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Ano IX • nº 186<br />
Novembro de 2010<br />
<strong>R$</strong> 5,<strong>90</strong>
em poucas palavras<br />
Quando surgiu, nos anos dourados do Cinema Novo,<br />
o Festival de Brasília era um movimento politizado e modernizador<br />
da arte cinematográfica brasileira. Glauber Rocha,<br />
Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade,<br />
Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e a musa Leila Diniz eram<br />
alguns dos gigantes da sétima arte tupiniquim que frequentavam<br />
o Cine Brasília. Vieram os anos 70, e com eles a<br />
censura e a repressão, depois a abertura política, e o festival<br />
foi resistindo bravamente, dando sinais, contudo, de que<br />
perdia seu glamour.<br />
Em sua 43ª edição, e constrangido pela maior crise<br />
política da história da cidade, o principal evento cultural<br />
de Brasília está perdendo terreno para similares de outras<br />
partes do país (leia matéria de Sérgio Moriconi na página<br />
32). Boa hora para o novo governo que assume o Palácio<br />
do Buriti refletir sobre essa crise e resgatar o glamour e<br />
a importância dos velhos tempos.<br />
Enquanto isso não acontece, um brinde ao dinamismo<br />
da gastronomia candanga, essa sim, a cada dia mais efervescente.<br />
Só sobre novas pizzarias e novas pizzas temos nesta<br />
edição três matérias (páginas 5, 6 e 7). Celebremos também<br />
a abertura do La Plancha, restaurante especializado em<br />
frutos do mar que trouxe da Barra da Tijuca para a 209 Sul<br />
sua receita de sucesso (página 4).<br />
É bom tomar cuidado, porém, para que eventuais<br />
excessos gastronômicos e etílicos não tenham consequências<br />
desagradáveis como as que levaram nosso colunista<br />
Luiz Recena a se queixar dos castigos que lhe foram<br />
impostos recentemente pela “turma do jaleco branco”<br />
(Garfadas & goles, página 12).<br />
Finalmente, recomendamos a leitura de Alto Astral,<br />
sobre a nova fase do Universal Diner. Mara Alcamim transferiu<br />
suas caçarolas para uma loja a poucos metros da sede<br />
anterior, na 210 Sul. Em espaço bem maior, a casa mantém<br />
a marca registrada da chef: uma miscelânia de estilos que<br />
comporta desde uma cabeça de alce a aparelhos de rádio<br />
do início do século passado e armários Securit dos anos 60,<br />
além das indefectíveis toalhas de plásticos das mais variadas<br />
e estranhas estampas (página 22).<br />
Boa leitura e até dezembro<br />
Maria Teresa Fernandes<br />
Editora<br />
4 águanaboca<br />
Porco no pomar, do Dudu Camargo Restaurante, é um<br />
dos pratos do festival Sabor Suíno, até 5 de dezembro.<br />
10<br />
12<br />
14<br />
16<br />
18<br />
22<br />
26<br />
27<br />
30<br />
32<br />
picadinho<br />
garfadas&goles<br />
pão&vinho<br />
palavradochef<br />
diaenoite<br />
caianagandaia<br />
galeriadearte<br />
graves&agudos<br />
cartadaeuropa<br />
luzcâmeraação<br />
Janaina Rangel<br />
2<br />
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – CEP 70322-915 – Tel: 3964.0207<br />
Fax: 3964.0207 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Redação roteirobrasilia@alo.com.br | Editora Maria Teresa Fernandes | Capa Carlos<br />
Roberto Ferreira| Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Cristina<br />
Vilela, Beth Almeida, Bruno Henrique Peres, Eduardo Oliveira, Guilherme Guedes, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Recena, Quentin Geenen de Saint<br />
Maur, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio<br />
Amaral | Para anunciar Ivone Carmargo (9666.7755) e Ronaldo Cerqueira (8217.8474) | Assinaturas (3964.0207) | Impressão Gráfica Charbel |<br />
Tiragem 10.000 exemplares.<br />
www.roteirobrasilia.com.br
água na boca<br />
Só falta a praia<br />
La Plancha reproduz<br />
aqui a receita de sucesso<br />
da matriz carioca<br />
Por Beth Almeida<br />
Fotos Sérgio Amaral<br />
Quem costuma passar pelo Rio de<br />
Janeiro no verão sabe, ou deveria<br />
saber, o programão que é pegar<br />
uma praia na Barra da Tijuca e, depois,<br />
tomar um chope bem gelado e almoçar<br />
no Mercado do Produtor do bairro, onde<br />
funciona o La Plancha, restaurante de<br />
frutos do mar que segue com maestria a<br />
gastronomia espanhola. Os frutos do mar<br />
parecem ter acabado de sair do oceano, o<br />
tempero é suave e a variedade dos pratos<br />
atende a todas as intenções: desde deliciosos<br />
pastéis de camarão para petiscar<br />
com um drinque até parrillas que servem,<br />
com fartura, quatro pessoas ou mais.<br />
Pois é, com exceção da praia, agora dá<br />
para fazer isso em Brasília. Sem muito alarde,<br />
o chef espanhol Luiz Andrés Gonzalez<br />
abriu a filial brasiliense do restaurante no<br />
dia 12 de outubro, com o mesmo cardápio<br />
e os mesmos preços praticados na capital<br />
carioca. “Quando pensamos em uma casa<br />
fora do Rio, logo escolhemos Brasília, porque<br />
é um mercado gastronômico em crescimento<br />
e meu pai adorou a cidade”, explica<br />
Júnior, filho de Luiz Andrés, que se<br />
encarregará da administração da filial<br />
brasiliense. Segundo ele, o movimento<br />
dos primeiros dias superou as expectativas.<br />
“Numa noite da primeira semana tivemos<br />
até 80 pessoas para jantar, metade<br />
da capacidade da casa”, comemora.<br />
Se já conheciam o restaurante carioca<br />
ou se ficaram sabendo graças a um veloz<br />
boca a boca, o fato é que os brasilienses<br />
descobriram rapidinho as delícias proporcionadas<br />
por Gonzalez. Como revela o<br />
nome da casa, a especialidade são as chapas,<br />
ou planchas, que chegam da cozinha<br />
com os mais variados itens – são 16 tipos,<br />
que podem servir de quatro a seis pessoas<br />
(de <strong>R$</strong> 234 a <strong>R$</strong> 292). Há também sete<br />
possibilidades de paella, para quatro pessoas<br />
(de <strong>R$</strong> 128 a <strong>R$</strong> 326). A mais cara é<br />
a valenciana (com lagosta, camarão VG,<br />
lula, polvo, mexilhões e temperos à base<br />
de açafrão). Outro carro-chefe da cozinha<br />
de Gonzalez é o Camarão Ajillo, feito com<br />
alho cozido no azeite (<strong>R$</strong> 44, individual).<br />
Para acompanhar, arroz com açafrão,<br />
brócolis, amêndoas, maçã ou abacaxi. De<br />
entrada, casquinhas de siri ou o célebre<br />
pastel de camarão – deste último, no restaurante<br />
da Barra da Tijuca saem 15 a 16<br />
mil por mês. A adega tem cerca de 200<br />
rótulos de espumantes, brancos, rosés e<br />
tintos de diversas nacionalidades, especialmente<br />
a espanhola, como o Martin<br />
Codax Pé Franco, da uva Albariño, que<br />
vai muito bem com os grelhados.<br />
Mas vai um aviso. A fartura é uma característica<br />
da casa: o Camarão Ajillo, por<br />
exemplo, que no cardápio é recomendado<br />
para duas pessoas, alimenta três ou quatro,<br />
caso não sejam comilões e dividam a<br />
refeição com petiscos de entrada ou com<br />
uma sobremesa que é outra especialidade<br />
da casa – o pudim da Dona Rosa, a matriarca<br />
da família.<br />
La Plancha<br />
209 Sul – Bloco C (3542.8825)<br />
Diariamente, das 10h às 2 da madrugada<br />
3
Legítima italiana<br />
As pizzas e massas<br />
frescas do La<br />
Fornacella<br />
conquistam<br />
público numeroso<br />
e fiel na 312 Norte<br />
Por Vicente Sá<br />
Fotos Rodrigo Oliveira<br />
Há quem diga que a Asa Norte,<br />
por ser mais jovem que a Asa<br />
Sul, sempre foi mais inovadora.<br />
Hoje em dia, a diversidade de seus restaurantes<br />
é apontada como mais um<br />
ponto em favor dessa tese. A cada mês,<br />
novos restaurantes de diferentes estilos<br />
são abertos, o que tem levado muitos<br />
moradores de outros bairros a frequentar<br />
a Asa Norte com maior assiduidade.<br />
Uma novidade que está se tornando<br />
mania dos apreciadores da boa comida<br />
italiana se chama La Fornacella e fica na<br />
312 Norte. Em apenas quatro meses, as<br />
massas e pizzas de Luigi Tavezza já conquistaram<br />
um público que se mantém<br />
fiel e cresce a cada noite. O segredo desse<br />
pizzaiolo e masseiro romano talvez esteja<br />
no fato de ele, literalmente, meter a mão<br />
na massa fresca feita na casa, ou então<br />
nas pizzas de preparo e sabor legitimamente<br />
italianos. O certo é que Brasília<br />
ganhou mais uma excelente casa e o brasiliense<br />
mais uma opção para a noite.<br />
Entre as atrações do cardápio destaca-se<br />
a Focaccia alla Fornacella, espécie de pizza<br />
alta com recheios variados (entre eles o de<br />
presunto cru, mussarela de búfula, rúcula e<br />
peras) que tem feito fãs apaixonados, como<br />
o fundador do Açougue Cultural T-Bone,<br />
Luís Amorim: “Pelo menos uma vez por<br />
semana eu venho aqui com a<br />
família. A focaccia e um vinho<br />
Palo Alto são minhas pedidas<br />
costumeiras. É uma comida<br />
muito gostosa, com preço<br />
bem em conta”.<br />
Outro destaque é o suppli,<br />
prato tipicamente romano,<br />
um bolinho feito de risoto,<br />
servido de entrada para ser<br />
comido com as mãos, ainda<br />
quentinho. Junto com o chope<br />
da Brahma, o suppli dá um<br />
toque especial à happy hour<br />
ou ajuda a esperar pela pizza – outro carrochefe<br />
da La Fornacella. “Nós trabalhamos<br />
com pizzas tradicionais da Itália como a<br />
buscaiola (cogumelos, linguiça, mussarela<br />
de búfala e parmesão), zuca e pancetta<br />
(abóbora, mussarela de búfala, parmesão<br />
e bacon defumado) e alla parmegiana (molho<br />
de tomate, berinjela, parmesão e mussarela<br />
de búfala), além de sabores bem<br />
brasileiros como a portuguesa e a calabresa.<br />
O nosso diferencial está na massa, preparada<br />
à moda italiana”, explica Luigi.<br />
A decoração é bem clean e um tanto<br />
impessoal. Portanto, não espere ser transportado<br />
à Itália pela visão, e sim pelo olfato<br />
e paladar. Nos finais de semana, os 70<br />
lugares se revelam insuficientes para o número<br />
de clientes. Por isso, é bom fazer reserva,<br />
principalmente quando se tratar de<br />
mesas grandes. Embora já tenha ouvido<br />
muitos pedidos para abrir também no almoço,<br />
Luigi resiste. Acha que ainda não<br />
está preparado, e que tudo virá no seu devido<br />
tempo. Uma boa filosofia, que pode<br />
significar também uma preocupação<br />
com a manutenção da qualidade. No mínimo,<br />
uma prova de respeito ao nome que<br />
a casa vem conquistando.<br />
La Fornacella – Delizie Italiane<br />
312 Norte – Bloco B (3033.2345)<br />
Diariamente das 18 à 1h.<br />
4
água na boca<br />
Cópia fiel<br />
Pizzaria<br />
Valentina abre<br />
filial na Asa Sul com o<br />
mesmo cardápio e a<br />
mesma decoração<br />
Por Akemi Nitahara<br />
Fotos Rodrigo Oliveira<br />
Depois de quatro anos de sucesso<br />
na Asa Norte, numa das comerciais<br />
mais gastronômicas da cidade<br />
(a 213/214), a pizzaria Valentina se expandiu<br />
para a Asa Sul. Além da oportunidade<br />
que apareceu, de ocupar o ponto do<br />
antigo Bar Antártica, na quadra 310, contribuiu<br />
para a decisão a grande oferta de<br />
vagas de estacionamento à noite, algo difícil<br />
de encontrar na 214 Norte. Único<br />
restaurante da 310 Sul, a nova Valentina<br />
ainda oferece aos clientes serviço de manobrista<br />
e segurança.<br />
Robson Costa Cunha e Margareth Finger,<br />
donos da pizzaria da Asa Norte, fizeram<br />
parceria com Luís Felipe Coelho para<br />
abrir a filial da Asa Sul. “Os clientes e amigos<br />
que moram na Asa Sul, Sudoeste e Lago<br />
Sul cobravam muito que a gente abrisse<br />
outro ponto, mais perto deles”, conta Robson.<br />
O empresário Fernando Martins foi<br />
um deles. Frequentador da Valentina da<br />
Asa Norte, diz que agora só vai na da Asa<br />
Sul. “A casa nova é excelente, linda, não há<br />
nada igual em Brasília”, elogia.<br />
O cardápio é o mesmo<br />
da Asa Norte, com mais de<br />
60 sabores de pizza de massa<br />
fina e recheios inusitados,<br />
além dos tradicionais.<br />
Entre as experimentações<br />
estão a Obelix (de linguiça<br />
de javali), a de berinjela<br />
agridoce, a Spettacolare<br />
(shitake, shimeji e aspargos),<br />
a Lampião (quibebe de<br />
abóbora, gorgonzola e carne<br />
seca) e a Evidenza (presunto<br />
de parma e pesto de<br />
rúcula). Outro sucesso do<br />
cardápio é a pizza de alho<br />
poró e mascarpone, premiada<br />
na 3 a Copa Brasileira<br />
de Pizzarias, em São<br />
Paulo (ficou em terceiro<br />
lugar, entre mais de 300<br />
concorrentes de todo o país).<br />
Uma das entradas mais apreciadas é o<br />
pão de calabreza, feito de véspera com 11<br />
massas de pizza entremeadas de calabresa<br />
e provolone. O cardápio também conta<br />
com saladas, calzones, sobremesas e uma<br />
carta de vinhos bem recheada. “São <strong>90</strong> rótulos,<br />
uma variedade bem grande para<br />
uma pizzaria”, orgulha-se o proprietário.<br />
A adega tem espaço para 300 garrafas e<br />
oferece uma gama de vinhos novos portugueses,<br />
argentinos e italianos.<br />
A filial da Asa Sul tem capacidade para<br />
180 pessoas, contra 210 na Asa Norte.<br />
O padrão da decoração também é o mesmo,<br />
projeto do recifense Bruno Ferraz,<br />
com azulejos coloridos e o forno de cobre<br />
martelado à vista dos clientes. Também há<br />
um salão na parte superior, para 40 pessoas,<br />
que pode ser reservado para festas.<br />
As duas casas oferecem desde o fim<br />
do ano passado o serviço de delivery,<br />
além do “Valentina em Casa”. Robson<br />
explica: “É uma festa em casa, para onde<br />
a gente leva o forno e a equipe”. O cardápio<br />
pode ser combinado anteriomente,<br />
com base nos sabores da pizzaria. O pacote<br />
básico custa <strong>R$</strong> 26 por pessoa, para<br />
um mínimo de 25 comensais.<br />
Valentina Pizzaria<br />
310 Sul – Bloco A (3242.6001)<br />
214 Norte – Bloco A (3340.9898)<br />
De 2ª a 5ª, domingos e feriados, das 18<br />
às 24h; 6ª, sábado e véspera de feriados,<br />
das 18h30 à 0h30. Delivery: 3242.6000 e<br />
3340.6868. Valentina em Casa: 3273.7010.<br />
5
Divulgação<br />
Com sotaque<br />
espanhol<br />
6<br />
Por Eduardo Oliveira<br />
É<br />
sempre bom chegar ao seu restaurante<br />
preferido e ver que há novidades<br />
no cardápio. Pois a fiel clientela<br />
da Pizza César vai ter uma agradável surpresa<br />
ao se deparar com sete novos sabores<br />
no rodízio, que têm em comum a sofisticação<br />
dos ingredientes selecionados. As<br />
receitas foram desenvolvidas pelo chef Altair<br />
Pereira, também responsável pelos outros<br />
mais de 70 sabores que a casa oferece.<br />
Entre as novas pizzas, uma das mais<br />
pedidas é a Al Mare (com camarão, mexilhão,<br />
lula, alho poró e especiarias), que dá<br />
um toque italiano em um dos mais tradicionais<br />
pratos espanhóis. “Minha ideia<br />
foi levar uma paella para a pizza”, conta o<br />
chef. A influência ibérica também está<br />
presente em outros dois novos sabores. A<br />
saborosíssima paleta Pata Negra, prima<br />
espanhola do presunto de Parma, aparece<br />
em uma das novas pizzas fatiada fininha<br />
com tomate, mussarela de búfala, queijo<br />
cremoso italiano e rúcula.<br />
Fechando a trinca real, lá está a Chorizo<br />
Vella – chouriço espanhol temperado<br />
com páprica e especiarias. “Se tivesse que<br />
escolher um destaque, escolheria essa,<br />
que é nossa grande aposta”, revela um dos<br />
sócios da casa, Leonardo Ramos. Os outros<br />
novos sabores são Parisiense (frango,<br />
presunto, cogumelos, salame italiano e especiarias),<br />
rabada com agrião, tomate pelati<br />
com pesto de majericão e picanha ao<br />
molho de ervas puxado na manteiga.<br />
Todos os sabores estão disponíveis no<br />
rodízio e também a la carte. Outra novidade<br />
que a Pizza César está implementando<br />
é o buffet de almoço, que já funciona nas<br />
unidades de Águas Claras, Sudoeste e Taguatinga.<br />
São cerca de 40 itens, entre saladas,<br />
risotos, massas, carnes e sobremesas.<br />
O cliente pode escolher entre pagar por<br />
quilo ou por pessoa.<br />
Pizza César<br />
302 Sudoeste – Bloco B (3341.1001)<br />
QNA 17 – Lote 13 - Taguatinga (3352.0500)<br />
QI 17 – Fashion Park – Lago Sul (3364.0191)<br />
Shopping Quê – Águas Claras<br />
Delivery: www.pizzacesar.com.br
água na boca<br />
Janaina Rangel<br />
Durante um mês,<br />
dois festivais<br />
Por Eduardo Oliveira<br />
Os principais bares e restaurantes<br />
de Brasília viverão um período<br />
movimentado até o dia 5 de dezembro.<br />
Isto porque a Abrasel-DF (Associação<br />
Brasileira de Bares e Restaurantes,<br />
seção do Distrito Federal) realiza simultaneamente<br />
dois festivais que são um prato<br />
cheio para os bons de garfo: o Bar em Bar<br />
e o Sabor Suíno. No total, são 50 casas<br />
com receitas exclusivas a preços especiais.<br />
Quatorze participam só do Sabor Suíno,<br />
sete só do Bar em Bar e 29 de ambos.<br />
O Bar em Bar acontece ao mesmo<br />
tempo em todo país, para alegria dos fãs<br />
da boa e velha comida de boteco. Pelo<br />
preço fixo de <strong>R$</strong> 15,<strong>90</strong>, os bares e restaurantes<br />
brasilienses – 36 ao todo – oferecem<br />
petiscos que servem de uma a quatro pessoas.<br />
O festival tem o objetivo de movimentar<br />
o setor e também valorizar os<br />
aspectos positivos dos botecos. Para isso,<br />
serão distribuídos dois milhões de bolachas<br />
de chope da campanha Porções de Harmonia,<br />
com diferentes ilustrações e mensagens,<br />
entre elas uma para estimular o<br />
consumo consciente de bebida alcoólica.<br />
“O bar é um lugar onde podemos discutir<br />
política, futebol ou religião de forma<br />
harmoniosa, com respeito às diferenças. É<br />
o que queremos mostrar com essa campanha”,<br />
diz Sérgio Zulato, presidente da<br />
Abrasel-DF. Para tornar a experiência ainda<br />
mais harmoniosa, o festival terá uma<br />
extensa programação musical, com shows<br />
de jazz, choro, samba e outros ritmos em<br />
26 das casas participantes.<br />
Já o Sabor Suíno segue com o mesmo<br />
objetivo do ano passado: acabar com os<br />
preconceitos contra a carne de porco.<br />
“No DF, 41% das pessoas não comem<br />
carne suína. Queremos mostrar que os<br />
porcos de hoje não são mais criados no<br />
chiqueiro, mas em granjas com rígido<br />
controle sanitário”, explica Marcelo Lopes,<br />
presidente da Associação de Criadores<br />
Suínos do DF. Os restaurantes participantes<br />
desenvolveram receitas exclusivas<br />
que serão vendidas em três faixas de<br />
preço: <strong>R$</strong> 15,<strong>90</strong>, <strong>R$</strong> 24,<strong>90</strong> e <strong>R$</strong> 34,<strong>90</strong>.<br />
A primeira edição do Sabor Suíno, no<br />
ano passado, foi um sucesso. Graças à<br />
adesão de 32 restaurantes, 11 a menos do<br />
que este ano, os frigoríficos locais registraram<br />
um aumento de 400% em suas vendas<br />
durante o festival. O êxito foi tanto<br />
que a iniciativa será levada para outros<br />
Estados. “Já está confirmada a realização<br />
do festival em Goiás, Minas Gerais e Sergipe,<br />
e em breve outros Estados devem<br />
entrar na lista”, revela Lopes.<br />
Festivais Bar em Bar e Sabor Suíno<br />
Até 5/12 em 50 bares e restaurantes (lista<br />
completa em www.roteirobrasilia.com.br)<br />
7
picadinho<br />
Noivas de novembro<br />
Uma garrafa de espumante, bombons<br />
e outros mimos fazem parte do pacote<br />
a que os recém-casados terão direito<br />
se escolherem a suíte Royal do Comfort<br />
Suítes para passar sua noite de núpcias.<br />
Na promoção estão incluídos outros<br />
agrados: late check-out até as 16 horas,<br />
flores naturais, café da manhã no<br />
apartamento, frutas, velas e pétalas de<br />
rosas na banheira! A noite de núpcias<br />
custa <strong>R$</strong> 470 mais 15% de taxas.<br />
O restaurante fica no Clube de Golfe, no<br />
Setor de Clubes Sul.<br />
Café da manhã<br />
Divulgação<br />
Los Galgos de Madri (<strong>R$</strong> 45 por pessoa).<br />
Domingo é dia de brunch, das 12 às 16<br />
horas, a <strong>R$</strong> 47 por pessoa.<br />
Degustação<br />
Todas as terças-feiras, a partir das 20<br />
horas, o restaurante Bottarga, no Espaço<br />
Maria Tereza, oferece vinhos em taça a<br />
preços especiais. Para que o cliente possa<br />
degustar uma variedade maior de vinhos,<br />
existe a opção de taças de 75 ml, além<br />
das tradicionais de 150 ml.<br />
Dinning Club<br />
O Original Shundi (408 Sul) acaba<br />
de adotar o conceito de dinning club.<br />
Os sofisticados sushis, sashimis e outras<br />
iguarias japonesas passam a ser degustadas<br />
ao som de house music tanto no<br />
bar quanto no salão principal e nas<br />
salas reservadas. A cada semana um DJ<br />
diferente ficará responsável pela animação<br />
do restaurante, ao lado de muita<br />
gente bonita, no ambiente projetado<br />
pelo arquiteto Ruy Ohtake.<br />
Festival de risotos<br />
No Le Jardin du Golf, nas noites de<br />
terça-feira, ao preço de <strong>R$</strong> 30 o cliente<br />
pode degustar três opções de risoto: de<br />
alho-poró com cogumelos frescos, frango<br />
com curry e maçã verde e camarão com<br />
tomate seco e escarola. E ainda ganha<br />
uma taça de espumante de cortesia.<br />
O Respeitável Burger (402 Sul), que<br />
funciona 24 horas, lançou um cardápio<br />
de café da manhã (das 6h30 às 11h).<br />
Entre as opções, salada de frutas<br />
(<strong>R$</strong> 4,60), sanduíches (<strong>R$</strong> 6,20), omeletes<br />
simples (<strong>R$</strong> 4,10) ou mais incrementadas<br />
(<strong>R$</strong> 8,60) e sucos, entre outros.<br />
Mais uma chance<br />
Quem ainda não participou terá mais<br />
uma chance, este ano, de aprender<br />
culinária com o chef Francisco Ansiliero.<br />
A última edição do curso Cozinhando<br />
com Francisco será realizada nos dias 8,<br />
22 e 29 deste mês e 6 e 13 de dezembro<br />
(segundas-feiras), sempre das 19 às 23<br />
horas, no Dom Francisco da Asbac. As<br />
inscrições podem ser feitas pelos telefones<br />
3224.5679 e 3224.8429. Ao final de<br />
cada aula, alunos e professor degustarão<br />
as receitas preparadas.<br />
Bacalhau e paella<br />
O restaurante Miró está com a agenda<br />
movimentada nos fins de semana. Na<br />
“sexta do bacalhau”, o cliente degusta<br />
vários pratos à base de peixes, a <strong>R$</strong> 46<br />
por pessoa. O “sábado da paella” traz o<br />
prato típico espanhol assinado pelo chef<br />
Valentin de La Hera, do hotel Meliá de<br />
Ao gosto delas<br />
Os vinhos brasileiros estão agradando<br />
às mulheres argentinas. Os rótulos daqui<br />
fizeram bonito no Concurso Internacional<br />
de Vinos y Licores La Mujer Elige,<br />
realizado em Mendoza. Em sua nona<br />
edição, o concurso, realizado de 18 a<br />
20 de outubro, reuniu 480 amostras de<br />
24 países, que foram avaliadas por 36<br />
degustadoras, entre enólogas, jornalistas<br />
e apreciadoras de vinho de diversas<br />
nacionalidades. Elas conferiram<br />
22 prêmios aos vinhos do Brasil.<br />
Kebab diferente<br />
O Keb (105 Sul) acaba de incluir em seu<br />
cardápio um kebab com recheio de<br />
brigadeiro de leite condensado e pasta<br />
de pistache italiana, pulverizado com<br />
Divulgação<br />
9
pedacinhos de pistaches tostados e<br />
crocantes. Custa <strong>R$</strong> 5,50 ou pode<br />
ser combinado com um keb salgado,<br />
batata e bebida, a <strong>R$</strong> 19,<strong>90</strong>.<br />
Divulgação<br />
Severina vegetariano<br />
garf<br />
Divulgação<br />
O nordestino Severina (201 Sul) oferece<br />
aos vegetarianos opções gastronômicas<br />
sem carne, como a salada de feijão de<br />
corda temperado com azeite, cenoura<br />
ralada, tomate em cubinhos e alface de<br />
cheiro verde (<strong>R$</strong> 12,<strong>90</strong> para duas pessoas)<br />
e o baião de 2 x 2, com queijo do sertão,<br />
macaxeira cozida ou frita, caldinho de<br />
macaxeira, queijo coalho, farofa de feijão<br />
de corda, tapioca e cuscuz. Para acompanhar<br />
as refeições de forma saudável, uma<br />
variedade de sucos naturais (<strong>R$</strong> 3,70)<br />
e as famosas “misturinhas do Nordeste”<br />
(<strong>R$</strong>4,80).<br />
Chicken Festival<br />
Inn Casa<br />
No último dia 28 foi inaugurado um point para quem gosta de combinar boas<br />
bebidas com bons petiscos. O Inn Casa (QL 6/8 do Lago Sul) oferece opções<br />
como carpaccio de filé acompanhado de torradas ao alho, aipim frito ao<br />
parmesão, camarão ao alho e azeite, filé grelhado ao molho shoyo e acebolado.<br />
Para acompanhar, uma variada seleção de vinhos, espumantes e champanhes.<br />
seus clientes, até o final deste mês, o<br />
Chicken Festival. No cardápio, sanduíches<br />
de três nacionalidades que têm em<br />
comum o frango como ingrediente<br />
principal. O americano leva maionese,<br />
alface, tomate, frango empanado e<br />
queijo americano. O francês é feito com<br />
presunto, queijo suíço e frango empanado,<br />
maionese e pão com gergelim.<br />
E o italiano, com molho marinara,<br />
queijo mussarela e frango empanado.<br />
Em todas as versões, pão com gergelim.<br />
Gula Capital<br />
coco, queijo coalho no mel de tomilho,<br />
tartare de atum com saladinha de maçã<br />
verde e patê de campanha. Serão dois<br />
prato principais, o Risotti do Contadino<br />
(linguiça artesanal, vinho tinto e alho<br />
poró) e a paleta de cordeiro assada<br />
com perfume de trufas. A sobremesa<br />
é a “trilogia Bottarga”, formada por<br />
três camadas: ganache de chocolate<br />
com nozes, peras laminadas cozidas<br />
ao vinho e anis estrelado. Preço por<br />
pessoa: <strong>R$</strong> 158.<br />
Divulgação<br />
A rede de fast food Burger King oferece a<br />
Jantar harmonizado<br />
O Bottarga Ristorante (QI 5 do Lago Sul)<br />
e a importadora Zahil farão no próximo<br />
dia 11 um jantar harmonizado com<br />
rótulos das vinícolas italianas Sangervasio<br />
e Tenutta Valdipiatta. A noite será<br />
conduzida pelos enólogos Lucca Tomasini<br />
e Miriam Caporalli, proprietários das duas<br />
vinícolas. O jantar terá de entrada um<br />
mini brandade de bacalhau no leite de<br />
Brito Junior<br />
10
GARFADAS & GOLES<br />
Luiz Recena<br />
adas&goles@alo.com.br<br />
Males que vêm para o bem?<br />
De tempos em tempos o colunista sofre. Os invejosos da turma do jaleco branco, distantes das praias baianas, de seus quitutes, do<br />
peixe frito, do acarajé, da moqueca, dos camarõezinhos e, principalmente, do chope gelado e das cervejas “mofadas”, com aquela<br />
“poeirinha” de gelo por fora, esses, os do jaleco branco, com movimentos sorrateiros e um sorriso de maldade nos lábios, entram<br />
em campo e decretam, definitivos: “O paciente vai ter que parar!”. Parar com que, meu caro doutor? E ele, ainda mais maldoso:<br />
“Com a bebida e as comidas pesadas, quer dizer, bico seco e dieta!”. Então, lá vamos nós, perambulando pelo avião de Oscar e<br />
Lucio Costa, maldizendo os excessos cometidos em outras eras, pelos campos e mares baianos, cantados na letra do hino de Nosso<br />
Senhor do Bonfim. Trinta dias de castigo. O dobro do ano passado. Os discípulos de Esculápio estão ficando mais cruéis à medida<br />
que o tempo passa. Disciplinado, lá vai o colunista para as praias baianas, deixando para trás a crueldade brasiliense. Bom, se<br />
Cristo segurou a barra por quarenta dias, no deserto, na beira do mar dá bem para enfrentar um mês sem as maravilhas da gula e<br />
de Baco. O tempo “não” passa rápido. Isso é lorota, mentira mesmo. O tempo passa como sempre passou e, sem os bons tragos,<br />
a ilusão talvez seja a de que ele passe mais devagar. De resto, a cara limpa e os quilos a menos fazem bem. Melhor ainda é receber<br />
o resultado dos exames: notas ótimas, elogios e louvores. A única coisa realmente chata nesses trinta dias de sacrifício é a lucidez.<br />
É um suplício começar a ver as coisas tão claras! O entorno sem os pequenos disfarces dos outros dias. A linguagem sem as nuances<br />
e armadilhas enganosas. A vida perde muito de sua graça. E somente volta a seu brilho de sempre quando o homem do jaleco<br />
branco diz: “Vá, meu bom homem, volte a seu paraíso de borbulhas e colarinhos de três dedos”. Nem tudo está perdido.<br />
No aeroporto<br />
De volta a Salvador, poucas novidades, pois o “gancho” ainda<br />
durava. Mesmo assim, pequenas e interessantes descobertas.<br />
A primeira foi o restaurante Paraguaçu, no aeroporto, antigo<br />
Dois de Julho, agora Luiz Eduardo Magalhães. Uma proposta<br />
na linha dos clássicos restaurantes de aeroportos, de<br />
antigamente, hoje massacrados pelas praças (ou seriam arenas<br />
romanas?) de alimentação. Muitos já se foram, no Rio, em<br />
São Paulo e mesmo em Brasília, com o recente fechamento<br />
do Albatroz, com seu piano que tocava sozinho, ou belas<br />
performances do Primo.<br />
Bom cardápio<br />
O Paraguaçu baiano não fugiu ao bufê, bom para quem tem<br />
pouco tempo para comer. Mas tem um bom à la carte, com<br />
carnes e frutos do mar. Atacamos de brochete de camarão,<br />
escoltado por guarnição de abacaxi; outro camarão ao estilo<br />
asiático e risoto; e um filé de peixe também com risoto<br />
acompanhando. Os risotos, diferentes, vieram perfumados<br />
de ervas. Tudo no ponto certo e com preços razoáveis. Sem<br />
beber, o colunista atacou de suco de abacaxi. Se a vida estava<br />
ácida, azeda, por que não combinar com um abacaxi sem<br />
açúcar? Mas deu para espiar a carta de vinhos. Boa seleção e<br />
bons preços também. Passada a condenação dada pelos jalecos<br />
brancos, vale voltar.<br />
Série A, Série B<br />
Esses baianos são formidáveis! E sempre surpreendendo a gente.<br />
Esta pérola foi descoberta no coração de Itapuã, na rua coronel<br />
Genebaldo, próxima da avenida Dorival Caymi: um botecão que<br />
serve sopas e pratos feitos, comprou os campeonatos nacionais<br />
das séries A e B. Anunciou a promoção e mandou brasa com o<br />
seguinte aviso: quem não consumir paga <strong>R$</strong> 1,99. Não é boa?<br />
Criatividade volta<br />
As barracas da orla de Salvador foram massacradas e sumiram<br />
do mapa. Já falamos bastante sobre essa violência insana.<br />
Agora vamos para a resistência. Ambulantes, camelôs, antigos<br />
proprietários, todos voltam aos poucos, meio mambembes,<br />
mas voltam. A praia está ficando suja, não há banheiros nem<br />
chuveiros, mas a criatividade já se virou com mangueiras.<br />
As comidinhas voltaram. É possível, de novo, curtir o velho<br />
mar com algum conforto. Os fiscais da prefeitura estão loucos<br />
e cada fim de semana é uma pequena batalha. Mas a galera<br />
resiste. E ganha apoio dos banhistas, turistas e anarquistas<br />
de todos os naipes.<br />
11
Fotos: Rodrigo Oliveira<br />
Peixe especial com<br />
“blend” de arroz<br />
Receita da chef Ana Toscano, do Villa Borghese<br />
Ingredientes<br />
• 3 filés de abadejo ou robalo<br />
• 3 camarões gigantes<br />
• Arroz integral<br />
• Arroz selvagem<br />
• Arroz preto<br />
• Arroz vermelho<br />
• 6 dentes de alho picados<br />
• Azeite de oliva<br />
• 1 cebola picada<br />
• Pimenta moída na hora<br />
• 100 g de bacon em fatias picadas<br />
Modo de preparo<br />
Cozinhe 100 gramas de cada grão separadamente até<br />
ficar al dente. Escorra e reserve. Tempere o filé de peixe<br />
com sal e pimenta e grelhe com azeite de oliva. Limpe os<br />
camarões, conservando as cabeças e os rabinhos. Tempere<br />
com sal e pimenta e grelhe em azeite. Em uma panela, frite<br />
o bacon até começar a dourar. Junte o alho picado, refogue<br />
bem e adicione a cebola. Deixe dourar. Misture então os<br />
quatro tipos de arroz, mexendo bem, tempere com sal e<br />
pimenta e sirva em uma travessa. Arrume os filés de peixe<br />
grelhados em cima e finalize com os camarões. Decore com<br />
tomatinhos cereja e ervas frescas.<br />
12
PÃO & VINHO<br />
ALEXANDRE FRANCO<br />
pao&vinho@alo.com.br<br />
Tira-gostos<br />
em ótima companhia<br />
Mais uma vez vai se realizar na cidade o festival Bar<br />
em Bar, da Abrasel, para o qual os estabelecimentos<br />
criam tira-gostos especiais. A tendência natural para<br />
nós, brasileiros, é quase sempre a de acompanhar as<br />
guloseimas com cerveja. Mas é sempre possível trilhar<br />
bons caminhos ao lado de Baco. Vinhos são sempre muito<br />
propícios a esses momentos que, acima de tudo, visam<br />
a convivência entre amigos.<br />
O importante é buscar sempre uma boa harmonização,<br />
tendo por base de orientação os elementos que compõem<br />
o aperitivo e seus temperos. Assim, se o aperitivo for à<br />
base de frutos do mar, em princípio poderemos indicar<br />
um espumante ou um vinho branco leve e frutado. Se for<br />
à base de carne bovina, poderemos apreciar um tinto com<br />
algum corpo, especialmente se acompanhado de molhos.<br />
Se a carne for de porco, talvez um branco bem encorpado.<br />
Se envolver queijos muito salgados, especialmente os azuis,<br />
um vinho de sobremesa, como um Sauternes, será o ideal.<br />
Por outro lado, se houver molho de características<br />
muito marcantes, pode ser este a determinar o<br />
acompanhamento ideal. Por exemplo: um camarão com<br />
molho apimentado merece um bom Gewustraminer. Uma<br />
base de cordeiro às ervas pode ser bem aproveitado com<br />
um Shiraz australiano. Um bolinho de bacalhau, embora<br />
possa ir bem com um branco frutado, como um Antão<br />
Vaz do Alentejo, pode também suportar um tinto<br />
ribatejano ou duriense de corpo médio.<br />
Vejamos então alguns exemplos práticos e específicos.<br />
O Camarão ao Ajito, do restaurante Oliver, vai bem com<br />
um espumante de alta acidez, como é o caso da maioria<br />
dos nacionais, e poderíamos citar o Salton Ouro como<br />
opção, ou ainda o excelente 3B, espumante rosé<br />
português de produção de Filipa Pato. Ou, por outra,<br />
podemos pensar também em um tinto leve, como o Pinot<br />
Noir, e novamente citamos um nacional, o Angheben, e<br />
um Borgonha simples, como o Champy, ambos da Vinci<br />
Vinhos.<br />
O ótimo jamon que podemos degustar na Fogo de<br />
Chão pode ser majestosamente acompanhado por um<br />
bom tinto espanhol como o Hécula ou o Abadia Retuerta,<br />
ambos da Península Vinhos. O bolinho de bacalhau do<br />
Mercado Municipal pode conviver muito bem com o<br />
Couteiro Mor-Antão Vaz, ou com o Quinta da Alorna<br />
Reserva tinto, ambos da Adega Alentejana.<br />
A linguiça de cordeiro do BSB Grill casa perfeitamente<br />
com o Shiraz chileno EQ ou com o Bordeaux Seglá, ambos<br />
vinhos de grande estirpe e, consequentemente, de preços<br />
elevados, de importação da Casa do Porto. E o que dizer<br />
da diversidade de petiscos oferecidos pelo Barcelona? Uma<br />
sugestão genérica, que acaba por abranger quase todos,<br />
seria um champanhe como os da Drappier, ou ainda um<br />
branco de grande caráter, como o Quinta dos Carvalhais,<br />
ambos importados pela Zahil.<br />
Por fim, para não nos estendermos eternamente por<br />
esse mar de vinhos e petiscos, para acompanhar qualquer<br />
dos tira-gostos grelhados oferecidos no Parrilla Madrid<br />
podemos indicar o argentino Catena Malbec ou o chileno<br />
Cuvée Alexandre Cabernet Sauvignon, da Casa Lapostole,<br />
ambos disponíveis na Mistral.<br />
Bom proveito a todos!<br />
13
PALAVRA DO CHEF<br />
Quentin Geenen<br />
de Saint Maur<br />
palavradochef@alo.com.br<br />
Dicas de sucesso<br />
Quando questionado por mulheres e homens sobre<br />
como realizar um menu de sucesso, minha primeira dica<br />
é sempre a mesma: a aprovação de um prato depende,<br />
antes de mais nada, dos cuidados com a qualidade dos<br />
ingredientes escolhidos. Essa é a base imprescindível,<br />
aplicável a qualquer receita. É por isso que, quando sou<br />
convidado a realizar eventos, procuro meus ingredientes,<br />
sempre que possível, nas feiras livres, nos mercados<br />
municipais e nos pequenos produtores.<br />
meio das bancadas coloridas, verdadeiro campo de<br />
prazeres, regalo para o bem do olhar, que estimula a<br />
criatividade. Os perfumes exalam a sazonalidade de<br />
seus produtos maduros, tudo isso com o fundo<br />
musical popular sustentado pela fala sedutora,<br />
repentista, cheia de improvisos, dos feirantes. Um<br />
pedaço de fruta cortada na hora, na maioria dos<br />
casos, lhe é oferecido para você fazer seu próprio<br />
juízo quanto à qualidade do produto.<br />
Algumas dicas:<br />
Quando você for escolher uma verdura, sua cor e seu<br />
aspecto servem para definir sua qualidade. Depois de<br />
ter chamado sua atenção, é preciso pegar um pedaço<br />
da folha para sentir sua resistência ao corte, dado<br />
importante para definir seu tempo de cozimento ou<br />
estrutura física para aguentar a montagem de uma<br />
salada composta. Esfregue entre os dedos o mesmo<br />
pedacinho para depois cheirar as essências nele contidas<br />
e direcionar assim a quantidade relativa necessária para<br />
ressaltar sua presença como ator principal ou secundário.<br />
Para os legumes, o princípio a seguir é o mesmo, com<br />
atenção redobrada para a textura do ingrediente. Apóie<br />
a unha do dedão na casca do cará ou do inhame para<br />
se certificar de que o tubérculo é novo e sua pele se abre<br />
sem esforço, revelando a carne branca.<br />
Para a escolha das frutas, as feiras públicas e os<br />
mercados municipais são show de bola. Você passa no<br />
Para a escolha dos peixes e frutos do mar,<br />
nada melhor do que o conselho de<br />
um especialista, além de olhar olho no olho<br />
brilhoso do escolhido, levantar as guelras para<br />
confirmar sua cor rosada, sentir a resistência da sua carne<br />
e, por fim, se ainda duvidar, levantar o produto até o<br />
rosto e sentir se o cheiro exalado é de frescor presente ou<br />
passado.<br />
No caso das carnes vermelhas, quem sou eu para<br />
tentar entrar no mérito? A maioria, proveniente de boi<br />
verde e de preferência certificada, tem no sabor de sua<br />
gordura o histórico de sua vida. Compre sempre carnes<br />
resfriadas para a realização do seu prato. Elas saem<br />
sempre na frente das outras, por serem mais suculentas.<br />
Essas são algumas dicas que, além de animar sua<br />
disposição para a realização de sua receita, permitirão<br />
encarar a futura tarefa com maior possibilidade de<br />
sucesso.<br />
15
16<br />
Divulgação
DIA E NOITE<br />
Divulgação<br />
mementomori<br />
Você sabe o que quer dizer a expressão acima? Memento mori vem do latim e significa algo<br />
como “lembre-se que você é mortal, lembre-se que você vai morrer”. Esse pensamento,<br />
muito utilizado na literatura barroca, dá nome à exposição do artista plástico Walmor<br />
Correa na Caixa Cultural. Lá está a instalação Memento Mori, bem como figuras supostamente<br />
impossíveis, criadas a partir da união entre arte, ciência e mito. Os desenhos,<br />
pinturas e esculturas do artista podem ser vistos até o dia 28, na Galeria Piccola I.<br />
De acordo com o curador da mostra, Guy Amado, Walmor Correa encontrou na fauna,<br />
sobretudo em sua codificação e classificação pela ciência, aquele que viria a ser o vetor<br />
estrutural de sua poética. De terça-feira a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.<br />
fascínioporbrasília<br />
As obras de Oscar Niemeyer e a singularidade da concepção do Plano Piloto por Lúcio<br />
Costa são inspiração para o trabalho do francês Jacques Bernoit, que se apaixonou<br />
imediatamente pela cidade ao ver fotos publicadas em revistas da época da inauguração.<br />
“Sentia-me fascinado pelo estranho urbanismo esplêndido e recém-nascido,<br />
que não se assemelhava a nenhum outro na terra”, declarou o pintor no lançamento<br />
de Três traços de Oscar, exposição concebida em 2007 ao redor dos três prédios idealizados<br />
por Niemeyer na França. Agora, Bernoit apresenta a exposição Brasília de carne e alma, no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul).<br />
São mais de 20 obras de formato grande – pinturas e desenhos – que podem ser vistas até 10 de dezembro. Entrada franca.<br />
Divulgação<br />
elasnopalco<br />
Desde que foi criado, há quase 25 anos, esse projeto já reuniu centenas<br />
de atrizes de teatro em países como Noruega, Bélgica, Austrália, Espanha, Alemanha,<br />
Argentina e Dinamarca. Agora, o Festival Internacional de Teatro feito por Mulheres,<br />
também denominado Solos férteis, chega a Brasília. A ideia surgiu a partir de<br />
encontro da atriz Luciana Martuchelli com Julia Varley, também atriz do grupo<br />
dinamarquês Odin Teatret e incentivadora dessa rede de mulheres artistas. O grupo<br />
original nasceu em 1986 por iniciativa da atriz Jill Greenjhalg, no chamado The<br />
Magdalena Project. Entre 17 e 21 deste mês, Brasília será palco dos monólogos,<br />
performances solos e workshops de mulheres ligadas ao teatro. Informações:<br />
www.solosferteis@gmail.com. Entrada franca.<br />
jovensnaarte<br />
A tela ao lado é de autoria de Raienne Pereira da Silva, estudante do<br />
Centro de Ensino Fundamental 18, de Taguatinga. Ela foi uma das<br />
ganhadoras da mostra Brincando com arte 2010, cuja premiação aconteceu<br />
dia 29 de outubro no Espaço Cultural Codevasf. A menina foi<br />
classificada em primeiro lugar da categoria Juvenil I, com sua Borboleta<br />
e flores. Na categoria Infantil, a vencedora foi Beatriz Alves Borges Paes,<br />
e na categoria Juvenil II Rosinaldo Soares Fernandes. O prêmio do júri popular<br />
foi dado a Ludmila Gabriele S. da Silva, de Ceilândia. Parabéns a todos!<br />
oceanoinvadido<br />
Uma grande baleia Jubarte feita de arames e<br />
retalhos flutua no ar e se mistura a anêmonas<br />
de plástico convertidas em pufes, de onde o<br />
público observa a instalação criada pelo grupo<br />
paulista BijaRi para simular o ambiente<br />
marinho em estado de desintegração. Até o<br />
dia 28, a obra Oceano invadido estará no Átrio<br />
dos Vitrais, na entrada do edifício matriz da<br />
Caixa Econômica Federal. Uma projeção de<br />
vídeo sobre uma esfera mostra, por meio de<br />
animações, o ciclo percorrido pelo lixo plástico<br />
nos oceanos e sua interferência no cotidiano<br />
dos seres humanos. Diariamente, das 9<br />
às 21h, com entrada franca.<br />
Diego Bis<br />
17
Raqquel Pillicano<br />
acartomante<br />
O conto de Machado de Assis escrito em 1884 serviu de inspiração para o Grupo Liquidificador na<br />
montagem de estreia que está em cartaz até o dia 14, no Teatro Galpão (508 Sul). Dirigida por<br />
Fernando Carvalho, a peça A cartomante conta a história de Rita, Camilo e Vilela, unidos por um<br />
perigoso triângulo amoroso. A adaptação tem elementos do universo pop e da cultura flamenca e os<br />
atores propõem um jogo cênico com o espectador em uma arena comandada por ninguém menos<br />
que Machado de Assis, o mestre de cerimônia dessa trágica comédia. Sextas e sábados, às 21h,<br />
e domingos, às 20h. Ingressos a <strong>R$</strong> 20 e <strong>R$</strong>10. Informações: 9633.8711.<br />
Andre Gardenberg<br />
invernodaluzvermelha<br />
David, Matheus e Cristina. Esses são os personagens de outro triângulo amoroso cuja história<br />
estará no Teatro do CCBB entre 25 de novembro e 19 de dezembro. Escrita pelo dramaturgo<br />
americano Adam Rapp, a peça Inverno da luz vermelha tem no elenco André Frateschi, Marjorie<br />
Estiano e Rafael Primot. Uma noite, no Red Light District – o Bairro da Luz Vermelha, de<br />
Amsterdã – dois amigos têm contato com a mesma mulher. Um ano depois, o trio se reencontra<br />
e revela como a experiência mexeu com cada um. A peça tem direção de Monique Gardenberg,<br />
cujo currículo inclui os longas-metragens Jenipapo, Benjamim e Ó paí ó. De quinta a sábado, às<br />
21h, e domingo, às 20h. Ingressos a <strong>R$</strong> 15 e <strong>R$</strong> 7,50. Informações: 3310-7087.<br />
Divulgação<br />
poesiasàmãocheia<br />
O cantor e poeta Oswaldo Montenegro será homenageado na abertura do II Simpósio de<br />
Crítica de Poesia – Poesia Contemporânea: Olhares e Lugares, dia 8 no Auditório do Museu<br />
da República. Brasílias de luz será um espetáculo teatral-musical feito a partir do trabalho<br />
de pesquisa de textos sobre Brasília em seus 50 anos. Dedicado aos poetas da cidade, foi<br />
realizado pelo Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília.<br />
Oswaldo Montenegro estará no show, oportunidade em que irá autografar seu CD Canções<br />
de amor. Às 19h, com entrada franca.<br />
fragmentosdodesejo<br />
Há doze anos eles colecionam prêmios e<br />
elogios da crítica e encantam plateias de todo<br />
o mundo com a plasticidade e o vigor estético de um<br />
teatro sem palavras. Radicados na França desde o início dos anos <strong>90</strong>,<br />
o brasileiro André Curti e o angolano naturalizado brasileiro Artur Ribeiro<br />
fundaram em 1997 a companhia Dos à Deux. Já percorreram 47 países apresentando<br />
um repertório de seis espetáculos. O mais recente deles, Fragmentos<br />
do desejo, está em cartaz no CCBB até o dia 21. Em cena, os dois atores/diretores,<br />
mais os atores Maya Borker e Matías Chebel, dão vida a alguns personagens<br />
cujas vidas se cruzam por meio de desejos, conflitos, culpa e segredos.<br />
De quinta a sábado, às 21h; e domingo, às 20h. Ingressos a <strong>R$</strong> 15 e <strong>R$</strong> 7,50.<br />
cartunsnacaixa<br />
Edgar Vasques, Luis<br />
Fernando Verissimo<br />
e mais 28 artistas<br />
gráficos gaúchos estão<br />
presentes na mostra<br />
O riso é livro, em<br />
cartaz na Caixa<br />
Cultural até o dia 28.<br />
Durante a 54ª Feira do<br />
Livro de Porto Alegre, em 2008, os<br />
curadores José Guaraci Fraga e Fábio<br />
Zimbres reuniram um grupo de 15<br />
artistas que realizaram cartuns em<br />
tinta acrílica diante do público.<br />
O sucesso da ideia se repetiu depois<br />
em Santa Maria e agora se amplia<br />
com essa exposição que pretende<br />
valorizar a leitura, mesclando às<br />
letras os signos da linguagem visual.<br />
De terça a domingo, das 9 às 21h,<br />
com entrada franca.<br />
18
DIA E NOITE<br />
óperanafunarte<br />
Carmen, de Bizet, e Romeu e Julieta, de Charles Gounod, são algumas das peças que a<br />
soprano Isabelle Sabrié vai interpretar no dia 11, às 20h. No repertório estão também<br />
composições da própria cantora em parceria com o compositor e pianista brasileiro Antônio<br />
Santana, que vive na França. É uma ótima chance de se ouvir uma das mais belas vozes do<br />
canto lírico mundial e ter contato com a obra de um compositor brasileiro festejado na<br />
França e que ainda não é muito conhecido por aqui. Os ingressos para esse duo de voz e<br />
piano custam <strong>R$</strong> 10 e <strong>R$</strong> 5 e estão à venda na Aliança Francesa (707/<strong>90</strong>7 Sul) e na Funarte<br />
(próximo à Torre de TV). Informações: 3262.7618 e 3262.7676.<br />
David Bonnet<br />
Shirley Villas Boas<br />
levaramúsica...<br />
aonde o povo está. Essa é a proposta da Brasília Big Band, a jovem<br />
orquestra popular que se apresenta neste sábado, 6, no Clube do<br />
Choro. Criada há apenas nove meses, é conhecida por se apresentar<br />
em hospitais, escolas públicas e praças. Comandada pelo maestro<br />
Ademir Júnior, a orquestra é composta por 19 instrumentistas e<br />
tem no repertório pra lá de variado sucessos de João Donato, Djavan,<br />
Gonzaguinha, Hermeto Pascoal, Tom Jobim, Rosa Passos e Zeca<br />
Pagodinho. A partir das 21h. Ingressos a <strong>R$</strong> 20 e <strong>R$</strong> 10.<br />
finodabossa<br />
O barquinho vai, a tardinha cai... Em comemoração a seus 73 anos de idade e 50 de<br />
carreira, o compositor Roberto Menescal estará em Brasília, dias 26 e 27, para<br />
shows na Galeteria Beira Lago e no Clube da Bossa. Será, como ele mesmo disse,<br />
“uma festa de aniversário para reunir os amigos e matar saudades!”. Para acompanhá-lo<br />
no primeiro show está escalada Márcia Tauil, cantora mineira que hoje<br />
mora em Brasília, e o pianista Rafael dos Santos. Couvert de <strong>R$</strong> 70 (com direito a<br />
água, chope, refrigerante e petiscos). Informações: 3223.7700. No segundo,<br />
Menescal será homenageado pelos intérpretes habituais do Clube da Bossa, que se<br />
reúne às 11h30 dos sábados, no Edifício Presidente Dutra (SCS). Entrada franca<br />
Divulgação<br />
Rômulo Juracy<br />
teatrodoinstante<br />
O grande desafio foi apropriar-se das peculiaridades poéticas dos textos de Clarice<br />
Lispector e estabelecer um vínculo entre o teatro e a arte computacional. Foi dessa<br />
forma que os integrantes do grupo Teatro do Instante explicaram a concepção<br />
da peça Pulsações, em cartaz na Casa de Cultura da América Latina até 12 de<br />
dezembro. Trata-se de “um encadeamento de cenas oníricas tiradas da obra de<br />
Clarice, que traça um percurso no qual sete atores e dois músicos criam um<br />
ambiente que intensifica a relação ator/espectador”. Quintas e sextas, às 10h<br />
(só para escolas) e às 12h30. Sábados, às 20h. Entrada franca. Reservas: 3033.2081.<br />
19
céudemadri<br />
“Procurei evitar o céu azul e buscar uma sensação mais pessoal, que<br />
combinasse mais com meus sentimentos de beleza” Demorou um ano até<br />
que o fotógrafo espanhol Francisco Manso conseguisse fotos puras feitas ao<br />
amanhecer, com a luz da aurora ou a neblina da manhã. O resultado de seu<br />
trabalho está exposto no Instituto Cervantes (707/<strong>90</strong>7Sul) até 11 de dezembro.<br />
Os lugares mais significativos e singulares de Madri estão em 31 fotografias de<br />
grande formato e 110 imagens registradas pelo fotógrafo, que é considerado<br />
um poeta da câmera. A mostra Madrid, região inédita, fica aberta de segunda<br />
a sexta, das 9 às 20h, e sábado, das 9 às 12h. Entrada franca.<br />
Francisco Manso<br />
cinema<br />
universitário<br />
Ficção, documentário,<br />
animação, novas mídias,<br />
direção e roteiro. São<br />
essas as categorias do<br />
II Festival IESB de<br />
Cinema, cujas inscrições<br />
estão abertas até o dia<br />
10. Podem participar<br />
estudantes de todo o<br />
país que tenham realizado<br />
uma obra audiovisual<br />
entre 2009 e 2010,<br />
desde que essa obra não<br />
tenha sido exibida no<br />
festival promovido pela<br />
universidade. De acordo<br />
com o coordenador do<br />
curso de Cinema do<br />
IESB, Pablo Gonçalo,<br />
o festival ocorrerá entre<br />
6 e 8 de dezembro “e vai<br />
selecionar o melhor da<br />
produção universitária<br />
brasileira”. Os vencedores<br />
receberão <strong>R$</strong> 500<br />
cada um. Informações e<br />
inscrições: www.iesb.br<br />
e www.festivaliesbdecinema.blogspot.com.<br />
Raissa Corso<br />
hospitaldagente<br />
Os contos de Marcelino Freire, um<br />
escritor pernambucano radicado em<br />
São Paulo, inspiraram o grupo paulista<br />
Clariô de Teatro a montar uma peça<br />
na qual as mulheres trabalhadoras<br />
abrem as portas dos seus barracos<br />
para falar de si próprias. Sem drama,<br />
figuras tão conhecidas como a<br />
mendiga, a bêbada, a prostituta, a mãe<br />
ou a dona de um boteco falam de seu<br />
cotidiano. Questões como “o que se<br />
faz com a fome, ela tem remédio?” estão no contexto da peça cujo título saiu de uma música<br />
de Chico César, Béraderô. Dias 5, 6 e 7, na Caixa Cultural. Sexta e sábado, às 20h, e domingo,<br />
às 19h. Ingressos a <strong>R$</strong> 20 e <strong>R$</strong> 10. Bilheteria: 3206.6456.<br />
literaturanoccbb<br />
O jornalista Nelson Motta e a atriz Arlete Salles<br />
estarão no CCBB dia 10 para encerrar o projeto<br />
Escritores brasileiros, responsável pela vinda a<br />
Brasília de Zuenir Ventura, Luiz Fernando<br />
Verissimo, Marina Colasanti, Cássia Kiss e Cissa<br />
Guimarães, entre outros. Inicialmente, Nelson<br />
Motta vai conversar com o coordenador do projeto,<br />
Marcelo Andrade, sobre sua vida de jornalista,<br />
compositor, escritor, roteirista, produtor musical e<br />
letrista. Depois, Arlete Salles vai ler textos da obra<br />
do escritor e, no final, o público poderá fazer perguntas. Nelson Motta escreveu O canto da<br />
sereia, Bandidos e mocinhos e Ao som do mar e à luz do céu profundo, além de 300 músicas.<br />
Às 19h30, com entrada franca mediante retirada de senha uma hora antes do início.<br />
Divulgação<br />
20
caia na gandaia<br />
Alto astral<br />
De endereço novo, a poucos metros do anterior,<br />
o Universal Diner é, cada vez mais, pura diversão<br />
Por Lúcia Leão<br />
Fotos Rodrigo Oliveira<br />
Há uma década como um dos mais<br />
festejados restaurantes da cidade<br />
– teve o reconhecimento de público<br />
e crítica traduzido nos principais<br />
prêmios regionais e nacionais de gastronomia<br />
–, de uns tempos para cá o Universal<br />
Diner é a própria festa. Circule num<br />
adiantado de noite pela comercial da 210<br />
Sul e o bochicho sob a lataria do fusca cor-<br />
de-rosa, o outdoor da casa, no bloco C, não<br />
deixará dúvidas. Gente alegre e bonita já<br />
começa a diversão ali mesmo, na calçada.<br />
Pare, observe uns instantes e é quase certo<br />
ouvir a risada exuberante de uma mulher<br />
loura em paramentos de chef. Cabelos<br />
curtos, lábios vermelhos e uma taça de espumante<br />
na mão, Mara Alcamim, a anfitriã,<br />
cumprimenta e brinda os festeiros.<br />
Não raro, acompanhada de Renata Agostinho,<br />
seu braço direito na administração<br />
da casa (com ela na foto acima).<br />
Oferecer, de uma só feita, boa comida<br />
e muita diversão é uma meta perseguida<br />
por muitos restaurateurs de Brasília. Até<br />
hoje, no entanto, nenhuma casa conseguiu<br />
atingi-la com a competência do Universal<br />
Diner. Se já estava no DNA do restaurante<br />
– cuja primeira versão, que funcionou<br />
por alguns meses de 1997, incorporava<br />
uma boate gay – foi a recente mudança<br />
de endereço que deu asas à imaginação<br />
e – porque não dizer? – à saudável<br />
loucura de Mara. Quis o destino – ou as<br />
21
22<br />
forças de mercado – que ela tivesse que<br />
trocar a loja onde o restaurante fez fama<br />
por outra maior, na mesma 210 Sul. Foi o<br />
mote para a chef radicalizar, imprimindo<br />
personalidade ousada, irreverente e libertária<br />
a cada detalhe da casa, da decoração<br />
ao astral, passando, é claro, pelo cardápio.<br />
Quando, em meados do ano, o proprietário<br />
da loja onde o Universal funcionou<br />
durante quase uma década criou dificuldades<br />
para renovar o contrato do imóvel,<br />
Mara viveu umas poucas horas de<br />
apreensão, pensando nos fregueses que já<br />
tinham suas mesas cativas e na rotina de<br />
trabalho que já era tão azeitada e precisaria<br />
mudar. Mas a apreensão passou rápido,<br />
tão logo ela começou os preparativos<br />
para a mudança e constatou o quanto a casa<br />
ganharia com o espaço adicional.<br />
Na frieza dos números, o crescimento<br />
foi até modesto: passou de 156 para 200<br />
lugares. A distribuição dos espaços também<br />
foi preservada: o bar na entrada, onde<br />
se pode aguardar uma mesa degustando<br />
um drink no balcão; o lounge, com sofás<br />
e poltronas chamativas e exóticas (como<br />
as em forma de um sapato de salto alto<br />
prateado), em torno de mesas baixas com<br />
tampo de vidro, e os três salões, dois na<br />
parte de baixo e um na sobreloja. Em todo<br />
esse espaço não há um canto que não surpreenda.<br />
Cabe literalmente de um tudo na<br />
decoração feita de próprio punho pela dona<br />
da casa: quadros, abajurs, panos, lantejoulas,<br />
peças de roupa, chapéus, long<br />
plays, flores de plástico... tudo muito colorido,<br />
completamente kitsch e engraçado.<br />
Dentro desse mercado persa, não espanta<br />
encontrar a própria chef, devidamente<br />
paramentada, sentada sobre uma<br />
trouxa de redes nordestinas, abrindo peça<br />
a peça, e com uma sincopada bateria ao<br />
fundo, oferecendo a “pechincha” aos fregueses.<br />
Festa para Danilo, o mascate cearense<br />
que não imaginava estar, naquele<br />
sábado, em seu dia de sorte.<br />
Uma cena como essa é absolutamente<br />
natural quando se trata de Mara Alcamim,<br />
concordam as amigas Célia, Adria-
na e Priscila, jovens estudantes de advocacia<br />
que, como uma significativa parcela da<br />
elite brasiliense, já incluíram o “porquinho<br />
dançante” – como Mara batizou sua<br />
feijoada de sábado – no seu calendário de<br />
baladas. Com direito a um competente<br />
samba ao vivo, também programa para família,<br />
com crianças circulando entre os<br />
passistas de ocasião que aproveitam os<br />
acanhados espaços de uma a outra mesa.<br />
Aliás, a feijoada de sábado, como rito<br />
cultural nacional de alimentação do corpo<br />
e do espírito – leia-se boa comida e muita<br />
festa! – é a casa do Universal. Mas a chef<br />
precisou de uma década e do reconhecimento<br />
da clientela e da crítica mais exigente<br />
do país para se render a ela. Os filés altos,<br />
os camarões e os risotos que arrebataram<br />
tantos prêmios para o restaurante<br />
agora ficam praticamente esquecidos nas<br />
tardes de sábado – e só nelas! – e abrem<br />
espaço no fogão para o feijão preto fumegante<br />
e a levíssima mistura de carnes que,<br />
por mais popular e disseminada que seja<br />
a receita, ganha um toque todo especial<br />
nas mãos da chef. Você acha possível, por<br />
exemplo, comer uma couve de feijoada como<br />
se fosse a primeira vez? Experimente a<br />
do Universal. “Eu adoro culinária brasileira<br />
e aluguei essa loja para abrir um restaurante<br />
especializado. Mas fui forçada a<br />
mudar o endereço do Universal e resolvi<br />
incorporar esse ícone da gastronomia ao<br />
cardápio”, conta Mara.<br />
Mas, apesar da investida no dia, é na<br />
sombra das noites que o novo Universal<br />
Diner desperta seu velho e bom espírito<br />
baladeiro. Mais espaço na nova casa significa<br />
mais gente bonita e com cacife para<br />
curtir o que Brasília tem de melhor. Da<br />
melhor comida à melhor música, a balada<br />
do Universal dispensa pistas de dança e<br />
rola mesmo entre as mesas, por onde garçons<br />
igualmente festeiros equilibram bandejas<br />
com pratos e drinks coloridos sem<br />
deixar o clima festeiro comprometer a eficiência<br />
e a qualidade do atendimento.<br />
Sem contar com a grande chance de partilhar<br />
a noitada com alguma estrela em visita<br />
à cidade. Mas a casa adverte: só aceita<br />
reservas para refeição: “Nosso foco é a comida.<br />
É claro que trabalhamos para todos<br />
se divertirem e ficamos muito felizes de o<br />
Universal ser reconhecido como um bom<br />
lugar de entretenimento. Mas a atração<br />
central é, e continuará sendo, o cardápio”,<br />
decreta Mara.<br />
Universal Diner<br />
210 Sul – Bloco C (3443.2089)<br />
Almoço: de 3ª a 6ª feira, das 12 às 15h;<br />
sábado e domingo, das 12 às 16h.<br />
Jantar: de 2ª a 5ª feira, das 19 às 24h; 6ª<br />
e sábado, das 19 à 1h30.<br />
23
galeria de arte<br />
Segredos de Siron<br />
O mais importante artista plástico goiano expõe na<br />
Caixa Cultural sua produção dos últimos três anos<br />
tro obras. Em Segredo número 20, o ideograma<br />
chinês foi recortado a laser em chapa<br />
de aço. Assim, oferece a possibilidade<br />
de ver a escrita oroginal e seus signos retirados<br />
e reunidos de forma aparentemente<br />
aleatória, propondo um universo inteiro<br />
de leituras. Secreto também é o conteúdo<br />
da mala de ferro maciço, de 800 quilos,<br />
que compõe o Segredo número 22.<br />
A obra Segredo número 23 ilude o espectador.<br />
Ela é composta de uma base de<br />
aço que se completa através do seu reflexo,<br />
num tonel de óleo diesel queimado.<br />
Não são poucas as pessoas que tendem a<br />
tocar na superfície “molhada”. Por fim, há<br />
Segredo número 24, um labirinto formado<br />
por duas esculturas de 250 cm de altura,<br />
formadas pelo empilhamento de 10 cruzes<br />
de aço cujas junções derramam graxa.<br />
Ou graça?<br />
24<br />
Por Júlia Viegas<br />
Ele é, sem sombra de dúvida, um<br />
dos maiores artistas brasileiros contemporâneos.<br />
E também um dos<br />
mais instigantes. Uma obra de Siron<br />
Franco nunca é só mais uma obra: é um<br />
discurso, um traçado filosófico. Desta vez,<br />
o artista goiano, que já estava há três anos<br />
sem expor, decidiu trabalhar sobre os mistérios<br />
da existência. O resultado é a exposição<br />
Segredos – Pinturas e Esculturas, em<br />
cartaz na Galeria Principal da Caixa Cultural<br />
até o próximo dia 28.<br />
Quem visita a exposição percebe, de<br />
imediato, que o artista está numa fase diferente,<br />
muito além da figuração. Pinturas<br />
e esculturas com tons mais fechados<br />
povoam o ambiente. A série Segredos inclui<br />
15 pinturas, entre obras horizontais e<br />
verticais, medindo 150 x 200 cm, mais<br />
dois quadros de 180 x 1<strong>90</strong> cm e cinco esculturas.<br />
O segredo começa já na pesquisa<br />
de materiais: Siron usa, além de tinta a<br />
óleo, ouro, chumbo, tecelagem africana e<br />
carimbos de borracha e silicone, nas pinturas.<br />
“Uso o ouro não apenas como cor,<br />
mas como material sagrado mesmo”, revela<br />
Siron.<br />
Muitas das pinturas apresentam símbolos<br />
que sugerem chaves para a entrada<br />
na dimensão dos mistérios. Como se fossem<br />
pistas que o artista apresenta ao espectador.<br />
Outras têm formas que acolhem variadas<br />
interpretações e que, de alguma maneira,<br />
instigam o visitante a confrontar-se<br />
com as suas próprias certezas e dúvidas.<br />
As esculturas são um capítulo à parte.<br />
A obra Segredo número 21, por exemplo,<br />
está situada bem ao centro da galeria. Trata-se<br />
de uma grande fogueira produzida<br />
em mármore sintético. Em suas vigas horizontais<br />
estão incrustradas imagens do repertório<br />
popular católico, como terços, relíquias,<br />
pequenas imagens de santos. O<br />
artista relata: “Durante todo o tempo em<br />
que trabalhei essas obras, a única música<br />
que ouvia no ateliê eram cantos gregorianos.<br />
Há meses só escuto isso”.<br />
A série de esculturas inclui mais qua-<br />
Segredos – Pinturas e Esculturas<br />
Até 28/11, de 3ª a domingo, das 9 às 21h,<br />
na Galeria Principal da Caixa Cultural.<br />
Entrada franca.<br />
Fotos: Rui Faquini
graves & agudos<br />
Vale a pena ver<br />
(e ouvir) de novo<br />
Por Heitor Menezes<br />
Antes de mais nada, muita atenção<br />
com o nome da banda que, aparentemente,<br />
fecha o ano de grandes<br />
atrações musicais internacionais em<br />
Brasília. Quem toca no domingo, 21, no<br />
Centro de Convenções Ulysses Guimarães,<br />
é a Creedence Clearwater Revisited.<br />
Isso, Revisited. Não é a Revival, Creedence<br />
Clearwater Revival. Essa, se depender<br />
de John Fogerty, o autor de quase todos os<br />
clássicos da banda, jamais voltará à ativa.<br />
Creedence Clearwater Revisited é o<br />
mais legítimo country-rock pantanoso e vale<br />
a pena conferir, mas antes, só um preâmbulo,<br />
que o rock tem dessas coisas, a<br />
volta dos que não foram. Se o cara, ou os<br />
caras, são remanescentes de uma banda<br />
famosa e que, por algum motivo, não<br />
existe mais, então nem tudo está perdido.<br />
Outro dia, basta lembrar, quem voltou<br />
à ativa foi o Queen, sem Freddie Mercury<br />
e John Deacon, mas com Paul Rodgers<br />
nos vocais. Assombroso? Sim, tal<br />
qual o Led Zeppellin sem o batera John<br />
Bonham (Page e Plant estão perdoados<br />
por essa?); o Supertramp sem Roger<br />
Hodgson; o Yes sem a incrível voz de Jon<br />
Anderson; o The Who (como pode?) sem<br />
John Entwistle e Keith Moon; o Pink<br />
Floyd também teve uma sobrevida sem<br />
Roger Waters; e por aí vai.<br />
Voltando aos CCRs da vida. Em 1972,<br />
saiu Mardi gras, último disco da Creedence<br />
Clearwater Revival. Depois de cinco anos<br />
de sucesso interplanetário e coisas como<br />
Have you ever seen the rain, tornada mais conhecida<br />
do que muitos hinos nacionais,<br />
John Fogerty brigou com todo mundo (ou<br />
teria sido o contrário?) e pediu as contas. A<br />
desavença com os demais companheiros –<br />
o baixista Stu Cook, o baterista Doug “Cosmo”<br />
Clifford e o segundo guitarrista e irmão<br />
Tom Fogerty (falecido em 19<strong>90</strong> com o<br />
vírus da AIDS) – rola até hoje.<br />
Fogerty ficou amuado desde o fim<br />
do grupo até meados dos anos <strong>90</strong>. Consta<br />
que se recusava a tocar as canções da<br />
Creedence e não quis nem saber dos excompanheiros<br />
quando a banda foi entronizada<br />
no Rock and Roll Hall of Fame,<br />
em 1993. Pior, não queria que os outros<br />
se aproximassem do repertório da banda<br />
enquanto se arrastava uma desgastante<br />
quizila judicial sobre direitos de propriedade.<br />
Eis que vem o destino. Stu e Doug,<br />
percebendo o apelo e a torcida imensa para<br />
que a banda voltasse a excursionar, resolvem<br />
seguir em frente.<br />
O negócio agora se chama Creedence<br />
Clearwater Revisited, as canções são as<br />
mesmas da Revival, estando aí a graça de<br />
tudo. John Fogerty, claro, não está nessa.<br />
Aliás, até hoje deve uma visita ao Brasil.<br />
Da Revisited fazem parte Stu e Doug,<br />
além de John Tristao (voz e segunda guitarra),<br />
do multiinstrumentista Steve<br />
Gunner e de Eliott Easton, guitarra solo.<br />
Easton, vejam, tocava na new wave The<br />
Cars, sendo sua participação na empreitada<br />
um especialíssimo capítulo à parte.<br />
Trocando em miúdos: as músicas<br />
da Creedence são tão legais que, mesmo<br />
se chamando Revisited e sem o gênio<br />
John Fogerty no meio, valem o ingresso.<br />
Quando Born on the bayou, para a<br />
felicidade geral, ecoar no Centro de<br />
Convenções, saberemos o porquê.<br />
Creedence Clearwater Revisited<br />
Dia 21/11, às 20h, no Auditório Master do<br />
Centro de Convenções Ulysses Guimarães.<br />
Ingressos (meia): cadeira vermelha, <strong>R$</strong> 300;<br />
cadeira laranja, <strong>R$</strong> 220; cadeira verde, <strong>R$</strong> 150;<br />
mezanino, <strong>R$</strong> <strong>90</strong> (à venda na Central<br />
de Ingressos G1 do Brasília Shopping,<br />
www.livepass.com.br e call center 4003-1527).<br />
Divulgação<br />
25
graves & agudos<br />
As viagens<br />
do Madrigal<br />
Grupo coral<br />
quase tão<br />
antigo quanto<br />
a cidade<br />
conquista<br />
prêmios no<br />
exterior<br />
26<br />
Por Alexandre Marino<br />
O<br />
Madrigal de Brasília acaba de<br />
voltar para casa, após um produtivo<br />
giro pela Europa. O mais antigo<br />
grupo coral da cidade ganhou dois<br />
prêmios no 58º Concurso Internacional<br />
de Coros Guido d’Arezzo, na cidade de<br />
Arezzo, no mês de setembro. Além da Salva<br />
de Prata, para o vencedor da categoria<br />
Canto Popular – Música Folclórica, o Madrigal<br />
recebeu também o prêmio do júri<br />
oficial para a mesma categoria, fato raro<br />
no festival. O júri oficial é formado por<br />
maestros de várias partes do mundo.<br />
Essa premiação abre as portas de outros<br />
festivais de grande prestígio internacional<br />
para o Madrigal. O grupo voltou<br />
para Brasília com participação assegurada<br />
no Festival de Cork, na Irlanda, em 2012.<br />
O convite foi feito na própria cidade de<br />
Arezzo, por representantes do concurso<br />
irlandês. O Madrigal só precisa, agora,<br />
viabilizar a viagem de seus 25 integrantes<br />
e confirmar a presença.<br />
Antes de Arezzo, ainda em setembro,<br />
o Madrigal participou do Festival Concordia<br />
Vocis, realizado em três cidades da<br />
Sardenha (Cagliari, Tortoli e Sarroch),<br />
também na Itália. Assim como o evento<br />
em Cork, a participação no Concordia<br />
Vocis acontece por meio de convite. Diferente<br />
do Festival de Arezzo, em que o<br />
grupo interessado se inscreve e passa por<br />
uma rígida seleção para concorrer.<br />
A participação em festivais internacionais<br />
é parte do projeto de trabalho do Madrigal.<br />
Desde 1974, quando se apresentou<br />
no Encontro Latino-Americano de<br />
Coros, em Mar Del Plata, na Argentina, o<br />
grupo leva seu canto ao exterior. Entre os<br />
países onde já se apresentou constam Polônia,<br />
Grécia, México e Chile. No Brasil,<br />
o grupo já cantou em Cabo Frio, Londrina,<br />
Blumenau, Maceió e Porto Alegre, entre<br />
outras cidades. As viagens ao exterior,<br />
Divulgação<br />
apesar de não faltarem oportunidades,<br />
exigem planejamento maior e já houve<br />
ocasiões em que o Madrigal teve de recusar<br />
convites por falta de recursos. “Procuramos<br />
participar desses eventos a cada<br />
dois anos, porque é preciso uma longa<br />
preparação para que dê tudo certo”, explica<br />
o maestro Éder Camúzis, regente do<br />
grupo desde 1999.<br />
Criado em 1963 pelo maestro Levino<br />
de Alcântara, o Madrigal conta com<br />
apoio da Secretaria de Educação do DF,<br />
já que é vinculado à Escola de Música de<br />
Brasília, também criada por Alcântara, e<br />
todos os integrantes são professores. Para<br />
garantir a participação em grandes eventos,<br />
como ocorreu este ano, o Madrigal<br />
administra o cachê que recebe em eventos<br />
em Brasília e outras cidades do Brasil.<br />
Sua história está intimamente ligada<br />
à história de Brasília. Primeiro coral criado<br />
na cidade, foi a semente para a Escola<br />
de Música, fundada apenas em 1974. Até<br />
os 36 anos de Brasília, o Madrigal cantou<br />
em todos os eventos comemorativos do<br />
aniversário da cidade. Com vários prêmios<br />
internacionais, o grupo tem três<br />
CDs gravados – Madrigal de Brasília<br />
(1993), Canto brasilis (1998) e Canto brasilis<br />
II (2004). Do repertório do grupo<br />
constam centenas de obras de autores<br />
clássicos e populares, como Bach, Beethoven,<br />
Brahms, Debussy, George Gershwin,<br />
Tom Jobim, Heitor Villa-Lobos,<br />
Cláudio Santoro, Guerra Peixe e Antonio<br />
Carlos Gomes, entre muitos outros.<br />
Agora, o Madrigal de Brasília começa<br />
a preparar-se para outros desafios. “Nunca<br />
pensei que pudéssemos chegar tão<br />
longe, mas com o convite já feito, só depende<br />
de nós essa participação no Festival<br />
de Cork, na Irlanda”, afirma o maestro<br />
Éder Camúzis. Boa viagem ao Madrigal,<br />
e que novas fronteiras se abram.
Feliz combinação<br />
Dez dias de música e artesanato de qualidade<br />
no Pavilhão Expobrasília do Parque da Cidade<br />
Fernando Laszlo<br />
Christian Gaul<br />
Maria Rita<br />
Por Eduardo Oliveira<br />
Certamente os shows de Maria Rita,<br />
Arnaldo Antunes, Frejat e Nenhum<br />
de Nós são o que mais chama<br />
a atenção na programação do 3º Salão<br />
Internacional do Artesanato, que começa<br />
nesta sexta-feira, 5, e segue até o dia 15 no<br />
Pavilhão Expobrasília do Parque da Cidade.<br />
Mas eles – os shows – são apenas a cereja<br />
no bolo de uma feira que traz a Brasília<br />
uma amostra do artesanato de todos os<br />
Estados brasileiros, com exceção do Amapá,<br />
além de expositores de outros países.<br />
Cada Estado enviou o que sabe fazer de<br />
melhor, passando pelas rendas nordestinas,<br />
pelas roupas de couro do Rio Grande<br />
do Sul e pelo artesanato de influência indígena<br />
da região Norte. O mesmo vale para<br />
expositores de fora do Brasil: Egito, Equador,<br />
Índia, Turquia, Portugal, Marrocos,<br />
Peru, Síria e Líbano trouxeram produtos<br />
de forte identificação com a cultura local. O<br />
visitante poderá comprar desde chapéus de<br />
palha do Equador até xales da Síria e do Lí-<br />
bano, além de apreciar peças raras do Egito,<br />
com mais de um século de idade – estas,<br />
só para exposição, não serão vendidas.<br />
Os shows<br />
A programação musical começa neste<br />
sábado, 6, quando Maria Rita sobe ao palco<br />
para apresentar músicas de seus três<br />
discos, além de algumas que não chegou a<br />
lançar em CD, como Todo carnaval tem<br />
seu fim, do Los Hermanos, e A história de<br />
Lily Braun, de Edu Lobo e Chico Buarque.<br />
A turnê atual tem sido marcada por<br />
shows cheios de interatividade com o público,<br />
com direito até a fãs pedindo música<br />
pelo twitter.<br />
O pop rock dos anos 80 dá o tom nos<br />
shows seguintes. No dia 10, os gaúchos<br />
do Nenhum de Nós apresentam um repertório<br />
parecido com o CD e DVD ao<br />
vivo Nenhum de Nós a céu aberto, lançado<br />
em 2007, incluindo sucessos como Camila,<br />
Camila e Astronauta de mármore. No<br />
dia seguinte, Frejat apresenta músicas de<br />
seu último disco, Intimidade entre estranhos,<br />
Vicente de Paulo<br />
além de vários sucessos da carreira solo e<br />
uma ou outra do Barão Vermelho.<br />
Na véspera do encerramento da feira,<br />
dia 14, Arnaldo Antunes fecha a programação<br />
em ritmo de Iê iê iê. Esse é o nome<br />
do último disco do cantor, que serve de<br />
base para o show. O disco só tem músicas<br />
inéditas, mas todas elas com o pé nos<br />
anos 60. As referências passam pela Jovem<br />
Guarda, pela primeira fase dos Beatles,<br />
pela surf music e por tudo que fazia<br />
os brotos dançarem quando o rock’n’roll<br />
ainda era uma novidade.<br />
3º Salão Internacional do Artesanato<br />
De 5 a 15/11, no Pavilhão Expobrasília do<br />
Parque da Cidade. De segunda a sexta, das<br />
16 às 22h; sábados, domingos e feriado,<br />
das 11 às 22h. Ingressos a <strong>R$</strong> 10 e <strong>R$</strong> 5<br />
(meia para estudantes, idosos ou doadores<br />
de 1 kg de alimentos). Preço apenas para<br />
entrada na feira. Os ingressos para os<br />
shows têm preços diferenciados (veja em<br />
www.salaodoartesanato.com.br).<br />
Bordado do Rio de Janeiro e renda de filé de Alagoas<br />
Fotos: divulgação<br />
27
carta da europa<br />
Arte e<br />
instrumentos de guerra<br />
28<br />
Por Silio Boccanera, de Londres<br />
Estranha a sensação de entrar numa<br />
galeria de arte e confrontar um caça<br />
a jato a poucos metros de nossos<br />
olhos. Não se trata de um ataque militar<br />
contra algum artista de mau gosto (embora<br />
alguns mereçam...) e sim de um golpe<br />
sensorial no espectador. Concebido, no<br />
caso, pela artista britânica Fiona Banner,<br />
que usou a sala mais tradicional e neoclássica<br />
da galeria Tate Britain para montar<br />
dois aviões militares como instalação.<br />
Um Harrier pendurado no teto aponta<br />
o bico para baixo, quase tocando o<br />
chão, enquanto um Jaguar repousa no piso,<br />
de cabeça para baixo, como se tivesse<br />
sofrido um acidente, sem se quebrar. Para<br />
o espectador que passa, o efeito é de espanto,<br />
ao ver de perto numa galeria de<br />
arte moderna um equipamento militar<br />
habitualmente tão distante da experiência<br />
diária de quem visita a Tate.<br />
O trabalho de Banner preenche assim<br />
uma das condições para se caracterizar<br />
como obra de arte contemporânea: um<br />
objeto fora de seu lugar habitual e, por<br />
isso, capaz de nos forçar a olhar de forma<br />
diferente da que adotaríamos se víssemos<br />
os caças nos céus ou num aeroporto.<br />
O mesmo princípio se aplica a uma<br />
peça do nosso cotidiano, como a cama desarrumada<br />
da artista britânica Tracy<br />
Amin, objeto que ganhou significado extra<br />
quando exibido no salão de uma galeria<br />
(a ponto de ter sido comprado por milhares<br />
de libras pelo colecionador Charles<br />
Saatchi). O mesmo se pode dizer dos<br />
aviões de Banner, removidos das zonas<br />
de combate ou de treinamento e instalados<br />
na Tate, não muito longe das pinturas<br />
de David Hockney ou das esculturas<br />
de Henry Moore.<br />
Aviões e helicópteros se tornaram um<br />
obsessão dessa artista nascida no norte da<br />
Inglaterra há 44 anos, mas que passou<br />
sua infância perto de uma base aérea no<br />
País da Gales, um ambiente rural e bucólico,<br />
perturbado com regularidade pela<br />
passagem de um jato militar.<br />
– Quando tudo estava completamente<br />
sublime, pastoral e lindo – conta Banner<br />
– surgia no ar de repente um caça Tornado,<br />
com um ruído absolutamente fenomenal.<br />
Ficávamos complemente atônitos,<br />
mas de alguma maneira a beleza do momento<br />
superava até o encanto do local e<br />
do que estávamos fazendo.<br />
Com o passar do tempo e em meio a<br />
seus cursos de arte em Londres (Kingston<br />
University e Goldsmith College),<br />
Banner se viu atraída por aviões e helicópteros<br />
em seus trabalhos, a ponto de<br />
colecionar fotos de todos os modelos<br />
usados pela Força Aérea britânica. Fez<br />
também um livro de mil páginas com<br />
ilustrações de filmes sobre a Guerra do<br />
Vietnã. E para um trabalho ainda em<br />
preparação, filmou helicópteros Chinook<br />
em vôo, no que ela chama de balé.<br />
A arte de Banner não se resume a<br />
guerra e equipamento militar. Ela dedica<br />
atenção também ao corpo nu e ao sexo.<br />
Chegou a concorrer, poucos anos atrás, ao<br />
famoso Prêmio Turner, de arte contemporânea,<br />
com uma obra que, sobre uma<br />
tela branca, mostrava palavras impressas<br />
em cor-de-rosa, descrevendo um filme
Fotos: Tate<br />
pornô. Não ganhou o prêmio, mas conseguiu<br />
irritar o então ministro da Cultura,<br />
Kim Howells, que juntou à peça um cartão<br />
com sua opinião: “merda conceitual”.<br />
A obra pornô que chocou o ministro<br />
foi mostrada na mesma galeria Tate onde<br />
estão hoje os aviões de Banner, que provocam<br />
impacto até maior do que as sugestões<br />
lascivas do trabalho anterior. Não<br />
que os caças sejam desprovidos de significado<br />
sexual, pois não dá para ignorar o<br />
design tubular e pontiagudo do Harrier e<br />
do Jaguar, além da habitual metáfora de<br />
“potência” associada a máquinas desse tipo,<br />
de aviões a motos ou carros esporte.<br />
– Sei que esses aviões são instrumentos<br />
de guerra, destruição, sofrimento e morte<br />
– disse Banner -- mas não se pode ignorar<br />
que são objetos esteticamente belos.<br />
A observação de Banner me lembrou<br />
uma entrevista recente que fiz aqui em<br />
Londres com Deyan Sudjic, diretor do<br />
Museu do Design. Perguntei-lhe porque<br />
os carros de Fórmula-1 eram esteticamente<br />
tão bonitos, quando não precisam ser,<br />
já que o objetivo deles, ao contrário de carros<br />
de passeio vendidos ao público, é ser<br />
rápidos e ganhar corridas, sem precisar<br />
agradar compradores numa revendedora.<br />
– São belos porque são funcionais –<br />
respondeu-me Sudjic. Representam a combinação<br />
ideal de design e função. Ao projetar<br />
os carros para que sejam eficientes na<br />
aerodinâmica e não se deixem prejudicar<br />
pelo ar quando em movimento, além de<br />
permanecerem equilibrados em alta velocidade,<br />
nas freadas e nas curvas, o produto<br />
final adquire as belas formas que conhecemos,<br />
embora não precisem da beleza.<br />
É o caso dos Harrier e Jaguar de Banner,<br />
projetados para serem rápidos, flexíveis<br />
nas manobras e eficientes nos ataques<br />
enquanto voam. Não precisam ser objetos<br />
bonitos para operar em combate, mas acabam<br />
sendo porque o design leva em conta<br />
a funcionalidade.<br />
– Um objeto de arte precisa ter utilidade,<br />
precisa servir para alguma coisa? –<br />
pergunto a Sudjic.<br />
– Há um conflito antigo entre o design<br />
e aquilo que chamamos de “arte”. A<br />
arte surge da religião e da mágica. Ainda<br />
hoje, ela tem esse sabor, essa sensação de<br />
fazer algo que é parte de outro mundo. Já<br />
o design é “amaldiçoado” pelo fardo da<br />
utilidade. Todas as culturas têm algo que<br />
Fiona e o Harrier pendurado no teto da galeria Tate<br />
valoriza a inutilidade acima da utilidade.<br />
Se pensarmos bem, a maioria das culturas<br />
tem uma elite, aqueles que não precisam<br />
trabalhar, e uma massa que trabalha para<br />
sustentá-la. E a elite mostra que não precisa<br />
trabalhar através do que usa, de como<br />
se comporta. Isso se aplica a todo tipo de<br />
cultura. Então, a arte não tem utilidade;<br />
portanto, tem maior prestígio do que o design,<br />
que tem utilidade. E, hoje, os designers<br />
tentam se reinventar não como pessoas<br />
que produzem algo útil, mas que produzem<br />
algo que tenha outro sabor cultural.<br />
A ideia do produto de edição limitada,<br />
por exemplo, é muito popular em certos<br />
meios, o que é muito estranho. É como<br />
tornar um sofá uma escultura.<br />
29 29
luz câmera ação<br />
Divulgação<br />
Otavio Serra<br />
Divulgação<br />
O céu sobre os ombros, de Sérgio Borges<br />
Amor?, de João Jardim<br />
Vigias, de Marcelo Lordello<br />
Festival da transição<br />
em transe<br />
Constrangido pela maior crise política da história da<br />
capital federal, Festival de Brasília encara o futuro<br />
com dúvidas, incertezas e perspectivas de mudança<br />
30 30<br />
Por Sérgio Moriconi<br />
Uma velha máxima do futebol diz<br />
que em time que está ganhando<br />
não se mexe. Este, aliás, é um<br />
contumaz argumento dos defensores do<br />
conceito original do mais antigo festival<br />
de cinema do Brasil. Em sua defesa, eles<br />
apontam para a sala invariavelmente<br />
cheia do Cine Brasília nas sessões oficiais<br />
de sua mostra competitiva. Entretanto,<br />
não são poucas, entre as pessoas<br />
ligadas à atividade cinematográfica, as<br />
que consideram a fórmula do mais tradicional<br />
certame do gênero um tanto quanto<br />
gasta. Basta ver, dizem, o esvaziamento<br />
do interesse da grande mídia nacional e<br />
também de boa parte dos principais<br />
cineas tas nacionais que há muito deixaram<br />
de inscrever seus filmes no evento.<br />
Apenas dedicado à produção nacional, o<br />
Festival de Brasília, que acontece de 23 a<br />
30 deste mês, perdeu espaço para certames<br />
semelhantes espalhados por todo o Brasil.<br />
A despeito de todas essas considerações,<br />
o festival, em sua quadragésima terceira<br />
edição, não deixa de reafirmar um<br />
grande interesse do público e de parte da<br />
crítica pelas novas produções dos jovens<br />
cineastas selecionados para as mostras<br />
oficiais de longas e curtas-metragens. Este<br />
ano, a seleção incluiu três produções de<br />
Brasília nas mostras competitivas em<br />
35mm: o longa O mar de Mário, de Reginaldo<br />
Gontijo e Luiz F. Suffiati (*), e os<br />
curtas Braxília, de Danyella Neves e Silva<br />
Proença, e Falta de ar, de Érico Monnerat.<br />
Outras habituais atrações, além dos<br />
filmes, claro, são os sempre interessantes<br />
debates, seminários, lançamentos de livros<br />
e DVDs e programações paralelas várias.<br />
Vale chamar a atenção para a Mostra<br />
Brasília, dedicada apenas às produções da<br />
capital do país não selecionadas para a<br />
competição oficial, mas que concorrem ao<br />
prêmio da Assembléia Legislativa do DF.<br />
A Mostra Brasília, ano após ano, e cada<br />
vez mais, cai nas graças do público local,<br />
segundo alguns, por razões óbvias: o bairrismo.<br />
Outros preferem ver o fenômeno<br />
de outra maneira.<br />
Um olhar mais minucioso na programação<br />
da Mostra Brasília e também na de<br />
filmes em digital atesta não só a vitalidade<br />
como uma maior consistência e segmentação<br />
do cinema realizado por aqui. A Mostra<br />
Brasília traz nomes já estabelecidos há algum<br />
tempo na prática cinematográfica. Ítalo<br />
Cajueiro (I Juca Pirama), Bruno Torres<br />
(Encontro das águas, em parceria com Evaldo<br />
Mocarzel), Denise Moraes (Memória de<br />
elefante), Augusto Jugmann Andrade, o Giraga<br />
(Eu não sei), Santiago Dellape (Ratão),
Divulgação<br />
Divulgação<br />
Os residentes, de Tiago Mata Machado<br />
A alegria, de Felipe Bragança e Marina Meliande<br />
Piu Gomes (Zé(s)), Cássio Barbosa (Penca<br />
de gente) e a atriz e diretora Catarina Accioly<br />
(A obscena senhora D) são personagens<br />
que buscam agora maior reconhecimento e<br />
afirmação nacional. Por outro lado, a mostra<br />
digital impressiona pela incrível quantidade<br />
e diversidade de obras de diretores<br />
candangos, algumas assinadas por jovens<br />
cineastas que já estão na sua segunda ou<br />
terceira aventura cinematográfica.<br />
Mas o perfil do Festival de Brasília como<br />
um todo é jovem, sem dúvida. De alguma<br />
maneira, ele antecipa o esboço do<br />
que talvez possa vir a ser o caminho para<br />
um novo festival, mais adequado ao novo<br />
século, para um país que vai entrar na sua<br />
terceira década de experiência democrática,<br />
que ganha cada vez mais corpo e peso<br />
no mundo. Não deixa de ser interessante<br />
observar a presença do jovem realizador<br />
Erik Rocha, com Transeunte, na<br />
competição de longas em 35mm. Filho<br />
de Glauber Rocha, Erik, de alguma maneira,<br />
ilustra simbolicamente o percurso<br />
do próprio Festival de Brasília. O pai foi<br />
uma das figuras emblemáticas do primeiro<br />
e segundo períodos de um festival que<br />
foi um dos principais fóruns de contestação<br />
à ditadura militar nos anos 60.<br />
Eram os anos dourados do Cinema<br />
Novo, movimento politizado e modernizador<br />
da arte cinematográfica brasileira.<br />
Todos os gigantes da sétima arte tupiniquim<br />
– Glauber, Nelson Pereira dos Santos,<br />
Joaquim Pedro de Andrade, a musa<br />
Leila Diniz, os malditos Rogério Sganzerla<br />
e Julio Bressane (impossível citar todos) –<br />
deram o ar de sua graça nas telas do Cine<br />
Brasília, nos encontros formais e informais,<br />
nas conversas conspiratórias, na<br />
piscina do Hotel Nacional. Glamour, terror,<br />
arte, celebração, eram todos ingredientes<br />
de um festival que dilatou por quase<br />
uma década a esperança de que a nova<br />
capital incrustada nos confins do Planalto<br />
Central pudesse se transformar no centro<br />
irradiador de um novo país. Um país muito<br />
menos desigual, acabando de vez com o<br />
abismo entre litoral e interior. Os brasileiros<br />
deixariam de viver como descrevera<br />
no Século XVII o frei Vicente de Salvador<br />
– reproduzo aqui a citação do escritor João<br />
Almino, em Cidade Livre –, “como caranguejos,<br />
agarrados ao litoral”.<br />
No seu início, o festival experimentou<br />
quatro anos bipolares de anunciação de<br />
dias melhores e, ao mesmo tempo, de um<br />
mal pressentimento que o AI-5 viria a tornar<br />
realidade. Nos anos 70, sob a funesta<br />
capa da censura e da repressão, Glauber<br />
voltaria a ser um protagonista do festival,<br />
para o bem ou para o mal, dependendo<br />
da cor ideológica de seus interlocutores<br />
e observadores. Ele farejaria ares da abertura<br />
política promovida pelos próprios<br />
militares, chegando a declarar o general<br />
Golbery do Couto e Silva um gênio da raça,<br />
o que provocaria a ira das esquerdas<br />
ortodoxas. Contraditoriamente visionário,<br />
Glauber, numa atitude quase insana,<br />
perseguiria pelos corredores e salões do<br />
Hotel Nacional o documentarista francês<br />
Jean Rouch, acusando-o, aos berros, de<br />
agente da CIA, simplesmente porque ele,<br />
Rouch, na época uma celebridade da esquerda,<br />
queria popularizar no Brasil o<br />
uso das câmaras super-8, máquinas, segundo<br />
Glauber, a serviço do imperialismo<br />
norte-americano.<br />
Com a abertura política, tateando no<br />
escuro depois da extinção da Embrafilme<br />
e a grave crise subsequente do setor, Brasília<br />
continuaria como o espaço privilegiado<br />
da discussão sobre os rumos que o<br />
cinema deveria tomar a partir do fim do<br />
modelo estatal de financiamento da produção<br />
e sua substituição pelos mecanismos<br />
de renúncia fiscal. Mas logo se percebeu<br />
uma paralisia conceitual do Festival<br />
de Brasília. Na virada do novo século,<br />
produtores e realizadores passaram a privilegiar<br />
uma visão pragmática de mercado.<br />
Festivais internacionais como os do<br />
Rio e São Paulo se tornaram vitrines muito<br />
mais interessantes para os seus filmes.<br />
Brasília hoje é a casa dos jovens realizadores,<br />
de independentes e alternativos<br />
históricos e novatos. A escolha da cópia<br />
restaurada de Liliam M – Relatório Confidencial,<br />
de Carlos Reichenbach, para<br />
abrir a edição deste ano, é uma prova desse<br />
compromisso com o cinema de autor.<br />
Outros selecionados da mostra competitiva<br />
de longas também. Porém, a impressão<br />
de que falta uma curadoria e um novo<br />
projeto para afirmar uma nova singularidade<br />
para o festival, e assim projetá-lo<br />
para além das fronteiras nacionais, é quase<br />
consensual.<br />
*Desclassificado ao optar pela participação na 34ª<br />
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o<br />
que contraria a exigência de ineditismo do festival<br />
brasiliense, foi substituído por Os residentes, de Tiago<br />
Mata Machado. 31 31
luz câmera ação<br />
Atração perigosa<br />
32<br />
Por Reynaldo Domingos Ferreira<br />
De narrativa tensa, Atração perigosa<br />
é um drama policial que expõe<br />
com habilidade técnica a propensão<br />
para o crime de uma cidade, Charlestown,<br />
situada nas cercanias de Boston e tida<br />
como capital mundial de assaltos a bancos,<br />
já que registra um número recorde de<br />
300 por ano. O filme, o segundo dirigido<br />
por Ben Affleck, que também interpreta o<br />
protagonista, Doug MacRay, e colaborou<br />
na elaboração do roteiro original, é baseado<br />
no livro Prince of thieves, de Chuck Hogan.<br />
O argumento, um tanto surrado, faz<br />
ressurgir um tipo de “herói” que, nascido<br />
no meio hostil, se viu, aos nove anos, desamparado,<br />
pois o pai, Stephen (Chris Cooper),<br />
foi preso, envolvido com a criminalidade,<br />
e a mãe desapareceu.<br />
Desde o prólogo, quando a gangue liderada<br />
por Doug prepara um brutal assalto<br />
a um dos bancos principais da cidade,<br />
Affleck, por ousadas tomadas de câmera,<br />
descritivas do ambiente social da história –<br />
que ele conhece bem, pois nasceu em Boston<br />
–, já demonstra total domínio da linguagem<br />
que pretende imprimir à película.<br />
Percebe-se então, pelo aguçamento da observação<br />
de alguns detalhes técnicos, a intenção<br />
do realizador de seguir a esteira dos<br />
trabalhos, no gênero, de Clint Eastwood.<br />
Assim, o uso, pelos assaltantes, de batas<br />
negras e máscaras reprodutivas de caveiras<br />
se torna elemento de composição<br />
de cena que ajuda muito a aterrorizar a<br />
ação das personagens. Entre elas se destaca<br />
James “Jem” Coughlin (Jeremy Renner),<br />
braço direito de Doug, também seu<br />
irmão de criação, uma vez que sua família<br />
o acolheu ao ser abandonado pelos pais.<br />
Jem, que já esteve preso durante nove<br />
anos, é um indivíduo temperamental que,<br />
às vezes, precisa ser contido em sua sanha<br />
Divulgação<br />
por Doug, de alguma ascendência sobre<br />
ele.<br />
É durante o assalto que Doug conhece<br />
Claire Keesey (Rebecca Hall), gerente de<br />
banco. Ela, apesar de refém de Jem, sem<br />
ser percebida aciona o dispositivo de segurança<br />
de comunicação com a polícia, esta<br />
sob o comando de Adam Frawley (Jon<br />
Hamm), agente do FBI. Como Claire se<br />
torna, após o assalto, testemunha importante<br />
para a localização e detenção dos assaltantes<br />
– pois identificara um deles sem<br />
a máscara –, Doug vai procurá-la na lavanderia<br />
de sua vizinhança. Ao contrário do<br />
que fazia parte de seus planos, porém, ele<br />
dá início a um relacionamento amoroso<br />
com ela, o que, ao mesmo tempo em que<br />
desperta a ira de Jem, o faz pensar em mudar<br />
de vida.<br />
A psicologia é, portanto, a da lembrança<br />
nostálgica do narrador dos fatos, Doug,<br />
pautada por comentário musical de excepcional<br />
qualidade, de Harry Gregson-<br />
Williams e David Buckley. Isso explica o<br />
fato de os traços psicológicos das personagens<br />
próximas a ele serem mais satisfatoriamente<br />
definidos no roteiro. A personalidade<br />
de Frawley, que comanda a operação<br />
policial, fica pouco detalhada, embora<br />
o intérprete, Jon Hamm, consiga sublinhar-lhe<br />
algumas nuanças a fim de não<br />
deixá-la cair no estereótipo. Rebecca Hall<br />
tem interpretação exemplar como a traumatizada<br />
Claire, que desperta desconfiança<br />
tanto dos assaltantes como dos policiais.<br />
A grande estrela do elenco, porém, é<br />
Jeremy Renner, que, como Jem, domina a<br />
cena quando é encurralado pelas forças<br />
policiais nas estreitas ruas da cidade ao<br />
olhar atento de Doug, que, sob disfarce,<br />
foge do local, levando o dinheiro roubado.<br />
Chris Cooper, como Stephen MacRay,<br />
aparece apenas um momento, mas, como<br />
sempre, numa irrepreensível atuação.<br />
Atração perigosa (The Town)<br />
EUA/2010, 125min. Direção: Ben Affleck.<br />
<strong>Roteiro</strong>: Sheldon Turner, Peter Craig e Ben<br />
Affleck, com base no livro Prince of thieves,<br />
de Chuck Hogan. Com Ben Affleck, Jeremy<br />
Renner, Rebecca Hall, Jon Hamm, Chris<br />
Cooper e Blake Lavely.