[Traficando Conhecimento] Jéssica Balbino
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310 <strong>Traficando</strong> conhecimento Em foco<br />
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hoje, me sinto evoluindo. Então, aos 17 anos eu decidi ser<br />
travesti, mas uma travesti de programa”, detalha.<br />
Ao ser indagada sobre o momento em que descobriu ser<br />
homossexual e se decidiu pela prostituição, Flavinha<br />
lembra que teve a primeira experiência sexual aos 10<br />
anos. “Mas eu ainda tinha medo e a incerteza de querer<br />
realmente aquilo para minha vida. Aos 12 anos, quando<br />
cheguei em Poços, vinda da Bahia com a minha família,<br />
vi como é a vida aqui, encontrei-me com pessoas mais<br />
evoluídas e passei a me travestir”, diz.<br />
Flavinha fala também, com certa tristeza, que os pais<br />
não aceitaram de imediato o fato de ela ter começado a<br />
se travestir, aos 12 anos.<br />
“Demorou alguns anos para eles entenderem que eu<br />
havia assumido. Isso aconteceu há uns dois anos apenas,<br />
mas foi uma grande batalha”, afirma.<br />
Sobre praticar sexo por dinheiro, ela conta que os pais<br />
sabem do fato, mas ainda não assimilam com clareza a<br />
situação.<br />
A vida em Poços de Caldas<br />
“Minha vida é ótima”, conta Flavinha. Vinda da Bahia há<br />
quase oito anos, Flavinha atualmente mora sozinha, no<br />
centro da cidade. Os pais também moram em Poços, mas<br />
não dividem a mesma casa com a travesti.<br />
Com uma rotina diferente, até mesmo pelo tipo de vida<br />
escolhida, durante o dia Flavinha arruma os objetos e<br />
pertences em casa.<br />
“Minha mãe tem um estabelecimento em casa e às vezes<br />
vou para o local, que prefiro não citar, como travesti<br />
mesmo e as pessoas que entram no estabelecimento me<br />
aceitam, me tratam muito bem, da mesma forma que eu<br />
as trato”, enfatiza.<br />
Contudo, ela detalha, também, os maus tratos, vindos do<br />
preconceito e de pessoas que não assimilam situações<br />
como a que Flavinha vive.<br />
“Claro que existem pessoas maldosas, que me xingam<br />
na rua, mas eu passo de cabeça baixa, não respondo,<br />
porque a melhor a resposta é o silêncio. Mas tento ser<br />
normal, aliás, eu sou uma pessoa normal”, destaca.<br />
O programa<br />
Ao assumir que realiza programas sexuais por dinheiro,<br />
Flavinha faz questão de ressaltar que é por opção e que<br />
faz isso simplesmente porque gosta e sente prazer.<br />
Nas proximidades do Complexo Cultural da Urca, conhecido<br />
como “paredão”, é onde Flavinha costuma ficar<br />
durante as noites, em busca de dinheiro atrelado à satisfação<br />
sexual e pessoal.<br />
“Eu costumo ficar ali perto, mas já tenho vários clientes.<br />
Espero eles me buscarem em casa, pois, como sou<br />
independente, moro sozinha, eles me pegam em casa<br />
ou, aqueles fixos, que eu já conheço há tempos, costumam<br />
entrar”, conta.<br />
O preço estipulado por ela vai de acordo com a hora.<br />
Quando o programa é feito em casa, Flavinha cobra R$ 100.<br />
E quando é na rua, o preço costuma ser de R$ 50 por meia<br />
hora, que geralmente é gasta em motéis.<br />
“Ás vezes chega a acontecer no carro ou mesmo em<br />
alguns outros lugares que eu já conheço, ou que nos<br />
levam, mas que já temos referências”, diz.<br />
Ela conta, também, que não são todos os dias da semana<br />
em que programas são feitos. A frequência maior é no<br />
final de semana. “Tem dias que eu não vou ao ‘paredão’<br />
pois não estou com cabeça mesmo”, comenta.<br />
Há também horários pré-determinados pelos travestis e<br />
garotas de programa que frequentam os locais famosos