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história, vento que tanto desarruma quanto une. Vento que renova, que apaga os erros passados e derruba o autoritarismo do presente, para que os netos possam estender a mão aos avós”. Proteção | Moolaadé, por exemplo: a história de Collé Ardo, que decide dar proteção em casa a quatro meninas que fogem de uma cerimônia de excisão, trata também desta questão muitas vezes discutida pelo cinema africano: o conflito entre a tradição e a modernidade. Como Sembène observou certa vez, na África basta chegar com o cinema a qualquer lugar distante de uma cidade grande para reacender o conflito. “Tradicionalmente aprendemos a ver o mundo pelo direto encontro de uma pessoa com outra pessoa, e no cinema o encontro indireto parece direto, as coisas estão ali sem estar ali. Por isso o que importar é filmar a tradição, para aprender a fazer cinema com ela e para que os que vivem na cultura tradicional possam aprender com o cinema”. O conflito está presente em todo o cinema africano, mas em Moolaadé de um modo especial: em lugar da oposição entre o moderno e o tradicional, temos um conflito no interior da tradição, uma crise que obriga a tradição a tirar de dentro de si mesma a solução renovadora: a personagem que se opõe à tradição da excisão se vale da tradição de conceder proteção em sua casa. Diante deste impasse, o embate se dá entre os líderes e sábios da aldeia, perdidos entre o combate aos hábitos modernos (ouvir as músicas que vinham da Europa em rádios de pilha: seria esta a causa da rebeldia das meninas e da insubordinação de Collé Ardo?) e a crítica da tradição: a cultura tradicional estava certa ao exigir obediência ao ritual de purificação ou a garantir o direito de proteção? Que exigência obedecer? a que exige que a mulher mostre respeito ao marido ou a que exige obediência e respeito ao direito de proteção? Vejamos estes três filmes, ou mais precisamente: estas rápidas notas sobre estes filmes – Finye, Abouna e Moolaadé – como uma porta de entrada para o cinema de poesia que a África produz desde a década de 1960. Cinema de poesia no sen-
tido apontado certa vez por Pasolini (a narrativa que revela a presença da câmera) e especialmente no sentido apontado por Sembène: “No cinema a prosa precisa da poesia. Nós queremos, como nossos poetas e nossos escritores, mostrar nas histórias que contamos, a história – isto é: a prosa – e o ponto de vista de onde elas são contadas, isto é: a poesia, o patrimônio cultural africano”. África: Cinema de Poesia reúne filmes do Senegal, Mali, Burkina Faso, África do Sul, Guiné Bissau, Argélia, Madagascar, Chad, Camarões, Marrocos e Mauritânia. E assim como o cinema que se produz em toda África conta com o apoio da França como coprodutora, esta mostra só pode ser realizada graças à parceria da Cinemateca da Embaixada da França | Cultures France | Embaixada da França.. Proteção | Moolaadé de Ousmane Sembène
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