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As aves nos símbolos do futebol brasileiro - Atualidades Ornitológicas

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quan<strong>do</strong> da fundação da cidade. O mesmo pode dizer de Com isso, observa-se que embora um símbolo deva<br />

Pato Branco (Paraná), cidade batizada em alusão ao rio possuir características suficientemente fieis para o<br />

homônimo que, segun<strong>do</strong> consta em <strong>do</strong>cumentos oficia- pronto reconhecimento de seus elementos, apenas uma<br />

is, abrigava “patos-brancos”, possivelmente de uma pequena parte (39,2%) <strong>do</strong>s escu<strong>do</strong>s de clubes brasileiespécie<br />

relativamente rara no Paraná, o pato-de-crista ros representa adequadamente as <strong>aves</strong> sob as quais o<br />

(Sarkidiornis sylvicola). Infelizmente os funda<strong>do</strong>res foco é dirigi<strong>do</strong>. Note-se que essa avaliação não refere<strong>do</strong>s<br />

clubes que abrigam anatídeos em seus escu<strong>do</strong>s não se à beleza da apresentação e sim tão somente à possibiatentaram<br />

para esse detalhe, crian<strong>do</strong> uma figura estiliza- lidade de reconhecimento independente <strong>do</strong> animal.<br />

da de patos <strong>do</strong>mésticos.<br />

Cabe destacar também que quatro brasões levam a um<br />

Os psitacídeos também são elementos explora<strong>do</strong>s com reconhecimento unicamente intuitivo, com base na denoalguma<br />

significância (n=5), sen<strong>do</strong> possível notar destacar minação <strong>do</strong> clube, como por exemplo, <strong>nos</strong> casos da araas<br />

araras (em três escu<strong>do</strong>s) e, a esse respeito, salienta-se ponga e <strong>do</strong> tangará. Sobre esse último há que se considerar<br />

que um <strong>do</strong>s emblemas mostra duas espécies de <strong>aves</strong>, as ara- que o próprio nome da cidade que empresta a denominaras<br />

vermelha (A.chloropterus) e a azul (Ano<strong>do</strong>rhynchus ção ao clube (Tangará da Serra) e, por extensão, da ave que<br />

hyacinthinus), característica aparentemente única no Bra- figura como timbre, situa-se em uma região onde a espécie<br />

sil.<br />

citada, ou seja, o tangará (Chiroxiphia caudata), não ocor-<br />

Com duas ocorrências estão a garça, a gralha-azul e o re. A composição <strong>do</strong> topônimo, de fato, teria si<strong>do</strong> feita para<br />

azulão e, figuran<strong>do</strong> em apenas um escu<strong>do</strong>, o biguá, o gua- diferenciar outro município (em Santa Catarina) onde eferá,<br />

o tuiuiú, o tucano, o tangará, a araponga, o canário e a tivamente o pássaro existe (L.F.de A.Figueire<strong>do</strong>, 2010, in<br />

patativa; aí também se enquadra um brasão, atribuí<strong>do</strong> a um litt.).<br />

pássaro inidentificável, mas que – pelo padrão de forma –<br />

seria atribuível a um passeriforme. Por fim, duas “<strong>aves</strong>” Representatividade geográfica<br />

que fazem parte <strong>do</strong> imaginário universal, leia-se mitológi- Ao mesmo tempo em que os desenhos mostra<strong>do</strong>s <strong>nos</strong><br />

cas, aparecem cada qual em um escu<strong>do</strong>: o íbis e a fênix. emblemas são mal elabora<strong>do</strong>s e sem um mínimo cuida<strong>do</strong><br />

de ilustrar as espécies pretendidas, também é notável o<br />

Fidelidade<br />

pequeno significa<strong>do</strong> geográfico a eles destina<strong>do</strong>. Se avali-<br />

Ajuntan<strong>do</strong> essas informações sob o contexto de reco- adas as espécies claramente identificáveis adicionadas<br />

nhecimento visual <strong>do</strong> símbolo, seja por observação impar- àquelas cujas informações secundárias permitem uma<br />

cial e independente, seja por inferência, pode-se chegar à rápida preleção biogeográfica, obtém-se o seguinte pa<strong>nos</strong>eguinte<br />

síntese. Três <strong>aves</strong> ilustradas não podem ser iden- rama. Do total analisa<strong>do</strong>, apenas 41 escu<strong>do</strong>s permitem<br />

tificadas visualmente e tampouco as informações disponí- uma conclusão mais precisa sobre o contexto de distribuiveis<br />

sobre o clube permitem sequer uma aproximação <strong>do</strong> ção geográfica ou área de ocorrência das espécies de <strong>aves</strong>.<br />

grupo a que se referem os desenhos. Das demais, catorze To<strong>do</strong>s os demais aludem a animais irreconhecíveis de aproescu<strong>do</strong>s<br />

mostram <strong>aves</strong> igualmente inidentificáveis mas ximação taxonômica tão imprecisa que esse tipo de consique<br />

são reconhecidas, particularizadamente – e com deração é impossível.<br />

algum esforço – com base em da<strong>do</strong>s secundários das agre- O aspecto mais notável está na repetitiva alusão à águiamiações<br />

(tradição, denominação, etc); quatro delas são de-cabeça-branca, uma espécie neártica, assim como em<br />

“águias”, duas são “patos”. <strong>aves</strong> <strong>do</strong>mésticas como o galo e o pato. São apenas 17<br />

Sob olhar técnico, 27 escu<strong>do</strong>s ilustram <strong>aves</strong> cuja iden- (22,9%) os escu<strong>do</strong>s que se referem a espécies genuinatidade<br />

poderia ser atribuída a um grupo superior, por mente brasileiras e silvestres, destacan<strong>do</strong>-se o carcará<br />

exemplo, uma ordem ou família taxonômica. Quinze (n=3), gralha-azul e azulão (n=2 cada um).<br />

deles aludem a uma águia ou gavião (ou seja, um Accipi- Essa situação é curiosa, haja vista a preferência por<br />

triforme diurno), três mostram um pássaro de pequeno elementos que ocorrem em outras regiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

porte e <strong>do</strong>is referem-se a um psitacídeo, uma garça ou assim como espécies <strong>do</strong>mésticas e, eventualmente, de<br />

um pombo; uma única ocorrência mostra uma coruja. <strong>aves</strong> que costumam ser mantidas em cativeiro. Não há<br />

Situação especial e curiosa aparece no desenho de uma dúvida, então, que há um contraste enorme entre a selearara-azul<br />

para um clube cujo símbolo e denominação ção de <strong>símbolos</strong> e a avifauna brasileira que reflete, com<br />

alude a outra espécie profundamente distinta, a maraca- efeito, uma característica cultural brasileira. Concluínã.<br />

mos que as <strong>aves</strong> são elementos simbológicos e culturais<br />

De to<strong>do</strong> esse montante, restam apenas 29 escu<strong>do</strong>s <strong>nos</strong> importantes no País e na Nação mas o desconhecimento<br />

quais a espécie intencionalmente referida aparece clara e de detalhes mais básicos sobre seus formatos e cores<br />

reconhecivelmente como tal, sen<strong>do</strong> que treze deles acaba causan<strong>do</strong> uma deturpação profunda dessa rela-<br />

(44,8%) representam a águia-de-cabeça-branca (Haliae- ção. O povo <strong>brasileiro</strong>, de um mo<strong>do</strong> geral, gosta e admitus<br />

leucocephalus), oito mostram um galo, <strong>do</strong>is aludem ao ra as <strong>aves</strong> mas sequer sabe distingui-las e muito me<strong>nos</strong><br />

carcará (Caracara plancus) e à gralha-azul e, com uma úni- tem conhecimento sobre a gigantesca diversidade disca<br />

entrada, aparecem: pato (Cairina moschata), arara- ponível. Também pouco sabe sobre espécies que ocorcanindé+arara-vermelha,<br />

guará, tuiuiú e tucano-de-bico- rem apenas em algumas regiões e que poderiam, com<br />

preto.<br />

grande destaque, ser utilizadas como elementos simbo-<br />

46<br />

<strong>Atualidades</strong> <strong>Ornitológicas</strong> On-line Nº 158 - Novembro/Dezembro 2010 - www.ao.com.br

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