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[Traficando Conhecimento] Jéssica Balbino

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340 <strong>Traficando</strong> conhecimento Em foco<br />

341<br />

Estas foram algumas das frases que os participantes<br />

puderam ler quando encontraram as caixinhas espalhadas<br />

por todo poliesportivo. Claro que havia um número<br />

suficiente para todos participantes, mas provocar a surpresa<br />

em quem chegava primeiro era uma forma de brincar<br />

com as palavras. Pelas paredes liam-se pequenas<br />

frases, poemas e poesias, afixadas como um jeito de dar<br />

um charme no evento.<br />

Os integrantes das oficinas, tanto das de literatura<br />

como das de dança seriam parte do staff e deveriam<br />

nos auxiliar com som, controle de entrada, arrecadação<br />

de alimentos, além de, claro, participar das apresentações<br />

nas respectivas áreas. O comprometimento<br />

e o empenho dos garotos das oficinas no evento chamaram<br />

atenção. Quando propus que eles fossem inseridos<br />

em oficinas e tomassem gosto pela leitura não imaginava<br />

que o desenvolvimento da cidadania, do respeito<br />

e da responsabilidade seria desenvolvido e aflorado em<br />

tão pouco tempo. Cumprindo horários e prazos, eles<br />

apresentavam textos lidos, trechos escritos e sempre<br />

propunham mudanças em tais trechos, em um dado<br />

momento da apresentação, além de colaborar firme na<br />

arrecadação de papel reciclado para as caixinhas.<br />

Quanto ao evento, era impossível saber quando e, se,<br />

aconteceria outro, então era fundamental fazer deste o<br />

melhor possível. Cinco exemplares do “Suburbano Convicto”<br />

estavam separados para serem sorteados no<br />

evento. O objetivo era entregá-los a quem se manifestasse<br />

no sarau. Pequenos e simples troféus seriam entregues<br />

aos vencedores das batalhas.<br />

Não foi preciso montar uma lanchonete no local como<br />

fora sugerido na tempestade de ideias da primeira reunião.<br />

Assim que ônibus e vans com grupos das cidades<br />

vizinhas encostaram próximos ao ginásio, vendedores<br />

ambulantes com carrinhos de cachorro-quente e pipoca<br />

encostaram-se à calçada. Todas as pessoas que, de<br />

alguma forma, estavam ou estiveram ligadas ao hip-hop<br />

foram convidadas e os amigos da antiga crew, aquela<br />

mesma que conheci quando ainda desconhecia a cultura<br />

foram chamados para compor a banca de jurados para<br />

as batalhas de break e de rimas.<br />

Após algumas horas espremidas nos espaços curtos de<br />

vans e ônibus, pessoas das cidades vizinhas deram colorido<br />

especial ao poliesportivo. Com figurinos feitos apenas<br />

para as apresentações de dança e roupas sempre<br />

chamativas, deixaram o quilo de alimento com a portaria<br />

improvisada e seguiram o som vindo das pickups do DJ.<br />

Figurinos, músicas, dança. Além do clima de paz natural,<br />

o encontro traz a lembrança dos bailes black do início da<br />

década de 1980, propagados por Gerson King Combo. A<br />

volta dos cabelos black marca o resgate da autoestima<br />

entre os afrodescendentes e registra, também, uma<br />

nova fase da história da cultura hip-hop.<br />

“Respeite o próximo, também é nosso, se você pode eu<br />

também posso... hip...hop... hip...hop”, assim o show é<br />

aberto na marcante voz de Lu, que, no palco se transforma<br />

em Lu Afri e exibe, diferente das outras vezes,<br />

um penteado black power que lembra a força do movimento<br />

nos anos 1970.<br />

Levanto-me de onde estou e, emocionada, começo a<br />

tirar fotos do grupo e cantar junto. Observo um grupo de<br />

garotas que cantam junto no refrão e dançam, tentando<br />

acompanhar as rimas. Do outro lado, um grupo de garotos<br />

também parece bastante animado. Mais de 300 pessoas<br />

já estavam dentro e mães com filhos pequenos resolveram<br />

sair de casa acompanhando o som e chegaram até o<br />

poliesportivo. Sem o quilo de alimento para poder doar,

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