Monografia Final - PEGS - Fundação Getulio Vargas
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Isso reforça o fato de estar acontecendo uma mudança no tipo de turismo que é<br />
oferecido em favelas, pois, como já citado anteriormente, no princípio as atividades turísticas<br />
nos morros cariocas visavam levar o turista para se aventurar no meio de criminosos e de<br />
pobreza. Atualmente, como falado, por iniciativa dos próprios moradores e por causa das<br />
UPPs esse tipo de turismo já é muito difícil de ser encontrado.<br />
Além disso, os moradores do Cantagalo também reforçam que o turismo deve ser uma<br />
atividade que traga algum tipo de retorno para a favela, seja através da geração de emprego e<br />
renda ou do intercâmbio cultural.<br />
Eu, por exemplo, só acredito no turismo, o turismo que tem um retorno pro morador.<br />
Esse retorno ele pode ser financeiro ou esse retorno pode ser afetivo. A forma como<br />
você vai compor ai, esses dois, isso cabe ao morador. Porque cada turista que você<br />
passa por uma casa, todo morador pode botar o que ele quer pra vender. Se ele vai<br />
vender água é com ele mesmo. Porque a intenção nossa é sempre gerar renda pro<br />
morador. O turismo que eu faço, o turismo que eu acredito, o turismo que a gente<br />
trabalha é o turismo social. O turismo social que o turista entrou, mas ele deixou<br />
alguma coisa de bom pra essa favela. Do contrário é exploratório. (Moradora e<br />
integrante do MUF).<br />
Tendo isso em vista, atualmente o turismo que é oferecido no Cantagalo em sua<br />
maioria acontece com essa proposta de destacar a sua riqueza cultural, a sua história e de<br />
gerar benefícios para a favela. Entretanto na visão geral dos moradores, a maioria dos turistas<br />
quando sobem no Cantagalo não estão buscando isso, pois não entendem o que é uma favela<br />
pacificada e acreditam que o melhor que essas áreas podem oferecer é a vista da cidade.<br />
Ah, tá, eu acho que sei lá. Tem uns gringos que deve pensar assim, deve chegar aqui<br />
na favela, aí, olha só a selva onde eu passei. Tirei a foto aqui, olha só... eu acho que<br />
alguns, eu to falando alguns, não to falando todos não. Alguns chegam aqui, caraca<br />
olha só por onde eu passei. Olha só a dificuldade, olha o grau de dificuldade. Eu<br />
passei por aqui, passei por aqui, olha essas pessoas perigosíssimas, mas tem uma<br />
visão aqui, eles sempre chega no final, a única coisa que eles elogiam é a visão. (...)<br />
Vem aqui e acham que aqui é um zoológico. Eles vêm tiram a foto, não deixa um<br />
dinheiro aqui e vão embora (Morador, padeiro e líder de um projeto de reciclagem).<br />
Tinha um fotógrafo holandês, ele vinha aqui, como se fosse um soldado. E tirando<br />
foto, ele se jogava no chão assim (Morador e fotógrafo).<br />
Eles ficam deslumbrados com a própria arquitetura que pra gente é loucura, é um<br />
conflito, uma coisa louca, mas pra eles é fora da realidade. Eles precisam de se<br />
organizar pra construir uma casa pra pagar um arquiteto. Aqui não tem nada disso<br />
(Morador, artista plástico e líder de um projeto de reciclagem).<br />
A percepção geral dos moradores, principalmente daqueles que não trabalham com<br />
turismo, é de que o turista ainda sobe na favela com o objetivo de se aventurar em uma favela<br />
carente e que a única coisa que eles levam de bom é a vista. Já os moradores que trabalham<br />
com turismo tem uma visão diferente, para eles o turista, que costumava apenas ouvir coisas