A barra palatina intrui mesmo os molares? - Dental Press
A barra palatina intrui mesmo os molares? - Dental Press
A barra palatina intrui mesmo os molares? - Dental Press
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Pergunte a um Expert<br />
Adilson Luiz Ram<strong>os</strong> responde<br />
A <strong>barra</strong> <strong>palatina</strong> <strong>intrui</strong> <strong>mesmo</strong><br />
<strong>os</strong> <strong>molares</strong>?<br />
Dr. Chrisler Luís Andrade<br />
Cursando Especialização em Ortodontia - UEM Maringá-PR<br />
INTRODUÇÃO<br />
Diante d<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> clínic<strong>os</strong> e relat<strong>os</strong> da literatura, pode-se<br />
afirmar que sim. Mas trata-se de uma intrusão relativa,<br />
que depende da idade, características na sua construção<br />
e p<strong>os</strong>ição, e padrão facial.<br />
A <strong>barra</strong> <strong>palatina</strong> vem sendo aplicada na mecânica<br />
ortodôntica de forma crescente pela fácil confecção,<br />
p<strong>os</strong>sibilidade de controle tridimensional<br />
e ampla gama de<br />
opções clínicas. Vári<strong>os</strong> autores<br />
concordam com <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> da<br />
<strong>barra</strong> <strong>palatina</strong> para a expansão e<br />
contração, correção de rotações,<br />
inclinações e torques, auxiliar de<br />
distalização, e ancoragem moderada<br />
1-11, 13, 15-21, 23 . Entretanto, um<br />
efeito expressivo de intrusão não<br />
foi devidamente comprovado<br />
por experiment<strong>os</strong> clínic<strong>os</strong>. A<br />
variabilidade de resp<strong>os</strong>ta entre<br />
<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> clínic<strong>os</strong> suporta a dificuldade<br />
em prever o efeito deste<br />
disp<strong>os</strong>itivo ortodôntico.<br />
Segundo Cetlin, apud Mc-<br />
Namara Jr., e Brudon 15 a confecção<br />
de um “looping” maior<br />
e direcionado para mesial ,<br />
permitiria uma melhor atuação<br />
da língua sobre a <strong>barra</strong>, distribuindo forças intrusivas<br />
sobre <strong>os</strong> <strong>molares</strong>. Ney e Goz 17 concluíram que as forças<br />
intrusivas ocorrem tanto se o looping estiver para mesial,<br />
quanto para distal. Porém, recomendaram que o looping<br />
f<strong>os</strong>se direcionado para distal, para que o momento gerado<br />
junto à força intrusiva, inclinasse o molar para distal,<br />
favorecendo a ancoragem, bem como a Correção da<br />
Classe II. Burstone 4 , sugeriu a inclusão de um botão de<br />
acrílico na área do looping da <strong>barra</strong>, para que não lesasse<br />
a muc<strong>os</strong>a lingual, quando da confecção de uma <strong>barra</strong><br />
mais baixa (i.e., mais afastada do palato para obtenção<br />
de maior efeito intrusivo).<br />
Hata 10 demonstrou uma significante intrusão d<strong>os</strong><br />
<strong>molares</strong> superiores de macac<strong>os</strong>, com o uso da <strong>barra</strong><br />
<strong>palatina</strong>, validando o controle vertical p<strong>os</strong>sibilitado por<br />
este disp<strong>os</strong>itivo.<br />
Recentemente, Chiba et al. 6 ,<br />
demonstraram que a força da<br />
língua exercida sobre o looping<br />
é maior quando o <strong>mesmo</strong> está<br />
p<strong>os</strong>icionado mais próximo da<br />
área do segund<strong>os</strong> <strong>molares</strong> e à<br />
6mm afastada do palato. Chiba<br />
et al. 6 , utilizaram um medidor de<br />
pressão acoplado no looping da<br />
<strong>barra</strong>. Verificaram as forças liberadas<br />
quando o looping está a 2, 4 e<br />
6mm afastado do palato. Também<br />
pesquisaram a quantidade de força<br />
liberada variando-se a p<strong>os</strong>ição ântero-p<strong>os</strong>terior<br />
do looping. Examinaram<br />
a pressão quando o looping<br />
estava direcionado para mesial e<br />
na área d<strong>os</strong> pré-<strong>molares</strong>, quando<br />
estava direcionado para distal e<br />
na área d<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> <strong>molares</strong> e<br />
quando estava para distal e na área d<strong>os</strong> segund<strong>os</strong> pré-<strong>molares</strong>.<br />
Observaram que a pressão da língua sobre a <strong>barra</strong><br />
<strong>palatina</strong> afastada 2mm do palato foi de 97g/cm 2 , quando<br />
o looping estava p<strong>os</strong>icionado mais anteriormente (região<br />
de pré-<strong>molares</strong>). Registraram que a força aumentou para<br />
uma média de 178g/cm 2 , quando o looping da <strong>barra</strong> foi<br />
p<strong>os</strong>icionado mais p<strong>os</strong>teriormente (região d<strong>os</strong> 2 <strong>os</strong> <strong>molares</strong>),<br />
e mantida afastada 2mm. Documentaram também que o<br />
R Clín Ortodon <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong>, Maringá, v. 2, n. 1, p. 19-20 - fev./mar. 2003 • 19
Pergunte a um Expert<br />
afastamento de 2 para 4 e 6mm aumentou significantemente<br />
a pressão da língua sobre a BP, para até 223g/cm 2 (maior<br />
na região d<strong>os</strong> 2 <strong>os</strong> <strong>molares</strong>). Entretanto, não foi significante<br />
a diferença entre 4 e 6mm. Estas evidências permitiram<br />
sugerir que, para a finalidade de intrusão, a <strong>barra</strong> deveria<br />
ser confeccionada com o looping para distal, p<strong>os</strong>icionado<br />
entre a região de primeir<strong>os</strong> e segund<strong>os</strong> <strong>molares</strong>, e afastado<br />
de 4 a 6mm do palato. Torna-se importante ressaltar que<br />
a <strong>barra</strong> deve ser confeccionada respeitando-se a tolerância<br />
do paciente, e a medida que se habitua, pode-se aumentar<br />
a distância do palato.<br />
Lazzara 13 apud McNamara e Brudon 15 , avaliou a<br />
pressão lingual sobre a <strong>barra</strong> em 11 jovens com padrão<br />
vertical e observou menores forças distribuídas. A força<br />
p<strong>os</strong>tural da língua sobre o palato parece ser menor no<br />
dolicofacial. Provavelmente devido à p<strong>os</strong>ição mais baixa<br />
da língua na p<strong>os</strong>tura e deglutição n<strong>os</strong> padrões cefalométric<strong>os</strong><br />
verticais 12 .<br />
Mesmo diante das evidências de pressionamento<br />
lingual sobre o looping da <strong>barra</strong>, pouc<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> foram<br />
realizad<strong>os</strong> para testar a significância disto na clínica.<br />
Wise et al. 23 não encontraram diferenças significantes<br />
no grau de movimentação vertical d<strong>os</strong> <strong>molares</strong> entre <strong>os</strong><br />
grup<strong>os</strong> com e sem <strong>barra</strong> <strong>palatina</strong>. Porém, a <strong>barra</strong> foi usada<br />
por apenas 6 meses e afastada 1 a 2 mm do palato. Mesmo<br />
sem significância estatística, <strong>os</strong> autores estimaram uma<br />
restrição de 0,2mm na extrusão d<strong>os</strong> <strong>molares</strong>.<br />
Já Deberardinis et al. 8 , observaram um significante<br />
controle vertical com o uso da <strong>barra</strong> com botão de acrílico.<br />
Observaram que a AFAI aumentou men<strong>os</strong> no grupo<br />
experimental com <strong>barra</strong>, e o SNGoGn diminuiu 1 grau<br />
na média. A <strong>barra</strong> foi usada por 17 ± 6 meses. O movimento<br />
vertical d<strong>os</strong> <strong>molares</strong> foi de 0,82mm no grupo com<br />
a <strong>barra</strong>, enquanto no grupo controle foi de 1,23mm. Isto<br />
indicou que o molar extruiu em amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> grup<strong>os</strong>, mas<br />
foi restringido no grupo com a <strong>barra</strong>, conferindo uma<br />
intrusão relativa. O movimento vertical (acompanhando<br />
o desenvolvimento alveolar) d<strong>os</strong> <strong>molares</strong> é de aproximadamente<br />
1mm por ano d<strong>os</strong> 9 a<strong>os</strong> 14 an<strong>os</strong> 14, 22 .<br />
A experiência clínica e relat<strong>os</strong> de cas<strong>os</strong> n<strong>os</strong> tem evidenciado<br />
um importante papel da <strong>barra</strong> para o controle<br />
vertical d<strong>os</strong> <strong>molares</strong> (i.e., região p<strong>os</strong>terior dentária).<br />
Portanto, caro Chrisler, diante das evidências clínicas<br />
e científicas, não podem<strong>os</strong> esperar grandes “milagres”<br />
intrusiv<strong>os</strong> da <strong>barra</strong> <strong>palatina</strong>, mas podem<strong>os</strong> usá-la como<br />
um ótimo colaborador para o fechamento de mordidas<br />
abertas anteriores (principalmente no paciente em crescimento),<br />
bem como para o gerenciamento da mecânica<br />
no paciente vertical.<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. BALDINI, G.; LUDER, H. U. Influences of arch shape on the transverse effects of<br />
transpalatal arches of the G<strong>os</strong>hgarian type during application of buccal root torque.<br />
Am J Orthod, St. Louis, v. 81, p. 202-208, 1982.<br />
2. BURSTONE, C. J.; KOENIG, H. A. Precision adjustment of the transpalatal<br />
lingual arch: computer arch form determination. Am J Orthod, St. Louis, v. 79, p.<br />
115-133, 1981.<br />
3. BURSTONE, C. J.; MANHARTSBERGER, C. Precision lingual arch: passive applications.<br />
J Clin Orthod, Boulder, v. 22, p. 444-451, 1988.<br />
4. BURSTONE, C. J.; MANHARTSBERGER, C. Precision lingual arch: active applications.<br />
J Clin Orthod, Boulder, v. 23, p.101-109, 1989.<br />
5. CETLIN, N. M.; TEN HOEVE, A. Non extraction treatment. J Clin Orthod,<br />
Boulder, v.17, p.396-413, 1983.<br />
6. CHIBA, Y. et al. Tongue pressure on loop of transpalatal arch during deglution Am J<br />
Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v.123, p. 29-34, 2003.<br />
7. DAHLQUIST, A.; GEBAUER, U.; NGERVALL, B. The influence of transpalatal<br />
arch for the correction of first molar rotation. Eur J Orthod, London, v.18, no. 3, p.<br />
257-267, 1996.<br />
8. DEBERARDINIS, M. et al. Evaluation of the vertical holding appliance in treatment<br />
of high-angle patients Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 117,<br />
p.700-705, 2000.<br />
9. GRIFFIES, J. M.; MEYERS, C.E. Treatment of a Class I bimaxillary protrusive malocclusion<br />
with a high mandibular plane angle: an American Board of Orthodontics<br />
case report. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 117, p.60-67, 2000.<br />
10. HATA, M. Effect on the dentofacial complex of Macaca irus of functional tongue<br />
forces imparted on a palatal bar. J Osaka Dent Univ, [S.l.], v. 27, p.51-66, 1993.<br />
11. INGERVALL, B; GÖLLNER, P.; GEBAUER, U.; FRÖHLICH, K. A clinical<br />
investigation of the correction of unilateral first molar cr<strong>os</strong>sbite with a transpalatal<br />
arch. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v.107, p. 418-425,1995.<br />
12. JONAS, I.; MANN, W.; MÜNDER, G.; JUNDER, W.; SCHUMANN, X.<br />
Relationship between tubal function, craniofacial morphology end disorder of de<br />
glutition. Arch Otorhinolaringol, v. 218, no. 3, p. 151-162. 1978.<br />
13. LAZZARA, D. J. Lingual force on the G<strong>os</strong>hgarian palatal bar. 1976. Master<br />
Thesis. Loyola University, Chicago, 1976.<br />
14. MARTINS, D. R. et al. Atlas de crescimento craniofacial. São Paulo: Ed. Sant<strong>os</strong>, 1998.<br />
15. McNAMARA Jr., J. A.; BRUDON, W. L. Orthodontic and orthopedic treatment<br />
in the mixed dentition. Ann Arbor, Needham <strong>Press</strong>, p.179, 1993.<br />
16. MELSEN, B.; BONETTI, G.; GIUNTA, D. Statically determinate Transpalatal<br />
arches. J Clin Orthod, Boulder, v. 28, no. 10, p. 602-606, 1994.<br />
17. NEY, T; GOZ, G. Force-moment measurements on the passive palatal arch under<br />
the influence of the tongue. Fortshr Kieferorthop, [S. l.], v 54, p. 249-254, 1993.<br />
18. PANHÓCA, V. H.; LIMA, R. S. Barra trans<strong>palatina</strong>: aplicações e seus efeit<strong>os</strong>. R Straight<br />
Wire Brasil, n. 5, 994.<br />
19. RAMOS, A. L.; SAKIMA, M. T.; PINTO, A. S.; MARTINS, L. P.; RAVELLI,D. B.<br />
Barra <strong>palatina</strong>. R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n.1, p.75-100,<br />
2000.<br />
20. RAMOS, A. L.; SAKIMA, M. T.; PINTO, A. S. A <strong>barra</strong> <strong>palatina</strong> e as geometrias<br />
das ativações. In: _____.Nova visão em Ortodontia e Ortopedia Funcional d<strong>os</strong><br />
Maxilares. São Paulo: Ed. Sant<strong>os</strong>, 2003. cap. 9, p. 465.<br />
21. REBELLATO, J. Sistemas de aparelh<strong>os</strong> ortodôntic<strong>os</strong> com dois binári<strong>os</strong>: arc<strong>os</strong><br />
transpalatin<strong>os</strong> in atualidades em Ortodontia. Colômbia: Premier, 1997. p. 43..<br />
22. RIOLO, M. L. et al. An atlas of craniofacial growth: cephalometric standards<br />
from the university school growth study of the University of Michigan. An Arbor,<br />
Michigan: University of Michigan, 1974.<br />
23. WISE, J. B. et al. Maxillary molar vertical control with the use of transpalatal arches.<br />
Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 106, p. 403-408, 1994.<br />
Prof. Dr. Adilson Luiz Ram<strong>os</strong><br />
- Mestre em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade<br />
de São Paulo - USP/Bauru.<br />
- Doutor em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade<br />
Estadual Paulista - UNESP/Araraquara.<br />
- Professor de Ortodontia do Departamento de Odontologia da Universidade<br />
Estadual de Maringá - UEM/Maringá<br />
- Coordenador do curso de Especialização em Ortodontia da ABO/Maringá.<br />
Você tem uma pergunta que g<strong>os</strong>taria de ver publicada nesta<br />
coluna? Envie para: <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International<br />
Av. Euclides da Cunha, 1718, Zona 05 - Maringá - PR<br />
CEP 87015-180 - Fone: (44) 262-2425<br />
e-mail: revclinica@dentalpress.com.br<br />
20 • R Clín Ortodon <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong>, Maringá, v. 2, n. 1, p. 19-20 - fev./mar. 2003