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Artigo - Contrato de namoro? - Por José Darci Pereira Soares - Recivil

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<strong>Artigo</strong> - <strong>Contrato</strong> <strong>de</strong> <strong>namoro</strong>? - <strong>Por</strong> <strong>José</strong> <strong>Darci</strong> <strong>Pereira</strong> <strong>Soares</strong><br />

<strong>Por</strong> <strong>José</strong> <strong>Darci</strong> <strong>Pereira</strong> <strong>Soares</strong>: advogado (OAB/RS nº 44.198)<br />

Houve um tempo em nossa história em que os limites eram mais bem <strong>de</strong>finidos.<br />

Havia a esquerda e a direita; havia socialismo e capitalismo; havia o certo e o<br />

errado. Lamentavelmente, a <strong>de</strong>speito da advertência do dramaturgo Nelson<br />

Rodrigues, segundo a qual "toda unanimida<strong>de</strong> é burra", parece que caminhamos<br />

para uma indiferenciação <strong>de</strong>sses vetores.<br />

E, como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, concluo que as relações sociais, ou mais<br />

propriamente as relações afetivas e suas respectivas implicações jurídicas também<br />

restaram afetadas por essa avalancha. Não sei se o mesmo fenômeno ocorre em<br />

outras partes do mundo, mas aqui nestas plagas Tupiniquins, a famosa Lei <strong>de</strong><br />

Gerson vicejou mais robusta por esse efeito sociológico.<br />

O que quero dizer é que a dominação da i<strong>de</strong>ologia capitalista com sua implicação do<br />

consumo pelo consumo, também esten<strong>de</strong>u seus efeitos para <strong>de</strong>ntro das relações<br />

afetivas. Então, hoje as pessoas não se relacionam privilegiando apenas os<br />

aspectos afetivos. Não! Relacionam-se apenas com aparente predomínio dos laços<br />

afetivos, mas com os olhos bem abertos para o possível proveito patrimonial que<br />

disso possa lhes resultar.<br />

A admissão na nossa Carta Constitucional do instituto da união estável, a meu<br />

sentir, teve apenas o efeito <strong>de</strong> afastar o caráter discriminatório <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> união<br />

afetiva. Não foi o bastante, porém, para que a maioria dos casais que optam por<br />

essa espécie <strong>de</strong> união adotasse por norma formalizar a união mediante documento<br />

escrito. E a experiência tem <strong>de</strong>monstrado quantas discussões, quantas li<strong>de</strong>s<br />

judiciais seriam evitadas se essa simples cautela se interpusesse entre os enlevos<br />

<strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al romântico que já não é próprio <strong>de</strong>sta quadra histórica.<br />

Percebe-se que no momento da <strong>de</strong>cisão pela união marital há uma supervalorização<br />

do fator 'confiança', fator esse que se acha erodido pela prepon<strong>de</strong>rância do <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> acumular, do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> 'levar vantagem em tudo' - , <strong>de</strong>sejo esse que é<br />

inculcado na socieda<strong>de</strong> pela i<strong>de</strong>ologia do sistema econômico.<br />

A questão é: se ainda emprestássemos valor real à palavra 'empenhada',<br />

possivelmente não enfrentaríamos surpresas <strong>de</strong>sagradáveis. A erosão, pois, do<br />

valor da 'palavra', o <strong>de</strong>sejo da acumulação e ausência <strong>de</strong> provas quanto à<br />

verda<strong>de</strong>ira natureza das relações, é que leva a tantos conflitos, a tantas pretensões<br />

<strong>de</strong> divisão patrimonial que <strong>de</strong>ixa aquele gosto amargo e a sensação <strong>de</strong> quanto se<br />

foi ingênuo (a) ou inocente.<br />

É nesse contexto que o contrato escrito <strong>de</strong> união estável hoje é um remédio mais<br />

do que recomendável. É essencial para quem quer evitar que haja mudança nas<br />

regras que se supunha estivessem postas. E, como a abertura dos costumes sociais<br />

é tão liberal que é difícil distinguir o que seja uma coisa e outra, os mais estritos<br />

falam até em 'contrato <strong>de</strong> <strong>namoro</strong>'. A idéia não chega a ser exagerada porque<br />

muitas das <strong>de</strong>mandas que objetivam o reconhecimento da união estável sem<br />

sucesso, por via indireta são tidas como mera relação <strong>de</strong> <strong>namoro</strong>.<br />

Ora, isso implica que aquele que <strong>de</strong>seja se assegurar contra surpresas futuras,<br />

po<strong>de</strong>ria formalizar com a <strong>de</strong>finição clara <strong>de</strong> qual a natureza da relação. O<br />

lamentável <strong>de</strong> tudo isso, é, mais uma vez, o <strong>de</strong>svalor da palavra, do compromisso,<br />

da confiança... Ainda bem que se diz que a socieda<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve por ciclos.


Então, ainda há esperança <strong>de</strong> uma reversão para tempos em que o homem não<br />

seja, como agora, o ' lobo do homem'.<br />

(*) E.mail: darci.ms@terra.com.br<br />

Fonte: Espaço Vital

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