RL #34 [quadrimestral. Março 2012] - Universidade de Coimbra

FERNANDO CALHAU
ISABEL NOGUEIRA*
Fernando Calhau (1948-2002) inte-
-gra uma geração de artistas portugueses
que viveu uma consciência
dos pressupostos da designada
neovanguarda internacional, também
conhecida por vanguarda tardia,
que surge como resultado de
um processo de esgotamento ou
de desintegração das vanguardas
históricas de início do século XX,
que acabaram com o conceito de
obra de arte orgânica, isto é, como
unidade, como tradicional relação
entre a parte e o todo.
Os anos 60 e 70 do último século
refletem uma impressionante rutura
com a própria possibilidade de
existência da obra de arte. Num
primeiro momento, a arte assumiu
a sua propriedade objetual, ou seja,
a substituição da representação do
objeto pela apresentação da própria
realidade objetual – pensemos
no nouveau réalisme e na Pop art –,
seguindo-se da supressão do objeto.
Por outras palavras, da arte
enquanto ideia, particularmente
espelhada no movimento conceptual.
O termo “arte conceptual”
foi primeiramente empregue, em
1967, pelo artista minimalista Sol
LeWitt. A arte conceptual como
movimento – distinta do conceptualismo
enquanto adjetivo qualificativo
de diversas manifestações
artísticas que incorporam vídeo,
performance, instalação, etc., – toma
corpo – passe-se a ironia – entre
meados dos anos sessenta e inícios
da década seguinte, e merece
destaque neste contexto, uma vez
que refletiu especificamente sobre
a ideia e a natureza da arte, congregando
em si a arte, a teoria e a
crítica, sob diversas formas e manifestações,
resultantes do culminar
da estética processual, na procura
do autoconhecimento, conferindo
primado ao processo mental.
O trabalho de Calhau insere-se não
propriamente numa arte concetual
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RL #34 | OFICINA DOS SABERES ATUAL