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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA<br />

ENTIDADE MANTENEDORA:<br />

INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA<br />

Diretoria:<br />

Sra. Ana Maria Moraes Gomes................................. Presidente<br />

Sra. Edna Virgínia C. Monteiro de Melo.................. Vice-Presidente<br />

Sr. Edson Aparecido Moreti..................................... Secretário<br />

Sr. José Severino...................................................... Tesoureiro<br />

Dr. Osni Ferreira (Rev.)............................................. Chanceler<br />

Dr. Eleazar Ferreira................................................... Reitor<br />

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TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


ISSN 0104-8112<br />

TERRA E CULTURA<br />

Ano XXIV – nº 47 – Agosto a Dezembro de 2008<br />

CONSELHO EDITORIAL<br />

PRESIDENTE<br />

Leandro Henrique Magalhães<br />

CONSELHEIROS<br />

Conselho Editorial Interno<br />

Profª. Dra. Damares Tomasin Biazin<br />

Profª. Dra. Denise Hernandes Tinoco<br />

Profª. Ms. Elen Gongora Moreira<br />

Prof. Dr. João Antonio Cyrino Zequi<br />

Prof. Dr. João Juliani<br />

Prof. Ms. José Antônio Baltazar<br />

Prof. Ms. José Martins Trigueiro Neto<br />

Profª. Dra. Lenita Brunetto Bruniera<br />

Prof. Ms. Marcos Roberto Garcia<br />

Profª. Ms. Maria Eduvirges Marandola<br />

Profª. Ms. Marta Regina F. de Oliveira<br />

Profª. Dra. Miriam Ribeiro Alves<br />

Profª. Ms. Patrícia Martins C. Branco<br />

Prof. Ms. Pedro Lanaro<br />

Prof. Ms. Rovilson José <strong>da</strong> Silva<br />

Prof. Dr. Sérgio Akio Tanaka<br />

Profª. Ms. Silvia do Carmo Pattarelli<br />

Profª. Ms. Karina de Toledo Araújo<br />

Conselho Editorial Externo<br />

Prof. Ms. A<strong>da</strong>lberto Bran<strong>da</strong>lize<br />

Prof. Dr.Ab<strong>da</strong>lah Achour Junior<br />

Profª. Ms. Angela Maria de Sousa Lima<br />

Profª. Dra. Dirce S. Fujisawa<br />

Profª. Dra. Gislayne F. L. Trin<strong>da</strong>de Vilas Boas<br />

Prof. Ms. Ivan Dutra<br />

Prof. Dr. Jefferson Rosa Cardoso<br />

Prof. Dr. José Eduardo Garcia<br />

Prof. Dr. José Miguel Arias Neto<br />

Prof. Dr. Laurival Antonio Vilas Boas<br />

Profª. Dra. Lúcia Helena Tiosso Moretti<br />

Prof. Dr. Luis Filipe Silverio Lima<br />

Profª. Ms. Mara Lúcia Garanhani<br />

Profª. Ms. Marcia Josefina Beffa<br />

Profª. Ms Márcia Regina Garanhani<br />

Profª. Ms. Maria Elisa Pacheco<br />

Profª. Ms. Marisa Batista Brighenti<br />

Profª. Dra. Nair Simone de Toledo Costa<br />

Profª. Ms. Patrícia Queiroz<br />

Profª. Dra. Selma Frossard Costa<br />

Profª. Ms. Silvia Helena Carvalho<br />

REVISORES<br />

Thiago Tomasin Biazin<br />

Profª. Ms. Esmera Fatel Aureliano Rossi<br />

SECRETARIA<br />

Elaine Dias Giroldo e Juliana Prado Lopes<br />

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO<br />

Wagner Werner<br />

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R349<br />

Revista Terra e Cultura: cadernos de ensino e pesquisa, v.1, n.1, jan./<br />

jun., 1985- . – Londrina: <strong>UniFil</strong>, 1985.<br />

Semestral<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>UniFil</strong> – Centro Universitário Filadélfia.<br />

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ISSN 0104-8112<br />

1. Educação superior – periódicos. I. <strong>UniFil</strong> – Centro Universitário<br />

Filadélfia<br />

CDD 378.05<br />

Bibliotecária responsável Thais Fauro Scalco CRB 9/1165<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA<br />

REITOR:<br />

Dr. Eleazar Ferreira<br />

Assessor do Reitor e Coordenador de Projetos Especiais:<br />

Prof. MSc. Reynaldo Camargo Neves<br />

Assessora do Reitor e Coord. <strong>da</strong> Secret. Geral dos Órgãos Colegiados Superiores:<br />

Profª. Ilvili Andrea Werner<br />

Pró-Reitora de Ensino de Graduação:<br />

Profª. Dra. Georfravia Montoza Alvarenga<br />

Coordenador de Controle Acadêmico:<br />

Paulo Silva<br />

Coordenadora de Ação Acadêmica:<br />

Laura Maria dos Santos Maurano<br />

Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional:<br />

Prof. Ms. Jose Gonçalves Vicente<br />

Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão:<br />

Profª. Dra. Damares Tomasin Biazin<br />

Coordenador de Publicações Científicas e Coord. Geral Acadêmico do NU-<br />

CLEAD:<br />

Prof. Dr. Leandro Henrique Magalhães<br />

Coordenador Geral do NUCLEAD:<br />

Joseval Lana Braga<br />

COORDENADORES DE CURSOS DE GRADUAÇÃO:<br />

Administração<br />

Prof. Ms.Luís Marcelo Martins<br />

Arquitetura e Urbanismo<br />

Prof. Ms. Ivan Prado Júnior<br />

Biomedicina<br />

Profª. Ms. Karina de Almei<strong>da</strong> Gualtieri<br />

Ciências Biológicas<br />

Prof. Dr. João Antônio Cyrino Zequi<br />

Ciências Contábeis<br />

Prof. Ms. Eduardo Nascimento <strong>da</strong> Costa<br />

Ciências <strong>da</strong> Computação<br />

Prof. Ms. Sérgio Akio Tanaka<br />

Direito<br />

Prof. Ms. Henrique Pipolo<br />

Educação Física<br />

Prof. Ms. Marco Antônio C. Ferreira<br />

Enfermagem<br />

Profª. Ms. Rosângela Galindo de Campos<br />

Farmácia<br />

Profª. Dra. Lenita Brunetto Bruniera<br />

Fisioterapia<br />

Profª. Dra. Suhaila Mahmoud Smaili Santos<br />

Nutrição<br />

Profª. Ms. Ivoneti Barros Nunes de Oliveira<br />

Pe<strong>da</strong>gogia<br />

Profª. Ms. Marta Regina Furlan de Oliveira<br />

Psicologia<br />

Profª. Dra. Denise Hernandes Tinoco<br />

Sistema de Informação<br />

Prof. Ms. Sérgio Akio Tanaka<br />

Teologia<br />

Prof. Ms. José Martins Trigueiro Neto<br />

Engenharia Civil<br />

Prof. Ms. Paulo Adeíldo Lopes<br />

Medicina Veterinária<br />

Profª. Ms. Maíra Salomão Fortes<br />

Agronomia<br />

Profª. Dra. Luciana Grange<br />

Estética e Cosmética<br />

Profª. Esp. Mylena C. Dornellas <strong>da</strong> Costa<br />

Gastronomia<br />

Profª. Esp. Mariana Ferreira Martelli<br />

Gestão Ambiental<br />

Prof. Dr. Tiago Pellini<br />

Rua Alagoas, nº 2.050 - CEP 86.020-430<br />

Fone: (0xx43) 3375-7400 - Londrina - Paraná<br />

www.unifil.br<br />

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E D I T O R I A L<br />

É com satisfação que trazemos a público a edição de número 47 <strong>da</strong> Revista Terra e<br />

Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa. Esta publicação visa, especialmente, a divulgação<br />

de trabalhos acadêmicos de quali<strong>da</strong>de, além de proporcionar o diálogo entre alunos,<br />

professores e pesquisadores de diversas instituições, locali<strong>da</strong>des e áreas do conhecimento.<br />

Vincula-se ao trabalho desenvolvido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação –<br />

PROPG, que busca a disseminação do conhecimento por meio de publicações (além <strong>da</strong><br />

terra e cultura, publicamos atualmente a Revista Jurídica, a Revista Eletrônica de Educação,<br />

a Revista Eletrônica de Ciências Empresarias, e anais de diversos eventos realizados na<br />

instituição) e de eventos, como o Simpósio de Iniciação Científica, a Mostra de Trabalhos<br />

<strong>da</strong> Pós-Graduação e o Encontro de Extensão.<br />

Nesta edição temos, vinculado ao NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS<br />

E SAÚDE, três artigos <strong>da</strong> área de saúde: o primeiro preocupa-se com o profissional de<br />

enfermagem e seu vínculo com o conselho que o representa, o COREN; o segundo abor<strong>da</strong><br />

um tema importante para todos, independente de i<strong>da</strong>de ou posição social: o problema<br />

<strong>da</strong> pressão arterial e a forma como o estilo de vi<strong>da</strong> pode ser um elemento importante no<br />

seu controle; já o terceiro trata <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> formação humana para o trabalho de<br />

enfermagem, a partir de um estudo de caso em um pronto-socorro. Na área de Ciências<br />

Biológicas temos um trabalho que se vincula às temáticas <strong>da</strong> saúde, tendo em vista o estudo<br />

do chá verde e suas implicações na prevenção do câncer. Há outro ain<strong>da</strong> que abor<strong>da</strong><br />

a visão ambiental a partir <strong>da</strong> carragena.<br />

No NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS E NÚCLEO DE<br />

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS encontramos uma diversi<strong>da</strong>de de temas que<br />

envolvem as ciências humanas de uma forma ampla, como um estudo de Paul Sartre e<br />

Lévi-Strauss, além de outro estudo <strong>da</strong> psicologia histórico cultural para o profissional <strong>da</strong><br />

psicologia que atua nas escolas. A questão <strong>da</strong> criança e do adolescente é abor<strong>da</strong><strong>da</strong> em dois<br />

artigos: um trata <strong>da</strong> caracterização do perfil dos adolescentes de Londrina e região; o outro<br />

visa o entendimento do crime de infanticídio. E, por fim, temos um trabalho que abor<strong>da</strong><br />

a compra por impulso.<br />

Boa Leitura<br />

Prof. Dr. Leandro Henrique Magalhães<br />

Presidente do Conselho Editorial<br />

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SUMÁRIO<br />

NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE<br />

COREN NO FUTURO SOBRE A ÓTICA DOS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM......... 13<br />

COREN IN THE FUTURE ON THE OPTICS OF THE NURSING STUDENTS<br />

Anderson Funai, Daniele Sorge de Angeli, Luciana Sayuri Nishikawa, Ricardo Martins, Vanessa Moraes<br />

Liberatti<br />

ESTILO DE VIDA NO CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL...................................... 28<br />

LIFESTYLE TO CONTROL BLOOD PRESSURE<br />

Thatiane Christina Imagawa, Caroline Blattner Martha, Heliane Moura Ferreira<br />

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM HUMANIZADA NO PRONTO SOCORRO DE UM<br />

HOSPITAL DE MÉDIO PORTE DO NORTE DO PARANÁ............................................. 37<br />

HUMANIZED ATTENDANCE OF NURSING IN EMERGENCY HOSPITAL’S OF MEDIATOR<br />

POSTAGE IN THE NORTH OF PARANÁ<br />

Alexandre Alvarenga Ribeiro, Sandra Regina Cervejeira, Eliene Simões Cezar<br />

ATIVIDADES BIOLÓGICAS DO CHÁ-VERDE E SUAS IMPLICAÇÕES NA PREVEN-<br />

ÇÃO DO CÂNCER.............................................................................................................................. 49<br />

GREEN TEA BIOLOGICAL ACTIVITIES AND YOUR IMPLICATIONS IN CANCER PREVENTION<br />

Priscila Lumi Ishii, Rodrigo Juliano Oliveira, Mariana de Oliveira Mauro<br />

CARRAGENA: UMA VISÃO AMBIENTAL....................................................................... 58<br />

CARRAGEENAN: AN ENVIRONMENTAL VISION<br />

Fernando Pereira dos Santos, Carlos Eduardo Rocha Garcia, Lenita Brunetto Bruniera<br />

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS E NÚCLEO DE<br />

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS<br />

EXISTENCIALISMO, MARXISMO E ANTROPOLOGIA: CONSIDERAÇÕES SOBRE<br />

O DEBATE ENTRE JEAN-PAUL SARTRE E CLAUDE LÉVI-STRAUSS..................... 69<br />

EXISTENCIALISM, MARXISM AND ANTROPOLOGY: CONSIDERATIONS ABOUT THE DISCU-<br />

SION BETWEEN JEAN-PAUL SARTRE AND CLAUDE LÉVI-STRAUSS<br />

Marcelo C. de Cernev Rosa<br />

CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DOS ADOLESCENTES DE LONDRINA E<br />

REGIÃO .................................................................................................................................. 81<br />

THE ADOLESCENT’S CHARACTERISTIC IN LONDRINA OND REGION<br />

Anthonia Campos, Angélica Kuroki, Simone Olioni, Juliana. Sanches<br />

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL PARA A ATUAÇÃO<br />

CRÍTICA DA PSICOLOGIA ESCOLAR ........................................................................... 88<br />

CONTRIBUTIONS OF HISTORIC-CULTURAL PSYCHOLOGY FOR THE CRITICAL PERFOR-<br />

MANCE OF SCHOOL PSYCHOLOGY<br />

Patrícia Vaz de Lessa, Maril<strong>da</strong> Gonçalves Dias Facci<br />

O CRIME DE INFANTICÍDIO E A PERÍCIA MÉDICO-LEGAL.................................... 99<br />

THE INFANTICIDE CRIME AND THE FORENSIC EXPERTISE<br />

Tereza Rodrigues Vieira, Mayara Alyne Magro<br />

ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E ECONÔMICOS QUE ENVOLVEM A COM-<br />

PRA POR IMPULSO .......................................................................................................... 108<br />

ECONOMICAL AND BEHAVIORAL ASPECTS WHICH INVOLVE IMPULSIVE PURCHASE<br />

Elen Gongora Moreira, Maria Eduvirge Marandola, Suzana Rezende Lemanski<br />

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE<br />

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Anderson Funai, Daniele Sorge de Angeli, Luciana Sayuri Nishikawa, Ricardo Martins,Vanessa Moraes Liberatti<br />

COREN NO FUTURO SOBRE A ÓTICA DOS<br />

ESTUDANTES DE ENFERMAGEM<br />

COREN IN THE FUTURE ON THE OPTICS OF THE NURSING STUDENTS<br />

Anderson Funai<br />

Daniele Sorge de Angeli<br />

Luciana Sayuri Nishikawa<br />

Ricardo Martins<br />

Vanessa Moraes Liberatti*<br />

RESUMO:<br />

O trabalho consiste numa análise de <strong>da</strong>dos coletados entre estu<strong>da</strong>ntes de enfermagem do 1º ao 4º<br />

ano a respeito dos órgãos que fiscalizam e orientam a profissão. O objetivo é investigar o conhecimento<br />

dos mesmos sobre: COREn, COFEn e ABEN. Foram aplicados questionários com questões<br />

abertas e fecha<strong>da</strong>s, respondidos por 40 alunos de duas universi<strong>da</strong>des de Enfermagem de Londrina.<br />

Os <strong>da</strong>dos foram computados e analisados. Os resultados foram demonstrados em forma de gráficos<br />

e discutidos. Eles mostram que 10% dos alunos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de A não conhecem o COREn.<br />

Quando questionados sobre a sua função 15% dos acadêmicos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de A acreditam que<br />

ele é um promotor de eventos e 10% que ele seja o sindicato dos profissionais. Quanto a conhecer<br />

a ABEn, 30% dos alunos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de A relatam não conhecê-la e 10% dos mesmos julgam<br />

que a sua função seja fiscalizatória, enquanto que 100% dos alunos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de B julgam<br />

que seja promotor de eventos. A respeito <strong>da</strong> finali<strong>da</strong>de do COREn, enquanto profissional, 40%<br />

dos alunos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de A acreditam que este seja um órgão promotor de melhorias, 55% dos<br />

mesmos acreditam que ele seja defensor <strong>da</strong> classe e, 5% que eles sejam promotores de eventos.<br />

Na Universi<strong>da</strong>de B, 60% julgam que eles sejam defensores <strong>da</strong> classe e 40% que seja um órgão<br />

que propõe melhorias. A respeito <strong>da</strong> inclusão do tema COREn na graduação, 5% dos alunos <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de A julgam desnecessário essa inclusão, e na Universi<strong>da</strong>de B 17% dos alunos julgam<br />

desnecessário. Sobre a criação de um sindicato específico para a categoria, 100% dos alunos são<br />

a favor. Com este trabalho, percebe-se que há falhas na formação de nível universitário, principalmente<br />

em relação ao COFEn, COREn e ABEn. É preciso formar profissionais capazes de agirem<br />

de acordo com a reali<strong>da</strong>de do mercado de trabalho e transformá-la, que sejam críticos e participativos<br />

e que lutem pelos seus direitos.<br />

13<br />

PALAVRAS-CHAVE: Conselhos de Classes; Enfermagem; Graduação.<br />

ABSTRACT:<br />

The work consists of an analysis of <strong>da</strong>ta collected between students of nursing of 1º to 4º year<br />

regarding the agencies that fiscalize and guide the profession. The objective is to investigate the<br />

knowledge of the same ones on: COREn, COFEn and ABEN. Questionnaires with open and<br />

closed questions had been applied, answered for 40 pupils of two universities of Nursing of Native<br />

of London. The <strong>da</strong>ta had been computed and analyzed. The results had been demonstrated in<br />

form of argued graphs and. They show that 10% of the pupils of the University do not know the<br />

COREn. When questioned on its function 15% of the academics of the University they believe It<br />

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* Professora Mestre. Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>.<br />

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COREn no Futuro sobre a ótica dos Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />

that it is a promoter of events and 10% that it is the union of the professionals. How much to know<br />

ABEn, 30% of the pupils of the University they tell It not to know it and 10% of the same ones,<br />

judge that its fiscalizatória function either whereas 100% of the pupils of University B they judge<br />

that he is promotional of events. Regarding the purpose of professional COREn while, 40% of<br />

the pupils of the University they believe It that this either a promotional agency of improvements,<br />

55% of the same ones, believes that it is defender of classroom and 5% that they are promotional<br />

of events. In University B 60% they judge that they are defenders of classroom and 40% that is an<br />

agency that considers improvements. Regarding the inclusion of the COREn subject in the graduation,<br />

5% of the pupils of the University judge It unnecessary this inclusion, and in University B<br />

17% of the pupils it judges unnecessary. On the creation of an union I specify for the category,<br />

100% of the pupils are the favor. With this work, one perceives that it has imperfections in the<br />

formation of university level, mainly in relation to the COFEn, COREn and ABEn. She is necessary<br />

to form professional capable to act in accor<strong>da</strong>nce with the reality of the work market and to<br />

transform it, that they are critical and participative and that they fight for its rights.<br />

KEY WORDS: Advice of Classrooms; Nursing; Graduation.<br />

14<br />

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1. INTRODUÇÃO<br />

Nas profissões, de modo geral, há sempre algum órgão, conselho ou instituição que deve<br />

permear, fiscalizar e defender os profissionais. No País, as enti<strong>da</strong>des fiscalizadoras <strong>da</strong>s diversas<br />

profissões regulamenta<strong>da</strong>s exercem funções delega<strong>da</strong>s do Estado, instituí<strong>da</strong>s que foram sob a<br />

forma de autarquia. As autarquias profissionais têm caráter corporativo, constituem-se em associações<br />

de pessoas e não de bens. (DI PIETRO, 2006).<br />

Na enfermagem isso não é diferente. Há muitos anos, foi cria<strong>da</strong> a primeira associação<br />

que atuaria em prol <strong>da</strong> enfermagem. E, desde então, as associações caminham em constante progresso<br />

para melhorar ca<strong>da</strong> vez mais as leis e fazer com que elas sejam cumpri<strong>da</strong>s. A Associação<br />

Brasileira de Enfermagem (ABEn), fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1926, é responsável pela evolução continua<strong>da</strong> e<br />

de cunho científico <strong>da</strong> enfermagem como um todo. É ela quem tem papel consultivo e opinativo<br />

no desenvolvimento dos currículos para os cursos de enfermagem, que promove diversos cursos<br />

e congressos para atualizar os profissionais, que participa de fóruns para lutar pelos direitos<br />

<strong>da</strong>s classes, entre outras funções. Em 1973, foi fun<strong>da</strong>do o Conselho Federal de Enfermagem<br />

(COFEn). Este é o órgão mais importante, sob a ótica institucional nacional de enfermagem, cuja<br />

função baseia-se na competência fiscalizatória outorga<strong>da</strong> constitucionalmente, destina<strong>da</strong> a todos<br />

os seus exercentes. No mesmo ano, foram criados os Conselhos Regionais de Enfermagem. E os<br />

mesmos têm ativi<strong>da</strong>de fiscalizatória e deve ser entendi<strong>da</strong> como um processo dinâmico permeado<br />

por ações de planejamento, execução e avaliação. Para descentralizar o poder e fazer com que a<br />

quali<strong>da</strong>de dos resultados fosse melhora<strong>da</strong>, sendo eles distribuídos em ca<strong>da</strong> estado brasileiro, tendo<br />

o mesmo objetivo: fiscalizar e disciplinar os profissionais de enfermagem, além de fazer com<br />

que as leis que regem a profissão e o código de ética sejam respeita<strong>da</strong>s e cumpri<strong>da</strong>s. De acordo<br />

com GASPARINI, 2000, os conselhos de enfermagem são classificados como órgãos colegiados,<br />

que decidem e agem pela maioria de seus membros.<br />

Os conselhos de classe exercem importância na carreira dos profissionais, desta forma, é<br />

de extrema utili<strong>da</strong>de que os estu<strong>da</strong>ntes de enfermagem tenham devido conhecimento a respeito<br />

desses assuntos, pois só dessa maneira poderão desenvolver a sua prática pelo que é proposto pelo<br />

Conselho de classe, e saber também sobre os seus direitos e exigir melhorias para a classe.<br />

Com este trabalho, nosso objetivo é mostrar, sob a ótica funcional, a visão e o conhecimento que<br />

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Anderson Funai, Daniele Sorge de Angeli, Luciana Sayuri Nishikawa, Ricardo Martins,Vanessa Moraes Liberatti<br />

os estu<strong>da</strong>ntes de graduação em enfermagem tem a respeito do COFEn, COREn e ABEn.<br />

2. METODOLOGIA<br />

Para a realização deste trabalho, houve a escolha do tema de curiosi<strong>da</strong>de e interesse de<br />

algumas alunas do 3º ano de enfermagem, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Filadélfia de Londrina, que foi especificamente<br />

para falar sobre o COFEn, COREn e ABEn, com ênfase no COREn. Este trabalho<br />

foi desenvolvido através de ent<strong>revista</strong>s com uma fiscal do COREn de Londrina e com um conselheiro<br />

do Coren do Paraná (para isso foi utilizado um formulário elaborado pelas autoras),<br />

através de pesquisas em livros e bancos de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> internet http://www.abennacional.org.br/<br />

marcos.html; http://www.portalcofen.gov.br/2007/section.asp?SectionID=1&ParentID=4; http://<br />

www.corenpr.org.br, http://www.corenpr.org.br; http://corensp.org.br/072005/.; http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/57cbe/resumos/1997.htm;<br />

http://www.portalcofen.com.br/docs/tb.dr.<br />

PP.pdf;www.corengo.org.br/img/informativoCORENGO.pdf; www.direitodoestado.com/<strong>revista</strong>/<br />

REDE6ABRIL2006MARIA%20SYLVIA.pdf), e através de um questionário (apêndice A), que<br />

também foi elaborado pelas autoras, contendo 5 perguntas fecha<strong>da</strong>s e 2 abertas. No primeiro contato<br />

com os sujeitos <strong>da</strong> pesquisa, foram apresentados os objetivos do trabalho e solicitado a sua<br />

participação. Após a concordância, foi solicita<strong>da</strong> a assinatura no termo de consentimento livre e<br />

esclarecido (apêndice B), que foi aplicado em alunos de enfermagem, do 1º ao 4º ano, de duas<br />

universi<strong>da</strong>des de Londrina. Os resultados foram computados e tabelados. Esse trabalho foi realizado<br />

utilizando as normas <strong>da</strong> Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A equipe de<br />

pesquisadoras foi composta por três alunas de enfermagem cursando o 3º ano, com a orientação<br />

e revisão de dois docentes <strong>da</strong> Instituição. Os <strong>da</strong>dos coletados, em maio de 2007, foram analisados<br />

utilizando-se estatística descritiva e serviram de base para que fosse realizado o trabalho,<br />

mostrando qual é a visão dos estu<strong>da</strong>ntes de enfermagem em relação aos Conselhos e Associações<br />

<strong>da</strong> Classe.<br />

15<br />

3. RETROSPECTIVA HISTÓRICA DAS ENTIDADES DE CLASSE NA ENFERMAGEM<br />

Ao sair <strong>da</strong> graduação, os estu<strong>da</strong>ntes, na maioria <strong>da</strong>s vezes deparam com situações desconheci<strong>da</strong>s,<br />

como: lei do exercício profissional, código de ética, registro no sistema COREN/<br />

COFEN, associações, entre outros, não sabendo suas funções e atuações.<br />

Todos os recém-formados que atuarão na profissão de enfermagem devem ter o registro no CO-<br />

REN. Existem associações volta<strong>da</strong>s para a parte de formação e aprimoramento técnico e científico,<br />

como por exemplo, o caso <strong>da</strong> ABEn.<br />

Nosso objetivo com este trabalho é mostrar, sob a ótica funcional, a visão e o conhecimento<br />

que os estu<strong>da</strong>ntes de graduação em enfermagem tem a respeito do COFEn, COREn e ABEn.<br />

3.1 ABEn:<br />

Segundo a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn, 2007), foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1926,<br />

seguindo um caráter cultural, científico e político, composto por enfermeiros, técnicos e auxiliares<br />

de enfermagem e estu<strong>da</strong>ntes de curso de graduação e educação profissional para técnicos<br />

e auxiliares. A ABEn, que é reconheci<strong>da</strong> como de Utili<strong>da</strong>de Pública, conforme Decreto Federal<br />

N.º31.417/52, publicado no Diário Oficial <strong>da</strong> União de onze de setembro de 1952, é dirigi<strong>da</strong> por<br />

uma Diretoria Nacional, com estatuto e regimento próprio, que se localiza no Distrito Federal,<br />

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COREn no Futuro sobre a ótica dos Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />

tendo filiais em ca<strong>da</strong> estado nacional. Ela está filia<strong>da</strong> à FEDERACIÓN PANAMERICANA DE<br />

PROFESIONALES DE ENFERMERÍA (FEPPEN), desde 1970, representando seus associados.<br />

Seus princípios são a defesa e a consoli<strong>da</strong>ção do trabalho <strong>da</strong> enfermagem como prática social, essencial<br />

à assistência de saúde e a organização dos mesmos, com finali<strong>da</strong>de de defender melhorias<br />

na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população e acesso universal aos serviços de saúde.<br />

É responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ABEn participar de fóruns e movimentos nacionais, representando<br />

os trabalhadores de enfermagem que lutam pelos direitos <strong>da</strong> população de ter acesso à saúde.<br />

Em relação à área científica, a ABEn está comprometi<strong>da</strong> em formular diretrizes curriculares de<br />

ensino, acompanhar e divulgar o reconhecimento dos cursos de enfermagem, formular padrões<br />

de quali<strong>da</strong>de, desenvolver cursos de especialização, organizar fóruns onde serão discutidos temas,<br />

formular currículos para melhorar o padrão de educação e promover o desenvolvimento técnico,<br />

científico e profissional. Outra finali<strong>da</strong>de é promover a união entre a classe.<br />

Em 1953, o Brasil sediou o X Congresso Quadrienal do Conselho Internacional de Enfermeiras<br />

(ICN), onde foi aprovado o Código Internacional de Ética de Enfermagem, que reconhece<br />

e legaliza a profissão.<br />

Finali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ABEn :<br />

• congregar os enfermeiros e técnicos em Enfermagem, incentivar o espírito<br />

de união e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre as classes;<br />

• promover o desenvolvimento técnico, científico e profissional dos<br />

integrantes de Enfermagem do País;<br />

• promover integração às demais enti<strong>da</strong>des representativas <strong>da</strong> Enfermagem,<br />

na defesa dos interesses <strong>da</strong> profissão.<br />

16<br />

3.2 COFEN – COREN:<br />

Os Conselhos Federal e Regional de Enfermagem (COFEn, 2007; COREn, 2007), que<br />

são enti<strong>da</strong>des públicas de direito privado, foram criados em 12 de Julho de 1973, através <strong>da</strong><br />

lei 5.905, vinculado ao Poder Executivo, com objetivo de fiscalizar e disciplinar o exercício <strong>da</strong><br />

profissão de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, zelar pela quali<strong>da</strong>de desses profissionais<br />

e fazer com que o Código de Ética dos profissionais e a Lei do Exercício Profissional<br />

sejam respeita<strong>da</strong>s e cumpri<strong>da</strong>s. Há 27 CORENs, sendo um em ca<strong>da</strong> estado nacional, que são dirigidos<br />

pelo COFEN, que está localizado no Rio de Janeiro. Este sistema está filiado ao Conselho<br />

Internacional de Enfermeiros, em Genebra. De acordo com a resolução do COFEn, há alguns<br />

itens importantes a respeito do funcionamento deste Conselho, tais como:<br />

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• o Conselho Federal estabelece na sua lei de regência que terá nove<br />

membros efetivos e igual número de suplentes, de nacionali<strong>da</strong>de brasileira,<br />

e portadores de diploma de curso de enfermagem de nível superior<br />

(art. 5º);<br />

• os membros do COFEN serão eleitos em Assembléia Geral de Delegados<br />

Regionais, em escrutínio secreto, por maioria de votos (art. 6º);<br />

• a sua Diretoria, será eleita dentre seus membros, em sua primeira reunião,<br />

constituí<strong>da</strong> de Presidente, Vice-Presidente, Primeiro e Segundo<br />

Secretário e Primeiro e Segundo Tesoureiros (art. 7º);<br />

• o man<strong>da</strong>to dos membros do Conselho Federal e Regionais serão honoríficos,<br />

com duração de 3 (três) anos, admiti<strong>da</strong> uma reeleição (arts. 9º e 14);<br />

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Anderson Funai, Daniele Sorge de Angeli, Luciana Sayuri Nishikawa, Ricardo Martins,Vanessa Moraes Liberatti<br />

• os profissionais <strong>da</strong> enfermagem eleitos pelos seus pares, para representá-los<br />

nos Conselhos, recebem a designação de Conselheiros Federais<br />

e Regionais, conforme estejam desempenhando suas ativi<strong>da</strong>des<br />

no COFEN ou nos COREN’s respectivamente; O Conselheiro, durante<br />

o exercício de seu man<strong>da</strong>to, que é de 3 (três) anos, não recebe qualquer<br />

remuneração pelos serviços prestados à socie<strong>da</strong>de e, de certa forma, também<br />

às categorias profissionais vincula<strong>da</strong>s aos Conselhos.<br />

A Resolução COFEN Nº 275/2003 (COFEn, 2007) normatiza que os CORENs devem<br />

estabelecer critérios de orientação e aconselhamento para o exercício <strong>da</strong> enfermagem, baixar<br />

normas visando o exercício profissional, bem como a ativi<strong>da</strong>de na área <strong>da</strong> Enfermagem, <strong>da</strong>s<br />

Empresas, consultórios de enfermagem, observando as peculiari<strong>da</strong>des atinentes à Enfermagem<br />

e a conjuntura de saúde do país. Cabe ain<strong>da</strong>, na área disciplinar corretiva, instaurar processo<br />

ético/administrativo nas infrações cometi<strong>da</strong>s pelos profissionais inscritos e, no caso de empresa,<br />

processo administrativo, bem como proceder aos respectivos julgamentos e aplicação <strong>da</strong>s penali<strong>da</strong>des<br />

cabíveis, encaminhar às Instituições competentes os casos de alça<strong>da</strong> destas, relativos às infrações<br />

contra a legislação em vigor, bem como aqueles referentes ao exercício <strong>da</strong> Enfermagem e<br />

interpor junto ao Poder Judiciário as ações competentes, buscando preservar os postulados éticos/<br />

legais <strong>da</strong> Enfermagem.<br />

Os órgãos reguladores, independente de qualquer profissão, são vistos como agentes<br />

punidores, gerando medo e insegurança àqueles que serão inspecionados e avaliados, tendo percepção<br />

confirma<strong>da</strong> junto aos profissionais convocados para prestar esclarecimentos ao COREN-<br />

SP Subseção Marília, pois em suas falas, há desconfiança e receio de serem enquadrados.<br />

De acordo com as atribuições do COFEN e dos CORENS na Lei 5.905/73 e no Regimento<br />

Interno COFEN, Resolução nº 242, de 31 de agosto de 2000, cabe ao Conselho Federal de<br />

Enfermagem (COFEN):<br />

• normatizar e expedir instruções, para uniformi<strong>da</strong>de de procedimento e<br />

bom funcionamento dos Conselhos Regionais;<br />

• esclarecer dúvi<strong>da</strong>s apresenta<strong>da</strong>s pelos COREN’s; apreciar decisões dos<br />

COREN’s, homologando, suprindo ou anulando atos praticados por este;<br />

• aprovar contas e propostas orçamentária de autarquia, remetendo-as<br />

aos órgãos competentes;<br />

• promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento profissional e;<br />

• exercer as demais atribuições que lhe forem conferi<strong>da</strong>s por lei. E é<br />

competência do Conselho Regional de Enfermagem (COREN):<br />

• deliberar sobre inscrições no Conselho e seu cancelamento;<br />

• disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observando as diretrizes<br />

gerais do COFEN;<br />

• executar as instruções e resoluções do COFEN;<br />

• expedir carteira e cédula de identi<strong>da</strong>de profissional, indispensável ao<br />

exercício <strong>da</strong> profissão, a qual tem vali<strong>da</strong>de em todo território nacional;<br />

• fiscalizar e decidir os assuntos referentes à Ética Profissional impondo<br />

as penali<strong>da</strong>des cabíveis;<br />

• elaborar a proposta orçamentária anual e o projeto de seu regimento<br />

interno, submetendo-os a aprovação do COFEN;<br />

• zelar pelo conceito <strong>da</strong> profissão e dos que a exercem;<br />

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COREn no Futuro sobre a ótica dos Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />

• propor ao COFEN medi<strong>da</strong>s visando a melhoria do Exercício Profissional;<br />

• eleger sua diretoria e seus delegados eleitores a nível central e regional e;<br />

• exercer as demais atribuições que lhe forem conferi<strong>da</strong>s pela Lei 5.905/73<br />

e pelo COFEN.<br />

O sistema é constituído de três áreas: de disciplina normativa (estabelece critérios de<br />

orientação e aconselhamento para exercício <strong>da</strong> profissão), de disciplina corretiva (abre processos<br />

em casos de infração ao Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem) e fiscalizatória (atua<br />

prevenindo a ocorrência de infrações à legislação <strong>da</strong> profissão).<br />

De acordo com Bais (2007), atual presidente do COFEN, o COREN-COFEN apresenta<br />

as seguintes metas, que são dividi<strong>da</strong>s em três ordens:Institucional, profissional e comunitária.<br />

• Institucional: dividi<strong>da</strong> em dois tipos: interna (reestruturação administrativa)<br />

e externa (processo eleitoral de forma democrática e transferência<br />

<strong>da</strong> sede para Brasília).<br />

• Profissional: se divide em: legislação profissional, prática profissional<br />

e bem estar profissional.<br />

Legislação profissional:<br />

18<br />

• formação profissional;<br />

• processo educativo contínuo;<br />

• legislação profissional;<br />

• ética e direitos humanos;<br />

• garantia legal;<br />

• acreditação e,<br />

• proficiência profissional (quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência X competência;<br />

demonstração pública do conhecimento que deve ser renova<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> 5<br />

anos, através <strong>da</strong> participação de um evento científico, curso ou trabalho<br />

científico e caso não tenha feito nenhum dos mesmos, deve ser feito uma<br />

prova a ca<strong>da</strong> 5 anos).<br />

Prática profissional:<br />

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• classificação Internacional <strong>da</strong>s Práticas de Enfermagem (CIPE); fazer<br />

parcerias com as secretarias municipais e fazer com que os serviços de<br />

enfermagem utilizem a Sistematização <strong>da</strong> Assistência de Enfermagem (SAE);<br />

• prática avança<strong>da</strong> de enfermagem e espírito empreendedor (autonomia<br />

profissional);<br />

• programa AIDS/ HIV (pretende demonstrar o papel do enfermeiro<br />

perante a Organização Mundial <strong>da</strong> Saúde (OMS), através de serviços<br />

voluntários de estu<strong>da</strong>ntes e profissionais de enfermagem e;<br />

• atenção básica a saúde.<br />

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Anderson Funai, Daniele Sorge de Angeli, Luciana Sayuri Nishikawa, Ricardo Martins,Vanessa Moraes Liberatti<br />

Bem estar profissional:<br />

• segurança no trabalho (dimensionamento do pessoal de enfermagem de<br />

acordo com as necessi<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> instituição);<br />

• remuneração (propor uma base salarial garanti<strong>da</strong> por lei para instituições<br />

priva<strong>da</strong>s);<br />

• carreira profissional (cursos de atualização estarão disponíveis no site);<br />

• Comunitário: participa dos conselhos municipais, estaduais e nacionais<br />

<strong>da</strong> saúde para reivindicar direitos, melhorar a quali<strong>da</strong>de na saúde, pedir<br />

para regulamentar que enfermeiros prescrevam medicamentos que estão<br />

protocolados pelo ministério <strong>da</strong> saúde (MS);<br />

• participação políticas;<br />

• públicas de saúde (onde aju<strong>da</strong> <strong>da</strong>ndo sugestões) e,<br />

• exercício profissional (o profissional se inserir na comuni<strong>da</strong>de para<br />

melhorar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência).<br />

3.3. Sindicato dos Enfermeiros<br />

A principal finali<strong>da</strong>de de um sindicato é defender os interesses dos profissionais enfermeiros,<br />

tendo como principal objetivo buscar o progresso <strong>da</strong> categoria representa<strong>da</strong>.<br />

Ao Sindicato compete (Sindicato dos Enfermeiros,2007):<br />

• defender, por todos os meios ao seu alcance, os interesses profissionais dos<br />

seus associados;<br />

• promover isola<strong>da</strong>mente ou em estreita cooperação com os sindicatos<br />

afins, a autonomia <strong>da</strong> enfermagem;<br />

• desenvolver ações de formação profissional, social e cultural dos<br />

associados;<br />

• participar na elaboração de to<strong>da</strong> a legislação que, direta ou indiretamente,<br />

se relacione com a enfermagem;<br />

• <strong>da</strong>r parecer sobre assuntos <strong>da</strong> sua especiali<strong>da</strong>de;<br />

• fiscalizar e reclamar o cumprimento <strong>da</strong>s disposições legais aplicáveis à<br />

enfermagem;<br />

• atuar prontamente na revogação de disposições legais lesivas dos legítimos<br />

interesses dos enfermeiros;<br />

• intervir nos processos disciplinares instaurados aos associados pelas<br />

enti<strong>da</strong>des patronais ou estatais e pronunciar-se sobre todos os casos;<br />

• prestar assistência jurídica aos seus associados nos conflitos emergentes<br />

<strong>da</strong>s relações de trabalho;<br />

• para o exercício <strong>da</strong>s suas competências, o Sindicato deve: a) Assegurar<br />

aos seus associados à informação de tudo quanto diga respeito aos seus<br />

interesses; b) Assegurar uma gestão correta dos seus fundos; c) Adequar<br />

à estrutura.<br />

Dentro dos princípios de atuação e comprometimento com os associados e com a população,<br />

o sindicato aponta para um novo período, empunhando a bandeira de melhores condições<br />

de trabalho para a categoria, o que acaba refletindo diretamente na quali<strong>da</strong>de de atendimento dos<br />

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COREn no Futuro sobre a ótica dos Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />

pacientes e, sem dúvi<strong>da</strong>, colaborando assim para a construção de uma socie<strong>da</strong>de ver<strong>da</strong>deiramente<br />

justa e igualitária.<br />

A principal e a mais importante delas é o fortalecimento <strong>da</strong> organização <strong>da</strong> categoria dos<br />

(as) enfermeiros (as) na defesa dos direitos e conquistas. (SERGS,2007)<br />

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

Gráfico 01: a distribuição do conhecimento dos estu<strong>da</strong>ntes sobre o COREn na ci<strong>da</strong>de de<br />

Londrina<br />

Você conhece o COREN?<br />

%<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

1º ano Unversi<strong>da</strong>de B<br />

1º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

0 20 40 60 80 100<br />

20<br />

SIM<br />

NÃO<br />

alunos<br />

De acordo com o demonstrado, podemos perceber que a grande maioria dos estu<strong>da</strong>ntes<br />

conhecem o COREn, e apenas 20% dos alunos do 1o e 2o ano <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de A não tem conhecimento<br />

sobre o COREn.<br />

Gráfico 02: o conhecimento dos estu<strong>da</strong>ntes sobre a função do COREn, na ci<strong>da</strong>de de<br />

Londrina<br />

Qual é a função do COREN?<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

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A<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

1º ano Unversi<strong>da</strong>de B<br />

1º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

Não sabe<br />

Promoção de Eventos<br />

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100<br />

Sindicato<br />

%<br />

Fiscalizar<br />

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Anderson Funai, Daniele Sorge de Angeli, Luciana Sayuri Nishikawa, Ricardo Martins,Vanessa Moraes Liberatti<br />

Analisando o presente gráfico, observamos que 100% dos alunos <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de B sabem<br />

que a função do COREn é fiscalizar os profissionais de Enfermagem. Em relação aos alunos <strong>da</strong><br />

facul<strong>da</strong>de A, 20% de todos os anos <strong>da</strong> graduação tem a ideia errônea de que ele atua como sindicato<br />

<strong>da</strong> categoria, 10% acredita que ele atua na promoção de eventos técnicos e científicos e 5%<br />

não souberam responder.<br />

Gráfico 03: o conhecimento dos estu<strong>da</strong>ntes sobre ABEn,na ci<strong>da</strong>de de Londrina<br />

Você conhece a ABEn?<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

1º ano Unversi<strong>da</strong>de B<br />

1º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

NÃO<br />

0 20 40 60 80 100<br />

SIM<br />

%<br />

Observando o gráfico, 40% do total de alunos <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de A não conhecem a ABEn e<br />

100% dos alunos <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de B conhecem a ABEn.<br />

21<br />

Gráfico 04: o conhecimento dos estu<strong>da</strong>ntes sobre a função <strong>da</strong> ABEn, na ci<strong>da</strong>de de Londrina<br />

Qual é a função <strong>da</strong> ABEn?<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

1º ano Unversi<strong>da</strong>de B<br />

1º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

Promoção de<br />

Eventos<br />

Fiscalizar<br />

0 20 40 60 80 100<br />

De acordo com o demonstrado, percebe-se que a maioria dos alunos, de ambas as facul<strong>da</strong>des,<br />

sabem que a função <strong>da</strong> ABEn é a promoção de eventos técnicos e científicos.<br />

%<br />

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COREn no Futuro sobre a ótica dos Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />

Gráfico 05: a utili<strong>da</strong>de do COREn para os estu<strong>da</strong>ntes quando se tornarem profissionais de<br />

Enfermagem<br />

No que o COREn poderia ser útil para você<br />

enquanto profissional de enfermagem ?<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

1º ano Unversi<strong>da</strong>de B<br />

Promoção de<br />

eventos<br />

Órgão que<br />

propõe<br />

melhorias<br />

Defensor <strong>da</strong><br />

categoria<br />

1º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

0 20 40 60 80 100<br />

%<br />

Quando questionados sobre a utili<strong>da</strong>de do COREn, a partir do momento em que os estu<strong>da</strong>ntes<br />

se tornarem profissionais de Enfermagem, ocorreram diferenças, pois alguns acreditam que poderia<br />

ser útil na atuação como defensor <strong>da</strong> categoria e como órgão que propõe melhorias para a categoria.<br />

E apenas 20% dos estu<strong>da</strong>ntes do 2º ano, <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de A, acreditam que ele seria útil na promoção de<br />

eventos técnicos e científicos.<br />

22<br />

Gráfico 06: a opinião dos estu<strong>da</strong>ntes sobre a inclusão do Tema COREn na graduação<br />

Você acha que na graduação deveria ser<br />

abor<strong>da</strong>do o Tema COREn?<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

1º ano Unversi<strong>da</strong>de B<br />

1º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

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S<br />

T<br />

A<br />

Não<br />

SIM<br />

0 20 40 60 80 100<br />

Ao perguntarmos sobre a abor<strong>da</strong>gem do tema COREn na graduação a maioria do alunos<br />

acreditam que deveria ser abor<strong>da</strong>do. Como era uma questão aberta alguns estu<strong>da</strong>ntes acreditam que assim<br />

será possível de ter conhecimentos, para lutar por melhorias e atuar de uma forma participativa.<br />

%<br />

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Anderson Funai, Daniele Sorge de Angeli, Luciana Sayuri Nishikawa, Ricardo Martins,Vanessa Moraes Liberatti<br />

Gráfico 07: a opinião dos estu<strong>da</strong>ntes sobre a criação de um sindicato para os enfermeiros na<br />

ci<strong>da</strong>de de Londrina<br />

Você concor<strong>da</strong> com a criação de um sindicato<br />

para os enfermeiros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Londrina?<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

4º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

3º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de B<br />

2º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

1º ano Unversi<strong>da</strong>de B<br />

1º ano Universi<strong>da</strong>de A<br />

SIM<br />

0 20 40 60 80 100<br />

%<br />

Ao analisar os <strong>da</strong>dos, percebe-se que todos os ent<strong>revista</strong>dos concor<strong>da</strong>m na criação de um<br />

Sindicato para os Enfermeiros, acreditando que, através disso, possa haver uma melhora dos direitos<br />

do profissional como também a busca por melhorar ca<strong>da</strong> vez mais a categoria.<br />

CONCLUSÃO<br />

A missão dos Conselhos Profissionais nem sempre tem sido esclareci<strong>da</strong> com objetivi<strong>da</strong>de<br />

para a socie<strong>da</strong>de laica e nem mesmo para os profissionais. Na enfermagem percebe-se que os alunos,<br />

muitas vezes, conhecem os Conselhos e demais órgãos, mas não sabem <strong>da</strong>r explicações mais detalha<strong>da</strong>s<br />

a respeito dos mesmos. O COREn é uma forma de “engate”, pois é o único órgão que o profissional<br />

tem contato obrigatório, pois para iniciar sua jorna<strong>da</strong> laboral ele deve passar no Conselho para receber<br />

seu registro e ca<strong>da</strong>stro para o seu ofício. Desta forma, ele deveria preparar e instruir corretamente o<br />

profissional, não apenas lhes <strong>da</strong>r breves explicações e entregar uma cartilha com leis e códigos, deveria<br />

ministrar pequenos cursos, onde os principais direitos e deveres seriam ensinados e discutidos;<br />

informar os recém formados sobre as Associações e direcioná-los para o pleno e democrático exercício<br />

profissional e de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, como por exemplo, a ABEn, que se responsabiliza pela parte científica e<br />

cultural; fornecer bancos de pesquisa, para informações sobre a profissão, notícias recentes e sites de<br />

explicação para especializações. Pois, muitos profissionais cometem erros por ignorância e acabam<br />

acarretando desgastes e deman<strong>da</strong>s ético-profissionais para o COREn desnecessárias, pois este deve<br />

analisar ca<strong>da</strong> caso, se necessário deve passar por um julgamento e, até mesmo, receber punições como<br />

perder o direito de exercer a profissão.<br />

A ABEn poderia ser mais pró-ativa, indo de encontro aos profissionais e dos estu<strong>da</strong>ntes de<br />

enfermagem devendo ser entendi<strong>da</strong> como um investimento cultural à categoria. O COFEn deveria ser<br />

mais político e os COFEns mais executivos; além de ser mais pró-ativo junto ao Ministério <strong>da</strong> Educação,<br />

obtendo acento no MEC para políticas educacionais volta<strong>da</strong>s aos estu<strong>da</strong>ntes de enfermagem;<br />

pró-ativo e pontual no acompanhamento de tecnologias, a novas mu<strong>da</strong>nças técnicas, educacionais e<br />

profissionais. Os <strong>da</strong>dos apontam para a necessi<strong>da</strong>de de se repensar a formação em nível universitário,<br />

não só com o objetivo de se atender às necessi<strong>da</strong>des de mercado, mas principalmente de avançar em<br />

23<br />

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COREn no Futuro sobre a ótica dos Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />

busca de uma formação capaz de agir sobre essa reali<strong>da</strong>de e transformá-la, fazendo com que os alunos saiam<br />

<strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de com um bom conhecimento a respeito do órgão que irá orientar e fiscalizar sua profissão,<br />

só assim ele terá capaci<strong>da</strong>de de compreender seus direitos, deveres e lutar por melhorias para a classe. Isso<br />

pode ser feito se através <strong>da</strong> inclusão de aulas ou palestras a respeito do tema na grade curricular dos cursos<br />

de enfermagem. Por meio dos resultados dessa pesquisa, conseguiu-se cumprir o objetivo deste trabalho,<br />

demonstrando o conhecimento dos acadêmicos do curso de graduação de Enfermagem.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM (ABEn). 80 anos <strong>da</strong> ABEn: Uma história de<br />

compromisso com a enfermagem brasileira. Marcos Históricos. Disponível em: Acesso em: 16/05/2007.<br />

BAIS, Dulce. COFEn: possibili<strong>da</strong>des renova<strong>da</strong>s. Disponível em: .<br />

Acesso em: 03/06/2007.<br />

BRASIL, LEI Nº 5.905 de 12 de Julho de 1973. Criação dos Conselhos Federal e Regionais de<br />

Enfermagem.<br />

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEn). O COFEn: Conheça o Conselho<br />

Federal de Enfermagem. Disponível em: Acesso em: 15/05/2007.<br />

24<br />

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO (COREn-SP). O que é o<br />

COREN-SP ? Disponível em < http://corensp.org.br/072005/>. Acesso em: 16/05/2007.<br />

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO PARANÁ (COREn-PR). Legislação: Resolução<br />

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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Função social <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de Pública.Direito administrativo,<br />

Atlas. Disponível em . Acesso em: 23/05/07.<br />

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DIÓGENES, Gasparini. Crimes de Licitação. São Paulo: NDJ, 1996.<br />

FUNAI, Anderson. Relato <strong>da</strong> vivência em uni<strong>da</strong>de eletiva em um Conselho Regional de Enfermagem.<br />

Disponível em . Acesso<br />

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PINHEIRO, Pedro Paulo de Castro. Regulamentação Profissional. Fiscalização do Exercício <strong>da</strong><br />

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TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


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SINDICATO DOS ENFERMEIROS. Estatutos. Disponível em: .<br />

Acesso dia: 02/06/2007.<br />

25<br />

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COREn no Futuro sobre a ótica dos Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />

Apêndice A:<br />

O COREn na visão dos estu<strong>da</strong>ntes:<br />

1- Você conhece o COREn?<br />

( ) SIM ( ) Não<br />

2- Qual a sua função?<br />

( ) Fiscalizar e orientar os enfermeiros,técnicos e auxiliares de enfermagem<br />

( ) Promover o desenvolvimento técnico, científico e profissional dos integrantes de Enfermagem.<br />

( ) Atuar como sindicato <strong>da</strong> categoria<br />

( ) Arreca<strong>da</strong>r fundos para a categoria<br />

( ) Não sei opinar.<br />

3- Você conhece a ABEN?<br />

( ) SIM ( ) Não<br />

4- E a função <strong>da</strong> ABEn?<br />

( ) É responsável pelo desenvolvimento cientifico, como elaboração de<br />

cursos, palestras,eventos<br />

( ) Atuar na área de fiscalização do profissional <strong>da</strong> categoria<br />

( ) Não sei<br />

26<br />

5- No que o COREn poderia ser útil para você?<br />

( ) Atuar como defensor <strong>da</strong> classe de enfermagem<br />

( ) Órgão que propõe melhorias para a categoria<br />

( ) Atuar na promoção de eventos científicos<br />

6- Você acha que as Instituições de Ensino deveria ser abor<strong>da</strong>do o tema COREn?<br />

7- Você acha que a criação de um sindicato para categoria de enfermagem, seria bom?<br />

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Apêndice B<br />

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido<br />

Eu<br />

, concordo em participar do trabalho <strong>da</strong>s alunas do 3º ano de Enfermagem<br />

<strong>da</strong> Unifil cujo tema será: “ COREn no futuro sobre a ótica dos estu<strong>da</strong>ntes de enfermagem”,<br />

respondendo a um questionário em forma de ent<strong>revista</strong>. Estou ciente que não receberei nenhum valor<br />

em dinheiro, que será preserva<strong>da</strong> a minha identi<strong>da</strong>de e que esta pesquisa pode ser utiliza<strong>da</strong> como base<br />

de trabalho científico para Congressos, simpósios e publicações em periódicos.<br />

27<br />

Londrina, de de 2007.<br />

Assinatura do estu<strong>da</strong>nte<br />

Assinatura do pesquisador<br />

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Estilo de Vi<strong>da</strong> no Controle <strong>da</strong> Pressão Arterial<br />

ESTILO DE VIDA NO CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL<br />

LIFESTYLE TO CONTROL BLOOD PRESSURE<br />

Thatiane Christina Imagawa<br />

Caroline Blattner Martha<br />

Heliane Moura Ferreira*<br />

RESUMO:<br />

Este estudo teve como objetivo analisar a produção científica latina cujo objeto de investigação<br />

tenha sido o estilo de vi<strong>da</strong>, como fator importante para o controle <strong>da</strong> Pressão Arterial. O Método<br />

adotado para esta análise foi a Revisão Bibliográfica. A amostra foi constituí<strong>da</strong> por 17 artigos<br />

publicados, no período de 1995 á 2005, e indexados nas Bases de Dados Lilacs e Scielo. A análise<br />

dos artigos encontrados possibilitou identificar quatro categorias temáticas relaciona<strong>da</strong>s ao<br />

tratamento não farmacológico <strong>da</strong> hipertensão Arterial: exercício físico regular; dieta equilibra<strong>da</strong>;<br />

abstenção de álcool e fumo e redução do stress. Os resultados apontam que estas categorias<br />

caracterizam um estilo diferente de vi<strong>da</strong> que, quando realizados adequa<strong>da</strong>mente, controlam e até<br />

reduzem a pressão Arterial, tornando o paciente independente de medicamentos anti-hipertensivos.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Pressão Arterial, Ativi<strong>da</strong>de Física, Fumo, Álcool.<br />

28<br />

ABCTRACT:<br />

The objective of this study is to analyze the scientific Latin literature, whose object was to<br />

examine the lifestyle as an important factor to control blood pressure. The method adopted in<br />

this analysis was Bibliographical research. It is based on 17 published articles that approach the<br />

subject, during 1995 to 2005, from Scielo and Lilacs <strong>da</strong>tabases. The articles investigation enabled<br />

to identify four thematic categories related to non-drug treatment of Arterial hypertension: regular<br />

physical exercises; balanced diet; abstention from alcohol and smoke and stress reduction. Results<br />

have demonstrated that these categories characterize an unlike lifestyle that if it is followed<br />

adequately can control and even reduce blood pressure. Subsequently, patients can get rid of<br />

antihypertensive medication.<br />

KEY WORDS: Blood Pressure; Physical Exercise; Smoke; Alcohol<br />

1.INTRODUÇÃO<br />

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A hipertensão arterial representa grave problema de saúde pública no país, não só pela<br />

eleva<strong>da</strong> prevalência, pois acomete cerca de 20% <strong>da</strong> população adulta, como também pela acentua<strong>da</strong><br />

parcela de hipertensos não diagnostica<strong>da</strong>, ou não trata<strong>da</strong> de forma adequa<strong>da</strong>, ou ain<strong>da</strong> pelo<br />

alto índice de abandono ao tratamento. De acordo com Mahan e Escott-Stump (2002), a hipertensão<br />

não trata<strong>da</strong> leva ao desenvolvimento de muitas doenças crônico-degenerativas, como a<br />

insuficiência cardíaca congestiva, a falência renal e a doença vascular periférica.<br />

Hipertensão arterial é uma síndrome clínica caracteriza<strong>da</strong> pela elevação <strong>da</strong> pressão arterial<br />

a níveis iguais ou superiores a 140 mmHg de pressão sistólica e/ou 90 mmHg de diastólica, em<br />

* Professora Doutora. Docente do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Thatiane Christina Imagawa, Caroline Blattner Martha, Heliane Moura Ferreira<br />

pelo menos duas aferições subsequentes, obti<strong>da</strong>s em dias diferentes, ou em condições de repouso<br />

e ambiente tranquilo. Quase sempre, acompanham esses achados de forma progressiva, lesões<br />

nos vasos sanguíneos com consequentes alterações de órgãos alvos como: cérebro, coração, rins<br />

e retina. Geralmente, é uma doença silenciosa que não dói, não provoca sintomas, mas que pode<br />

matar. Quando ocorrem os sintomas, estes já são decorrentes de complicações.<br />

Entretanto, recentemente, a Socie<strong>da</strong>de Brasileira de Cardiologia tem preconizado a<br />

categorização de uma situação dita pré-hipertensão, onde as modificações do estilo de vi<strong>da</strong> devem<br />

ser mais que incentiva<strong>da</strong>s, tendo em vista a grande possibili<strong>da</strong>de de evolução futura para o estado<br />

de hipertensão arterial, com o avançar <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de. Nesta classificação atual, a pressão ideal é aquela<br />

sistólica menor que 120 mmHg e diastólica 80 mmHg. O Ministério <strong>da</strong> Saúde considera estes<br />

valores como ideais, pois eliminam riscos para o sistema cardiovascular (BRASIL, 2002).<br />

Uma predisposição genética para hipertensão aparece interagindo com a obesi<strong>da</strong>de, estilo<br />

de vi<strong>da</strong>, componentes <strong>da</strong> dieta e outros fatores que, em geral, predispõem a condição de pressão<br />

sanguínea eleva<strong>da</strong>. As mu<strong>da</strong>nças no estilo de vi<strong>da</strong> são terapia definitiva para alguns e uma terapia<br />

coadjuvante para todos os outros indivíduos com hipertensão. Dependendo do grupo de risco, 6<br />

a 12 meses de mu<strong>da</strong>nças amplas no estilo de vi<strong>da</strong> poderiam ser tenta<strong>da</strong>s antes <strong>da</strong> introdução <strong>da</strong><br />

terapia medicamentosa (MAHAN e ESCOTT-STUMP, 2002).<br />

Pesquisas mostraram que em uma hipertensão leve, uma redução de peso para níveis<br />

ideais e restrição dietética modesta de sódio para


Estilo de Vi<strong>da</strong> no Controle <strong>da</strong> Pressão Arterial<br />

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A falta de adesão ao tratamento medicamentoso é numerosa e preocupante. Assim, é<br />

altamente indicado, na literatura médica, o auxílio de tratamento não farmacológico, coadjuvantes<br />

ao medicamentoso, os quais estariam voltados para alertar e esclarecer alguns fatores causais <strong>da</strong><br />

hipertensão como o fumo, a alimentação inadequa<strong>da</strong>, o stress, entre outros (NOVAES, 1996).<br />

A alimentação é um dos principais cui<strong>da</strong>dos que uma pessoa hipertensa deve tomar. Como<br />

a hipertensão facilita o surgimento de doenças ateroscleróticas (infarto cardíaco), é importante<br />

restringir alimentos com muita gordura (ASSOCIAÇÃO MÉDICA, 2006).<br />

O excesso de sódio, inicialmente, eleva a pressão arterial por aumento <strong>da</strong> volemia e, consequentemente,<br />

há aumento de débito cardíaco. Através dos mecanismos de autorregulação, ocorre um<br />

aumento <strong>da</strong> resistência vascular periférica, mantendo-se elevados os níveis de pressão arterial. A dieta<br />

do paciente hipertenso deve ser restrita em torno de 70 mEq/dia a 100 mEq/dia de sódio, equivalente<br />

a 6 g de sal/dia, presentes na alimentação do dia como um todo (WAITZBERG, 2000).<br />

Segundo o mesmo autor, o potássio é importante mineral presente nos alimentos. A suplementação<br />

deste na dieta induz à que<strong>da</strong> <strong>da</strong> P.A, através do aumento <strong>da</strong> natriurese, que é a diminuição<br />

<strong>da</strong> secreção de epinefrina e norepinefrina e aumento de secreção de prostaglandinas. Isso não<br />

significa que devemos suplementar a ingestão de potássio na forma medicamentosa, a menos que<br />

haja indicação, pois o excesso deste pode causar <strong>da</strong>nos ao sistema cardiovascular. Recomen<strong>da</strong>-se<br />

a ingestão de 2 g/dia de potássio através de uma dieta rica.<br />

Em relação ao cálcio, estudos epidemiológicos demonstram que a baixa ingestão, através<br />

<strong>da</strong> dieta, está associa<strong>da</strong> ao aumento <strong>da</strong> prevalência <strong>da</strong> hipertensão. Aumentando-se a oferta deste<br />

mineral, é possível a redução dos níveis pressóricos em alguns pacientes com hipertensão, mas,<br />

até o momento, não há evidencias de que a suplementação de cálcio na dieta demonstre uma ação<br />

benéfica para o tratamento <strong>da</strong> hipertensão (WAITZBERG, 2000).<br />

A dieta em fibras pode reduzir em até 5 mmHg a pressão arterial dos pacientes hipertensos. O<br />

baixo teor de carboidratos simples diminui o estímulo <strong>da</strong> secreção de insulina e alto teor de potássio.<br />

A prática regular de ativi<strong>da</strong>des físicas reflete-se na redução de diversos dos fatores de<br />

risco, tem efeitos positivos na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e se relaciona inversamente com o aparecimento<br />

de doenças crônico-degenerativas (FERREIRA, 2005). Apesar de não haver evidências entre o<br />

fumo e a elevação <strong>da</strong> pressão arterial, está bem estabeleci<strong>da</strong> a associação entre o hábito de fumar<br />

e a incidência de infarto do miocárdio e também de doenças <strong>da</strong>s artérias. O fumo pode, também,<br />

atenuar os efeitos benéficos de alguns medicamentos empregados para o tratamento <strong>da</strong> hipertensão<br />

(LIONI, 2006).<br />

O consumo excessivo de álcool eleva a pressão arterial e a variabili<strong>da</strong>de pressórica aumenta<br />

a prevalência de hipertensão, é fator de risco para acidente vascular encefálico, alem de ser<br />

uma <strong>da</strong>s causas de resistência à terapia anti-hipertensiva. Para os hipertensos, do sexo masculino,<br />

que fazem uso de bebi<strong>da</strong> alcoólica, é aconselhável que o consumo não ultrapasse 30 ml de etanol/<br />

dia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA,1998).<br />

Embora não se possa determinar nenhuma causa específica para a hipertensão, sabe-se<br />

que diversos fatores podem contribuir para o seu aparecimento. O principal fator é hereditário.<br />

Além destes fatores de riscos incontroláveis, fatores ambientais podem aumentar a chance de<br />

instalação <strong>da</strong> hipertensão arterial (SALGADO, 2006).<br />

Portanto, buscar quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> é mais do que ter uma boa saúde física ou mental. É<br />

estar de bem com você mesmo, com a vi<strong>da</strong>, com as pessoas queri<strong>da</strong>s, enfim, estar em equilíbrio.<br />

Isso pressupõe muitas coisas; hábitos saudáveis, cui<strong>da</strong>dos com o corpo, atenção para a quali<strong>da</strong>de<br />

dos seus relacionamentos, balanço entre vi<strong>da</strong> pessoal e profissional, tempo para lazer e saúde<br />

espiritual (CPH TECNOLOGIA EM SAÚDE, 2005).<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Thatiane Christina Imagawa, Caroline Blattner Martha, Heliane Moura Ferreira<br />

2 METODOLOGIA<br />

Este estudo foi realizado tendo como referencial metodológico a Revisão Bibliográfica<br />

<strong>da</strong> literatura científica que, segundo Oliveira (1997), tem por finali<strong>da</strong>de conhecer as diferentes<br />

formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno. A<br />

busca dos estudos relacionados ao objeto desta pesquisa foi realiza<strong>da</strong> na Base de <strong>da</strong>dos LILACS<br />

e SCIELO, reconheci<strong>da</strong>s pelos cientistas brasileiros e latino- americanos.<br />

A população do estudo foi constituí<strong>da</strong> por todos os artigos publicados, em português e<br />

espanhol, no período de 1995 a 2005, que relacionassem o tratamento <strong>da</strong> hipertensão Arterial com<br />

hábitos de vi<strong>da</strong>. Os descritores utilizados para a busca nas Bases de Dados foram hipertensão<br />

e estilo de vi<strong>da</strong> (25 artigos encontrados); hipertensão e dieta, stress, ativi<strong>da</strong>de, exercício, risco,<br />

hábitos, estilo ou quali<strong>da</strong>de (26 artigos encontrados); tabagismo na pressão arterial (40 artigos<br />

encontrados); estresse na hipertensão arterial (43 artigos encontrados) e pressão arterial primária<br />

(195 artigos encontrados), perfazendo um total de 329 artigos.<br />

A leitura dos resumos dos artigos encontrados possibilitou o descarte de alguns trabalhos que<br />

não respondiam à in<strong>da</strong>gação do nosso estudo: Quais evidências as pesquisas já realiza<strong>da</strong>s apresentam<br />

sobre o tratamento não medicamentoso <strong>da</strong> hipertensão Arterial? Após esta análise, foram selecionados<br />

para a amostra somente 17 artigos, escritos em língua portuguesa, ou espanhola. Foram excluídos desta<br />

revisão dissertações e teses. Os artigos analisados foram adquiridos nas bibliotecas de Londrina, nas<br />

Bases de Dados nas quais foram encontrados, e pelo Sistema COMUT.<br />

A análise dos artigos procedeu em duas fases, mediante um instrumento construído pelas<br />

autoras. A primeira fase consistiu na identificação dos artigos em relação ao(s) autor (es), ano de<br />

publicação, localização e o periódico em que foi publicado. Estes <strong>da</strong>dos foram armazenados e<br />

ordenados em um banco de <strong>da</strong>dos. Na segun<strong>da</strong> fase, procedeu-se a análise do conteúdo dos artigos<br />

em seus objetivos, referencial teórico e resultados.<br />

31<br />

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

3.1 Identificação dos Artigos Relacionados ao Autor, Ano de Publicação, País de Origem e<br />

Periódico em que foi Publicado.<br />

Os artigos foram adquiridos na íntegra pelo Sistema COMUT (4 artigos), na Biblioteca<br />

do Hospital universitário <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Londrina (5 artigos), na Biblioteca do Centro<br />

Universitário Filadélfia (1 artigo) e na Base de Dados na qual foi encontrado (7 artigos).<br />

A literatura analisa<strong>da</strong> revela que a Hipertensão Arterial tem sido objeto de investigação de várias<br />

áreas do conhecimento, levando em consideração a formação profissional dos autores: psicólogo,<br />

dentista, enfermeira, médico, nutricionista e profissionais de educação física. Apesar deste achado<br />

caracterizar a hipertensão arterial como um problema de interesse e ação multidisciplinar, predominou<br />

estudos realizados por profissionais do esporte.<br />

Os anos de 2001 e 2002 apresentaram o maior número de publicações referentes ao tema<br />

em questão (8 publicações). Dos 17 artigos, 16 foram publicados em português e um em espanhol.<br />

Quanto ao país de origem, dois eram de Cuba, um <strong>da</strong> Espanha e 15 do Brasil. O periódico que<br />

apresentou maior número de publicações foi a Revista hipertensão SBH.ORG. BR.<br />

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3.2 Conteúdo dos Artigos<br />

32<br />

Dos 17 artigos analisados, dez caracterizavam-se dissertativos sobre teorias e conhecimentos<br />

já existentes. Somente sete estudos foram realizados em campo, em busca de <strong>da</strong>dos que gerassem<br />

novos conhecimentos, e destes, todos tiveram como sujeitos investigados indivíduos hipertensos.<br />

Os aspectos abor<strong>da</strong>dos pelos autores, nos artigos analisados, variam desde a conceituação<br />

<strong>da</strong> hipertensão Arterial e de seus fatores desencadeantes até as formas de tratamento e controle.<br />

Três estudos concluem que os indivíduos hipertensos, mesmo já tendo recebido informações e<br />

estarem em tratamento, abandonam a terapêutica ou não a cumprem de forma correta (CHOR,<br />

1998; HEYDE, 2004; ANON, 2003). Segundo estes artigos, os Serviços de Saúde ain<strong>da</strong> não são<br />

suficientes para garantir a adoção de hábitos saudáveis de vi<strong>da</strong> para o tratamento <strong>da</strong> hipertensão<br />

arterial. Na zona rural, ain<strong>da</strong> falta assistência médica e programas de prevenção deste agravo<br />

(SINGI, 2000). Ain<strong>da</strong> foi possível verificar que, quando introduzido o tratamento farmacológico,<br />

muitos pacientes não fazem uso correto porque os indivíduos não aprenderam a importância do<br />

medicamento (PEÑA, 2002). A terapêutica não farmacológica não foi segui<strong>da</strong> por muitos pacientes.<br />

Muitas vezes, a falta de conhecimento do paciente em relação à doença dificulta a adesão<br />

do paciente ao tratamento não medicamentoso (PESSUNTO, 1998).<br />

O conceito de hipertensão arterial e seus fatores desencadeantes foram abor<strong>da</strong>dos por seis<br />

artigos, entretanto, onze estudos defendem a mu<strong>da</strong>nça no estilo de vi<strong>da</strong> para o controle <strong>da</strong> doença:<br />

ativi<strong>da</strong>de física regular, dieta equilibra<strong>da</strong>, não fumar, evitar bebi<strong>da</strong> alcoólica e estresse. Segundo<br />

estes autores, (PESSUNTO, 1998; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLINICA MÉDICA,<br />

1998; NAKASATO, 2001; FUCHS, 2001; ARAÚJO, 2001; NEGRÃO, 2001; SARAIVA, 2001;<br />

MONTEIRO, 2002; SANT’ANA, 2002; CAMPANE, 2002; SOUZA, 2004), estas ativi<strong>da</strong>des<br />

são de grande importância tanto para evitar como para diminuir a hipertensão arterial, tornando<br />

desnecessário o uso de medicamento para o controle <strong>da</strong> doença.<br />

Somente dois artigos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA, 1998; VAL-<br />

DEZ, 2000) abor<strong>da</strong>vam o estresse como fator desencadeante <strong>da</strong> hipertensão arterial, e mesmo assim,<br />

nenhum era resultado de uma abor<strong>da</strong>gem ou intervenção direciona<strong>da</strong> a combater o estresse.<br />

Esta análise permitiu a identificação de quatro categorias temáticas, abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos autores,<br />

relaciona<strong>da</strong>s ao tratamento não medicamentoso <strong>da</strong> hipertensão arterial: (a) Dieta Equilibra<strong>da</strong>; (b)<br />

Ativi<strong>da</strong>de Física Regular; (c) Redução do Estresse; (d) Abstenção do fumo e do álcool.<br />

3.2.1 Dieta equilibra<strong>da</strong><br />

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Mu<strong>da</strong>nças nos hábitos alimentares foram citados pelos autores dos 8 artigos analisados.<br />

Recomen<strong>da</strong>ndo que a quanti<strong>da</strong>de de sal para população, em geral, não ultrapasse a 6 g por dia<br />

(100 mEq ou 2400 mg de sódio/dia). Essa quanti<strong>da</strong>de é recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> também para os pacientes<br />

hipertensos leves. A mesma autora relata que esta quanti<strong>da</strong>de é obti<strong>da</strong> usando pouco sal no<br />

preparo de alimentos e evitando alimentos industrializados.<br />

O consumo adequado de potássio (50 a 90 mEq/dia) e de outros nutrientes como<br />

magnésio e cálcio também são salientados como benéficos na dieta do hipertenso. Segundo a<br />

autora, deve <strong>da</strong>r ênfase a utilização de gorduras poli-insatura<strong>da</strong>s e monoinsatura<strong>da</strong>s e não ultrapassar<br />

5 xícaras de café, por dia, devido ao seu efeito agudo sobre a pressão sanguínea e sua<br />

relação com arritmias.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Thatiane Christina Imagawa, Caroline Blattner Martha, Heliane Moura Ferreira<br />

3.2.2 Ativi<strong>da</strong>de física regular<br />

A ativi<strong>da</strong>de física foi a temática que prevaleceu sobre as demais, encontra<strong>da</strong> em 9 dos 17<br />

artigos analisados. O exercício físico aeróbico foi citado por todos os autores como benéficos para<br />

o controle <strong>da</strong> pressão arterial, como também no controle e na prevenção dos fatores de risco para<br />

doenças cardiovasculares nos pacientes hipertensos. Entretanto, é recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> uma avaliação<br />

prévia do risco individual para a prática de ativi<strong>da</strong>de física. A terapêutica, por meio de exercício<br />

físico, precisa estar prescrita, devendo atentar-se para o tipo de ativi<strong>da</strong>de física (abrangente a<br />

todos os grupos musculares), a duração (20-60 minutos), a frequência (3-5 vezes por semana) e<br />

intensi<strong>da</strong>de.<br />

Segundo os artigos analisados, o exercício físico também desempenha a função de controlar<br />

o sobrepeso e a obesi<strong>da</strong>de, que são considerados fatores de risco ao indivíduo hipertenso.<br />

3.2.3 Redução do estresse<br />

O excesso de trabalho e a falta de recreação são os fatores citados pelos autores como<br />

causas de estresse. Dois artigos analisados, cujos estudos foram realizados no campo e na zona<br />

urbana respectivamente, apontam que tanto a vi<strong>da</strong> urbana como a vi<strong>da</strong> rural estão sob a influência<br />

do estresse e ansie<strong>da</strong>de, como fatores de risco para a hipertensão arterial. Entretanto, nenhum<br />

estudo foi encontrado com abor<strong>da</strong>gem intervencionista como possibili<strong>da</strong>des de combater o stress,<br />

com o objetivo de controlar a pressão arterial.<br />

3.2.4 Abstenção do álcool e do fumo<br />

Dos 17 artigos analisados, 8 ressaltam o fumo como fator de risco <strong>da</strong> hipertensão arterial.<br />

Ain<strong>da</strong> que a pressão arterial e a frequência cardíaca se elevem durante o ato de fumar, o uso prolongado<br />

de nicotina não se associa a maior prevalência de hipertensão. Além do risco aumentado<br />

para doença coronariana associa<strong>da</strong> ao tabagismo, indivíduos que fumam mais de uma carteira de<br />

cigarros ao dia têm risco cinco vezes maior de morte súbita do que indivíduos não fumantes.<br />

O álcool é outro fator de risco, encontrado em 6 dos 17 artigos analisados. O aumento<br />

<strong>da</strong>s taxas de álcool no sangue eleva a pressão arterial lenta e progressivamente, na proporção de<br />

2 mmHg para ca<strong>da</strong> 30 ml de álcool etílico, ingeridos diariamente, sendo que quando suspenso, as<br />

cifras revertem. Outro <strong>da</strong>do interessante é que quando há redução no consumo de álcool, ocorre<br />

também redução no abandono do tratamento farmacológico.<br />

33<br />

CONCLUSÃO<br />

Com base nos artigos analisados, conclui-se que a mu<strong>da</strong>nça no estilo de vi<strong>da</strong>, incluindo,<br />

dieta equilibra<strong>da</strong>, ativi<strong>da</strong>de física regular (aeróbica), redução do estresse e abstenção do álcool e<br />

do fumo, não somente diminui e controla a pressão arterial como também previne, o que não é<br />

possível por meio de medicamentos.<br />

A análise dos estudos indica que os Serviços de Saúde são insuficientes quanto a sua<br />

abrangência, pois a zona rural ain<strong>da</strong> não está totalmente coberta pelo atendimento primário. A<br />

ineficácia do atendimento aos indivíduos hipertensos também foi possível ser identifica<strong>da</strong> pela<br />

incidência de pacientes hipertensos que abandonam o tratamento por falta de orientação clara, ao<br />

nível de compreensão do paciente.<br />

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Estilo de Vi<strong>da</strong> no Controle <strong>da</strong> Pressão Arterial<br />

O Sistema Único de Saúde, por meio dos programas para controle <strong>da</strong> Hipertensão arterial,<br />

precisa desenvolver práticas educativas em saúde mais eficazes, indo além <strong>da</strong> simples “informação”<br />

e entrega de medicamentos. É preciso abdicar de abor<strong>da</strong>gens tradicionais sobre a patologia<br />

com os pacientes e aderir às metodologias ativas de ensino-aprendizagem, que realmente<br />

propiciem ao paciente a compreensão <strong>da</strong> doença, <strong>da</strong> eficácia do tratamento não medicamentoso,<br />

dos efeitos colaterais dos medicamentos e <strong>da</strong> prevenção <strong>da</strong>s complicações.<br />

Aos profissionais <strong>da</strong> saúde cabe a responsabili<strong>da</strong>de de acolher; conhecer a história pregressa<br />

e familiar, o comportamento <strong>da</strong> Hipertensão Arterial de ca<strong>da</strong> paciente; realizar um exame<br />

físico minucioso e fun<strong>da</strong>mentado no raciocínio clínico e na situação social, cultural e econômica<br />

do paciente, para traçar um plano individual de monitoramento <strong>da</strong> Pressão Arterial.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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Alexandre Alvarenga Ribeiro, Sandra Regina Cervejeira, Eliene Simões Cezar<br />

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM HUMANIZADA NO PRONTO<br />

SOCORRO DE UM HOSPITAL DE MÉDIO PORTE DO<br />

NORTE DO PARANÁ*<br />

HUMANIZED ATTENDANCE OF NURSING IN EMERGENCY HOSPITAL’S OF<br />

MEDIATOR POSTAGE IN THE NORTH OF PARANÁ<br />

Alexandre Alvarenga Ribeiro**<br />

Sandra Regina Cervejeira***<br />

Eliene Simões Cezar****<br />

RESUMO:<br />

Este estudo teve como objetivo investigar os aspectos que interferem na quali<strong>da</strong>de do atendimento<br />

humanizado entre a equipe de enfermagem e usuários do Pronto Socorro de um Hospital<br />

do Norte do Paraná. Foram realiza<strong>da</strong>s ent<strong>revista</strong>s com 14 trabalhadores <strong>da</strong> equipe de enfermagem<br />

e 30 usuários. Os fatores que dificultam o atendimento humanizado para os trabalhadores<br />

de enfermagem são a falta de funcionários e a alta deman<strong>da</strong>; para os usuários são a demora pelo<br />

atendimento e falta de acomo<strong>da</strong>ção. Medi<strong>da</strong>s como educação permanente aos trabalhadores de<br />

enfermagem e pesquisas de opinião aos usuários devem ser implementa<strong>da</strong>s, visando o atendimento<br />

humanizado.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Humanização, Enfermagem, Assistência humaniza<strong>da</strong>.<br />

ABSTRACT:<br />

This study had as objective to investigate the aspects that interfere in the quality of the humanized<br />

atten<strong>da</strong>nce between nursing staff and emergency hospital`s users in a hospital located in the<br />

North of Paraná. Interviews were done with fourteen nursing staff employees and thirty users. The<br />

factors that make difficult the humanized atten<strong>da</strong>nce to the nursing staff are the lack of employees<br />

and the huge demand; to the users are the long time waiting for the atten<strong>da</strong>nce and lack of accommo<strong>da</strong>tion.<br />

Measures like permanent education to the nursing employees and opinion researches<br />

to the users must be done to improve the humanized atten<strong>da</strong>nce.<br />

37<br />

KEYWORDS: Humanization. Nursing. Humanized Atten<strong>da</strong>nce.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Ao se pensar em humanização é preciso levar em conta que esta é feita por pessoas e para<br />

pessoas. No mundo contemporâneo, a socie<strong>da</strong>de está ca<strong>da</strong> vez mais tecnológica e globaliza<strong>da</strong>.<br />

Nos relacionamos, ca<strong>da</strong> vez mais, de maneira impessoal através <strong>da</strong> internet, ou seja, além de tra-<br />

* Trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado ao curso de Enfermagem <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Norte do Paraná para obtenção do<br />

título de Enfermeiro.<br />

** Graduado em Enfermagem pela Universi<strong>da</strong>de Norte do Paraná (UNOPAR)<br />

*** Graduando em Enfermagem pela Universi<strong>da</strong>de Norte do Paraná (UNOPAR). Psicóloga pela Universi<strong>da</strong>de Estadual de Londrina<br />

(UEL). Especialista em Psicanálise pela Universi<strong>da</strong>de Norte do Paraná (UNOPAR). Especialista em Saúde Coletiva e Saúde <strong>da</strong><br />

Família pelo Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL)<br />

**** Docente do Curso de Enfermagem <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Norte do Paraná (UNOPAR). Mestre em Enfermagem Fun<strong>da</strong>mental pela<br />

Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo. Coordenadora Geral do Centro de Educação Profissional<br />

“Mater Ter Admirabilis”, <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Santa Casa de Londrina – PR. Av. Rio de Janeiro, 1643. Aptº 604. CEP – 86010-150.<br />

Centro – Londrina – PR. e- mail: eliene.cezar@unopar.br<br />

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Assistência de Enfermagem Humaniza<strong>da</strong> no Pronto Socorro de um Hospital de Médio Porte do Norte do Paraná<br />

balharmos com máquinas também nos relacionamos e nos comunicamos por meio destas. Pessine<br />

et al. (2003) relataram que:<br />

Passamos por uma profun<strong>da</strong> crise de humanismo. Em escala<br />

mundial, presenciamos grandes transformações em várias instâncias,<br />

tais como economia, política, desenvolvimento tecnológico,<br />

direitos e deveres dos ci<strong>da</strong>dãos, funções familiares, saúde e sobrevivência<br />

de muitos povos. Da globalização excludente seria<br />

possível passar a globalização <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de? O que está<br />

acontecendo com as pessoas? Onde está o humano? O simples<br />

estar com o outro, a compaixão, a tolerância, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de se<br />

tornaram valores descartáveis que contam pouco ou na<strong>da</strong>? Até<br />

quando?<br />

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Também aconteceram transformações na área <strong>da</strong> saúde. Atualmente, as pessoas que necessitam<br />

de assistência médico-hospitalar podem contar com equipamentos modernos, sofisticados<br />

e de última geração tecnológica para auxiliar no diagnóstico e tratamento. No entanto, estes<br />

custam à socie<strong>da</strong>de um preço bastante elevado, tanto em termos financeiros, quanto na substituição<br />

dos cui<strong>da</strong>dos realizados de humano para humano e de máquina para humano, para um<br />

atendimento técnico sem afetivi<strong>da</strong>de; algo que se tornou como “coisificado” também na saúde, e,<br />

com isto, esta adoeceu, a ponto de, hoje, precisar de tratamento para fazer o seu resgate enquanto<br />

assistência humaniza<strong>da</strong> na saúde.<br />

Em maio de 2000, o Ministério <strong>da</strong> Saúde regulamentou o Programa Nacional de Humanização<br />

<strong>da</strong> Assistência Hospitalar (PNHAH), mas o atual governo considera uma Política de<br />

Assistência – o “Humaniza SUS”. Tal iniciativa se deu através de um diagnóstico obtido, em<br />

2000, em que os usuários relatavam que sentiam desrespeito, violência física e psíquica por parte<br />

do profissional de saúde; sendo necessário fazer o resgate <strong>da</strong> humanização através do diálogo e o<br />

do saber técnico, tanto por parte do usuário para com o profissional de saúde, como também do<br />

profissional para com os gestores, possibilitando a comunicação geral.<br />

Para promover um atendimento humanizado é indispensável a comunicação entre o indivíduo<br />

cui<strong>da</strong>dor e o ser cui<strong>da</strong>do. A humanização depende de nossa capaci<strong>da</strong>de de falar e ouvir, do<br />

diálogo com nossos semelhantes (BRASIL, 2002).<br />

Apesar <strong>da</strong> preparação dos profissionais <strong>da</strong> equipe de enfermagem para prestarem um<br />

atendimento humanizado, vários fatores interferem na sua rotina de trabalho tais como: baixa remuneração<br />

salarial, número reduzido de funcionários, dupla jorna<strong>da</strong> de trabalho, falta de capacitação,<br />

falta de recursos materiais, dificul<strong>da</strong>de de sensibilização e colaboração <strong>da</strong> gestão hospitalar.<br />

Assim, investigamos os aspectos que interferem no atendimento humanizado, dentro do Pronto<br />

Socorro de um Hospital do Norte do Paraná. Portanto, questionamos: - O atendimento humanizado<br />

é preconizado pelos trabalhadores <strong>da</strong> equipe de enfermagem no Pronto Socorro? - Como<br />

é vista a humanização pelos usuários? Eles sentem que o atendimento é humanizado?<br />

Este estudo pressupõe que os profissionais <strong>da</strong> equipe de enfermagem são preparados, através<br />

do conhecimento técnico científico, para atuarem de forma que preconize a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência de<br />

enfermagem humaniza<strong>da</strong>, porém, alguns fatores extrínsecos interferem no atendimento.<br />

Acreditamos que os usuários, atendidos no Pronto Socorro em estudo, possam relatar<br />

insatisfação quanto ao atendimento, devido à demora em serem atendidos, à falta de recursos<br />

humanos e atenção por parte dos trabalhadores.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Alexandre Alvarenga Ribeiro, Sandra Regina Cervejeira, Eliene Simões Cezar<br />

Este trabalho teve por objetivo investigar os aspectos que interferem na quali<strong>da</strong>de do<br />

atendimento humanizado entre a equipe de enfermagem e usuários do Pronto Socorro de um hospital<br />

do Norte do Paraná.<br />

Traçamos como objetivos específicos: identificar a satisfação <strong>da</strong> equipe de enfermagem<br />

do Pronto Socorro quanto à prestação do atendimento humanizado; identificar a satisfação dos<br />

usuários do serviço do Pronto Socorro em relação ao atendimento humanizado; verificar os fatores<br />

que dificultam o atendimento e descrever estratégias de intervenção que contribuam para a<br />

assistência humaniza<strong>da</strong>.<br />

2. METODOLOGIA<br />

Trata-se de um estudo de natureza descritiva, transversal, com abor<strong>da</strong>gem quantitativa, o<br />

qual foi realizado no Pronto Socorro, de um hospital de médio porte, no Norte do Paraná.<br />

A população foi constituí<strong>da</strong> por 14 trabalhadores <strong>da</strong> equipe de enfermagem, pertencentes às<br />

categorias: enfermeiros e auxiliares de enfermagem, correspondente a 100% dos trabalhadores de<br />

enfermagem lotados no Pronto Socorro e por 30 usuários que foram atendidos neste serviço, no<br />

mês de junho de 2005, período estabelecido para a coleta de <strong>da</strong>dos.<br />

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos<br />

<strong>da</strong> Irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Santa Casa de Londrina, uma vez que atendeu as orientações <strong>da</strong> Resolução<br />

196/96 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP (BRASIL, 1996) – CEP 183/05<br />

(Ofício nº 058/05 BIOISCAL). Os trabalhadores <strong>da</strong> equipe de enfermagem e os usuários tiveram<br />

informações sobre o objetivo e a metodologia do estudo e concor<strong>da</strong>ram em participar, assinando<br />

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.<br />

Os <strong>da</strong>dos foram coletados em duas etapas: - Primeira etapa, ent<strong>revista</strong> com os trabalhadores<br />

<strong>da</strong> equipe de enfermagem que atuavam no Pronto Socorro, a fim de verificar os fatores que<br />

dificultavam o atendimento humanizado e identificar a satisfação <strong>da</strong> equipe de enfermagem, do<br />

Pronto Socorro, quanto à prestação do atendimento humanizado. - Segun<strong>da</strong> etapa, ent<strong>revista</strong> com<br />

os usuários atendidos no Pronto Socorro, a fim de categorizar os <strong>da</strong>dos sóciodemográficos e identificar<br />

a satisfação em relação ao atendimento humanizado.<br />

Para o alcance dos objetivos, foi elaborado um questionário com questões abertas e fecha<strong>da</strong>s,<br />

relativas à caracterização dos trabalhadores <strong>da</strong> equipe de enfermagem e informações sobre a humanização<br />

na assistência desta área. A fim de categorizar os usuários e obter <strong>da</strong>dos quanto ao atendimento<br />

humanizado, também foi elaborado um questionário com questões abertas e fecha<strong>da</strong>s.<br />

Os <strong>da</strong>dos foram processados pelo programa Microsoft Excel 2000 e tratados por meio de<br />

estatística descritiva.<br />

3. DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO<br />

No primeiro momento, apresentamos os resultados sobre as informações emiti<strong>da</strong>s em<br />

relação aos fatores que dificultam o atendimento humanizado e a satisfação <strong>da</strong> equipe de enfermagem<br />

do Pronto Socorro (PS). No segundo momento, apresentamos os resultados obtidos sobre<br />

as informações quanto à satisfação dos usuários.<br />

Foram ent<strong>revista</strong>dos 14 (100%) profissionais, sendo 11 (78,6%) auxiliares de enfermagem,<br />

3 (21,4%) enfermeiros, com predominância no sexo feminino 11 (78,6%), sobre o masculino<br />

3 (21,4%).<br />

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A i<strong>da</strong>de dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem variou entre 25 e 65 anos, a maioria<br />

8 (57,1%) concentrando-se entre a faixa etária de 36 a 45 anos, 4 (28,6%) de 25 a 35 anos e 2<br />

(14,3%) com mais de 46 anos.<br />

Os resultados obtidos coincidem com o perfil de trabalho <strong>da</strong> enfermagem no Brasil,<br />

descrito pelo Conselho Federal de Enfermagem e Associação Brasileira de Enfermagem, o qual é<br />

caracterizado como uma profissão feminina apresentando escores variáveis dependendo <strong>da</strong> região<br />

do país entre 83,3% e 98,6% de mulheres; e com i<strong>da</strong>de mais incidente na faixa etária de 20 a 40<br />

anos (BRASIL, 1985 apud MARZIALE, 1998).<br />

Constatamos que dos 100% dos trabalhadores de enfermagem que atuam no Pronto Socorro<br />

do Hospital em estudo, 13 (92,9%) conseguem em sua rotina diária chamar os pacientes pelo nome e<br />

tem interesse em saber do seu histórico. Apenas 1 (7,1%) não consegue chamá-lo pelo nome e também<br />

não demonstra interesse quanto ao seu histórico. Angerami-Camon (1997) atenta para a questão <strong>da</strong><br />

despersonalização sofri<strong>da</strong> pelo paciente hospitalizado, pois deixa de ter seu próprio nome e passa a um<br />

número de leito ou, então, alguém portador de uma determina<strong>da</strong> patologia.<br />

Quanto ao interesse dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem em saber o motivo quando<br />

o usuário encontra-se agitado e agressivo, 11 (78,6%) dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem<br />

demonstraram interesse em saber qual foi o motivo que o levou à agitação e agressivi<strong>da</strong>de, 3<br />

(21,4%) não demonstram esse interesse.<br />

Os relatos <strong>da</strong> atitude <strong>da</strong> equipe de enfermagem do Pronto Socorro perante aos usuários<br />

agressivos foram no sentido de manter a comunicação, a fim de tentar acalmá-los. Para 10<br />

(71,4%) trabalhadores, sendo que 3 (21,4%) conseguem contornar a situação e 1 (7,1%) prefere<br />

passar o caso adiante. Verificamos a conduta <strong>da</strong> equipe de enfermagem do Pronto Socorro frente<br />

ao usuário com crise nervosa e constatamos que 12 (85,7%) dos trabalhadores <strong>da</strong> equipe de enfermagem<br />

conversam para investigar o motivo <strong>da</strong> crise nervosa e 2 (14,3%) classificam o usuário<br />

como distúrbio neurovegetativo.<br />

Somente pela comunicação efetiva é que o profissional poderá<br />

aju<strong>da</strong>r o paciente a conceituar seus problemas, enfrentá-los, visualizar<br />

sua participação na experiência e alternativas de solução<br />

dos mesmos, além de auxiliá-lo a encontrar novos padrões de<br />

comportamentos (SILVA, 2003, p. 14).<br />

Tabela 1-Distribuição dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem do Pronto Socorro<br />

quanto à intervenção <strong>da</strong> chefia nos problemas encontrados neste setor. Londrina, 2005. (n=14)<br />

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VARIÁVEIS ENFERMEIROS E AUXILIARES DE<br />

ENFERMAGEM<br />

n %<br />

Consegue intervir 9 64,2<br />

Às vezes consegue intervir 3 21,4<br />

Depende de quem é o chefe 1 7,2<br />

Não respondeu 1 7,2<br />

TOTAL 14<br />

100<br />

A maioria dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem, 9 (64,2%), referiram que a chefia<br />

consegue intervir nos problemas encontrados no Pronto Socorro.<br />

Verificamos que 10 (71,4%) dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem são atendidos<br />

pelos gestores quando apresentam suas queixas relaciona<strong>da</strong>s ao trabalho, e apenas 4 (28,6%) re-<br />

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Alexandre Alvarenga Ribeiro, Sandra Regina Cervejeira, Eliene Simões Cezar<br />

lataram que nem sempre são atendidos.<br />

Selli (2003) refere que a instituição tem o compromisso de abarcar a formação continua<strong>da</strong><br />

dos profissionais, além de rever, periodicamente, como eles desenvolvem suas habili<strong>da</strong>des,<br />

estabelecem relações com demais integrantes <strong>da</strong> equipe e mesmo com os pacientes e familiares.<br />

A maioria 8 (57,1%) dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem relataram que realizam<br />

suas ativi<strong>da</strong>des sobre pressão psicológica e 6 (42,9%) não referiram este tipo de pressão. Os<br />

relatos dos tipos de pressão psicológica sofri<strong>da</strong> por esses profissionais foram: 8 (100%) para a sobrecarga<br />

<strong>da</strong> deman<strong>da</strong> de pacientes; 5 (62,5%) para o stress financeiro; 5 (62,5%) para o ambiente<br />

estressante, do ponto de vista <strong>da</strong> carga física de trabalho; 5 (62,5%) para o ambiente estressante,<br />

do ponto de vista <strong>da</strong> carga mental de trabalho; 4 (28,4%) para a cobrança por parte dos profissionais;<br />

4 (28,4%) para a cobrança por parte <strong>da</strong> gerência; 4 (28,4%) para pacientes exigentes pelo<br />

atendimento e 3 (21,4%) para a dupla jorna<strong>da</strong> de trabalho.<br />

A pressão psicológica é caracteriza<strong>da</strong> como uma violência psicológica ocupacional que<br />

cria um ambiente hostil de trabalho, contribuindo para um atendimento desumanizado, além de<br />

trazer como consequências os efeitos físicos e psíquicos para o trabalhador, principalmente os que<br />

atuam em serviços de urgência e emergência (CEZAR, 2005).<br />

Cezar (2005) constatou, em uma pesquisa realiza<strong>da</strong> em Londrina, que as equipes de enfermagem<br />

e médica citaram fatores de risco referentes à violência ocupacional. Sendo 22 (46,8%) para a<br />

sobrecarga de deman<strong>da</strong> de pacientes atendidos; 21 (44,7%) citaram os quartos e corredores superlotados,<br />

além disso, consideraram o ambiente estressante, do ponto de vista <strong>da</strong> carga mental de<br />

trabalho; 17 (36,2%) indicaram longa fila de espera; 14 (29,8%) informaram o ambiente estressante,<br />

do ponto de vista <strong>da</strong> carga física de trabalho, <strong>da</strong>dos esses em concordância com alguns de<br />

nossos resultados.<br />

Os serviços de saúde e, de modo particular os hospitais, proporcionam aos seus funcionários<br />

condições de trabalho reconheci<strong>da</strong>mente piores do que as verifica<strong>da</strong>s na grande maioria<br />

dos outros setores de ativi<strong>da</strong>de. Para além dos acidentes de trabalho e <strong>da</strong>s doenças profissionais<br />

propriamente ditas, a ativi<strong>da</strong>de de enfermagem contribui de forma decisiva para a ocorrência de<br />

doenças relaciona<strong>da</strong>s com o trabalho. Os enfermeiros encontram-se expostos, do ponto de vista<br />

etiológico, aos fatores de riscos de natureza física, química, biológica e psicossocial; que se faz<br />

sentir com grande intensi<strong>da</strong>de e justificam a inclusão <strong>da</strong> profissão de enfermagem no grupo <strong>da</strong>s<br />

profissões desgastantes (GASPAR, 1997).<br />

Quando questionamos os enfermeiros e auxiliares de enfermagem quanto ao que mais<br />

gostam de realizar em sua profissão, constatamos que 7 (50%) gostam de aju<strong>da</strong>r os pacientes, 3<br />

(21,4%) de executar os procedimentos, 1 (7,2%) de ouvi-los, 1 (7,2%) relatou a satisfação em<br />

receber o salário e 1 (7,2%) demonstrou satisfação em integrar a assistência e cui<strong>da</strong>r.<br />

Ao serem inquiridos sobre o que mais gosta do seu trabalho no Pronto Socorro, verificamos que<br />

6 (42,9%) referiram à equipe de trabalho, 6 (42,9%) relataram o ritmo de trabalho, 5 (35,7%)<br />

alegaram o horário de trabalho, 4 (28,4%) referiram às amizades e 1 (7,1%) referiu ao cui<strong>da</strong>r dos<br />

idosos procedentes do asilo.<br />

Dos 14 (100%) enfermeiros e auxiliares de enfermagem, 10 (71,4%) consideraram como bom<br />

o relacionamento interpessoal, 3 (21,4%) consideram ótimo e apenas 1 (7,2%) considerou regular .<br />

Em relação à satisfação quanto a trabalhar no Pronto Socorro, 13 (92,8%) mencionaram que estão<br />

satisfeitos em desenvolver as ativi<strong>da</strong>des, neste local, e apenas 1 (7,2%) prefere atuar na pediatria.<br />

Del Cura e Rodrigues (1999) investigaram o nível de satisfação dos enfermeiros e constataram<br />

que o enfermeiro parece estar mais satisfeito com os aspectos intrínsecos de seu trabalho,<br />

tais como, reconhecimento, responsabili<strong>da</strong>de e autonomia. Os extrínsecos que apareceram como<br />

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Assistência de Enfermagem Humaniza<strong>da</strong> no Pronto Socorro de um Hospital de Médio Porte do Norte do Paraná<br />

maiores causadores de insatisfação foram: o nível salarial, a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> supervisão, o relacionamento<br />

com a equipe e as condições de trabalho. Por outro lado, alguns estudos revelaram que<br />

mu<strong>da</strong>nças organizacionais como a formação de uma Associação de Enfermeiros e a possibili<strong>da</strong>de<br />

de oferecimento de uma assistência integral ao paciente, aumentam a satisfação no trabalho, e assim,<br />

contribui para o atendimento humanizado.<br />

Em relação ao treinamento dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem, 8 (57,1%) informaram<br />

que receberam treinamento para prestar uma assistência humaniza<strong>da</strong> e 6 (42,9) não receberam.<br />

Dos 14 (100%) dos trabalhadores <strong>da</strong> equipe de enfermagem, 10 (71,4%) referiram conhecer o (PN-<br />

HAH) e apenas 4 (28,6%) alegaram desconhecer. Quanto à existência do atendimento humanizado no<br />

Pronto Socorro, 9 (64,4%) dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem relataram que há um atendimento<br />

humanizado, e 5 (35,6%) referiram que não há uma assistência humaniza<strong>da</strong>.<br />

O Programa Nacional de Humanização Hospitalar (2001) tem como objetivo a busca pela<br />

melhoraria na Instituição e a formação educacional dos profissionais.<br />

Selli (2003) relatou no lançamento do PNHAH, que quando a palavra foi coloca<strong>da</strong> à disposição<br />

<strong>da</strong> plateia o clamor dos profissionais <strong>da</strong> saúde girou em torno <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de condições mais<br />

humanas de trabalho, como uma possibili<strong>da</strong>de para o exercício humanitário no atendimento em<br />

muitas instituições de saúde espalha<strong>da</strong>s pelo país.<br />

42<br />

A humanização hospitalar, como proposta adequa<strong>da</strong> para qualificar<br />

humanamente o atendimento ao outro, deve incrementar o<br />

processo de crescimento, de valorização e investimento na formação<br />

humana dos sujeitos que integram as instituições (SELLI,<br />

2003, p. 250).<br />

Tabela 2 – Distribuição dos fatores que dificultam o atendimento humanizado no Pronto<br />

Socorro, segundo a equipe de enfermagem. Londrina, 2005. (n=14)<br />

FATORES<br />

ENFERMEIROS E AUXILIARES DE<br />

ENFERMAGEM<br />

n %<br />

Falta de funcionários 9 64,4<br />

Alta deman<strong>da</strong> de usuários 7 50,0<br />

Outros 12 85,7<br />

* Nota: mais de uma resposta foi emiti<strong>da</strong> pelos trabalhadores.<br />

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Os fatores referentes à dificul<strong>da</strong>de no atendimento humanizado, citados pelos enfermeiros<br />

e auxiliares de enfermagem, foram: 9 (64,4%) para a falta de funcionários, 7 (50%) para<br />

alta deman<strong>da</strong> de usuários e 12 (85,7%) alegaram outros, sendo: sobrecarga de trabalho, baixo<br />

salário, poucos leitos, falta de estrutura física, falta de médicos, falta de treinamento, o não saber<br />

conversar, falta de paciência, abor<strong>da</strong>gem inadequa<strong>da</strong> ao paciente pela portaria e registro, pressão<br />

psicológica por parte dos pacientes, dificul<strong>da</strong>de em esperar e falta de paciência dos usuários.<br />

Casate e Corrêa (2005), ao analisarem artigos sobre humanização no atendimento à saúde,<br />

concluíram que to<strong>da</strong>s as déca<strong>da</strong>s demonstraram a necessi<strong>da</strong>de de se investir no trabalhador para<br />

a construção de uma assistência humana, considerando, inclusive, as condições adversas de tra-<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Alexandre Alvarenga Ribeiro, Sandra Regina Cervejeira, Eliene Simões Cezar<br />

balho aponta<strong>da</strong>s como fatores “desumanizantes”, tais como: baixos salários, número insuficiente<br />

de pessoal, sobrecarga de ativi<strong>da</strong>des e jorna<strong>da</strong> dupla/tripla de trabalho.<br />

As sugestões menciona<strong>da</strong>s pelos enfermeiros e auxiliares de enfermagem, quanto ao<br />

atendimento de forma humaniza<strong>da</strong> no Pronto Socorro, foram: 11 (78,6%) para aumentar o quadro<br />

de funcionários, 8 (57,1%) para ampliar a estrutura do Pronto Socorro, 4 (28,4%) para o treinamento<br />

dos funcionários, 2 (14,3%) para melhorar o salário, 2 (14,3%) ter um local para a enfermagem<br />

descansar, 2 (14,3%) para aumentar o número de médicos, 2 (14,3%) para equipar a sala<br />

de emergência e 13 (92,9%) para outros como: ter funcionários mais habilidosos; conscientizar<br />

a população em relação ao atendimento do Pronto Socorro e a Uni<strong>da</strong>de Básica de Saúde; melhorar<br />

o plano de saúde; carga horária e remuneração salarial condizente com o mercado de trabalho;<br />

aumentar número de leitos do Pronto Socorro; orientar e conscientizar os trabalhadores <strong>da</strong><br />

equipe de enfermagem quanto às faltas no trabalho e comprometimento com o serviço; melhorar a<br />

quali<strong>da</strong>de nas ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s pela enfermagem; realizar treinamento sobre atendimento<br />

humanizado para os médicos; maior participação <strong>da</strong> chefia para identificar os problemas; maior<br />

atenção com o profissional em caso de doença; e adequar o trabalhador ao posto de trabalho que<br />

mais lhe satisfizer.<br />

A instituição deve ter e manifestar o interesse pela equipe funcional, conhecer seu grau<br />

de satisfação e saber quais são os motivos geradores de satisfação e insatisfação pessoal e profissional.<br />

Assim como o paciente, o profissional é um ser humano único e, como tal, deman<strong>da</strong><br />

reconhecimento de suas necessi<strong>da</strong>des e a atenção necessária para ter condições de desenvolver a<br />

habili<strong>da</strong>de humanitária no seu ser/fazer profissional (SELLI, 2003).<br />

Quanto aos resultados em relação aos usuários, os <strong>da</strong>dos revelaram que dos 30 (100 %)<br />

usuários que necessitavam de atendimento no Pronto Socorro desse hospital, 16 (53,3%) são pertencentes<br />

ao sexo feminino, 14 (46,7) ao sexo masculino.<br />

A i<strong>da</strong>de variou de 15 a 80 anos. A maioria, 12 (40,0%) concentra-se na faixa etária de 15 a 30 anos,<br />

8 (26,7%) entre 31 e 50 anos, 8 (26,7%) entre 51 e 70 anos e 2 (6,6%) tem mais de 71 anos.<br />

Com relação ao grau de instrução, 1 (3,3%) é analfabeto, 8 (26,7%) tem o primeiro grau incompleto,<br />

5 (16,8%) tem o primeiro grau completo, 2 (6,6%) tem o segundo grau incompleto, 12<br />

(40,0%) tem o segundo grau completo e 2 (6,6%) tem o terceiro grau incompleto.<br />

Tanaka e Resenburg (1990) relataram que 59,84% dos pacientes atendidos no Pronto Atendimento<br />

Municipal, de um Hospital Universitário de São Paulo, não haviam concluído quatro anos de educação<br />

básica, portanto, não possuíam alfabetização básica. Essa condição estaria interferindo não somente na sua<br />

inserção na força de trabalho produtiva, mas restringiria igualmente a utilização plena dos recursos sociais<br />

disponíveis na comuni<strong>da</strong>de.Em relação ao modo de como os usuários gostam de ser tratados pela equipe de<br />

enfermagem, 20 (66,7%) preferem ser tratados pelo nome, 10 (33,3%) não se importam com a forma como<br />

são chamados.<br />

Dos 30 (100%) usuários, 27 (90%) alegaram que os funcionários os chamam pelo nome e 3<br />

(10%) alegaram que não são tratados pelo nome. Comparando com os resultados obtidos dos enfermeiros<br />

e auxiliares de enfermagem, constatou-se que a maioria dos trabalhadores abor<strong>da</strong> os usuários<br />

pelo nome, vindo esse resultado confirmar os <strong>da</strong>dos obtidos junto aos usuários, reforçando, mais uma<br />

vez, que o tratamento pelo nome é importante para não promover a despersonalização.<br />

Sebastiani (1984) refere que a pessoa deixa de ser o José ou Ana, e passa a ser o “21A”<br />

ou o “politraumatizado de leito 4”, ou ain<strong>da</strong>, “a fratura de bacia do “6º an<strong>da</strong>r”; essas características,<br />

que, infelizmente, notamos, em grande parte <strong>da</strong>s rotinas hospitalares, têm contribuído<br />

muito para ausentar a pessoa de seu processo de tratamento, exacerbando o papel de “paciente”.<br />

Martin (2003) relatou que, uma vez garantido o direito à assistência hospitalar, um outro<br />

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Assistência de Enfermagem Humaniza<strong>da</strong> no Pronto Socorro de um Hospital de Médio Porte do Norte do Paraná<br />

direito que cabe às pessoas é o cui<strong>da</strong>do de enfermagem personalizado, respeitoso e, por que não,<br />

carinhoso. No Brasil, há enfermeiros que são exemplares no trato dos pacientes a eles entregues e<br />

fazem questão de conhecê-los pelo nome, tratá-los com respeito e com carinho.<br />

Em relação à demora no atendimento, 14 (46,7%) dos usuários procuraram saber o porquê, 9<br />

(30%) reclamaram para os funcionários e 7 (23,3%) não se importaram.<br />

Lepargneur (2003, p 227) refere que “além <strong>da</strong> espera <strong>da</strong> cura e<br />

saí<strong>da</strong> pela porta <strong>da</strong> frente, além <strong>da</strong> espera do exame anunciado,<br />

<strong>da</strong> medicação que tem horas, <strong>da</strong> intervenção marca<strong>da</strong>, <strong>da</strong> visita<br />

de consulta anuncia<strong>da</strong>, se o administrador, tecnocrata programado,<br />

vai diretamente a seu escritório, o doente geralmente entra<br />

numa fila. Ser doente é entrar numa fila, e fila é a lenta passagem<br />

do tempo inútil, praticamente inutilizável. Fila é espera<br />

na incerteza de um túnel cujo comprimento é desconhecido; é<br />

enfrentamento de uma demora cuja duração é impossível prever.<br />

Na fila, o tempo nos faz seu escravo.”<br />

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Quando os usuários reclamaram com os profissionais <strong>da</strong> equipe de enfermagem deste<br />

Pronto Socorro, 16 (53,4%) escutaram e lhe deram importância, 7 (23,3%) sentiram que não<br />

deram importância, 6 (20%) relataram que não reclamaram e 1 (3,3%) referiu que alguns profissionais<br />

escutaram, <strong>da</strong>ndo-lhe importância à reclamação.<br />

Nas demais investigações em relação ao atendimento humanizado, 17 (56,7%) dos usuários<br />

consideraram satisfatório o atendimento realizado pela equipe de enfermagem, do Pronto Socorro em<br />

estudo, 10 (33,3%) relataram satisfação regular e 3 (10%) sentiram insatisfeitos. Ao serem questionados<br />

se alguma vez foram mal atendidos neste hospital, 24 (80%) alegaram que não e 6 (20%) alegaram<br />

que sim, variando de 1 a 2 vezes a quanti<strong>da</strong>de de mau atendimento recebido.<br />

Em relação ao preparo <strong>da</strong> equipe de enfermagem do Pronto Socorro desse hospital para<br />

atendê-los, 24 (80%) dos usuários consideraram os profissionais bem preparados, sendo que 2<br />

(8,3%) alegaram que os profissionais têm preparo técnico; 4 (13,3%) alegaram que não são bem<br />

preparados para atender, sendo que 2 (50%) relataram que deixam a desejar quanto ao relacionamento<br />

com o usuário, enfocando que precisa de mais atendimento humano.<br />

Dos 30 (100%) usuários, 14 (46,7%) citaram que preferem aquele profissional comunicativo<br />

e que atende rápido, 10 (33,3%) relataram que gostam de ser atendidos pelos profissionais<br />

que são mais comunicativos, 5 (16,7%) preferiram aquele profissional que atende rápido e 1<br />

(3,33%) referiu que o profissional tem que ter quali<strong>da</strong>de, respeito, técnica e atenção.<br />

Os resultados obtidos por Traverso-Yépez e Morais (2004) também mostraram que, quanto às<br />

expectativas com relação ao encontro com o profissional de saúde, os usuários destacaram a busca pela<br />

resolutivi<strong>da</strong>de dos seus problemas (29,3%), bem como a quali<strong>da</strong>de do atendimento recebido (24,4%).<br />

Segundo os ent<strong>revista</strong>dos, este deve basear-se na escuta, diálogo, atenção e respeito.<br />

Dos 30 (100%) dos usuários, 16 (53,3%) perceberam que os funcionários não se interessaram<br />

em saber o motivo <strong>da</strong> sua presença no Pronto Socorro e 14 (46,7%) alegaram que houve<br />

interesse dos funcionários em atendê-los.<br />

Quando questionados sobre a atenção presta<strong>da</strong> pelos profissionais de saúde, 21 (70%) dos<br />

usuários relataram que em algum momento que precisaram de cui<strong>da</strong>dos, não receberam atenção<br />

adequa<strong>da</strong> e 9 (30%) disseram que sim.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Alexandre Alvarenga Ribeiro, Sandra Regina Cervejeira, Eliene Simões Cezar<br />

Segundo Betinelli, Waskievicz e Erdmann (2003), ao adotarmos os diálogos simétricos,<br />

profissionais e pacientes crescem mutuamente, mesmo com conflitos e interesses divergentes, avanços/retrocessos.<br />

Para tal ocorrência é preciso conferir um perfil único e singular a ca<strong>da</strong> ser humano<br />

atendido, distinguindo-o com um olhar de cui<strong>da</strong>do, e transpondo a lógica racional técnico-científica.<br />

Em relação ao que se conclui sobre o atendimento <strong>da</strong> equipe de enfermagem para com o<br />

usuário, concor<strong>da</strong>mos com Lepargneur (2003), quando cita que do setor de enfermagem depende<br />

sumamente a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relações entre pacientes e pessoal hospitalar. Não é por acaso que a<br />

delicadeza requeri<strong>da</strong> faz com que o setor seja ocupado quase que exclusivamente por mulheres. O<br />

sorriso <strong>da</strong> enfermeira, entretanto, e sua delicadeza são outros fatores de humanização. Sobrecarrega<strong>da</strong>s,<br />

cansa<strong>da</strong>s, absorvi<strong>da</strong>s pela técnica ou pela administração, precisam do tempo ou <strong>da</strong> força<br />

para o sorriso. A humanização do hospital não pode dispensar a humani<strong>da</strong>de do pessoal de base.<br />

Tabela 3 – Distribuição dos exemplos de bom atendimento recebidos no Pronto Socorro<br />

deste hospital, segundo os usuários. Londrina, 2005. (n=30)<br />

EXEMPLOS<br />

USUÁRIOS<br />

Medicação recebi<strong>da</strong> 14 46,7<br />

Realização dos exames 12 40,0<br />

Informações recebi<strong>da</strong>s 4 13,3<br />

Atenção recebi<strong>da</strong> 4 13,3<br />

Atendimento 4 13,3<br />

Resolver a situação 2 6,6<br />

Outros 7 23,3<br />

* Nota: mais de uma resposta foi emiti<strong>da</strong> pelos trabalhadores.<br />

45<br />

Em relação aos exemplos de bom atendimento recebido no Pronto Socorro deste<br />

hospital, 14 (46,7%) consideraram a medicação recebi<strong>da</strong>, 12 (40%) a realização de exames, 4<br />

(13,3%) consideram as informações recebi<strong>da</strong>s, 4 (13,3%) referiram a atenção recebi<strong>da</strong>, 4 (13,3%)<br />

relataram o atendimento, 2 ( 6,6%) citaram resolver a situação, 7 (23,3%) mencionaram outros<br />

como o atendimento médico, atendimento recepção/portaria, a rapidez no atendimento, a limpeza,<br />

a triagem, a funcionária que se interessou pelo problema e o encaminhou até o médico.<br />

Traverso-Yépez e Morais (2004) concluíram que:<br />

apesar <strong>da</strong> referência ao desejo de que ocorra uma melhoria na<br />

quali<strong>da</strong>de do atendimento humano recebido, destacado em 22,2%<br />

<strong>da</strong>s respostas, verifica-se também a ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo usuário à<br />

necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> melhoria dos aspectos materiais, estruturais e organizacionais<br />

(46,7%), vistos como deficientes em vários momentos.<br />

O fato de a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do atendimento humano<br />

só ter sido cita<strong>da</strong> secun<strong>da</strong>riamente pode estar associado ao fato<br />

dos profissionais terem sido considerados “bons”, em mais <strong>da</strong><br />

metade <strong>da</strong>s respostas (61,5%), já que eles trabalham com interesse<br />

e gosto (43,9%).<br />

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Assistência de Enfermagem Humaniza<strong>da</strong> no Pronto Socorro de um Hospital de Médio Porte do Norte do Paraná<br />

Em relação aos exemplos de como os usuários não gostam de ser atendidos no Pronto<br />

Socorro do hospital em estudo, 13 (43,3%) referiram a demora no atendimento, 5 (16,6%) a falta<br />

de lugar e acomo<strong>da</strong>ção, 2 (6,6%) a falta de atenção dos profissionais <strong>da</strong> saúde, 2 (6,6%) quando<br />

não explicam o porquê <strong>da</strong> demora no atendimento, 12 (40%) para outros como: a demora para<br />

receber medicação; quando subestimam seu problema; a falta de respeito do médico; a falta de<br />

postura <strong>da</strong> equipe de enfermagem; a limpeza inadequa<strong>da</strong> do Pronto Socorro; os maus-tratos, a<br />

falta de priori<strong>da</strong>des no atendimento; e 9 (30%) não responderam.<br />

Donabedian (1984,1990) relatou que a dimensão <strong>da</strong> aceitabili<strong>da</strong>de pode influir, de forma<br />

mais direta, na definição e avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos serviços de saúde, tais como: condições de<br />

acessibili<strong>da</strong>de ao serviço, relação médico-paciente, adequação <strong>da</strong>s dependências e instalações,<br />

preferências em relação aos efeitos e custos do tratamento, bem como tudo aquilo que o paciente<br />

considera justo.<br />

Lepargneur (2003) descreveu que cabe à administração do hospital providenciar assentos<br />

em quanti<strong>da</strong>de suficiente para os pacientes, se possível ao abrigo do calor (sol) e do frio<br />

(vento) excessivos.<br />

CONCLUSÃO<br />

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Refletir sobre humanização é refletir sobre a vi<strong>da</strong> humana. Vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele que precisa de<br />

cui<strong>da</strong>dos e os vai buscar no âmbito hospitalar. Portanto, o usuário desse serviço, como a vi<strong>da</strong> de<br />

quem cui<strong>da</strong>, no caso em questão os profissionais <strong>da</strong> equipe de enfermagem, que trabalham no<br />

hospital, ambos seres humanos que passaram por um processo de humanização, e que devido à<br />

evolução técnica/científica tiveram suas vi<strong>da</strong>s afeta<strong>da</strong>s no sentido <strong>da</strong> desconstrução <strong>da</strong> humanização,<br />

a qual, para ser impedi<strong>da</strong>, precisa ser refleti<strong>da</strong> por todos aqueles que se veem envolvidos em<br />

tal processo.<br />

Logo, escutar os profissionais <strong>da</strong> equipe de enfermagem em relação à satisfação quanto<br />

ao atendimento humanizado possibilitou concluir que estes, embora exerçam suas ativi<strong>da</strong>des sob<br />

pressão psicológica, sentem satisfação em estar ali enquanto trabalhadores de enfermagem, promovendo<br />

cui<strong>da</strong>dos a quem busque o atendimento, no entanto, demonstraram insatisfação com<br />

relação às condições de trabalho, pois fatores como a alta deman<strong>da</strong> dos usuários e o número de<br />

trabalhadores insuficiente, sobrecarrega-os, além <strong>da</strong> falta de condições na estrutura física para<br />

prestar um atendimento humanizado.<br />

Com relação aos usuários do Pronto Socorro, concluímos que estes consideraram que os<br />

profissionais prestaram um atendimento satisfatório no que diz respeito à atenção e comunicação<br />

e que tem interesse em sanar seus problemas através <strong>da</strong> medicação e a realização de exames, no<br />

entanto, sentiram a insatisfação quanto à demora pelo atendimento e falta de acomo<strong>da</strong>ção.<br />

Os resultados encontrados neste estudo confirmam as hipóteses elabora<strong>da</strong>s pelos autores.<br />

O retorno à reconstrução <strong>da</strong> humanização é possível através de investimentos nos próprios<br />

seres humanos, uma vez que se possa investir em educação permanente para com os trabalhadores<br />

deste hospital, possibilitando escutar a insatisfação e promover a resolução dos problemas<br />

na medi<strong>da</strong> do possível. Assim, como proporcionar aos usuários a sua manifestação de insatisfação<br />

por meio de pesquisas de opinião e reavaliação do atendimento prestado, para que possam sentirse<br />

acolhidos enquanto seres humanos e frágeis.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Alexandre Alvarenga Ribeiro, Sandra Regina Cervejeira, Eliene Simões Cezar<br />

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Priscila Lumi Ishii, Rodrigo Juliano Oliveira, Mariana de Oliveira Mauro<br />

ATIVIDADES BIOLÓGICAS DO CHÁ-VERDE E SUAS IMPLICA-<br />

ÇÕES NA PREVENÇÃO DO CÂNCER<br />

GREEN TEA BIOLOGICAL ACTIVITIES AND YOUR IMPLICATIONS IN<br />

CANCER PREVENTION<br />

Priscila Lumi Ishii*<br />

Rodrigo Juliano Oliveira*<br />

Mariana de Oliveira Mauro<br />

RESUMO:<br />

As modificações na socie<strong>da</strong>de têm como consequência a mu<strong>da</strong>nça no estilo de vi<strong>da</strong> que determina<br />

alterações dos hábitos alimentares causando, dentre outros, prejuízos à saúde, o aumento <strong>da</strong><br />

incidência de câncer na população. As introduções de alimentos funcionais na alimentação diária<br />

podem auxiliar na prevenção e tratamento de patologias. Dentre os alimentos funcionais mais<br />

utilizados destaca-se o chá-verde. Esta revisão bibliográfica apresenta os benefícios desta erva<br />

em estudos que constatam a eficiência na prevenção e no tratamento do câncer, demonstrando sua<br />

ativi<strong>da</strong>de antioxi<strong>da</strong>nte e quimioterápica.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Chá-verde, alimento funcional, antioxi<strong>da</strong>nte.<br />

ABSTRACT:<br />

The modifications in the society have as consequence the change in the life style that determine<br />

alterations of the alimentary habits causing, amongst other <strong>da</strong>mages to the health, the increase<br />

of the incidence of cancer in the population. The functional food introductions in the <strong>da</strong>ily feeding<br />

can assist in the prevention and treatment of diseases. Amongst used functional foods more<br />

the green tea is distinguished. This bibliographical revision presents the benefits of this grass<br />

in studies that studies evidence the efficiency in the prevention and the treatment of the cancer,<br />

demonstrating its antioxi<strong>da</strong>nt and chemmeotherapy activity.<br />

49<br />

KEY WORDS: Green tea, functional food, antioxi<strong>da</strong>nt<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

As mu<strong>da</strong>nças na estrutura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea e nos modos de vi<strong>da</strong> dos grupos de<br />

indivíduos tiveram importantes impactos na saúde <strong>da</strong> população. A hipertensão arterial, a hipercolesterolemia,<br />

o consumo insuficiente de frutas, de legumes e verduras, o excesso de peso, a inativi<strong>da</strong>de<br />

física, entre outros fatores, são apontados como os principais fatores de risco para o desenvolvimento<br />

de doenças crônicas não transmissíveis e diversos tipos de cânceres (INCA, 2006).<br />

As frutas e as hortaliças têm assumido posição de destaque nos estudos que envolvem<br />

a prevenção do câncer. Extensa análise de estudos epidemiológicos realizados, de forma independente,<br />

por comitês de especialistas do World Cancer Research Fund e o American Institute<br />

for Cancer Research (1997) e pelo Committee on Medical Aspects of Food and Nutrition Policy<br />

(1999) destacaram as evidências epidemiológicas de que o consumo de frutas e hortaliças tem um<br />

efeito protetor contra diversas formas de câncer.<br />

* Centro de Estudos em Nutrição e Genética Toxicológica - CENUGEN, Departamentos de Nutrição e Biomedicina, Centro Universitário<br />

Filadélfia - <strong>UniFil</strong>, Londrina – PR.<br />

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Ativi<strong>da</strong>des Biológicas do Chá-Verde e suas Implicações na Prevenção do Câncer<br />

Também se destaca neste tipo de pesquisa o estudo de chás. O chá é uma <strong>da</strong>s bebi<strong>da</strong>s<br />

mais consumi<strong>da</strong>s, no mundo todo, e seu consumo é superado apenas pelo <strong>da</strong> água. O crescente<br />

interesse por este tipo de bebi<strong>da</strong> deve-se, grandemente, aos estudos que demonstram que os mesmos<br />

podem ser ricas fontes de flavonoides e o consumo destes possui uma relação inversamente<br />

proporcional ao risco de doenças degenerativas como câncer e as cardiovasculares. Um dos chás<br />

mais consumidos no mundo é o chá-verde.<br />

1.1 Chá-Verde<br />

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A planta chá verde, Kuntze, é cientificamente chama<strong>da</strong> de Camellia sinensis. O Kuntze é<br />

uma planta <strong>da</strong> família Theaceae (Ternstroemiaceae), conheci<strong>da</strong> popularmente como chá-<strong>da</strong>-índia,<br />

árvore- -do-chá ou chazeiro. Originária do sul <strong>da</strong> China é atualmente cultiva<strong>da</strong> em vários países<br />

como China, Índia, Sri Lanka e no Japão, sendo que seu cultivo deve respeitar áreas de altas<br />

altitudes, com clima quente e úmido. A produtivi<strong>da</strong>de normal <strong>da</strong> cultura é de 10 a 18 tonela<strong>da</strong>s/<br />

hectare de folhas verdes por ano (CUNHA; SIMÕES, 2004).<br />

No mundo, milhares de produtos de origem vegetal são utilizados nas mais varia<strong>da</strong>s formas:<br />

cataplasmas, infusão, macerado filtrado, tinturas, unguentos, poma<strong>da</strong>s, xarope, cápsulas e<br />

na sua forma in natura. O chá é utilizado por infusão que é a forma mais popular dos diferentes<br />

produtos de origem vegetal. Os chás são ricos em compostos biologicamente ativos (flavonoides,<br />

catequinas, polifenóis, alcaloides, vitaminas, sais minerais) que contribuem para a prevenção e o<br />

tratamento de várias doenças (TREVISANATO; KIM, 2000).<br />

No chá-verde (chá não fermentado), depois <strong>da</strong> colheita, as folhas são tosta<strong>da</strong>s no fogo<br />

em grandes recipientes de metal, o que impede a oxi<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s mesmas. Depois, são esmaga<strong>da</strong>s,<br />

frequentemente à mão, secas por 8 a 12 horas e, aromatiza<strong>da</strong>s, assim a cor verde é preserva<strong>da</strong>.<br />

A fermentação também pode ser suprimi<strong>da</strong> por calor úmido (vapor de água), pois o vapor pára a<br />

fermentação mais rapi<strong>da</strong>mente. Esse método é usado no Japão e por isso os chás-verdes japoneses<br />

são mais claros e dão uma infusão verde- -amarela<strong>da</strong> (REVIRAVOLTA, 2006).<br />

O grau de fermentação entre os diferentes chás é a chave para a explicação <strong>da</strong>s diferenças<br />

entre os constituintes químicos destes, pois quanto maior o grau de fermentação, mais pobre em<br />

polifenóis e mais rico em cafeína será o chá. O chá-verde se destaca, entre eles, por ser o que carrega<br />

a maior quanti<strong>da</strong>de de polifenóis, que são os princípios bioativos que possuem proprie<strong>da</strong>des<br />

antioxi<strong>da</strong>ntes (SCOTT LUPER, 1999).<br />

Os polifenóis comumente encontrados no chá são os flavonoides e as catequinas, e esses<br />

constituem aproxima<strong>da</strong>mente 30 a 40% do extrato seco <strong>da</strong>s folhas do chá. A principal e mais<br />

abun<strong>da</strong>nte catequina encontra<strong>da</strong> no chá-verde é a epigalocatequina-3- (EGCG), sendo esta a<br />

principal responsável pelas ações antioxi<strong>da</strong>nte, anticarcinogênica e antiinflamatória do chá-verde<br />

(SIMÕES, 2004; ALSCHULER, 1998; GRAHAM, 1992; MATSUBARA, 2006; VALE, 2004).<br />

Os principais sais minerais do chá-verde são potássio e magnésio, mas níquel, sódio, cobre,<br />

ferro, silício, alumínio, fósforo e cálcio também são encontrados. Outro componente importante do chá<br />

é o flúor, conhecido pelo seu efeito protetor aos dentes. Dentre os glicídios <strong>da</strong> folha destacam-se o inusitol,<br />

açúcares redutores, gomas e pectinas. Encontra-se também uma pequena quanti<strong>da</strong>de de lipídios.<br />

Entre os princípios ativos responsáveis pela ativi<strong>da</strong>de terapêutica do chá, desataca-se seu conteúdo em<br />

polifenóis, que são de três tipos: flavonóides, catecóis e taninos (INNATIA, 2006).<br />

As catequinas são compostos incolores, hidrossolúveis, que contribuem para o amargor<br />

e a adstringência do chá-verde. A classe <strong>da</strong>s catequinas inclui a epicatequina (EC), epigalocatequina<br />

(EGC), galato-3-epicatequina (ECG), galato-3-epigalocatequina (EGCG). As catequinas<br />

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correspondem a, aproxima<strong>da</strong>mente, 26,7% dos compostos presentes no chá-verde (SCHMITZ,<br />

2005; MATSUBARA, 2006).Bhagwat et al. (2003) comparou a composição de flavonoides entre<br />

o chá-preto e o verde e verificou que este último possui maior quanti<strong>da</strong>de de catequinas, enquanto<br />

o chá-preto possui uma maior quanti<strong>da</strong>de de teoflavinas. Os flavonoides são partes integrantes <strong>da</strong> dieta<br />

humana e apresentam proprie<strong>da</strong>des medicinais importantes como: ação antioxi<strong>da</strong>nte, anti-inflamatória,<br />

antialérgica, anticarcinogênica e capaci<strong>da</strong>de de se complexar com macromoléculas (proteínas e polissacarídeos).<br />

Os flavonoides e as catequinas são os principais componentes químicos terapêuticos <strong>da</strong><br />

planta C. sinensis, sendo potentes antioxi<strong>da</strong>ntes, inibidores de radicais livres, quelantes de metais e<br />

inibidores <strong>da</strong> lipoperoxi<strong>da</strong>ção. Suas proprie<strong>da</strong>des estão relaciona<strong>da</strong>s com a presença, em sua estrutura,<br />

de radicais ligados aos seus anéis (SCHMITZ, 2005).<br />

O chá-verde possui cerca de 30-40% de polifenóis, enquanto que, o chá-preto possui<br />

cerca de 3-10%. Um copo de chá-verde contém cerca de 50 a 150mg de polifenóis (SCOTT<br />

LUPER, 1999).<br />

2 AÇÃO ANTIOXIDANTE<br />

Os polifenóis do chá-verde são potentes antioxi<strong>da</strong>ntes. Alguns estudos mostraram que os<br />

polifenóis mais frequentes do chá-verde (catequinas) são mais potentes em suprimir os radicais<br />

livres que as vitaminas C e E. A ativi<strong>da</strong>de antioxi<strong>da</strong>nte <strong>da</strong>s catequinas deve-se ao mecanismo de<br />

transferência de elétron destas para as ROS (espécies reativas de oxigênio), estabilizando estas<br />

substâncias, e dentre as catequinas a EGCG (galato-3-epigalocatequina) é a que possui o maior<br />

poder para transferir este elétron (INNATIA, 2006).<br />

Estudos realizados por Saffari & Sadrzadeh (2004) investigaram a capaci<strong>da</strong>de antioxi<strong>da</strong>nte<br />

do EGCG usando membranas de eritrócitos humanos. A extensão de <strong>da</strong>no oxi<strong>da</strong>tivo em<br />

membranas foi avalia<strong>da</strong> medindo a peroxi<strong>da</strong>ção de lipídio, pelo método do Ácido Tiobarbitúrico<br />

(TBARS), ativi<strong>da</strong>de de ATPases e bomba de Na+/K+ ATPases dependentes. A EGCG bloqueou<br />

a peroxi<strong>da</strong>ção de lipídio em membranas de eritrócitos e protegeu a bomba de Na+/K+ ATPases<br />

dependentes, contra o <strong>da</strong>no induzido pelo AAPH.<br />

51<br />

2.1 Ação quimioprotetora<br />

As evidências de que o chá-verde pode ser usado na prevenção de neoplasias são basea<strong>da</strong>s<br />

em estudos epidemiológicos, in vitro e in vivo. Nakachi & Eguchi (2003) realizaram um<br />

estudo de corte, durante 13 anos, em uma população com i<strong>da</strong>de inferior a 79 anos, no qual observou<br />

em pacientes que consumiam quanti<strong>da</strong>des eleva<strong>da</strong>s de chá-verde, a diminuição no número<br />

de mortes por câncer e doenças relaciona<strong>da</strong>s com o envelhecimento. Assim, o trabalho sugere que<br />

o consumo diário de chá-verde deve aju<strong>da</strong>r a prolongar a vi<strong>da</strong> evitando uma morte prematura,<br />

particularmente causa<strong>da</strong> por câncer.<br />

A participação do chá-verde na prevenção de neoplasias malignas é devi<strong>da</strong> à ação de suas<br />

catequinas na lesão causa<strong>da</strong>, pelos radicais livres, no DNA <strong>da</strong>s células e na indução <strong>da</strong> apoptose<br />

nas células tumorais. Tem sido verificado o envolvimento <strong>da</strong>s topoisomerases na redução proliferativa<br />

promovi<strong>da</strong> pelo chá-verde e pela EGCG. As DNA Topoisomerases I e II são essenciais<br />

para sobrevivência <strong>da</strong> célula, pois têm papel crítico no metabolismo e na estrutura do DNA. Foi<br />

constatado que a EGCG inibe a topoisomerase I, mas não apresenta ação sobre topoisomerase II,<br />

em observações realiza<strong>da</strong>s em linhagens celulares de carcinoma de cólon humano. A combinação<br />

de chá-verde e <strong>da</strong> EGCG com inibidores de topoisomerase poderiam diminuir os efeitos tóxi-<br />

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cos dos tratamentos convencionais, criando, assim, uma nova estratégia para a quimioterapia do<br />

câncer de cólon (BERGER, 2001).<br />

Krul et al. (2001) propuseram um modelo, in vitro, simulando as condições digestivas<br />

humanas para determinar a ativi<strong>da</strong>de antimutagênica do chá-verde. Os autores verificaram que<br />

a ativi<strong>da</strong>de antimutagênica foi correspondente à concentração de antioxi<strong>da</strong>nte utiliza<strong>da</strong> no teste,<br />

tendo-se obtido inibição máxima de 2 horas após o início dos testes.<br />

Os efeitos do chá-verde foram testados na tumorigênese mamária em ratas Sprague-Dawley,<br />

usando como agente cancerígeno o 7,12-dimetilbenzoantraceno (DMBA). O chá-verde aumentou a<br />

latência do primeiro tumor, reduzindo as bor<strong>da</strong>s e a invasivi<strong>da</strong>de tumoral por animal, mas não diminuiu<br />

o número total de tumores. Segundo os autores, pode se considerar que o chá-verde apresenta<br />

ação quimiopreventiva na tumorigênese mamária (KAVANAGH, 2001).<br />

Yang et al. (2000) realizaram um estudo <strong>da</strong> tumorigênese pulmonar induzi<strong>da</strong> em ratos, demonstrando<br />

que os polifenóis inibiram a proliferação celular e induziram a apoptose <strong>da</strong>s células cancerígenas.<br />

O consumo frequente de chá-verde está inversamente associado com o risco de vários<br />

tipos de câncer. A ativi<strong>da</strong>de quimioprotetora do chá-verde pode ser observa<strong>da</strong> por meio de estudos<br />

de epidemiologia que demonstram uma baixa incidência de câncer de próstata nos japoneses<br />

e populações chinesas, que consomem o chá verde regularmente (ADHAMI, 2003). As baixas<br />

frequências de câncer de próstata e de mama, nas populações asiáticas, foram atribuí<strong>da</strong>s ao consumo<br />

elevado do chá-verde que apresenta catequinas e a produtos de soja que contêm a genisteína.<br />

Esses resultados mostram a importância dos alimentos funcionais que possuem ativi<strong>da</strong>des de<br />

quimioprevenção (PARK, 2004).<br />

O chá-verde apresenta efeitos protetores em diferentes fases do processo <strong>da</strong> carcinogênese,<br />

inibindo-o pela modulação <strong>da</strong> transdução de sinais que conduzem à inibição <strong>da</strong> proliferação,<br />

transformação <strong>da</strong>s células e o aumento <strong>da</strong> apoptose. No entanto, para que esta ativi<strong>da</strong>de e a quimioprevenção<br />

sejam efetivas é de fun<strong>da</strong>mental importância a biodisponibili<strong>da</strong>de dos polifenóis<br />

nos tecido (YANG, 2000).<br />

Mittal et al. (2004) verificaram que o tratamento com EGCG inibiu de 20 a 100% a<br />

divisão <strong>da</strong>s células de carcinoma de mama, diminuiu sua viabili<strong>da</strong>de, e não teve efeito sobre<br />

o crescimento <strong>da</strong>s células normais. O tratamento com EGCG, por 48 e 72 horas, aumentou a<br />

porcentagem de apoptose em 32 e 51%. Uma explicação possível do mecanismo de indução de<br />

apoptose pode ser a inibição <strong>da</strong> telomerase e diminuição <strong>da</strong> expressão do mRNA de hTERT, uma<br />

subuni<strong>da</strong>de catalítica <strong>da</strong> telomerase. Os resultados obtidos sugerem a possibili<strong>da</strong>de de uso <strong>da</strong><br />

EGCG como um quimiopreventivo seguro contra o câncer de mama.<br />

Estudos in vitro encontram-se bem avançados, mostrando possíveis mecanismos de<br />

ação contra o câncer, em to<strong>da</strong>s as etapas do desenvolvimento <strong>da</strong> doença: iniciação, promoção e<br />

propagação. Vários destes trabalhos utilizaram extratos de chás, mas atribuíram o efeito protetor<br />

às catequinas e teaflavinas. Utilizando catequinas isola<strong>da</strong>s de seus extratos, em outros estudos,<br />

mostraram a ativi<strong>da</strong>de antioxi<strong>da</strong>nte de epigalocatequina galato e a inibição do crescimento e<br />

secreção de α-fetoproteína por hepatomas humanos, também sob ação de epigalocatequina galato.<br />

A epigalocatequina aumentou a ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> NADPH citocromo C redutase de células cancerosas<br />

de mama (MATSUBARA, 2006).<br />

Em ratos, os estudos com epigalocatequina galato são predominantes, possivelmente por<br />

ser a catequina mais encontra<strong>da</strong> no chá-verde. Este composto impediu o crescimento de tumores<br />

de fígado e intestino (MATSUBARA, 2006).<br />

Os polifenóis do chá-verde inibem a produção dos metabólicos do ácido aracdônico,<br />

tais como prostaglandinas e leucotrienos que são pró-inflamatórios, tendo como resultado uma<br />

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resposta inflamatória diminuí<strong>da</strong>. Os estudos em humanos e em animais demonstram a habili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> EGCG de impedir respostas inflamatórias às radiações ultravioletas A e B e provocar uma<br />

significativa inibição <strong>da</strong> migração dos neutrófilos, que normalmente ocorre no processo inflamatório<br />

(KATIYAR, 1999; HOFBAUER, 1999).<br />

Em estudos realizados com catequinas e teoflavinas foi observado efeito anti-inflamatório,<br />

pré-inibição <strong>da</strong>s enzimas ciclooxigenase 2 (COX-2) e lipoxigenase do metabolismo do ácido<br />

araquidônico. As teoflavinas inibiram a formação de tromboxano (TBX) e 12-ácido-hidroxiheptadecatrienoico<br />

(HHT). Nas mesmas condições experimentais foi observado aumento <strong>da</strong> produção<br />

de prostaglandina E2 (PGE-2). Os autores verificaram que os polifenóis são capazes de reduzir<br />

processos inflamatórios de artrite asséptica em modelos murinos e o consumo de chá pode ser<br />

profilático nos casos de artrite inflamatória, reduzindo a veloci<strong>da</strong>de do desarranjo <strong>da</strong> cartilagem<br />

articular e o risco de enterocolítes ulcerativas, tumores e cânceres de cólon em humanos (HONG,<br />

2001; ADCOCKS, 2002).<br />

O chá-verde destaca-se por proporcionar benefícios à saúde devido aos compostos fenólicos.<br />

Estudos epidemiológicos sugerem que ingestão regular traz benefícios para a aterosclerose,<br />

hipertensão, obesi<strong>da</strong>de, diabetes, os quais representam fatores de risco para as doenças cardiovasculares<br />

(SUNG, 2005; HERNANDEZ, 2004; NAKAGAWA, 1999; MCKAY, 2002).<br />

De acordo com Hernandez (2004) e Faria (2006), o uso do chá-verde pode diminuir a<br />

pressão arterial e ain<strong>da</strong> sugerem que a planta pode ter efeito vasodilatador, melhorando a circulação.<br />

Estudos epidemiológicos, vistos em Waknine (2004), destacaram que o chá-verde também<br />

pode reduzir o risco de desenvolvimento de hipertensão. A prevenção <strong>da</strong> hipertensão pode, ain<strong>da</strong>,<br />

ser possibilita<strong>da</strong> pela ação antiaterosclerótica, como mostraram Rietveld (2003) e Miura (2001).<br />

Estudos como o de Rietveld (2003) demonstrou que o chá-verde possui grande ativi<strong>da</strong>de<br />

protetora do LDL contra sua oxi<strong>da</strong>ção, provavelmente devido ao seu potencial antioxi<strong>da</strong>nte. Sendo<br />

assim, o consumo regular do chá-verde pode conferir proteção contra a aterosclerose e contra<br />

outras doenças cardiovasculares.<br />

Em seu trabalho com células hepáticas HepG2, Bursill (2001), sugeriu que o extrato <strong>da</strong><br />

C. sinensis pode aumentar os níveis e ativi<strong>da</strong>de de receptores do LDL no fígado, exercendo assim<br />

um papel hipocolesterolêmico, possivelmente pela diminuição do colesterol intracelular. Alguns<br />

trabalhos destacaram ain<strong>da</strong> que o chá-verde também possa elevar os níveis de HDL, enquanto<br />

diminui o LDL (YOKOZAWA, 2002; INNATIA, 2006).<br />

Algumas pesquisas mostraram que o chá-verde pode fortalecer o sistema imunológico, prevenindo<br />

infecções por conta de uma ação imunomoduladora – agentes que modulam ou interferem no<br />

processo de imuni<strong>da</strong>de (VALE, 2004; FIGUEIREDO, 2005).<br />

Um dos polifenóis do chá, a catequina, é estu<strong>da</strong><strong>da</strong> por seus efeitos contra a hepatite. Este composto<br />

tem demonstrado ser um eficiente imunoestimulador, promovendo ativação de macrófagos, linfócitos<br />

T citotóxicos e células Natural Killer, em modelos experimentais dose-dependente com ratos. Outros<br />

estudos mostram também possível eficácia contra hepatites virais (SCOT LUPER, 1999).<br />

Hernandez (2004) citou que o consumo de chá-verde leva à diminuição do peso corporal<br />

pela interferência no sistema simpatoadrenal e síntese de ácidos graxos. Os polifenóis do chá-verde<br />

demonstram também inibir lipases in vitro, resultando em diminuição <strong>da</strong> lipólise de triglicerídios, o<br />

que poderia reduzir a digestão de gorduras em humanos (DULLOO, 2000; JUHEL, 2000).<br />

Estudo com ratas diabéticas demonstrou que o chá-verde produz um efeito anti-hiperglicêmico<br />

sem afetar a secreção de insulina. Foi observado também que o chá-verde melhorou a<br />

tolerância à glicose em humanos. Parece assim que o chá possa ser profilático contra a diabetes<br />

e capaz de melhorar a hiperglicemia diabética. Os autores do trabalho especulam, ain<strong>da</strong>, que os<br />

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efeitos observados possam ser devidos à promoção <strong>da</strong> ação <strong>da</strong> insulina nos tecidos periféricos,<br />

como músculo esquelético e adipócitos (TSUNEKI, 2004).<br />

Alguns estudos têm descrito que o extrato de chá-verde possui um efeito inibitório sobre<br />

a ativi<strong>da</strong>de HIV-RT (NAKANE, 1990; FASSINA, 2002). Assim, Fassina (2002) sugeriu a possibili<strong>da</strong>de<br />

do EGCG como um coadjuvante na terapia anti-HIV, devido ao seu poder de inibir a<br />

infecção pelo HIV e replicação do mesmo.<br />

To<strong>da</strong> (1989) relata que o extrato de chá-verde inibiu e matou micro-organismos como<br />

Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Salmonella typhi, Salmonella typhimurium,<br />

Salmonella enteritidis, Shigella flexneri, Shigella dysenteriae, e Vibrio spp, incluindo Vibrio cholerae.<br />

Em outro estudo, To<strong>da</strong> (1992) ain<strong>da</strong> encontrou que as catequinas do chá protegeram coelhos<br />

de uma infecção experimental pelo V. cholerae e sugeriu que pacientes com cólera poderiam ser<br />

beneficiados pela adição de extrato de chá em soluções de reidratação oral.<br />

Estudos epidemiológicos sobre câncer de estômago, um dos mais comuns no mundo,<br />

levaram a investigações sobre o efeito do consumo de chá-- verde em pacientes com gastrites<br />

crônicas e risco de câncer de estômago. Este estudo incluía 133 casos câncer de estômago, 166<br />

casos de gastrite crônica e 433 controles saudáveis. Os resultados mostraram uma relação inversa<br />

entre o consumo de chá-verde e a incidência de ambas as patologias (KRUL, 2001).<br />

CONCLUSÃO<br />

54<br />

A presente revisão bibliográfica permite inferir que o chá-verde possui inúmeras proprie<strong>da</strong>des<br />

funcionai incluindo a capaci<strong>da</strong>de de prevenção de <strong>da</strong>nos no DNA e, por conseguinte, a<br />

prevenção do câncer. Assim, se novos estudos continuarem corroborando os <strong>da</strong>dos aqui citados,<br />

em um futuro muito próximo, o chá-verde poderá ser consumido por um maior número de pessoa<br />

que desejam a prevenção de doenças e a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<br />

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Carragena: Uma Visão Ambiental<br />

CARRAGENA: UMA VISÃO AMBIENTAL<br />

CARRAGEENAN: AN ENVIRONMENTAL VISION<br />

Fernando Pereira dos Santos<br />

Lenita Brunetto Bruniera*<br />

Carlos Eduardo Rocha Garcia**<br />

RESUMO:<br />

O presente estudo teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico para saber a situação<br />

ecológica atual <strong>da</strong> matéria-prima <strong>da</strong> goma carragena. A carragena, uma <strong>da</strong>s gomas mais utiliza<strong>da</strong>s<br />

na indústria alimentícia, é extraí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s algas vermelhas (Rhodophyceae). Esta tem como habitat<br />

o ambiente marinho. A carragena tem sido bastante utiliza<strong>da</strong> na indústria de alimentos, devido às<br />

suas proprie<strong>da</strong>des físico-químicas, conferindo estabili<strong>da</strong>de, corpo e diminuição <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de<br />

água quando adiciona<strong>da</strong>s a produtos lácteos, cárneos, sorvetes, entre outros. Uma segun<strong>da</strong> utilização<br />

é nas indústria de medicamentos, onde é um componente importante na fabricação de pasta<br />

de dente, cremes, etc. Esta goma, também conheci<strong>da</strong> como musgo irlandês, tem a proprie<strong>da</strong>de de<br />

fazer pontes de hidrogênio com a água, fazendo com que o volume do produto, onde adicionado<br />

a carragena, aumente, trazendo vantagens em relação ao custo do produto final. Com a ampla utilização<br />

deste extrato, existe uma preocupação de uma possível extinção <strong>da</strong>s algas utiliza<strong>da</strong>s como<br />

matéria-prima. Por este motivo, vários estudos têm sido realizados objetivando alternativas para<br />

contornar este problema.<br />

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PALAVRAS-CHAVE: Tecnologia de carnes, aditivos alimentícios, impacto ambiental.<br />

ABSTRACT:<br />

The present study, had as objective accomplishes a bibliographical rising to know the current<br />

ecological situation of the matter it excels of the gum carrageenan. The carrageenan, one of the<br />

gums but used in the provision industry, it is extracted of the red algae (Rhodophyceae). This has<br />

as habitat the sea atmosphere. The carrageenan has been enough used in the industry of victuals<br />

due to your properties physical-chemistry, checking stability, body and decrease of the activity<br />

of water when added to milky products, meat, ice creams, among others. A second use is in them<br />

industry of medicines, where it is an important component in the toothpaste production, creams,<br />

etc. This gum, also known as Irish moss, it has the property of doing bridges of hydrogen with the<br />

water, doing with that the volume of the product, where added the carrageenan, increase, bringing<br />

advantages in relation to the cost of the final product. With the wide use of this extract, a concern<br />

of a possible extinction of the algae exists used as matter it excels, for this reason several studies<br />

it has been accomplished aiming at alternatives to outline this problem.<br />

KEY-WORDS: Technology of meats, addictive nutritious, environmental impact.<br />

* Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong> – Curso de Farmácia. Email: fernando.santos@unifil.br; lenita.bruniera@unifil.br; 33757469;<br />

Av. JK, 1626 Centro; CEP: 86.020-000 - Londrina-PR<br />

** Universi<strong>da</strong>de Federal do Paraná – UFPR; Av. Lothário Meissner, 3400 - Jardim Botânico - Curitiba PR - CEP: 80210-170.<br />

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Fernando Pereira dos Santos,Lenita Brunetto Bruniera, Carlos Eduardo Rocha Garcia<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A carragena foi descoberta em 1785, na ci<strong>da</strong>de de Carragena, norte <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>, onde as<br />

algas eram utiliza<strong>da</strong>s para aumentar a viscosi<strong>da</strong>de do leite consumido pela população. O Musgo<br />

irlandês, ou carragena, é um aditivo bastante utilizado na indústria de alimentos, devido à maneira<br />

peculiar com que este reage com as proteínas do leite. O gel fraco que se forma evita a precipitação<br />

de partículas de chocolate e evita que o creme se separa do leite evaporado. (ANTUNES &<br />

CANHOS, 1984)<br />

Este aditivo é também importante na obtenção de géis de baixo teor calórico, sendo utilizado,<br />

portanto, em produtos dietéticos em substituição à gelatina. O gel de carragena apresentam<br />

uma certa “dureza” que pode ser “tempera<strong>da</strong>” pela adição de baixo teor de goma jataí.<br />

(ANTUNES & CANHOS, 1984).<br />

Este trabalho tem como objetivo investigar referências a respeito de questões ambientais <strong>da</strong>s<br />

espécies de algas produtoras de goma carragena, em relação ao avanço de sua utilização comercial.<br />

2. DESENVOLVIMENTO<br />

A carragena tem um importante uso em muitos produtos dietéticos, devido ao fato de<br />

possuir a proprie<strong>da</strong>de de manter a estabili<strong>da</strong>de e a suspensão dos ingredientes em pó solúveis, e<br />

conferir corpo, cremosi<strong>da</strong>de, e textura ao produto. (GLICKSMAN, 1969)<br />

Esta goma é também bastante utiliza<strong>da</strong> na fabricação de produtos cárneos com baixo teor de<br />

gordura (PEDROSO & DEMIATE, 2008; KUMAR & SHARMA, 2004). Estes produtos light<br />

(linguiça, salsicha, etc), têm uma ótima aceitabili<strong>da</strong>de pelos consumidores quanto ao sabor e<br />

textura. A quanti<strong>da</strong>de utiliza<strong>da</strong> é de 0.5% de carragena (SOLHEIM & ELLEKJAER apud<br />

KUMAR & SHARMA, 2004).<br />

De acordo com Pedrosa & Demiate (2008), a carragena é amplamente utiliza<strong>da</strong> em indústrias<br />

alimentícias, onde é destina<strong>da</strong> cerca de 80% <strong>da</strong> produção mundial. Esta goma possui<br />

características físico-químicas que permitem utilizá-la em vários produtos.<br />

Sua utilização na indústria alimentícia se deve às várias vantagens que apresenta para<br />

uso industrial como:<br />

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A) Seu alto poder de absorção (uma parte de carragena absorve 30 partes água) permite<br />

aumento no rendimento e redução nos custos;<br />

B) Ela retém a umi<strong>da</strong>de natural presente no produto e a ele agregado, eliminando<br />

a per<strong>da</strong> de líquidos, uma vez que, sua liberação arrasta as proteínas solúveis e sabores<br />

presentes, desequilibrando, dessa forma, a performance do produto final. Essa<br />

maior retenção de umi<strong>da</strong>de proporciona um prolongamento <strong>da</strong> suculência do produto<br />

e sua característica geleificante melhora sensivelmente a textura e consistência do<br />

produto;<br />

C) Através <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> carragena, consegue-se uma redução <strong>da</strong> água livre (fator<br />

de prolongamento ou não <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> útil do produto), é possível, através <strong>da</strong> sua perfeita<br />

utilização, obter produtos com extensão diferentes e fator de água livre similares.<br />

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D) Ela é muito utiliza<strong>da</strong> atualmente na fabricação de produtos <strong>da</strong> linha light /diet<br />

(onde se retira a gordura e, muitas vezes, a substitui pela carragena), laticínios,<br />

achocolatados em geral, etc.<br />

Na clarificação <strong>da</strong> cerveja, a carragena é adiciona<strong>da</strong> com o propósito de auxiliar o agente<br />

clarificador, acelerando o processo. (MacDONOUGH apud WHISLER & BeMILLER, 1973)<br />

2.1. Tipos de Carragena<br />

Carragena é uma mistura complexa de no mínimo 5 polímeros distintos, designados<br />

Kappa (K), Lamb<strong>da</strong> (l), mu (m), iota (i) e nu (n). Dentre estes, a K e l-carragena são de maior<br />

importância nos alimentos (BRANEN et. al, 1990; VILLANUEVA & MONTAÑO, 2003).<br />

Figura 1: Estrutura química <strong>da</strong> Kappa-carragena<br />

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Figura 2: Estrutura química <strong>da</strong> Lamb<strong>da</strong>-carragena<br />

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Figura 3: Estrutura química <strong>da</strong> Mu-carragena<br />

Figura 4: Estrutura química <strong>da</strong> Iota-carragena<br />

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Fernando Pereira dos Santos,Lenita Brunetto Bruniera, Carlos Eduardo Rocha Garcia<br />

Figura 5: Estrutura química <strong>da</strong> Nu-carragena<br />

2.2. Proprie<strong>da</strong>des<br />

Solubili<strong>da</strong>de<br />

A água é o principal solvente para a carragena. A solubili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> carragena em água é<br />

influencia<strong>da</strong> por vários fatores: incluindo a temperatura, presença de algum tipo de íon associado<br />

como polímeros, presença de outros compostos orgânicos e sais em água, e também o tipo <strong>da</strong> carragena<br />

(FERREIRA & SOLER, 1992).<br />

Em água fria: Todos os sais de sódio de Carragena são solúveis em água fria. Outras<br />

formas de sais, normalmente K+ e Ca++ de Kappa e Iota, não são solúveis, mas se expandirão<br />

em função <strong>da</strong> concentração e tipo de cátions presentes, assim como em função <strong>da</strong> temperatura<br />

<strong>da</strong> água e <strong>da</strong>s condições de dispersão. Na prática, presume-se que, quando a viscosi<strong>da</strong>de de uma<br />

dispersão a frio de Carragena é essencialmente a mesma que seria após seu aquecimento e resfriamento,<br />

a Carragena é solúvel em água fria.<br />

Tal medição deveria ser acompanha<strong>da</strong> por observação visual para assegurar que a mistura<br />

fria seja realmente uma solução e não uma dispersão espessa, segundo o evidenciado pela aparência<br />

de uniformi<strong>da</strong>de ou maciez.<br />

Em leite quente, to<strong>da</strong>s as Carragenas são solúveis, já em leite frio, existe algumas considerações.<br />

A Carragena Lamb<strong>da</strong> tem a melhor capaci<strong>da</strong>de de dispersão em leite com temperaturas<br />

de 5º a 10ºC. A sua sensibili<strong>da</strong>de à presença de K+ e Ca++, juntamente com o seu teor mais elevado<br />

de sulfato de éster, podem ser atribuídos a essa ativi<strong>da</strong>de, em leite frio. Como esperado, quanto<br />

maior o peso molecular de Lamb<strong>da</strong>, menor a concentração necessária para um determinado grau<br />

de espessamento. Também as taxas de dispersão e hidratação dependem tanto do nível de pressão<br />

aplicado, como <strong>da</strong> distribuição do tamanho de partículas de Carragena. A aplicação de alta faixa<br />

de pressão e o uso de produto de fina pulverização facilitarão a hidratação de todos os produtos à<br />

base de Carragena, em leite frio.<br />

No que se refere às Carragenas Kappa e Iota, quanto maior for o teor de 3,6-AG e menor o teor<br />

de sulfato de éster, menos prontamente solúveis elas serão.<br />

Produtos Kappa e Iota, embora normalmente insolúveis em leite frio, adensarão e geleificação,<br />

eficazmente, produtos derivados de leite quando utilizados em conjunto com pirofosfato de tetrassódio<br />

(TSPP). Enquanto esse sal por si só tem a capaci<strong>da</strong>de de formar débeis géis em leite frio, é possível<br />

formar géis muito mais firmes em combinação com Carragena do que apenas com o TSPP.<br />

Em soluções de açúcar: Quando dispersos em soluções frias de açúcar concentrado, todos<br />

os produtos à base de Carragena são relativamente insolúveis, tornando possível utilizar isso<br />

como uma valiosa técnica de dispersão para a Carragena.<br />

As Carragenas Kappa e Lamb<strong>da</strong> permanecem solúveis em soluções de sacarose tão altas<br />

quanto 65% após aquecimento a 70ºC. A Carragena Iota, por outro lado, é apenas escassamente<br />

solúvel em solução de açúcar concentrado a qualquer temperatura.<br />

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Em soluções salinas: Apenas a Carragena Iota tolera soluções concentra<strong>da</strong>s de eletrólitos.<br />

Em teoria, a Carragena Lamb<strong>da</strong> também é solúvel em soluções concentra<strong>da</strong>s de sal. No entanto,<br />

na prática, é comum que produtos do tipo Lamb<strong>da</strong> contenham algum teor de Kappa que os torna<br />

menos compatíveis ao sal.<br />

Com solventes miscíveis em água: Álcool, propileno glicol, glicerina e solventes similares<br />

podem ser incorporados a soluções de Carragena. A quanti<strong>da</strong>de de solvente tolerado depende<br />

do tipo e peso molecular <strong>da</strong> Carragena presente, do equilíbrio de cátions e do método empregado<br />

para incorporar o solvente. Esses solventes miscíveis em água representam excelentes dispersantes<br />

para a Carragena e outros hidrocoloides quando o pó é primeiro disperso ou “umedecido”<br />

no solvente, antes de sua adição à água.<br />

De modo geral, os fatores que tendem a tornar a Carragena mais hidrófila aumentarão sua<br />

tolerância a solventes. Por exemplo, quanto maior for o teor de sulfato de éster e menor o peso<br />

molecular <strong>da</strong> Carragena, maior será a tolerância a solventes.<br />

Viscosi<strong>da</strong>de<br />

A dispersão de carragena, em meio aquoso, é viscosa. A viscosi<strong>da</strong>de depende <strong>da</strong> temperatura,<br />

concentração, e presença de outras moléculas de soluto, do tipo de carragena e do peso <strong>da</strong><br />

molécula. Aumentando a concentração de carragena na solução, a viscosi<strong>da</strong>de aumenta quase em<br />

ordem logarítmica.<br />

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Gelatinização<br />

Estes polissacarídeos têm a particulari<strong>da</strong>de de formar coloides e géis, em meios aquosos,<br />

em concentrações muito baixas. As carragenas, do tipo Lamb<strong>da</strong>, podem atuar como agentes espessantes<br />

a frio ou a quente, as do tipo Iota e Kappa além de serem amplamente utiliza<strong>da</strong>s como<br />

agentes espessantes, em produtos que se preparam em altas temperaturas, também resultam géis<br />

estáveis, em água, à temperatura ambiente sem necessi<strong>da</strong>de de refrigeração.<br />

Esses géis são transparentes e termorreversíveis, conseguindo uma ampla varie<strong>da</strong>de de texturas<br />

desde muito elásticas e coesas, até géis firmes e quebradiços, dependendo <strong>da</strong> combinação <strong>da</strong>s<br />

frações que se utiliza (FERREIRA & SOLER, 1992).<br />

O poder de geleificação <strong>da</strong> Carragena é muito maior em leite devido à sua interação com<br />

a caseína. Utilizando-se concentrações de Carragena bem menores do que em sistemas aquosos<br />

obtêm-se géis de mesma textura.<br />

Kappa-carragena, em concentração menor que 0.3%, produz gel na presença de amônia,<br />

potássio, rubídio, ou sais de césio. A formação reversível deste gel parece ser um fenômeno natural<br />

e de síntese protéica, de suma importância para a o funcionamento dos sistemas biológicos.<br />

Os outros tipos de carragenas apresentam estas proprie<strong>da</strong>des, porém, com características<br />

distintas.<br />

Toxicologia<br />

A Carragena está cataloga<strong>da</strong>, pela Administração de Medicamentos e Alimentos dos EUA<br />

(FDA - Foods and Drugs Administration, como não tóxica e segura para uso humano.<br />

Depois de constatações de ulceração cecal e colônica, em cobaias e coelhos, realizados por meio<br />

de uma Carragena altamente degra<strong>da</strong><strong>da</strong>, produzi<strong>da</strong> para alívio sintomático, cura de úlceras pépticas<br />

e duodenais no homem; foram realiza<strong>da</strong>s investigações intensivas sobre a segurança <strong>da</strong> Carragena<br />

pela FDA e outros grupos patrocinados pela indústria de Carragena.<br />

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Fernando Pereira dos Santos,Lenita Brunetto Bruniera, Carlos Eduardo Rocha Garcia<br />

Testes e estudos realizados durantes muitos anos para garantir a segurança e a inocui<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> Carragena demonstraram a isenção de efeitos colaterais como úlceras gastrointestinais, teratogenici<strong>da</strong>de,<br />

carcinogenici<strong>da</strong>de.<br />

Ações fisiológicas<br />

A Carragena vem sendo usa<strong>da</strong> como um aditivo natural para alimentos, em torno de 600<br />

anos, e, até hoje, não se sabe ao certo se ela pode causar algum <strong>da</strong>no à saúde, como aditivo de<br />

alimentos, mesmo sabendo que não tem nenhum valor nutricional.<br />

A carragena tem sido considera<strong>da</strong> como sendo um agente benéfico no tratamento<br />

de colite ulcerativa e ulcerações no sistema digestivo (BABKIN, B. P. & KOMAROV, S. A.<br />

apud WHISTLER, L. R., 1973)<br />

2.3. Produção, Colheita, Extração<br />

Ela é um extrato produzido por algas marinhas do Filo Rhodophyta (algas vermelhas).<br />

Existem em torno de 30 espécies de algas que são produtoras desta goma. Os gêneros com maior<br />

número de representantes são Eucheuma, Gigartina, Chondrus, Gymnogongrus e Iri<strong>da</strong>ea. (MER-<br />

CIER et al., 2001; WHISTLER & BeMILLER, 1973; RAVEN et al., 1996; RAVEN et al., 2001)<br />

Com a aplicação industrial <strong>da</strong>s carragenas, vários métodos para a colheita são utilizados.<br />

Antigamente, o material fresco era colhido usando barcos especiais e redes, em segui<strong>da</strong>, depositados<br />

na praia. Métodos mais sofisticados têm sido criados para tal prática, como por exemplo, o<br />

uso de mergulhadores. Posteriormente à colheita, é necessário que se faça a separação dos tipos<br />

de algas, pois pode ter influência nos extratos (COSTA & PLASTINO, 2001).<br />

A obtenção do extrato (a carragena) é realiza<strong>da</strong> através do tratamento alcalino (KOH), em<br />

alta temperatura, posteriormente neutraliza<strong>da</strong>, seca e moí<strong>da</strong>. (FERRERA & SOLER, 1992)<br />

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2.4. Preocupação Ambiental e Implantação de Cultivo Comercial<br />

Em virtude de uma ampla utilização deste extrato (tanto na indústria de alimentos como<br />

na indústria farmacêutica), surge uma preocupação em relação à disponibili<strong>da</strong>de de matéria-prima<br />

(a alga propriamente dita). Por este motivo, vários estudos estão sendo desenvolvidos com o objetivo<br />

de implantação de cultivo comercial, em diversos países (TAOUIL & VALENTIN, 2002;<br />

JONH, 2004; ARMISEN apud URSI & PLASTINO, 2001; COSTA & PLASTINO, 2001).<br />

O gênero Gracilaria, tem sido alvo <strong>da</strong> atenção de inúmeros pesquisadores devido ao interesse<br />

econômico dos extratos produzidos por representantes deste gênero (OLIVEIRA & PLAS-<br />

TINO, KAIN & DESTOMBE apud URSI & PLASTINO, 2001).<br />

O interesse na implantação de cultivos comerciais de Gracilaria é crescente. No Brasil,<br />

apesar do consumo de ficocoloides encontrar-se em franca expansão (TAOUIL & VALENTIN,<br />

2002; FURTADO apud URSI & PLASTINO, 2001), as tentativas de cultivos comerciais foram<br />

mal sucedi<strong>da</strong>s (URSI & PLASTINO, 2001). A falta de conhecimento mais detalhado <strong>da</strong> biologia<br />

<strong>da</strong>s espécies passíveis de cultivo vem sendo aponta<strong>da</strong> como uma <strong>da</strong>s razões do insucesso destes<br />

cultivos (URSI & PLASTINO, 2001).<br />

Em 1995, um programa cui<strong>da</strong>doso foi desenvolvido para a introdução experimental de<br />

Kappaphycus alvarezii em águas subtropicais, <strong>da</strong> Bahia de Ubatuba, Estado de São Paulo, Brasil;<br />

com o propósito de obter métodos que possibilitem o cultivo comercial, minimizando, portanto,<br />

o impacto ambiental (PAULA & PEREIRA; PAULA et. al. apud PAULA et al., 2002)<br />

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Carragena: Uma Visão Ambiental<br />

A preocupação com o esgotamento <strong>da</strong> matéria algácea de H. musciformis no ambiente<br />

levou a publicação de alguns trabalhos que avaliam a produção de biomassa em vários locais do<br />

mundo, incluindo o Brasil (FACCINI & BERCHEZ apud BRAVIN & VALENTIN, 2002).<br />

CONCLUSÃO<br />

Vários trabalhos já foram realizados objetivando a implantação de cultivos comerciais,<br />

mas ain<strong>da</strong> são necessários mais estudos, tais como sobre a biologia, aspectos ecológico, entre<br />

outros. Em relação à situação ambiental destas algas, ain<strong>da</strong> há um déficit de informações.<br />

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS E NÚCLEO DE<br />

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS<br />

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Marcelo C. de Cernev Rosa<br />

EXISTENCIALISMO, MARXISMO E ANTROPOLOGIA:<br />

CONSIDERAÇÕES SOBRE O DEBATE ENTRE JEAN-PAUL<br />

SARTRE E CLAUDE LÉVI-STRAUSS<br />

EXISTENCIALISM, MARXISM AND ANTROPOLOGY: CONSIDERATIONS ABOUT THE<br />

DISCUSION BETWEEN JEAN-PAUL SARTRE<br />

AND CLAUDE LÉVI-STRAUSS<br />

Marcelo C. de Cernev Rosa*<br />

RESUMO:<br />

Este artigo analisa determinados aspectos do debate entre Jean-Paul Sartre e Claude Lévi-Strauss<br />

sobre as contribuições do existencialismo para a etnologia. Além disto, abor<strong>da</strong> algumas contribuições<br />

de autores contemporâneos sobre as relações entre evento e estrutura, mito e história.<br />

PALAVRAS-CHAVE: existencialismo, marxismo, etnologia, estruturalismo, história.<br />

ABSTRACT:<br />

This article aims at analysing certain aspects from the discusion between Jean-Paul Sartre and<br />

Claude Lévi-Strauss about the contributions of existencialism to ethnology. In adition, this study<br />

also refers to some contributions from contemporary authors that deals with relation between<br />

event and structure, myth and history.<br />

KEYWORDS: existencialism; marxism; etnology; structuralism; history.<br />

1.INTRODUÇÃO<br />

Este artigo analisa a proposta de Jean-Paul Sartre para a formulação de uma Antropologia<br />

simultaneamente estruturalista e histórica, a partir de uma convergência entre marxismo e existencialismo,<br />

bem como alguns dos desdobramentos do debate em torno <strong>da</strong> questão.<br />

Em Questão de Método (1979), Sartre discute a possibili<strong>da</strong>de/ necessi<strong>da</strong>de de integrar<br />

ao marxismo, as contribuições <strong>da</strong> filosofia existencialista, no intuito de propor uma outra forma<br />

de totalização para o pensamento antropológico, opondo-se radicalmente ao culturalismo norteamericano<br />

e ao estruturalismo levi-straussiano. Esta obra, escrita no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960, deu<br />

início a um debate com Claude Lévi-Strauss, que em O Pensamento Selvagem (2008), publicado<br />

originalmente em 1962, procurou relativizar as críticas dirigi<strong>da</strong>s ao estruturalismo.<br />

Este trabalho ressalta a pertinência <strong>da</strong> argumentação de ambos os autores, sobre temas<br />

que posteriormente viriam a sofrer novos e importantes desdobramentos, principalmente no que<br />

diz respeito à relação entre antropologia e história.<br />

Sartre, apesar de se dizer favorável aos pressupostos <strong>da</strong> análise marxista, procura destacar<br />

que esta possui algumas “limitações” que poderiam vir a ser supera<strong>da</strong>s através de contribuições<br />

extraí<strong>da</strong>s do existencialismo. Apesar <strong>da</strong> centrali<strong>da</strong>de do existencialismo ao longo de to<strong>da</strong> a sua<br />

obra, quando Sartre propõe uma espécie de fusão entre marxismo e existencialismo – que ao seu<br />

ver proporcionaria um enriquecimento para a análise dialética – ele chega a afirmar que a incor-<br />

* Mestre em Antropologia Social (UNICAMP), especialista em Sociologia (UEL), professor adjunto do Centro Universitário Filadélfia<br />

onde leciona Antropologia, Sociologia e Metodologia de Pesquisa.<br />

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poração, por parte do marxismo, de determinados elementos do existencialismo, faria com que o<br />

próprio existencialismo perdesse sua razão de ser.<br />

A partir do dia em que a pesquisa marxista tomar a dimensão humana (isto é, o projeto<br />

existencial) como fun<strong>da</strong>mento do saber antropológico, o existencialismo não mais terá razão de ser:<br />

absorvido, superado e conservado pelo movimento totalizante <strong>da</strong> filosofia, ele deixará de ser uma investigação<br />

particular, para tornar-se o fun<strong>da</strong>mento de to<strong>da</strong> investigação (SARTRE, 1979, p. 146). Uma<br />

consideração desta natureza atesta a importância que este autor atribui ao marxismo.<br />

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Alguns elementos <strong>da</strong> proposta de Jean-Paul Sartre<br />

Segundo Sartre, o homem é “aquilo que ele faz <strong>da</strong>quilo que se fez dele”. Isto significa<br />

dizer que todos os homens estariam circunscritos pelas suas condições materiais de existência, a<br />

um campo de possibili<strong>da</strong>des, e simultaneamente também, ao que talvez se possa denominar como<br />

um campo de “impossibili<strong>da</strong>des”. Neste ponto, seu posicionamento apresenta algumas semelhanças<br />

ao do marxismo, segundo o qual “os homens fazem, eles próprios sua história, mas num meio<br />

<strong>da</strong>do que os condiciona”. (Engels).<br />

Assim, pode-se dizer inicialmente que Sartre concor<strong>da</strong> com o pressuposto marxista segundo<br />

o qual o homem é o construtor de sua história. To<strong>da</strong>via, existe uma diferença radical entre<br />

ambas as perspectivas, que precisa ser explicita<strong>da</strong>.<br />

A concepção de Sartre procura ressaltar a necessi<strong>da</strong>de de se considerar que a vi<strong>da</strong> social,<br />

é percebi<strong>da</strong> e vivi<strong>da</strong> individualmente, não através de condutas culturais pré-estabeleci<strong>da</strong>s,<br />

mas que os indivíduos a vivem como uma perspectiva de futuro. Em outras palavras, eles vivem<br />

buscando realizar os seus projetos individuais. Assim, a noção de projeto utiliza<strong>da</strong> pelo autor<br />

corresponderia a uma objetivação, por parte do indivíduo, de uma possibili<strong>da</strong>de dentre outras<br />

igualmente possíveis a ele.<br />

Sartre critica o culturalismo americano por considerar que em suas análises, as condutas culturais<br />

tendem a ser vistas somente como determina<strong>da</strong>s pelo passado; critica também os marxistas.<br />

Segundo ele, os marxistas operam uma “dialética paralisa<strong>da</strong>”. Eles teriam adotado uma<br />

perspectiva de análise que seria coerente com a economia capitalista, mas que teria acabado por<br />

obstar o desenvolvimento de uma análise mais adequa<strong>da</strong> para as ativi<strong>da</strong>des humanas que num<br />

jargão marxista constituiriam a infraestrutura social.<br />

Assim, o problema do marxismo seria decorrente de buscar uma totalização <strong>da</strong> história.<br />

Ao fazer isso, ele teria perdido de sua perspectiva, a dialética real. Sartre excetua Marx <strong>da</strong>s críticas<br />

que dirige ao marxismo e aos marxistas. Segundo o autor, se por um lado o marxismo acabou<br />

incorrendo neste erro, por outro, em obras como o 18 Brumário, de Luís Bonaparte, pode ser<br />

percebido que o tipo de análise que Marx opera estaria mais próximo à sua proposta.<br />

Ao procurar fazer uma totalização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des humanas, no interior do tempo cartesiano,<br />

o marxismo teria impossibilitado a si mesmo de apreender de forma adequa<strong>da</strong> o que<br />

denomina como a “determinação dialética <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de real”. Isto, porque ao operar nos limites<br />

<strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de cartesiana, a dialética, concebi<strong>da</strong> como movimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de acabaria<br />

por dissolver-se. Assim, Sartre procura destacar, que tanto os homens como suas ativi<strong>da</strong>des não<br />

estariam no tempo, sendo este apenas uma criação humana, como “caráter concreto <strong>da</strong> história”.<br />

Desta forma, se o marxismo, teria avançado inicialmente, no sentido de reconhecer a ver<strong>da</strong>deira<br />

temporali<strong>da</strong>de, quando <strong>da</strong> crítica que operou em relação à noção burguesa de “progresso”,<br />

posteriormente teria vindo a renunciar a continui<strong>da</strong>de de suas investigações neste sentido.<br />

Sua proposta consiste em reparar a dialética marxista, através de um método que denomina<br />

como progressivo-regressivo, o qual proporcionaria uma totalização mais adequa<strong>da</strong> para a vi<strong>da</strong><br />

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Marcelo C. de Cernev Rosa<br />

social. Para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> história, seria necessário pôr em prática uma análise que considerasse a<br />

dinâmica dos projetos individuais.<br />

Pode-se perceber na proposta de Sartre uma certa aproximação à perspectiva de uma sociologia<br />

compreensiva, formula<strong>da</strong> por Max Weber. Como pôde ser visto, até o presente momento, Sartre<br />

procura recuperar a importância <strong>da</strong>s ações individuais, porém no interior do pensamento marxista.<br />

No entanto, cabe destacar que a concepção de ação individual é bastante distinta do conceito<br />

de ação social desenvolvido por Weber. Para Sartre, a ação faz parte de uma práxis que<br />

está intimamente relaciona<strong>da</strong> a um projeto. Em sua concepção, considerar a existência de uma<br />

reali<strong>da</strong>de que é composta, não somente pelas condições materiais de existência, mas também pelo<br />

confronto dos projetos (individuais), seria o único caminho através do qual se poderia chegar a<br />

uma totalização realmente adequa<strong>da</strong>. Em suas próprias palavras:<br />

A práxis [...] é uma passagem do objetivo ao objetivo pela interiorização;<br />

o projeto, como superação subjetiva <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de<br />

em direção à objetivi<strong>da</strong>de, tenso entre as condições objetivas do<br />

meio e as estruturas objetivas do campo dos possíveis, representa<br />

em si mesmo a uni<strong>da</strong>de em movimento <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de,<br />

estas determinações cardeais <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. [...] Apenas<br />

o projeto, como mediação entre dois momentos <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de,<br />

pode <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> história, isto é, <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de humana. É<br />

preciso escolher. Com efeito, ou se reduz tudo à identi<strong>da</strong>de (o<br />

que leva a substituir o materialismo dialético pelo materialismo<br />

mecanicista), ou então, faz-se <strong>da</strong> dialética uma lei celeste que<br />

se impõe ao universo, uma força metafísica que engendra por si<br />

mesma o processo histórico (e é recair no idealismo hegeliano),<br />

ou ain<strong>da</strong> devolve-se ao homem singular seu poder de superação<br />

pelo trabalho e pela ação. Somente esta solução permite fun<strong>da</strong>r<br />

no real o movimento de totalização: a dialética deve ser procura<strong>da</strong><br />

na relação dos homens com a natureza, com as “condições de<br />

parti<strong>da</strong>” e nas relações dos homens entre si. É aí que ela encontra<br />

a sua origem como resultante do confrontamento dos projetos.<br />

(SARTRE, 1979, p. 81, 82-83)<br />

Faltaria ao marxismo a compreensão <strong>da</strong> existência, que em sua perspectiva seria o “fun<strong>da</strong>mento<br />

humano” <strong>da</strong> antropologia marxista. Assim, por não se embasar sobre tal fun<strong>da</strong>mento o<br />

marxismo sofreria de uma “anemia generaliza<strong>da</strong>”.<br />

Como já destacado anteriormente, Sartre ressalta que os problemas que vê no método<br />

marxista não se aplicam às formulações de Marx, mas sim às dos marxistas de seu tempo. Desta<br />

forma, se por um lado o método concebido por Marx seria progressivo, na medi<strong>da</strong> em que resulta<br />

de todo um conjunto de estudos aprofun<strong>da</strong>dos, por outro, – os que Sartre denomina como<br />

“marxistas preguiçosos” – se utilizariam deste método para “constituir o real a priori”. Além<br />

disso, este método também teria sido utilizado pelos políticos do chamado socialismo real, para<br />

justificar suas ações. Em síntese, pode-se dizer que quando Sartre faz tais considerações ele tem<br />

como objetivo demonstrar a existência de um certo “imobilismo” por parte do marxismo.<br />

Ele expõe uma contradição, pois o que havia sido criado justamente para trabalhar com<br />

uma reali<strong>da</strong>de em movimento, acabaria posteriormente trazendo certas “cristalizações” muitas<br />

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vezes nefastas, sobretudo as relaciona<strong>da</strong>s ao stalinismo.<br />

[...] curiosamente, este marxismo stalinizado toma um aspecto<br />

de imobilismo, um operário não é um ser real que mu<strong>da</strong> com o<br />

mundo: é uma idéia platônica. De fato, em Platão, as idéias são<br />

o Eterno, o Universal e o Ver<strong>da</strong>deiro. [...] No mundo stalinista, o<br />

acontecimento é um mito edificante. [...] A materiali<strong>da</strong>de do fato<br />

não interessa a estes idealistas: apenas conta, a seus olhos, seu<br />

alcance simbólico. [...] os marxistas stalinistas são cegos aos<br />

acontecimentos. (SARTRE, 1979, p. 103)<br />

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Também, em virtude <strong>da</strong> falta <strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong> existência enquanto seu fun<strong>da</strong>mento<br />

humano, o âmbito <strong>da</strong>s análises do marxismo teria ficado bastante reduzido. Quanto a este ponto,<br />

as críticas que Sartre dirige ao marxismo são tão severas, ao ponto de <strong>da</strong>r-lhe a designação de<br />

positivista.<br />

Cumpre rejeitar resolutamente o pretenso “positivismo” que impregna o marxismo de hoje e<br />

que o coage a negar a existência destas últimas significações. A mistificação suprema do positivismo<br />

é que pretende abor<strong>da</strong>r a experiência social sem a priori, quando decidiu desde o início negar uma de<br />

suas estruturas fun<strong>da</strong>mentais e substituí-la pelo seu contrário. (SARTRE, 1979, p. 126). Assim, Sartre<br />

destaca que a contradição existente entre as classes sociais não explica tudo.<br />

É certo que o capitalista possui os instrumentos de trabalho e o operário não os possui: eis uma<br />

contradição pura. Mas, justamente, esta contradição não chega a <strong>da</strong>r conta de ca<strong>da</strong> acontecimento: ela<br />

é seu quadro, ela cria a tensão permanente do meio social, o dilaceramento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de capitalista;<br />

apenas esta estrutura fun<strong>da</strong>mental de todo acontecimento contemporâneo (em nossas socie<strong>da</strong>des burguesas)<br />

não esclarece nenhum deles na sua reali<strong>da</strong>de concreta. (SARTRE, 1967, p. 105)<br />

Em virtude de ficar restrito por estas limitações, o marxismo em sua ótica se tornaria um<br />

inumanismo.<br />

Por outro lado, uma vez preserva<strong>da</strong>s as especifici<strong>da</strong>des inerentes à problemática do<br />

marxismo na ótica deste autor - o que se constituiu no objeto desta exposição até o presente<br />

momento – a antropologia também pecaria por não reconhecer a importância do projeto, na<br />

perspectiva existencialista de Sartre, ou, talvez melhor dizendo, por não considerar a importância<br />

<strong>da</strong> intencionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ações dos sujeitos:<br />

Era legítimo que as ciências <strong>da</strong> natureza se libertassem do antropomorfismo que consiste<br />

em emprestar proprie<strong>da</strong>des humanas a objetos inanimados. Mas é perfeitamente absurdo introduzir<br />

por analogia o desprezo do antropomorfismo na antropologia: que se pode fazer de mais<br />

exato, de mais rigoroso, quando se estu<strong>da</strong> o homem, do que reconhecer-lhe proprie<strong>da</strong>des humanas?<br />

A simples inspeção do campo social deveria ter feito descobrir que a relação aos fins é uma<br />

estrutura permanente <strong>da</strong>s empresas e que é nessa relação que os homens reais julgam as ações,<br />

as instituições ou os estabelecimentos econômicos. Dever-se-ia ter constatado, então, que nossa<br />

compreensão do outro se faz necessariamente pelos fins. (SARTRE, 1979, p. 126)<br />

Segundo Sartre, <strong>da</strong> mesma forma que Husserl questiona a mecânica clássica por esta se<br />

utilizar do espaço e do tempo como meios homogêneos e contínuos, sem, no entanto, se interrogar<br />

nem sobre o tempo, nem sobre o espaço, nem sobre o movimento, caberia questionar às ciências<br />

do homem, que não têm interrogado sobre o homem.<br />

Em síntese, pode-se dizer que Sartre ressalta a importância <strong>da</strong>s análises existencialistas,<br />

que operariam através de um método de investigação, que seria ao mesmo tempo progressivo-<br />

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Marcelo C. de Cernev Rosa<br />

regressivo, e analítico sintético, e que ao utilizar a “ideologia <strong>da</strong> existência”, buscariam apreender<br />

a pluridimensionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> história.<br />

Neste sentido, Sartre afirma que o existencialismo teria nascido, justamente, em virtude<br />

<strong>da</strong> falha do marxismo, acima especifica<strong>da</strong>, e tendo se constituído como uma espécie de campo<br />

paralelo de investigação, poderá vir a ser incorporado por ele. O que viria a resolver uma série de<br />

problemas que têm tido consequências importantes, e às vezes até mesmo graves, não somente de<br />

ordem teórica, mas também de ordem prática (como o caso do stalinismo).<br />

Dentre outros benefícios desta incorporação por parte do marxismo, caberia, finalmente,<br />

ressaltar a superação <strong>da</strong> contradição entre antropologia e história, que segundo Sartre, se deve<br />

muito menos a questões de método do que a uma correta compreensão do que seja o humano 1 .<br />

2.AS CONSIDERAÇÕES DE LÉVI-STRAUSS EM RELAÇÃO A SARTRE<br />

Em O Pensamento Selvagem (2008) podemos encontrar uma análise crítica formula<strong>da</strong><br />

em relação à proposta apresenta<strong>da</strong> por Sartre. Lévi-Strauss responde às críticas que foram endereça<strong>da</strong>s<br />

ao estruturalismo. A partir deste momento, serão enfatizados alguns dos elementos do<br />

pensamento levi-straussiano, que podem ser considerados como os mais relevantes no interior<br />

deste debate.<br />

A construção do texto de Lévi-Strauss se constitui numa crítica radical ao posicionamento<br />

de Sartre. No que diz respeito às considerações que ele faz sobre a dialética, Lévi-Strauss<br />

se contrapõe à distinção que ele realiza entre razão dialética e razão analítica. Em sua perspectiva,<br />

o que Sartre concebe como sendo a razão dialética, na<strong>da</strong> mais seria do que a razão analítica em<br />

movimento.<br />

Se na perspectiva de análise de SARTRE a razão analítica seria a “razão preguiçosa”, para<br />

Lévi-Strauss o que corresponderia a este elemento, seria pelo contrário, a razão corajosa por buscar<br />

ultrapassar a si mesma. Assim, uma vez que a proposta de Sartre estaria fun<strong>da</strong><strong>da</strong> sobre uma distinção<br />

que não existe, Lévi-Strauss chega a afirmar que ela não teria razão de ser..<br />

Diametralmente oposto a Sartre, Lévi-Strauss afirma que a finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ciências humanas<br />

não seria a de constituir o homem, mas sim a de dissolvê-lo. Ele procura ressaltar que os que procuram<br />

estabelecer suas investigações nas supostas evidências do eu, correm o risco de cair nas armadilhas <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de pessoal. Neste sentido, em sua ótica, Sartre teria ficado preso em seu próprio pensamento.<br />

Descartes, que queria criar uma física, isolava o Homem <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de. Sartre, que pretende<br />

criar uma antropologia, isola sua socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s outras socie<strong>da</strong>des. Entrincheirado no individualismo<br />

e no empirismo, um Cogito - que quer ser ingênuo e bruto - perde-se nos impasses <strong>da</strong><br />

psicologia social. (LÉVI-STRAUSS, 2008, p. 285)<br />

Em virtude de estar cativo, sua visão sobre o mundo assim como também sobre o homem<br />

seria estreita, e em determinados pontos tal estreiteza o levaria a tirar conclusões que, de certa<br />

1<br />

Cabe ressaltar que esta compreensão não passa pela busca de uma natureza humana, pois segundo Sartre esta não existe. Em suas<br />

próprias palavras: “O ver<strong>da</strong>deiro papel <strong>da</strong>s “ideologias <strong>da</strong> existência” não é o de descrever uma abstrata “reali<strong>da</strong>de humana” que<br />

jamais existiu, mas de lembrar incessantemente à antropologia a dimensão existencial dos processos estu<strong>da</strong>dos. A antropologia só<br />

estu<strong>da</strong> objetos. Ora, o homem é o ser por quem o tornar-se-objeto vem ao homem. A antropologia só merecerá seu nome se substituir<br />

o estudo dos objetos humanos pelo dos diferentes processos do tornar-se-objeto. Seu papel é fun<strong>da</strong>r seu saber sobre o não saber<br />

racional e compreensivo, isto é, a totalização histórica só será possível se a antropologia se compreender em lugar de se ignorar.<br />

Compreender-se, compreender o outro, existir, agir: um só e mesmo movimento, que fun<strong>da</strong> o conhecimento direto e conceitual sobre<br />

o conhecimento indireto e compreensivo, mas sem nunca deixar o concreto, isto é, a história ou, mais exatamente, que compreende<br />

o que sabe. Esta perpétua dissolução <strong>da</strong> intelecção na compreensão e, inversamente, este perpétuo redescender que introduz a compreensão<br />

na intelecção como dimensão de não saber racional no seio do saber, é a ambigui<strong>da</strong>de mesma de uma disciplina na qual o<br />

interrogador, a interrogação e o interrogado se identificam “(SARTRE, 1979, p. 140-141).<br />

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forma, implicariam em retrocessos quando compara<strong>da</strong>s aos avanços e conquistas obtidos pela<br />

etnologia de então. Isto pode ser exemplificado na passagem abaixo:<br />

E, com efeito, que se pode fazer dos povos “sem história”, quando se definiu o homem<br />

pela dialética e a dialética pela história? Às vezes, Sartre parece tentado distinguir duas dialéticas:<br />

a “ver<strong>da</strong>deira”, que seria a <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des históricas, e uma dialética repetitiva e de curto prazo,<br />

que ele concede às socie<strong>da</strong>des ditas primitivas, ain<strong>da</strong> que a colocando muito perto <strong>da</strong> biologia;<br />

expõe, assim, todo seu sistema, já que, pelo viés <strong>da</strong> etnografia, que é, incontestavelmente, uma<br />

ciência humana e que se consagra ao estudo dessas socie<strong>da</strong>des, a ponte demoli<strong>da</strong>, com tanto<br />

encarniçamento, entre o homem e a natureza, encontrar-se-ia sub-repticiamente restabeleci<strong>da</strong>.<br />

(LÉVI-STRAUSS, 2008, p. 283-284, grifos meus)<br />

Na perspectiva levi-straussiana, além <strong>da</strong> contradição presente no trecho acima citado, - ao<br />

conceber o homem pela dialética e esta pela história não restaria “humani<strong>da</strong>de” aos povos ditos<br />

“sem história” -, haveria outra contradição na argumentação de Sartre. Esta, diz respeito ao fato<br />

de seu sistema, ao mesmo tempo em que adota a consciência histórica como critério para distinguir<br />

os povos ditos “primitivos” dos “civilizados”, pretende ser ele mesmo a-histórico.<br />

Quanto às observações de Sartre sobre o método progressivo- -regressivo, Lévi-Strauss<br />

afirma que sua descrição corresponderia justamente ao método que é próprio à etnologia. A esta<br />

caberia, na perspectiva Levi-straussiana, acrescentar que o método etnológico é duplamente progressivo-<br />

-regressivo. Em suas próprias palavras:<br />

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[...] o que Sartre descreve com este termo [método progressivoregressivo]<br />

não é na<strong>da</strong> além do método etnológico, tal como o<br />

praticam os etnólogos há longos anos. Mas Sartre o restringe<br />

a seu processo preliminar. Porque nosso método não é simplesmente<br />

progressivo- -regressivo: ele o é duas vezes. Numa primeira<br />

etapa, observamos o <strong>da</strong>do vivido, analisamo-lo no presente,<br />

procuramos captar seus antecedentes históricos, tão longe quanto<br />

possamos mergulhar no passado, depois trazemos à superfície<br />

todos estes fatos, para integrá-los numa totali<strong>da</strong>de significante.<br />

Então, começa a segun<strong>da</strong> etapa, que renova a primeira em outro plano e em outro nível:<br />

esta coisa humana interioriza<strong>da</strong>, que nos aplicamos a prover de to<strong>da</strong> sua riqueza e de to<strong>da</strong> sua<br />

originali<strong>da</strong>de, fixa, somente, à razão analítica à distância a vencer, o impulso a tomar, para superar<br />

a separação entre a complexi<strong>da</strong>de sempre imp<strong>revista</strong> deste novo objeto e os meios intelectuais<br />

de que dispõe. É preciso, então, que como razão dialética, ela se transforme com a esperança de<br />

que uma vez torna<strong>da</strong> flexível, dilata<strong>da</strong> e fortifica<strong>da</strong>, por ela este objeto imprevisto será reduzido<br />

a outros, esta totali<strong>da</strong>de original fundi<strong>da</strong> em outras totali<strong>da</strong>des, e que assim exalta<strong>da</strong>, pouco a<br />

pouco, sobre o amontoado de suas conquistas, a razão dialética perceberá outros horizontes e<br />

outros objetos. (LÉVI-STRAUSS, 2008, p. 289)<br />

No que diz respeito à importância que Sartre atribui à história, cabe ressaltar que, segundo<br />

Lévi-Strauss, esta estaria sobrevaloriza<strong>da</strong> em detrimento <strong>da</strong>s outras ciências humanas, a tal<br />

ponto, de tornar-se uma “concepção quase mística”.<br />

Em sua ótica, as pesquisas históricas devem ser considera<strong>da</strong>s, pelos etnólogos, como<br />

complementares às pesquisas que estes realizam. Sua complementari<strong>da</strong>de se <strong>da</strong>ria em virtude de<br />

que enquanto a história considera as diferentes socie<strong>da</strong>des em relação ao tempo, a etnologia as<br />

consideraria em relação ao espaço.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Marcelo C. de Cernev Rosa<br />

Lévi-Strauss destaca que apesar de haver uma simetria entre as perspectivas <strong>da</strong> história e <strong>da</strong> antropologia,<br />

no sentido de ambas oferecerem perspectivas equivalentes; existiria uma tendência<br />

por parte de alguns filósofos a considerar a dimensão temporal como se pseudodetentora de um<br />

“prestígio especial”. Em suas próprias palavras: [...] como se a “diacronia criasse um tipo de<br />

inteligibili<strong>da</strong>de, não apenas superior ao que traz a sincronia, mas, sobretudo, de ordem mais especificamente<br />

humana” (LÉVI-STRAUSS, 2008, p. 292).<br />

Isto seria decorrente, segundo este autor, de uma tendência que se tem em encontrar no<br />

conhecimento histórico a evidência de um “sentido íntimo”:<br />

É fácil explicar, se não de justificar, esta opção: a diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formas sociais, que a<br />

etnologia capta desdobra<strong>da</strong>s no espaço, oferece o aspecto de um sistema descontínuo: ora, nós nos<br />

imaginamos que, graças à dimensão temporal, a história nos restitui, não estados separados, mas<br />

a passagem de um estado a outro, sob uma forma contínua. E como acreditamos, nós próprios,<br />

apreender nosso devir pessoal como uma mu<strong>da</strong>nça contínua, parece-nos que o conhecimento<br />

histórico vem ao encontro do sentido íntimo. (LÉVI-STRAUSS, 1973, 292)<br />

No entanto, esta tendência conduz ao erro. Na perspectiva de Lévi-Strauss, os conhecimentos<br />

históricos não se constituem numa forma de conhecimento privilegia<strong>da</strong> em relação às<br />

demais. Isto, porque tais conhecimentos não seriam mais <strong>da</strong>dos que os <strong>da</strong>s demais ciências humanas.<br />

Em outras palavras, eles seriam sempre construídos pelo investigador e resultantes de<br />

determinados recortes.<br />

Assim, em sua perspectiva, não existiria a história, mas sempre uma história para. Ain<strong>da</strong><br />

que hipoteticamente se possa pensar na possibili<strong>da</strong>de de procurar fugir a este aspecto, por assim<br />

dizer relacional, <strong>da</strong> história, buscando uma visão constituí<strong>da</strong> através de uma multiplici<strong>da</strong>de de<br />

perspectivas, segundo Lévi-Strauss (2008, p. 293) nem mesmo desta forma seria possível resolver<br />

o problema. Uma história que buscasse tal totali<strong>da</strong>de acabaria por neutralizar-se, levaria ao caos,<br />

em virtude de que “[...] seu produto seria igual a zero”.<br />

Além disto, caberia ain<strong>da</strong> destacar que Lévi-Strauss possui uma concepção bastante interessante<br />

de história. Ele utiliza a figura de uma matriz retangular forma<strong>da</strong> por linhas verticais<br />

paralelas entre si. Ca<strong>da</strong> linha corresponderia a um nível que seria diferente em relação aos demais,<br />

e que ao mesmo tempo, guar<strong>da</strong>ria uma certa relação hierárquica em relação a estes; de tal forma<br />

que a matriz forma<strong>da</strong> por estas linhas verticais acabaria formando um conjunto descontínuo.<br />

Quando enfocado no interior desta matriz, a história biográfica e anedótica corresponderia<br />

a uma história fraca cuja inteligibili<strong>da</strong>de só seria possível transportando-a para um nível superior, ou<br />

seja, para uma história mais forte. E este nível ou domínio de história, por sua vez, guar<strong>da</strong>ria a mesma<br />

relação, no que tange à sua inteligibili<strong>da</strong>de a outro domínio superior, e assim sucessivamente.<br />

Porém, Lévi-Strauss destaca que seria um erro buscar reconstituir uma totali<strong>da</strong>de histórica<br />

a partir de uma operação que buscasse encaixar os diversos níveis. Isto, porque na medi<strong>da</strong> em<br />

que se avançaria rumo a “níveis mais fortes”, o que o investigador conseguiria ganhar em compreensão,<br />

acabaria perdendo em termos de informação. Em suas próprias palavras:<br />

[...] A história é um conjunto descontínuo, formado de domínios<br />

de história, ca<strong>da</strong> um dos quais é definido por uma frequência<br />

própria e por uma codificação diferencial do antes e do depois.<br />

Entre as <strong>da</strong>tas que compõem uns e outros, a passagem não é mais<br />

possível, assim como não o é entre números naturais e números<br />

irracionais.<br />

[...] Não é, portanto, apenas ilusório, mas contraditório, conce-<br />

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ber o devir histórico como um desenrolar contínuo, começando<br />

numa pré-história codifica<strong>da</strong> em dezenas ou em centenas de<br />

milênios, prosseguindo na escala dos milênios, [...] e continuando,<br />

em segui<strong>da</strong>, sob a forma de uma história secular entremea<strong>da</strong>,<br />

à vontade de ca<strong>da</strong> autor, de pe<strong>da</strong>ços <strong>da</strong> história anual, dentro do<br />

século, ou diária, dentro do ano, se não, mesmo, horária, dentro<br />

do dia. To<strong>da</strong>s estas <strong>da</strong>tas não formam uma série: provêm de espécies<br />

diferentes.<br />

[...] A história biográfica e anedótica, que está bem embaixo na<br />

escala, é uma história fraca, que não contém em si mesma sua<br />

própria inteligibili<strong>da</strong>de, que lhe vem, apenas, quando é transporta<strong>da</strong>,<br />

em bloco, para dentro de uma história mais forte do que<br />

ela; e esta mantém a mesma relação com uma classe de categoria<br />

mais eleva<strong>da</strong>. To<strong>da</strong>via, seria errado pensar que estes encaixes<br />

reconstituem progressivamente uma história total; porque o que<br />

se ganha de um lado, perde-se do outro. A história biográfica e<br />

anedótica é a menos explicativa; mas é a mais rica, sob o ponto<br />

de vista <strong>da</strong> informação, já que ela considera os indivíduos na sua<br />

particulari<strong>da</strong>de e que detalha, para ca<strong>da</strong> um deles, os matizes do<br />

caráter, as sinuosi<strong>da</strong>des de seus motivos, as fases de suas deliberações.<br />

Esta informação se esquematiza, depois se apaga, depois<br />

fica aboli<strong>da</strong>, quando se passa a história ca<strong>da</strong> vez mais ‘fortes’.<br />

Por conseguinte, e conforme o nível em que o historiador se coloca,<br />

perde em informação o que ganha em compreensão. (LÉVI-<br />

STRAUSS, 2008, p. 296; 298)<br />

Neste sentido, em substituição à oposição entre povos “com” e povos “sem história”, ele<br />

propôs a distinção – com finali<strong>da</strong>de heurística - entre “socie<strong>da</strong>des quentes” e “socie<strong>da</strong>des frias”.<br />

Enquanto as primeiras fariam uso do devir histórico para o seu desenvolvimento, as do segundo<br />

tipo, de modo inverso às demais, procurariam neutralizar os efeitos que os eventos históricos<br />

poderiam ter em sua estrutura, resistindo desta forma, a modificações.<br />

A história para Lévi-Strauss seria algo imprevisível, ou aleatório, e o intuito do antropólogo<br />

estruturalista estaria direcionado no sentido de demonstrar que, apesar disto, as transformações que<br />

ocorrem não são acidentais, mas fazem parte de uma série de possibili<strong>da</strong>des que é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo sistema.<br />

Assim, se por um lado, pode-se afirmar que Lévi-Strauss enfatiza a importância <strong>da</strong> história<br />

para a etnologia, por outro percebe-se que em sua perspectiva a história acabou subordina<strong>da</strong> à<br />

estrutura. Além disto, pode ser percebido que, apesar de suas contribuições, em seus trabalhos a<br />

dimensão diacrônica acabou permanecendo ausente na medi<strong>da</strong> em que este autor manteve uma<br />

certa dicotomia entre mito e história.<br />

Caberia ain<strong>da</strong> destacar do interior <strong>da</strong> argumentação de Lévi-Strauss que sua concepção<br />

sobre o pensamento selvagem reconhece como uma <strong>da</strong>s características peculiares deste, o fato<br />

de ser totalizante e intemporal. Assim, nele estaria presente uma busca de apreender o mundo,<br />

simultaneamente, como uma totali<strong>da</strong>de sincrônica e diacrônica.<br />

Isto possibilita compreender como em sua perspectiva, se por um lado to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des<br />

estariam na história, por outro, existiriam diferentes modos de reagir a esta mesma<br />

condição comum.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Marcelo C. de Cernev Rosa<br />

Desta forma, enquanto determina<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des aceitam tal condição – as “socie<strong>da</strong>des<br />

quentes” - outras – “as socie<strong>da</strong>des frias” - a rejeitam e buscam diminuir os efeitos <strong>da</strong> ordem <strong>da</strong><br />

sucessão temporal sobre si. Segundo este raciocínio, haveria socie<strong>da</strong>des que se valem <strong>da</strong> história<br />

e por outro lado, as que a negam, através dos mitos.<br />

Porém, como pode ser percebi<strong>da</strong> na argumentação de Lévi-Strauss, tal negação não faz<br />

destas últimas, socie<strong>da</strong>des “sem história”, mas sim, socie<strong>da</strong>des onde esta não teria se desabrochado,<br />

em virtude de que ela opera através do pensamento mítico.<br />

2.1 DESDOBRAMENTOS MAIS RECENTES<br />

Em autores contemporâneos, dentre os quais Marshall Sahlins e Pierre Bourdieu, há avanços<br />

significativos, dentre outros, no que diz respeito à relação entre Antropologia e História 2<br />

Tendo refutado a aplicabili<strong>da</strong>de do materialismo histórico, enquanto método, para a análise<br />

<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des indígenas em Cultura e Razão Prática (1979), foi em Ilhas de História (1990)<br />

que Sahlins trouxe importantes contribuições para a questão central deste artigo.<br />

Ao analisar o caso do capitão Cook no Havaí, Sahlins (1990) se utiliza <strong>da</strong> dinâmica<br />

histórico-cultural <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de analisa<strong>da</strong>, para exemplificar a necessi<strong>da</strong>de de se repensar as dicotomias<br />

existentes no pensamento acadêmico ocidental, sobretudo, entre estrutura e história. Neste<br />

sentido, faz-se necessário expor em linhas gerais o episódio analisado pelo autor.<br />

O capitão Cook, navegador inglês do século XVIII, tendo aportado em Kealakekua em<br />

1779, foi recebido com to<strong>da</strong> a tripulação de sua embarcação, (Resolution) e com a do outro navio<br />

que o acompanhava (Discovery) – por um grande número de pessoas <strong>da</strong> população local (aproxima<strong>da</strong>mente<br />

10 mil pessoas).<br />

Este acontecimento histórico foi interpretado nos moldes cosmológicos locais como a<br />

chega<strong>da</strong> do deus Lono (deus responsável pela fertili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra), tendo sido reverenciado como<br />

tal 3 . O autor demonstra como no interior desta socie<strong>da</strong>de houve uma série de reificações para que<br />

tal identificação perpassasse por todos os níveis <strong>da</strong> população local.<br />

No entanto, se num primeiro momento esta identificação entre acontecimento e cosmologia<br />

foi benéfica para o navegador inglês, posteriormente ela se revelaria como fatal a este personagem.<br />

O capitão Cook foi assassinado em 14 de fevereiro, em decorrência do que Sahlins<br />

denominou como um conflito na estrutura <strong>da</strong> conjuntura.<br />

Tendo sido identificado inicialmente como o deus Lono, e uma vez aquiescendo a tal<br />

identificação, o capitão Cook permaneceu na região por algum tempo, e em 04 de fevereiro do<br />

mesmo ano resolveu partir. Sahlins destaca que houve uma série de incríveis coincidências, pois<br />

assim como a chega<strong>da</strong> do navegador teria coincidido com o período inicial do Makahiki, sua saí<strong>da</strong><br />

também coincidiria com os rituais finais deste período.<br />

De fato, em 04 de fevereiro, o capitão Cook partiu com seus tripulantes. To<strong>da</strong>via, em<br />

virtude de uma séria avaria no seu navio, já em alto mar, provocado por uma tempestade, e por<br />

problemas de conservação <strong>da</strong> embarcação, teve que retornar.<br />

Seu retorno inesperado e inexplicável acabou por significar um perigo eminente à população<br />

local. Na cosmologia desta população, a presença do deus Lono, após a realização do Makahiki,<br />

punha em risco a soberania do rei. E em virtude de tais ameaças, bem como <strong>da</strong> forma como<br />

2 Cabe ressaltar que devido aos objetivos e às limitações deste artigo as contribuições de Sahlins e de Bourdieu serão apresenta<strong>da</strong>s<br />

de maneira bastante sintética.<br />

3<br />

Sahlins ressalta que o nome do local onde o capitão Cook desembarcou (Kealakekua) significa “O caminho do Deus”, numa referência<br />

explícita ao fato de ser onde geralmente, a imagem do deus Lono começa e finaliza o circuito em direção à direita <strong>da</strong> ilha.<br />

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o capitão Cook procurou abor<strong>da</strong>r o rei, o navegador acabou sendo assassinado, na praia. Com seu<br />

assassinato, a ameaça foi neutraliza<strong>da</strong> e tudo voltaria à “normali<strong>da</strong>de”.<br />

Como Sahlins destaca, aparentemente tudo permanecia como antes, ou seja, os acontecimentos<br />

históricos teriam sido interpretados, culturalmente, dentro <strong>da</strong> estrutura mítica local. Isto<br />

poderia <strong>da</strong>r margem à interpretação de que a socie<strong>da</strong>de havaiana seria uma socie<strong>da</strong>de “fria” no<br />

que se refere à distinção formula<strong>da</strong> por Lévi-Strauss, já destaca<strong>da</strong> anteriormente.<br />

To<strong>da</strong>via, como o autor demonstra, isto não é ver<strong>da</strong>deiro. Se por um lado o ocorrido com<br />

o capitão Cook exemplifica a operação de uma certa neutralização <strong>da</strong> história pela estrutura; por<br />

outro lado, a passagem do capitão Cook pelo Havaí trouxe profun<strong>da</strong>s alterações nesta estrutura.<br />

Segundo ele, ao permitir a incorporação de acontecimentos exteriores em suas categorias,<br />

abre-se a possibili<strong>da</strong>de de que estas sejam funcionalmente reavalia<strong>da</strong>s. Assim, Sahlins destaca<br />

que a práxis seria um risco para os significados dos signos <strong>da</strong> cultura.<br />

O esquema cultural é colocado em uma posição duplamente perigosa, isto é, tanto subjetiva<br />

quanto objetivamente: subjetivamente pelo uso motivado dos signos pelas pessoas para seus<br />

projetos próprios; objetivamente, por ser o significado posto em perigo em um cosmos totalmente<br />

capaz de contradizer os sistemas simbólicos que presumivelmente o descreveriam. A aposta objetiva<br />

reside, portanto, nas desproporções entre palavras e coisas. To<strong>da</strong> implementação de conceitos<br />

culturais em um mundo real submete esses conceitos a alguma determinação pela situação.<br />

(SAHLINS, 1990, p. 186)<br />

Este é um ponto fun<strong>da</strong>mental na concepção de Sahlins, a de que a estrutura não é estática,<br />

– sem querer cair em uma <strong>da</strong>s dicotomias que ele critica – ela seria dinâmica, processual, e por<br />

isso pode-se pensar em transformação estrutural.<br />

Desta forma, antes de ser exclusivamente quem informa a ação, a estrutura também é informa<strong>da</strong><br />

por ela. Em outras palavras, a estrutura também seria um desenvolvimento produtivo <strong>da</strong>s<br />

categorias e de suas relações. Na ver<strong>da</strong>de, segundo Sahlins, o simbólico deve ser visto como algo<br />

pragmático - os homens em sua vi<strong>da</strong> prática submetem as categorias culturais a riscos empíricos 4<br />

(1990, p. 9) – como uma síntese ao longo do tempo entre reprodução e variação.<br />

Caberia ressaltar que, segundo o autor, em virtude do pensamento ocidental pressupor<br />

estabili<strong>da</strong>de e mu<strong>da</strong>nça como elementos antitéticos, existe uma série de dicotomias que atravessa<br />

o meio acadêmico e acaba por orientar a sua produção. Assim, acaba-se por confundir o passado<br />

com a cultura e a mu<strong>da</strong>nça com a história. Suas observações apontam para o sentido de romper<br />

tais dicotomias, inclusive a existente entre mito e história.<br />

Ao conceber a cultura como uma síntese entre estabili<strong>da</strong>de e mu<strong>da</strong>nça e entre o presente<br />

e o passado, Sahlins demonstra a necessi<strong>da</strong>de de romper com essas dicotomias. Assim, ao incorporar<br />

a diacronia na estrutura, o autor cancela ao mesmo tempo as oposições entre estrutura e<br />

história e entre estabili<strong>da</strong>de e mu<strong>da</strong>nça. Em suas próprias palavras:<br />

Parece-me haver algo a mais nessa tempestade num copo de água<br />

do Pacífico Sul do que apenas uma possível teoria <strong>da</strong> história. Há<br />

também uma crítica básica às distinções ocidentais através <strong>da</strong>s<br />

quais geralmente se pensa a cultura, como as supostas oposições<br />

entre história e estrutura ou entre estabili<strong>da</strong>de e mu<strong>da</strong>nça.<br />

Utilizamos constantemente, em nosso folclore nativo assim como<br />

4 Neste sentido, Sahlins traz a diacronia para dentro <strong>da</strong> própria noção de estrutura. Assim, ele afirma que existem estruturas prescritivas,<br />

mas também estruturas performativas. Desta maneira ele dissolve a oposição entre a estrutura e a história.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Marcelo C. de Cernev Rosa<br />

em nossas ciências sociais acadêmicas, essas dicotomias reifica<strong>da</strong>s<br />

na divisão do objeto antropológico. [...] aquilo que sugere<br />

este breve exemplo havaiano, é que não há base alguma em termos<br />

de fenômeno – e, menos ain<strong>da</strong>, alguma vantagem heurística<br />

– em considerar a história e a estrutura como alternativas mutuamente<br />

exclusivas. A história havaiana está, to<strong>da</strong> ela, basea<strong>da</strong><br />

na estrutura, na ordenação sistemática de circunstâncias contingentes,<br />

ao mesmo tempo que a estrutura havaiana provou ser<br />

histórica. (SAHLINS, 1990, p. 179-180)<br />

Se em Sahlins há uma superação de várias dicotomias no interior <strong>da</strong> etnologia, em<br />

Bourdieu há uma ruptura em relação ao estruturalismo levi-straussiano.<br />

Segundo Bourdieu, em Coisas Ditas (2004), existe uma tendência entre os etnólogos<br />

à objetivação, ou seja, a buscar descobrir ou formular, quais seriam as regras que regeriam os<br />

fenômenos sociais, e em procurar explicar a gênese de tais fenômenos como se fossem decorrentes<br />

de tais regras. Ele denomina tal tendência como juridismo.<br />

Neste sentido, ele destaca que a etnologia não teria atentado para o fato, já observado<br />

por Max Weber, que as regras não possuem uma eficácia imanente, ou automática. Isto implicaria<br />

na necessi<strong>da</strong>de de reconhecer, que nem tudo o que ocorre em socie<strong>da</strong>de seria resultante<br />

<strong>da</strong> existência de regras codifica<strong>da</strong>s. Muito pelo contrário, ele ressalta, justamente, que existem<br />

outros princípios geradores de práticas sociais, que atuam no âmbito do que denomina como<br />

senso prático.<br />

A experiência etnográfica de Bourdieu lhe possibilitou perceber nas socie<strong>da</strong>des que<br />

apresentam um baixo grau de codificação de suas práticas sociais, que nestas populações, em<br />

grande parte, tais práticas seriam decorrentes de uma espécie de sistema de disposições para a<br />

prática, o que denominou como habitus 5 .<br />

Assim, ao invés de considerar as práticas sociais como determina<strong>da</strong>s por regras, ele<br />

propõe pensar tais práticas como fazendo parte de um jogo. A utilização deste termo tem como<br />

objetivo possibilitar pensar nos agentes enquanto portadores de estratégias, no interior de um<br />

determinado quadro, que Bourdieu denomina como campo. No interior do campo, ca<strong>da</strong> indivíduo<br />

conhece o sentido do jogo, que, no entanto, não equivale a qualquer regra defini<strong>da</strong> 6 .<br />

Em outras palavras, a noção de jogo em Bourdieu possibilita visualizar a existência de<br />

agentes produzindo uma vi<strong>da</strong> social, que obedece a certas regulari<strong>da</strong>des, sem que, no entanto,<br />

estas sejam necessariamente resultantes <strong>da</strong> obediência a alguma regra determina<strong>da</strong>.<br />

Por operar de forma ambígua em relação à noção de regra, não distinguindo-a do termo<br />

regulari<strong>da</strong>de, na ótica de Bourdieu, a etnologia estruturalista correria o risco de “substituir a<br />

coisa <strong>da</strong> lógica (o código) pela lógica <strong>da</strong> coisa (os esquemas práticos e a lógica parcial <strong>da</strong> prática<br />

que estes geram)” (Bourdieu, 2004, p.100). Este erro também estaria presente na linguística,<br />

desde Saussure até Chomsky, à medi<strong>da</strong> que, esta “tende a confundir os esquemas geradores que<br />

funcionam no nível prático com o modelo explícito, a gramática, construí<strong>da</strong> para explicar os<br />

enunciados”. (Bourdieu, 2004, p. 86).<br />

5 Deve ser levado em consideração, que a aplicabili<strong>da</strong>de do conceito de habitus formulado por Bourdieu, a partir do estudo <strong>da</strong>s<br />

estratégias matrimoniais dos cabila e dos berarneses, não se restringe às chama<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des ágrafas. Na ver<strong>da</strong>de, este conceito<br />

possui valor explicativo dentre outros objetos, às estratégias de casamento <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des ditas ocidentais.<br />

6 Bourdieu ressalta a necessi<strong>da</strong>de de se ter muito claro, a distinção entre regra e regulari<strong>da</strong>de. Segundo ele, no estruturalismo formulado<br />

por Lévi-Strauss, muitas vezes o termo regra é empregado, sem que se expresse exatamente qual seria a sua real significação.<br />

Assim, ele teria se tornado ambíguo.<br />

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Caracterização do Perfil dos Adolescentes de Londrina e Região<br />

Entretanto, cabe ressaltar o fato de que apesar de Bourdieu empregar a noção de estratégia<br />

no seu quadro conceitual, esta, não equivaleria a uma escolha consciente e individual, que poderia<br />

guar<strong>da</strong>r certa semelhança à noção de projeto, desenvolvi<strong>da</strong> por Sartre. A noção de estratégia em<br />

Bourdieu está diretamente relaciona<strong>da</strong> à de habitus, ou seja, as estratégias seriam algo, por assim<br />

dizer, automático do senso prático e não seriam conscientes. Em suas próprias palavras:<br />

A noção de estratégia é o instrumento de uma ruptura com o ponto<br />

de vista objetivista e com a ação sem agente que o estruturalismo<br />

supõe (recorrendo, por exemplo, à noção de inconsciente). Mas<br />

pode-se recusar a ver a estratégia como o produto de um programa<br />

inconsciente, sem fazer dela o produto de um cálculo consciente e<br />

racional. Ela é produto do senso prático como sentido do jogo, de<br />

um jogo social particular, historicamente definido, que se adquire<br />

desde a infância. (BOURDIEU, 2004, p. 81)<br />

80<br />

Assim, ao mesmo tempo em que Bourdieu se contrapõe ao estruturalismo, ele ressalta<br />

que sua proposta não significaria um retorno a um subjetivismo. Na ver<strong>da</strong>de, ela se constituiria<br />

numa tentativa de romper, simultaneamente, com o subjetivismo e com o objetivismo.<br />

As críticas que Bourdieu dirige ao estruturalismo são contundentes. Segundo este autor,<br />

os resultados de suas pesquisas teriam ficado empobrecidos. Por exemplo, no que diz respeito aos<br />

casamentos, na medi<strong>da</strong> em que o estruturalismo teria buscado somente regras e não teria percebido<br />

a existência de regulari<strong>da</strong>des que operam independentemente destas, a complexi<strong>da</strong>de dos<br />

casamentos teria ficado subsumi<strong>da</strong> às regras do parentesco.<br />

2.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Ao analisar o debate entre Sartre e Lévi-Strauss, conclui-se que apesar <strong>da</strong> proposta de<br />

Sartre para a constituição de uma etnologia simultaneamente estruturalista e histórica - através<br />

de uma convergência entre marxismo e existencialismo - não ser viável, novos desdobramentos<br />

teórico-metodológicos trouxeram soluções mais adequa<strong>da</strong>s para a superação de dicotomias como:<br />

estabili<strong>da</strong>de e mu<strong>da</strong>nça, sincronia e diacronia, cultura e história. Isto exemplifica como o debate<br />

acadêmico contribui não somente para uma compreensão mais adequa<strong>da</strong> de determina<strong>da</strong>s noções<br />

e conceitos, mas também, para a construção de novos e importantes instrumentais analíticos.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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V<br />

I<br />

S<br />

T<br />

A<br />

BOURDIEU, Pierre. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004.<br />

LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. 4. ed. Campinas: Papirus, 2008.<br />

SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.<br />

SARTRE, Jean-Paul. Questão de Método. São Paulo: DIFEL, 1979.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Anthonia Campos, Angélica Kuroki, Simone Olioni, Juliana Sanches<br />

CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DOS ADOLESCENTES DE<br />

LONDRINA E REGIÃO.<br />

THE ADOLESCENT’S CHARACTERISTIC IN LONDRINA AND REGION<br />

Anthonia Campos<br />

Angélica Kuroki<br />

Simone Olioni<br />

Juliana Sanches<br />

RESUMO:<br />

O presente trabalho apresenta uma análise dos principais resultados de uma pesquisa que teve<br />

como objetivo conhecer as características dos adolescentes de Londrina e região. Os sujeitos<br />

foram 375 adolescentes, entre 10 e 18 anos de i<strong>da</strong>de, estu<strong>da</strong>ntes de quinta à oitava série do ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental e médio. E destes, constatou-se que se faz necessário a implementação de um programa<br />

que vise uma prevenção precoce em relação à sexuali<strong>da</strong>de e drogadicção.<br />

ABSTRACT:<br />

This study presents an analysis of the main results of a search which purpose was known the<br />

adolescent’s characteristic in Londrina and region. It was analyzed 375 teen-ager between 10-18<br />

years old, students of 5ª - 8ª grade. Ascertain that, is necessary to include a program that view an<br />

early prevention about sexuality end drugs.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A adolescência é um período de difícil transição, pois é uma passagem <strong>da</strong> infância para<br />

a fase adulta. Cronologicamente ela pode se iniciar aos 12 anos e terminar aproxima<strong>da</strong>mente aos<br />

20. Durante esta etapa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o indivíduo irá passar por transformações físicas, intelectuais e<br />

sociais, mediados pelo estrógeno e testosterona.<br />

O corpo começa a mu<strong>da</strong>r e vão surgindo dúvi<strong>da</strong>s, vontades, ansie<strong>da</strong>des. Nessa época,<br />

tudo é vivido intensamente e tudo mu<strong>da</strong> muito rápido: o adolescente oscila suas opiniões, ideias,<br />

comportamentos, humor, assim como mu<strong>da</strong> de roupa. Estas mu<strong>da</strong>nças marcantes levarão ao amadurecimento,<br />

que é o objetivo desta fase marca<strong>da</strong> por duas aquisições importantes: a capaci<strong>da</strong>de<br />

reprodutora e a identi<strong>da</strong>de pessoal.<br />

É também neste período que ocorre a formação de valores, <strong>da</strong> identificação com pessoas<br />

que admirarão ou com grupos de amigos e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de sexual. Durante esta descoberta sexual,<br />

eles experimentarão o relacionamento a dois, através do ficar ou do namorar.<br />

Entrar em contato com as drogas, demonstrar comportamento depressivo e agressivo,<br />

mu<strong>da</strong>r seus comportamentos em relação aos pais, a religião e a escola, formar grupos de amigos<br />

e ser instável emocionalmente são características dos adolescentes.<br />

Estas características, que serão analisa<strong>da</strong>s durante a pesquisa, são consequências <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de,<br />

<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de descobertas, de contestar e criticar, de assumir responsabili<strong>da</strong>des, de<br />

se tornar independente e de procurar conforto e compreensão. A adolescência é uma fase bastante<br />

complexa, com inúmeros fatores a ser estu<strong>da</strong>do e compreendido. Portanto, para se obter um conhecimento<br />

acerca desse período viu-se a necessi<strong>da</strong>de de analisar os diversos comportamentos que<br />

englobam a adolescência.<br />

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Caracterização do Perfil dos Adolescentes de Londrina e Região<br />

2. METODOLOGIA<br />

Amostra: A amostra contou com 375 adolescentes, entre 10 aos 18 anos de i<strong>da</strong>de, estu<strong>da</strong>ntes<br />

de quinta à oitava série do ensino fun<strong>da</strong>mental e médio, residentes <strong>da</strong> região metropolitana<br />

de Londrina e atendi<strong>da</strong>s pelo Núcleo Regional de Educação de Londrina.<br />

Instrumento: A partir <strong>da</strong> aplicação de um pré-teste, foi elaborado um questionário com 37 questões<br />

fecha<strong>da</strong>s. Para o presente trabalho, o Centro de Informática <strong>da</strong> <strong>UniFil</strong> criou um programa informatizado<br />

que auxiliou na tabulação, cruzamento e análise dos <strong>da</strong>dos.<br />

2.1 Análise e Discussão dos Resultados<br />

É importante ressaltar que o presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e que os<br />

<strong>da</strong>dos coletados foram relativos aos que os pais consentiram que seus filhos participassem <strong>da</strong> pesquisa.<br />

De acordo com os <strong>da</strong>dos coletados através dos questionários, pode-se observar que dentre<br />

os 375 participantes, a maioria, equivalente a 62,4%, eram do sexo feminino e os outros 37,6% do<br />

sexo masculino.<br />

Gráfico 01: Distribuição dos <strong>da</strong>dos de acordo com o sexo dos ent<strong>revista</strong>dos.<br />

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100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

%<br />

Masculino (37,6%)<br />

Feminino (62,4%)<br />

A pesquisa incluiu adolescentes <strong>da</strong> faixa etária de 10 aos 18 anos, entretanto, a maior<br />

parte dos ent<strong>revista</strong>dos estavam situados na faixa dos 16 anos, representando 21,87% dos ent<strong>revista</strong>dos,<br />

seguidos dos adolescentes com 11 e 12 anos que resultaram em 6,93%.<br />

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Anthonia Campos, Angélica Kuroki, Simone Olioni, Juliana Sanches<br />

Gráfico 02: Distribuição dos <strong>da</strong>dos de acordo com a i<strong>da</strong>de dos ent<strong>revista</strong>dos.<br />

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70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

%<br />

10 anos (0,8%)<br />

11 anos (3,73%)<br />

12 anos (3,2%)<br />

13 anos (12%)<br />

14 anos (17,07%)<br />

15 anos (15,73%)<br />

16 anos (13,87%)<br />

17 anos (21,87%)<br />

18 anos (6,93%)<br />

19 anos ou mais (4,8%)<br />

A maioria dos ent<strong>revista</strong>dos que responderam o instrumento autorizado pelos pais, cursava<br />

a oitava série do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e o terceiro ano do Ensino Médio, resultando em 44,36%<br />

do total.<br />

Gráfico 03: Distribuição dos <strong>da</strong>dos de acordo com a série dos ent<strong>revista</strong>dos.<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

%<br />

5ª série (5,38%)<br />

6ª série (6,45%)<br />

7ª série (14,52%)<br />

8ª série (19,09%)<br />

1ª ano (13,44%)<br />

2ª ano (15,86%)<br />

3ª ano (25,27%)<br />

83<br />

Dentre esses adolescentes, 68,18% moram com os pais, sendo que 70% dos pais dos<br />

ent<strong>revista</strong>dos são casados. Vale ain<strong>da</strong> lembrar que, dentre os adolescentes que não vivem com<br />

a mãe ou com o pai, 4,77% moram com os avós. Em relação aos aspectos familiares, segundo<br />

Zagury (2000), é na adolescência que eles tendem a se separar dos pais, quebrando a imagem de<br />

pessoas perfeitas, começando a ver defeito em tudo, criticando e julgando-os.<br />

Através <strong>da</strong> pesquisa, também obtivemos o resultado de que 54,67% dos ent<strong>revista</strong>dos<br />

usam algum tipo de droga. Este resultado pode estar relacionado com o fato <strong>da</strong> adolescência, segundo<br />

Costa e Souza (2002), ser uma fase de curiosi<strong>da</strong>des, de procura de identi<strong>da</strong>de, de experiências<br />

que tragam novas respostas existenciais, pela necessi<strong>da</strong>de de testar limites e envolvimento<br />

em situações de risco. Cabe ain<strong>da</strong> lembrar que para compreender tal comportamento deve-se<br />

analisar, além <strong>da</strong>s características próprias desta fase, as circunstâncias particulares que o indivíduo<br />

esta inserido.<br />

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Caracterização do Perfil dos Adolescentes de Londrina e Região<br />

Dentre os usuários, 42,59% começaram com 14 ou 13 anos e 46,29% não tentou nem<br />

pensou em parar. De acordo com Zagury (2000), um outro fator que pode favorecer a utilização<br />

<strong>da</strong>s drogas é a dificul<strong>da</strong>de de enfrentar situações considera<strong>da</strong>s problemáticas, sendo assim, a<br />

droga pode favorecer o indivíduo a se alienar <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Podemos também ressaltar que os<br />

locais que frequentam e o grupo de amigos podem influenciar na utilização, lembrando que nesta<br />

faixa etária o contato com os amigos parece ser bastante reforçador.<br />

Gráfico 04: Distribuição dos <strong>da</strong>dos de acordo com a i<strong>da</strong>de que os ent<strong>revista</strong>dos<br />

começaram a utilizar algum tipo de droga.<br />

100<br />

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70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

%<br />

14 anos (22,22%)<br />

13 anos (20,37%)<br />

15 anos (11,11%)<br />

16 anos (11,11%)<br />

12 anos (9,26%)<br />

11 anos (9,26%)<br />

10 anos ou menos<br />

(8,33%)<br />

17 anos (7,41%)<br />

18 ou mais (0,93%)<br />

84<br />

As drogas mais utiliza<strong>da</strong>s são o álcool, com 50,99% às vezes e 3,68% frequentemente,<br />

o tabaco com 11,58% às vezes e 2,26% frequentemente, calmantes com 4,82% às vezes e 0,28%<br />

frequentemente, seguindo <strong>da</strong> maconha com 3,31% às vezes. Segundo a Organização Mundial de<br />

Saúde, a falta de informações, saúde deficiente, insatisfação com sua quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e fácil<br />

acesso às drogas são facilitadores ao uso de substancias químicas. Acrescentamos que fatores<br />

sociais, como padrão de mo<strong>da</strong> e comportamento, são reforçados socialmente, o que pode ser mais<br />

um pré-dispositivo para o uso de drogas.<br />

Gráfico 05: Distribuição dos <strong>da</strong>dos de acordo com os ent<strong>revista</strong>dos que utiliza ou utilizou algum<br />

tipo de droga e com que frequência.<br />

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60<br />

50<br />

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30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Álcool (54,67%)<br />

Tabaco (13,84%)<br />

Calmantes (5,1%)<br />

Maconha (3,31%)<br />

Remédios (3,13%)<br />

Solventes (1,69%)<br />

Cocaína (1,13%)<br />

Crack (0,57%)<br />

Heroína (0,28%)<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Anthonia Campos, Angélica Kuroki, Simone Olioni, Juliana Sanches<br />

Portanto, podemos perceber, assim como relata Zagury (1999), que não existe um único<br />

fator de risco, mas sim um conjunto de elementos que, estando presentes, aumenta a possibili<strong>da</strong>de<br />

do indivíduo voltar-se para as drogas, que inclui desde curiosi<strong>da</strong>de, pressão social até fuga de<br />

situações aversivas.<br />

Com relação ao desenvolvimento <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de, Costa e Souza (2002), está ligado ao<br />

desenvolvimento biológico e psicossocial. De acordo com a pesquisa realiza<strong>da</strong>, a maioria dos<br />

adolescentes iniciaram a vi<strong>da</strong> sexual aos 14 anos (7,14%), a maioria <strong>da</strong>s meninas (5,68%) começou<br />

com 15 anos e os meninos (10,07%) aos 14 anos. Grande parte dos adolescentes ent<strong>revista</strong>dos<br />

(66,29%), ain<strong>da</strong> não teve experiência sexual.<br />

Gráfico 06: Distribuição dos <strong>da</strong>dos de acordo com a i<strong>da</strong>de que ocorreu a primeira<br />

experiência sexual dos ent<strong>revista</strong>dos.<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

%<br />

Ain<strong>da</strong> não ocorreu<br />

(66,29%)<br />

14 anos (7,14%)<br />

15 anos (6,86%)<br />

16 anos (5,71%)<br />

13 anos (4,57%)<br />

11 anos (2,57%)<br />

12 anos (2,29%)<br />

10 anos ou menos (1,71%)<br />

17 anos (1,71%)<br />

18 anos ou mais (1,14%)<br />

85<br />

Para Costa e Souza (2002), os adolescentes demonstram grande interesse em saber<br />

como desempenhar uma ativi<strong>da</strong>de sexual de forma prazerosa e sem culpa, mas encontram pais<br />

despreparados, informações incorretas, preconceitos morais e religiosos. Desta forma, a maioria<br />

dos adolescentes inicia sua vi<strong>da</strong> sexual de forma não planeja<strong>da</strong> e desinforma<strong>da</strong>, gerando vários<br />

problemas como gravidez e doenças. Este conceito não ficou evidente, pois apenas (5,88%) dos<br />

adolescentes <strong>da</strong> pesquisa, que já teve iniciação sexual, não sabiam se já tiveram alguma doença<br />

relaciona<strong>da</strong> ao sexo, como sífilis, gonorreia, entre outras; em contraparti<strong>da</strong>, entre as questões<br />

apresenta<strong>da</strong>s, a pergunta relaciona<strong>da</strong> à AIDS apresentava várias opções, sendo que to<strong>da</strong>s eram<br />

corretas e deveriam ser assinala<strong>da</strong>s e não foram. A alternativa menos assinala<strong>da</strong> foi sexo oral<br />

(39,2%), em segui<strong>da</strong> relações heterossexuais (49,33%); a alternativa mais assinala<strong>da</strong> foi a que<br />

citava uso de agulhas contamina<strong>da</strong>s (75,73%). Esses <strong>da</strong>dos nos mostram que os adolescentes<br />

precisam realmente de mais informações acerca <strong>da</strong> forma de transmissão <strong>da</strong> AIDS.<br />

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Caracterização do Perfil dos Adolescentes de Londrina e Região<br />

Gráfico 07: Distribuição dos <strong>da</strong>dos de acordo com o conhecimento dos<br />

ent<strong>revista</strong>dos em relação à AIDS.<br />

100<br />

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80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

%<br />

Uso de agulhas<br />

contamina<strong>da</strong>s (75,73%)<br />

Contato sangue/ sangue<br />

(71,47%)<br />

Transfusão de sangue<br />

(70,13%)<br />

Sexo anal (55,2%)<br />

Relações homossexuais<br />

(49,87%)<br />

Relações heterossexuais<br />

(49,33%)<br />

Sexo oral (39,2%)<br />

86<br />

Com relação à gravidez, 60,78% <strong>da</strong>s meninas ent<strong>revista</strong><strong>da</strong>s exigem que seu parceiro use<br />

camisinha. Dentre os meninos, 85,1% também recorrem à camisinha para evitar a gravidez em<br />

uma garota, como consta na literatura.<br />

Quanto à religião, a pesquisa mostrou que 93,91% dos adolescentes ent<strong>revista</strong>dos responderam<br />

ter religião. As duas religiões mais cita<strong>da</strong>s pelos adolescentes foram a católica, com<br />

57,98%, e em segui<strong>da</strong> a evangélica, com 20,80%. Outras religiões também foram menciona<strong>da</strong>s,<br />

mas com uma porcentagem muito pequena.<br />

Sabe-se, segundo Zagury (1999), que a adolescência é uma fase de análises, críticas e<br />

reflexões e a religião é bastante questiona<strong>da</strong> por eles, podendo, muitas vezes, afastar-se <strong>completa</strong>mente<br />

desta ou ligar-se de forma radical, assumindo este modelo religioso. A pesquisa não pode<br />

afirmar que estes adolescentes estão totalmente afastados <strong>da</strong> religião, nem que frequentam, pois<br />

não foi o objetivo desta. Apenas sabemos que eles dizem ter uma, pois apenas 6,09% dos ent<strong>revista</strong>dos<br />

alegaram não ter religião.<br />

CONCLUSÃO<br />

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Podemos inferir que os resultados coletados, através do instrumento de pesquisa, podem<br />

ser de uma amostra vicia<strong>da</strong>, ou seja, de adolescentes que têm pais participativos na vi<strong>da</strong> familiar,<br />

já que foi permitido que respondessem o questionário somente aqueles adolescentes que devolveram<br />

o Consentimento Livre Esclarecido assinado pelos pais ou responsáveis.<br />

Mesmo assim, concluímos que existe a necessi<strong>da</strong>de de um programa que vise uma prevenção<br />

precoce em relação à sexuali<strong>da</strong>de e drogadicção, trabalhando com autoestima, autoconfiança<br />

e autorresponsabili<strong>da</strong>de. Ressaltando que este trabalho de prevenção deve ser proposto com<br />

crianças de 1ª à 4ª série de ensino fun<strong>da</strong>mental, com suas famílias, com os docentes e técnicos <strong>da</strong><br />

escola, favorecendo uma rede de apoio para a saúde e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Anthonia Campos, Angélica Kuroki, Simone Olioni, Juliana Sanches<br />

REFERÊNCIAS<br />

BOCK, A ,B; FURTADO, O; TEIXEIRÀ, M. L. Psicologias: uma Introdução ao.Estudo de<br />

Psicologia. 1 3ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1999.<br />

COSTA, M. C. O, SOUZA, R. P. Adolescência: aspectos clínicos e psicossociais. Porto alegre:<br />

Artmed. 2002.<br />

FERREIRA. B. W. O Cotidiano do Adolescente. Petrópolis-RJ: Vozes,<br />

MULLER, M. S. CORNELSEN, J. M. Normas e Padrões para Teses. Dissertações e Monografias.<br />

Londrina-PR: Universi<strong>da</strong>de Estadual de Londrina. 2003.<br />

PAPALIA. D. E; OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 2000.<br />

ZAGURY, T. Encurtando a Adolescência. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1999.<br />

ZAGURY, T. Adolescente por ele mesmo. Rio de Janeiro: Record, 2000.<br />

87<br />

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Contribuições <strong>da</strong> Psicologia Histórico-Cultural para a Atuação Crítica <strong>da</strong> Psicologia Escolar<br />

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL<br />

PARA A ATUAÇÃO CRÍTICA DA PSICOLOGIA ESCOLAR<br />

CONTRIBUTIONS OF HISTORIC-CULTURAL PSYCHOLOGY FOR THE CRITICAL PER-<br />

FORMANCE OF SCHOOL PSYCHOLOGY<br />

Patrícia Vaz de Lessa*<br />

Maril<strong>da</strong> Gonçalves Dias Facci**<br />

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RESUMO:<br />

Muito se tem discutido acerca <strong>da</strong> visão crítica em Psicologia Escolar e a necessi<strong>da</strong>de de fun<strong>da</strong>mentos<br />

teóricos consistentes para a intervenção na educação. Desta forma, o presente artigo tem<br />

como objetivo apontar as contribuições <strong>da</strong> Psicologia Histórico-Cultural no campo <strong>da</strong> Psicologia<br />

Escolar. Partindo do materialismo histórico e dialético, o texto discute, em um primeiro momento,<br />

a visão de homem e a relação ensino-aprendizagem e segue analisando aspectos que caracterizam<br />

uma visão crítica, tais como: a compreensão sobre o fracasso escolar, modelos de intervenção que<br />

superem uma visão clínica, formas de avaliação, parceria com a escola no cumprimento de sua<br />

função, assim como vínculos estabelecidos na comuni<strong>da</strong>de escolar. Verifica-se, ao longo do texto,<br />

a importância do profissional de Psicologia ter clareza sobre sua direção teórica no desempenho<br />

de seu trabalho e as contribuições, ou até mesmo consequências, que este profissional pode obter<br />

advin<strong>da</strong>s de sua ação. O psicólogo está inserido em processos de desenvolvimento, aprimoramento<br />

e li<strong>da</strong> com o que é mais precioso: o ser humano. A reflexão sobre as formas como utiliza<br />

os conhecimentos psicológicos em pról <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de deve ser constante em uma prática que vê<br />

como objetivo principal a humanização de todos os alunos.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Psicologia Histórico-Cultural. Psicologia Escolar. Visão crítica.<br />

ABSTRACT:<br />

Much has been discussed about the critical view in School Psychology and the need for consistent<br />

theoretical grounds for intervention in education. Thus, this article aims to point out the contributions<br />

of Historic-Cultural Psychology in the field of school psychology. Based on the historical<br />

and dialectical materialism, the paper argues, in a first moment, the vision of man and teachinglearning<br />

relationship and follows examining aspects that characterize a critical view, such as: the<br />

understanding of the school failure, models of intervention that exceed a vision clinic, forms of<br />

assessment, partnership with the school in fulfilling its function as well as links established in the<br />

school community. There is throughout the text, the importance of professional psychology to<br />

be theoretical clarity about its direction in the performance of its work and contributions, or even<br />

consequences, that this professional may be acquired resulting from its action. The psychologist<br />

is embedded in processes of development, improvement and deals with what is most precious:<br />

the human being. The discussion about procedures to use the psychological knowledges in behalf<br />

of the community must be constant in a practice that sees as its main objective the humanization<br />

of all students.<br />

KEYWORDS: Historic-Cultural Psychology. Psychology School. Vision criticism.<br />

* Graduação em Psicologia, docente do Departamento de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>.<br />

** Doutora em Educação Escolar pela UNESP/Araraquara, Professora do Departamento de Psicologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de<br />

Maringá – UEM e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia <strong>da</strong> UEM.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Patrícia Vaz de Lessa, Maril<strong>da</strong> Gonçalves Dias Facci<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Na busca de responder os questionamentos postos pela prática social dos homens, a Psicologia<br />

se tornou uma ciência de inúmeras linhas de pensamento, as quais apresentam pressupostos<br />

e concepção diferencia<strong>da</strong>: o desenvolvimento do psiquismo humano. Diante <strong>da</strong> varie<strong>da</strong>de de<br />

posições, apresenta-se a proposta de reflexão pauta<strong>da</strong> na Psicologia Histórico-Cultural, que tem<br />

o materialismo histórico-dialético como fun<strong>da</strong>mento e se propõe esclarecer e ampliar a compreensão<br />

de como se dá a constituição <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de do sujeito, considerando, sobretudo, as<br />

condições histórico-sociais que formam esse indivíduo.<br />

Em um primeiro momento, apresentaremos uma discussão sobre os fun<strong>da</strong>mentos marxistas<br />

que norteiam a Psicologia Histórico-Cultural na compreensão do desenvolvimento e aprendizagem<br />

dos indivíduos; em um segundo momento, desenvolveremos alguns aspectos <strong>da</strong> Psicologia<br />

Escolar Crítica.<br />

2. PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL, MARXISMO E RELAÇÃO DESENVOLVI-<br />

MENTO - APRENDIZAGEM<br />

O marxismo norteia os pressupostos <strong>da</strong> Psicologia Histórico-Cultural. Tanamachi (2007)<br />

afirma juntamente com outros autores que tomam o trabalho de Marx e o materialismo histórico<br />

dialético como referência teórica, que é necessário estu<strong>da</strong>r o indivíduo concreto, uma vez que este<br />

é, de acordo com o marxismo, a síntese <strong>da</strong>s relações sociais. Entender o marxismo desta forma,<br />

para Tanamachi (2007), é não antecipar ver<strong>da</strong>des psicológicas e nem ter respostas prontas, mas<br />

sim ter essa base teórica como fio condutor para resolver problemas epistemológicos <strong>da</strong> Psicologia<br />

e definir o sentido e as finali<strong>da</strong>des para o estudo do homem.<br />

Conforme Sève (apud TANAMACHI, 2007, p. 64), a concepção marxista pode contribuir<br />

na especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Psicologia como ciência, no sentido de explicar o que é um homem,<br />

o homem real, as contradições que vivem no desenvolvimento histórico-cultural e explicar as<br />

relações históricas entre a necessi<strong>da</strong>de e a liber<strong>da</strong>de individual desse indivíduo social. Para que<br />

a psicologia se torne uma ciência <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de humana concreta, é preciso articulá-la com<br />

a “[...] concepção científica geral de homem, constituí<strong>da</strong> pelo materialismo histórico dialético”<br />

(TANAMACHI, 2007, p. 74).<br />

Segundo Vygotski (1995), estu<strong>da</strong>r algo historicamente é estu<strong>da</strong>r o movimento, já que<br />

seria contraditório pensar que o estudo <strong>da</strong> história inclui somente o passado. A história está em<br />

constante movimento e este movimento é uma <strong>da</strong>s exigências do método dialético, não por imposição,<br />

mas por coerência ao movimento que o método promove. Um estudo baseado no método<br />

proposto envolve ir à origem, à vi<strong>da</strong>, como se desenvolveu, que relação existe entre os fatos<br />

históricos, identificar as questões que estão “fossiliza<strong>da</strong>s”, ou seja, questões que foram impressas<br />

no homem ao longo <strong>da</strong> história, mas que, ao mesmo tempo, podem ser modifica<strong>da</strong>s. Essa transformação<br />

pode surgir em decorrência <strong>da</strong>s condições apresenta<strong>da</strong>s ao indivíduo.<br />

A premissa defendi<strong>da</strong> por Vygotski (1995) é que o homem é fruto do ambiente externo<br />

e a categoria trabalho contribui para a modificação do homem externo, bem como o interno.<br />

De acordo com Engels (1986), o trabalho é condição básica e fun<strong>da</strong>mental de to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong><br />

humana; para o autor, o homem foi criado pelo trabalho. Por meio do trabalho, modificando a natureza,<br />

o homem se modificou e modifica continuamente. Assim, o mundo interno e o externo estão<br />

interagindo o tempo todo, numa relação dialética constante, onde o processo se dá pela apropriação,<br />

que gera a objetivação e que leva novamente à apropriação, conforme explica Duarte (1993).<br />

89<br />

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Contribuições <strong>da</strong> Psicologia Histórico-Cultural para a Atuação Crítica <strong>da</strong> Psicologia Escolar<br />

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Segundo Vygotski (1995), o comportamento do homem é externo –interpsicológico – para<br />

depois se tornar interno – intrapsicológico, ou seja, é o meio externo que dá o sentido e contribui<br />

para o indivíduo internalizar esse sentido. Todo aprendizado, portanto, primeiro acontece na relação<br />

entre os homens para depois ser internalizado. Para este autor, o pensamento está num patamar<br />

superior ao <strong>da</strong> percepção, porque exige organizações prévias <strong>da</strong>s ideias e, mediante esta organização,<br />

cria recursos externos, ou seja, estratégias, que o ajude a decidir sobre determinado assunto,<br />

em determina<strong>da</strong> situação. O autor destaca que todo comportamento é mediado por instrumentos e<br />

signos. O instrumento provoca uma ou outra mu<strong>da</strong>nça no objeto e se constitui em meio de ativi<strong>da</strong>de<br />

exterior do homem, orientado a modificar a natureza; já o signo é o meio de que se vale o homem<br />

para influir psicologicamente em sua própria conduta, assim como na dos demais.<br />

Os recursos externos – signos – que o homem cria para decidir sobre algo podem ser<br />

variados, como: uma anotação nas mãos que serve para lembrar algo que não pode esquecer;<br />

cartões de figuras para a criança relacionar às palavras; a troca de anel de uma <strong>da</strong>s mãos. A escrita<br />

também pode ser considera<strong>da</strong> como um recurso utilizado pelo homem e que serve para registrar<br />

os fatos e aju<strong>da</strong>r a memória a relembrar o que passou, sob esta forma, a escrita tem a função de<br />

registrar e auxiliar o desenvolvimento <strong>da</strong> memória. De acordo com o autor russo, to<strong>da</strong>s as funções<br />

psicológicas superiores, tais como abstração, memória lógica, atenção concentra<strong>da</strong>, entre outras<br />

funções, caracterizam-se pela utilização de mediadores, por se desenvolverem coletivamente e<br />

por serem voluntárias.<br />

Para Vygotski (1995), a mediação é um processo que os animais enquanto espécie não<br />

desenvolveram e esta é a diferença entre animais e homens, uma vez que o homem está sempre<br />

criando formas de regular o seu comportamento, ou seja, cria formas de organizar seu pensamento<br />

ao passo que os animais não. Neste sentido, a escola e o professor podem auxiliar e aju<strong>da</strong>r a criança<br />

a criar mediadores que a auxiliem na aprendizagem. Por meio <strong>da</strong> apropriação do conhecimento<br />

científico, de acordo com Vigotski (2000), a criança se desenvolve psicologicamente. O<br />

novo conteúdo apropriado, conforme propõe Saviani (2003), passa a fazer parte de sua natureza,<br />

torna-se parte <strong>da</strong> sua individuali<strong>da</strong>de.<br />

De acordo com a Psicologia Histórico-Cultural, a educação é fun<strong>da</strong>mental para que o<br />

homem se humanize. Nesse sentido, Leontiev (1978, p. 272) afirma que:<br />

As aquisições do desenvolvimento histórico <strong>da</strong>s aptidões humanas<br />

não são simplesmente <strong>da</strong><strong>da</strong>s aos homens nos fenômenos objetivos<br />

<strong>da</strong> cultura material e espiritual que os encarnam, mas são<br />

aí apenas postas. Para se apropriar destes resultados, para fazer<br />

deles as suas aptidões, “os órgãos <strong>da</strong> sua individuali<strong>da</strong>de”, a<br />

criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos<br />

do mundo circun<strong>da</strong>nte através de outros homens, isto é, num<br />

processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a<br />

ativi<strong>da</strong>de adequa<strong>da</strong>. Pela sua função, este processo é, portanto,<br />

um processo de educação. (grifos do autor).<br />

A escola, portanto, tem que estar atrela<strong>da</strong> ao processo de humanização dos homens,<br />

criando condições para que ele tenha o desenvolvimento pleno de suas potenciali<strong>da</strong>des. Para o<br />

Vigotski (2000, p. 337), a aprendizagem “[...] pode interferir no curso do desenvolvimento e<br />

exercer influência decisiva porque essas funções ain<strong>da</strong> não estão maduras até o início <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de<br />

escolar e a aprendizagem pode, de certo modo, organizar o processo sucessivo de seu desenvolvi-<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Patrícia Vaz de Lessa, Maril<strong>da</strong> Gonçalves Dias Facci<br />

mento e determinar o seu destino”.<br />

Em relação ao processo educacional e à aprendizagem, seguindo a afirmação vigotskiana,<br />

Facci (2007) defende a ideia de que a boa aprendizagem só é aquela que se adianta ao desenvolvimento;<br />

sendo assim, os alunos devem ser aju<strong>da</strong>dos pela escola e professores a fim de expressarem<br />

e desenvolverem o que sozinhos não conseguiriam fazer por estar na zona de desenvolvimento<br />

próximo. Por meio dos conteúdos escolares, é possível desenvolver as funções psíquicas<br />

<strong>da</strong> criança que ain<strong>da</strong> não estão forma<strong>da</strong>s: “O professor, nesse sentido, deve estruturar a ativi<strong>da</strong>de<br />

pe<strong>da</strong>gógica de tal forma que oriente o conteúdo e os ritmos de desenvolvimento <strong>da</strong>s Funções Psicológicas<br />

Superiores, aju<strong>da</strong>ndo a criança a guiar o seu comportamento” (FACCI, 2007, p. 151).<br />

Acrescenta ain<strong>da</strong>, que, se forem abor<strong>da</strong>dos apenas os conhecimentos cotidianos na escola,<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong>s funções psicológicas superiores será prejudicado, ao passo que, se o<br />

professor conduzir sua prática de forma que o aluno se aproprie de uma forma mais elabora<strong>da</strong>, estará<br />

contribuindo para a transformação <strong>da</strong> consciência de seus alunos e colocando em sua prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica o processo de humanização.<br />

O professor, conforme explica Facci (2004a), nesse processo, constitui-se como mediador<br />

entre os conteúdos curriculares e os alunos, levando-os a sair do plano imediato para o mediato.<br />

3. A PSICOLOGIA ESCOLAR E O PENSAMENTO CRÍTICO<br />

Apresentados alguns aspectos <strong>da</strong> Psicologia Histórico-Cultural, passemos agora a discorrer<br />

sobre uma Psicologia Escolar crítica. Segundo Meira (2000), o surgimento <strong>da</strong> Psicologia<br />

Escolar se deu por volta <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1940, tornando-se uma prática profissional na qual a função<br />

do psicólogo escolar seria resolver problemas escolares. Ao longo <strong>da</strong> história, os termos de Psicologia<br />

Escolar e Psicologia <strong>da</strong> Educação foram sendo utilizados de forma a diferenciar as ações<br />

dos profissionais no ambiente educacional. Meira (2000) contextualiza essa diferença e aponta a<br />

divisão para as funções de ca<strong>da</strong> área a serem desenvolvi<strong>da</strong>s, diferenças estas que foram construí<strong>da</strong>s<br />

historicamente. A Psicologia Escolar envolveria as questões de ordem prática no contexto<br />

educacional, o profissional <strong>da</strong> psicologia estaria inserido e exerceria suas funções diretamente<br />

liga<strong>da</strong>s à educação, e a Psicologia <strong>da</strong> Educação estaria diretamente liga<strong>da</strong> aos aspectos teóricos<br />

e deveria ocupar-se <strong>da</strong> construção de conhecimentos úteis ao processo educacional. Segundo o<br />

ponto de vista <strong>da</strong> autora cita<strong>da</strong>, esta distinção de termos expressa uma visão distorci<strong>da</strong>, já que esta<br />

separação entre teoria e prática supõe a autossustentação destas, ou seja, teoria e prática se bastam<br />

em si mesmas. Neste sentido, o que se propõe é um reposicionamento e uma rediscussão sobre<br />

esta distinção, levando em conta que: a articulação permanente entre teoria e prática é fun<strong>da</strong>mental<br />

para a construção de novas elaborações, no sentido de buscar elementos teóricos importantes,<br />

bem como a concretização de pressupostos e finali<strong>da</strong>des transformadoras. Este seria o compromisso<br />

efetivo <strong>da</strong> Psicologia com a Educação.<br />

Para Meira (2000, p. 36), a Psicologia Escolar refere-se a:<br />

[...] uma área de atuação <strong>da</strong> Psicologia e ao exercício profissional<br />

do psicólogo que atua no campo educacional e que, para <strong>da</strong>r<br />

conta de inserir-se criticamente na educação, deve apropriar-se<br />

de diferentes elaborações teóricas construí<strong>da</strong>s não apenas no interior<br />

<strong>da</strong> ciência psicológica, mas ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia, Filosofia<br />

e Filosofia <strong>da</strong> Educação, entre outras, de forma a assumir um<br />

compromisso teórico e prático com as questões <strong>da</strong> escola já que,<br />

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Contribuições <strong>da</strong> Psicologia Histórico-Cultural para a Atuação Crítica <strong>da</strong> Psicologia Escolar<br />

independentemente do espaço profissional que possa estar ocupando<br />

(diretamente na escola, em serviços públicos de Educação<br />

e Saúde, em universi<strong>da</strong>des, clínicas, equipes de assessoria ou de<br />

pesquisas etc.), ela deve constituir-se em seu foco principal de<br />

reflexão. Isto significa que é do trabalho que se desenvolve no<br />

interior <strong>da</strong>s escolas que emergem as grandes questões para as<br />

quais se deve buscar os recursos explicativos e metodológicos<br />

que possam orientar a ação do psicólogo escolar.<br />

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A análise <strong>da</strong> literatura no Brasil indica as sérias críticas na direção de como se conduziu o<br />

processo de atuação e produção de conhecimento na área, com viés ideologizante e com intervenções<br />

que acabavam deixando de considerar o contexto histórico-social em que os fenômenos escolares<br />

se desenvolvem. De acordo com Meira (2000), é possível verificar, na tendência atual, a mo<strong>da</strong> que<br />

invadiu o campo <strong>da</strong> Psicologia ao abordá-la sob uma visão crítica e comprometi<strong>da</strong> com a finali<strong>da</strong>de<br />

de transformação, no entanto, o que se pode observar é o desconhecimento desta fun<strong>da</strong>mentação<br />

teórica e a inadequação na sua utilização no cotidiano <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> escolar. Esta reali<strong>da</strong>de pode ser<br />

exemplifica<strong>da</strong> pelo trabalho desenvolvido pelos profissionais que pregam ter uma visão crítica, mas<br />

que incluem em suas práticas ações <strong>da</strong> Psicologia tradicional, puramente clínica.<br />

Portanto, o comentário de Meira (2000) pode ser considerado adequado quando coloca<br />

que só intenção não é suficiente. Existe realmente a necessi<strong>da</strong>de de conhecer o homem como ser<br />

histórico e social, mas, para que se efetive uma ação transformadora, é preciso que se coloquem<br />

em prática os significados que envolvem essa ação.<br />

Algumas críticas são direciona<strong>da</strong>s à Psicologia Escolar e menciona<strong>da</strong>s por Meira (2000).<br />

Assinala que a Psicologia Escolar ficou reduzi<strong>da</strong> à psicologia do escolar, ou seja, as questões escolares<br />

são direciona<strong>da</strong>s ao aluno sem ter um aprofun<strong>da</strong>mento e nem comprometimento com as<br />

questões fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> Educação e, diante desse fato, existe a necessi<strong>da</strong>de de efetivar um processo<br />

de democratização educacional. Neste sentido, denuncia a autora cita<strong>da</strong>, a Psicologia Escolar<br />

se distanciou do objetivo de democratização educacional, embora devesse ser sua principal<br />

finali<strong>da</strong>de. O que acontece é que, na maioria <strong>da</strong>s vezes, a Psicologia Escolar tem se limitado em<br />

atuar nas questões secundárias, ou seja, em questões que apontam apenas indícios de problemas<br />

sociais e escolares que são mais graves do que aparentam ser.<br />

De acordo com Patto (1984), existe uma diversi<strong>da</strong>de teórico-metodológica <strong>da</strong> Psicologia<br />

que encobre a ideologia dominante e indica a tendência <strong>da</strong> Psicologia Escolar em se colocar a<br />

serviço do sistema, contribuindo, assim, para a conservação <strong>da</strong> estrutura tradicional <strong>da</strong> escola,<br />

bem como para a ordem social em que a escola está inseri<strong>da</strong>. É neste sentido que a Psicologia<br />

Escolar vem sofrendo diversas críticas, exigindo dos profissionais um novo posicionamento.<br />

Diante destas considerações, Meira (2000) afirma que, para isso, é preciso estar atento<br />

para duas questões básicas: a primeira questão menciona<strong>da</strong> é em relação às críticas, que não<br />

podem cegar para as possibili<strong>da</strong>des de avanços significativos possíveis. A finali<strong>da</strong>de a<strong>da</strong>ptacionista<br />

tem se colocado muitas vezes em condição mais visível na área. Outra dificul<strong>da</strong>de é pensar<br />

numa prática transformadora em um processo educacional que está inserido num sistema não<br />

democrático, marcado por desigual<strong>da</strong>des e injustiças. Entretanto, como coloca Meira (2000),<br />

não se pode recusar em refletir sobre as novas possibili<strong>da</strong>des de atuação, porque seria negar o<br />

caráter dialético e contraditório pelo qual passa a socie<strong>da</strong>de. A proposta de mu<strong>da</strong>nça é complexa, mas<br />

“acreditamos que o fenômeno educacional pode constituir-se em um objeto possível <strong>da</strong> ação humana<br />

transformadora, e que a Psicologia Escolar pode contribuir de forma valiosa e efetiva para esse<br />

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Patrícia Vaz de Lessa, Maril<strong>da</strong> Gonçalves Dias Facci<br />

processo” (p. 54). A segun<strong>da</strong> questão fun<strong>da</strong>mental ressalta<strong>da</strong> pela autora é sobre a importância<br />

de uma reflexão sobre as várias propostas teóricas apresenta<strong>da</strong>s na direção crítica <strong>da</strong> Psicologia<br />

e o quanto podem, realmente, contribuir para o delineamento de um novo perfil. “É preciso<br />

estar atentos para não incorrermos no risco de simplesmente adotar o discurso <strong>da</strong> transformação<br />

sem alcançarmos a consistência teórica e filosófica necessária para concretizá-la”<br />

(MEIRA, 2000, p. 54).<br />

Segundo Meira (2000), desde o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 e início dos anos de 1980,<br />

iniciaram-se as discussões sobre os caminhos e descaminhos <strong>da</strong> Psicologia Escolar e com a publicação,<br />

em 1984, do livro Psicologia e Ideologia – uma introdução crítica à Psicologia Escolar,<br />

de Maria Helena de Souza Patto, as discussões se abriram no sentido de ter uma crítica mais<br />

profun<strong>da</strong> sobre a inadequação <strong>da</strong> atuação do psicólogo na escola. Patto se tornou uma referência<br />

para todos os profissionais que buscavam um novo sentido e uma nova perspectiva de atuação,<br />

colocando-se a serviço de um processo efetivo de democratização educacional e social.<br />

Foi a partir de sua visão crítica que se percebeu não ser mais possível ignorar a importância<br />

e o compromisso <strong>da</strong> Psicologia em efetivar uma ruptura com os interesses <strong>da</strong>s classes<br />

dominantes e construir novos pressupostos gerais para a área 1 .<br />

Levando em conta todo o referencial teórico apresentado, para que a atuação do psicólogo<br />

escolar seja adequa<strong>da</strong> e condizente com o referencial com base marxista, de acordo com<br />

Meira (1997), incluiria alguns elementos considerados como indicativos do pensamento crítico<br />

voltado para uma prática de Psicologia Escolar compromissa<strong>da</strong> com propostas consistentes e<br />

pertinentes com a finali<strong>da</strong>de transformadora, conforme veremos a seguir.<br />

O primeiro elemento a ser apresentado refere-se à forma como o psicólogo compreende<br />

o fracasso escolar. Para Meira (1997), espera-se que, pautados no referencial teórico crítico, os<br />

psicólogos escolares rompam com as explicações pseudocientíficas, que buscam a origem dos<br />

problemas educacionais no aluno ou em sua família. Esse eixo é o mais fun<strong>da</strong>nte, porque, com<br />

base nessa concepção de fracasso, o profissional estrutura a sua prática, define as áreas de intervenção,<br />

organiza sua ação, delimita os procedimentos de avaliação e a construção de vínculos<br />

com os usuários do seu trabalho.<br />

Patto (1999), ao realizar uma análise que leva em conta os determinantes histórico-culturais<br />

dos fenômenos escolares, assinala os acontecimentos em relação às pesquisas nos anos de<br />

1970 com respeito ao fracasso escolar e conclui que a investigação obtém <strong>da</strong>dos consideráveis<br />

para direcionar a participação do próprio sistema escolar como corresponsável pelo fracasso. A<br />

autora menciona várias questões que são fun<strong>da</strong>mentais para uma análise desse fenômeno, tais<br />

como: o desempenho escolar <strong>da</strong>s crianças, a contextualização de suas dificul<strong>da</strong>des, a refutação<br />

de questões que envolvem a classe trabalhadora, que é excluí<strong>da</strong> <strong>da</strong> escola por simples “préconceito”<br />

de que não é capaz, atribuindo-lhe déficits e apontando a diferença cultural como algo<br />

intransponível e exorbitante. Patto sai <strong>da</strong> instância do individual, do particular, e busca, na esfera<br />

social, nas relações de classes, explicações para o fato de uma grande parcela de crianças de uma<br />

classe menos favoreci<strong>da</strong> não se apropriar dos conhecimentos escolares.<br />

Para Meira (2000), existe um processo de patologização dos problemas escolares, no<br />

qual a culpa pelos problemas e fracasso escolar é imposta ao aluno. Esta posição patologizante<br />

é clara em varia<strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens teóricas, demonstrando a desconsideração pelas múltiplas determinações<br />

<strong>da</strong> educação.<br />

1 Após os trabalhos de Patto (1984, 1999), pesquisas foram desenvolvi<strong>da</strong>s a partir de uma concepção crítica por Tanamachi (2000),<br />

Souza (2000, 2002), Facci (1998, 2004a, 2004b), 2007), Meira (1997), Meira e Facci (2004), Barroco (2007) entre outros autores.<br />

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Considerar essas multi-determinações contribui para o fortalecimento de uma visão<br />

crítica <strong>da</strong> Psicologia Escolar, caminho que tem quer ser trilhado com muito afinco. De acordo<br />

com <strong>da</strong>dos coletados em pesquisa realiza<strong>da</strong> por Angelucci, Kalmus, Paparelli et al. (2004), as<br />

posições acerca <strong>da</strong>s causas do fracasso escolar menciona<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> são as seguintes: um problema<br />

essencialmente psíquico, em que atribui-se ao aluno a responsabili<strong>da</strong>de pelo fracasso,<br />

ocasionado por problemas cognitivos, psicomotores ou neurológicos; um problema meramente<br />

técnico, que ora responsabiliza o aluno e ora o professor, propondo, como solução, técnicas de<br />

base teórico-comportamental ou cognitiva; uma questão institucional ou uma questão política.<br />

Segundo a análise realiza<strong>da</strong> por Angelucci, Kalmus, Paparelli et al. (2004), o aspecto<br />

que predomina na produção examina<strong>da</strong> é a concepção psicologizante, apesar de a concepção<br />

crítica estar despontando. As autoras defendem a proposta de uma análise crítica, na qual seja<br />

possível discutir o caráter ideológico de concepções do fracasso escolar, analisar o contexto<br />

econômico e político, incluindo a escola e suas práticas, bem como questionando o caráter neutro<br />

e desinteressado <strong>da</strong> ciência. O cerne <strong>da</strong> questão, portanto, é utilizar um método histórico,<br />

capaz de captar to<strong>da</strong>s as contradições <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de capitalista, se a escola “vai mal”, é porque a<br />

socie<strong>da</strong>de não está <strong>da</strong>ndo conta de li<strong>da</strong>r com todos os problemas presentes.<br />

No mesmo sentido <strong>da</strong>s autoras acima, Meira (1997), remete-se às áreas de intervenção<br />

escolhi<strong>da</strong>s. Entende que essas áreas envolvem a definição do quanto a atuação do psicólogo<br />

pode contribuir para que a escola cumpra sua função social, no sentido de garantir uma apropriação<br />

crítica e criativa dos conhecimentos historicamente acumulados pela humani<strong>da</strong>de e a<br />

construção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia participativa.<br />

Outro aspecto defendido por Meira refere-se ao modelo de atuação no qual o trabalho<br />

se assenta. Os profissionais que trabalham diretamente nas escolas devem ter uma preocupação<br />

clara e defini<strong>da</strong> com a melhoria <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas de forma que as ações sejam concretas,<br />

com propostas contextualiza<strong>da</strong>s e comprometi<strong>da</strong>s com a construção de um processo educacional<br />

qualitativamente superior do ponto de vista acadêmico e político.<br />

Um ponto que mereceria um artigo inteiro refere-se aos processos de avaliação <strong>da</strong>s<br />

queixas escolares. Não vamos, no entanto, nos alongarmos nessa questão. Meira (1997) aponta<br />

a importância de o profissional construir sua intervenção com base em um profundo conhecimento<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de a ser trabalha<strong>da</strong>, sendo orienta<strong>da</strong> por categorias de análise que garantam<br />

a apreensão <strong>da</strong>s multi-determinações presentes no encontro do sujeito humano e a educação.<br />

Ao nos pautarmos nos pressupostos vigotskianos, fica claro que a Psicometria não dá conta<br />

de analisar a complexi<strong>da</strong>de do desenvolvimento <strong>da</strong>s funções psicológicas superiores, uma vez<br />

que o trabalho do psicólogo deve se centrar na análise do que está na zona de desenvolvimento<br />

próximo do aluno e não o que está no nível de desenvolvimento real. Interessa saber como os<br />

alunos utilizam os recursos mediadores disponibilizados no ambiente para resolver os problemas<br />

propostos.<br />

O psicólogo, ao usar o método instrumental de Vigotski, tem como finali<strong>da</strong>de compreender<br />

como acontece a reestruturação de to<strong>da</strong>s as funções naturais, primárias, orgânicas de<br />

uma determina<strong>da</strong> criança em um determinado nível de educação. “O método instrumental procura<br />

oferecer uma interpretação acerca de como a criança realiza em seu processo educacional o que<br />

a humani<strong>da</strong>de realizou no transcurso <strong>da</strong> longa história do trabalho” (VIGOTSKI, 1996, p. 99). O<br />

profissional, por fim, deve fazer uma avaliação que considere todos os aspectos que podem estar<br />

interferindo na apropriação do conhecimento pelo aluno: as condições histórico-sociais, fatores<br />

intraescolares e a dinâmica de funcionamento psicológico do aluno. A avaliação apresenta-se<br />

como o início de uma intervenção que deve contribuir para o processo de humanização.<br />

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Patrícia Vaz de Lessa, Maril<strong>da</strong> Gonçalves Dias Facci<br />

Por fim, Meira (1997) destaca os vínculos que o profissional estabelece. O relacionamento<br />

do psicólogo com os possíveis usuários do seu serviço deve privilegiar o trabalho reflexivo<br />

e solidário. A escola, o trabalho em pról <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de deve ser estabelecido como meta.<br />

O objetivo maior é desenvolver estratégias para que as ações sejam concretas e com propostas<br />

contextualiza<strong>da</strong>s, comprometendo-se com a construção de um processo educacional que prime pela<br />

apropriação do conhecimento científico por todos os indivíduos que passam pela escola. De acordo<br />

com Meira (1997), podemos afirmar que a escola, em seu papel mediador, pode enriquecer o indivíduo<br />

e levá-lo à luta pela transformação <strong>da</strong>s relações sociais por meio <strong>da</strong> apropriação <strong>da</strong>s objetivações<br />

genéricas para si, embora possa não <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> superação total <strong>da</strong> alienação produzi<strong>da</strong> pelo sistema.<br />

“A Educação é uma <strong>da</strong>s condições fun<strong>da</strong>mentais para que o homem se constitua de fato como ser humano,<br />

humanizado e humanizador” (MEIRA, 2000, p. 60).<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Segundo Checchia e Souza (2003), os primeiros currículos dos cursos de Psicologia enfatizavam<br />

a formação clínica, pauta<strong>da</strong> no modelo médico de atendimento individual. Em consequência<br />

disso, é possível verificar a atrofia <strong>da</strong>s outras áreas de atuação, já que os alunos foram<br />

transformados em psicólogos clínicos mesmo que estando em área industrial ou escolar.<br />

Neste sentido, aponta-se a importância dos cursos de graduação em Psicologia como instrumentos<br />

fun<strong>da</strong>mentais que contribuem para a reflexão sobre a ação do profissional, garantindo<br />

a transformação na prática. É necessário criar espaço para reflexão e desenvolvimento de projetos<br />

juntamente com profissionais que estão atuando no mercado de trabalho, visando refletir as práticas<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s mediante o aporte teórico-prático. O encontro que se dá entre teoria e prática<br />

é a possibili<strong>da</strong>de para conquista e mu<strong>da</strong>nça no sentido de romper com o círculo vicioso em que<br />

se encontram as universi<strong>da</strong>des. Os currículos aplicados nos cursos de graduação excluem vários<br />

aspectos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social do país; no entanto, em uma perspectiva crítica, esses aspectos são<br />

essenciais para a formação do profissional, portanto deveriam estar no centro <strong>da</strong>s discussões e<br />

metas curriculares.<br />

Refletindo sobre a ativi<strong>da</strong>de a ser desenvolvi<strong>da</strong> pelo psicólogo nas escolas, Facci (2007)<br />

sinaliza como questionamento a ser refletido: como levar ao conhecimento dos professores que<br />

os indivíduos, mesmo com suas dificul<strong>da</strong>des, podem se desenvolver e que eles podem auxiliar<br />

os alunos no processo de aprendizagem? Como levar o professor a enxergar o aluno para além<br />

<strong>da</strong> situação de pobreza que enfrenta em sua vi<strong>da</strong>? Como incluir todos os alunos no processo de<br />

apropriação do conhecimento?<br />

Barroco (2007, p. 160) afirma que “[...] o empenho <strong>da</strong> psicologia e <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia, sob uma perspectiva<br />

crítica, é a luta para que a primeira forma de participação, de apropriação, fruição e usufruto<br />

sejam acessíveis a todos”. No entanto, o que temos assistido é o esvaziamento do conteúdo na formação<br />

e trabalhos dos professores, denuncia Facci (2004a); temos deixado de compreender a queixa<br />

escolar de forma ampla, acrescentam Souza (2000, 2002) e Meira (1997, 2000).<br />

Não é possível, neste momento, ficar no nível <strong>da</strong> lamentação. A Psicologia Escolar e<br />

a Educacional precisam ser propositivas e terem fun<strong>da</strong>mentos teóricos consistentes. Vygotsky<br />

(2004) afirma que a divisão de classe prepara, desperta, provoca o desenvolvimento de certas<br />

capaci<strong>da</strong>des nos indivíduos de acordo com o lugar que ocupará na socie<strong>da</strong>de. E acrescenta: “A<br />

produção intelectual é determina<strong>da</strong> pela forma de produção material” (VYGOTSKY, 2004, p.<br />

4), portanto o psicólogo tem que estar atento para não reforçar uma visão que o ensino deve ser<br />

ministrado de forma diferencia<strong>da</strong>, de acordo com a clientela atendi<strong>da</strong>. O conhecimento tem que<br />

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Contribuições <strong>da</strong> Psicologia Histórico-Cultural para a Atuação Crítica <strong>da</strong> Psicologia Escolar<br />

ser socializado igualitariamente entre todos os alunos.<br />

Facci (2004b, p. 115), destaca que:<br />

Muitas vezes, os psicólogos escolares não conseguem perceber<br />

o quanto a psicologia contribui para a manutenção ou transformação<br />

<strong>da</strong> ideologia vigente, ficando à mercê <strong>da</strong>s teorias que<br />

naturalizam os fenômenos humanos, inclusive o processo de<br />

ensino-aprendizagem, tanto no que se refere ao sucesso como ao<br />

insucesso escolar.<br />

96<br />

Uma visão crítica e, nesse caso marxista, deve partir do pressuposto de que, no encontro<br />

entre subjetivi<strong>da</strong>de e educação (Meira, 1997), o psicólogo li<strong>da</strong> com uma fonte riquíssima de desenvolvimento<br />

humano, seja do professor, dos alunos, dos pais e de to<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar. O<br />

grande desafio é conduzir todos os participantes <strong>da</strong> escola na busca de um ideal comum, ou seja,<br />

a socialização dos conhecimentos produzidos pela humani<strong>da</strong>de.<br />

Reafirmamos que o ser humano é resultado de sua história e de relações com outras pessoas,<br />

com a família, com os grupos sociais e com a cultura elabora<strong>da</strong> no decorrer <strong>da</strong> história. Por<br />

isso, os profissionais <strong>da</strong> Psicologia, ao refletirem sobre a visão marxista de homem, precisam<br />

estar atentos, porque “temos o privilégio de estarmos inseridos em um dos processos mais vitais<br />

e fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> humanização do homem: o movimento em que ele pode apropriar-se do conhecimento<br />

e fazer dele um instrumento de desenvolvimento de suas potenciali<strong>da</strong>des” (MEIRA,<br />

2000, p. 67).<br />

Para <strong>da</strong>r o devido destaque à questão acima, finalizamos com uma citação de Vygotsky<br />

(2004, p. 12), que alerta o seguinte: “Tão-só uma elevação de to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de a um nível mais<br />

alto de vi<strong>da</strong> social – a libertação de to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de – pode conduzir à formação de um novo<br />

tipo de homem.” É nesse novo tipo de homem que a Psicologia Escolar deve investir.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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Tereza Rodrigues Vieira, Mayara Alyne Magro<br />

O CRIME DE INFANTICÍDIO E A PERÍCIA MÉDICO-LEGAL<br />

THE INFANTICIDE CRIME AND THE FORENSIC EXPERTISE<br />

Tereza Rodrigues Vieira*<br />

Mayara Alyne Magro**<br />

RESUMO:<br />

A comprovação do crime de infanticídio é um desafio para a perícia médico-legal, principalmente<br />

em relação ao conceito e a duração do estado puerperal, o qual é uma <strong>da</strong>s principais características<br />

desse delito. Portanto, esse artigo busca traçar algumas considerações acerca do infanticídio e o<br />

estado puerperal ressaltando as dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> perícia médica em confirmar sua existência, bem<br />

como o momento <strong>da</strong> sua ocorrência.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Infanticídio – Estado Puerperal – Perícia médica<br />

ABSTRACT:<br />

The proof of the infanticide crime is a challenge for the forensic expertise, mainly in relation to<br />

the concept and the duration of the state puerperal, which it is one of the main characteristics<br />

of that crime. Therefore, that article looks for to analyze the infanticide and the state puerperal<br />

emphasizing the difficulties of the medical expertise in confirming the existence of the state<br />

puerperal when the fact happened.<br />

KEY-WORDS: Infanticide - State Puerperal - Medical Expertise<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Vez ou outra se tem notícia de um recém-nascido encontrado morto. Infelizmente, aborto,<br />

infanticídio e homicídio de recém-nascido são práticas que sempre existiram.<br />

O principal desafio do profissional do direito está em diferenciá-los na prática. Para tal, conta com<br />

o auxílio do perito médico-legal, que vem em socorro do Direito.<br />

Em outras épocas, <strong>da</strong>r a luz um filho, sem que este fosse reconhecido pelo pai era motivo<br />

de extrema vergonha. Ain<strong>da</strong> nos dias de hoje, algumas mulheres sentem o desprezo <strong>da</strong> família<br />

e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de por este mesmo motivo. Algumas delas, ao nascerem os filhos, dão cabo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

deles com o intuito de ocultar a própria desonra.<br />

Destarte, com o objetivo de proteger a criança que está nascendo ou o recém-nascido,<br />

começaram a surgir leis caracterizando o ato como crime.<br />

Porém, para saber se a mãe se encontrava em condições totais de discernimento quando<br />

praticou o ato é necessária a realização de perícia médico-legal.<br />

Entre to<strong>da</strong>s as fases <strong>da</strong> perícia médico-legal, a mais complexa é a comprovação do estado puerperal,<br />

pois seu conceito e tempo de duração são controvertidos, além <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de em se confirmar<br />

que a mulher quando praticou o ato estava ou não sob alcance dessa circunstância.<br />

* Doutora em Direito PUC-SP/ Université Paris; Especialista em Bioética pela Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong> USP; Membro <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

Brasileira de Bioética e <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Brasileira de Sexuali<strong>da</strong>de Humana; Professora <strong>da</strong> Graduação e do Mestrado em Direito<br />

Processual e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>da</strong> UNIPAR. E-mail: terezavieira@uol.com.br<br />

** Acadêmica do curso de Direito e Bolsista do Programa de Iniciação Científica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Paranaense – UNIPAR, vincula<strong>da</strong><br />

ao Projeto “Da Perícia Médico-Legal”. E-mail: mayaramagro@gmail.com<br />

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O Crime de Infanticídio e a Perícia Médico-Legal<br />

Assim, apesar do desenvolvimento <strong>da</strong> Medicina, a caracterização do crime de infanticídio<br />

continua sendo um desafio para a perícia médico-legal.<br />

2. METODOLOGIA<br />

2.1 Infanticídio<br />

O conceito do crime de infanticídio já passou por várias definições na legislação penal.<br />

A pena, segundo o Código Penal de 1890, era abran<strong>da</strong><strong>da</strong> se o crime fosse cometido pela mãe<br />

para ocultar desonra própria. Vejamos o caput: “Matar recém-nascido, isto é o infante, nos sete<br />

primeiros dias de seu nascimento, quer empregando meios diretos e ativos, quer recusando à<br />

vítima os cui<strong>da</strong>dos necessários à manutenção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a impedir a sua morte”.<br />

O Código Penal vigente modificou o conceito do crime de infanticídio tendo em vista o<br />

critério fisiopsicológico ou fisiopsíquico, o qual leva em consideração a influência do estado puerperal.<br />

A tipificação do infanticídio encontra-se no art. 123 do Código Penal, o qual descreve que<br />

“matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena –<br />

detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos”. Portanto, o crime de infanticídio é apenado com detenção e<br />

a ação é pública. Dessa forma, Jesus (2001, p.117), afirma que:<br />

100<br />

A autori<strong>da</strong>de, tomando conhecimento do fato, deve proceder de<br />

ofício, instaurando inquérito policial, independentemente <strong>da</strong><br />

provocação de qualquer pessoa. O Promotor Público, recebendo<br />

o inquérito policial, deve iniciar a ação penal por intermédio<br />

de oferecimento <strong>da</strong> denúncia. O procedimento criminal, para ser<br />

instaurado, não se subordina a qualquer condição de procedibili<strong>da</strong>de.<br />

É de verificar-se que, atualmente, o infanticídio é visto como um crime social e geralmente<br />

praticado por mães solteiras ou por mulheres que foram abandona<strong>da</strong>s pelo companheiro.<br />

Destarte, esse delito seria, na ver<strong>da</strong>de, classificado como homicídio privilegiado, uma vez que<br />

se caracteriza pela prática do ato antecedido pela influência dos valores morais, sociais e pela<br />

emoção.<br />

Uma <strong>da</strong>s características do crime de infanticídio é a ocorrência durante ou logo após o<br />

parto. O trabalho de parto inicia-se com a dilatação e termina com a eliminação <strong>da</strong> placenta, como<br />

acentua Croce & Croce Junior (1998, p.472):<br />

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o infanticídio durante o parto, embora raro, é possível, na fase<br />

de coroamento cefálico, por contusão craniana, por perfuração<br />

<strong>da</strong>s fontanelas e, já tendo ocorrido a exteriorização <strong>da</strong> cabeça,<br />

por obstrução direta dos orifícios externos <strong>da</strong>s vias respiratórias<br />

[...].<br />

Em relação ao fato ocorrer logo após o parto, a lei não define quanto tempo depois do<br />

nascimento ain<strong>da</strong> pode ser considerado o fato como infanticídio. Assim sendo, tem sido entendido<br />

que logo após corresponde ao tempo em que durar a influência do estado puerperal.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Tereza Rodrigues Vieira, Mayara Alyne Magro<br />

Oportuno se torna dizer que quando o fato ocorrer antes do início do trabalho de parto,<br />

existe aborto. Se acontecer durante ou logo após o parto tem-se o infanticídio e, quando o fato se<br />

der após o período de tempo denominado “logo após”, há homicídio.<br />

Convém ressaltar que o infanticídio é um crime próprio, onde a autora é a mãe. Porém,<br />

pode ser cometido por outra pessoa, ou ain<strong>da</strong> esta pode, no delito, ter auxiliado a pedido <strong>da</strong> mãe.<br />

Assim, surge um conflito: a pessoa que participar responderá por infanticídio ou por homicídio?<br />

Alguns autores, baseados nos artigos 29 e 30 do Código Penal, entendem que o indivíduo<br />

que aju<strong>da</strong>r a mãe deverá responder por infanticídio. Exemplificativamente, Jesus (2001, p.111),<br />

assevera que “em face <strong>da</strong>s normas penais reguladoras <strong>da</strong> matéria, entendemos que o terceiro deve<br />

responder por infanticídio”. Fernando Capez (2004, p.68), no que concerne à coautoria, apresenta<br />

três situações possíveis: 1ª) Mãe que mata o próprio filho, com o auxílio de terceiro. Ambos<br />

respondem por infanticídio; 2) O terceiro mata o recém-nascido com a participação <strong>da</strong> mãe.<br />

Ele responde por homicídio e a mãe por infanticídio; 3) Mãe e terceiro matam a vítima. Ambos<br />

respondem por infanticídio.<br />

Entende também que não há a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de culposa do crime de infanticídio. No tocante<br />

a tentativa, é esta admiti<strong>da</strong>, quando, por exemplo, começa a sufocar o neonato com travesseiro e<br />

é impedi<strong>da</strong> por terceiros. O elementar no crime de infanticídio é a influência do estado puerperal,<br />

e também, a relação de parentesco. O artigo 30 expõe que “não se comunicam as circunstâncias<br />

e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”, portanto o elementar é<br />

comunicável entre os atos dos praticantes. Dessa forma, asseguram outros que o terceiro teria que<br />

responder por homicídio. Para solucionar esse conflito, Mirabeti (2001, p.90), ressalta que:<br />

Mais adequado, portanto, seria prever expressamente a punição<br />

por homicídio do terceiro que auxilia a mãe na prática do infanticídio,<br />

uma vez que não militam em seu favor as circunstâncias<br />

que levaram a estabelecer uma sanção de menor severi<strong>da</strong>de para<br />

a autora do crime previsto no art. 123 em relação ao definido no<br />

art. 121.<br />

Ressalta Guilherme de Souza Nucci (2003, p.424) que, tendo o código adotado a teoria<br />

monista, no caso presente os coautores e partícipes respondem igualmente por infanticídio. Assim,<br />

embora presente a injustiça, que poderia ser corrigi<strong>da</strong> pelo legislador, tanto a mãe, quanto o<br />

partícipe que a auxilia respondem por infanticídio. O mesmo se dá se a mãe auxilia, nesse estado,<br />

o terceiro que tira a vi<strong>da</strong> do filho e ain<strong>da</strong> ambos (mãe e terceiro) matam a criança.<br />

Para Magalhães Noronha (1980, p. 58) não há dúvi<strong>da</strong> que o estado puerperal é circunstância<br />

pessoal e que, sendo elementar do delito, comunica-se aos copartícipes. Somente mediante<br />

texto expresso, tal regra poderia ser derroga<strong>da</strong>. Pode ser injusta a punição bran<strong>da</strong> do terceiro, mas<br />

a solução estava com o legislador e ele assim preferiu.<br />

Discute-se, ain<strong>da</strong>, sobre a existência de infanticídio culposo. Há aqueles que defendem<br />

que se a mãe teve a intenção de matar o filho, ou seja, teve culpa, portanto deve responder por infanticídio<br />

culposo, mesmo que se encontre em estado puerperal. Outros, porém, acreditam que se<br />

a mãe tem culpa, mas se encontra sob influência do estado puerperal, não responderá pelo delito,<br />

será apenas infanticídio.<br />

No entender de Cezar Roberto Bitencourt (1999, p.466) como crime material, admite<br />

tentativa, aceita o concurso de pessoas, nos termos do art. 30 do CP, contudo não há previsão <strong>da</strong><br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de culposa. Caso ocorra a morte em decorrência <strong>da</strong> culpa, deverá o agente ser punido por<br />

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O Crime de Infanticídio e a Perícia Médico-Legal<br />

homicídio culposo.<br />

De acordo com decisão do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, ”inexistindo nos autos a<br />

prova de que a mãe quis ou assumiu o risco <strong>da</strong> morte do filho, não se configura o crime de infanticídio,<br />

em qualquer de suas formas, eis que inexiste para a espécie a forma culposa” (RTJE 55/255)<br />

Trata-se de ação pública incondiciona<strong>da</strong>, em que o Ministério Público tem a atribuição privativa<br />

<strong>da</strong> sua propositura, independentemente de representação do ofendido. O delito de infanticídio, por<br />

se referir a crime doloso contra a vi<strong>da</strong>, é <strong>da</strong> competência do Tribunal do Júri. (CAPEZ, 2004, p.72)<br />

No entanto, em qualquer situação o que deve ser analisado e comprovado é se realmente<br />

houve influência do estado puerperal, pois só assim é possível tipificar o fato ocorrido.<br />

2.2. Influência do Estado Puerperal<br />

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O critério de que o infanticídio é realizado devido à influência do estado puerperal é<br />

muito criticado, pois é difícil de provar sua existência no psiquismo <strong>da</strong> parturiente.<br />

Estado puerperal corresponde ao período entre o deslocamento e a expulsão <strong>da</strong> placenta<br />

até o retorno do organismo às condições existentes antes <strong>da</strong> gravidez. Nem todo puerpério proporciona<br />

perturbação psíquica na parturiente, mas quando ocorre, ele altera sua capaci<strong>da</strong>de de autodeterminação<br />

e discernimento. Trata-se de um fato biológico e psíquico, pois acarreta um desequilíbrio<br />

hormonal muito grande, inclusive com alterações no sistema nervoso central, alterando<br />

a situação emocional <strong>da</strong> parturiente.<br />

Nesse sentido, deve-se destacar também que o estado puerperal nem sempre causa alterações<br />

no psiquismo <strong>da</strong> parturiente e, nesse caso, ela responderá por homicídio. Assim, temos que<br />

o Código Penal, na exposição de motivos, afirma que:<br />

O infanticídio é considerado um delictum exceptum quando praticado pela parturiente<br />

sob a influência do estado puerperal. Esta cláusula, como é óbvia, não quer significar que o puerpério<br />

acarrete sempre uma perturbação psíquica: é preciso que fique averiguado ter esta realmente<br />

sobrevin<strong>da</strong> em consequência <strong>da</strong>quele, de modo a diminuir a capaci<strong>da</strong>de de entendimento ou de<br />

autoinibição <strong>da</strong> parturiente. Fora <strong>da</strong>í, não há por que distinguir entre infanticídio e homicídio.<br />

Ain<strong>da</strong> quando ocorra a honoris causa, a pena aplicável é a de homicídio.<br />

O infanticídio acontece no momento de puerpério, porém, convém dizer que este não é<br />

sinônimo de estado puerperal. O puerpério corresponde ao tempo do início <strong>da</strong> eliminação <strong>da</strong> placenta<br />

até quando o organismo volta às condições anteriores à gravidez. Já o estado puerperal, de<br />

acordo com Guimarães (2003, p.3), “seria uma alteração temporária em mulher previamente sã,<br />

com colapso do senso moral e diminuição <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de entendimento segui<strong>da</strong> de liberação<br />

de instintos, culminando com a agressão do próprio filho”. Para este autor, o estado puerperal é<br />

caracterizado por transtornos emocionais que acontecem somente com mulheres que não têm o<br />

parto assistido, que não desejam e não aceitam o mesmo.<br />

Porém, há autores que acreditam que o estado puerperal é apenas uma ficção jurídica,<br />

como França (2001, p.261), o qual argumenta que:<br />

[...] o que acontece no infanticídio é fato <strong>completa</strong>mente diverso.<br />

Sempre é uma gravidez ilegítima, manti<strong>da</strong> em sobressaltos e cui<strong>da</strong>dosa<br />

reserva, a fim de manter uma digni<strong>da</strong>de ante a família,<br />

os parentes e a socie<strong>da</strong>de. Pensa a mulher dia e noite em como<br />

se livrar do fruto de suas relações clandestinas. São parturientes<br />

sem precedentes psicopáticos.<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Tereza Rodrigues Vieira, Mayara Alyne Magro<br />

E como maneira de solucionarem seu problema praticam o crime devi<strong>da</strong>mente premeditado<br />

em to<strong>da</strong>s as suas linhas, tendo o cui<strong>da</strong>do, entre outras coisas, de esconder o filho morto,<br />

dissimular o parto e assumir uma atitude incapaz de provocar suspeitas. [...] na<strong>da</strong> mais fantasioso<br />

que o chamado estado puerperal, pois nem sequer tem um limite de duração definido.<br />

O autor supracitado afirma ain<strong>da</strong> que o conceito de estado puerperal como sendo transitório<br />

poderia favorecer até as mulheres sem honra sexual a perder que, leva<strong>da</strong>s por motivos<br />

egoístas ou de vingança, matam seu próprio filho.<br />

Esses doutrinadores se posicionam dessa forma em razão de que, normalmente, as<br />

mulheres que têm gravidez legítima, com o conforto <strong>da</strong> família, pai <strong>da</strong> criança presente e vivem<br />

felizes geralmente não praticam esse delito.<br />

Contudo, outros autores, como Muakad (2002, p.146), asseguram que as alterações emocionais<br />

“se intensificam pelo trauma psicológico e pelas condições do processo fisiológico do<br />

parto solitário, angústia, aflição, dores, sangramento e extenuação, cujo resultado traria um estado<br />

confusional capaz de levar a pratica do crime”.<br />

O estado puerperal seria, então, um conjunto de perturbações psicológicas e físicas que<br />

acabam acarretando um estado especial frente ao parto. Mas, o parto em si faz com que a mulher<br />

venha a ter pequenas alterações emotivas e não graves perturbações. Estas acontecem por motivos<br />

anteriores que acabam se aprofun<strong>da</strong>ndo com a gravidez e o parto, originando o estado puerperal<br />

que leva a mulher a pratica do crime.<br />

A seu turno, escreveu Vargas (1990, p.373) que, o estado puerperal pode ser “definido<br />

como um estado especial, onde as alterações psicofisiológicas são de curta duração”. Na opinião<br />

do citado autor, a duração máxima é de seis horas, provocando uma obnubilação <strong>da</strong> consciência<br />

seguinte ao desprendimento fetal, modificando a capaci<strong>da</strong>de de entendimento e de autodeterminação.<br />

Todos os autores acima citados, apesar de conceituarem o estado puerperal de forma diversa,<br />

apresentam um entendimento em comum, ou seja, que a influência do estado puerperal não<br />

faz com que a mulher seja inimputável de forma plena. O grau de imputabili<strong>da</strong>de será fixado de<br />

acordo com a avaliação pericial do estado psicológico <strong>da</strong> parturiente.<br />

Portanto, apesar de to<strong>da</strong> a discussão, o Código Penal mantém a influência do estado puerperal<br />

como uma <strong>da</strong>s características do infanticídio e não se cogita em trazer de volta o conceito de<br />

honoris causa, pois significaria um retrocesso para a socie<strong>da</strong>de devido ao fato de que nenhuma<br />

gravidez pode ser analisa<strong>da</strong> como imoral, a não ser nos casos em que foi origina<strong>da</strong> para fins ilícitos<br />

e amorais.<br />

Dessa forma, a mulher que matar o próprio filho só será enquadra<strong>da</strong> nas sanções p<strong>revista</strong>s<br />

para o infanticídio se estiver sob influência do estado puerperal, caso contrário, estará caracterizado<br />

homicídio. Portanto, é necessária que seja realiza<strong>da</strong> a perícia médica para verificar se realmente<br />

houve a influência do estado puerperal.<br />

Caso diferente é o que acontece na Índia, por exemplo, em que alguns pais matam a<br />

menina recém-nasci<strong>da</strong>, por uma questão cultural. Para tentar coibir esta prática, a ministra para<br />

assuntos <strong>da</strong> Mulher e Desenvolvimento Infantil <strong>da</strong> Índia, propôs a instalação de berços em diversas<br />

partes do país para depositar as crianças indeseja<strong>da</strong>s. O número de ocorrências era tão grande<br />

naquele país que o governo, em 1994, chegou a proibir exames de ultrassom. A discriminação se<br />

deve ao valor atribuído à mulher na socie<strong>da</strong>de indiana.<br />

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O Crime de Infanticídio e a Perícia Médico-Legal<br />

2.2.3. Perícia médico-legal<br />

Nos processos, o que vigora é o princípio <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de real sobre os fatos ocorridos e a<br />

busca <strong>da</strong> mesma é feita através <strong>da</strong>s provas. A perícia é um meio de prova que ocorre quando o juiz<br />

precisa realizar a verificação dos fatos ocorridos e não é apto para isso, por não possuir conhecimentos<br />

técnicos ou científicos. Assim, necessita de um auxiliar, qual seja, o perito.<br />

Convém ressaltar que ao perito não compete julgar, mas: a) descrever os <strong>da</strong>dos colhidos<br />

e assinalar os fatos acontecidos; b) encontrar as eventuais falhas ou omissões, procurando<br />

demonstrá-las; c) sendo imprescindível e estando autorizado, induzir a apreciação de outros especialistas,<br />

reconheci<strong>da</strong>mente competentes na especiali<strong>da</strong>de sob análise; d) responder concisa e<br />

claramente aos quesitos constantes do pedido; e) analisar com espírito crítico todos os elementos<br />

médicos, ambientais, sociais, bem como psicológicos <strong>da</strong>s pessoas abrangi<strong>da</strong>s no processo de peritagem;<br />

f) amparando exclusivamente em informações reais, formular deduções objetivas e nunca<br />

perpetrar suposições. (BASTOS, PALHARES e MONTEIRO, 1998, p.64)<br />

Em se tratando de perícia médico-legal o perito tem que ser, necessariamente, médico.<br />

Nos crimes de infanticídio a perícia médico-legal é complexa e exige várias provas. Entretanto,<br />

para a caracterização do infanticídio existem três provas que são essenciais, ou seja, a de recémnascimento,<br />

vi<strong>da</strong> extrauterina e diagnóstico <strong>da</strong> causa jurídica <strong>da</strong> morte. Logo após devem ser<br />

realizados exames na parturiente para constatar se ver<strong>da</strong>deiramente existiu o estado puerperal no<br />

momento em que ela praticou a morte do próprio filho.<br />

A criança é considera<strong>da</strong> recém-nasci<strong>da</strong> durante um período que corresponde aos primeiros<br />

cui<strong>da</strong>dos até o sétimo dia de nascimento. Assim, Vasconcelos (1976, p.308), descreve que:<br />

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Como o infanticídio se pratica no recém-nascido viável, devem<br />

ser conhecidos os sinais do feto a termo, que são: comprimento<br />

de cerca de 50 cm; peso de três a três e meio quilos; pele rósea,<br />

firme e coberta do induto sebáceo, cabelos já bem visíveis, de<br />

dois a três cm de comprimento; unhas duras no rebordo digital;<br />

mecônio presente no grosso intestino e ponto de ossificação de<br />

Beclard e núcleo ósseo lenticular presente no centro <strong>da</strong> apífese<br />

cartilaginosa inferior do fêmur.<br />

Para a verificação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> extrauterina, comprova<strong>da</strong> através <strong>da</strong> respiração pulmonar, são<br />

necessárias as provas <strong>da</strong>s docimasias e as ocasionais. Insta dizer que há vários tipos de docimasias,<br />

por isso no laudo pericial deve estar especificado qual foi utiliza<strong>da</strong>.<br />

A docimasia mais antiga e também a mais utiliza<strong>da</strong> é a de Galeno, a qual consiste em<br />

colocar o pulmão <strong>da</strong> criança em um recipiente com água na temperatura ambiente, dessa forma<br />

Almei<strong>da</strong> Junior & Costa Junior (1991, p.377) explicam que “quando a prova é efetua<strong>da</strong> corretamente,<br />

e os pulmões flutuam, e flutuam até mesmo os fragmentos que foram espremidos entre os<br />

dedos, aí pode-se afirmar que a criança respirou. Se afun<strong>da</strong>m na água, isto indica que não houve<br />

respiração”.<br />

As provas ocasionais também são importantes e as mais comuns são as de lesões, presença<br />

de corpos estranhos nas vias aéreas e de substâncias alimentares no tubo digestivo. Não ficando<br />

comprovado com certeza se realmente houve a respiração, não se constitui o infanticídio.<br />

É importante lembrar que o resultado pode ser dissimulado, carecendo, portanto, de exames complementares,<br />

por exemplo, de docimasia microscópica, o qual versa na análise dos alvéolos, os<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Tereza Rodrigues Vieira, Mayara Alyne Magro<br />

quais só abrem caso tenha ocorrido respiração.<br />

Em relação ao diagnóstico <strong>da</strong> causa <strong>da</strong> morte, verifica-se que esta pode ser natural, acidental<br />

ou criminosa, sendo que a natural não é considera<strong>da</strong> como infanticídio. A acidental pode<br />

acontecer antes, durante ou logo após o parto. Exemplificando, temos que antes do parto pode<br />

ocorrer de forma acidental traumatismos violentos sobre o abdome, durante o parto há possibili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> aspiração de líquido amniótico ou de sangue e após o parto existe o risco de hemorragia<br />

no cordão umbilical. Já a forma criminosa é causa<strong>da</strong> por energias, as quais podem ser mecânicas,<br />

físicas, químicas e físico-químicas. Cabe ao perito, após fazer suas análises, esclarecer se a morte<br />

foi acidental ou criminosa.<br />

Nesse contexto, é necessário ressaltar a importância <strong>da</strong> verificação <strong>da</strong> existência do estado<br />

puerperal, uma vez que para a configuração desse delito ele é indispensável. To<strong>da</strong>via, a<br />

comprovação do mesmo é um desafio para os peritos e tal entendimento é esposado por Maranhão<br />

(1993, p.200), onde nos diz:<br />

A duração do estado puerperal é variável, persistindo por algumas horas ou poucos dias.<br />

Geralmente regride espontaneamente (sem tratamento) e não deixa sequelas. Por suas características,<br />

é de difícil observação pericial, pois, ao realizar o exame, os sintomas já se desvaneceram.<br />

Examinando uma puerpéria, o legista nem sempre disporá de elementos para concluir pela reali<strong>da</strong>de<br />

de um estado puerperal.<br />

Mesmo sendo difícil a comprovação do estado puerperal, devem ser feitos alguns exames<br />

para verificar a condição mental. Esses exames periciais precisam avaliar, segundo Croce &<br />

Croce Junior (1998, p.487):<br />

a existência de parto, e, em caso afirmativo, se ele é recente, pois<br />

se antigo descaracterizará, evidentemente, o delito; b) confirmado<br />

o parto recente, as condições em que o mesmo ocorreu; c) se a<br />

imputa<strong>da</strong>, após o crime, escondeu ou não o filho morto; d) se ela<br />

tem lembrança do ocorrido; e) se ela simula ignorar o ocorrido;<br />

f) se não é portadora de antecedentes psicopáticos, agravados<br />

pela gestação, parto e puerpério, pois, se o for, a reprimen<strong>da</strong> não<br />

será a p<strong>revista</strong> no art. 123, mas, sim, a descrita no art. 26, ou<br />

parágrafo único, do Código Penal.<br />

Através dos exames psicológicos e análises referentes ao estado puerperal feitos na<br />

mulher, será fixado o grau de inimputabili<strong>da</strong>de. Mas, como não se sabe ao certo o tempo de<br />

duração do estado puerperal, fica a critério dos peritos definirem de acordo com ca<strong>da</strong> caso<br />

concreto.<br />

Quando os exames constatarem que a mulher se tornou portadora de doença mental<br />

devido ao estado puerperal e, por isso, causou a morte do filho ela será inimputável por<br />

doença mental. Assim, será aplicado o art. 26, caput, do Código Penal, o qual expõe que “é<br />

isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retar<strong>da</strong>do,<br />

era, ao tempo <strong>da</strong> ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato<br />

ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.<br />

Pode acontecer também de a mulher, devido à influência do estado puerperal, sofrer<br />

perturbações mentais patológicas, mas apesar disso, não perder seu inteiro entendimento e<br />

autodeterminação. Nesse caso, ela é semi-inimputável, ou seja, é uma infantici<strong>da</strong>, mas tem<br />

sua pena atenua<strong>da</strong> e aplica-se o parágrafo único do art. 26 do Código Penal.<br />

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O Crime de Infanticídio e a Perícia Médico-Legal<br />

Quando a parturiente passar por simples intervenção psíquica motiva<strong>da</strong> pela influência do<br />

estado puerperal, responderá por infanticídio. E aquela mulher em que o puerpério não lhe cause<br />

nenhuma perturbação psicológica, se enquadrará no homicídio.<br />

CONCLUSÃO<br />

106<br />

No passado, a lei caracterizava o crime de infanticídio como motivo de honra, ou seja,<br />

honoris causa. Porém, o Código Penal vigente mudou esse conceito trazendo como critério do<br />

crime a influência do estado puerperal, com base no sistema fisiopsicológico ou fisiopsíquico.<br />

Quando acontece o infanticídio, necessário se faz a realização <strong>da</strong> perícia médico-legal,<br />

a qual é feita tanto no psiquismo <strong>da</strong> parturiente, como também, na criança. Na parturiente deve<br />

ser provado que no momento em que ela matou seu filho se encontrava ou não sob influência do<br />

estado puerperal, mas nessa fase a perícia passa por grandes problemas.<br />

As dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s pelos peritos devem-se ao fato de que o estado puerperal é<br />

transitório e no momento <strong>da</strong> realização <strong>da</strong> perícia pode não mais existir resquícios. Assim, tornase<br />

difícil entregar um laudo conclusivo. Para tanto, realiza-se ao menos uma análise no estado<br />

psicológico <strong>da</strong> parturiente para saber se as perturbações ocorri<strong>da</strong>s foram causa<strong>da</strong>s devido ao puerpério,<br />

pois nesse caso será analisa<strong>da</strong>, também, a gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s perturbações para ser fixado o<br />

grau de inimputabili<strong>da</strong>de.<br />

Destarte, apesar de to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des, nos crimes de infanticídio a perícia médicolegal<br />

é essencial para contribuir com a justiça, pois sem ela seria arriscado motivar uma sentença<br />

de forma justa. Faltariam <strong>da</strong>dos técnicos e científicos que fossem consistentes e persuasivos em<br />

relação às condições do recém-nascimento, de vi<strong>da</strong> extrauterina, diagnóstico <strong>da</strong> causa jurídica <strong>da</strong><br />

morte e exame psíquico <strong>da</strong> parturiente.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ALMEIDA JUNIOR, A.; COSTA JUNIOR, J. B. de O. e. Lições de medicina legal, 20 ed. São<br />

Paulo: Nacional, 1991.<br />

BASTOS, A.F.; PALHARES, A.B. e MONTEIRO, A.C.C. Medicina legal para não legistas.<br />

Campinas-SP: Copola, 1998.<br />

CAPEZ, Fernando. Direito penal. São Paulo: Damásio de Jesus, 2004.<br />

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CROCE, Delton; CROCE JUNIOR, Delton. Manual de medicina legal, 4 ed. São Paulo: Saraiva,<br />

1998.<br />

FRANÇA, Genival Veloso .Manual Medicina legal, 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan<br />

S.A., 2001.<br />

GUIMARÃES, Roberson. O crime de infanticídio e a perícia médico-legal: uma análise crítica.<br />

Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 65, mai. 2003.<br />

JESUS, Damásio E. de. Direito penal, 24 ed, v.2. São Paulo: Saraiva, 2001.<br />

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Tereza Rodrigues Vieira, Mayara Alyne Magro<br />

MARANHÃO, Odon Ramos. Curso básico de medicina legal, 6 ed. São Paulo: Malheiros<br />

Editores, 1993.<br />

MIRABETI, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, 17 ed, v.2. São Paulo: Atlas, 2001.<br />

MUAKAD, Irene Batista. O infanticídio: análise <strong>da</strong> doutrina médico-legal e <strong>da</strong> prática jurídica.<br />

São Paulo: Mackenzie, 2002.<br />

NORONHA, E.Magalhães. Direito penal, vol. 2. São Paulo: Saraiva, 1980.<br />

NUCCI, Guilherme de Souza Nucci. Código Penal comentado. São Paulo: Revista dos<br />

Tribunais, 2003.<br />

VARGAS, Heber Soares. Manual de psiquiatria forense. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1990.<br />

VASCONCELOS, Gerardo Majela Fortes. Lições de Medicina Legal, 2 ed. Rio de Janeiro:<br />

Forense, 1976.<br />

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Aspectos Comportamentais e Econômicos que Envolvem a Compra por Impulso<br />

ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E ECONÔMICOS QUE<br />

ENVOLVEM A COMPRA POR IMPULSO*<br />

ECONOMICAL AND BEHAVIORAL ASPECTS WHICH INVOLVE<br />

IMPULSIVE PURCHASE<br />

Elen Gongora Moreira**<br />

Maria Eduvirge Marandola***<br />

Suzana Rezende Lemanski****<br />

108<br />

RESUMO:<br />

O objetivo geral desta pesquisa foi levantar e analisar variáveis que envolvem aspectos comportamentais<br />

e econômicos relacionados às compras por impulso (não planeja<strong>da</strong>s) com consumidores<br />

de um shopping center de Londrina. Para tal, foram ent<strong>revista</strong><strong>da</strong>s 100 pessoas, 50% do gênero<br />

masculino e 50% feminino. Os resultados revelaram que dentre os fatores relatados que levam<br />

homens e mulheres a efetuarem compras não planeja<strong>da</strong>s está principalmente a necessi<strong>da</strong>de de<br />

agra<strong>da</strong>r as pessoas seguido por vai<strong>da</strong>de. A maioria do público masculino e feminino declarou se<br />

sentir satisfeita imediatamente ao realizar uma compra não planeja<strong>da</strong>. A exposição do produto<br />

em vitrine e a facili<strong>da</strong>de para comprar a prazo foram aponta<strong>da</strong>s como os maiores atrativos para a<br />

compra não planeja<strong>da</strong>, sendo que a maioria afirmou estar sozinho quando efetua essas compras.<br />

Dos ent<strong>revista</strong>dos, em torno de 50% disseram conhecer as taxas de juros e o valor final do produto<br />

ao efetuar uma compra não planeja<strong>da</strong>. A maioria dos homens e mulheres declarou não ter sentido<br />

dificul<strong>da</strong>des para pagar as compras adquiri<strong>da</strong>s bem como não ter contraído dívi<strong>da</strong>s. Porém, 25%<br />

assumiram dívi<strong>da</strong>s em período superior a 1 e 2 anos; como consequência dessas compras os homens<br />

tiveram o nome incluído no ca<strong>da</strong>stro de devedores e as mulheres necessitaram recorrer à<br />

aju<strong>da</strong> de familiares. Constatou-se que a prática de compras sem planejamento é um ato frequente<br />

tanto para mulheres como para homens, com diferenças apenas para os tipos de objetos comprados.<br />

PALAVRAS-CHAVE: compra por impulso, comportamento do consumidor, endivi<strong>da</strong>mento<br />

pessoal.<br />

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ABSTRACT:<br />

The main goal of this research was to raise and analyze variables which involve economical and<br />

behavioral aspects related to the impulsive purchase (non planned) with consumers of a mall<br />

in Londrina. To do so, 100 people were interviewed, 50% of male gender and 50% of female<br />

gender. The results revealed that among the related factors which lead men and women to make<br />

none planned purchases, it is mainly the need to please people fallowed by the vanity. The majority<br />

of the male and female audience declared to feel satisfied immediately after make a non<br />

planned purchase. The product display in the display window, and the facility to purchase on<br />

the installment plan were pointed out to be the mainly attractive to the non planned purchase<br />

* Esse projeto foi financiado pelo Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) e apoiado pela Fun<strong>da</strong>ção Araucária. As autoras<br />

agradecem a colaboração <strong>da</strong> estagiária Priscila Maria Ferreira, bolsista <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Araucária e dos estagiários voluntários Adriele<br />

Barcelos Porto, Ana Carolina Socoloski, Celso Seiti Hiruoe e Jobson Nobile.<br />

** Psicóloga. Mestre em Psicologia Experimental:Análise do Comportamento pela PUC/SP. Docente do Centro Universitário Filadélfia<br />

– <strong>UniFil</strong>. egmoreira@hotmail.com<br />

*** Economista. Mestre em Teoria Econômica. Docente do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>. mariaeduvirge@sercomtel.<br />

com.br<br />

**** Engenheira Química. Doutora em Engenharia Química. Docente do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>. Suzana. lemanski@unifil.br<br />

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Elen Gongora Moreira, Maria Eduvirge Marandola, Suzana Rezende Lemanski<br />

considering the fact that the majority stated to be by themselves when they make these purchases.<br />

From the interviewed ones, about 50% said to know the interest rates and final value of<br />

the product while effectuating a non planned purchase. Most men and women stated to not have<br />

difficulties to pay the purchases as well not have debits. However, 25% assumed debits in a period<br />

superior to 1 and 2 years; as consequences of these purchases, men had the name included into the<br />

debtor’s ca<strong>da</strong>stre and the women needed to appeal to intimate people’s help. It was observed that<br />

the practice of purchase without plan is a common act both for women and men, with differences<br />

only for the type of the purchased object.<br />

KEY-WORDS: impulsive purchase, consumer behavior, personal debt.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A compra por impulso é defini<strong>da</strong> como uma compra não planeja<strong>da</strong>, resultante de uma<br />

exposição a um estímulo e decidi<strong>da</strong> no local. Barracho (2001) argumenta que normalmente em<br />

estudos sobre compras por impulso, além <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s reações emotivas senti<strong>da</strong>s ou não pelo<br />

consumidor, normalmente são incorpora<strong>da</strong>s variáveis econômicas, dentre elas, o endivi<strong>da</strong>mento.<br />

Esse autor aponta que um estudo realizado na ci<strong>da</strong>de de Valência, Espanha, em 1997,<br />

para uma amostra de 400 sujeitos dos dois sexos, 50% ca<strong>da</strong> um, buscou identificar quais os<br />

produtos o consumidor não podia evitar comprar e o sentimento pós-compra dos consumidores.<br />

Os resultados revelaram que a maioria (78%) dos participantes <strong>da</strong> pesquisa afirmou não ter se arrependido<br />

<strong>da</strong> compra, no entanto, cerca de 30% do grupo, situados na faixa etária entre 30 e 44<br />

anos, mostrou arrependimento em alguma compra. Essa pesquisa revelou ain<strong>da</strong> que as mulheres<br />

compram por impulso: roupas, joias, sapatos e perfumes; os homens compram: artigos musicais,<br />

carros, equipamentos de informática e artigos esportivos.<br />

Em termos tradicionais, um organismo bebe porque precisa de água, dá um passeio porque<br />

precisa de exercício, respira mais rápido porque carece de ar e come vorazmente porque tem fome.<br />

De acordo com Skinner (1989), um “impulso” é um recurso verbal com o qual se descreve um estado<br />

de frequênciado comportamento. Segundo o autor, para que se possa compreender um “impulso” é<br />

necessário que se compreen<strong>da</strong> as variáveis de privação e saciação. Skinner (1989) afirma que o uso do<br />

dinheiro na compra e na ven<strong>da</strong> permite avaliar os bens de forma como se avalia o trabalho. O objeto<br />

“vale” para o indivíduo exatamente a quantia de dinheiro que <strong>da</strong>rá em troca dele. Em outras palavras, A<br />

<strong>da</strong>rá o artigo a B se as consequências aversivas de seu ato se igualarem às consequências reforçadoras<br />

positivas do dinheiro que B <strong>da</strong>rá a A. B <strong>da</strong>rá essa quantia de dinheiro a A se as consequências aversivas<br />

que isso envolve forem iguais às consequências positivamente reforçadoras de receber o artigo de<br />

A.Como o dinheiro que se <strong>da</strong>rá em troca de bens é uma medi<strong>da</strong> de seu efeito reforçador, isto vai variar<br />

com o nível de privação de ca<strong>da</strong> organismo.<br />

To<strong>da</strong>s as pessoas que ganham ren<strong>da</strong> monetária pertencem ao conjunto dos agentes<br />

econômicos denominados consumidores. Ca<strong>da</strong> consumidor busca adquirir os mais diversos<br />

produtos e serviços na tentativa de obter o máximo de satisfação, tendo como fator limitante a<br />

ren<strong>da</strong>, comumente denomina<strong>da</strong> de restrição orçamentária. Esse comportamento individual determina<br />

a deman<strong>da</strong>, ou seja, a quanti<strong>da</strong>de de bens e serviços que se deseja adquirir. Conforme<br />

aponta Souza (2000), de posse de sua ren<strong>da</strong>, o consumidor vai ao mercado a fim de comprar determina<strong>da</strong>s<br />

quanti<strong>da</strong>des de um conjunto de bens que formarão sua cesta de consumo. Ele faz uma<br />

lista de compras, que constitui sua escala de preferências, em função de seus gostos e dos preços.<br />

“Ele age racionalmente no sentido de que irá procurar obter a máxima satisfação, com um mínimo<br />

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de dispêndio. Os gastos estão limitados ao total de sua ren<strong>da</strong>, incluindo-se o crédito recebido”<br />

(SOUZA, 2000 p. 66).<br />

Dias (2007) aponta que além <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de os consumidores compram coisas supérfluas,<br />

desnecessárias, apenas pelo prazer de possuí-las. O pleno conhecimento de suas necessi<strong>da</strong>des e a<br />

disponibili<strong>da</strong>de de recursos para a efetivação <strong>da</strong> troca permite que o consumidor possa transformar<br />

suas reações de preferências em ações, realizando aquisições dos bens ou utilizando-se de serviços,<br />

em busca <strong>da</strong> satisfação de suas necessi<strong>da</strong>des ou do seu bem estar econômico. A teoria do consumidor<br />

baseia-se na premissa de que as pessoas se comportam de modo racional na tentativa de maximizar a<br />

satisfação que podem obter por meio de uma combinação particular de bens e serviços.<br />

O prazer conferido por uma mercadoria, sob a ótica <strong>da</strong> teoria do consumidor, é denominado<br />

de utili<strong>da</strong>de. Dentro dessa perspectiva, pode-se afirmar que a utili<strong>da</strong>de é a quali<strong>da</strong>de que os<br />

bens econômicos possuem de satisfazer as necessi<strong>da</strong>des humanas que estão basea<strong>da</strong>s em aspectos<br />

psicológicos ou preferências e difere de consumidor para consumidor. Essa teoria afirma que o<br />

valor de um bem se forma pela sua deman<strong>da</strong>, ou seja, pela satisfação que o mesmo representa<br />

para o consumidor, sendo, portanto, subjetivo, pois nasce <strong>da</strong> relação do homem com os objetos;<br />

ca<strong>da</strong> indivíduo sabe quanto uma mercadoria vale para si, diante disso prepondera a soberania do<br />

consumidor, e o mesmo é considerado o pilar do capitalismo (PINDYCK; RUBINFELD, 2002 e<br />

VASCONCELLOS, 1998).<br />

Oliveira-Castro (2005) aponta três tipos de consequências para o comportamento de consumo:<br />

reforço utilitário, reforço informativo e consequências aversivas. O reforço utilitário se<br />

refere às consequências associa<strong>da</strong>s ao aumento na utili<strong>da</strong>de (isto é valor de uso) para o indivíduo,<br />

dependendo principalmente <strong>da</strong>s características do produto ou serviço obtidos na compra<br />

ou no consumo. Também está associado a sentimentos relacionados a possuir e usar o produto<br />

ou serviço, decorrente dos benefícios derivados diretamente <strong>da</strong> posse e aplicação de um produto<br />

ou serviço, dependendo do valor de uso <strong>da</strong> comodi<strong>da</strong>de. Já o reforço informativo é simbólico,<br />

geralmente mediado pelas ações e reações de outras pessoas e estaria mais relacionado ao valor<br />

de troca, desta forma, resulta do nível de status social, prestígio e aceitação consegui<strong>da</strong> por um<br />

consumidor ou por seus esforços. Uma <strong>da</strong>s características do comportamento econômico é que ele<br />

envolve simultaneamente consequências reforçadoras e aversivas, pois envolve a transferência<br />

de direitos ou de dinheiro. O comportamento econômico é, portanto, um produto <strong>da</strong> interação de<br />

forças opostas, de comportamentos de aproximação e esquiva, que dependerão <strong>da</strong>s histórias de<br />

aprendizagem do indivíduo.<br />

Para Skinner (1989), uma consideração importante é a história de reforço do comportamento<br />

de aquisição de bens ou dinheiro. O comportamento de comprar ou vender pode ser<br />

enfraquecido independentemente <strong>da</strong> natureza particular de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> transação. Quando as consequências<br />

reforçadoras para o comprador exercem largamente as consequências aversivas de pagar<br />

o preço do artigo, o simples comportamento de comprar é reforçado. Na técnica dos descontos<br />

especiais nas lojas, alguns objetos são vendidos a preços baixos de forma que outros, que não são<br />

pechinchas, possam também ser vendidos. Os “hábitos de compra” do público frequentemente<br />

refletem o mesmo princípio. O fato de um indivíduo empenhar-se prontamente em comprar (comprar<br />

por impulso) depende em parte <strong>da</strong>s consequências aversivas de gastar dinheiro. “Aprender o<br />

valor do dinheiro é o efeito <strong>da</strong>s consequências aversivas de se separar de uma nota” (SKINNER,<br />

1989, p. 372).<br />

Os investimentos feitos em propagan<strong>da</strong> e promoções pelos fabricantes e vendedores de<br />

vários bens e serviços também contribuem para a formação dos gostos do consumidor. De fato,<br />

não há nenhuma dúvi<strong>da</strong> sobre a influência <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> sobre o comportamento dos consumi-<br />

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Elen Gongora Moreira, Maria Eduvirge Marandola, Suzana Rezende Lemanski<br />

dores, muito embora essa influência varie muito de um produto para o outro e de um consumidor<br />

para outro. “No caso de bens cuja quali<strong>da</strong>de é de difícil mensuração para o consumidor e cujas<br />

vantagens relativas do bem ou <strong>da</strong> marca específica não são muito grandes, a propagan<strong>da</strong> pode<br />

desempenhar um papel muito importante” (MANSFIELD; YOBE, 2006, p. 32).<br />

Ao argumentar sobre o comportamento do consumidor, Simonsen (1988) adverte que<br />

a teoria tradicional baseia-se na hipótese de que os indivíduos distribuem racionalmente suas<br />

despesas dentro de suas limitações orçamentárias, de modo a obter a máxima satisfação. Formalmente,<br />

a teoria se desenvolve supondo-se que exista uma medi<strong>da</strong> de utili<strong>da</strong>de ou uma escala de<br />

preferências do consumidor, compatível com suas limitações orçamentárias. Porém, essa hipótese<br />

tradicional é extremamente simplista, pois os fun<strong>da</strong>mentos psicológicos devem ser compreendidos<br />

com algum pormenor. A ideia de comportamento racional poderia ser interpreta<strong>da</strong> de duas<br />

maneiras: a primeira seria conferir à palavra racional alguma conotação ética e objetiva e supor<br />

que o indivíduo se orientasse por tal padrão de conduta. Essa interpretação, além de envolver difíceis<br />

juízos de valor, seria inaceitável, pois a prodigali<strong>da</strong>de e a imprevidência são características<br />

muito comuns nos indivíduos. Uma segun<strong>da</strong> interpretação baseia-se no fato de que o consumidor,<br />

num determinado instante, atua racionalmente, quando se situa no ponto mais alto de suas<br />

preferências dentro de suas possibili<strong>da</strong>des orçamentárias. To<strong>da</strong>via, a ideia de comportamento<br />

racional seria empiricamente inaceitável diante do fato de que as preferências podem mu<strong>da</strong>r de<br />

um instante para outro e o consumidor pode arrepender-se de suas decisões passa<strong>da</strong>s, bem como<br />

ultrapassar o limite do orçamento.<br />

De fato, além do arrependimento, o consumidor pode ser levado ao endivi<strong>da</strong>mento o que<br />

permite refletir sobre a racionali<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong>s limitações orçamentárias. Aranha (2005) afirma<br />

que pesquisa realiza<strong>da</strong> pela Associação Comercial de São Paulo revelou que em média 46% dos<br />

indivíduos situados na faixa etária entre 20 e 30 anos estavam endivi<strong>da</strong>dos.<br />

Pesquisa realiza<strong>da</strong> por Marandola e Lemanski (2006) evidenciou que os consumidores<br />

são bastante suscetíveis a promoções; 60,79% responderam que quando vão ao supermercado em<br />

busca de um produto em promoção acabam levando outros e 56,06% afirmaram não seguir a lista<br />

de compras com rigor. Esse comportamento contribui para a desorganização do orçamento.<br />

Além <strong>da</strong>s razões já expostas que levam os consumidores a tomar as suas decisões de compra<br />

cabe ressaltar ain<strong>da</strong> que há outras variáveis, tais como taxas de juros e condições de crédito.<br />

Numa perspectiva entre emprestar ou poupar e tomar emprestado, conforme aponta Browning<br />

e Zupan (2004), poupar significa consumir menos do que a ren<strong>da</strong> corrente, o que torna possível<br />

aumentar o consumo futuro. Tomar emprestado ou comprar a prazo possibilita consumir mais do<br />

que permite a ren<strong>da</strong> corrente, mas no futuro o consumo deverá, necessariamente, ser reduzido<br />

para pagar o empréstimo. A decisão de poupar (ou pegar emprestado) é dessa forma uma decisão<br />

de alocar o consumo entre vários períodos. A decisão em relação ao consumo ao longo do tempo,<br />

ou vários períodos depende, portanto, <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> presente e futura bem como <strong>da</strong>s taxas de juros.<br />

Qualquer mu<strong>da</strong>nça em uma dessas variáveis irá alterar a restrição orçamentária e alterar a<br />

cesta de mercadorias escolhi<strong>da</strong>s. Uma ren<strong>da</strong> presente relativamente alta, mas reduzi<strong>da</strong> de forma<br />

expressiva no futuro é típica de pessoas que se aproximam <strong>da</strong> aposentadoria e, normalmente, é<br />

provável que elas poupem parte de sua ren<strong>da</strong> presente. Por outro lado, uma pequena ren<strong>da</strong> presente,<br />

mas uma eleva<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> espera<strong>da</strong> no futuro é típica de estu<strong>da</strong>ntes e trabalhadores jovens,<br />

e é bem comum ver estas pessoas adquirindo empréstimos e consumindo além de sua ren<strong>da</strong> presente.<br />

O consumo depende também <strong>da</strong>s taxas de juros, pois mu<strong>da</strong>nças nos juros implicam mu<strong>da</strong>nças<br />

no custo relativo do consumo presente frente ao consumo futuro. Quando a taxa de juros<br />

111<br />

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for eleva<strong>da</strong>, o indivíduo consumirá menos no presente e poupará mais para aumentar o seu consumo<br />

no futuro.<br />

As explicações teóricas aponta<strong>da</strong>s aqui se basearam nas hipóteses <strong>da</strong> implicação de ren<strong>da</strong><br />

consumo no âmbito do consumidor individual, na tentativa de explicar como a amostra dos consumidores<br />

dessa pesquisa fez suas escolhas e alocou um percentual <strong>da</strong> sua ren<strong>da</strong> em consumo não<br />

planejado. No entanto, há outras vertentes que discutem sobre a ren<strong>da</strong> e o consumo, sobretudo na<br />

perspectiva macroeconômica e que não se constituíram objeto dessa pesquisa.<br />

2 MÉTODO<br />

2.1 População<br />

Foram ent<strong>revista</strong><strong>da</strong>s 100 pessoas, 50% do gênero masculino e 50% feminino, sendo<br />

essa amostra calcula<strong>da</strong> a partir do número de frequentadores nos finais de semana no referido<br />

shopping, utilizando-se um nível de significância de 10%.<br />

2.2 Local<br />

A coleta de <strong>da</strong>dos foi realiza<strong>da</strong> no final de semana (sábado) em um shopping center <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de de Londrina – PR.<br />

2.3 Instrumento<br />

112<br />

Foi elaborado um questionário contendo 19 questões relaciona<strong>da</strong>s aos seguintes aspectos:<br />

situações envolvi<strong>da</strong>s na compra por impulso e consequências dessas compras; levantamento<br />

<strong>da</strong> história de aprendizagem do indivíduo em relação aos processos de compras impulsivas; os<br />

objetos que geralmente são adquiridos; o montante gasto nessas compras; forma de pagamento<br />

<strong>da</strong>s compras; dívi<strong>da</strong>s oriun<strong>da</strong>s de compras por impulso; o conhecimento sobre os juros que são<br />

cobrados nas compras a prazo; tempo gasto para sal<strong>da</strong>r a dívi<strong>da</strong>; o penhor de bens para pagar<br />

dívi<strong>da</strong>s oriun<strong>da</strong>s dessas compras.<br />

2.4 Procedimento<br />

A pesquisa foi desenvolvi<strong>da</strong> em 9 etapas conforme descrição abaixo:<br />

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• Etapa 1: elaboração do instrumento para coleta de <strong>da</strong>dos;<br />

• Etapa 2: treinamento sobre técnicas de abor<strong>da</strong>gem com alunos dos cursos de<br />

Administração:<br />

Habilitação em Marketing e Psicologia envolvidos no projeto;<br />

• Etapa 3: determinação do tamanho <strong>da</strong> amostra utiliza<strong>da</strong> para a coleta de<br />

<strong>da</strong>dos;<br />

• Etapa 4: realização de teste piloto com o instrumento a ser utilizado para<br />

coleta de <strong>da</strong>dos;<br />

• Etapa 5: compilação e análise dos <strong>da</strong>dos resultantes do teste piloto;<br />

• Etapa 6: elaboração final do instrumento para coleta de <strong>da</strong>dos;<br />

• Etapa 7: coleta de <strong>da</strong>dos com os consumidores;<br />

TERRA E CULTURA - N o 47 - Ano 24 - Agosto a Dezembro de 2008


Elen Gongora Moreira, Maria Eduvirge Marandola, Suzana Rezende Lemanski<br />

• Etapa 8: compilação dos <strong>da</strong>dos em instrumento estatístico (análise quantitativa);<br />

• Etapa 9: cruzamentos e análise dos <strong>da</strong>dos compilados através <strong>da</strong> utilização<br />

<strong>da</strong> estatística descritiva.<br />

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A análise dos resultados permitiu constatar que 88% <strong>da</strong>s mulheres e 82% dos homens<br />

efetuam compras sem planejamento e a maioria (54%) encontrava-se na faixa etária de 18 a 33<br />

anos, com predominância de indivíduos casados e com escolari<strong>da</strong>de em nível superior.<br />

Observou-se uma maior frequência (40%) de mulheres que efetuam compras não planeja<strong>da</strong>s<br />

de 2 a 4 vezes ao mês, contra 24% dos homens, conforme o Gráfico 1. Dentre os fatores relatados<br />

que levam homens e mulheres a efetuarem compras não planeja<strong>da</strong>s estão principalmente<br />

a necessi<strong>da</strong>de de agra<strong>da</strong>r as pessoas (26% para homens e 18% para as mulheres) seguido por<br />

vai<strong>da</strong>de (18% e 34% para homens e mulheres respectivamente).<br />

Gráfico 1 - Frequência de compras não planeja<strong>da</strong>s<br />

35<br />

30<br />

25<br />

Percentual<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Pelo menos 2<br />

vezes na<br />

semana<br />

Pelo menos<br />

uma vez por<br />

semana<br />

Pelo menos<br />

duas vezes<br />

ao mês<br />

Pelo menos<br />

uma vez ao<br />

mês<br />

Raramente<br />

Nunca<br />

113<br />

Frequência<br />

masculino<br />

feminino<br />

A maioria do público masculino e feminino (76% e 56% respectivamente) declarou se<br />

sentir satisfeito imediatamente ao realizar uma compra não planeja<strong>da</strong>. Este resultado indica a consequência<br />

reforçadora contingente à resposta de comprar, e leva a pensar a respeito de que muito,<br />

embora a maioria (62% dos homens e 84% <strong>da</strong>s mulheres), tenha declarado não ter sentido dificul<strong>da</strong>des<br />

para pagar as compras adquiri<strong>da</strong>s bem como não ter contraído dívi<strong>da</strong>s em longo prazo. Um<br />

percentual significativo (em torno de 25%) afirmou ter contraído dívi<strong>da</strong>s em período superior a 1<br />

e 2 anos, sendo que 16% dos homens tiveram o nome incluído no ca<strong>da</strong>stro de devedores e 14%<br />

<strong>da</strong>s mulheres necessitaram recorrer à aju<strong>da</strong> de familiares.<br />

Roupas e calçados foram os itens mais referidos na preferência de compras não planeja<strong>da</strong>s<br />

para homens (75% roupas e 45% calçados) e mulheres (72% roupas e 52% calçados),<br />

os ent<strong>revista</strong>dos afirmaram ain<strong>da</strong> que os objetos comprados em geral são para uso próprio,<br />

conforme Gráfico 2.<br />

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Gráfico 2 - objetos normalmente adquiridos em compras não planeja<strong>da</strong>s<br />

80<br />

70<br />

60<br />

percentual<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Roupas Calçados Perfumes,<br />

cosméticos<br />

Acessórios Jóias Relógios Cds musicais,<br />

Dvds<br />

objetos adquiridos<br />

Livros e<br />

<strong>revista</strong>s<br />

masculino<br />

feminino<br />

A exposição do produto em vitrine (64% homens e 70% mulheres) foi aponta<strong>da</strong> como<br />

maior atrativo para a compra não planeja<strong>da</strong>, conforme aponta os resultados do Gráfico 3, o que<br />

é condizente com a definição deste tipo de compra, além disso, a maioria afirmou estar normalmente<br />

sozinho (44% homens e 56% mulheres) quando efetuam essas compras.<br />

Gráfico 3 - Principais atrativos para efetuar compras não planeja<strong>da</strong>s<br />

114<br />

80<br />

70<br />

60<br />

Percentual<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Exposição do<br />

produto em<br />

vitrine<br />

Anúncio na<br />

TV<br />

Anúncio de<br />

jornal<br />

Folheto <strong>da</strong> loja<br />

Liqui<strong>da</strong>ção<br />

relâmpago<br />

Facili<strong>da</strong>de de<br />

pagamento<br />

Necessi<strong>da</strong>de<br />

Principais atrativos<br />

masculino<br />

feminino<br />

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Dos ent<strong>revista</strong>dos, em torno de 50% disseram conhecer as taxas de juros e o valor final<br />

do produto ao efetuar uma compra não planeja<strong>da</strong> o que provavelmente justifique o fato <strong>da</strong> maioria<br />

não apresentar dificul<strong>da</strong>des para quitar as dívi<strong>da</strong>s. Outro fator importante que justifica esse<br />

não endivi<strong>da</strong>mento relatado pelos ent<strong>revista</strong>dos é que a maioria (46% homens e 44% mulheres)<br />

prefere pagar as contas à vista, em dinheiro, embora uma boa porcentagem (aproxima<strong>da</strong>mente<br />

40%) opte pelo cartão de crédito.<br />

As análises mostraram que o maior atrativo para as compras não planeja<strong>da</strong>s é a exposição<br />

do produto em vitrines, uma vez que a preferência demonstra<strong>da</strong> por esses ent<strong>revista</strong>dos apontou<br />

para roupas e sapatos. De fato, esses são os itens mais expostos à visão do consumidor no<br />

shopping center pesquisado. O fato <strong>da</strong> maior parte dos ent<strong>revista</strong>dos consumirem preferencial-<br />

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mente roupas e sapatos provavelmente está relacionado com o efeito reforçador informativo do<br />

objeto adquirido. De acordo com Foxall (1998), o comportamento do consumidor somente pode<br />

ser explicado analisando-se a situação de compra, ou seja, a interseção entre o cenário do comportamento<br />

do consumidor e a história de aprendizagem do mesmo. Não foi objetivo desta pesquisa<br />

investigar a fundo a história individual de ca<strong>da</strong> consumidor pesquisado, por isso, não é possível<br />

fornecer maiores informações em relação a este resultado. O que se pode afirmar quanto à história<br />

dos ent<strong>revista</strong>dos é que a maioria relatou que os objetos comprados são para uso próprio (44%<br />

homens e 58% mulheres).<br />

A facili<strong>da</strong>de em relação à forma de pagamento também se torna um forte atrativo para<br />

a compra não planeja<strong>da</strong>, pois a utilização do cartão de crédito foi cita<strong>da</strong> por um número expressivo<br />

de consumidores (42% homens e 44% mulheres). A possibili<strong>da</strong>de de adiar a consequência<br />

punitiva de ficar sem o dinheiro pode estar envolvi<strong>da</strong> nesta questão. Há também a hipótese de<br />

que a facili<strong>da</strong>de de fragmentar o pagamento integral em diversas prestações torna o sacrifício do<br />

desembolso menos traumático e dessa forma influencia a decisão <strong>da</strong> compra.<br />

De maneira geral, não foi possível estabelecer uma relação entre faixas de rendimentos e<br />

compras por impulso, apenas para as mulheres que possuem ren<strong>da</strong> entre R$380,00 e R$1.140,00<br />

constatou-se uma maior correlação. Esse fato pode estar ligado ao resultado <strong>da</strong> amostra que apontou<br />

a predominância de população jovem, esses indivíduos normalmente têm expectativa de maior ren<strong>da</strong><br />

futura o que os leva ao maior consumo presente conforme argumenta Browning e Zupan (2004).<br />

A partir do exposto, pode-se fazer uma inferência sobre os resultados encontrados em<br />

relação às dívi<strong>da</strong>s que foram contraí<strong>da</strong>s em longo prazo e as dificul<strong>da</strong>des para pagar, pois 14% <strong>da</strong>s<br />

mulheres declararam ter recorrido à aju<strong>da</strong> de parentes para saldá-las. Analisando-se o percentual<br />

salarial gasto com as compras por impulso é possível apontar ain<strong>da</strong> que exatamente 14% <strong>da</strong>s<br />

mulheres declararam gastar entre 50% e acima de 50% de sua ren<strong>da</strong> nas referi<strong>da</strong>s compras. De<br />

fato, o comprometimento de percentual expressivo <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> com compras a prazo normalmente<br />

desequilibra o orçamento e se torna uma <strong>da</strong>s maiores causas do endivi<strong>da</strong>mento pessoal.<br />

115<br />

CONCLUSÃO<br />

Constatou-se que a prática de compras sem planejamento é um ato frequente tanto para<br />

mulheres como para homens, com diferenças apenas para os tipos de objetos comprados. As<br />

razões que levam os indivíduos a esse tipo de compras estão fortemente liga<strong>da</strong>s à exposição dos<br />

produtos em vitrines e às facili<strong>da</strong>des do crédito. O prazer no ato de consumir foi apontado pelos<br />

ent<strong>revista</strong>dos bem como a escolha de produtos destinados ao seu uso próprio e com a finali<strong>da</strong>de<br />

de agra<strong>da</strong>r as pessoas.<br />

Um percentual de ent<strong>revista</strong>dos, que pode ser considerado expressivo, encontrou dificul<strong>da</strong>des<br />

em pagar as dívi<strong>da</strong>s contraí<strong>da</strong>s em longo prazo, tendo como consequência o nome incluído<br />

no ca<strong>da</strong>stro de devedores e necessi<strong>da</strong>de de recorrer à aju<strong>da</strong> de familiares. Conclui-se que, muito<br />

embora, a maioria não tivesse encontrado dificul<strong>da</strong>des para pagar suas compras a prazo, houve um<br />

número significativo de pessoas que se endivi<strong>da</strong>ram, o que confirma que se deve adotar cautela<br />

quando se compromete percentuais expressivos <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>; evita-se dessa forma a vulnerabili<strong>da</strong>de<br />

diante de imprevistos financeiros, tais como per<strong>da</strong> do emprego, doenças, acidentes, dentre outros<br />

que podem ocorrer, o que já vem sendo confirmado pelo campo de pesquisa do consumidor que<br />

reconhece que o comportamento de consumo pode ter formas e direções que são claramente contra<br />

produtivas como as consequências pessoais e sociais gera<strong>da</strong>s por este fato; entre elas se pode<br />

citar as gratificações recebi<strong>da</strong>s, que geralmente, são temporárias enquanto os resultados incluem<br />

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sentimentos de culpa e profun<strong>da</strong> impotência após a realização do fato.<br />

Embora o ato de comprar por impulso seja atribuído a uma forma de apoio à autoestima,<br />

essa prática é inadequa<strong>da</strong> à medi<strong>da</strong> que pode vir a se tornar excessiva e destruidora para as vi<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>queles que estão envolvidos no processo.<br />

A compra não planeja<strong>da</strong>, muitas vezes, pode ser atribuí<strong>da</strong> como uma resposta à alienação<br />

do consumidor; por outro lado, há fatores comportamentais complexos envolvidos no ato de compra<br />

por impulso que são desconhecidos, e que em função disso parece inviabilizar contracontroles<br />

sociais efetivos em relação a imenso número de opções e convites a compras desnecessárias. Ao<br />

considerarmos o ambiente capitalista em que estamos inseridos e a ausência de educação financeira,<br />

concluímos que o consumo consciente pode ser considerado o grande desafio para a atual<br />

geração e, provavelmente, para as futuras. Essa pesquisa buscou investigar especificamente o<br />

consumidor de shopping center, no entanto outras, em outros ambientes, poderão contribuir para<br />

as discussões acerca desse assunto.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BARRACHO, Carlos, Lições de Psicologia Econômica. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.<br />

DIAS, Raquel. O comportamento do consumidor de informações. Instituto de Cooperação e Assistência<br />

Técnica <strong>da</strong> AEUDF – Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal. Disponível<br />

em . Acesso em 22/07/2007.<br />

116<br />

FONSECA, J. S. Curso de estatística. 6 ed. São Paulo: Atlas, 1996.<br />

FOXALL. G. R. Radical Behaviorist Interpretation: Generating and evaluating an account of<br />

consumer behavior. The Behavior Analyst, 21, 321-354, 1998.<br />

SIMONSEN, Mário Henrique. Teoria Microeconômica. 10º ed. Rio de Janeiro. 1988.<br />

SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.<br />

BROWNING, Edgar K.; ZUPAN, Mark A. Microeconomia. 7ª ed. Rio de Janeiro. LTC. 2004.<br />

MARANDOLA, M.E. LEMANSKI, S.R. Estudo do perfil do consumidor de supermercados <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de de Londrina. Revista Terra e Cultura. Londrina, v. 22, n. 43, p. 41 -44, jul/dez. 2006.<br />

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A<br />

PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L.A Microeconomia. 5º ed. São Paulo: Prentice<br />

Hall, 2002.<br />

SOUZA, Nali de Jesus de, Curso de Economia. São Paulo: Atlas, 2000.<br />

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval; GARCIA, Manuel E. Fun<strong>da</strong>mentos de Economia.<br />

São Paulo: Saraiva, 1998.<br />

MANSFIELD, Edwin; YORE, Gary. Microeconomia: teoria e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2006.<br />

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AOS COLABORADORES<br />

A Revista TERRA E CULTURA é uma publicação<br />

semestral <strong>da</strong> <strong>UniFil</strong>. Tem por finali<strong>da</strong>de<br />

divulgar artigos científicos e/ou culturais que<br />

possam contribuir para o conhecimento, o<br />

desenvolvimento e a discussão nos diversos<br />

ramos do saber. Um artigo encaminhado para<br />

publicação deve obedecer às seguintes normas:<br />

1- Estar consoante com as finali<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

Revista.<br />

2- Ser escrito em língua portuguesa e digitado<br />

em espaço 1,5 (um e meio), papel<br />

tamanho A4, mantendo a configuração<br />

e formatação de acordo com as normas<br />

<strong>da</strong> ABNT. Recomen<strong>da</strong>-se que o número<br />

de páginas não ultrapasse a 15 (quinze).<br />

3- Publicar-se-ão trabalhos originais que se enquadrem<br />

em uma <strong>da</strong>s seguintes categorias:<br />

3.1- Relato de Pesquisa: apresentação de investigação<br />

sobre questões direta ou indiretamente<br />

relevantes ao conhecimento científico,<br />

através de <strong>da</strong>dos analisados com técnicas<br />

estatísticas pertinentes.<br />

3.2- Artigo de Revisão Bibliográfica: destinado<br />

a englobar os conhecimentos disponíveis<br />

sobre determinado tema, mediante análise e<br />

interpretação <strong>da</strong> bibliografia pertinente.<br />

3.3- Análise Crítica: será bem-vin<strong>da</strong>, sempre<br />

que um trabalho dessa natureza possa apresentar<br />

especial interesse.<br />

3.4- Atualização: destina<strong>da</strong> a relatar informações<br />

técnicas atuais sobre tema de interesse<br />

para determina<strong>da</strong> especiali<strong>da</strong>de.<br />

3.5- Resenha: não poderá ser mero resumo, pois<br />

deverá incluir uma apreciação crítica.<br />

3.6- Atuali<strong>da</strong>des e informações: texto destinado<br />

a destacar acontecimentos contemporâneos<br />

sobre áreas de interesse científico.<br />

4 - Re<strong>da</strong>ção:<br />

4.1) Nos casos de relato de pesquisa, embora<br />

permitindo liber<strong>da</strong>de de estilos aos autores,<br />

recomen<strong>da</strong>-se que, de um modo geral, sigam<br />

à clássica divisão:<br />

Introdução – proposição do problema e <strong>da</strong>s<br />

hipóteses em seu contexto mais amplo, incluindo<br />

uma análise <strong>da</strong> bibliografia pertinente;<br />

Metodologia - descrição dos passos principais<br />

de seleção <strong>da</strong> amostra, escolha ou elaboração<br />

dos instrumentos, coleta de <strong>da</strong>dos e procedimentos<br />

estatísticos de tratamento de <strong>da</strong>dos;<br />

Resultados e Discussão – apresentação dos<br />

resultados de maneira clara e concisa, seguidos<br />

de interpretação dos resultados e <strong>da</strong> análise de<br />

suas implicações e limitações.<br />

4.2) Nos casos de Revisão Bibliográfica, Análises<br />

Críticas, Atualizações e Resenhas,<br />

recomen<strong>da</strong>-se que os autores observem às<br />

tradicionais etapas:<br />

Introdução, Desenvolvimento e Conclusões.<br />

5- Deve ser encaminhado por e-mail, para o<br />

endereço <strong>revista</strong>terraecultura@unifil.br<br />

6- O artigo deverá apresentar resumo e palavras<br />

chaves em português e abstract e keywords<br />

em inglês.<br />

7- Indicar, por uma chama<strong>da</strong> de asterisco, em<br />

nota de ro<strong>da</strong>pé, a qualificação técnicoprofissional<br />

do(s) autor(es), com acréscimo<br />

dos respectivos e-mails para que ocorram<br />

possíveis contatos por parte dos leitores.<br />

8- O sistema de chama<strong>da</strong> para citações deverá<br />

ser o alfabético (autor-<strong>da</strong>ta), nesse caso, as<br />

referências deverão ser lista<strong>da</strong>s por ordem<br />

alfabética ao final do Artigo, respeitando a<br />

última edição <strong>da</strong>s Normas <strong>da</strong> ABNT.<br />

A publicação do trabalho nesta Revista dependerá<br />

<strong>da</strong> observância <strong>da</strong>s normas acima sugeri<strong>da</strong>s,<br />

<strong>da</strong> apreciação por parte do Conselho Editorial e<br />

dos pareceres emitido pelos Consultores. Serão<br />

selecionados os artigos apresentados de acordo<br />

com a relevância a atuali<strong>da</strong>de do tema, com o<br />

n° de artigos por autor, e com a atuali<strong>da</strong>de do<br />

conhecimento dentro <strong>da</strong> respectiva área.<br />

Conselho Editorial de<br />

TERRA E CULTURA<br />

Av Juscelino Kubitschek,1626<br />

86020-000 – Londrina-PR.<br />

Telefone: 43_3375-7400<br />

E-mail: <strong>revista</strong>terraecultura@unifil.br<br />

www.unifil.br<br />

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