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Caderno 16 - Conselho Nacional de Saúde - Ministério da Saúde

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<strong>Ca<strong>de</strong>rno</strong>s<br />

18 <strong>de</strong> Ética em<br />

Pesquisa<br />

sem incorrer em dúvi<strong>da</strong>s, sobre o<br />

que é uma pesquisa ética em<br />

humanos? O compromisso médico<br />

<strong>da</strong> Associação Médica Mundial,<br />

cita<strong>da</strong> na Declaração <strong>de</strong> Helsinki,<br />

aponta umbilicalmente a questão,<br />

asseverando: “A Saú<strong>de</strong> do meu<br />

paciente será minha primeira<br />

consi<strong>de</strong>ração”. Parece-nos uma<br />

resposta lúci<strong>da</strong>, sucinta e clara. É<br />

evi<strong>de</strong>nte que a celeuma não se<br />

resolve aqui. O que preten<strong>de</strong>mos<br />

é um novo olhar sobre a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

normativa, a tradição<br />

científica e o respeito ao ser<br />

humano. Nesse sentido, as ciências<br />

<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser os fins, e o homem<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser os meios; há um<br />

chamamento à inversão.<br />

Aí, e somente aí, po<strong>de</strong>mos<br />

introduzir uma discussão entre<br />

direitos humanos e pesquisas em<br />

humanos. Em alguma parte <strong>da</strong><br />

pesquisa científica teremos que<br />

confrontar o problema <strong>de</strong> como<br />

é feita a pesquisa científica e <strong>de</strong><br />

como ela <strong>de</strong>veria ser realiza<strong>da</strong>.<br />

Não estamos aqui contestando o<br />

valor <strong>da</strong> experimentação e dos<br />

experimentos introduzidos pela<br />

ciência mo<strong>de</strong>rna; estamos sim,<br />

perguntando por que uma tradição<br />

edificou um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> como<br />

se enten<strong>de</strong>r os fenômenos <strong>da</strong><br />

natureza sem conciliar o respeito<br />

à vi<strong>da</strong>? Afinal,<br />

Nosso corpo é o mesmo velho<br />

corpo do homem primitivo. É sujeito<br />

às mesmas velhas doenças. Nosso<br />

crânio é ain<strong>da</strong> o mesmo no qual os<br />

antigos bem-intencionados, com<br />

uma lógica dolorosa, faziam buracos<br />

para aliviar dores <strong>de</strong> cabeça<br />

ou libertar os <strong>de</strong>mônios <strong>da</strong> loucura.<br />

As múmias sofreram <strong>de</strong> apendicite,<br />

artrite e <strong>de</strong>nte estragados.<br />

(Gordon, R. A assustadora<br />

história <strong>da</strong> medicina, 2004, p. 30).<br />

A partir <strong>de</strong>ssa citação, po<strong>de</strong>mos<br />

especular que não foram as<br />

inovações metódicas <strong>da</strong> ciência<br />

mo<strong>de</strong>rna que alteraram o entendimento<br />

do ser humano, trata-se<br />

<strong>de</strong> uma tradição. A mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

revolucionou os procedimentos, o<br />

saber que os antigos já tinham<br />

estabelecido sobre o homem e o<br />

universo, mas não lhe interessava<br />

uma interpretação filosófica sobre<br />

o homem e as ciências.<br />

Parece-nos que chegamos à<br />

questão central do problema entre<br />

direitos humanos e pesquisas em<br />

humanos e não nos referimos mais<br />

à normativa jurídica (embora<br />

presente) sobre os direitos universais<br />

humanos, mas sim a Ética, ou<br />

melhor, a falta <strong>de</strong> ética na pesquisa<br />

científica. Não preten<strong>de</strong>mos iniciar<br />

uma discussão especializa<strong>da</strong> sobre<br />

o tema, mas enten<strong>de</strong>mos que as<br />

divergências entre os direitos<br />

humanos e pesquisas em humanos<br />

acontece pela ausência <strong>de</strong> uma<br />

reflexão ética que possa dialeticamente<br />

permitir conquistas<br />

científicas e respeito aos animais<br />

humanos e não-humanos.<br />

Não cabe aqui apresentar exemplos<br />

<strong>de</strong> ações virtuosas ou vis na<br />

pesquisa, mas nos cumpre pensar<br />

que to<strong>da</strong> ação que não enxerga o<br />

outro como um indivíduo que<br />

precisa ser respeitado, instala a<br />

violência contra o homem. Aliás, os<br />

abusos cometidos contra os homens<br />

levaram a discussão <strong>de</strong> quais seriam<br />

as normas para uma pesquisa<br />

científica ética. Desse modo, tal<br />

empresa ganhou contornos além<br />

dos salões filosóficos, pois vem<br />

sendo muito discuti<strong>da</strong> por pesquisadores<br />

<strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 3 e<br />

também possibilitou a construção<br />

do Relatório Belmont.<br />

As inovações tecnológicas, no<br />

último século, bem como a falta<br />

<strong>de</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e do respeito à<br />

digni<strong>da</strong><strong>de</strong> humana levou a socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

a se conscientizar sobre as<br />

ações não-éticas <strong>de</strong> uma consi<strong>de</strong>rável<br />

soma <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

científica. Os embaraços éticos<br />

provocados pelo sucesso <strong>da</strong> ciência<br />

permitiu revelar o alto preço que<br />

paga a espécie humana em nome<br />

<strong>de</strong> seu <strong>de</strong>slumbramento científico;<br />

tais <strong>de</strong>scobertas levaram a refletir<br />

que os experimentos científicos<br />

<strong>de</strong>vem beneficiar a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

não ser usado contra ela.<br />

Nessas linhas, apontamos a<br />

razão e seu papel como fonte<br />

instaladora <strong>da</strong> civili<strong>da</strong><strong>de</strong> em contraposição<br />

a barbárie. Sabemos<br />

também que a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

para uma mente generosa é pior<br />

do que a morte (Andrew Hamilton<br />

apud Figueredo, Carlos. 100<br />

discursos históricos, 2002, p.173);<br />

sabemos mais, sabemos que o<br />

homem é a única criatura capaz<br />

<strong>de</strong> raciocinar e tomar ações e

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