br />

solvatados <strong>de</strong> maneira exatamente oposta.<br />

Sistema água/óleo<br />

Tudo é questão <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong>s...<br />

Misturando o óleo à água, houve uma separação <strong>de</strong> fases. O óleo,<br />

menos <strong>de</strong>nso, logo ocupou sua posição na superfície da água na forma <strong>de</strong> uma<br />

gran<strong>de</strong> gota. Mesmo após a agitação, água e óleo não se misturaram sendo<br />

que, a única diferença observada em relação ao sistema antes da agitação é<br />

33


que a gran<strong>de</strong> gota <strong>de</strong> óleo se fragmentou em gotas menores e estas<br />

continuaram na superfície da água. Mas, afinal, por que eles não se misturam?<br />

As diferenças <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong> em água entre certos compostos estão<br />

relacionadas com uma proprieda<strong>de</strong> chamada <strong>de</strong> Polarida<strong>de</strong> e, ainda, com a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses compostos em formar ligações <strong>de</strong> hidrogênio com a água.<br />

A Solubilida<strong>de</strong> das substâncias se dá, em parte, em função da afinida<strong>de</strong><br />

eletrônica existente entre as espécies em um sistema, ou seja, entre o soluto e<br />

o solvente. Uma das leis clássicas da química diz que "o semelhante dissolve o<br />

semelhante", ou seja, substâncias polares dissolvem-se entre si, e substâncias<br />

apolares também se dissolvem entre si. Porém uma substância polar não se<br />

dissolve numa substância apolar.<br />

...e <strong>de</strong> Interações!!!<br />

A água e as Ligações <strong>de</strong> Hidrogênio<br />

As moléculas <strong>de</strong> água mantêm-se unidas por interações fortes,<br />

chamadas Ligações <strong>de</strong> Hidrogênio. Esta interação ocorre, geralmente, quando<br />

um átomo <strong>de</strong> hidrogênio está ligado, por ligação covalente, a um elemento<br />

bastante eletronegativo, normalmente a átomos <strong>de</strong> N, O e F. Assim o átomo <strong>de</strong><br />

hidrogênio fica com uma carga parcial positiva (δ+), e o outro átomo com uma<br />

carga parcial negativa (δ-). Esse átomo <strong>de</strong> hidrogênio parcialmente positivo<br />

po<strong>de</strong> interagir com um par <strong>de</strong> elétrons não compartilhado <strong>de</strong> um átomo bem<br />

eletronegativo <strong>de</strong> uma molécula vizinha. Como o átomo <strong>de</strong> hidrogênio é bem<br />

pequeno é possível que as moléculas fiquem muito próximas umas das outras,<br />

resultando, assim, em uma forte interação. No caso das moléculas <strong>de</strong> água o<br />

átomo muito eletronegativo é o oxigênio.<br />

34


Devido à existência <strong>de</strong> tais ligações nem todas as substâncias são<br />

solúveis em água. Para que haja dissolução necessita-se consi<strong>de</strong>rável energia<br />

para separar as moléculas <strong>de</strong> água umas das outras, dando lugar às partículas<br />

do soluto.<br />

Ativida<strong>de</strong>s : Para pensar!<br />

1 – Desenhe moléculas <strong>de</strong> água no estado líquido levando em consi<strong>de</strong>ração as<br />

ligações <strong>de</strong> hidrogênio.<br />

Professor Observe se nas representações os alunos têm clareza <strong>de</strong> que as<br />

ligações <strong>de</strong> hidrogênio, embora fortes, são mais fracas que as ligações<br />

covalentes entre os átomos. Oriente-os para que representem as ligações<br />

<strong>de</strong> hidrogênio, por exemplo, usando pontinhos e as ligações covalentes<br />

usando tracinhos. Dessa maneira, facilitará o entendimento <strong>de</strong> que estes<br />

dois tipos <strong>de</strong> ligação são diferentes.<br />

2 – Devido ao fato <strong>de</strong> as ligações <strong>de</strong> hidrogênio serem muito fortes, alguns químicos<br />

sugerem representar a água como (H 2 O)n. O que você acha?<br />

Professor Discuta essa questão com relação às mudanças <strong>de</strong> estado físico<br />

(fusão e ebulição) nas quais as ligações <strong>de</strong> hidrogênio se rompem mas as<br />

moléculas <strong>de</strong> água não per<strong>de</strong>m sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> química (H 2<br />

O), ficam<br />

intactas, mudando apenas <strong>de</strong> estado <strong>de</strong> agregação.<br />

O óleo e as interações <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals<br />

Em alguns casos, é fácil perceber o porquê da existência <strong>de</strong> forças <strong>de</strong><br />

atração entre as moléculas. Nas moléculas polares, como no caso da água, a<br />

extremida<strong>de</strong> positiva po<strong>de</strong> atrair a extremida<strong>de</strong> negativa da outra molécula.<br />

Entretanto, não é tão fácil perceber a razão da existência <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> atração<br />

entre moléculas <strong>de</strong> substâncias não polares. A existência <strong>de</strong>ssa forças foi<br />

sugerida pelo físico holandês van <strong>de</strong>r Waals, cujo nome foi dado às mesmas.<br />

As forças <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals 6 provêm do movimento dos elétrons nas<br />

moléculas e existem em toda matéria, entretanto, só se tornam aparentes<br />

6 Há uma pequena discussão a respeito das forças <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals no texto: As forças <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r<br />

Waals na página 52.<br />

35


quando são as únicas interações presentes, como no caso dos<br />

hidrocarbonetos.<br />

As moléculas <strong>de</strong> óleo são formadas por uma longa ca<strong>de</strong>ia apolar que<br />

não interage com a água, mas interagem bem entre si <strong>de</strong>vido às forças <strong>de</strong> van<br />

<strong>de</strong>r Waals. Para que as fortes interações que ligam as moléculas <strong>de</strong> água<br />

sejam quebradas seria necessário que houvesse fornecimento <strong>de</strong> energia<br />

suficiente para a quebra. No entanto, nesse caso a água interage tão<br />

fracamente com as moléculas do óleo que não há liberação <strong>de</strong> energia<br />

suficiente para romper as interações <strong>de</strong> hidrogênio que ligam suas moléculas e<br />

portanto não há solubilização do óleo.<br />

Sistema água/óleo/<strong>de</strong>tergente<br />

Embora o experimento tenha sido realizado com <strong>de</strong>tergente sintético, é<br />

preciso ter em mente que os sabões agem da mesma forma na presença <strong>de</strong><br />

óleos e gorduras, pois, os sabões nada mais são do que um tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente!<br />

Detergentes e Sabões: Os dois lados da molécula!<br />

Como vimos, as moléculas dos <strong>de</strong>tergentes sintéticos e a dos sabões<br />

possuem uma parte orgânica (ca<strong>de</strong>ia carbônica apolar) e um grupo com carga<br />

na extremida<strong>de</strong> da ca<strong>de</strong>ia (cabeça polar).<br />

Por um lado, a longa ca<strong>de</strong>ia carbônica, assim como as moléculas <strong>de</strong><br />

óleos e gorduras, ten<strong>de</strong> a se dissolver facilmente em materiais que são ou que<br />

se assemelham aos hidrocarbonetos, mas não em água.<br />

Já a outra extremida<strong>de</strong> da molécula é iônica. Como o cloreto <strong>de</strong> sódio e<br />

outros compostos iônicos, a extremida<strong>de</strong> iônica ten<strong>de</strong> a se dissolver em água,<br />

36


(ocorre a solvatação <strong>de</strong>ssa extremida<strong>de</strong> pelas moléculas <strong>de</strong> água) mas não em<br />

solventes orgânicos. Como resultado, temos uma molécula com “dupla<br />

personalida<strong>de</strong>”. Parte da molécula, a estrutura hidrofílica, é atraída em direção<br />

às moléculas <strong>de</strong> água, mas repelida por óleos e outras substâncias gordurosas.<br />

A outra parte da molécula, a estrutura hidrofóbica, <strong>de</strong>svia-se da água, mas<br />

mistura-se prontamente com os óleos e outras substâncias gordurosas que<br />

repelem a parte hidrofílica.<br />

Esta é a característica mais importante dos <strong>de</strong>tergentes e sabões e é o<br />

que faz com que estas substâncias sejam tão ativas na limpeza <strong>de</strong> sujeiras<br />

formadas por óleos e gorduras.<br />

Mas afinal que relação existe entre a estrutura das moléculas <strong>de</strong> sabões<br />

e <strong>de</strong>tergentes e o fato <strong>de</strong>les serem capazes <strong>de</strong> solubilizar óleos e gorduras?<br />

Bom, neste caso os <strong>de</strong>tergentes agem como Emulsificantes...<br />

Texto auxiliar: Detergentes como emulsificantes -<br />

Micelas<br />

Quando entram em contato com a água, as moléculas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente<br />

seguem para a única direção on<strong>de</strong> ambas as tendências (polar e apolar)<br />

po<strong>de</strong>m ser acomodadas: a superfície. Lá a extremida<strong>de</strong> hidrofílica da molécula<br />

torna-se confortavelmente “incrustada” entre as moléculas <strong>de</strong> água que<br />

compõem a superfície enquanto a ca<strong>de</strong>ia hidrofóbica fica na interface água-ar<br />

(figura 10).<br />

Figura 10: Representação das moléculas<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente na interface água-ar.<br />

Fonte: http://www.jimseven.com<br />

37


Como a superfície da água torna-se preenchida por moléculas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>tergente se aumentarmos a concentração do mesmo, suas moléculas<br />

adicionais logo se aglomeram fora da superfície. Elas começam “protegendo”<br />

suas ca<strong>de</strong>ias hidrofóbicas das moléculas <strong>de</strong> água formando estruturas<br />

<strong>de</strong>nominadas micelas.<br />

Micelas são glóbulos submicroscópicos ou esferas <strong>de</strong> uma substância distribuída<br />

através <strong>de</strong> outra, usualmente um líquido. (Definição segundo Carl H. Sny<strong>de</strong>r – 1995)<br />

Nas micelas, as caudas apolares das moléculas do <strong>de</strong>tergente<br />

associam-se uma com a outra no centro da estrutura formando o núcleo. Tal<br />

agregação resulta em um contato mínimo com moléculas <strong>de</strong> água, <strong>de</strong> modo<br />

que o centro <strong>de</strong> uma micela é um hidrocarboneto. As cabeças iônicas projetamse<br />

para a solução aquosa e são, portanto, solvatadas pelas moléculas <strong>de</strong> água<br />

(figura 11). Micelas pequenas, compactas, contêm cerca <strong>de</strong> 80 a 100<br />

moléculas do <strong>de</strong>tergente.<br />

Para solubilizar as moléculas <strong>de</strong> óleo durante o experimento houve o<br />

aprisionamento <strong>de</strong> gotículas <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong>ntro do interior hidrófobo das micelas.<br />

Figura 11: Representação <strong>de</strong> uma micela<br />

Fonte: http://www.puc.cl<br />

Os grupos hidrofílicos das moléculas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente voltados para a água<br />

possuem uma carga (que po<strong>de</strong> ser negativa ou positiva <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>tergente). Sendo assim, as micelas se repelem quando muito próximas<br />

<strong>de</strong>vido às cargas <strong>de</strong> mesmo sinal. Graças a esta repulsão, as micelas ficam<br />

38


dispersas, mantendo as gotículas <strong>de</strong> óleo separadas umas das outras (figura<br />

12).<br />

Fonte: NAEQ – Núcleo <strong>de</strong> Apoio ao Ensino <strong>de</strong> Química da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Caxias do Sul.<br />

Figura 12: Repulsão das cabeças polares das micelas <strong>de</strong>vido às cargas <strong>de</strong> mesmo<br />

sinal<br />

Como dito, <strong>de</strong>vido à formação <strong>de</strong> micelas o óleo passa a se “misturar”<br />

com água, formando uma emulsão.<br />

Emulsões são dispersões coloidais <strong>de</strong> um líquido em outro, geralmente<br />

estabilizadas por um terceiro componente (emulsificante) que se localiza na<br />

interface entre as fases líquidas. Entre os emulsificantes mais usados po<strong>de</strong>-se<br />

citar os sabões e <strong>de</strong>tergentes.<br />

As emulsões são um tipo <strong>de</strong> dispersão coloidal. Neste caso, apesar das<br />

micelas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergentes estarem bem dispersas na água elas não estão<br />

efetivamente dissolvidas. Elas estão presentes como um colói<strong>de</strong>.<br />

Texto auxiliar: Colói<strong>de</strong>s<br />

Colói<strong>de</strong>s são misturas heterogêneas <strong>de</strong> pelo menos duas fases<br />

diferentes, com a matéria <strong>de</strong> uma das fases na forma finamente dividida<br />

(sólido, líquido ou gás), <strong>de</strong>nominada fase dispersa, misturada com a fase<br />

contínua (sólido, líquido ou gás), <strong>de</strong>nominada meio <strong>de</strong> dispersão. Na figura 13<br />

há uma tabela na qual estão listados alguns exemplos <strong>de</strong> colói<strong>de</strong>s classificados<br />

<strong>de</strong> acordo com a fase dispersa e <strong>de</strong> dispersão:<br />

39


Fonte: Química Nova na Escola - O Mundo dos Colói<strong>de</strong>s n° 9, Maio 1999<br />

Figura 13: Classificação dos colói<strong>de</strong>s<br />

Sistemas coloidais estão presentes no nosso cotidiano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

primeiras horas do dia, por exemplo, na higiene pessoal — com sabonete,<br />

xampu, pasta <strong>de</strong> <strong>de</strong>nte e espuma ou creme <strong>de</strong> barbear. Entretanto, estes<br />

sistemas não são restritos apenas a sistemas formados por sabões e<br />

<strong>de</strong>tergentes. Existem vários outros exemplos <strong>de</strong> colói<strong>de</strong>s como po<strong>de</strong>mos<br />

verificar na figura 13.<br />

A ciência dos colói<strong>de</strong>s está relacionada com o estudo dos sistemas nos<br />

quais pelo menos um dos componentes da mistura apresenta uma dimensão<br />

no intervalo <strong>de</strong> 1 a 1000 nanômetros (1 nm = 10 -9 m).<br />

Uma dispersão coloidal difere <strong>de</strong> uma solução real justamente pelo<br />

tamanho das partículas dispersas. Existe, sem dúvida, uma divisão bem<br />

<strong>de</strong>finida entre o tamanho <strong>de</strong> uma partícula dispersa como um colói<strong>de</strong> e outra<br />

que está dissolvida em uma solução real. A maneira mais fácil <strong>de</strong> verificarmos<br />

as diferenças entre uma solução real e uma dispersão coloidal é fazer passar<br />

luz através <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las.<br />

O experimento a seguir ilustra bem o que queremos dizer...<br />

40


Ativida<strong>de</strong> prática 4: Efeito Tyndall<br />

Preten<strong>de</strong>-se que nesta ativida<strong>de</strong> os alunos possam <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s como:<br />

• Observar fenômenos criteriosamente;<br />

• Descrever os fenômenos observados;<br />

Comentário para o professor!<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> é diferenciar a soluções coloidais das soluções reais<br />

através da aplicação do efeito Tyndall.<br />

Você vai precisar <strong>de</strong>:<br />

Mãos à obra!<br />

• Laser vermelho (po<strong>de</strong>-se utilizar canetas laser como aquelas utilizadas em<br />

palestras);<br />

• Solução aquosa <strong>de</strong> sal <strong>de</strong> cozinha (2 colheres <strong>de</strong> chá <strong>de</strong> sal em um copo cheio <strong>de</strong><br />

água);<br />

• Mistura <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente líquido sintético e água (2 colheres <strong>de</strong> chá <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente em<br />

um copo cheio <strong>de</strong> água);<br />

• 2 copos <strong>de</strong> vidro incolores para preparar as misturas;<br />

O que fazer:<br />

1. Coloque a solução aquosa <strong>de</strong> sal <strong>de</strong> cozinha em um dos copos e rotule: ÁGUA +<br />

SAL;<br />

2. Incida a luz do laser na lateral do recipiente fazendo com que o feixe <strong>de</strong> luz<br />

atravesse a solução;<br />

3. Anote suas observações.<br />

4. Coloque a solução aquosa <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente no outro copo e rotule: ÁGUA +<br />

DETERGENTE;<br />

5. Repita os procedimentos 2 e 3 para a mistura <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente e água.<br />

6. A partir das observações anotadas, você acha que po<strong>de</strong>mos diferenciar os dois<br />

sistemas estudados através do comportamento da luz? Justifique;<br />

Comentário para o professor!<br />

O feixe atravessará a solução <strong>de</strong> sal <strong>de</strong> cozinha e nenhum efeito será observado.<br />

Entretanto, quando a luz atravessar a mistura <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente e água po<strong>de</strong>rá ser<br />

visualizado o caminho do feixe <strong>de</strong> luz claramente iluminado, especialmente se você<br />

observar a mistura contra um fundo escuro.<br />

41


Texto auxiliar: Explicando o Efeito Tyndall<br />

Uma das proprieda<strong>de</strong>s exibidas pelos colói<strong>de</strong>s e que não é observada<br />

nas soluções é o efeito Tyndall. Este efeito, causado <strong>de</strong>vido ao espalhamento<br />

da luz, em todas as direções, pelas partículas coloidais foi <strong>de</strong>scoberto por John<br />

Tyndall, um físico britânico.<br />

O efeito Tyndall não é limitado aos sistemas com <strong>de</strong>tergentes. É este<br />

fenômeno que está ocorrendo, por exemplo, quando percebemos um feixe <strong>de</strong><br />

luz que passa pela fresta da janela e atravessa uma sala empoeirada. Este<br />

efeito ocorre porque as partículas dos colói<strong>de</strong>s são gran<strong>de</strong>s o suficiente para<br />

refletirem os feixes <strong>de</strong> luz que acabam por atingir os nossos olhos. Isso nos<br />

possibilita ver o caminho percorrido pelo feixe <strong>de</strong> luz.<br />

Agora que já apren<strong>de</strong>mos que <strong>de</strong>tergentes são emulsificantes e que<br />

estabilizam dispersões coloidais <strong>de</strong> óleos e gorduras em água, vamos tratar <strong>de</strong><br />

outra proprieda<strong>de</strong> apresentada por eles. Detergentes e sabões também agem<br />

como surfactantes. Para enten<strong>de</strong>rmos melhor o que é um surfactante vamos<br />

trabalhar na ativida<strong>de</strong> a seguir:<br />

Ativida<strong>de</strong> prática 5: A função do surfactante 7<br />

Preten<strong>de</strong>-se que nesta ativida<strong>de</strong> os alunos possam <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s como:<br />

• Observar fenômenos criteriosamente;<br />

• Descrever os fenômenos observados;<br />

• Estabelecer relação <strong>de</strong> dados obtidos e generalizações possíveis sobre os<br />

conteúdos;<br />

7 Ativida<strong>de</strong> adaptada da monografia “A química põe a mesa – Reações <strong>de</strong> dar água na boca” – Flávia dos<br />

Santos Coelho.<br />

42


Você vai precisar <strong>de</strong>:<br />

Mãos à obra!<br />

• Água<br />

• Conta-gotas<br />

• Moeda<br />

• Detergente líquido sintético (usado para lavar louça)<br />

• Tolha <strong>de</strong> papel<br />

O que fazer:<br />

1. Lave bem a moeda e seque-a com a toalha <strong>de</strong> papel;<br />

2. Coloque gotas <strong>de</strong> água sobre a moeda sem que elas se <strong>de</strong>rramem. Anote quantas<br />

gotas foram adicionadas;<br />

3. Coloque uma gota <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente sobre a moeda seca e esfregue-a com os <strong>de</strong>dos<br />

<strong>de</strong> modo a espalhar bem. Retire o excesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente com um papel toalha seco;<br />

4. Coloque novamente gotas <strong>de</strong> água sobre a moeda e conte quantas gotas você<br />

consegue colocar <strong>de</strong>sta vez.<br />

Sugestões <strong>de</strong> questões para serem discutidas com os alunos:<br />

1. Qual foi a diferença encontrada ao se colocar as gotas <strong>de</strong> água na moeda seca e<br />

na moeda com <strong>de</strong>tergente?<br />

Professor: Ao se colocar as gotas <strong>de</strong> água na moeda seca, estas tinham<br />

um formato arredondado e não se <strong>de</strong>smanchavam. Ao se tentar colocar<br />

gotas <strong>de</strong> água na moeda com <strong>de</strong>tergente, por sua vez, estas não se<br />

formavam<br />

2. Descreva a diferença física entre as gotas <strong>de</strong> líquidos representadas abaixo:<br />

Fonte: Trabalhando a química dos Sabões e Detergentes – Odone Gino Zago Neto e José Del Pino<br />

Professor: Discutir com os alunos a respeito da tensão superficial dos<br />

líquidos . Ressaltar que líquidos com menor tensão superficial têm menor<br />

tendência a esparramar-se. Como a gota <strong>de</strong> água na moeda seca<br />

esparrama-se menos que a gota na moeda com <strong>de</strong>tergente diz-se que o<br />

<strong>de</strong>tergente diminuiu a tensão superficial da água.<br />

43


Texto auxiliar: Detergentes como surfactantes-<br />

Tensão superficial<br />

Ao colocar sobre a moeda uma gota <strong>de</strong> água notamos que ela possui<br />

um formato arredondado. O formato <strong>de</strong> uma gota <strong>de</strong> água é resultado da<br />

gran<strong>de</strong> atração entre moléculas <strong>de</strong> água que interagem fortemente umas com<br />

as outras por meio <strong>de</strong> interações do tipo ligações <strong>de</strong> hidrogênio.<br />

No interior <strong>de</strong> uma gota todas as moléculas <strong>de</strong> água exercem forças <strong>de</strong><br />

atração relativamente gran<strong>de</strong>s em todas as suas moléculas vizinhas. Através<br />

do volume do líquido a força total <strong>de</strong> atração exercida por cada uma das<br />

moléculas <strong>de</strong> água em suas vizinhas é dispersa esfericamente em todas as<br />

direções.<br />

Na superfície da gota, entretanto, as coisas são diferentes. Acima da<br />

superfície do líquido existem apenas ocasionalmente moléculas <strong>de</strong> gases da<br />

atmosfera e pouquíssimas moléculas <strong>de</strong> água que escaparam por evaporação.<br />

As únicas moléculas vizinhas estão abaixo e dos lados daquelas da superfície.<br />

Na superfície, então, as forças <strong>de</strong> atração se tornam focadas para os lados e<br />

para baixo. Esta atração particularmente forte das moléculas da superfície<br />

umas nas outras e nas moléculas imediatamente abaixo <strong>de</strong>las resulta em uma<br />

coesão da superfície. O resultado é que a água ten<strong>de</strong> a oferecer a menor<br />

superfície possível ao ar, <strong>de</strong> modo que o maior número <strong>de</strong> moléculas possível<br />

possam estar no interior. Chamamos esta proprieda<strong>de</strong> que os líquidos<br />

apresentam e que se relaciona intimamente com as forças <strong>de</strong> atração e<br />

repulsão entre as moléculas <strong>de</strong> Tensão Superficial.<br />

44


Na figura 14 po<strong>de</strong>mos observar a ilustração <strong>de</strong>ssas forças. As moléculas<br />

<strong>de</strong> água foram representadas através do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> esferas para facilitação do<br />

entendimento.<br />

Fonte:http://www.colaweb.com<br />

Figura 14: Forças <strong>de</strong> atração entre moléculas <strong>de</strong> água presentes em uma gota.<br />

Questão para discussão<br />

Você espera que a tensão superficial da água gelada seja maior ou menor que a<br />

tensão superficial da água quente? Explique sua resposta.<br />

Professor: A tensão superficial da água quente é menor que da água<br />

gelada. Explicar com bases na maior movimentação das moléculas<br />

quando a temperatura é alta, o que faz com que a força <strong>de</strong> atração<br />

entre as mesmas seja prejudicada.<br />

Como já discutimos (figura 10, p.36) quando colocamos o <strong>de</strong>tergente em<br />

água, algumas moléculas <strong>de</strong>sse tensoativo se organizam na superfície do<br />

líquido. Assim, a força <strong>de</strong> atração entre as moléculas <strong>de</strong> água na superfície do<br />

líquido torna-se enfraquecida porque a atração entre as moléculas <strong>de</strong> água é<br />

mais forte do que a atração entre as moléculas <strong>de</strong> água e as moléculas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>tergente. O resultado é a diminuição da tensão superficial da água que tornase,<br />

assim, um melhor agente “molhante”. As substâncias que diminuem a<br />

tensão superficial <strong>de</strong> líquidos são chamadas <strong>de</strong> tensoativos.<br />

A figura 15 ilustra a relação entre os termos sabão, <strong>de</strong>tergente e<br />

surfactantes:<br />

45


Surfactante<br />

Detergente<br />

Sabão<br />

Fonte: The Extraordinary Chemistry of Ordinary Things p.326<br />

Figura 15: Todos os sabões são <strong>de</strong>tergentes e todos os <strong>de</strong>tergentes são<br />

surfactantes<br />

Agora que já discutimos as proprieda<strong>de</strong>s dos sabões e <strong>de</strong>tergentes nós<br />

po<strong>de</strong>mos começar a enten<strong>de</strong>r como eles atuam...<br />

Texto auxiliar: Como os <strong>de</strong>tergentes limpam...<br />

Explicando o processo <strong>de</strong> limpeza<br />

Nosso senso comum nos diz que água molha tudo aquilo que entra em<br />

contato com ela, mas se nós pensarmos melhor, veremos que a água não é um<br />

“agente molhante” dos mais efetivos.<br />

Examinando, por exemplo, a superfície encerada <strong>de</strong> um carro bem<br />

polido após a chuva po<strong>de</strong>remos observar que a água forma pequenas gotas<br />

em vez <strong>de</strong> espalhar-se sobre a superfície. Olhe para suas roupas ou para o<br />

topo <strong>de</strong> uma sombrinha <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um leve chuvisco e você verá que a chuva<br />

forma pequenas gotas <strong>de</strong> água nos tecidos antes <strong>de</strong> penetrar neles. Isso<br />

ocorre <strong>de</strong>vido a apreciável tensão superficial da água da qual falamos.<br />

Nas lavagens em geral, entretanto, a água <strong>de</strong>ve molhar com mais<br />

eficácia os objetos que queremos limpar. E é aí que entram os <strong>de</strong>tergentes.<br />

46


Eles agem, primeiramente, diminuindo a tensão superficial da água tornando-a<br />

um melhor agente “molhante”.<br />

Em seguida, há formação das micelas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergentes, sobre as quais já<br />

conversamos anteriormente.<br />

Na figura 16 está representado o processo <strong>de</strong> aprisionamento da<br />

gordura <strong>de</strong>ntro das micelas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergentes. Em (a) está representada a sujeira<br />

gordurosa no fundo <strong>de</strong> um copo. Quando as moléculas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente alcançam<br />

a sujeira incrustada nos objetos (b) elas passam a formar a superfície entre a<br />

água e a gordura presente na maior parte das sujeiras. As cabeças hidrofílicas<br />

das moléculas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente permanecem solvatadas por moléculas <strong>de</strong> água e<br />

as ca<strong>de</strong>ias hidrofóbicas passam a se incrustar na gordura.<br />

(a) (b) (c) (d)<br />

Fonte: Trabalhando a química dos Sabões e Detergentes – Odone Gino Z. Neto e José Del Pino<br />

Figura 16: Mecanismo <strong>de</strong> limpeza dos <strong>de</strong>tergentes.<br />

As sujeiras gordurosas fornecem um ambiente químico tão compatível<br />

para as caudas hidrofóbicas quanto o que a água fornece para as cabeças<br />

hidrofílicas. Assim, com as caudas hidrofóbicas incrustadas na gordura e as<br />

cabeças hidrofílicas incrustadas na água, as moléculas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente<br />

efetivamente mantêm estas duas fases (água e gordura) juntas.<br />

Na figura 16 (c e d) está representada a quebra das moléculas <strong>de</strong><br />

gorduras <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> micelas. Tal quebra ocorre <strong>de</strong>vido à agitação. Essas<br />

47


micelas se mantêm afastadas umas das outras e dispersas na água <strong>de</strong>vido à<br />

repulsão causada pelas cargas <strong>de</strong> suas superfícies. Este afastamento impe<strong>de</strong><br />

que a gordura se re-<strong>de</strong>posite no material que está sendo lavado.<br />

A partir do momento que a gordura (ou óleo) passa a se “misturar” com a<br />

água tem-se uma emulsão, que é chamada <strong>de</strong> dispersão coloidal.<br />

Concluindo o processo <strong>de</strong> lavagem, a gordura presa no interior das<br />

micelas é arrastada, pela água, ralo abaixo!<br />

Em resumo<br />

Os <strong>de</strong>tergentes:<br />

1. Diminuem a tensão superficial da água tornando-a um melhor agente “molhante”;<br />

2. Agregam óleos e gorduras no interior <strong>de</strong> micelas que se tornam dispersas na água;<br />

3. Deixam as micelas em suspensão e, por meio disso, previnem que as gorduras se<br />

re<strong>de</strong>positem na superfície limpa.<br />

Cada uma <strong>de</strong>ssas funções tem suas bases na estrutura das moléculas dos<br />

<strong>de</strong>tergentes e sabões.<br />

48


Conclusão<br />

Apresentamos nesta monografia uma proposta <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> alguns<br />

conceitos químicos relevantes utilizando, para isso, um tema bastante presente<br />

no dia a dia dos alunos.<br />

Embora saibamos da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ensinar todos os conceitos<br />

teóricos acompanhados <strong>de</strong> sua aplicação imediata, pensamos que é muito<br />

importante, quando possível, mostrar aos alunos que a Química que apren<strong>de</strong>m<br />

na escola possui relação com muitos fenômenos que ocorrem diariamente em<br />

suas vidas.<br />

Procuramos enfatizar aqui as principais proprieda<strong>de</strong>s dos sabões e<br />

<strong>de</strong>tergentes através <strong>de</strong> experimentos relativamente simples e que possam ser<br />

realizados em sala <strong>de</strong> aula, mesmo não dispondo <strong>de</strong> laboratório. Conforme foi<br />

dito no início <strong>de</strong>ste trabalho não tivemos a intenção <strong>de</strong> abordar conceitos<br />

químicos em profundida<strong>de</strong>, até por nossa intenção e foco estarem orientados<br />

para o aluno do ensino médio regular. Assim, cabe ao professor buscar meios<br />

alternativos para complementar suas aulas e para tornar o ensino mais amplo,<br />

que vá além <strong>de</strong> nomes, fórmulas e <strong>de</strong>talhamento excessivo.<br />

Para saber mais sobre o assunto, sugerimos que o professor<br />

interessado leia os textos em anexo.<br />

49


Referências Bibliográficas<br />

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novembro <strong>de</strong> 1995, págs. 3-6.<br />

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• KINALSKI, A. C.; ZANON, L. B. O Leite como Tema Organizador <strong>de</strong><br />

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Escola, n o 6, novembro <strong>de</strong> 1997, págs. 15-19.<br />

• GOMES, A.; SANT´ANNA, A. P. P.; RAMUALDO, J. Interação da<br />

Química com o Meio Ambiente no Cotidiano, Proposta <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong><br />

Didática, outubro <strong>de</strong> 2005, págs. 4-10.<br />

• BORSATO, D.; MOREIRA, I.; GALÃO, O. F.; BUENO, E. A. S.;<br />

ALMEIDA, F. A. S.; MARTINS, A. A Química no ensino Médio tendo<br />

“Detergente” como tema motivador; Semina: Ciências Exatas e<br />

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71.<br />

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50


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Estudo sobre Ativida<strong>de</strong>s Experimentais no Ensino do Saber Científico.<br />

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http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2003/Hora%20da%20ciencia.pdf – Acesso: 15<br />

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Sintéticos – Um Guia Técnico, Editora da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Estadual <strong>de</strong><br />

Londrina: Eduel, 2 a edição revisada, 2004, págs. 3-88.<br />

• MARZANO, I. M. Monografia <strong>de</strong> Licenciatura – Dispersões Coloidais: um<br />

contexto para se discutir ligações intermoleculares, 2004.<br />

• COELHO, F. S. Monografia <strong>de</strong> Licenciatura - A Química Põe a Mesa:<br />

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• SELINGER, B. Chemistry in the Marketplace, Sidney: Harcourt Brace,<br />

5th Edition, 1998, págs. 43-66.<br />

• LIMA, M. E. C. C.; AGUIAR JUNIOR, O. G.; BRAGA, S. A. M. Apren<strong>de</strong>r<br />

Ciências: um mundo <strong>de</strong> materiais – Livro do Professor. Editora UFMG,<br />

1999.<br />

• SNYDER, C. H. The Extraordinary Chemistry Of Ordinary Things, 2nd<br />

Edition, New York : John Wiley & Sons, 1995.<br />

• SOLOMONS, G.; FRYHLE, C. Química Orgânica, 7ª Edição, Editora<br />

LTC, 2001, págs. 58-65.<br />

• Conteúdos Básicos Comuns – CBC 2007<br />

• CHEMELLO, E. Sabão – uma molécula com dupla personalida<strong>de</strong>. NAEQ<br />

– Núcleo <strong>de</strong> Apoio ao Ensino <strong>de</strong> Química da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Caxias do Sul.<br />

http://www.ucs.br/ccet/<strong>de</strong>fq/naeq/material_didatico/textos_interativos_27.htm<br />

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setembro 2007.<br />

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Acesso em 08 outubro 2007.<br />

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ttp://www.kinetico.co.uk/UK/Learn+About+Water/Water+Problems+and+Effec<br />

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51


Anexos - Apren<strong>de</strong>ndo um pouco mais<br />

1-Forças <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals<br />

As forças <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals são forças intermoleculares atrativas<br />

também chamadas <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> London ou forças <strong>de</strong> dispersão.<br />

Po<strong>de</strong>mos visualizar a origem <strong>de</strong>ssas forças do seguinte modo. A<br />

distribuição média <strong>de</strong> carga em uma molécula apolar em um dado espaço <strong>de</strong><br />

tempo é uniforme. Porém, a qualquer instante, já que os elétrons estão em<br />

movimento, os elétrons e portanto, a carga po<strong>de</strong>m não estar uniformemente<br />

distribuídos. Num dado momento, os elétrons po<strong>de</strong>m estar ligeiramente<br />

aglomerados em uma parte da molécula, promovendo, conseqüentemente, a<br />

formação <strong>de</strong> um pequeno dipolo temporário. Esse dipolo temporário em uma<br />

molécula po<strong>de</strong> induzir dipolos opostos em outras moléculas vizinhas. Isso<br />

acontece porque a carga negativa (ou positiva) em uma parte da molécula irá<br />

distorcer a nuvem eletrônica <strong>de</strong> uma porção adjacente <strong>de</strong> outra molécula,<br />

forçando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma carga oposta ali. Tais dipolos temporários<br />

alteram-se constantemente, mas o resultado final <strong>de</strong> sua existência é produzir<br />

forças atrativas entre moléculas apolares (figura 17).<br />

Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> separação <strong>de</strong><br />

cargas<br />

Dipolo<br />

flutuante<br />

Uma segunda<br />

molécula<br />

Separação <strong>de</strong> cargas induzida<br />

pela primeira molécula<br />

Interação <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r<br />

Waals<br />

Figura 17: Aparecimento das forças <strong>de</strong> van <strong>de</strong>r Waals<br />

52


2-BI<br />

BI-O-DE<br />

DE-GRA<br />

GRA-DA<br />

DA-BI<br />

BI-LI<br />

LI-DA<br />

DA-DE<br />

DE 8 !!!<br />

Os sabões e os <strong>de</strong>tergentes sintéticos praticamente não sofrem<br />

modificações químicas nos processos <strong>de</strong> lavagem com água, e encontram-se,<br />

portanto, presentes nas águas residuais <strong>de</strong> escoamento das operações <strong>de</strong><br />

lavagem, incorporando-se ao esgoto doméstico. A carga <strong>de</strong> poluição<br />

<strong>de</strong>corrente da presença <strong>de</strong>sses sabões e <strong>de</strong>tergentes sintéticos em esgotos<br />

domésticos é muito pequena se comparada à <strong>de</strong> outros poluentes usualmente<br />

presentes no esgoto. Apesar disso, ela po<strong>de</strong> contribuir <strong>de</strong> maneira bastante<br />

<strong>de</strong>sfavorável para a poluição das águas receptoras, e po<strong>de</strong> dificultar os<br />

procedimentos normais <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> esgotos residuais.<br />

Por natureza química, os sabões feitos <strong>de</strong> matérias graxas (óleos e<br />

gorduras) são totalmente bio<strong>de</strong>gradáveis 9 e não interferem na fauna e na flora<br />

aquática. Usualmente, ao entrar em contato com águas receptoras, eles<br />

reagem com os sais <strong>de</strong> cálcio e magnésio formando compostos insolúveis em<br />

água, rapidamente bio<strong>de</strong>gradados em sua parte orgânica e não possibilitando a<br />

formação <strong>de</strong> espumas em cursos d’água. Assim, o uso <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> limpeza,<br />

nos quais os sabões feitos <strong>de</strong> gorduras animais e óleos vegetais constituem a<br />

parte ativa, não traz qualquer inconveniente sob o aspecto ecológico.<br />

Os primeiros <strong>de</strong>tergentes sintéticos produzidos, por sua vez,<br />

apresentavam problemas com relação à <strong>de</strong>gradação pelo meio ambiente,<br />

tornando-se altamente poluidores, pois permaneciam nas águas <strong>de</strong> rios e lagos<br />

por um período muito gran<strong>de</strong>. Neste caso, <strong>de</strong>vido à permanente agitação das<br />

8 Texto <strong>de</strong> Dionísio Borsato, Ivanira Moreira e Olívio Fernan<strong>de</strong>s Galão – Detergentes naturais e sintéticos,<br />

um guia técnico – 2004 p.84<br />

9 Substância que po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>compor orgânica ou quimicamente – <strong>de</strong>finição segundo Silveira Bueno.<br />

53


águas, causavam a formação <strong>de</strong> muita espuma, cobrindo a superfície <strong>de</strong> rios,<br />

estações <strong>de</strong> tratamento e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esgoto.<br />

Nesse período, a base para a fabricação dos <strong>de</strong>tergentes era o<br />

propeno 10 . A utilização <strong>de</strong>ste composto na fabricação <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergentes originava<br />

tensoativos com ca<strong>de</strong>ias ramificadas (figura 18) e, portanto, <strong>de</strong> difícil<br />

<strong>de</strong>gradação pelas bactérias. Assim sendo, os problemas causados por estes<br />

<strong>de</strong>tergentes sintéticos estavam relacionados às estruturas <strong>de</strong> suas moléculas.<br />

Ramificações!<br />

Fonte: Trabalhando a química dos Sabões e Detergentes – Odone Gino Z. Neto e José Del Pino<br />

Figura 18: Estrutura do alquilbenzenosulfonato <strong>de</strong> sódio ramificado<br />

Compostos com o alquil benzeno sulfonato <strong>de</strong> sódio, apresentado na<br />

figura 18, foram proibidos em todos os países industrializados a partir <strong>de</strong> 1965.<br />

Observe a existência <strong>de</strong> metilas (-CH 3 ) que partem da ca<strong>de</strong>ia principal e<br />

formam as ramificações. É justamente a existência <strong>de</strong>stas que dificulta a<br />

<strong>de</strong>gradação da molécula. Devido a esse fato, esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente foi, com o<br />

passar do tempo, sendo substituído por outros que possuíam maior<br />

<strong>de</strong>gradabilida<strong>de</strong> (ca<strong>de</strong>ia carbônica linear). No Brasil, produtos como o<br />

representado na figura 18 continuaram à venda por tempo maior que nos<br />

países industrializados. A legislação brasileira envolvendo controle <strong>de</strong> poluição<br />

causada por <strong>de</strong>tergentes nos cursos <strong>de</strong> água só foi promulgada no dia 15 <strong>de</strong><br />

10 Gás incolor <strong>de</strong> fórmula CH 3-CH=CH 2 obtido, principalmente, do “cracking” da nafta (produto da<br />

<strong>de</strong>stilação do petróleo).<br />

54


Janeiro <strong>de</strong> 1976, onze anos após a proibição da utilização <strong>de</strong>stes produtos na<br />

Europa e nos Estados Unidos.<br />

Um outro inconveniente apresentado pelos <strong>de</strong>tergentes sintéticos,<br />

especialmente os <strong>de</strong>tergentes em pó (usados para lavar roupas) é a presença<br />

<strong>de</strong> fosfatos inorgânicos.<br />

Fosfatos inorgânicos são adicionados aos <strong>de</strong>tergentes em pó, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> complexar os íons metálicos responsáveis pela dureza das águas<br />

(Ca 2+<br />

e Mg 2+ ) e tornar o meio alcalino, melhorando a ação <strong>de</strong> limpeza.<br />

Detergentes comerciais típicos da década <strong>de</strong> 50, por exemplo, continham cerca<br />

<strong>de</strong> 40% <strong>de</strong> tripolifosfato <strong>de</strong> sódio ou uma mistura <strong>de</strong>ste com pirofosfato <strong>de</strong><br />

sódio. Com o passar do tempo, a utilização crescente <strong>de</strong>sses produtos <strong>de</strong><br />

limpeza levou ao surgimento <strong>de</strong> problemas ambientais <strong>de</strong> poluição <strong>de</strong> águas.<br />

Os fosfatos não atuam como materiais tóxicos no meio ambiente, mas sim<br />

como nutrientes. Em águas naturais estagnadas, o resultado é o crescimento<br />

excessivo <strong>de</strong> algas, que po<strong>de</strong> provocar o fenômeno da eutrofização 11 . Na figura<br />

19 estão representados alguns fosfatos encontrados em <strong>de</strong>tergentes em pó:<br />

Figura 19: Estrutura química <strong>de</strong> dois fosfatos encontrados em <strong>de</strong>tergentes em pó<br />

11 Eutrofização: aumento da fertilida<strong>de</strong> das águas <strong>de</strong>vido aos fosfatos, o que favorece o crescimento<br />

excessivo <strong>de</strong> algas em águas receptoras <strong>de</strong> efluentes, provocando a redução acentuada do oxigênio<br />

dissolvido nas águas.<br />

55


3-Explicando as dispersões!<br />

Dispersões são sistemas nos quais uma substância está disseminada,<br />

sob a forma <strong>de</strong> pequenas partículas, em uma segunda substância.<br />

Basicamente, existem três tipos <strong>de</strong> dispersões:<br />

Soluções: não se po<strong>de</strong> observar as partículas que compõem o sistema, nem<br />

utilizando um supermicroscópio. Uma solução é sempre um sistema homogêneo, tanto<br />

macroscopicamente quanto microscopicamente.<br />

Colói<strong>de</strong>s: é possível observar as partículas do material disperso somente<br />

utilizando um microscópio, ou seja, é um sistema homogêneo macroscopicamente<br />

mas, heterogêneo microscopicamente.<br />

Suspensões: é possível observar macroscopicamente as partículas dos<br />

materiais misturados.<br />

Na tabela 1 está representada a classificação das dispersões, feita <strong>de</strong><br />

acordo com o diâmetro médio das partículas dispersas:<br />

Tabela 1: tipos <strong>de</strong> dispersões e tamanho médio das partículas dispersas<br />

Nome da Dispersão Diâmetro médio das<br />

partículas dispersas<br />

Exemplos<br />

Soluções verda<strong>de</strong>iras Entre 0 e 1 nm* Sal na água<br />

Soluções coloidais Entre 1 e 1000 nm Detergente na água<br />

suspensões Acima <strong>de</strong>1000 nm Terra suspensa em água<br />

*nm: nanometro<br />

Esquematicamente, temos:<br />

Figura 20: Classificação das dispersões quanto ao tamanho médio das<br />

partículas dispersas.<br />

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