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Prosa 2 - Academia Brasileira de Letras

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Afonso Arinos, filho<br />

Em 1956, sempre imbuído e consciente do seu ofício <strong>de</strong> escritor, <strong>de</strong>le se<br />

ocupa quase todos os dias, não obstante a ida<strong>de</strong> avançada <strong>de</strong> 83 anos. Embora<br />

se dizendo muito triste, recebe cartas com “explosões eróticas” <strong>de</strong> “diletas namoradas”<br />

– mais <strong>de</strong> duas, enumera “triunfante”. Porém, dilacera-o a sauda<strong>de</strong><br />

do seu “único verda<strong>de</strong>iro amor”, da “angélica, santa, adorada companheira”<br />

Maria Luíza. As carências pecuniárias tornam-se prementes. Sente-se só, apesar<br />

da solicitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> amigos em Roma. E faz projetos <strong>de</strong> regresso <strong>de</strong>finitivo ao<br />

Brasil. Começa um terceiro livro <strong>de</strong> Memórias durante férias na Suíça (originais<br />

ainda não encontrados na <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> nem no Itamarati), vilegiatura encerrada<br />

com tristeza, pela impressão <strong>de</strong> que não mais retornaria à querida Lausanne.<br />

On<strong>de</strong>, por sinal, viu-se às voltas com três outras admiradoras, fiéis ou esquivas.<br />

Muito suscetível, a assiduida<strong>de</strong> ou ausência <strong>de</strong> manifestações pessoais ou epistolares<br />

o afetam profundamente. Preocupado com a crise internacional, con<strong>de</strong>na a<br />

repressão da revolta libertária húngara pelas tropas russas e comenta a reeleição<br />

do presi<strong>de</strong>nte Eisenhower nos Estados Unidos. Duvida da permanência <strong>de</strong> sua<br />

obra literária, pela própria imprevidência em preservá-la e divulgá-la.<br />

Em 1957, queixa-se da solidão, censura a ausência dos amigos e amigas<br />

ocupados com “a vida dissipada que levam, entre visitas frívolas e divertimentos<br />

pueris”. Atravessa um “período difícil, duro e amargo”, acossado por dificulda<strong>de</strong>s<br />

financeiras. Apesar da intenção <strong>de</strong>notada no ano anterior, retorna a<br />

Lausanne para a vilegiatura <strong>de</strong> verão. Porém, <strong>de</strong>sta vez, “salvo um milagre”, dá<br />

a<strong>de</strong>us à cida<strong>de</strong> dileta. Sempre às voltas com amiza<strong>de</strong>s femininas, ora esquivas,<br />

ora ternas, <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-se, carinhosamente, <strong>de</strong> uma empregadinha, com “meiguíssimos<br />

e gostosíssimos” beijos platônicos (por causa da ida<strong>de</strong>, reconhece). Finda<br />

o ano, “triste, triste! no isolamento e em crise <strong>de</strong> dinheiro!”.<br />

Aqui se encerram, também, seus diários. Azeredo contava, então, 85 anos, e<br />

sobreviveu por mais seis. Apoiado em Afonso Arinos e no chanceler Negrão<br />

<strong>de</strong> Lima (este, levei-o a visitá-lo, e se condoeu <strong>de</strong>le), obteve nomeação simbólica<br />

<strong>de</strong> consultor da nossa Embaixada junto à Santa Sé. Tal providência permitiu<br />

lhe fossem remetidos do Brasil, ao câmbio oficial, os proventos da aposentadoria,<br />

assegurando ao velho diplomata fim <strong>de</strong> vida muito mo<strong>de</strong>sto, porém,<br />

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