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O Ensino de Geografia e o Livro Didático como Instrumento no ...

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V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES<br />

I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE<br />

08 a 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2011<br />

UFS – Itabaiana/SE, Brasil<br />

O <strong>Ensi<strong>no</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> e o <strong>Livro</strong> <strong>Didático</strong> <strong>como</strong> <strong>Instrumento</strong> <strong>no</strong> Processo Educacional<br />

Gilliard dos Santos Passos (UFS) 1<br />

Samira <strong>de</strong> Jesus Nascimento (UFS) 2<br />

Daniele dos Santos Reis (UFS) 3<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os acontecimentos do mundo atual afetam a educação <strong>de</strong> várias maneiras,<br />

provocando mudanças <strong>no</strong> que concerne ao papel que esta exerce sobre a formação <strong>de</strong><br />

cidadãos em um mundo que exige qualificação profissional e flexibilida<strong>de</strong>.<br />

Dentro <strong>de</strong>ssa <strong>no</strong>va socieda<strong>de</strong> atual, marcada pelos avanços tec<strong>no</strong>lógicos tanto <strong>no</strong>s<br />

setores econômicos, políticos quanto educacionais, analisar as configurações que a educação<br />

assume se torna tarefa necessária para os estudiosos da educação e <strong>de</strong>sta questão <strong>de</strong>stacar o<br />

papel do livro didático, <strong>como</strong> “instrumento pedagógico”, <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e<br />

aprendizagem, assim <strong>como</strong> as consequências da maneira <strong>como</strong> vem sendo utilizado este<br />

recurso na sala <strong>de</strong> aula.<br />

Esta análise justifica-se, principalmente, por o livro didático vir se <strong>de</strong>stacando <strong>como</strong><br />

um importante objeto <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong>vido, além <strong>de</strong> outros fatores, a sua permanência <strong>como</strong> um<br />

dos suportes essenciais e <strong>de</strong> ação constante <strong>no</strong> dia-a-dia do professor persistindo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> caracterizada por um e<strong>no</strong>rme avanço tec<strong>no</strong>lógico, <strong>de</strong>ntro do qual este vem<br />

procurando também “adaptar-se” para melhor possibilitar uma leitura e aprendizagem atrativa<br />

e motivadora, sem diminuir a sua importância.<br />

Alvo <strong>de</strong> avaliações contraditórias <strong>no</strong> que se refere a sua contribuição na vida<br />

complicada do professor, nas quais o enfoque e abordagem variam conforme o campo <strong>de</strong><br />

investigação, o livro didático tem sido valorizado <strong>como</strong> importante auxílio nas salas <strong>de</strong> aula,<br />

assim <strong>como</strong> o culpado pela precária educação escolar. Visto <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra, cabe<strong>no</strong>s<br />

agora analisar as principais causas <strong>de</strong>ste, principalmente a partir do século XIX com a<br />

1 Graduado em <strong>Geografia</strong> Licenciatura pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe, Campus Prof. Alberto Carvalho. E-mail:<br />

gspufs@hotmail.com<br />

2 Graduada em <strong>Geografia</strong> Licenciatura pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe, Campus Prof. Alberto Carvalho. E-mail:<br />

samirageo@yahoo.com.br.<br />

3 Graduada em <strong>Geografia</strong> Licenciatura pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe, Campus Prof. Alberto Carvalho. E-mail: daniele<strong>de</strong>mais@hotmail.com.<br />

ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES<br />

GEPIADDE/UFS/ITABAIANA<br />

ISSN 2176-7033<br />

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08 a 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2011<br />

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criação <strong>de</strong> uma política educacional <strong>no</strong> país e na década <strong>de</strong> 90 com a implantação dos<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais pelo Ministério da Educação (MEC), ser o referencial<br />

básico mais usado <strong>no</strong> trabalho dos professores, assim <strong>como</strong> refletir a partir da sua<br />

complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza, <strong>como</strong> eles acabam “impedindo” as reflexões, ou possíveis<br />

discordâncias, <strong>de</strong>vido ao forte papel i<strong>de</strong>ológico na reprodução <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> classes,<br />

ligados à lógica da mercantilização e das formas <strong>de</strong> consumo atuais.<br />

A elaboração do artigo <strong>de</strong>u-se a partir <strong>de</strong> revisão discussão bibliográfica, meio pelo<br />

qual foi possível <strong>de</strong>senvolver a discussão e possíveis conclusões iniciais, ou hipóteses para<br />

serem verificadas em pesquisas complementares.<br />

Além disso, foi feito uso do método dialético, pois este <strong>no</strong>s permitiu que<br />

buscássemos analisar <strong>de</strong> forma crítica a realida<strong>de</strong> apresentada, a partir <strong>de</strong> choques ou<br />

contradições apresentadas entre situações, possibilitando uma explicação mais clara para a<br />

<strong>no</strong>va situação <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>sse conflito.<br />

A IMPORTÂNCIA E A UTILIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO<br />

Conforme a história, o livro didático surge <strong>como</strong> uma apropriação pedagógica que<br />

complementa livros clássicos e facilita a alfabetização, <strong>de</strong>vido principalmente ao uso <strong>de</strong> uma<br />

linguagem mais simplória, assim <strong>como</strong> uma forma <strong>de</strong> divulgação dos estudos das ciências. No<br />

entanto, a sua origem não é tão recente, <strong>como</strong> aponta Galti (2004, p. 36)<br />

[...] está na cultura escolar mesmo antes da invenção da imprensa <strong>no</strong> final do<br />

século XV. Na época em que os livros eram raros, os próprios estudantes<br />

universitários europeus produziam seus ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>de</strong> texto. Com o<br />

surgimento da imprensa, os livros tornaram-se os primeiros produtos feitos<br />

em série e ao longo do tempo à concepção do livro <strong>como</strong> “fiel <strong>de</strong>positário<br />

das verda<strong>de</strong>s científicas universais” foi se solidificando realizando uma<br />

espécie <strong>de</strong> transmissão do conhecimento científico para as salas <strong>de</strong> aula.<br />

Isso mostra que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem, o livro didático sempre esteve voltado a transmitir<br />

visões <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong> diferentes épocas e com diferentes papéis i<strong>de</strong>ológicos, já que o saber<br />

científico produzido pelos estudantes da época refletiam a influência do meio sobre este.<br />

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A história do livro didático está muito ligada as transformações políticas e<br />

econômicas pelas quais passam um país <strong>no</strong> momento em que surgem, e isso não foi diferente<br />

<strong>no</strong> Brasil.<br />

No Brasil, especificamente, o livro didático surge <strong>como</strong> orientação da formulação<br />

dos projetos pedagógicos escolares que acompanham a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma política educacional<br />

brasileira <strong>no</strong> século XIX, tornando-se uma espécie <strong>de</strong> “bíblia” que servia para conduzir o<br />

trabalho do professor, assim <strong>como</strong> a maneira <strong>como</strong> esse conteúdo <strong>de</strong>veria ser ensinado.<br />

“A partir da década <strong>de</strong> 1970, verifica-se uma preocupação crescente com a<br />

formulação <strong>de</strong> currículos oficiais, não que tal preocupação não existisse<br />

anteriormente, mas o crescimento populacional brasileiro, o aumento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>manda pela escola pública, a ampliação da re<strong>de</strong> oficial <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, o<br />

crescimento rápido do sistema educacional sem uma proporcional<br />

qualificação <strong>de</strong> seus recursos huma<strong>no</strong>s, aviltados pelo rebaixamento dos<br />

salários, tor<strong>no</strong>u-se “imperiosa” a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um currículo mínimo que<br />

orientasse a ação docente <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental e médio” (PONTUSCHKA<br />

E OLIVEIRA, 2004, p. 297 -298).<br />

Um dos principais pontos que justificam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> operacionalização do<br />

currículo, passado através dos livros didáticos, seria a busca, através do investimento pesado<br />

na escolarização, por um <strong>no</strong>vo tipo <strong>de</strong> trabalhador, com uma qualificação flexível e que<br />

aten<strong>de</strong>sse as <strong>de</strong>mandas em um ritmo cada vez mais acelerado, satisfazendo os <strong>no</strong>vos<br />

interesses econômicos da época. O Brasil buscava a sua inserção na eco<strong>no</strong>mia mundial,<br />

através do processo <strong>de</strong> globalização, mo<strong>de</strong>rnizando-se <strong>como</strong> fator essencial ao modo <strong>de</strong><br />

produção capitalista, através <strong>de</strong> custos e tempo mínimos.<br />

Como importante veículo sistematizador <strong>de</strong> conteúdos, o livro didático acaba<br />

surgindo com um importante papel i<strong>de</strong>ológico, pois transmite valores dos grupos dominantes,<br />

já que <strong>no</strong> seu processo <strong>de</strong> elaboração ele acaba sendo o “mediador entre a proposta oficial do<br />

po<strong>de</strong>r expressa <strong>no</strong>s programas curriculares e o conhecimento escolar ensinado pelos<br />

professores” (BITTENCOURT, 2001, p. 72 - 73), o instrumento <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong> classes e<br />

do conhecimento oficial imposto por <strong>de</strong>terminadas classes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e pelo Estado.<br />

De maneira a ampliar esse papel i<strong>de</strong>ológico, segue-se ainda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise<br />

da abordagem produzida <strong>no</strong>s livros didáticos, enfatizando as limitações que esta provoca <strong>no</strong><br />

processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e aprendizagem, assim <strong>como</strong> as principais causas da aceitação, por parte<br />

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<strong>de</strong> alguns professores, <strong>de</strong>ste recurso <strong>como</strong> principal orientador, ou até mesmo guia <strong>de</strong><br />

trabalho.<br />

Conforme BITTENCOURT,<br />

“Ele é portador <strong>de</strong> textos que auxiliam, ou po<strong>de</strong>m auxiliar, o domínio da<br />

leitura escrita em todos os níveis <strong>de</strong> escolarização, serve para ampliar<br />

informações, veiculando e divulgando, com uma linguagem mais acessível,<br />

o saber científico. Possibilita, igualmente, a articulação em suas páginas <strong>de</strong><br />

outras linguagens além da escrita, que po<strong>de</strong>m fornecer ao estudante uma<br />

maior auto<strong>no</strong>mia frente ao conhecimento. Por seu intermédio, o conteúdo<br />

programático da disciplina torna-se explícito e, <strong>de</strong>ssa forma, tem condições<br />

<strong>de</strong> auxiliar a aquisição <strong>de</strong> conceitos básicos do saber acumulado pelos<br />

métodos e pelo rigor científico” (2001, p. 73).<br />

Dessa forma, para que o conhecimento científico possa ser transmitido nas salas <strong>de</strong><br />

aula, o livro didático precisa adotar uma linguagem mais acessível, que possa ser<br />

compreendida pelo público infantil ou juvenil. Contudo, o uso <strong>de</strong>ssa linguagem tem<br />

acontecido <strong>de</strong> maneira a simplificar questões complexas, carecendo <strong>de</strong> aprofundamento, que<br />

acabam comprometendo a ação do livro didático na formação intelectual mais autô<strong>no</strong>ma dos<br />

alu<strong>no</strong>s. A linguagem que produz acaba comprometendo os conteúdos dos livros <strong>no</strong> que se<br />

refere à análise crítica ou uma possível discordância do que vem sendo colocado pelos autores<br />

<strong>como</strong> “verda<strong>de</strong> absoluta”.<br />

Nesse sentido cabe ressaltar a importância que vem ganhando a atuação do professor,<br />

principalmente <strong>no</strong> modo <strong>como</strong> vêm fazendo uso do livro didático, sendo que estes po<strong>de</strong>m<br />

transformar essa visão i<strong>de</strong>ológica que traz o livro didático em um a<strong>de</strong>quado instrumento <strong>de</strong><br />

trabalho, eficientemente capaz <strong>de</strong> ser aproveitado e a<strong>de</strong>quado a um ensi<strong>no</strong> mais autô<strong>no</strong>mo.<br />

Além disso, é necessário que se faça uma análise crítica pelo professor do material que lhe<br />

está sendo oferecido, abrangendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a linguagem utilizada até os objetivos apresentados<br />

nas unida<strong>de</strong>s.<br />

Segundo CASTROGIOVANNI,<br />

[...] é importante que o professor analise se há <strong>no</strong> corpo do livro<br />

didático, coerência entre a concepção da obra e o modo <strong>como</strong> o<br />

conteúdo é tratado: escolha e sequência temática, organização das<br />

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ativida<strong>de</strong>s e linguagens, sendo esses alguns exemplos que retratam a<br />

concepção teórico-metodológica do livro didático (1999, p. 138).<br />

No entanto, em alguns casos, o que vem acontecendo é uma falta <strong>de</strong> conexão entre os<br />

objetivos metodológicos dos autores e as práticas docentes, o que não tem garantido a<br />

aprendizagem, além da utilização, pelo professor, do livro didático muito mais <strong>como</strong> um guia,<br />

fazendo muitas vezes a cópia inteira ou do resumo do texto do livro na lousa, com explicações<br />

rápidas, ou até mesmo sem explicações, limitando-se a apenas uma produção didática.<br />

Apesar da maioria dos professores verem o livro didático muito mais <strong>como</strong> um guia<br />

do que <strong>como</strong> um dos possíveis instrumentos <strong>de</strong> trabalho, apoiando-se quase totalmente neste<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento das suas aulas, seja por falta <strong>de</strong> outros recursos didáticos ou não, isso<br />

não implica que a utilização do livro didático <strong>como</strong> único recurso, indique a má formação ou<br />

falta <strong>de</strong> comprometimento por parte do professor. Como já foi dito, uma boa aula po<strong>de</strong> ser<br />

dada até mesmo sem a utilização do livro didático, a partir <strong>de</strong> projetos, textos <strong>de</strong> vários livros,<br />

filmes, aulas <strong>de</strong> campo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que acompanhados <strong>de</strong> uma leitura crítica <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong><br />

complexa.<br />

Umas das principais causas da aceitação e uso, por parte <strong>de</strong> alguns professores, do<br />

livro didático muito mais <strong>como</strong> reféns <strong>de</strong>ste, <strong>de</strong>ve-se em partes ao não acompanhamento do<br />

nível <strong>de</strong> preocupação da “qualida<strong>de</strong>” nesse sentido referindo-se a qualida<strong>de</strong> exigida pelo<br />

(Ministério da Educação) MEC para a sua aprovação e compra em larga escala pelo Gover<strong>no</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral, comparada a busca pela melhoria das condições <strong>de</strong> trabalho essenciais para uma<br />

melhor realização do processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>/aprendizagem, e <strong>de</strong> uma série política <strong>de</strong> valorização<br />

dos professores.<br />

Assim, segundo SPÓSITO,<br />

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[...] há uma preocupação maior com a elaboração <strong>de</strong> livros que satisfazem as<br />

exigências feitas pelo Programa Nacional do <strong>Livro</strong> <strong>Didático</strong> (PNLD), tendo<br />

<strong>como</strong> referência o potencial mercado nacional, enquanto “há um <strong>de</strong>clínio<br />

franco da qualida<strong>de</strong> do ensi<strong>no</strong>/aprendizagem realizada. Mal formados<br />

intelectualmente e com a remuneração em <strong>de</strong>clínio, os professores<br />

encontram-se reféns dos currículos e instrumentos didáticos, <strong>como</strong> os livros<br />

didáticos que lhes são apresentados; em parte, porque é pequena sua<br />

capacida<strong>de</strong>/auto<strong>no</strong>mia intelectual <strong>de</strong> seleção e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> opções para a<br />

realização <strong>de</strong> seu trabalho didático; em parte, porque a ampliação da jornada<br />

<strong>de</strong> trabalho e do número <strong>de</strong> escolas em que realizam seu trabalho torna<br />

exíguo seu tempo livre para a formação continuada e preparação <strong>de</strong> seu<br />

material <strong>de</strong> trabalho” (2004, p. 306).<br />

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Portanto, necessita-se primeiramente <strong>de</strong> uma política séria <strong>de</strong> valorização dos<br />

professores para que se possa haver uma maior preocupação com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, <strong>no</strong><br />

que se refere à responsabilida<strong>de</strong> do professor, possibilitando que este <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> submeter-se<br />

<strong>como</strong> mero refém do livro didático e passe a tornar-se um profissional capaz <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quá-lo as<br />

condições <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> contraditória e nada <strong>de</strong>mocrática, formando cidadãos críticos da<br />

realida<strong>de</strong> vivenciada.<br />

Para melhor analisarmos o papel do livro didático <strong>como</strong> “instrumento pedagógico”<br />

utilizado <strong>de</strong> forma abrangente nas salas <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> escolas públicas às privadas, assim<br />

<strong>como</strong> as conseqüências do modo <strong>como</strong> vem sendo utilizado, é necessário que compreendamos<br />

o que vem a ser o livro didático e qual o significado <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>ntro da realida<strong>de</strong> educacional<br />

brasileira, especificamente.<br />

“Atualmente, a ampla produção cultural disponibiliza múltiplas linguagens a<br />

ser utilizadas <strong>como</strong> auxiliares na compreensão e análise do espaço<br />

geográfico. Não obstante, os livros didáticos continuam a ser o gran<strong>de</strong><br />

referencial na sala <strong>de</strong> aula para alu<strong>no</strong>s e professores das escolas públicas e<br />

privadas do país, embora sejam utilizados <strong>de</strong> formas variadas: às vezes,<br />

permitindo que o alu<strong>no</strong> faça uma reflexão; muitas vezes, trabalhando <strong>de</strong><br />

modo tradicional e não reflexivo.” (PONTUSCHKA; PAGANELLI;<br />

CACETE, 2007, p. 339).<br />

Este recurso é resultado <strong>de</strong> uma produção que leva o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> vários autores, mas<br />

tem por trás interesses diversos, <strong>como</strong> o <strong>de</strong> mercado, o político e o i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> pessoas em<br />

seu tratamento industrial antes <strong>de</strong> chegar as prateleiras das livrarias e das escolas, sendo,<br />

portanto, muito mais que um instrumento pedagógico, uma mercadoria editorial, que obe<strong>de</strong>ce<br />

aos avanços técnicos existentes na lógica capitalista, o qual além <strong>de</strong> sofrer interferências <strong>de</strong><br />

diferentes formas durante o seu processo <strong>de</strong> fabricação e comercialização, acaba<br />

consequentemente atuando <strong>como</strong> um objeto cultural, já que transmite concepções <strong>de</strong> mundo<br />

<strong>de</strong> diferentes grupos sociais e em diferentes tempos. Além disso, o livro didático é também<br />

um <strong>de</strong>positário dos conteúdos escolares que <strong>de</strong> certa forma elabora e sistematiza os conteúdos<br />

das disciplinas programadas pelas propostas curriculares e que precisam ser repassadas ao<br />

professor <strong>como</strong> conhecimentos fundamentais <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>terminada época.<br />

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CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Sendo assim, o livro didático permanece, mesmo em meio a uma socieda<strong>de</strong> marcada<br />

pelo avanço da tec<strong>no</strong>logia, <strong>como</strong> um importante instrumento <strong>de</strong> trabalho pedagógico além <strong>de</strong><br />

um excelente veículo i<strong>de</strong>ológico, que trás <strong>no</strong> seu bojo valores, tradições e costumes <strong>de</strong><br />

pessoas ligadas a sua produção, intensificadas tanto pela abordagem que trás <strong>no</strong> seu conteúdo<br />

<strong>como</strong> pelo seu uso diferenciado e comprometedor. Assim o livro didático po<strong>de</strong> mostrar-se<br />

<strong>como</strong> um eficiente veículo, mas o próprio professor vai ter um papel <strong>de</strong> mediador <strong>de</strong>ntro do<br />

processo <strong>de</strong> <strong>Ensi<strong>no</strong></strong> aprendizagem. Dessa forma o professor com sua prática pedagógica <strong>de</strong>ve<br />

estar em constante busca <strong>de</strong> instrumentos e recursos que enriqueça o seu cotidia<strong>no</strong> na sala <strong>de</strong><br />

aula, <strong>de</strong> forma que contribua para a formação <strong>de</strong> cidadãos críticos, conscientes e reflexivos. E<br />

a questão do livro ser eficiente ou ineficiente irá <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da maneira <strong>como</strong> o professor utiliza<br />

<strong>no</strong> processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e aprendizagem.<br />

Contudo, merece maior <strong>de</strong>staque a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um maior enfoque na maneira<br />

<strong>como</strong> este vem sendo utilizado na sala <strong>de</strong> aula <strong>como</strong> material único ou principal adotado pelos<br />

professores, o que consequentemente acaba influenciando a formação da cidadania e <strong>de</strong>ixando<br />

<strong>de</strong> lado o incentivo à pesquisa e a criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos saberes importante <strong>no</strong> crescimento <strong>de</strong> cada<br />

um dos indivíduos.<br />

Sendo assim, vale ressaltar que o livro didático mesmo sendo alvo <strong>de</strong> muitas visões<br />

contraditórias, po<strong>de</strong> sim ser um ótimo instrumento didático para o professor, contanto que<br />

este saiba usufruí-lo <strong>de</strong> maneira apropriada, <strong>de</strong>stacando-se nesse ponto a importância da<br />

atuação do professor na transformação <strong>de</strong>sse instrumento i<strong>de</strong>ológico e fonte <strong>de</strong> lucro em um<br />

a<strong>de</strong>quado instrumento <strong>de</strong> trabalho.<br />

No entanto, as condições precárias <strong>de</strong> trabalho pelas quais passam os professores, a<br />

má remuneração, a dupla jornada <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>ntre outros fatores, acabam comprometendo<br />

as opções <strong>de</strong> trabalho possíveis e tornando-os submissos as propostas que lhes são colocadas,<br />

contribuindo assim <strong>de</strong> certa forma na concretização do papel i<strong>de</strong>ológico para o qual é<br />

<strong>de</strong>signado o livro didático.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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BITTENCOURT, Circe (org.).<br />

Contexto, 2001.<br />

O saber histórico na sala <strong>de</strong> aula. 4ª Ed. São Paulo:<br />

CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos et alli. <strong>Geografia</strong> em sala <strong>de</strong> aula: práticas e<br />

reflexões. 2. Ed. Porto Alegre: Editora da Universida<strong>de</strong>/UFRGS/ Associação dos Geógrafos<br />

Brasileiros – Seção Porto Alegre, 1999.<br />

PAULINO, Clenice. O <strong>Ensi<strong>no</strong></strong> De <strong>Geografia</strong> Nos Dias Atuais.<br />

http://www.webartigos.com/articles/8559/1/A-Educacao-E-O-<strong>Ensi<strong>no</strong></strong>-Da-<br />

<strong>Geografia</strong>/pagina1.html. Acessado <strong>no</strong> dia 08/10/2010.<br />

PONTUSCHKA, Nídia Nacib. PAGANELLI, Tomoko Iyda. CACETE, Núria Hanglei. Para<br />

ensinar e apren<strong>de</strong>r geografia. 1ª Ed. São Paulo: Cortez, 2007.<br />

PONTUSCHKA, Nídia Nacib. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbeli<strong>no</strong> (orgs.).<br />

perspectiva. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2004.<br />

<strong>Geografia</strong> e<br />

ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES<br />

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