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Objeto e método da climatologia - Departamento de Geografia - USP

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Revista do <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, 18 (2006) 89-94.<br />

OBJETO E MÉTODO DA CLIMATOLOGIA<br />

Max Sorre 1<br />

Introdução<br />

O que se propõe é fixar com niti<strong>de</strong>z a individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>climatologia</strong> e, particularmente, <strong>da</strong> <strong>climatologia</strong> entre as disciplinas<br />

que estu<strong>da</strong>m a atmosfera e, <strong>de</strong>ssa forma, chegar a uma<br />

<strong>de</strong>finição correta <strong>da</strong> noção <strong>de</strong> clima. Os fenômenos que tem como<br />

teatro a atmosfera po<strong>de</strong>m ser estu<strong>da</strong>dos sob muitos pontos <strong>de</strong><br />

vista. A con<strong>de</strong>nsação do vapor d’água, a chuva, a <strong>de</strong>scarga<br />

elétrica, o relâmpago são fenômenos físicos cujo estudo pertence<br />

ao ramo <strong>da</strong> física que se <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> meteorologia. Esta se<br />

preocupa com a medi<strong>da</strong> <strong>de</strong>sses fenômenos, <strong>de</strong>termina as<br />

condições físicas em que são produzidos, investiga a natureza<br />

<strong>da</strong>s relações que existem entre eles e os fatores que os<br />

condicionam e tenta prever a repetição dos mesmos. Aí está to<strong>da</strong><br />

a tarefa <strong>da</strong> meteorologia sob seu duplo aspecto, estático e<br />

dinâmico: <strong>de</strong>finição qualitativa dos fenômenos, pesquisa <strong>da</strong>s leis,<br />

previsão. Quando estu<strong>da</strong>mos as variações geográficas <strong>da</strong> lâmina<br />

<strong>de</strong> água precipita<strong>da</strong> na superfície do solo, quando comparamos<br />

as diferenças <strong>de</strong> ritmo <strong>de</strong> oscilação térmica <strong>de</strong> uma região para<br />

outra, quando caracterizamos a atmosfera <strong>de</strong> um lugar pela<br />

combinação dos meteoros, quando investigamos a relação entre<br />

esses fatos e outros fatos geográficos tais como distribuição dos<br />

vegetais, animais ou homens, nós trabalhamos imbuídos <strong>de</strong> outro<br />

espírito. Fazemos <strong>climatologia</strong>, geral ou <strong>de</strong>scritiva conforme o<br />

caso. É claro que o meteorologista por uma tendência natural,<br />

chega a se preocupar com a repartição geral dos meteoros. Da<br />

mesma forma, evi<strong>de</strong>ntemente, o climatólogo não po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r um<br />

passo sem utilizar os resultados gerais e particulares <strong>da</strong><br />

meteorologia. Nas relações que estabelece entre as variações <strong>da</strong><br />

precipitação e a altitu<strong>de</strong>, ele reencontra leis físicas. Porém, esses<br />

reencontros necessários, indispensáveis, não <strong>de</strong>vem mascarar a<br />

duali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos pontos <strong>de</strong> vista.<br />

Insistimos, ain<strong>da</strong>, que meteorologistas e climatólogos po<strong>de</strong>m<br />

fazer observações com os mesmos instrumentos, sobre os<br />

mesmos fenômenos como a temperatura, por exemplo. Eles<br />

elaboram séries registra<strong>da</strong>s nos mesmos arquivos. To<strong>da</strong>via, a<br />

apreciação <strong>da</strong> justeza e sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos aparelhos, a crítica<br />

matemática <strong>da</strong>s séries, o estudo <strong>da</strong>s variações tendo em vista a<br />

previsão, tudo isso é essencialmente <strong>da</strong> alça<strong>da</strong> do meteorologista.<br />

Ele é preparado para essa tarefa pois a sua formação é a do<br />

físico. Aos olhos do climatólogo, a variação termométrica aparece<br />

primeiro como um elemento <strong>da</strong> particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> climática <strong>de</strong> um<br />

lugar ou <strong>de</strong> uma região.<br />

Esta particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> climática é, por sua vez, apenas um<br />

elemento <strong>da</strong>s características geográficas, as quais compreen<strong>de</strong>m,<br />

ain<strong>da</strong>, a forma do terreno, as águas, o mundo vivo. Ele tem<br />

constantemente presentes no espírito as relações <strong>da</strong> inter<strong>de</strong>pendência<br />

entre esses elementos, relações que não se exprimem<br />

absolutamente por fórmulas matemáticas. Se ele estiver,<br />

sobretudo, preocupado com as relações do clima com os<br />

aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, isto é, se ele é climatobiologista, a formação do<br />

biologista lhe é indispensável.<br />

Essas distinções são clássicas. Contudo, insistimos sobre<br />

elas porque, como diz muito bem Morikofer, a <strong>climatologia</strong> atravessa<br />

um período <strong>de</strong> crise. A <strong>climatologia</strong> clássica, à qual<br />

<strong>de</strong>vemos obras magistrais, como a <strong>de</strong> Hann, foi, sobretudo, obra<br />

<strong>de</strong> meteorologistas. Suas insuficiências se evi<strong>de</strong>nciam claramente.<br />

As mesmas tiveram conseqüências <strong>de</strong>sagradáveis. Se a<br />

geografia botânica se <strong>de</strong>sviou <strong>da</strong>s consi<strong>de</strong>rações ecológicas, a<br />

carência <strong>da</strong> <strong>climatologia</strong> não foi estranha a isso. Agrônomos e<br />

médicos reclamam com insistência o retorno <strong>de</strong>ssa disciplina a<br />

sua ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira vocação. Essa orientação assume uma gran<strong>de</strong><br />

importância no momento em que o progresso <strong>da</strong> navegação<br />

aérea coloca em primeiro plano a pesquisa <strong>da</strong> previsão: o estudo<br />

<strong>da</strong> atmosfera não é objeto <strong>de</strong> uma disciplina única; as pretensões<br />

do climatólogo são tão justifica<strong>da</strong>s quanto as do meteorologista.<br />

Foi dito mais acima que eles utilizam o mesmo material<br />

cientifico. To<strong>da</strong>via, é necessário colocar algumas reservas. É<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro para o essencial. Porém to<strong>da</strong>s as categorias <strong>de</strong> observações<br />

não proporcionam exatamente a mesma contribuição para<br />

ambos. Por exemplo, as observações relativas à alta e à media<br />

atmosfera, à formação dos sistemas <strong>de</strong> nuvens, apresentam um<br />

interesse maior em meteorologia. O climatólogo se atém mais à<br />

duração, à intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> nebulosi<strong>da</strong><strong>de</strong> porque esses elementos<br />

exercem influência sobre o aspecto do tapete vegetal. Encontrarse-iam,<br />

facilmente outros exemplos.<br />

1<br />

Este texto correspon<strong>de</strong> ao capítulo introdutório <strong>da</strong> obra “Traité <strong>de</strong> climatologie biologique et medicale” publicado em 1934 em Paris sob a direção <strong>de</strong><br />

M. Piery Masson et Cie Éditeurs. Vol. I, pp. 1 a 9. Traduzido pelo Prof. Dr. José Bueno Conti. <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>/ FFLCH/<strong>USP</strong>.<br />

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A diferença existente entre a meteorologia, ramo <strong>da</strong>s<br />

ciências físicas, que faz largo uso <strong>da</strong> linguagem e dos métodos<br />

matemáticos, e a <strong>climatologia</strong>, vincula<strong>da</strong>, por suas tendências e<br />

sua natureza ao grupo <strong>da</strong>s ciências <strong>de</strong> observação, leva-nos a<br />

<strong>de</strong>finir mais exatamente esta última, analisando a noção fun<strong>da</strong>mental<br />

do clima.<br />

A <strong>de</strong>finição clássica <strong>de</strong> clima e suas insuficiências<br />

Durante o último meio século, estivemos presos à <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> Hann, o estado médio <strong>da</strong> atmosfera sobre um lugar, mais<br />

exatamente “o conjunto dos fenômenos meteorológicos que<br />

caracterizam a condição média <strong>da</strong> atmosfera em ca<strong>da</strong> lugar <strong>da</strong><br />

Terra”. Esta <strong>de</strong>finição é simples e cômo<strong>da</strong>. Ela marca bem o<br />

caráter local <strong>de</strong>sta combinação <strong>de</strong> elementos meteorológicos que<br />

compõem o clima. Porém, é insuficiente sob dois pontos <strong>de</strong> vista.<br />

Correspon<strong>de</strong> a uma média, isto é, a uma abstração inteiramente<br />

<strong>de</strong>stituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e conduz a um abuso <strong>da</strong>s médias<br />

aritméticas para caracterizar os elementos do clima. Apresenta<br />

em segundo lugar, um caráter estático e artificial, pois não<br />

menciona o <strong>de</strong>senvolvimento dos fenômenos ao longo do tempo.<br />

Ora, o ritmo é um dos elementos essenciais do clima. As<br />

<strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> Hann escapam freqüentemente a esses<br />

inconvenientes. Ele se mantinha em contacto mais estreito com a<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> climatológica do que sua <strong>de</strong>finição po<strong>de</strong>ria supor.<br />

To<strong>da</strong>via, não po<strong>de</strong>mos nos contentar com essa <strong>de</strong>finição. A que<br />

nós propomos <strong>de</strong>verá levar em conta o fator tempo (duração).<br />

Não é, sem dúvi<strong>da</strong>, perfeita. Contudo, correspon<strong>de</strong> melhor às<br />

nossas concepções.<br />

Clima local<br />

Denominamos clima à série <strong>de</strong> estados atmosféricos sobre<br />

<strong>de</strong>terminado lugar em sua sucessão habitual. Ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses<br />

estados caracteriza-se pelas suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s dinâmicas e<br />

estáticas <strong>da</strong> coluna atmosférica, composição química, pressão,<br />

tensão dos gases, temperatura, grau <strong>de</strong> saturação, comportamento<br />

quanto aos raios solares, poeiras ou matérias orgânicas<br />

em suspensão, estado do campo elétrico, veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento <strong>da</strong>s moléculas, etc. É o que a linguagem comum<br />

<strong>de</strong>signa sob o nome <strong>de</strong> tempo. A palavra tempo correspon<strong>de</strong>,<br />

portanto, a uma combinação complexa, na qual, conforme o caso,<br />

um ou dos elementos que acabamos <strong>de</strong> enumerar <strong>de</strong>sempenham<br />

um papel prepon<strong>de</strong>rante. Dizemos que o tempo é quente, seco,<br />

chuvoso ou calmo. Porém, a temperatura, a pressão, o estado<br />

elétrico, etc., só po<strong>de</strong>m ser isolados por um artifício <strong>de</strong> análise. A<br />

noção <strong>de</strong> tempo, e por conseqüência, a noção <strong>de</strong> clima, são<br />

noções sintéticas. Esta observação preliminar é <strong>de</strong> uma<br />

importância capital para o biólogo. Ele po<strong>de</strong>, por uma espécie <strong>de</strong><br />

análise harmônica, consi<strong>de</strong>rar separa<strong>da</strong>mente a ação <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um<br />

dos elementos do tempo e do clima sobre o ser vivo. Ele não<br />

<strong>de</strong>ve, porém, nunca per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista que esses elementos agem<br />

todos em conjunto e mesmo através <strong>de</strong> outros. Consi<strong>de</strong>raremos,<br />

enfim, como fatores do clima, as circunstâncias que <strong>de</strong>terminam a<br />

existência e regulam a sucessão dos tipos <strong>de</strong> tempo. Tais são:<br />

latitu<strong>de</strong>, altitu<strong>de</strong>, situação relativa às massas oceânicas e<br />

continentais, aos centros <strong>de</strong> ação e aos movimentos gerais <strong>da</strong><br />

atmosfera, exposição, <strong>de</strong>clivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc.<br />

As <strong>de</strong>finições que acabamos <strong>de</strong> apresentar provocam<br />

reflexões importantes. Em primeiro lugar, em ca<strong>da</strong> instante <strong>da</strong>do e<br />

em ca<strong>da</strong> ponto do globo, a atmosfera é uma combinação singular<br />

que tem muito pouca chance <strong>de</strong> se reproduzir <strong>de</strong> uma maneira<br />

perfeitamente idêntica. A árvore <strong>de</strong> meu jardim não florescerá<br />

jamais duas vezes nas mesmas condições <strong>de</strong> temperatura,<br />

luminosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, estado higrométrico, etc. Não po<strong>de</strong>mos, contudo,<br />

nos contentar em selecionar as reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s climáticas sob este<br />

aspecto <strong>de</strong> fluxo perpétuo. O ritmo <strong>da</strong>s estações traz estados<br />

higrométricos comparáveis a vários meses <strong>de</strong> distância. Estes<br />

estados se agrupam em torno <strong>de</strong> formas ou tipos característicos<br />

<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> período do ano. Os fatores dos quais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> sua<br />

sucessão, oferecem, senão uma estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> rigorosa, ao menos<br />

uma regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> relativa. E isso basta para que escapemos à<br />

impressão <strong>de</strong> um escoamento in<strong>de</strong>finido <strong>de</strong> formas e para que<br />

tomemos consciência <strong>da</strong> existência do clima local, reali<strong>da</strong><strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental<br />

<strong>da</strong> <strong>climatologia</strong>.<br />

Entre os estados atmosféricos que se suce<strong>de</strong>m, há os que<br />

se distanciam consi<strong>de</strong>ravelmente dos estados tipos, que se<br />

repetem em intervalos muito distanciados, não havendo nenhuma<br />

regra que permita lhes prever a ocorrência, por exemplo frios<br />

muito rigorosos dos “gran<strong>de</strong>s invernos” dos quais a história<br />

guar<strong>da</strong> a lembrança. Não se po<strong>de</strong>, racionalmente, fazê-los entrar<br />

na noção <strong>de</strong> clima; os valores correspon<strong>de</strong>ntes ao que se chama<br />

em meteorologia extremos absolutos <strong>de</strong>vem ser manejados com<br />

muita discrição e prudência. Postos <strong>de</strong> lado esses extremos<br />

excepcionais, todos os outros, os extremos e os que se<br />

aproximam dos tipos médios, entram na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> clima local.<br />

Tiraremos, mais adiante, <strong>de</strong>sta consi<strong>de</strong>ração, regras para o<br />

emprego <strong>da</strong>s médias.<br />

Clima regional<br />

Da mesma forma que o tempo (no sentido meteorológico) é<br />

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um estado singular <strong>da</strong> atmosfera, o clima local é uma combinação<br />

singular; irredutível. Não há talvez, no globo, dois locais cujos<br />

climas sejam idênticos. Porém, a ação dos fatores do clima<br />

produz uma generali<strong>da</strong><strong>de</strong> suficiente para que tenhamos praticamente<br />

o direito <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar, acima dos climas locais, os climas<br />

regionais. A noção <strong>de</strong> clima regional é uma etapa do caminho <strong>da</strong><br />

abstração. Ela se aproxima o mais possível <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta<br />

na região on<strong>de</strong> o jogo do dinamismo atmosférico é o mais simples<br />

e on<strong>de</strong> a topografia é a mais uniforme. As duas condições<br />

encontram-se realiza<strong>da</strong>s nas regiões intertropicais sobre gran<strong>de</strong>s<br />

extensões. A uniformi<strong>da</strong><strong>de</strong> do clima e a regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> sucessão<br />

dos estados atmosféricos ao longo do ano, <strong>de</strong> fato, caracterizam<br />

essas áreas em oposição às tempera<strong>da</strong>s. Por outro lado, quando<br />

a topografia revela uma gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> como nas regiões <strong>de</strong><br />

montanha, o clima regional é simplesmente uma associação <strong>de</strong><br />

climas locais, estacionais, como também se diz. É outro caso<br />

extremo: seu interesse é muito gran<strong>de</strong> por causa do valor<br />

terapêutico diferente dos climas estacionais nas montanhas.<br />

Po<strong>de</strong>-se, portanto, legitimamente, falar <strong>de</strong> climas regionais,<br />

ou, se quisermos, <strong>de</strong> regiões climáticas, e, <strong>de</strong>ssa forma, somos<br />

levados a introduzir a idéia <strong>de</strong> limite climático, tão importante para<br />

a biogeografia. Essa idéia tem sido freqüentemente concebi<strong>da</strong> e<br />

utiliza<strong>da</strong> sem espírito <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>. Não se encontra limite climático<br />

linear – se é que se encontra – a não ser em casos muito raros,<br />

como o <strong>de</strong> um obstáculo montanhoso normal ao sentido <strong>de</strong><br />

propagação <strong>de</strong> influências climáticas. Regra geral, há zonas limítrofes,<br />

isto é, manchas, on<strong>de</strong> se fazem e se <strong>de</strong>sfazem combinações<br />

<strong>de</strong> elementos característicos <strong>de</strong> regiões climáticas em<br />

contacto. Nessas zonas transicionais, combinações fortuitas <strong>de</strong><br />

fatores po<strong>de</strong>m fazer reaparecer localmente um ou outro clima <strong>da</strong>s<br />

vizinhanças em to<strong>da</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>. É <strong>de</strong>ssa forma que nas<br />

bor<strong>da</strong>s do mundo mediterrâneo, condições estacionais <strong>de</strong> abrigo<br />

permitem a reconstituição em locais pouco extensos, <strong>de</strong><br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros oásis mediterrâneos fora <strong>da</strong> região on<strong>de</strong> o clima do<br />

mar interior reina soberanamente. Quem subestimasse esta<br />

característica dos limites climáticos correria o risco <strong>de</strong> se<br />

equivocar sobre o sentido dos limites <strong>da</strong>s associações vegetais. O<br />

problema dos limites climáticos <strong>de</strong>sperta, aliás, outras questões<br />

<strong>de</strong> doutrina.<br />

Microclima<br />

Tomamos como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> o clima local ou<br />

estacional, porque ele correspon<strong>de</strong> a uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta e,<br />

num certo sentido, elementar. Não se <strong>de</strong>ve crer, to<strong>da</strong>via, que esta<br />

noção <strong>de</strong> clima local esgota to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise. O<br />

climatólogo po<strong>de</strong> questionar o que representa exatamente a<br />

estação, como fizeram antes <strong>de</strong>les os fitogeógrafos. Falo do clima<br />

<strong>de</strong> Clermont-Ferrand: ninguém duvi<strong>da</strong>ria que o mesmo é uma<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porém, nem a temperatura, nem os movimentos <strong>de</strong> ar<br />

são os mesmos na Praça <strong>de</strong> Jau<strong>de</strong> e nas ruas que para aí se<br />

dirigem. Mais ain<strong>da</strong>, há diferenças <strong>de</strong> um lado a outro <strong>de</strong> uma<br />

mesma rua. E se nos <strong>de</strong>slocarmos para o campo As condições<br />

variam conforme consi<strong>de</strong>remos, seja o interior <strong>de</strong> uma lavoura <strong>de</strong><br />

trigo, a sombra ou a obscuri<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma floresta <strong>de</strong> árvores com<br />

muitas folhas ou <strong>de</strong> um bosque <strong>de</strong> pinheiros. Vê-se que<br />

passamos, por gra<strong>da</strong>ções insensíveis se consi<strong>de</strong>rarmos a uma<br />

coluna atmosférica sobre um lugar à <strong>de</strong> um meio atmosférico em<br />

torno <strong>de</strong> um ponto, ou, em outras palavras, <strong>da</strong> noção <strong>de</strong> clima<br />

local à <strong>de</strong> microclima. Esta noção foi introduzi<strong>da</strong> bastante<br />

recentemente. Foi elabora<strong>da</strong> na Alemanha por Geiger. O<br />

importante é notar que ela não representa o resultado <strong>de</strong> uma<br />

análise crítica dissocia<strong>da</strong> <strong>da</strong> noção <strong>de</strong> clima local: é o<br />

complemento necessário disso. Como o microclima <strong>de</strong>fine as<br />

condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> particulares ao interior <strong>de</strong> uma estação, o<br />

mesmo <strong>de</strong>ve ser tomado em consi<strong>de</strong>ração seja pelo biólogo, pelo<br />

agrônomo ou pelo médico. O clima local nem por isso <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

ser fato fun<strong>da</strong>mental.<br />

Definição biológica dos climas<br />

As consi<strong>de</strong>rações prece<strong>de</strong>ntes têm um caráter <strong>de</strong> generali<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />

são váli<strong>da</strong>s para todos os climatólogos, quer suas preocupações<br />

particulares se voltem para a geografia física ou para a<br />

geografia biológica. Estes últimos, entretanto, têm preocupações<br />

especiais às quais vamos nos ater, doravante. Não mais<br />

separaremos a fisio<strong>climatologia</strong> e a pato<strong>climatologia</strong> dos outros<br />

aspectos <strong>da</strong> bio<strong>climatologia</strong>.<br />

Neste ponto, torna-se necessário voltar, por um instante às<br />

nossas consi<strong>de</strong>rações iniciais. Nossa <strong>de</strong>finição abrange os<br />

aspectos físicos do clima. Os progressos <strong>da</strong> meteorologia nos<br />

levaram a isolá-los, a colocá-los em primeiro plano. Simples etapa<br />

<strong>da</strong> análise científica. Na or<strong>de</strong>m do <strong>de</strong>senvolvimento histórico, a<br />

idéia <strong>de</strong> clima apresenta-se <strong>de</strong> outra forma. Ela é inseparável <strong>da</strong>s<br />

preocupações biológicas. Os primeiros registradores não foram<br />

instrumentos <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>, mas sim registradores naturais, em<br />

particular a sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do homem. Não se conhecia o calor e o<br />

frio a não ser por seus efeitos sobre o organismo humano. Sabese<br />

o que representa o clima para os sábios gregos. Desta primeira<br />

indiferenciação, <strong>de</strong>stacam-se duas disciplinas: a meteorologia,<br />

que se aproxima <strong>da</strong> física e a <strong>climatologia</strong>, ramo <strong>da</strong> geografia.<br />

Nos tempos mo<strong>de</strong>rnos fizeram-se notáveis esforços para se<br />

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<strong>de</strong>finir os climas por parte <strong>de</strong> meteorologistas como Hann ou<br />

Angot. Chegou-se a pensar que estudo total <strong>da</strong> atmosfera era <strong>da</strong><br />

alça<strong>da</strong> dos meteorologistas. Esse é um ponto <strong>de</strong> vista errado<br />

susceptível <strong>de</strong> conduzir a equívocos graves. Da mesma forma<br />

isso é <strong>da</strong> essência geográfica, a idéia <strong>de</strong> clima é inseparável <strong>de</strong><br />

suas conexões. Se, na sua origem ela é impregna<strong>da</strong> <strong>de</strong> biologia<br />

porque só os sentidos percebem as variações atmosféricas, em<br />

um estágio bem mais avançado do <strong>de</strong>senvolvimento científico<br />

quando se adquire uma idéia mais correta <strong>da</strong>s relações entre o<br />

meio e a vi<strong>da</strong>, ela reencontra, se assim se po<strong>de</strong> dizer, sua cor<br />

biológica. Sua elaboração pertence aos biogeógrafos. Ca<strong>da</strong> uma<br />

<strong>de</strong>las contribui com seu estado <strong>de</strong> espírito.<br />

Estas consi<strong>de</strong>rações explicam, aliás, como po<strong>de</strong> haver<br />

diferentes classificações <strong>de</strong> climas inspira<strong>da</strong>s em diferentes pontos<br />

<strong>de</strong> vista.<br />

Os princípios gerais <strong>da</strong>s <strong>de</strong>finições climáticas do ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>da</strong> biologia humana<br />

Na pesquisa dos fatos necessários a servir <strong>de</strong> base a uma<br />

<strong>de</strong>finição dos climas, algumas regras <strong>de</strong> método <strong>de</strong>vem ser<br />

observa<strong>da</strong>s. Decorrem, em parte, <strong>da</strong>s consi<strong>de</strong>rações prece<strong>de</strong>ntes.<br />

(1) Os valores numéricos que <strong>de</strong>vem ser guar<strong>da</strong>dos para as<br />

escalas são os valores críticos para as principais funções<br />

orgânicas. Esta regra encontra sua aplicação particularmente na<br />

análise dos elementos do clima. Tomemos o caso <strong>da</strong> temperatura.<br />

Acostumamo-nos a observar a escala térmica como sendo<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> por dois fenômenos físicos correspon<strong>de</strong>ntes às<br />

mu<strong>da</strong>nças do estado <strong>da</strong> água. Ora, nenhum fenômeno biológico,<br />

nem a alteração dos protoplasmas, nem a constante orgânica<br />

representa<strong>da</strong> pela temperatura interna, nem o jogo dos<br />

mecanismos <strong>de</strong>stinados a manter essa constante apesar <strong>da</strong>s<br />

variações do meio, nem o limite <strong>da</strong> sensação térmica têm relação<br />

com esses fatos. Encontramo-nos, então, na obrigação <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir<br />

previamente um zero termo-biológico, seja por intermédio <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rações teóricas, seja pelo testemunho <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

térmica, seja pelo estudo do metabolismo. Uma vez estabelecido<br />

esse zero, a busca <strong>de</strong> limites diferenciadores levaria à<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> valores críticos secundários. Enfim os pontos<br />

extremos seriam <strong>de</strong>terminados pelos momentos, nos quais o jogo<br />

<strong>da</strong>s sensações orgânicas torna-se impotente para manter a<br />

constante térmica interna. À primeira vista, tudo isso parece fácil.<br />

Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o ponto <strong>de</strong> neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> térmica é mais difícil <strong>de</strong> se<br />

fixar, do que parece. O confronto entre trabalhos <strong>de</strong> Rubner,<br />

Attwater e Lefèvre <strong>de</strong>ixa o climatologista hesitante, tanto mais que<br />

ele não é absolutamente seguro <strong>de</strong> que os pontos críticos não se<br />

<strong>de</strong>sloquem conforme as zonas. Não po<strong>de</strong>mos, aqui, expor todos<br />

os termos <strong>de</strong> um problema extremamente <strong>de</strong>licado. O que se<br />

po<strong>de</strong> tirar <strong>de</strong> mais nítido disso é que dois níveis apresentam um<br />

interesse especial, um entre 15 e 16 o C e outro ligeiramente<br />

superior a 20 o C. Para os climas frios, Köppen adotou um nível<br />

auxiliar <strong>de</strong> 10 graus cuja escolha foi mais arbitrária. Para nós,<br />

trata-se menos <strong>de</strong> oferecer resultados <strong>de</strong>finitivos do que mostrar<br />

em que sentido as pesquisas <strong>de</strong>vem ser orienta<strong>da</strong>s, no futuro.<br />

(2) Uma <strong>de</strong>finição climatológica <strong>de</strong>ve abranger a totali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

dos elementos do clima susceptíveis <strong>de</strong> agir sobre o organismo.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se geralmente a temperatura e a umi<strong>da</strong><strong>de</strong> cuja ação<br />

sobre o metabolismo humano é evi<strong>de</strong>nte. Porém, a riqueza do ar<br />

em radiações luminosas e químicas oferece igual interesse,<br />

embora sejam menos estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Ocorre o mesmo com o estado<br />

elétrico.<br />

A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> não se limitar a estu<strong>da</strong>r os elementos<br />

clássicos é ca<strong>da</strong> vez mais evi<strong>de</strong>nte para os médicos. Veremos<br />

através dos artigos <strong>de</strong> M. Morikofer, <strong>de</strong> M. Baldit, <strong>de</strong> Maurain e <strong>de</strong><br />

M. Salles qual é o balanço <strong>de</strong> nossos conhecimentos sobre<br />

actinometria, ionização e radioativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> atmosfera.<br />

(3) Os elementos climáticos <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados em<br />

suas interações. Esta necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, reconheci<strong>da</strong> ca<strong>da</strong> vez mais,<br />

tanto pelos biologistas como pelos geógrafos, <strong>de</strong>termina a procura<br />

<strong>de</strong> funções nas quais entram como variáveis dois elementos do<br />

clima ou mais. Não se <strong>de</strong>ve, aliás, exigir mais do que elas po<strong>de</strong>m<br />

<strong>da</strong>r. A medi<strong>da</strong> que se aumenta o número <strong>de</strong> variáveis o sentido do<br />

resultado numérico torna-se ca<strong>da</strong> vez mais difícil <strong>de</strong> precisar.<br />

Entre as relações empíricas, on<strong>de</strong> entram ao mesmo tempo<br />

a temperatura e a umi<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se citar o índice <strong>de</strong> ari<strong>de</strong>z <strong>de</strong> De<br />

Martonne, que é <strong>de</strong> uso cômodo para o estudo <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong><br />

erosão. Há já algum tempo que os fisiologistas têm se orientado<br />

para as pesquisas <strong>de</strong> funções fisiológicas que comportam como<br />

variáveis a temperatura, a umi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> do vento.<br />

Encontrar-se-á no artigo <strong>de</strong> M. Baldit sobre os elementos<br />

meteorológicos do clima, indicações úteis sobre os trabalhos <strong>de</strong> L.<br />

Hill e <strong>de</strong> Dorno. Estes trabalhos são do mais alto interesse para a<br />

<strong>climatologia</strong> médica.<br />

As funções climatológicas em questão conduzem a uma<br />

expressão numérica. Po<strong>de</strong>-se, também traduzi-las graficamente.<br />

Os agrônomos têm feito, há algum tempo, curiosas tentativas<br />

nesse sentido. Um fisiologista, Dorno, fez um experimento <strong>da</strong><br />

mesma or<strong>de</strong>m.<br />

(4) Qualquer classificação climática <strong>de</strong>ve acompanhar <strong>de</strong><br />

perto a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> viva. Disso <strong>de</strong>corre que, em <strong>climatologia</strong>, <strong>de</strong>ve-<br />

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se fazer maior uso possível <strong>da</strong>s observações brutas. As temperaturas<br />

corrigi<strong>da</strong>s não têm nenhum valor para nós. Além disso,<br />

esta regra limita o emprego <strong>da</strong>s médias. Seus extremos, suas<br />

amplitu<strong>de</strong>s, suas freqüências, suas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> sucessão são<br />

<strong>da</strong>dos capitais.<br />

Encontrar-se-á no artigo <strong>de</strong> M. Baldit to<strong>da</strong>s as informações<br />

úteis sobre o emprego <strong>da</strong>s médias. A crítica <strong>de</strong> sua significação<br />

biológica <strong>de</strong>corre disso. Elas têm sua importância como modo <strong>de</strong><br />

expressão, porém o que um organismo vivo sofre, o que registra,<br />

não são puras abstrações aritméticas. Tudo isso, é um a questão<br />

<strong>de</strong> nuances. Uma figura composta <strong>de</strong> duas curvas <strong>da</strong>s máximas e<br />

mínimas diárias <strong>de</strong> um ano qualquer dá uma idéia, bem<br />

satisfatória <strong>da</strong>s condições térmicas <strong>de</strong> uma estação tropical por<br />

causa <strong>da</strong> regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> dos fenômenos meteorológicos. Não<br />

<strong>de</strong>corre <strong>de</strong> maneira nenhuma o mesmo em nossas latitu<strong>de</strong>s.<br />

(5) O fator tempo (duração) é essencial na <strong>de</strong>finição dos<br />

climas. Esta regra <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> prece<strong>de</strong>nte. Uma característica<br />

climática não tem a mesma significação para os seres vivos se ela<br />

atua com continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ou se exerce por intervalos. Consi<strong>de</strong>rando<br />

a mesma amplitu<strong>de</strong>, uma variação que se produz lentamente não<br />

tem o mesmo interesse que uma variação brusca. Enfim, a<br />

constância <strong>de</strong> um estado atmosférico <strong>da</strong>do não po<strong>de</strong> ser<br />

negligencia<strong>da</strong>. A ca<strong>da</strong> momento do processo, é sobre um terreno<br />

fisiológico modificado pelas ações anteriores que se exerce a<br />

influência do meio climático. O organismo não é somente um<br />

registrador como se tem dito freqüentemente. É um integrador.<br />

A ecologia vegetal vem se orientando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito,<br />

nesse sentido. A integral <strong>da</strong>s temperaturas é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong> Candolle,<br />

a mais conheci<strong>da</strong> <strong>de</strong>ssas funções on<strong>de</strong> a variável tempo<br />

(duração) <strong>de</strong>sempenha um papel. Experiências análogas foram<br />

tenta<strong>da</strong>s na Índia a propósito <strong>da</strong> ação retar<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

precipitações. Fórmulas mais complexas foram elabora<strong>da</strong>s na<br />

América. Não posso dizer, a priori, se pesquisas <strong>de</strong>sse gênero<br />

<strong>da</strong>riam resultados para o estudo <strong>da</strong> fisiologia normal ou patológica<br />

do homem. Porém, um aparelho matemático complicado não<br />

po<strong>de</strong> ser talvez indispensável (ao menos no estágio em que<br />

estamos) para a introdução do fator tempo. Quando se pensa que<br />

a duração dos períodos sem chuva no clima mediterrâneo não foi<br />

jamais estu<strong>da</strong><strong>da</strong> em <strong>de</strong>talhe, passa-se a ter pretensões mo<strong>de</strong>stas.<br />

Conclusão<br />

As regras que acabamos <strong>de</strong> apresentar aplicam-se à<br />

<strong>de</strong>finição dos climas. É evi<strong>de</strong>nte que uma classificação satisfatória<br />

resultaria naturalmente <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição correta. No presente<br />

estado <strong>de</strong> nossos conhecimentos, quando <strong>de</strong>sejamos <strong>de</strong>finir um<br />

clima, do ponto <strong>de</strong> vista médico verificamos que nosso<br />

vocabulário técnico tem justamente a mesma riqueza e a mesma<br />

precisão que o <strong>de</strong> Hipócrates. Porém nós ganhamos por melhor<br />

ver o sentido <strong>da</strong>s pesquisas necessárias e isso, por si mesmo, é<br />

um progresso apreciável.<br />

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Max Sorre / Revista do <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, 18 (2006) 89-94.<br />

SORRE, M. (2006). Object and metod of climatology. Revista do <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, n. 18, p. 89-94.<br />

Recebido em 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006, aceito em 15 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006.<br />

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