22.11.2014 Views

A Guerra do Paraguai lida na chave da retórica ... - IFCS - UFRJ

A Guerra do Paraguai lida na chave da retórica ... - IFCS - UFRJ

A Guerra do Paraguai lida na chave da retórica ... - IFCS - UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

esse comitê. Esses militares, por sua vez, ocupavam os altos postos <strong>da</strong> burocracia militar.<br />

Acreditamos não ser abusivo afirmar que eles representavam uma espécie de “proto-Esta<strong>do</strong><br />

Maior”. Ou seja, o saber veicula<strong>do</strong> pela Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro pode ser considera<strong>do</strong> a<br />

manifestação de um projeto epistemológico oficial. É necessário, por outro la<strong>do</strong>, localizar a<br />

recepção <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> periódico. Eram constantes as queixas <strong>do</strong>s diretores <strong>da</strong> revista em<br />

relação ao interesse <strong>da</strong> imprensa civil e <strong>do</strong>s próprios militares 9 . A explicação talvez esteja no<br />

conturba<strong>do</strong> momento político. A circular-programa <strong>da</strong> revista foi publica<strong>da</strong> em agosto de<br />

1881 e a publicação <strong>da</strong>s edições começou em janeiro <strong>do</strong> ano seguinte com 300 assi<strong>na</strong>ntes 10 .<br />

Ou seja, a Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro começou a ser publica<strong>da</strong> em um perío<strong>do</strong> de grande<br />

efervescência política. A questão militar se tornou ca<strong>da</strong> vez mais explícita durante a déca<strong>da</strong> de<br />

1880 11 . Recepção à parte, o conhecimento produzi<strong>do</strong> pela Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro nos<br />

permite acessar o começo <strong>da</strong> construção de um senso comum histórico acerca <strong>da</strong> <strong>Guerra</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Paraguai</strong>.<br />

Podemos começar a interpretação <strong>da</strong>s <strong>na</strong>rrativas de Miguel Calmon e Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Veiga<br />

pela análise <strong>da</strong> importância que os editores <strong>da</strong> REB atribuíam ao conhecimento histórico. O<br />

discurso de abertura <strong>do</strong> ano letivo <strong>da</strong> Escola Militar proferi<strong>do</strong> pelo dr Thomas Alves Junior,<br />

capitão de infantaria, em 15 de março de 1883 e publica<strong>do</strong> <strong>na</strong> edição de abril <strong>da</strong> Revista <strong>do</strong><br />

Exército Brasileiro evidencia a importância <strong>do</strong> conhecimento histórico para a “Paidéia”<br />

desenvolvi<strong>da</strong> <strong>na</strong>quela instituição de ensino militar. O palestrante assevera que o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

“ciência histórica assim como <strong>da</strong>s outras ciências huma<strong>na</strong>s” é de suma importância para que<br />

o sol<strong>da</strong><strong>do</strong> “embruteci<strong>do</strong>” seja substituí<strong>do</strong> pelo “sol<strong>da</strong><strong>do</strong> educa<strong>do</strong> no dever moral”. Para o<br />

ora<strong>do</strong>r, somente um currículo “humanista” é capaz de formar o modelo ideal <strong>do</strong> sol<strong>da</strong><strong>do</strong>ci<strong>da</strong>dão<br />

que possui como principal discipli<strong>na</strong><strong>do</strong>r sua própria consciência livre 12 .<br />

As <strong>na</strong>rrativas que nos interessam destoam notoriamente <strong>do</strong>s outros artigos publica<strong>do</strong>s<br />

pela revista. Geralmente os artigos começavam e termi<strong>na</strong>vam <strong>na</strong> mesma edição mensal. As<br />

memórias de Miguel Calmon foram paulati<strong>na</strong>mente publica<strong>da</strong>s durante um ano – entre março<br />

de 1884 e abril de 1885- e o texto de Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Veiga começou a ser publica<strong>do</strong> em dezembro<br />

de 1886 e somente foi concluí<strong>do</strong> em janeiro de 1888.<br />

O texto “As memórias <strong>da</strong> Campanha <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong>” foi a primeira referência à <strong>Guerra</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong> feita <strong>na</strong> REB. O autor <strong>do</strong> texto se propõe a concretizar <strong>do</strong>is objetivos: informar<br />

alguns fatos que marcaram a campanha <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong> e,<br />

9 Sobre esse aspecto é sintomático o editorial de janeiro de 1883 <strong>da</strong> Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro.<br />

10 Ver Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro. Fevereiro de 1883.<br />

11 Ver Hamilton Monteiro. Brasil República. São Paulo: Editora Ática, 1986.<br />

12 Ver Revista <strong>do</strong> Exército Brasileiro. Abril de 1883.<br />

4

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!