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A Guerra do Paraguai lida na chave da retórica ... - IFCS - UFRJ

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epresentação prévia consistiu no trabalho <strong>do</strong>s editores <strong>da</strong> REB, que apresentaram ao público<br />

leitor – forma<strong>do</strong> por militares – duas longas <strong>na</strong>rrativas memorialísticas de <strong>do</strong>is veteranos <strong>da</strong><br />

<strong>Guerra</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong>. Ou seja, foi a partir <strong>do</strong> desenvolvimento de um tipo de retórica<br />

testemunhal que foi cria<strong>do</strong> o campo semântico que alimentou o potencial rememorativo <strong>da</strong><br />

<strong>Guerra</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong>.<br />

Acreditamos que a iniciativa <strong>do</strong> comitê editorial <strong>da</strong> REB em publicar essas <strong>na</strong>rrativas<br />

representou o começo <strong>do</strong> esforço em construir uma memória oficial acerca <strong>da</strong> <strong>Guerra</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Paraguai</strong>, algo que somente foi concluí<strong>do</strong>, depois de muitas disputas simbólicas, em 1901, no<br />

governo de Campos Sales, quan<strong>do</strong> o dia 24 de maio, aniversário <strong>da</strong> Batalha <strong>do</strong> Tuiuti (1867),<br />

foi declara<strong>do</strong> a principal <strong>da</strong>ta <strong>do</strong> calendário simbólico <strong>do</strong> exército. E mais, esse esforço<br />

simbólico <strong>do</strong>s editores <strong>da</strong> REB foi central para a constituição <strong>do</strong> campo semântico que<br />

possibilitou o sucesso <strong>da</strong> construção simbólica em questão. Antes de focar nossa análise <strong>na</strong>s<br />

<strong>na</strong>rrativas de Miguel Calmon e Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Veiga e ensaiar uma hipótese explicativa acerca <strong>do</strong>s<br />

motivos pelos quais os editores <strong>da</strong> REB aprovaram a publicação desses textos é interessante<br />

pensar com mais cui<strong>da</strong><strong>do</strong> o perfil editorial <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> periódico.<br />

A publicação <strong>da</strong> Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro começou a ser planeja<strong>da</strong> em 1881 5 ,<br />

quan<strong>do</strong> o ministro <strong>da</strong> guerra era o conselheiro Franklin Américo de Menezes Dória. A revista<br />

contou com publicação mensal e foi o primeiro periódico científico-militar oficial <strong>do</strong> exército<br />

brasileiro. A direção <strong>da</strong> revista era forma<strong>da</strong> pelos majores Alfre<strong>do</strong> Ernesto Jacques Ourique e<br />

Antônio Vicente Ribeiro Guimarães e pelo capitão Francisco Agostinho de Mello Souza<br />

Menezes. Os diretores relataram que a idéia <strong>da</strong> publicação <strong>do</strong> periódico foi “unicamente <strong>do</strong>s<br />

espíritos militares” e que a corporação ain<strong>da</strong> necessitava <strong>do</strong> apoio <strong>do</strong> ministro <strong>da</strong> guerra<br />

quan<strong>do</strong> este deixou o poder junto com o ministério de que fazia parte. É possível perceber a<br />

estima que Franklin Américo de Menezes Dória gozava junto aos editores <strong>da</strong> Revista <strong>do</strong><br />

Exército Brasileiro. Menezes Dória é caracteriza<strong>do</strong> como o “ilustra<strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão, que hoje se<br />

acha afasta<strong>do</strong> <strong>da</strong> administração militar” 6 . Ao mesmo tempo a direção faz uma crítica aos<br />

“parti<strong>do</strong>s que se digladiam no império em busca <strong>do</strong> poder supremo” e se declara,<br />

Isenta <strong>da</strong> paixão partidária. Não será, entretanto, indiferente aos<br />

destinos <strong>da</strong> pátria; mas no campo <strong>da</strong> política inter<strong>na</strong>, terá em mira,<br />

tão somente, a elevação moral <strong>do</strong> grande corpo coletivo a que<br />

pretende servir. Não criará tropeços a marcha <strong>da</strong> administração<br />

superior; não terá jamais palavras- nem de louvor nem de censura<br />

5 A Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro (1882-1889). To<strong>do</strong>s os volumes <strong>do</strong> periódico estão disponíveis para a consulta<br />

<strong>na</strong> Biblioteca Nacio<strong>na</strong>l.<br />

6 Ver o editorial <strong>da</strong> Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro: Janeiro de 1883. p. 02.<br />

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