Revista Leitura de Bordo Setembro 2014
2015 prepare-se para viajar
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Questão <strong>de</strong> Estilo<br />
Através <strong>de</strong>ste artigo, também sem qualquer<br />
ficção, mostrarei a você como três gerações me<br />
permitiram compreen<strong>de</strong>r a função <strong>de</strong> estar na<br />
moda e ter um estilo e o quanto isso po<strong>de</strong> ser<br />
fascinante. Ao rever parte das histórias <strong>de</strong> minha<br />
avó, minha mãe e a minha, assimilei melhor o<br />
sentido <strong>de</strong> estar ou não na moda e, claro, <strong>de</strong><br />
criar um estilo próprio e, por fim, me comunicar<br />
com o mundo. Porque pra mim, moda e estilo<br />
significam muito mais que atentar para o que<br />
os stylists levam às passarelas. Trata-se <strong>de</strong> um<br />
exercício rotineiro no qual se observa o que rola<br />
nas ruas – afinal, o que está na moda aqui po<strong>de</strong><br />
não estar acolá – e as minhas necessida<strong>de</strong>s diárias,<br />
fatores que, aí sim, <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>signar os agora<br />
chamados must have.<br />
Minha avó, acredito, <strong>de</strong>ve sentir uma tremenda<br />
sauda<strong>de</strong> da juventu<strong>de</strong>, quando, segundo<br />
diz, “tinha farta cabeleira loira e <strong>de</strong> comprimento<br />
até a cintura”, quando conhecia meu avô,<br />
que faleceu muito novo, pouco <strong>de</strong>pois dos 40.<br />
Ainda hoje, aos 87, ela se mantém vaidosa, conserva<br />
o gosto por olhar vitrines, por admirar a<br />
varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecidos e, em especial, <strong>de</strong>monstra<br />
o encantamento que lhes causam colares, brincos,<br />
pulseiras e anéis. Pra ela, estar na moda é se<br />
emperequetar, mesmo que seja para ir ao supermercado<br />
ou ao banco. É importante, na medida<br />
do possível, vestir-se sempre com o que tem <strong>de</strong><br />
melhor e, <strong>de</strong> preferência, combinando a cor da<br />
roupa a dos sapatos e da bolsa. Conservadora,<br />
ela não curte a mistura <strong>de</strong> tecidos, mas aprova<br />
ligeiras transparências e valoriza os bordados,<br />
além <strong>de</strong> amar o brilho, seja para o dia, seja para<br />
a noite. Antenada, não?<br />
Já minha mãe é o extremo contrário. “Nada<br />
chamativo, pelo amor <strong>de</strong> Deus”. Para agradá-la,<br />
preciso sempre me ater às cores neutras, frias<br />
e ao pretinho básico. Deste modo, parece fácil<br />
presenteá-la, mas não é, não. É nesta hora que<br />
noto um pouco do que guarda do passado,<br />
tempos em que usava peças colhidas nas araras<br />
<strong>de</strong> conhecidas grifes nacionais. Elegante, ela<br />
vestia, sempre com saltos altíssimos e blazers, o<br />
personagem que gerenciava uma importante<br />
loja <strong>de</strong> presentes, on<strong>de</strong> se encontrava faqueiros<br />
<strong>de</strong> prata, aparelhos <strong>de</strong> jantar, lindas baixelas<br />
e taças. Mas ela se cansou disso tudo. E quem<br />
não se cansaria...? Trabalhava <strong>de</strong>mais, não tinha<br />
tempo para si e nem pra mim. Atualmente artista<br />
plástica, um tanto longe daquele mundo, não<br />
dá a mínima, salvo em poucas ocasiões, para o<br />
que usa. Seu olhar voltou-se totalmente para a<br />
casa, a <strong>de</strong>la e a dos outros, nas quais vibra ao<br />
<strong>de</strong>corar com seus quadros, seu bom gosto e<br />
seus pitacos. Suas curiosida<strong>de</strong>s são as mesmas<br />
<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> interiores e, não à toa, está<br />
sempre por <strong>de</strong>ntro das tendências.<br />
Quanto a mim... Bom, que anseios esperar<br />
<strong>de</strong> uma menina que via sua mãe chamar atenção<br />
por on<strong>de</strong> passava? Lógico, eu queria ser<br />
igual. Viajava até um futuro em que seria exatamente<br />
como ela e roubaria muitos olhares. E<br />
consegui, por exemplo, quando minha inspiração<br />
foi a cultura latina, por conta <strong>de</strong> uma paixão<br />
arrebatadora. Mergulhei em acessórios e numa<br />
mistura <strong>de</strong> cores que pouco se via, tinha sempre<br />
muitas flores, saias longas, estampas. Em alguns<br />
momentos, mais parecia uma cigana – eu<br />
as achava e continuo as achando hipnotizantes<br />
– e havia quem, inclusive, me olhasse com uma<br />
certa <strong>de</strong>sconfiança. O que é o preconceito, não?<br />
Mas optar pelos longos vestidos em pleno Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> corpos à mostra também me ren<strong>de</strong>u<br />
coisas boas e elogios.<br />
Ao entrar numa nova fase, resolvi explorar<br />
cortes que valorizam meus pontos fortes, bem<br />
como roupas e cores que me permitam estar<br />
pronta, a todo instante, para escrever um novo<br />
capítulo. Muito do que eu tinha no armário certamente<br />
está vestindo outros sonhos... E como<br />
as oportunida<strong>de</strong>s não costumam mandar recado,<br />
é importante estar preparada, com um guarda-roupa<br />
mais a<strong>de</strong>quado para viver o agora,<br />
para o que <strong>de</strong>r e vier. Além do mais, novamente<br />
parafraseando Coco Chanel, “eu já não sou o<br />
que eu era: <strong>de</strong>vo ser o que me tornei”.<br />
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