02.09.2014 Views

Anais do XIII Encontro Nacional da ANPPOM Música no Século XXI ...

Anais do XIII Encontro Nacional da ANPPOM Música no Século XXI ...

Anais do XIII Encontro Nacional da ANPPOM Música no Século XXI ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

X I I I <strong>Encontro</strong> <strong>da</strong> Associação <strong>Nacional</strong> de Pesquisa e Pós-Graduação em <strong>Música</strong><br />

Argumento<br />

É de <strong>no</strong>vo em Schaeffer que encontrei o arquetipo <strong>do</strong> semantema a<br />

que chamo argumento. O contor<strong>no</strong> de suas alturas, que pode coincidir com<br />

sua inflexão, por assim dizer, é o fator mais importante para sua identificação.<br />

Chamo de argumento o semantema que, acusticamente, se caracteriza como<br />

breve seqüência de sons, de alturas diferentes e próximas, que evolui com<br />

direcionali<strong>da</strong>de ou trajetória descendente. Ele tem o perfil melódico<br />

melismático, com a inflexão própria de quem pretende impor, provar ou<br />

demonstrar uma idéia ou uma tese. Seu gesto musical é aquele <strong>da</strong> intenção de<br />

um convencimento. Em termos de significação, enfim, ele é um argumento<br />

com o qual o discurso musical procura se impor. Lá está ele na obra<br />

STRETTE (1950) de Pierre Schaeffer <strong>no</strong> segmento entre os momentos 1' 50,5"<br />

e 1' 52". Tal como <strong>no</strong> semantema clamor, também ele está emoldura<strong>do</strong> de<br />

silêncios. Schaeffer o destaca, <strong>no</strong> discurso, fazen<strong>do</strong> com que a seqüência com<br />

mais de cinco alturas seja precedi<strong>da</strong> e segui<strong>da</strong> de breve silêncio. Tecnicamente<br />

falan<strong>do</strong>, qualquer ouvi<strong>do</strong> especializa<strong>do</strong> e conhece<strong>do</strong>r <strong>do</strong> vocabulário <strong>da</strong> música<br />

concreta <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 50 percebe sua origem: o Pho<strong>no</strong>gène. Schaeffer utiliza o<br />

semantema sobre pa<strong>no</strong> de fun<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong> de pe<strong>da</strong>l repetitivo (sillon fermé),<br />

periódico e maquinal. Em longo trecho <strong>da</strong> obra realizam-se, sobre o pe<strong>da</strong>l,<br />

esporádicas e segui<strong>da</strong>s intervenções de objetos varia<strong>do</strong>s breves, variantes <strong>do</strong><br />

semantema original. O discurso musical, assim, passa a ser insistente,<br />

pertinaz, teimoso, contundente: o mesmo argumento é repeti<strong>do</strong> várias vezes,<br />

reitera<strong>do</strong> com veemência crescente.<br />

A seguir relacio<strong>no</strong> alguns semantemas <strong>do</strong> tipo argumento,<br />

encontra<strong>do</strong>s em outras obras eletroacústicas:<br />

Orígenes (1995), de Gonzalo Biffarella.<br />

Localização: Segmento entre os momentos 0' 39" e 0' 48". Duração: 9 seg.<br />

Comentário: O semantema argumento constitui-se de célula com mais de dez alturas<br />

determina<strong>da</strong>s, de emissão veloz, com direcionali<strong>da</strong>de descendente na região média.<br />

A escuta analítica e não reduzi<strong>da</strong> o identifica como oriun<strong>do</strong> de material so<strong>no</strong>ro<br />

produzi<strong>do</strong> com um violão. Precedi<strong>do</strong> e segui<strong>do</strong> de breves silêncios, o semantema<br />

ganha destaque com características de auto-descontextualizacão.<br />

Fabula 3ª parte (1990), de François Bayle.<br />

Localização: Segmento entre os momentos 0' 33" e 0' 36". Duração: 3 seg.<br />

Comentário: O semantema argumento constitui-se de célula com mais de cinco<br />

alturas varia<strong>da</strong>s, de emissão veloz, com direcionali<strong>da</strong>de descendente na região média.<br />

A distância intervalar entre o primeiro e o último elemento é a de uma <strong>no</strong>na me<strong>no</strong>r<br />

descendente, o que dá ao semantema um perfil com aspecto conclusivo <strong>do</strong> tipo<br />

sensível-tônica. Tal como <strong>no</strong> exemplo de clamor usa<strong>do</strong> por Re<strong>do</strong>lfi na obra Envol,<br />

Bayle passa a usar o argumento como célula modelo <strong>do</strong> tipo antecedente,que será<br />

segui<strong>do</strong> de conseqüentes: o mesmo objeto é repeti<strong>do</strong> e exposto várias vezes, com<br />

sucessivas transformações e mutações. O argumento passa a ser, assim, redun<strong>da</strong>nte,<br />

Comunicações 258

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!